Web 2.0 e docência: formação e práticas pedagógicas com o uso do laptop educacional

July 27, 2017 | Autor: R. Jaguaribe Pontes | Categoria: Web 2.0, Teacher Training
Share Embed


Descrição do Produto

WEB 2.0 E DOCÊNCIA: FORMAÇÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM O USO DO LAPTOP EDUCACIONAL

Renata Lopes Jaguaribe Pontes, Université de Montréal Karla Angélica Silva do Nascimento, Universidade Federal do Ceará Mixilene Sales Santos Lima, Universidade Federal do Ceará

Resumo. O presente artigo trata do processo de formação docente realizado em noves escolas cearenses contempladas com o Projeto Um Computador por Aluno - UCA que teve como objetivo capacitar os professores à integrar pedagogicamente as tecnologias digitais de informação e comunicação - TDIC. Dentre os cinco modulos da formação, focamos em dois que tratam sobre o uso das ferramentas da Web 2.0 no contexto escolar e a elaboração de projetos. Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo identificar quais projetos foram desenvolvidos nas escolas cearenses utilizando ferramentas da Web 2.0 e analisar se essas práticas exploraram as características destes recursos, como a colaboração, autoria e o compartilhamento. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa e os dados foram coletados por meio de observações realizadas in loco durante as formações, nos momentos de planejamento pedagógico e durante a realização dos projetos. Dentre os resultados, constatamos que as ferramentas da Web 2.0 como o blog, o Facebook, o Google Maps e o Google Docs auxiliaram na realização de atividades colaborativas, propiciaram novos canais de comunicação e interação entre alunos, professores e pais, e possibilitaram que alunos e professores criassem conteúdos, estimulando e valorizando sua autoria. Também observamos que o formato da formação em serviço foi adequado ao aliar momentos teóricos e práticos, já que, os professores conseguiram tanto planejar os projetos como implementá-los. Contudo, para que práticas como essas possam ser realizadas, os professores devem continuar participando de momentos de formação que possibilitem o conhecimento e apropriação tecnológica de novas ferramentas e de como elas podem ser utilizadas no ensino e aprendizado dos conteúdos curriculares. Palavras-chave: Web 2.0; Formação docente; Projeto UCA. 1. Introdução As tecnologias digitais de informação e comunicação - TDIC fazem, cada vez mais, parte do nosso cotidiano, transformando e causando impacto em todos os âmbitos da sociedade, inclusive no contexto educacional devido às suas potencialidades como auxiliadoras no processo de ensino e aprendizagem. Entre as possibilidades de TDIC encontram-se as ferramentas da Web 2.0, considerada como “a segunda geração de serviços on-line que caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo”. (PRIMO, 2007, p.1).

2    

Essas ferramentas não foram desenvolvidas especialmente para a educação, no entanto, seus potenciais pedagógicos estão sendo explorados por estimularem “a experimentação, reflexão e geração de conhecimentos individuais e coletivos, favorecendo a construção de um ciberespaço de interatividade que contribui para criar um espaço de aprendizagem coletiva” (CARVALHO, 2008, p.6). Além disso, essas ferramentas tem uma grande vantagem: são de fácil utilização e não exigem do usuário um avançado conhecimento tecnológico, como por exemplo, em linguagem de programação. Outro motivo que corrobora para o emprego destas ferramentas é o fato dos alunos as utilizarem no seu dia a dia. “Os alunos hoje têm um conjunto de aplicativos web em suas mãos que podem verdadeiramente facilitar e revolucionar seu aprendizado” (VALENTE e MATTAR, 2007, p.88). A partir deste contexto, o Governo Federal criou o Projeto Um Computador por Aluno - UCA, coordenado pelo Ministério da Educação - MEC, que teve como objetivo proporcionar aos professores uma formação docente continuada para o uso das TDIC que abrange conhecimentos teóricos, técnicos e práticos. Do mesmo modo, favoreceu a inclusão digital de professores, alunos e gestores de escolas públicas do sistema de ensino do país por meio da inserção de laptops educacionais em situação de um-paraum (1:1), ou seja, cada aluno da escola possui um computador à sua disposição e todos estão conectados à Internet. Com base na formação docente realizada, o presente artigo tem como foco as experiências pedagógicas desenvolvidas durante o módulo 4, que aborda a elaboração de projetos, utilizando as ferramentas da Web 2.0 vistas no módulo 2, e visa identificar quais projetos desenvolvidos nas escolas contempladas com o UCA no Ceará utilizaram tais ferramentas. Assim como, se essas práticas exploraram as características da Web 2.0. Na seção seguinte, apresentaremos o quadro teórico, o contexto da pesquisa, assim como os procedimentos metodológicos adotados para a sua viabilização. 2. Web 2.0 e a formação docente Entre as principais ferramentas da Web 2.0 estão o blog, os sites wiki e as redes sociais. O uso dessas ferramentas proporciona uma extensão dos espaços de aprendizagens dos alunos para além das salas de aulas, preparando-os para a sociedade tecnológica, já que, grande parte dos trabalhos atuais exigem uma competência para

3    

usar a Web 2.0. (DOHN, 2009). Marinho et al (2009) discorrem acerca do processo de autoria propiciado pela Web 2.0 e também enfatizam a importância da colaboração entre os usuários para que a web seja um grande repositório de informações e que, por consequência, possa ser uma fonte rica de conhecimento. A Web 2.0 é a rede no tempo de uma Sociedade da Autoria, onde cada internauta se torna, além de (co)autor ou (co)produtor, distribuidor de conteúdos, compartilhando a sua produção com os demais indivíduos imersos em uma cibercultura. O internauta deixa de ser apenas um leitor isolado ou tão-somente um coletor de informações. Ele agora passa a colaborar na criação de grandes repositórios de informações, tornam-se também semeador e contribuindo para que uma riqueza cognitiva se estabeleça e se expanda em um espaço cujo acesso é amplo, em tese possível a todos. A Web 2.0 é a “web da leitura/escrita” [read/write Web] (MARINHO et al, 2009, p.9).

Em conformidade, Primo (2007) afirma que os novos espaços originados pela Web 2.0 estimulam interações nunca antes possíveis: “a Web 2.0 tem repercussões sociais importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca efetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática”. (p. 1). Para O’Reilly (2005), a participação dos usuários é o combustível da Web 2.0, pois, é por meio da “inteligência coletiva” que os serviços da web se tornam melhores, partindo-se do pressuposto de que ninguém sabe tudo, mas que todos sabem algo. Lévy (1998) caracteriza esse conceito da seguinte forma: “a inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, [...] que resulta em uma mobilização efetiva das competências [...] a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas”. (p. 29). Chagas (2002, p.2) reforça a importância do trabalho colaborativo como “condição necessária para que as redes de aprendizagem e conhecimento se constituam e se mantenham, de forma a concretizar uma das suas potencialidades mais evocadas – a construção de conhecimento pelos seus intervenientes”. O trabalho colaborativo é um elemento essencial nos processos de aquisição do conhecimento; o diálogo e a interação são fundamentais para a aprendizagem. Essa crença fundamenta-se na concepção atual dominante relativa à aprendizagem, para onde confluem duas correntes teóricas: por um lado, as perspectivas construtivistas, que se inspiram em Piaget e Bruner, entre outros autores, e as interpessoais e socioculturais, movidas pelo trabalho de Vygotsty e seguidores. A valorização do trabalho colaborativo demonstra o quão democráticos são os

4    

ambientes da Web 2.0 ao estimularem a construção coletiva do conhecimento que, posteriormente, fica acessível a todos os usuários que navegam na rede. Por exemplo, ao criarmos um blog fazemos registros de informações relevantes que ficarão armazenadas on-line e que poderão ser compartilhadas pela divulgação do seu endereço eletrônico; o mesmo acontece ao inserirmos um novo verbete na Wikipédia ou ao gravarmos um vídeo e postá-lo no YouTube. No entanto, segundo Davies e Merchand (2009) para que uma prática educacional com as ferramentas da Web 2.0 possa ser desenvolvida de forma bemsucedida quatro condições devem ser atendidas. A primeira condição é quanto ao objetivo da atividade a ser realizada. A ferramenta deve ser empregada para auxiliar a atingir o objetivo que o professor tem em mente para determinada aula ou atividade e seu uso deve ser relevante para o aprendizado do aluno. O uso da ferramenta pela ferramenta nāo se constitui em uma prática educativa. A segunda e a terceira condições são a participação e as parcerias, respectivamente. Ambas estão estreitamente ligadas, já que, a participação pressupõe um envolvimento dos alunos, dos professores, dos pais e de todos os outros atores envolvidos no contexto da atividade. Essa participação acaba nos reportando a ideia de parceria (Idem, 2009). No caso da experiência ser realizada em uma escola, a parceria pode ser com outras instituiçōes de ensino, como por exemplo, uma universidade, ou com a própria comunidade onde a escola se insere. E, por último, temos como condição o planejamento. A atividade deve ser planejada levando em consideração os pontos fortes da ferramenta a ser utilizada e as suas adaptabilidades para o uso em sala de aula (Davies e Merchand, 2009). Contudo, para que o professor possa usar as ferramentas da Web 2.0 como um recurso pedagógico é necessário que ele se aproprie instrumentalmente e, principalmente, que compreenda suas possibilidades pedagógicas. Daí, a importância de uma formação docente que possibilite uma capacitação sólida que suscite no professor novas formas de pensar a educação. Neste sentido, a formação docente do Projeto UCA estimula a prática da aprendizagem em rede que visa possibilitar o desenvolvimento de conteúdos por múltiplas conexões entre alunos e professores da mesma e de diferentes localidades visando a produção de conteúdo, troca de ideias, discussões, entre outras possibilidades (SANTOS e BORGES, 2010).

5    

Outro aspecto importante da formação é que ela aconteceu em serviço, portanto, os professores tiveram possibilidades de usar o laptop educacional e os recursos da Internet em sala de aula à medida que foram sendo capacitados. Acompanhada por formadores do Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE e por uma equipe multidisciplinar do Instituto UFC Virtual, a formação docente abrangeu momentos presenciais e a distância que contemplaram cinco módulos : 1) Apropriação Tecnológica; 2) Web 2.0; 3) Formação na escola: Professores e Gestores; 4) Elaboração de Projetos; e 5) Sistematização da Formação na Escola. O processo de formação dos professores das escolas contempladas pelo projeto se orientou pelos princípios expostos no documento “Projeto UCA – Formação Brasil: projeto, planejamento das ações/cursos” de 2009, e foram baseados na compreensão de que foi necessário priorizar “o aprendizado de novas ações pedagógicas com apoio da tecnologia, visando mudanças no currículo escolar”(BRASIL, 2008, p. 5). 3. Contexto e Metodologia A presente pesquisa foi realizada em nove escolas cearenses contempladas com o Projeto UCA que serão denominadas de A, B, C, D, E, F, G, H e I. No total, elas possuem 4.105 alunos e 190 professores, aproximadamente. A formação docente do projeto contemplou cinco módulos, conforme descrito anteriormente, no entanto, o foco desta pesquisa são os projetos desenvolvidos pelos professores, juntamente com os seus alunos, durante a formação do módulo 4 utilizando ferramentas da Web 2.0 vistas durante o módulo 2. O módulo 2 abordou o uso pedagógico das ferramentas da Web 2.0. Para tanto, a formação abrangeu momentos teóricos, nos quais foram realizados estudos acerca de como integrar tais ferramentas nos planos de aula, e momentos práticos com a exploração e uso dos recursos digitais on-line, tais como: objetos de aprendizagem, sites, blogs, aplicativos do Google Drive e redes sociais, de modo que contemplasse a “participação, produção de conteúdo, autoria, armazenamento, compartilhamento, interação e colaboração” (PONTES, 2011 p. 24), características inerentes à Web 2.0. Enquanto que o módulo 4 foi constituído por momentos práticos direcionados para o uso das TDIC em sala de aula. Para conclusão desse módulo, os professores elaboraram um projeto que contemplou o uso de um ou mais recursos visto durante a formação, integrando-o(s) ao currículo escolar. Vários projetos foram criados e postos em prática em todas as escolas. Alguns destes serão detalhados nos resultados do

6    

presente trabalho. Durante a formação, os docentes foram acompanhados pelos formadores por meio de encontros presenciais e virtuais que fazem parte do curso, como também em momentos de planejamento de aulas, nos quais os professores receberam orientações sobre a construção dos projetos e planos de aula que contemplassem o uso de ferramentas da Web 2.0. Nesse contexto, a abordagem metodológica utilizada no presente estudo é de caráter qualitativo tendo como estratégia o estudo de caso. Ludke e André (1986) afirmam que a concepção do estudo de caso não advém de uma visão predeterminada da realidade, mas visa apreender os aspectos ricos e imprevistos que envolvem uma determinada situação. Esses autores ressaltam que algumas das características principais do estudo de caso são: visar a descoberta e enfatizar a interpretação em contexto. Os dados foram coletados por meio de observações realizadas in loco durante as formações, planejamentos pedagógicos e realização dos projetos durante os meses de setembro a dezembro de 2013. Na próxima seção apresentamos os resultados obtidos a partir das análise dos dados. 4. Resultados Tendo em vista alcançar os objetivos especificados buscamos identificar os projetos desenvolvidos por professores e alunos das nove escolas contempladas com o UCA, no quais foram utilizadas ferramentas da Web 2.0. Dessa forma, os resultados foram categorizados de acordo com as características da Web 2.0 que mais se destacaram durante os projetos. As categorias são: canais de comunicação e interação, produção de materiais e trabalho colaborativo, as quais serão discutidas a seguir. 4.1. Canais de comunicação e interação Identificamos que o blog, o Facebook e as ferramentas Google Drive e Google Maps foram usados em vários projetos como canais de comunicação aproximando alunos, professores e pais e até mesmo estudantes de países diferentes, por meio da interação que abrangeu a partilha de informações que auxiliaram a aprendizagem dos conteúdos curriculares. O projeto “Sem Fronteiras: Ponte Atlântica Brasil e Portugal” foi desenvolvido com duas turmas do ensino fundamental, sendo vinte e cinco alunos do 9º ano da Escola

7    

E, e vinte do 10º ano de uma escola de Portugal. O projeto teve duração de três meses com o objetivo de estabelecer discussões acerca da cultura de ambos os países. A comunicação entre os alunos foi trabalhada de forma síncrona e assíncrona para promover a criação de materiais digitais (apresentação de slides e textos on-line) e de forma colaborativa nas aulas de História, Geografia e Cultura e História das Artes. Durante as atividades, os alunos puderam realizar pesquisas na Internet, desenvolver um material sobre o outro país por meio do Google Drive, participar de fóruns no Ambiente Virtual

de

Aprendizagem

Sócrates

do

Instituto

UFC

Virtual

(http://www.vdl.ufc.br/socrates/), além de estabelecer contato síncrono por meio de uma web conferência que proporcionou trocas de informações. Este projeto também utilizou a rede social Facebook como ferramenta de apoio e, por iniciativa dos próprios alunos, cada turma criou um grupo restrito no site a fim de postar as atividades propostas, enviá-las aos colegas quando faltavam, tirar dúvidas e receber suas atividades corrigidas. Essa iniciativa proporciou um maior envolvimento do aluno com a rotina escolar tanto em sala de aula quanto fora dela. Nas Escolas B e D, o projeto “Nossos Lugares no Mundo” buscou desenvolver aprendizagens acerca das culturas dos participantes para a construção de uma convivência com a diversidade cultural. O projeto proporcionou a interação entre alunos das Escolas B e D por meio da apresentação e discussão de elementos de suas culturas locais e o contato presencial com alunos norte-americanos da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. O contato e o intercâmbio entre os alunos das duas escolas foram realizados através dos comentários das postagens de trabalhos realizados por eles (slides,

textos,

imagens)

no

blog

do

projeto

(http://nossoslugaresnomundo.blogspot.com.br/). Outro projeto desenvolvido na Escola D foi “Eu conheço o meu bairro” que permitiu aos alunos conhecer a história de lugares da cidade, se reconhecer como parte dessa história e entender como os agrupamentos humanos ocupam o espaço urbano, com base na constituição dos bairros. Assim, criou-se a oportunidade de pesquisar a história do bairro. As ações no decorrer do projeto se deram por meio de debates e pesquisas na internet sobre a origem do bairro, a localização da escola e da casa dos alunos no mapa através do Google Maps, levantamento de dados sobre quem mora e estuda no mesmo bairro, entrevistas com moradores antigos, aula de campo com passeio pelo bairro e registro de imagens por meio da webcam dos laptops. Na escola G, os alunos e professores desenvolveram o projeto “Facebook e

8    

História: a utilidade didática das redes sociais” que se utilizou da rede social para interação e discussão dos conteúdos da disciplina de História. Ao final de cada conteúdo ministrado pelos professores, foi organizado um debate no Facebook, com intuito de ampliar e fixar os conhecimentos pertinentes a essa disciplina dentro e fora da escola. Assim como foram compartilhados outros tipos de materiais de consulta, tais como vídeos, fotos, sites, todos relacionados com os assuntos da disciplina. A partir dessas práticas, constatamos que uso pedagógico das ferramentas da Web 2.0 pode ampliar o espaço e o tempo do ensino e da aprendizagem para além da sala de aula, assim como oportuniza uma aproximação entre a familia e escola, parceria fundamental para o sucesso escolar discente. 4.2. Produção de materiais Além de auxiliarem na comunicação e estimularem a interação, também observamos que as ferramentas da Web 2.0 facilitam a produção de materiais e, desta forma, fazem com que os alunos se sintam parte integrante da construção do seu conhecimento. No projeto “Nem certo, nem errado: adequado” desenvolvido na Escola C, a professora e os alunos do 1º ano do ensino médio trabalharam as variações linguísticas presentes na música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, com intuito de analisá-la por meio das ocorrências de desvios da norma culta e da riqueza da cultura popular que possui a letra da música. Esse trabalho colaborativo possibilitou aos alunos a elaboração de um dicionário

intitulado

“ABC

do

Sertão”

e

a

criação

do

blog

(http://blogonzagajvb.blogspot.com.br/). A

Escola

H

realizou

o

projeto

“Vizinhança

Americana/America's

Neighborhood” (https://sites.google.com/site/usubrasilproject/home) que teve como principal objetivo integrar o laptop educacional e os recursos digitais no cotidiano escolar e promover o multiculturalismo por meio da troca de referências culturais sobre danças, músicas, vestimentas, culinária, dentre outras temáticas da cultura do nordeste brasileiro, onde localiza-se o município no qual a escola está inserida e a cultura norteamericana representada pela cidade de Utah. Foi possível compartilhar informações via fóruns de discussões e troca de textos elaborados pelos dois grupos de alunos. A Web conferência foi um recurso a mais para que os participantes pudessem se conhecer virtualmente e trocar informações verbais sobre as temáticas abordadas. Já a Escola I desenvolveu o projeto “Produção de Laifis no Ensino de Biologia”

9    

com 33 alunos de uma turma do 3º ano do turno da manhã do ensino médio. Esta iniciativa consistiu no uso do recurso digital Laifi que possibilita a interação por meio de histórias e interesses em comum e a construção conjunta e registro de conteúdos que vão desde uma simples imagem até uma história detalhada e ilustrada (www.laifi.com). A criação do Laifi teve como assunto conteúdos visto em sala de aula (reino plantae, reprodução humana). A cada exploração de conteúdo didático foi realizada a produção dos Laifis por equipes que elaboraram textos, pesquisaram imagens e organizaram apresentações. Este projeto foi premiado na Feira de Ciências e Cultura, promovida pela 6ª CREDE, da cidade, ficando em 10º colocado na categoria Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Os projetos descritos destacam a importância dos alunos e professores perceberem-se como construtores de conhecimento, reconhecendo a importância de trabalhar colaborativamente, trocar informações e discutir ideias. 4.3. Trabalho colaborativo O trabalho colaborativo apresenta potencial para enriquecer o pensamento, a ação e a resolução de problemas. Assim, identificamos, em alguns projetos, ganhos em termos de socialização e aquisição de capacidades e habilidades. A Escola C desenvolveu dois projetos com foco no trabalho colaborativo. O primeiro foi “Descendo a ladeira com o laptop: um passeio pela arborização no entorno da escola”, realizado nas aulas de Biologia com os alunos do 2º ano do ensino médio e que teve como objetivo promover reflexões acerca das condições das áreas naturais em relação aos centros urbanos com enfoque no processo de arborização no distrito onde a escola está localizada, como também, vivenciar os conteúdos a partir da exploração, levantamento e mapeamento da região com o auxílio do laptop educacional e do Google Maps. O segundo projeto, intitulado “O laptop educacional na trilha do artigo de opinião: no meu lugar faço a intervenção”, proporcionou aos alunos melhores condições de leitura e escrita ao passo de levá-los a refletir, posicionar-se e propor intervenções acerca de problemáticas locais e gerais da sociedade. Para tanto, foi necessário criar um grupo no Facebook intitulado “3º A, é hora de opinar” para socializar os resultados das ações e divulgar as produções textuais coletivas dos alunos. Tendo como objetivo incentivar o trabalho colaborativo entre alunos e entre professores e alunos, a escola A desenvolveu um projeto para formar alunos-monitores que auxiliem os docentes em sala de aula durante as atividades realizadas com os

10    

laptops. A cada ano letivo o grupo é modificado de modo que os demais alunos da escola possam vivenciar essa experiência e que possam ser passar pelos momentos de formação que abrange a apropriaçao das ferramentas do laptops e de recursos da Internet, entre eles da Web 2.0, como o blog. A Escola F envolveu alunos da mesma sala de aula, de salas diferentes, entre outra(s) contemplada(s) com o UCA e com alunos norte-americanos para desenvolver a interculturalidade, nomeando o projeto de “A gente faz história”. Professores, alunos e pais interagiram nos blogs, acompanharam o andamento das atividades pedagógicas e utilizaram o Google Docs para a escrita colaborativa. Na Escola G, o projeto “Minha Terra na Web” teve como público-alvo alunos do 3º ano do ensino médio do turno manhã e estudantes universitários norte-americanos de intercâmbio. O projeto teve como objetivo, promover o trabalho colaborativo entre os alunos dos dois países. Nesses encontros, as atividades realizadas foram: discussões de temas presenciais; elaboração de material; e exploração do Google Docs. Os temas discutidos estavam relacionados à cultura de ambos os países. Em seguida, os alunos produziram materiais (textos com imagens) de forma colaborativa sobre o assunto, utilizando o Google Docs. Cada aluno tinha o seu próprio laptop e isso contribuiu para a elaboração compartilhada de slides. O projeto da Escola H, alinhado a categoria produção de materiais, foi o “Ficção Científica: Mito ou Realidade” que teve como objetivo proporcionar a realização de atividades colaborativas com o uso do laptop educacional e de recursos on-line, tendo como tema o gênero ficção científica, cuja obra principal estudada foi “Viagem ao Centro da Terra” do autor Júlio Verne. Os participantes, alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, puderam explorar o livro e a partir disso elaborar seus próprios contos de ficção científica. O projeto teve como produto final um livro de ficção impresso e também

digital

que

pode

ser

acessado

pelo

endereço

eletrônico :

(http://www.calameo.com/read/00152285454d3ee440fa9). Verificamos que o uso pedagógico dos recursos pode estimular o trabalho colaborativo por meio da inteligência coletiva, já que, cada aluno e professor colaborou com a construção do conteúdo como um todo. Além dos projetos mencionados, as nove escolas possuem e utilizam blogs para divulgar notícias sobre as aulas, bem como para disponibiliza um formulário eletrônico on-line destinado à reserva e agendamento do laboratório de informática e dos laptops educacionais. Com esse recurso, os professores de sala de aula podem acessar o blog e

11    

fazer seu agendamento prévio, facilitando, assim, as ações de gerenciamento da recarga e organização dos laptops. As práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores das nove escolas possibilitaram o uso de recursos da Internet que auxiliam os alunos nos conteúdos curriculares. Além disso, os professores desenvolveram algumas estratégias que possibilitaram o uso contínuo dos laptops como ferramenta pedagógica, destacando-se a criação de blogs para cada disciplina, nos quais postam seus planos de aula e passam a ministrá-los utilizando o laptop como principal apoio. Na seção seguinte, apresentaremos as considerações finais da presente pesquisa. 5. Considerações finais Observamos que em todos os projetos analisados foram atendidas as quatro condições para que a utilização de ferramentas da Web 2.0 possam ser desenvolvidas de forma bem-sucedida. Os objetivos dos projetos são claros e foram bem formulados, a participação dos alunos e professores foi evidenciada, assim como a parceria entre a escola, a universidade e a comunidade escolar, representada pelos pais. E o planejamento das atividades destacaram as potencialidades oferecidas por cada ferramenta utilizada. Confirmamos que as ferramentas da Web 2.0 podem trazer variadas vantagens para a educação. Em relação aos projetos desenvolvidos, elas auxiliaram na realizaçao de trabalhos colaborativos feitos pelos alunos, assim como possibilitaram que alunos e professores criassem conteúdos, destacando a autoria desses atores e, principalmente, mudando o paradigma tradicional da educação, ao reconhecer o aluno como autor do seu próprio conhecimento. No entanto, em algumas escolas, a conexão da Internet era lenta e oscilante o que dificultou e retardou o desenvolvimento de alguns projetos. Também constatamos que o formato da formação docente em serviço que alia momentos teóricos e práticos foi adequado, já que, os professores das escolas conseguiram tanto planejar projetos como implementá-los. Contudo, para que práticas como essas possam ser realizadas, os professores devem continuar participando de momento de formação que possibilitem o conhecimento e a apropriação tecnológica de novas ferramentas e de como elas podem ser utilizadas como auxiliares no ensino e aprendizado dos conteúdos curriculares.

12    

Referências BRASIL. Um Computador por Aluno: a experiência brasileira. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, Série Avaliação de Políticas Públicas, n°1, 2008. Disponível em: http://bd.camara.gov.br. Aceso em 12fev2014. CARVALHO, A. A.(org). Manual de ferramentas da web 2.0 para professores. 8. Lisboa, Portugal: Ministério da Educação - Direcção-Geral da Inovação e de Desenvolvimento Curricular, 2008. CHAGAS, I. Trabalho em colaboração: condição necessária para a sustentabilidade de redes de aprendizagem. In M. Miguéns (Dir.). Redes de aprendizagem. Redes de conhecimento (pp. 71-82). Lisboa: Conselho Nacional de Educação, 2002. Disponível em http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/index.html/CNETrabalho%20Colaborativo.p df Acesso em 26/03/2014. DAVIES, Julia Alison; MERCHANT, Guy. Web 2.0 for schools: Learning and social participation. Peter Lang, 2009. DOHN, N. Web 2.0: inherent tensions and evident challenges for education. Computer Supported Collaborative Learning, 4, 343–363, 2009. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo. Edições Loyola, 1998. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. (1986). Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária. MARINHO, S. P.; TÁRCIA, L.; ENOQUE, C. F. O. VILELA, R.A.T. Oportunidades e possibilidades para a inserção de interfaces da web 2.0 no currículo da escola em tempos de convergências de mídia. Revista e-Curriculum, PUCSP-SP, Volume 4, número 2, junho 2009. Disponível em http://www.pucsp.com.br/ecurriculum Acesso em: 20/04/2014. O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0 - Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. O'Reilly Publishing, 2005. PONTES, R. L. J. O uso da Web 2.0 na educação: um estudo de caso com professores participantes do Projeto Um Computador por Aluno (UCA). Fortaleza: UFC, 2011. 161 p. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2011. PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E- Compós (Brasília), v. 9, p. 1-21, 2007. SANTOS, M.B.F. ; BORGES, M.K. Considerações sobre o Projeto UCA e o currículo escolar. In Anais II Seminário Web-Currículo - Integração de Tecnologias de Informação e Comunicação ao Currículo, São Paulo, páginas 2446-2458, 2010. VALENTE, Carlos; MATTAR, João. Second Life e Web 2.0 na educação: o potencial revolucionário das novas tecnologias. São Paulo: Novatec Editora, 2007.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.