Yamurikuma: o poder das mulheres

October 8, 2017 | Autor: Anastasia Kuznetsova | Categoria: Amazonia, Amazonian Indians, Xingu Indigenous Park, Upper Xingu, Alto Xingu, Yamurikuma, Camaiurá, Yamurikuma, Camaiurá
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YAMURIKUMA: O PODER DAS MULHERES Por Anastácia Kuznetsova Nas épocas remotas, no tempo dos antepassados os homens camaiurás saíram da aldeia para pescaria e não retornavam ao longo tempo. A gente contava que eles ficaram na floresta e se transformaram em animais. As mulheres ficaram sozinhas. Elas cuidavam das crianças, aprendiam a sobreviver, a alimentar-se e defender-se sem os homens. Elas fundaram uma aldeia própria e governavam aí. Mas depois os homens vieram para aldeia e arrancaram o poder das mãos das mulheres. Esta história é contada nas aldeias pelo povo indígena camaiurá que mora na região do curso alto do rio Xingu (Parque Nacional do Xingu, estado do Mato Grosso, Brasil). A quantidade deles hoje é 492 pessoas segundo os dados da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).

em aldeias no meio duma mata profunda. Uma aldeia camaiurá consiste de várias casas construídas em forma de círculo. Cada casa pertence a uma família. No centro da aldeia há uma casa ritual onde são praticadas todas as festas e cerimônias. Também há uma casa dos homens onde são guardadas as flautas sagradas para todos os homens da aldeia porque é proibido que as vejam as mulheres.

Yamurikuma as meninas vivem isoladas numa casa especial. Uma franja longa cobre seus olhos e a pele delas torna-se branca sem sol.

Uma mulher tecendo esteira

Os índios camaiurás

Como seus inúmeros vizinhos, os índios camaiurás são agricultores manuais, porém a caça, recoleção e pescaria têm uma significativa importância também. Como outros povos indígenas de Amazônia os camaiurás tradicionalmente cultivam mandioca, milho, batata e outras culturas. Na floresta eles caçam (com ajuda de canos de bambu e flechas venenosas) macacos, antas, aves e outros animais pequenos. A sobremesa favorita dos índios são as larvas tiradas do tronco de uma árvore podre e as aranhas fritas. Eles colhem castanhas (pequis), frutas e algodão muito precioso, usado para fazer fios coloridos (elemento único da roupa) e as redes de dormir. A comunidade camaiurá continua a ser tradicional apesar das inovações do mundo exterior. Os índios moram

Uma aldeia camaiurá

De acordo com a mitologia camaiurá e as tradições dos antepassados os índios honram suas avós que tinham ficado sem os seus maridos muito tempo atrás. Todos os anos na estação da seca eles praticam a festa de Yamurikuma dedicada às mulheres. Durante um mês as mulheres governam a aldeia enquanto os homens a governam o resto do ano. Na última semana da Yamurikuma são praticadas todas as cerimônias importantes e a iniciação das jovens indígenas também. A iniciação é um rito de passagem que significa que uma menina se torna uma mulher. A iniciação dá novos direitos e deveres às meninas. Meio ano antes da festa de

O corte da franja significa a passagem para a qualidade inteiramente nova. Na isolação a moça está aprendendo a sabedoria das mulheres mais velhas do povo. Ela recebe todos os conhecimentos necessários: como manter a casa, como cuidar dos seus filhos e do seu marido. Depois do rito a moça adquire o direito de casar e também as obrigações na economia da casa que todas as mulheres adultas têm. Durante toda a semana da festa os homens são obrigados a alimentar as mulheres e pintar seus corpos com desenhos alambicados (que representam os animais) também. É uma parte importante do rito. As mulheres revelam seu poder atacando os homens, mas este ataque é mais burlesco porque homens só recebem cócegas das mulheres. Além disso eles não devem resistir. As cócegas são um protesto contra o domínio dos homens. Estes ataques relembram do tempo quando as mulheres

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tinham o poder. No último dia das festas são organizadas as lutas femininas (os homens têm o rito igual chamado huka-huka).

As lutas

Os vizinhos do tribo waurá são convidados para as lutas. Isso é uma competição. As mulheres camaiurás cumprimentam os waurás ficando de joelhos na pose de onça. Competem as duas mulheres sem qualquer arma: uma camaiurá contra uma waurá. Cada mulher (as moças recentemente iniciadas também) deve participar. As lutas continuam até que a última mulher participe. Ganha a aldeia que tem mais vitórias no final. Yamurikuma termina com danças e cantos de todo mundo que simbolizam

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unidade e amizade dos povos camaiurá e waurá. Os ritos comuns provam o fortalecimento de ligação entre os povos indígenas. Desta maneira o mês da dominação feminina acaba. Esta festa permite às mulheres descansar da rotina diária e participar em atividades muito mais interessantes do que a tecelagem das redes e preparação de comida. Fotos: A. Matusovskiy

A LÍNGUA TE LEVA ATÉ BRASÍLIA Retalhos da experiência de um intérprete. Parte II Por Miguel Mazáev Ser intérprete não significa apenas navegar no mar da língua. Também te faz viajar fisicamente aos lugares às vezes mais exóticos e inesperados. Como podia eu imaginar, por exemplo, que o trabalho com a língua portuguesa seria motivo de uma viagem a Berlim? Na primeira parte das minhas notas já contei a minha breve, mas intensa experiência angolana. Agora vou falar-vos de como este verão – para minha surpresa – peguei o avião e fui ao Brasil, país que nem contava algum dia visitar Brasil: destino inesperado Nunca tinha acreditado que algum dia ia viajar realmente ao Brasil. Essa terra dos antípodas parecia-me tão exótica e longínqua; ouvira dizer que tinha muita insegurança; as distâncias eram quase tão grandes como na Rússia, mas sem os nossos cômodos trens com vagões-leito; finalmente, as passagens até lá custavam caro. Foi isto que respondi há anos ao funcionário da embaixada portuguesa em Moscou (como bom lusitanista eu dirigia-me a Portugal) à sua estranha pergunta de ‘porque não queria ir em vez disso ao Brasil’. Mas o rapaz (que resultou ser brasileiro, claro está), muito experto, tirou da gaveta um jornal com o anúncio de uma oferta pela Aeroflot de voos até o Rio por apenas quinhentos dólares! Mas naquela ocasião não me deixei

convencer pelo propagandista intruso. Desde então passaram-se quinze anos durante os quais até viajei com Paulo Coelho pela Sibéria. E ao despedirmo-nos ele convidoume ao Brasil: “Venha quando quiser, – disse – exceto no Carnaval”. Mas também naquela altura tomei-o mais como um gesto de amabilidade do Mago que como uma ideia real.

Brasília. Praça dos três poderes

Mas quando este verão me telefonaram dizendo que se precisava de um intérprete para ir em missão urgente ao Brasil e pedindo que eu ponderasse tal

sugestão, respondi: “Já ponderei. Vou.” Não só o Rio Ao pensar no Brasil a primeira coisa que passa pela cabeça é o Rio do Janeiro, as praias de Ipanema e Copacabana, os morros do Corcovado e do Pão de Açúcar, além da bossa nova, futebol e carnaval. Como gosto de evitar estereótipos ficava até contente de ir ver outros lugares (seja dito sem prejuízo à Cidade Maravilhosa que ainda algum dia conto visitar). Devo dizer que podia ficar sem ver nem mesmo São Paulo (porque ia de passagem em direção a Brasília), mas isso não mo pude permitir e escapei por algumas horas do aeroporto, peguei um ônibus e fui até a cidade da qual não conhecia senão alguns moradores simpáticos que encontrara em diversas ocasiões antes.

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