VIVAS, Rodrigo. Yara Tupynambá: a artista de inúmeras sínteses. Exposição da artista Yara Tupynambá. Reitoria da UFMG, 2015.

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Yara Tupynambá é conhecida como “a artista que sintetiza Minas Gerais”. Tal reconhecimento é certamente um elogio à artista, no entanto incorre no risco de delimitar a relevância da sua obra ao nível regional, o que não é o caso da artista em questão. A obra de Yara transcende as fronteiras do estado mineiro, e por sua potência inerente

Ya r a Tu p y n a m b á : a artista de inúmeras sínteses

compactua com o desenvolvimento dessa argumentação. O “Painel da Inconfidência”, instalado em escala monumental na Reitoria da UFMG, narra um evento histórico ocorrido em data e local específicos. Supõe-se, então, que sua força artística e comunicacional estaria comprometida ao exigir do fruidor um conhecimento prévio do evento. Todavia, se por um lado Yara constrói esta obra a partir de veios histórico, local e temporal, por outro lado, desconstrói este mesmo viés através de uma narrativa potencializadora de atualizações singulares ante cada olhar.

As “amarras” do tema histórico se dissipam no primeiro contato com o homem que, centralizado no espaço, olhando para a cruz como se não mais entendesse a sua importância e duvidasse do poder materializado no símbolo. Olhar que demanda respostas, mas não sabe como alcançálas; estão perdidas em algumas – ou muitas – das sinuosidades que se apresentaram durante o trajeto que o trouxera até ali. Percurso ausente de realidade e esperança e que somente encontra continuidade pelo toque da sola dos pés que vão direto ao encontro do chão, pela necessidade de reafirmar os passos dados enquanto única alternativa de manutenção da caminhada que ainda se delineia apesar do desfecho escrito. A artista selou o destino do vulto em forma de cruz finalizando-o como uma densa massa corpórea completamente retirada de suas próprias forças vitais. A personagem possui identidade associada a Tiradentes, e simultaneamente guarda em si a definição de todos os desconhecidos que também foram responsáveis pela marcação dos passos na Inconfidência Mineira. Tupynambá concretiza as possibilidades de emancipação da história através das perspectivas individualizadas de seus “retratados”.

Yara nos presenteia com outras “sínteses” possíveis: nas representações das lendas brasileiras, nas suas mulheres célebres ou mesmo nas paisagens que se rendem ao puro aspecto da visualidade das formas e ainda na aparente “simplicidade” de suas naturezas-mortas, que advém na verdade, da facilidade da artista em lidar com objetos e temáticas totalmente distintas. É um despojamento que edifica com a mesma naturalidade, desde os veios em uma folha aos fortes traços expressionais no rosto de personagens. Não seria esse um dos retratos que gostaríamos de representar? Uma Universidade que, com a iniciativa histórica do “Festival de Inverno”, se mantém fiel ao propósito de refletir o universal sem perder o diálogo entre as temporalidades e o elo com a individualidade que nos define? Rodrigo Vivas