Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XX Prêmio Expocom 2013 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação
Webseriado Viral1 Julherme José PIRES2 Alan Ricardo Dal PIZZOL3 Sabrina Possan ZIMERMANN4 Hilário Jr. dos SANTOS5 Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Chapecó, SC
RESUMO
O webseriado Viral é uma produção audiovisual de ficção desenvolvida por estudantes vinculados aos cursos de Produção Audiovisual, Jornalismo e Publicidade e Propaganda, durante o ano de 2012. O webseriado contém seis episódios que variam entre cinco e onze minutos de duração. Todos os episódios foram publicados em canal específico no Youtube6 e disseminados através de campanhas de comunicação voltadas às redes sociais, especialmente o Facebook7.
PALAVRASCHAVE: seriado; internet; audiovisual; ficção; convergência. 1 INTRODUÇÃO O webseriado Viral é ambicioso no ponto de vista da convergência online. O processo de produção iniciou dentro do projeto Experiência Audiovisual Universitária em abril de 2012 e pretendia desenvolver uma experiência interativa na internet. A "experiência" em si consistem em aplicar na prática conceitos elaborados nas mais diferentes disciplinas dos cursos envolvidos, oportunizando a interdisciplinaridade. A
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Trabalho submetido ao XX Prêmio Expocom 2013, na Categoria Rádio, TV e Internet, modalidade Produção Audiovisual para mídias digitais (avulso ou seriado). 2 Aluno líder do grupo e estudante do 7º Semestre do Curso de Jornalismo, email:
[email protected]. 3 Aluno coautor, estudante do 5º Semestre do Curso de Publicidade e Propaganda, email:
[email protected]. 4 Aluna coautora, estudante do 4º Semestre do Curso de Produção Audiovosual, email:
[email protected]. 5 Orientador do trabalho, professor dos cursos de Produção Audiovisual e de Publicidade e Propaganda, email:
[email protected]. 6 Disponível em . 7 Disponível em . 1
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proposta do projeto foi trabalhar com texto (blog e redes sociais), fotografia (pôsteres e imagens de divulgação), vídeo (o seriado) e relacionamento com o público. "No mundo da convergência das mídias, toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é cortejado por múltiplas plataformas de mídia" (JENKINS, 2009, p. 29). 2 OBJETIVO O objetivo principal do Viral é o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas de produção audiovisual e projetual no ambiente interativo, visando a capacitação dos estudantes envolvidos, integração interdisciplinar das áreas diversas da comunicação e a propagação de conteúdo experimental universitário na internet. 3 JUSTIFICATIVA A região Oeste de Santa Catarina, onde fica localizada a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), é uma área com escasso desenvolvimento de produções audiovisuais independentes. Os cursos de comunicação ainda são muito jovens e atuam de forma tímida nestes espaços. Observando estas características e unindo a necessidade de aproximar "o local" do contexto global, foi criado o projeto de extensão Experiência Audiovisual Universitária. Além de ser um projeto de extensão, o conhecimento desenvolvido em diferentes componentes curriculares nos diferentes cursos oportunizaram a aplicação prática e reflexiva da atuação e percepção acerca do audiovisual. Com premissas voltadas a especialização acadêmica em projetos audiovisuais e a incorporação de produções interdisciplinares, a Experiência Audiovisual Universitária saiu do papel e publicou o primeiro seriado de ficção do Oeste do Estado de Santa Catarina, um dos primeiros criados em âmbito universitário no Brasil. Dominique Wolton já questionava em 2003 na sua obra Internet, et après? porque se discute tão pouco sobre a comunicação neste contexto. Eis que há uma grande necessidade de se ampliarem os estudos em comunicação na lógica da convergência, em que o meio passa a ser secundário ao conteúdo e as mais diferentes plataformas estão sendo popularizadas. Desenvolver conhecimento a partir destas perspectivas é necessário, 2
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portanto. Existem tecnologias de comunicação globais, não existe comunicação global. E isso é tão verdadeiro para as mídias generalistas quanto para as novas tecnologias. Existe progresso em matéria de comunicação e ainda é preciso ser prudente no emprego da palavra se e somente se existe um encontro entre inovação técnica e uma mudança no modelo cultural de concepção da comunicação na sociedade. Estes momentos são muito raros. (WOLTON, 2003, p. 122).
Comunicarse é uma problemática. Por isso é tão importante realizar experimentos dentro de um contexto global (multiplataforma) para entender o cenário, enquanto produção e enquanto resposta do público. O webseriado Viral foi produzido dentro dessas concepções téoricas e com essas premissas de estudo de comportamento de modelo transmídia tão novo e que ainda não se popularizou, mas que já de antemão é um caminho viável de democratização da comunicação audiovisual, estigmatizada como cara e dependente de fomento. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS O seriado foi desenvolvido a partir de um roteiro pautado em seis episódios. Ele foi pensado para o meio hipermidiático da cibercultura8 e da convergência digital, envolvendo mídias sociais (redes sociais, blogs, etc.), mas também numa interface com mídias tradicionais, como a exibição em canal de TV fechado. Tratase de um roteiro original desenvolvido dentro de um "contexto apocalíptico". A invasão dos "zumbis" como pano de fundo da história foi escolhida pela alta popularidade desse tema nos dias atuais nas mais variadas mídias (TV, quadrinhos, cinema, etc.). Na verdade, em sua essência, as webséries nada mais são do que a fórmula clássica das séries televisivas aplicadas ao universo multiplataforma da internet. E sem dúvida o público que consome este tipo de produto é o mesmo que consome a tradicional dramaturgia de forma seriada na TV. Talvez a grande diferença esteja no comportamento fragmentado do público e não o público em si, já que em sua maioria, quer algo além da passividade da tela do 8
Termo popularizado por Pierre Lévy, que dá conta sobre a relação social e comunitária dentro da internet, formando uma cultura de ciberespaço. 3
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televisor. Ele quer interagir, participar ativamente do universo proposto. (AERAPHE, 2013, p. 17).
Quanto mais o Viral pudesse se propagar, mais a experiência teria sentido. Com isso em mente, os estudantes envolvidos no processo passaram a pesquisar e observar o que tornava certos produtos audiovisuais multiplataforma tão atraentes para o público geral. Durante o processo de préprodução, chegouse ao consenso da busca por um nicho, para ser mais preciso no processo comunicacional da experiência social e audiovisual propostas. Alguns dos resultados desta pesquisa preliminar, apresenta alguns parâmetros de produção, que depois passaram a ser adotados. Um dos que mais chamou atenção foi a popularidade estética das câmeras fotográficas DLSR da Canon . Diante de possibilidade, o Viral foi gravado com a câmera Canon EOS 5D Mark II , em 1080p e 25fps (quadros por segundo). O audio foi captado com um microfone direcional Sennheiser Me66/k6 , conectado a uma filmadora auxiliar. As luzes utilizadas para iluminação dos cenários variaram de acordo com a cena. Foram usados papel vegetal e gelatina para controle de cor no processo de tratamento fotográfico em produção. A pósprodução foi realizada num PC Windows 7 . O corte inicial de cenas e a edição final foi feita com o programa Adobe Premiere CS6 . O tratamento fotográfico final e os efeitos visuais foram desenvolvidos no programa Adobe After Effects CS6 . A trilha sonora original foi capturada e tratada no programa Audacity . Plataformas sociais também fizeram parte do planejamento do Viral desde o início. Alguns dos personagens tiveram seus perfis publicados no Facebook. O blog de uma das personagens, que continha os memorandos descritos no roteiro também fora publicado, para que os interessados pudessem lêlos na integra. O blog de produção9 foi um elemento interessante para registrar algumas das atividades correntes, bem como para a equipe comentar resultados no processo. Como o site mainstream da internet é hoje o Facebook, site mais visitado no Brasil atualmente (ALEXA, 2013), o planejamento incluiu como base de informações e relacionamento com o público esta rede social. A página virou a janela da produção para o mundo. Mesmo com a publicação dos episódios do Viral no Youtube, o Facebook foi 9
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imprescindível para manter equipe, elenco e seguidores conectados à base social. E, para a roteirização em hipermídia, fica a orientação de que as telas, ou lexias, ou os trechos de cada meio de comunicação que integram a obra hipermidiática cenas e planos em vídeos e animações, compassos e notas em músicas, parágrafos e frases em textos, formas, cores e texturas em gráficos, ruídos, barulhos e silêncios em sonorizações , devem ser consideradas organismos ou embriões que foram criados separadamente, mas que, ao serem acessados pelo usuário através dos links que escolher, gerarão um fenômeno de outra ordem, uma experiência nova a cada navegação, uma nova percepção dos conteúdos observados e, consequentemente, diferentes respostas a cada acesso. (GOSCIOLA, 2003, p. 118).
A cada novo link que o usuário clica dentro do conteúdo hipermidiático do Viral na multiplataforma, uma nova experiência é adicionada ao catálogo dele. Tratouse como geração do conteúdo todo elemento participante do experimento. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O Viral é um seriado para a internet (web série ou webseriado10) ficcional de seis episódios com o tempo que varia entre cinco a onze minutos de duração, publicado em canal próprio no Youtube desenvolvido pelo projeto de extensão interdisciplinar Experiência Audiovisual Universitária da Unochapecó. Na trama, seis pessoas lidam com o início da "invasão zumbi" em uma universidade em Chapecó. Foram construídos na préroteirização os arquétipos do "garoto nerd", da "garota popular", da "estranha", do "valentão", da "patricinha" e do "filósofo". No decorrer dos episódios, eles vivem momentos de tensão enquanto tentam escapar da universidade, tomada por mortosvivos. Daí o slogan do seriado "Quando não há saída", presente nos materiais de divulgação. Referente às sequências, a trama ganhou corpo num lado psicológico e social. A questão principal sobre "O que está acontecendo?" permeia os episódios pelo medo do ser humano pelo desconhecido. Outro viés da história consistiu em narrar uma crise sobre o "início do fim" aproveitando de um fenômeno cultural contemporâneo muito popular hoje 10
Web série e webseriado são termos empregados atualmente referente a séries e seriados produzidos exclusivamente para a internet. 5
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em dia presente massivamente em produtos da indústria do entretenimento: o apocalipse zumbi. Mais que isso, para inovar na temática, se desenvolve a narrativa a partir de uma universidade fictícia, a Fundação Universitária Gálattas. Nada mais conveniente do que este pressuposto metalinguístico ser o projeto inaugural do projeto de extensão Experiência Audiovisual Universitária. Ou seja, refletir sobre os desdobramentos de um fenômeno cultural dentro de uma universidade é algo pouco explorado e, nisso se procurou inovar e contribuir com tal fenômeno. O sotaque regional do Oeste catarinense, mantido ao invés de mascarado nas cenas, foi uma das principais propriedades de caráter de pertencimento. A noção de globalização a partir da internet também pode ser compreendida como uma possibilidade reafirmação da regionalização e da identidade local em produções audiovisuais mundo a fora. Esta sensação local capturou o segundo nicho, depois do público do suspense em ficção científica, os universitários e público jovem da região. Percebeuse que não são apenas as características intencionais que geram simpatia de um público ou de outro, mas também questões mais específicas também geram acesso. É fundamental para o engajamento de nossos webespectadores a identificação com o seu mundo pessoal, real, e também com o seu mundo imaginário. Note que isso não tem nada haver com o tema proposto e sim com os anseios comuns a todo ser humano relacionado principalmente com a busca e a conquista. (AERAPEH, 2013, p.34)
Além disso, a questão do sotaque no Brasil é esterotipada ao extremo. Ao passo que nas mídias massivas é muito presente o sotaque do eixo Rio/São Paulo, sotaques regionalizados são alvo, por vezes, de preconceito ou repúdio. Manter o sotaque regional é sobretudo um esforço para preservar a identidade local. A préprodução aconteceu entre os meses de abril e junho, com a construção de roteiro, busca por locações, conceituação de maquiagem e figurino, desenvolvimento da trilha sonora original, seleção de atores e levantamento de equipe (todos universitários, sem nenhuma influência externa, ressaltase). Durante todo esse processo, procurouse estabelecer uma linha direta de comunicação com os stakeholders11. Desde fornecedores,
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Todos os envolvidos no processo, diretamente ou indiretamente.
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patrocinadores, produtores e até com o público, principalmente pelas ferramentas sociais online. Em junho, os estudantes entraram em vagas de produção definidas para uma produção audiovisual, como direção, produção executiva, maquiagem, design de produção e design de figurino. Com a equipe montada, iniciaramse as gravações. Ela aconteceram entre o final de junho e final de setembro. A pósprodução foi realizada até a primeira semana de dezembro, quando foi publicado o último episódio. 6 CONSIDERAÇÕES A convergência das mídias nas multiplataformas digitais já está nos estudos em comunicação há um bom tempo, mas a experimentação no campo científico universitário ainda é algo muito tímido. Tendo em vista a necessidade de pensar globalmente e agir localmente, o domínio e a inovação nestes campos de estudo são fundamentais. Manter o sotaque local como forma de reconhecimento da importância da comunicação regional mesmo dentro de um contexto global, da rede mundial de computadores, é perceber a iminência da conexão cultural e participação histórica. Mais do que produzir e desenvolver o mercado local do audiovisual, criar arte e contar boas histórias, a Experiência Audiovisual Universitária iniciou com o Viral um projeto de vanguarda, uma nova relação de criação de conteúdo interdisciplinar. Sobretudo, oportunizou que conteúdos e práticas estudadas em disciplinas dos três cursos mencionados fossem aplicadas na realidade e o aprendizado fosse muito rico para experiências futuras. Todos os envolvidos sentiram "acontecer" e, no entanto, sabem que a evolução pode e deve ocorrer em produções futuras, pois todos os envolvidos têm a noção de como melhorar. On demand , periodicidade e engajamento são palavras que cabem nesta nova perspectiva midiática. Há uma necessidade de entender esses novos processos, essas novas demandas. E a experimentação em âmbito universitário é essencial para iniciar esse processo de compreensão. Agora, se faz necessário seguir adiante. Nas palavras de Jenkins (2009, p. 346):
O surgimento da rede de computadores e as práticas sociais que cresceram ao seu redor expandiram a capacidade do cidadão médio de expressar suas ideias, de fazêlas circular diante de um público 7
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maior e compartilhar informações , na esperança de transformar nossa sociedade. Para isso, entretanto, temos de aplicar habilidades que adquirimos através de nossas brincadeiras com a cultura popular e dirigilas para os desafios da democracia participativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AERAPHE, Guto. Web Séries, Criação e Desenvolvimento . Belo Horizonte: 2013. ALEXA. Top Sites in Brazil . 2013. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2013. GOSCIOLA, Vicente. Roteiro Para as Novas Mídias: Do Cinema às Mídias Interativas . São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência . Tradução de Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2009. WOLTON, Dominique. Internet, e Depois? . Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.
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