Vicente Huidobro, Fragmentos de \"Equatorial\" (1917-18)
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Vicente Huidobro Fragmentos de Equatorial (1917-18) Vicente H u i d o b r o nasce e m 1893 e m Santigo de C h i l e , d u r a n t e u m i n t e n s o / m -
de-siècle; e depois de m u i t o viajar e criar, m o r r e e m Cartagena, 1948, q u a n d o o século X X ainda sentia o bafo quente da b o m b a e a h u m a n i d a d e t e m i a p o r sua sobrevivência. H u i d o b r o , aliás, m o r r e e m decorrência de f e r i m e n t o da Segunda G u e r r a , onde esteve p o r gosto, t a l c o m o n a G u e r r a C i v i l Espanhola, e m que a t u o u ao l a d o dos republicanos n u m a f u n ç ã o r a d i c a l para u m poeta: p r o t e g i d o p o r veículo b l i n d a d o e c o m alto-falante e m m ã o s , era c o n d u z i d o às p r o x i m i d a d e s da t r o p a f r a n q u i s t a para discursar sobre a Espanha livre d o fascismo e assim convencê-los a desertar o u m u d a r de lado. A m u i t o s terá convencido. O singelo m a n i f e s t o " N o n Serviam", de 1914, valeu-lhe o título de p r i m e i r o vanguardista das A m é r i c a s , e o u t r a guerra: a dos detentores da o r i g i n a l i d a d e , sendo que o p r i n c i p a l i n i m i g o chamava Pierre Reverdy. O m o v i m e n t o de H u i d o b r o , e/
creacionismo, f o i , c o m o m u i t a s outras coisas, p r i m e i r a m e n t e
metafísico e depois c o m u n i s t a . Postulava a criação de u m m u n d o paralelo: c o m p o r o p o e m a c o m o a natureza faz a árvore, e n ã o "apenas" cantar a árvore; o u , c o m o lhe disse certa vez u m Aymará: "Por que cantas a chuva, poeta? Faça chover!" S u r g i r a m t a m b é m críticas ao alheamento d o m u n d o que t a l estética parecia defender, e a de José Carlos Mariátegui e m 1926 é c o n t u n d e n t e : a ideia "antiga e caduca" da arte pela arte. Passados dez anos, H u i d o b r o responde ao c o m p a n h e i r o (já n ã o ao h o m e m , mas ao m i t o ) : Nunca pretendemos afirmar que o artista não possa interpretar a vida que o rodeia. M a l nos entendeu quem assim traduziu nossas palavras. Ao contrário, dissemos que pode e de fato o faz. Isto não o impede de criar novas visões, descobrir outros horizontes e propor novos modos de sentir a vida. O artista, o poeta pode e deve trabalhar na formação de uma nova compreensão, de uma nova consciência, ampliar as zonas da arte para que a arte livre de amanhã encontre já os seus materiais. Seria antidialético pretender excluir ao artista explorador com o pretexto de não ser de utilidade imediata ou primária à revolução. ("Nuestra Barricada", Revista Total - Contribuición a una nueva cultura, n 1, 1936) 2
(...) E n chantant asseyons-nous en las playas Os mais bravos capitães
O capitão C o o k
I a m aos pólos n u m iceberg
C a ç a auroras boreais
Para deixar seu c a c h i m b o e m lábios
N o Pólo Sul
Esquimós O u t r o s c r a v a m frescas lanças n o C o n g o O co r a çã o d'África ensolarado Se abre c o m o figos picados E os negros de d i v i n a raça escravos
ríEuropa
L i m p a v a m de seu rosto a neve que os m a n c h a H o m e n s de asas curtas H a n recorrido tout E u m n o b r e e x p l o r a d o r da N o r u e g a C o m o b u t i m de guerra Trouxe à E u r o p a entre raros animais E árvores exóticas Os q u a t r o p o n t o s cardeais Eu embarquei também D e i x a n d o m e u recife v i m a vê-los As gaivotas v o a v a m ao r e d o r de m e u chapéu E eis-me aqui de pé e m outras baías
(...) E eis-me aqui Entre as selvas afinadas M a i s sabidamente que as velhas arpas
N a casa que pende d o vazio Cansados de buscar d o r m i r a m os Reis Magos Os elevadores descansam de cócoras E e m todas as alcovas Cada vez que dá a h o r a Saía d o relógio u m p a j e m sério C o m o a dizer O automóvel aguarda m i n h a senhora Junto à p o r t a viva O negro escravo abre a boca p r o n t a m e n t e Para o a m o pianista Q u e lhe faz cantar os dentes Esta tarde eu v i Os últimos cartazes fonográficos Era u m a confusáo de critos E gantos tão divers C o m o nos p o r t o s estrangeiros Os h o m e n s de a m a n h ã Virão descifrar os hieróglifos que deixamos agora Escritos ao revés Entre os ferros da Torre Eiffel
(...) E m m a r c h a para o exílio O último r e i carregava pelo p e s c o ç o U m a corrente de lâmpadas extintas
(...)
A atividade política de H u i d o b r o não pode ser negligenciada. E m
Finnis Britânia, Une redoutable Société Secrète sest dressée contre 1'imperialisme Anglais, onde reúne 1923 lançara e m Paris o l i b r e t o
inflamadas cartas de apoio à luta anticolonialista, enviadas p o r exemplo a G a n d h i e Atatúrk - o que lhe c u s t o u umas bordoadas monárquicas. E p o r fim, antes de t u d o isto há o p o e m a l o n g o
Ecuatorial, relato de u m viajante de v i n t e e poucos anos que chega à bélica Europa. Os trechos que selecionei para t r a d u z i r c o n d i z e m c o m o tema desta
Córrego: a escravidão. E eu j o g o ainda c o m o fato
da obra ter sido publicada c o n c o m i t a n t e m e n t e e m francês, c o m o gostava de fazer o autor à é p o c a (neste caso há suspeitas de que Pablo Picasso tenha colaborado na tradução).
Equatorial é o c r i a c i o n i s m o
estupefato, plasmado p o r u m m u n d o de inovação e destruição - de inovação para a destruição. D o
Génesis ao Apocalipse n u m salto (dois
anos antes H u i d o b r o publicara Adan), e n o ano seguinte t e m início a escritura de
Altazor o el viaje en paracaídas, finalizada somente e m
1931. Sua grande epopeia, tão m o d e r n a q u a n t o p r i m i t i v a . Na lápide d o poeta, há versos altazorianos transcriados: A b r i d la tumba al fondo de esta tumba se ve el mar.
Tradução e notícia sobre o autor: Daniel Glaydson Ribeiro
VI
córrego
sãopaulo
2014
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