VISITA DE ESTUDO AO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA: PLANIFICAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UMA ATIVIDADE INVESTIGATIVA PROMOTORA DA APRENDIZAGEM ATIVA DAS CIÊNCIAS

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VISITA DE ESTUDO AO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA: PLANIFICAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UMA ATIVIDADE INVESTIGATIVA PROMOTORA DA APRENDIZAGEM ATIVA DAS CIÊNCIAS Gonçalo Nuno Carreira Pereira1; Helena Moita de Deus2 1Universidade

de Lisboa – Instituto de Educação; 2EB2,3 Dom Francisco Manuel de Melo

Resumo Neste trabalho apresenta-se a planificação, implementação e avaliação de uma atividade investigativa enquadrada numa visita de estudo ao Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. A atividade teve como participantes 29 alunos do 8.º ano de escolaridade e foi estruturada com aulas de preparação, visita de estudo e aulas de consolidação, seguindo o modelo teórico dos 5 E’s de Bybee (2002). As atividades que promovam uma aprendizagem ativa podem permitir o desenvolvimento de um leque mais alargado de competências investigativas, como diagnosticar problemas, planificar e desenvolver investigações, analisar dados, pesquisar informação, comunicar, trabalhar em grupo, entre outras. Foram construídos e aplicados instrumentos para a avaliação de competências investigativas. Verificou-se que a atividade promoveu o desenvolvimento deste tipo de competências, promovendo também a motivação dos alunos para a aprendizagem das ciências naturais. Ao longo da atividade, foi fornecido feedback, dando aos alunos a oportunidade de melhorarem o seu trabalho. Deste modo, os alunos puderam perspetivar a educação em ciências como um processo contínuo que lhes permite evoluir no sentido de melhorarem continuamente as suas competências. Palavras–Chave: Jardim Botânico, visita de estudo, aprendizagem ativa, feedback, avaliação.

Abstract This work presents the planning, implementation and assessment of an investigative activity that involved 29 students, from the 8th grade, during a fieldtrip to the Botanical Garden of the University of Lisbon. This activity was structured using preparation lessons, fieldtrip and follow up lessons. The theoretical model of the 5 E's by Bybee (2002) was applied in the planning of the activity. Active learning allow for the development of a wider range of investigative skills, such as: how to identify problems, plan and carry out investigations, analyse data, looking up information, communicate, work in groups, among others. Instruments to evaluate investigative skills were developed and applied. It was found that this activity promoted the development of investigative skills and, at the same time, booster student’s motivation for learning natural sciences. Throughout the activity feedback was provided to students, enabling them to improve their performance and giving the opportunity to view science learning as a continuous process to enhance their skills. Keywords: Botanical garden, fieldtrip, inquiry, feedback, assessment.

INTRODUÇÃO As experiências de aprendizagem fora da escola envolvem muitas características da aprendizagem formal, complementando-a, pois permitem a construção do conhecimento com significado pessoal, a realização de escolhas genuínas e de tarefas desafiadoras, o controlo sobre a aprendizagem e a colaboração com outros (Tal, 2013). Porém, para que estas sejam efetivas devem ser planificadas, cuidadosamente 710

implementadas e devem continuar a ser trabalhadas quando de volta à sala de aula (Dillon et al., 2006). As visitas de estudo constituem uma extensão das aulas formais, funcionando como um elemento integrador de conteúdos/aprendizagens, potenciador da motivação dos alunos para consolidar as aprendizagens realizadas em ambos os contextos. As visitas de estudo devem ser sempre estruturadas de modo a incluir aulas de preparação (antes) e de consolidação (depois). Na atividade apresentada descreve-se a preparação, implementação e avaliação de uma visita de estudo ao Jardim Botânico da Universidade de Lisboa (JBUL), planificada de acordo com o modelo de aprendizagem ativa das ciências, enquadrada nos conteúdos de Ciências Naturais do 8.º ano, nomeadamente, os ecossistemas e a gestão sustentável dos recursos. Teve como participantes uma turma de 29 alunos de uma escola do concelho de Odivelas. Pretendeu-se, com este trabalho, responder ao seguinte problema: “Como desenvolver uma atividade investigativa, promotora da aprendizagem das Ciências Naturais, centrada numa visita de estudo ao JBUL?” OBJETIVOS DA ATIVIDADE O problema foi operacionalizado nos seguintes objetivos: desenvolver uma estratégia didática promotora de trabalho investigativo no JBUL; avaliar o impacto da estratégia nas aprendizagens dos alunos e refletir acerca da importância de implementar atividades investigativas nas aulas de ciências naturais. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE A atividade foi planificada tendo por base o modelo teórico dos 5 E’s de Bybee (2002), contemplando as fases de motivar, explorar, explicar, ampliar e, transversalmente, avaliar. As aulas pré-visita englobaram duas fases de motivação (motivar). Numa primeira fase, motivou-se a turma em relação ao espaço a visitar, abordando o tema: “O Jardim Botânico como espaço privilegiado para a aprendizagem fora da sala de aula”. Para tal, os alunos construíram mapas de conceitos tendo por base as questões: O que é um Jardim Botânico?/Para que serve um Jardim Botânico? Na segunda fase de motivação, apresentaram-se vários temas através de Concept Cartoons (Naylor & Keogh, 2000). A sua análise permitiu estimular cada grupo para a respetiva temática, focalizando e promovendo a discussão. De seguida, foi identificado o problema e, sobre ele, foi construída a primeira versão do mapa conceptual do grupo. Neste momento, utilizou-se uma tabela de verificação para avaliar a formulação do problema de investigação de cada grupo (avaliar). De seguida, iniciou-se a planificação da recolha de dados de cada grupo. Para tal, os alunos tiveram acesso à planta do JBUL, à lista de espécies e sua localização. Aplicouse uma tabela de verificação para avaliar o planeamento da investigação feito pelos 711

alunos (avaliar). No JBUL realizaram a recolha de dados e registaram as observações (explorar). Nas aulas de pós-visita, o trabalho foi realizado autonomamente. Os alunos analisaram e discutiram os resultados. Utilizou-se uma tabela de verificação para avaliar a análise e o tratamento dos dados (avaliar). As questões irresolúveis com os dados recolhidos no JBUL foram resolvidas com pesquisas bibliográficas (ampliar). Os resultados das investigações foram entregues, numa primeira versão, em suporte eletrónico, de acordo com as instruções fornecidas para estruturar as apresentações. Foi dado feedback às primeiras versões com o objetivo destas serem melhoradas (avaliar). Depois, cada grupo comunicou as suas conclusões devidamente fundamentadas (explicar). Noutra aula, a turma completou o mapa conceptual acerca do JBUL, integrando os contributos do trabalho desenvolvido pelos diferentes grupos. REFLEXÃO DO PROFESSOR Os alunos mostraram interesse e motivação ao utilizar os concept cartoons. A sua exploração permitiu que os grupos formulassem problemas adequados, abertos e resolúveis nas condições existentes. Porém, alguns grupos formularam problemas pouco abrangentes. O mapa de conceitos inicial permitiu compreender as ideias prévias dos alunos e o final funcionou como um elemento estruturador e de síntese dos dados e respetiva análise, permitindo também integrar a informação recolhida. Os grupos que apresentaram o mapa final mais complexo foram aqueles que fizeram uma análise e discussão dos resultados mais aprofundada e estruturada. A avaliação dos mapas conceptuais pré e pós-visita de cada grupo realizou-se com base numa análise quantitativa, verificando-se um aumento dos números de conceitos, de ligações corretas, de ligações cruzadas, de preposições corretas e de níveis hierárquicos (Figura 1). A fase de planificação permitiu aos alunos refletir sobre o trabalho que iriam realizar, possibilitando uma maior autonomia no JBUL. Os grupos identificaram os materiais necessários à investigação, incluindo materiais de escrita e máquinas fotográficas. Relativamente aos métodos de registo de dados, houve quatro grupos que não os explicitaram na planificação inicial, tendo-os explicitado na comunicação da sua investigação. No que diz respeito à seleção dos dados a recolher para responder ao problema, vários grupos não os explicitaram nem inicialmente, nem na apresentação final.

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Figura 1. Resultados da aplicação da grelha de análise quantitativa dos mapas de conceitos.

O conhecimento prévio das espécies de seres vivos que iriam estudar permitiu a sua fácil identificação, dando aos alunos uma grande satisfação e confiança, resultando num maior envolvimento. Durante a visita, os alunos tiraram apontamentos e fotografias das plantas e dos placares informativos. Alguns grupos não selecionaram a informação de acordo com o problema definido. Os alunos mostraram-se bastante empenhados e motivados na realização deste trabalho. A apresentação da investigação foi preparada pelos alunos, fora da sala de aula e os grupos entregaram as primeiras versões das apresentações via correio eletrónico. Nestas foram detetados aspetos a melhorar, nomeadamente o incumprimento das instruções previamente fornecidas. Um grupo apresentou os resultados sem selecionar os dados recolhidos de acordo com a problemática. Neste feedback deram-se sugestões e os alunos melhoraram diversos aspetos da apresentação das suas investigações. 713

Quanto à seleção dos dados, verificou-se que um grupo não recolheu toda a informação necessária à resolução do seu problema e outro grupo usou dados recolhidos na internet, por não ter recolhido no JBUL os dados adequados à resolução do seu problema. A organização, tratamento e análise descritiva dos dados realizaram-se de forma adequada por todos os grupos. Muito embora os trabalhos apresentados tenham sido muito ricos, considera-se que a discussão dos resultados foi limitada. Para tal pode ter contribuído a falta de competências de argumentação de alguns alunos da turma. Tendo em consideração a experiência adquirida com a implementação desta atividade investigativa, recomenda-se que os alunos desenvolvam competências investigativas noutros contextos (realização de atividades experimentais e de tomadas de decisão, etc.). Em particular, a qualidade da planificação da investigação a realizar no JBUL é crucial, facilitando o trabalho autónomo dos alunos que, devido à dimensão do local, ficam com acesso limitado às orientações do professor. Considera-se fundamental uma cuidadosa preparação prévia pelo professor e um acompanhamento das atividades com feedback constante, de modo a assumir um papel tutorial, monitorizando e questionando o trabalho investigativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bybee, R. (2002). Scientific inquiry, student learning, and the science curriculum. In R. Bybee (Ed.). Learning Science and the Science of Learning (pp. 25-35). Arlington: NSTA Press. Dillon, J., Rickinson, M., Teamey, K., Morris, M., Choi, M. Y., Sanders, D., & Benefield, P. (2006). The value of outdoor learning: Evidence from research in the UK and elsewhere. School Science Review, 87(320), 107-111. Naylor, S., & Keogh, B. (2000). Concept cartoons in science education. Cheschire: Millgate House. Tal, T. (2013). Out-of-school: Learning experiences, teaching and students’ learning. In B. Fraser, K. Tobin & C. McRobbie (Ed.), Second international handbook of science education (pp. 1109-1122). Dordrecht: Springer.

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