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Zumbi + 10 / 2005 - O perfil dos participantes

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Laboratório de Políticas Publicas Governo Federal Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial

Zumbi + 10 / 2005 O perfil dos participantes

Joselina da Silva Sales Augusto dos Santos Rosana Heringer Osmundo Pinho

Programa Políticas da Cor na Educação Brasileira

Serie Ensaios & Pesquisas 6

Todos os direitos reservados. Copyright © LPP/PPCOR, junho de 2006 2

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Índice

I - A mobilização do movimento negro brasileiro........................................................................... 4

II - Participação e posicionamento político .................................................................................. 17

III - Zumbi + 10: Uma aproximação sobre Gênero e Sexualidade ............................................. 28

IV - A educação para os que marcham ....................................................................................... 52

V - Anexos.......................................................................................................................................... 57

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I - A mobilização do movimento negro brasileiro Joselina da Silva1 Mellucci (1996) e Santos (1999) afirmam que o grande diferencial dos novos movimentos sociais é a descentralização, a fluidez e a não institucionalização. Ambos os autores também vêem no protesto e na mobilização - atividades pontuais, portanto - os grandes marcos diferenciais e através dos quais esses movimentos dialogam, não apenas com o Estado, mas sobretudo com a sociedade. Por outro lado, os chamados novos movimentos tem como uma de suas grandes “novidades” o caráter “segmentado” “reticular” e multifacetado (Mellucci, 1996). Constituem-se, por conseguinte, de forma autônoma e diversificada, empregando muito de seu tempo e recursos num constante trabalho de tecer e manter a solidariedade interna. Ainda de acordo com Mellucci (1996), os movimentos que se constituem no interior das sociedades complexas se compõem como uma “rede escondida de grupos” (Hidden networks of groups) com vários locais de encontro e um certo circuito de solidariedade interna que atua como uma “estrutura latente”. Toda esta rede não visível só vem a luz em determinados momentos e depois “submerge novamente na vida cotidiana”. Outra característica destes movimentos é a miscibilidade entre a ação coletiva e a identidade individual. Ambas fazem com que a solidariedade grupal e a coletividade intergrupal sejam mescladas com as questões pessoais do dia a dia, dos membros da rede. A rede está constantemente acionada, embora nem sempre visível para aqueles externos ao meio. Por conseguinte, a mobilização é o momento em que o movimento e suas demandas vem a público de forma a pressionar a sociedade. É através da mobilização que a rede do movimento se solidifica e dá aos membros a idéia real de sua extensão e poder de alcançar, ou não, seus objetivos. Mostra, portanto, a força e os pontos fracos do movimento. A mobilização, segundo Mellucci, se dá em torno de um tema ou demanda específica voltada para o presente, com objetivos definidos e consecução a prazo curto. O movimento negro brasileiro em suas diferentes fases tem como característica principal a mobilização, que tem se destacado através de manifestações na via pública. A literatura sobre movimentos sociais quando se volta a analisar os movimentos negros pontua inúmeras atividades de rua. A Frente Negra Brasileira, dos anos trinta, pode ser invocada como o marco para estas manifestações. O início da década (Setembro de 1931), marca a criação da Frente Negra Brasileira. Reuniões noturnas, inicialmente realizadas a céu aberto, passaram a congregar um número cada vez maior de mulheres e homens negros, na Praça da Sé, em São Paulo. A organização é vista como tendo sido capaz de aglutinar cerca de dez mil afro-descendentes espalhados pelas diversas cidades do país. O centro da capital paulista testemunhou as reuniões que se tornaram o ponto de encontro social e político do grupo. As lideranças alugaram posteriormente, um palacete na Rua da Liberdade 196 (Cuti, 1992). A Frente Negra foi constituída também em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão, Bahia, Sergipe e Espírito Santo. Chegou a congregar cerca de 60 mil associados em seus quadros. A rede se articulou durante seis anos e teve suas atividades encerradas pela ditadura varguista. Outro marcante momento de mobilização, constante da historiografia do movimento negro brasileiro, foi a fundação do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR) em São Paulo, em 18 de junho de 1978. Em meio aos anos duros da ditadura militar, afro-brasileiros provenientes das mais distantes cidades do país, congregaram-se nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo para protestar entre outros fatos, contra o assassinato, pela polícia, de um operário negro brasileiro (Cardoso, 2002). 1

Doutora em Ciências Sociais (PPCIS/ UERJ). Professora Substituta de Sociologia (UFRJ)

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Dez anos mais tarde, no ano de 1988, onde se completaram os cem anos de assinatura da Lei Áurea, diversas atividades de rua, incluindo várias marchas foram realizadas, provocando um fenômeno diversificado na sociedade brasileira, no que se refere à temática das relações raciais, como afirma Hasenbalg: “Na esteira da celebração do Centenário da Abolição em 1988, o negro e a questão racial atraíram as atenções do país. Contrariamente ao que acontece nos períodos “normais” da vida nacional, quando tais temas permanecem relegados ao esquecimento, o Centenário trouxe à tona esse lado pouco visível e menos falado do Brasil. O ano de 1988 foi de alta densidade simbólica e como tal, momento favorável para observar a trama das relações raciais” (Contins, 1988: 12) Destacaríamos aqui, pela repercussão alcançada na mídia e na historiografia do movimento negro no país, as marchas organizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, em virtude daquele ano de efemérides contra e a favor da celebração do fim da escravatura. O Jornal do Brasil do dia seguinte à marcha de São Paulo2 ressaltava as tensões ocorridas no seu percurso entre ativistas do MNU e representantes do governo do estado através da Secretaria de Relações Sociais. Estava em pauta quais atores teriam proeminência naquela atividade. A representação simbólica residia na discussão que pretendia determinar se a marcha seria liderada pela faixa “proteste”, elaborada pelo movimento negro ou se pelo Secretário de Relações Sociais, à época o Sr. Osvaldo Ribeiro. A esse respeito, assim se expressa Schwarcz. “...Mais do que um ato histórico, estava em questão o monopólio da palavra, da palavra política, que escorregava em seus inúmeros significados por entre as mãos dos participantes: ... Para o PT e o governo do estado estava em pauta o uso de um espaço ampliado onde o problema negro era antes pretexto para disputas localizadas e imediatas. Assim, quanto mais as disputas mais internas explicavam-se, mais o tema se afastava de seus contornos próprios ganhando força em meio ao jogo da militância política e da lógica eleitoral” (Contins, 1988: 35) Passando pelas ruas centrais da cidade e terminando com um ato público na Praça da Sé, acabou vencedora a proposta dos ativistas e a faixa foi utilizada como um abre alas. A marcha do Rio de Janeiro, por sua vez, foi realizada no dia 11 de maio e não no treze, em virtude do segundo dia ter sido decretado como feriado nacional. Inicialmente foi programada para fazer um trajeto que principiaria na Igreja da Candelária e terminaria no monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares. Ambos estão situados na Avenida Presidente Vargas uma das mais importantes artérias da cidade. Entre os pontos determinados para o início e o fim da atividade está localizado o Panteão do patrono do Exército Brasileiro, Duque de Caxias. Esta foi a razão declarada pelo Comando Militar do Leste para impedir o prosseguimento da passeata, por entender que haveria um enchovalhamento público da figura de militar, por parte dos ativistas. Embora houvesse sido autorizada na véspera pelo Secretário de Justiça, a manifestação foi proibida no dia de sua realização, pelo Exército Brasileiro. O impedimento à manutenção do percurso inicialmente previsto, não limitou-se apenas à um decisão burocrática, através de um ofício emitido pela autoridade em questão (Barreto, 2003). Dezenas de soldados foram postos nas ruas. Uns perfilados em torno da estátua de 2

Dia 14 de maio e 1988, pág.5

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Duque de Caxias além de outros tantos atravessados na via pública demonstrando claramente a possibilidade de um confronto caso os manifestantes tentassem ultrapassar aquela barreira humana3. A mobilização intitulada “Marcha conta a farsa da Abolição. 1888 – 1988. Nada mudou, vamos mudar” se transformaria, a partir daí, num ponto referencial ao levar para as ruas todo o aparato do exército brasileiro no afã de interromper centenas de ativistas, que caminhavam reivindicando direitos e denunciando o racismo. Os discursos arrematavam os longos meses de preparação logística para a sua realização. Não menos definidoras foram as inúmeras atividades incluindo diferentes marchas utilizadas pelo movimento negro para marcar a passagem dos trezentos anos de morte do líder Zumbi dos Palmares, em 1995. Denominada Marcha Zumbi dos Palmares – contra o racismo pela cidadania e pela vida, a atividade realizada em Brasília no dia 20 de novembro daquele ano contou com cerca de trinta mil ativistas provenientes das cinco regiões do país, de acordo com a literatura produzida pelos movimentos negros. Uma das grandes referências foi a solenidade que marcou o encontro dos integrantes da executiva nacional da marcha, com o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Na oportunidade foi entregue ao mandatário um documento assinado pela executiva que era composta pelas seguintes organizações: Agentes de Pastoral Negros (APN’s), Cenarab, Central de Movimentos populares, CGT, Comunidades negras Rurais, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Fórum Nacional de Entidades Negras, Fórum de Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado (MNU), Movimento Pelas Reparações (MPR), CONUN, União de Negros pela Igualdade (UNEGRO) e Grucon4. O referido documento dividia-se em oito partes com seus respectivos itens e, além de um diagnóstico geral, fazia outros mais pormenorizados sobre os seguintes itens: racismo e escola, divisão racial do trabalho, saúde, violência racial e relações exteriores. A parte final apresentava um programa de superação do racismo e da desigualdade racial para as áreas da informação, mercado de trabalho, educação, cultura e comunicação, saúde, violência, religião e terra. Os eventos e comemorações relativas aos trezentos anos de morte de Zumbi dos Palmares, em 1995 foram desenvolvidos em grande parte por grupos e ONGs coordenados por afrodescendentes que atuavam especificamente neste campo em diferentes cidades. A marcha em Brasília, foi das atividades mais simbólicas, pela abrangência dos temas envolvidos em sua pauta e pela representatividade política que pode ser analisada a partir do encontro com o presidente da República. Passados dez anos, nova articulação foi feita voltada para aquela data, permitindo o surgimento da Marcha Zumbi + 10 em Brasília, em novembro de 2005 (uma no dia 16 e outra no dia 22). A primeira tendo sido caracterizada como aquela em que estaria a verdadeira expressão dos ativistas. A segunda onde o governo, sindicatos, partidos políticos e aliados diversos estariam presentes. Pesquisando a mobilização do movimento negro Esta pesquisa surge a partir de nossa constatação de que apesar de uma longa trajetória organizativa – por parte do movimento social negro -, que vem utilizando a rua como veículo de divulgação de suas demandas, ainda pouco se conhece sobre seus participantes. Parte expressiva da literatura acadêmica e ativista sobre aquele movimento tem focalizado as lideranças. O contingente geral dos participantes tem sido pouco estudado, até o momento(Hanchard, 1988; Nascimento, 2003; Contins, 2005). Nos 3

Jornal do Brasil, Caderno Cidade, 12 de maio, 1988.

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Fonte: www.palmares.gov.br/html/materiasi/marcha

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perguntávamos: Como se dá esta mobilização, nos termos colocados por Santos e Melluci? Quem seriam seus integrantes? Como se identificam quanto à cor ou opção sexual? Qual seria o seu âmbito de articulação política? Que contornos delineariam os participantes de uma marcha que se inicia como um evento unificado e termina por transformar-se numa atividade com duas datas de realização? O que diferenciaria cada uma destas marchas? Que aspectos políticos, sociais e conceituais teriam contribuído para a realização em duas datas diferentes? Seu público seria distinto? Objetivando responder algumas destas perguntas, elaboramos esta pesquisa. Nossa preocupação central foi de procurar caracterizar o perfil e investigar a percepção da desigualdade racial, e do racismo entre os participantes das marchas Zumbi + 10. Interessava-nos captar algumas das visões sobre a temática das relações raciais no país, expressa pelos militantes. Queríamos poder observar mais de perto aquele contingente que se mobiliza para a capital do país, com a intenção de participar de uma marcha reivindicatória e propositiva, tornada possível diante dos dez anos de realização de uma outra marcha nos mesmos moldes, como rapidamente referimos aqui. Nosso intento é contribuir com a atualização e ampliação do conhecimento sobre alguns aspectos dos ativistas do movimento social negro. Por outro lado, desejávamos conhecer melhor o perfil dos ativistas, no que diz respeito à cor/raça, instrução, sexo, atuação profissional, etc. Baseados em pesquisa amostral, dos participantes da Marcha Zumbi + 10, buscamos estimar tendências mais gerais que informam as práticas e concepções do ativismo anti-racista brasileiro. Neste sentido, dividimos nossa enquete em três blocos principais: I - O perfil dos entrevistados II - Relações raciais III - Relações conjugais e Sexualidade. Foram aplicados 569 questionários, sendo 270 no dia 16 e 299 no dia 22. Para sua execução foram recrutados 20 estudantes universitários (15 homens e 15 mulheres) da Universidade de Brasília (UNB) que foram treinados pelo doutorando de Antropologia Social Sales Augusto dos Santos, com vasta experiência em pesquisas amostrais. Cada entrevistador foi indicado a realizar em média 15 entrevistas em cada uma das marchas, com cerca de 15’ de duração. As entrevistas foram aleatórias com os participantes da marcha, utilizando-se técnicas próprias para seleção dos entrevistados dentro do universo de participantes. Aplicamos os questionários a 126 homens e 143 mulheres, no dia 16 e ouvimos 157 homens e 142 mulheres, no dia 22. A coordenação geral ficou a cargo de Joselina da Silva e a de campo por Sales Augusto dos Santos. Foram contratados dois digitadores e um programador para o tratamento dos dados. O relatório aqui apresentado procurou seguir a ordem dos três blocos divisórios da enquête e finaliza com uma analise onde procuramos cruzar diferentes dados que tinham a educação como temática central. A análise dos dados ficou a cargo dos pesquisadores Rosana Heringer, Osmundo Pinho e Joselina da Silva, cada um responsável por um dos temas abordados. Esta pesquisa foi tornada possível graças ao suporte financeiro dado pelo Programa Políticas da Cor (LPP/UERJ). I - O perfil dos que se mobilizam Um importante dado que observamos foi a concentração de um público mais jovem, presente nas duas marchas. Dentre os nossos entrevistados, 70,4 % no dia 16 e no segundo dia 53, 65 % estavam na faixa inferior aos 35 anos. O que indica que a maioria esmagadora de público participante no dia 16 foi de jovens ativistas. Dia 16

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Idade do entrevistado 46,7%

23,7% 13,0% 8,1%

5,2%

2,6%

Entre 15 e entre 26 e Entre 36 e Entre 46 e Entre 56 e Acima de 25 anos 35 anos 45 anos 55 anos 60 anos 61 anos

0,7% ns/nr

Dia 22

Idade dos entrevistados 37,4%

20,7% 16,1%

15,3%

4,6%

5,0% 0,7%

Entre Entre Acima Entre entre 26 Entre 15 e 25 e 35 36 e 45 46 e 55 56 e 60 de 61 anos anos anos anos anos anos

ns/nr

Uma das primeiras interrogações de nossa enquete perguntava sobre o país de origem do entrevistado. No dia 16 quatro pessoas declaram-se de origem estrangeira: Uma de Cabo Verde, uma de Moçambique, uma de Angola e outra do Japão. No dia 22, apenas uma pessoa declarou-se não brasileira, sendo originária de Moçambique. No que refere aos brasileiros, entre os estados que se fizeram mais representados tivemos, no dia 16, a liderança do Distrito Federal com 21,1%, seguido de São Paulo e Goiás com 15,9% cada um. Em terceiro lugar tivemos a Bahia com 14,4% dos presentes, num total de 21 estados contabilizados.

10

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Gráfico Dia 16

Estado de origem ns/nr

0,7%

Ceará

0,7%

Pará

0,7%

Santa Catarina

0,4%

Rondonia

0,4%

Mato Grosso

0,4%

Tocantins Paraná Alagoas Piauí

0,7% 1,5% 0,4% 1,5%

Paracatu

0,4%

Pernambuco

0,4% 3,7%

Maranhão

21,1%

Distrito Federal 15,9%

São Paulo 5,9%

Minas Gerais

14,4%

Bahia Goias Sergipe Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul Rio Grande do Sul

15,9% 0,4% 5,9% 3,7% 4,8%

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Dia 22 Gráfico 3

Estado de origem ns/nr Paraíba Acre Pará Rondonia Paraná Piauí Maranhão São Paulo Bahia Rio de Janeiro Rio Grande do Sul

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No quesito referente à cor fizemos dois tipos de perguntas: Uma aberta, em que deixávamos a critério do respondente a especificação e uma segunda que seguia a classificação do IBGE, na seguinte ordem: preto, pardo, branco, amarela e indígena. Ao mesmo tempo, chama atenção a variação das respostas dadas no dia 16, para a pergunta aberta: preto, pardo, branco, amarela, indígena, negro, morena (o), marrom, rosa, cor de canela, mulato, negróide, caboclo, quase preto, afro-brasileiro e castanho. Tivemos, então, dezesseis categorias diferentes de auto classificação de cor, num total de 270 pessoas entrevistadas, como demonstra a tabela a seguir. Ao lado do expressivo percentual de 58,9% para a categoria negro, apenas uma pessoa declarou-se afro-brasileiro. Cor do entrevistado(a) Frequency Percent preto

45

16,7

pardo

15

5,6

branco

17

6,3

amarela

2

,7

indígena

1

,4

159

58,9

10

3,7

Marrom

1

,4

Rosa

1

,4

Cor de canela

1

,4

Mulato

2

,7

Negróide

1

,4

Caboclo

1

,4

Quase preto

1

,4

Afro-brasileiro

1

,4

Castanho

2

,7

Multicolor

1

,4

ns/nr

9

3,3

Total

270

100,0

Negro Morena (o)

a Ação Afro. 16-11-2005 Em relação à segunda marcha, a pergunta aberta, sobre a cor foi respondida com um número menor de variantes. Encontramos preto, pardo, branco, amarela, negro, morena (o), mulato, afro-brasileiro, clara, brasileiro multi-étnico, misturado e alvo. Perfazendo assim, um total de treze auto-definições. Destes, 49.8% declararam-se negros, com uma pequena

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

variação entre 10% a 13% para as categorias preto, pardo, branco e morena. Neste mesmo dia (22), quando perguntados através das categorias do IBGE, 63 % dos entrevistados responderam preto, contra 17% que se declararam pardos, 48,2% disseram-se pretos, e 22,7% incluíram-se entre os pardos. Cor do entrevistadoa Frequencia

Percentual

preto

34

11,4

pardo

32

10,7

branco

39

13,0

amarela

2

,7

149

49,8

32

10,7

Mulato

1

,3

Afro-brasileiro

1

,3

clara

1

,3

Brasileiro multi-etnico

1

,3

Misturado

2

,7

Alvo

1

,3

ns/nr

4

1,3

Total

299

100,0

Negro Morena (o)

a. Acão Afro - 22/11/2005

A pergunta referente à ocupação profissional, teve 15 profissões citadas, além daqueles que se declararam estudantes, autônomos, do lar e os que se encontravam desempregados, quando da aplicação do questionário, no dia 16. O maior percentual dos respondentes (16,7%) declarou ser estudante universitário. Seguidos muito de perto por aqueles que se declaram desempregados (14,8%) ou autônomos (14,8%). Interessante observar que pelo local de realização da marcha (no Distrito Federal) apenas 11,9% dos respondentes haja se declarado funcionário(a) público(a). Dia 16 Ocupação profissional(a) Frequency Percent 40

14,8

Do lar

8

3,0

Operário(a)

3

1,1

Metalúrgico(a)

1

,4

32

11,9

2

,7

Estou desempregado no momento

Funcionário(a) Público(a) Empresário(a)

1

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

12

4,4

Professor(a) ensino médio(antigo segundo grau)

6

2,2

Professor(a) Universitário(a)

8

3,0

14

5,2

Comerciário(a)

1

,4

Militar

1

,4

Empregado(a) doméstico(a)

2

,7

aposentado(a)

6

2,2

Trabalhador(a) rural

5

1,9

38

14,1

3

1,1

Estudante de ensino médio(antigo segundo grau)

16

5,9

Estudante universitário

45

16,7

Outra

27

10,0

Total

270

100,0

Professor(a) ensino fundamental(antigo primeiro grau)

Profissional liberal

Autônomo Estudante de ensino fundamental(antigo primeiro grau)

a Ação Afro. 16-11-2005

Em oposição ao pequeno número de funcionários (as) públicos as) demonstrados pelos dados na marcha anterior, a segunda (dia 22) foi caracterizada - pela militância do movimento - como aquela onde estavam os representantes governamentais e seus aliados. Seria - no dizer dos ativistas – “a marcha da SEPPIR” (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Nesta, tivemos um percentual de 24,1 % dos entrevistados definido-se como funcionários públicos. O segundo percentual, mais expressivo na amostra deste dia, foi dos que se declararam desempregados, cobrindo um total de 12,0 %. Logo a seguir com 10,4% encontramos os autônomos. Ocupação profissional(a) Frequência Percentual 36

12,0

do lar

9

3,0

Operário(a)

8

2,7

Metalúrgico(a)

5

1,7

72

24,1

6

2,0

Estou desempregado no momento

Funcionário(a) Público(a) Empresário(a)

2

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Bancário(a)

7

2,3

Professor(a) ensino fundamental(antigo primeiro grau)

9

3,0

Professor(a) ensino médio(antigo segundo grau)

8

2,7

Professor(a) Universitário(a)

5

1,7

13

4,3

Comerciário(a)

7

2,3

aposentado(a)

14

4,7

2

,7

31

10,4

6

2,0

Estudante de ensino médio(antigo segundo grau)

10

3,3

Estudante universitário

23

7,7

Outra

25

8,4

outro

3

1,0

Total

299

100,0

Profissional liberal

Trabalhador(a) rural Autônomo Estudante de ensino fundamental(antigo primeiro grau)

a Acão Afro - 22/11/2005 No que se refere à escolaridade, foram apresentadas aos respondentes um elenco de treze categorias distintas que iam de analfabeto a doutorado. Em ambas as marchas, a faixa de escolaridade se manteve em iguais níveis, com maior incidência do ensino médio completo. Outro dado a ser observado é que dentre os que informaram ter o grau de mestre, houve um percentual de 4% dia 16 contra menos de 1% na marcha seguinte. Apresentamos aqui, os níveis de escolaridade que tiveram os maiores percentuais de incidência nas duas datas. Dia 16 Ensino médio incompleto(antigo segundo grau) 28 10,4 Ensino médio completo

54 20,0

Terceiro grau incompleto

57 21,1

Terceiro grau completo

44 16,3

Mestre

12

3

4,4

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Dia 22 Ensino médio incompleto(antigo segundo grau) 34 11,4 Ensino médio completo

99 33,1

Terceiro grau incompleto

52 17,4

Terceiro grau completo

38 12,7 2

Mestre

,7

A faixa de renda apresentada pelo respondentes, se apresentou compatível com a escolaridade declarada, pela maioria. Neste sentido, tivemos, dia 16, que 21,1% dos entrevistados percebem entre um e dois salário mínimos, enquanto 20,0% ganham menos de um salário mínimo mensal. Na segunda marcha, o percentual dos que recebem entre três e quatro salários mínimos foi de 24,1%. A pergunta apresentava uma variação que ía desde a possibilidade de informar-se como sem renda até um patamar acima de vinte salários mínimos. Dia 16 Menos de um salário mínimo

54

20,0

Um salário mínimo

26

9,6

Entre um e dois salário mínimos

57

21,1

Entre três e quatro salário mínimos

38

14,1

Entre cinco e seis salários mínimos 24

8,9

Dia 22 Menos de um salário mínimo

34

11,4

Um salário mínimo

24

8,0

Entre um e dois salário mínimos

52

17,4

Entre três e quatro salário mínimos

72

24,1

Entre cinco e seis salários mínimos

34

11,4

A respeito das formas preferidas de lazer dos entrevistados, apresentamos as seguintes opções: ficar em casa, ler um livro, ir ao cinema, viajar, navegar na internet, ver televisão, beber com os amigos, ir ao estádio de futebol, jogar bola, bater papo com os (as) amigos(as) e sem preferência. No dia 16, a opção referente a preferir ler um livro foi mencionada por 44,8% dos respondentes. Nesta mesma marcha, 44,4% dos entrevistados assinalaram viajar como alternativa selecionada. Apenas 3,0% citaram a ida ao estádio de futebol. Na marcha da semana seguinte, 39,1% dos entrevistados prefere ler um livro, ao lado de 45,2% dos que tem na viagem sua prioridade. Ir ao estádio de futebol foi escolhido por apenas 3,3% das pessoas que interrogamos, no segundo evento.

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Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Bibliografia: BARRETO, Raquel de Andrade. A “Marcha contra a Abolição” pelas lentes de Januário Garcia. Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do Especialista em Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais. Orientador Dr. Milton Guran. UCAM. Rio de Janeiro, 2003. CARDOSO, Marcos Antonio. O Movimento Negro em Belo Horizonte: 1978 – 1998. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2002. CONTINS, Márcia. Visões da Abolição ( Quase Catálogo 6). Rio de Janeiro. CIEC/ ECO/UFRJ, 1997. 1988 CONTINS, Márcia. Lideranças Negras. Rio de Janeiro: Acroplano, 2005. CUTI; Leite, José Correia. ....E disse o Velho Militante. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992. HANCHARD, Michael George.Orpheus and Power. The Movimento Negro of Rio de Janeiro and São Paulo, Brasil 1945-1988. Princeton, New Jersey. Prinception University Press. 1988 MELLUCCI Alberto. Challenging codes: Collective Action in The Information Age. Cambridge University Press. 1996. MOURA, Clóvis. História do Negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988. NASCIMENTO, Eliza Larkin O Sortilégio da Cor: identidade raça e gênero no Brasil. São Paulo: Summus, 2003. SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice: O social e o político na pósmodernidade. 5.edição. Editora Cortez. 1999 Outras fontes: Jornal do Brasil, Caderno Cidade, 12 de maio, 1988. www.palmares.gov.br/html/materiasi/marcha

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Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

II- Participação e posicionamento político Rosana Heringer5 O presente texto apresenta uma análise comparativa da participação política e do posicionamento sobre diferentes temas associados ao debate sobre relações raciais expressos pelos participantes das duas marchas “Zumbi + 10” realizadas em novembro de 2005 em Brasília. Como já foi exposto anteriormente, a primeira marcha foi realizada no dia 16/11/2005 e convocada por um conjunto de organizações do movimento negro brasileiro, tendo como principal articulador o jornal Irohin. A segunda marcha foi realizada no dia 22/11/2005 e teve como principais articuladores setores do movimento negro ligados ao Partidos dos Trabalhadores (PT) e, portanto, mais próximo dos setores do governo que atuam na implantação de políticas de promoção da igualdade racial. Tendo esta diferenciação como pano de fundo, buscaremos observar se, a partir do survey realizado com participantes das duas marchas, podemos inferir diferenças tanto no perfil da participação política quanto do posicionamento político dos integrantes das duas manifestações. Com o conjunto desta análise, esperamos obter um quadro mais abrangente da percepção política dos militantes do movimento negro brasileiro contemporâneo.

Participação política Entre os participantes das duas marchas, mais de 50% responderam positivamente à pergunta: “Quanto à participação política, você é membro ou milita em alguma entidade da sociedade civil organizada?” (54,4% no dia 16/11 e 55,9% no dia 22/11) e pouco mais de 40% nos dois casos afirmaram não ter participação política direta. Ao serem perguntados sobre o tipo de organização da qual fazem parte ou militam, as principais respostas foram:

Mov. Negro ONGs Partido político Mov. Mulheres Mov. Homossexual Mov. mulheres negras Mov. Estudantil

Marcha 16/11

Marcha 22/11

26,3 11,1 1,9 3,7 4,0 7,0 3,0

21,4 3,3 9,0 1,0 7,0 3,0 1,7

Para além da militância predominante no movimento negro, esta distribuição revela a especificidade da maior presença de integrantes de ONGs na marcha do dia 16/11, em contrapartida a maior concentração de integrantes de partidos políticos na marcha do dia 22/11. Nos dos dias também surgiram declarações de participação em outros tipos de organização além das mencionadas acima, sendo predominante no dia 16/11 a presença de representantes de organizações culturais (hip hop, pagode, reggae etc.) e no dia 22/11, além destas, também a presença de organizações do movimento sindical. No que diz respeito à religião, as afiliações mais citadas foram a igreja católica (31,9% no dia 16/11 e 39,8% no dia 22/11) e o candomblé (13,3% e 7,7%, respectivamente). Destaca-se a presença dos que afirmaram que acreditam em deus mas não seguem uma religião (13,7% e 6,7%) e dos que não professam nenhuma religião (15,6% e 15,1%,

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Socióloga, Coordenadora de Programas da ActionAid Brasil e colaboradora do Instituto Ação Afro. Ex-diretora do Centro de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Candido Mendes (CEAB/UCAM). E-mail: [email protected] .

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respectivamente). Numa época de grande expansão das religiões evangélicas e pentecostais, é interessante observar o fato de que não há um número expressivo de seguidores destas religiões entre os participantes das duas marchas. Perguntados sobre “Qual é o seu partido político de sua preferência?”, os participantes das duas marchas manifestaram preferências semelhantes, porém com intensidade distinta. Na marcha do dia 16 predominaram aqueles que não têm preferência por nenhum partido e menos de um terço declarou ter preferência pelo PT. No caso do dia 22 foi menor o número dos que afirmaram não ter nenhum partido e chegou a 40% o número dos que têm preferência pelo PT. Marcha 16/11 Nenhum PT PSDB PMDB PSOL

Marcha 22/11

47,8 28,9 4,8 4,4 2,2

37,1 40,8 2,0 2,0 3,7

Também foi perguntado aos participantes quais eram os seus motivos para ir à marcha. Em ambas as datas, predominaram as declarações motivadas por “lutar contra o racismo” (76,7% no dia 16/11 e 66,2% no dia 22/11) e lutar por políticas públicas para a população negra (59,3% e 51,2% respectivamente). Também ouve um grande número de participantes que afirmaram ter ido à marcha para “apoiar a causa dos negros” (48,9% e 40,1%; a pergunta permitia múltiplas respostas). Entre os participantes das duas marchas, poucos haviam participado da marcha que celebrou os 300 anos da morte de Zumbi em 1995: apenas 8,7% dos entrevistados no dia 16/11 e 11,7% dos entrevistados no dia 22/11. É compreensível esta baixa participação em 1995 se notamos que a maioria dos participantes das duas marchas está numa faixa etária bastante jovem (até 25 anos). Também perguntamos aos participantes de cada uma das marchas se haviam participado da marcha na semana anterior (no caso dos participantes do dia 22/11) ou se planejavam participar da marcha na semana seguinte (no caso dos participantes no dia 16/11). No que se refere a estes últimos, 26,7% informaram que pretendiam ir também a marcha do dia 22/11, porém mais da metade (51,5%) informaram que não pretendiam ir e 21,5% não sabiam ou não responderam a questão. No caso dos participantes do dia 22/11, apenas 8,7% informaram ter participado também da marcha no dia 16/11, enquanto a grande maioria (83,9%) informou não ter estado presente na semana anterior e 7,4% não sabiam ou não responderam. Percepção do racismo Os participantes das duas marchas foram unânimes em afirmar a existência do racismo no Brasil. Responderam afirmativamente 98,9% dos entrevistados no dia 16/11 e 96,0% dos entrevistados no dia 22/11. Buscamos investigar também como o racismo se manifestava para os participantes no plano individual. As respostas revelaram que a grande maioria dos entrevistados nas duas datas já sofreram algum tipo de discriminação racial. Já se sentiu discriminado racialmente? Sim Não Não lembra

Marcha 16/11 74,4 20,7 3,7

7

Marcha 22/11 59,5 35,8 2,0

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Procuramos investigar em que circunstâncias esta discriminação ocorreu, observando como responderam à questão: “Em que situação você se sentiu discriminado(a)?” (Múltipla escolha - até três respostas). Marcha 16/11 “Em que situação você se sentiu discriminado(a)?” Quando perdeu uma vaga para 21,9 emprego Quando foi impedido(a) de ter acesso a 11,1 um lugar público Quando foi impedido(a) de ter acesso a 14,1 um lugar privado Quando não foi aceito(a) pela família 10,4 do(a) namorado(a) Ao tentar alugar um imóvel 3,7 Ao tentar comprar um imóvel 3,3 Em estabelecimentos comerciais 20,4 Em bancos públicos 6,7 Em bancos privados 7,4 Em piadas, comentários e brincadeiras 24,4 de amigos Em piadas, comentários e brincadeiras 17,8 de desconhecidos Em órgãos públicos, quando foi procurar 11,5 informações e/ou demandar serviços públicos Na demora de atendimento em bares 15,9 e/ou restaurantes

Marcha 22/11 18,4 7,7 4,7 12,0 3,0 2,7 15,4 4,0 6,0 17,4 16,1 7,4

7,7

A tabela anterior demonstra uma variedade de situações em que os entrevistados declararam ter sido vítimas de discriminação. Praticamente todas estão associadas a situações comuns do cotidiano, sendo as mais freqüentes: “em piadas, comentários e brincadeiras de amigos” (em 16/11) e “em piadas, comentários e brincadeiras de desconhecidos” (em 22/11). Também as situações de discriminação em estabelecimentos comerciais, na disputa por emprego e na dificuldade de aceitação pela família do(a) namorado(a) foram apontadas com freqüência. Investigamos também como foi a reação do(a) entrevistado(a) ao sofrer discriminação. As reações dos participantes das duas marchas foram bastante semelhantes. Cerca de um quarto dos entrevistados em ambas as marchas que declararam ter sofrido discriminação afirmaram não ter reagido nem feito nada. Em seguida observa-se o grupo dos que afirmaram ter reagido com agressões verbais, seguidos pelos que afirmaram ter ficado depressivos e por aqueles que ameaçaram processar o discriminador, mas não o fizeram. Apenas 4,1% dos que sofreram discriminação e responderam à pesquisa no dia 16/11 afirmaram ter processado o discriminador. No dia 22/11 este índice de resposta foi de apenas 2,7%. Perguntados sobre a freqüência com que ocorrem estes tipos de discriminação, os entrevistados do dia 16/aa afirmaram na sua maioria que ocorre sempre e os do dia 22/11 afirmaram majoritariamente que as discriminações ocorrem de vez em quando.

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Como você reagiu quando se sentiu ou foi discriminado(a)? (Múltipla escolha – até três respostas). Como reagiu? Não reagiu, não fez nada Denunciou à polícia Buscou apoio de amigos(as) Reagiu com agressões verbais Reagiu com agressões físicas Ficou depressivo Não soube o que fazer. Não soube a quem recorrer para denunciar a discriminação sofrida. Ameaçou processar o(a) discriminador(a), mas não processou. Processou o(a) discriminador(a) Não lembra Outro

Marcha 16/11 24,1 6,3 11,5 17,4 3,7 13,0 10,0 11,9

Marcha 22/11 25,8 5,4 7,7 16,7 1,3 12,4 8,4 6,0

12,6

11,4

4,1 1,1 7,0

2,7 1,0 3,3

Quanto à discriminação racial em sua vida, você diria que ela acontece: Freqüência:

Marcha 16/11

Marcha 22/11

Sempre

28,1

15,1

De vez em quando Raramente

23,0 8,9

17,7 13,0

Perguntados sobre quais são os fatores responsáveis pelo fato de que a população negra vive em piores condições do que a população branca, os participantes das duas marchas tiveram posicionamentos semelhantes: Fatores: O preconceito e a discriminação racial contra os negros Os negros não aproveitam as oportunidades que lhes são oferecidas Falta de políticas públicas governamentais A falta de escolaridade O racismo na escola faz com que os negros abandonem a escola Os negros não se dedicam ao estudo O governo federal O governo estadual O governo municipal

Marcha 16/11

Marcha 22/11

68,9

61,9

10,0

16,4

64,1

56,9

25,6

34,1

42,6

29,1

4,4 13,7 2,2 2,6

8,0 15,7 3,3 7,0

Os participantes das duas marchas destacaram como principais fatores a existência do preconceito e da discriminação racial contra os negros e, em segundo lugar, a falta de políticas públicas governamentais. Em terceiro e quarto lugares predominaram fatores associados à educação, sendo que no dia 16/11 os participantes destacaram o racismo na 9

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

escola como fator de exclusão dos negros e no dia 22/11 predominou a falta de escolaridade dos negros como fator.

Na sua opinião, quais são hoje os principais problemas sofridos pela população negra no Brasil? (múltipla escolha – até três respostas) Principais problemas sofridos pela população negra no Brasil

Marcha 22/11

Marcha 16/11

Discriminação racial no trabalho Discriminação e preconceito racial de um modo geral Dificuldade de conseguir emprego Pobreza e/ou dificuldades econômicas Restrições nos espaços públicos Restrições nos espaços privados Discriminação racial na escola Os negros, em geral, são vistos como marginais e bandidos Dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde Dificuldades de ingressar na política Discriminação por parte da força polcial Dificuldades de acesso à educação

36,3

37,5

64,8

57,9

29,6 32,6 3,3 3,3 17,0

37,8 32,8 5,4 5,0 12,7

33,0

27,4

8,5

5,7

3,7 15,2 14,4

5,4 12,0 12,0

Perguntados sobre quais são os principais problemas sofridos pela população negra no Brasil hoje, os entrevistados participantes das duas marchas tiveram posicionamentos semelhantes. Os dois grupos apontaram “a discriminação e o preconceito racial de um modo geral” como o principal problema a ser enfrentado, seguido de outros que, de fato, são expressões específicas desta discriminação: discriminação no trabalho e dificuldade para conseguir emprego. Também foi apontado por cerca de um terço dos entrevistados nas duas marchas a questão da pobreza e/ou dificuldades econômicas como um dos principais problemas, além de uma percepção negativa dos negros pela sociedade, vistos com freqüência como marginais e bandidos. Observamos que as interpretações sobre os principais problemas vivenciados pela população negra no Brasil abrangem as principais considerações políticas que as organizações do movimento negro têm tradicionalmente considerado: a combinação da discriminação e preconceitos com a expressão das desigualdades raciais persistentes, principalmente no campo econômico. Estas percepções vão informar o posicionamento dos entrevistados sobre as políticas de promoção da igualdade racial. Posicionamento sobre políticas de promoção da igualdade racial Nesta seção vamos analisar as principais respostas dos entrevistados sobre algumas das políticas de promoção da igualdade racial em curso ou em debate na sociedade brasileira. Concorda com a reserva de vagas para negros? Na universidade Concorda totalmente Concorda em parte 10

Marcha 16/11 Marcha 22/11 65,6 18,5

49,5 18,1

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Discorda totalmente Discorda em parte No serviço público Concorda totalmente Concorda em parte Discorda totalmente Discorda em parte

Concorda com a reserva de vagas para estudantes de escola pública nas universidades? Concorda totalmente Concorda em parte Discorda totalmente Discorda em parte

9,3 5,6

19,4 6,4

58,5 18,9 16,3 3,7

47,8 15,1 27,1 4,3

Marcha 16/11 Marcha 22/11 63,3 20,4 10,0 3,7

54,5 19,1 16,4 4,3

A maioria dos entrevistados nas duas marchas declarou-se totalmente favorável à reserva de vagas para negros em universidades e no serviço público. O percentual de concordância em relação às vagas na universidade é ligeiramente do que em relação às vagas no serviço público, talvez por tratar-se de uma medida mais amplamente difundida e que vem tendo maioria divulgação na sociedade. Percentuais semelhantes foram observados para a concordância com a pergunta sobre reserva de vagas para estudantes de escola pública nas universidades. Neste debate sobre reserva de vagas para negros, embora haja uma percepção recorrente de que o conjunto do movimento negro apóia estas medidas, chamam atenção os percentuais expressivos de participantes das duas marchas que concordam em parte ou mesmo discordam totalmente destas medidas. Neste último caso, os percentuais são de 9,3% (em 16/11) e 19,4% (em 22/11) para a reserva de vagas nas universidades e 16,3% (em 16/11) e 27,1% (em 22/11) para as vagas no serviço público.

O governo federal tem se preocupado em combater as desigualdades raciais entre negros e brancos no Brasil? Concorda totalmente Concorda em parte Discorda totalmente Discorda em parte

Marcha 16/11 14,4 32,6 29,6 19,6

Marcha 22/11 20,4 35,5 30,8 8,0

Fizemos três perguntas destinadas a conhecer um pouco do posicionamento dos participantes das duas marchas sobre as ações do governo federal na promoção da igualdade racial. Como mostra a tabela acima, 32,6% dos participantes da marcha no dia 16/11 e 35,5% dos participantes no dia 22/11 concordam parcialmente que o governo federal tem se preocupado em combater as desigualdades raciais. Um percentual quase equivalente nas duas marchas declarou discordar totalmente desta afirmação. Ações do governo federal para diminuir a desigualdade racial no mercado de trabalho Criar mais empregos dando oportunidades a todos(a)

Marcha 16/11 64,4

Marcha 22/11 65,6

Proporcionar cursos de capacitação profissional para jovens negros(a)

44,4

39,8

11

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Estabelecer cotas para inclusão dos negros nos serviços públicos. Proporcionar e/ou realizar cursos de capacitação para os negros na área de empreendedorismo. Facilitar o acesso, bem como o empréstimo de créditos, com juros subsidiados, aos empresários negros. Proporcionar incentivos fiscais, como para empresas que empregam. prioritariamente negros.

4,0 21,5

28,8 28,1

26,3

23,4

29,6

25,1

Investigamos o grau de conhecimento sobre possíveis ações que estão sendo ou deveriam ser adotadas pelo governo federal para diminuir a desigualdade racial no mercado de trabalho e no acesso à universidade. No primeiro caso, predominou entre os entrevistados nas duas marchas a afirmação de que o governo deveria “criar mais empregos dando oportunidade a todos(as)”, optando-se, portanto, por uma solução universalista, que beneficie o conjunto da população e, por conseqüência, os negros. Em segundo lugar, os entrevistados das duas marchas optaram pela recomendação de “proporcionar cursos de capacitação profissional para jovens negros(as)”, percebendo este grupo como uma faixa da população negra especialmente excluída e exposta a riscos. Em terceiro e quarto lugares encontram-se sugestões ao empreendedorismo dos profissionais negros, a adoção de cotas no serviço público e de incentivos fiscais para empresas que contratem negros prioritariamente. Todas estas são medidas que vêm sendo debatidas e parcialmente adotadas nos anos recentes. No que diz respeito às medidas que o governo deveria adotar para promover a igualdade no acesso ao ensino superior, também as medidas universais são apontadas em primeiro lugar: melhoria radical do ensino público e criação de mais universidades federais. Em seguida são apontadas a abertura de mais vagas nas universidades federais para estudantes negros, a oferta de bolsas de estudos para universitários negros e o apoio aos cursos pré-vestibulares gratuitos para estudantes negros. Este conjunto de medidas foi apresentado com o mesmo grau de prioridade pelos entrevistados participantes das duas marchas. O que o governo federal deveria adotar para diminuir a desigualdade racial entre negros e brancos que chegam às universidades? Melhorar radicalmente a qualidade das escolas e do ensino públicos Criar mais universidades públicas federais Abrir mais vagas nas atuais universidades federais para os estudantes negros Proporcionar ou financiar cursos pré-vestibulares gratuitos para estudantes negros Reservar uma parte das vagas das universidades públicas para os estudantes negros Oferecer bolsa de estudo preferencialmente para os universitários negros que já estão cursando universidade

Marcha 16/11

Marcha 22/11

62,2 39,3 37,8

65,6 51,8 35,8

32,6

30,8

24,4

14,0

37,8

32,8

Quais ações estão sendo desenvolvidas no seu estado ou município, no que diz respeito a questão racial, que têm o apoio e/ou cooperação do governo federal?

Marcha 16/11

Marcha 22/11

Capacitação de gestores públicos e de agentes sociais para operar políticas de promoção da igualdade racial

17,0

20,1

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Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Implementação da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultural Afro-Brasileira e Africana nos ensino fundamental e médio Desenvolvimento sócio-econômico da população negra nos eixos do empreendedorismo, Trabalho e Geração de Renda Política nacional de saúde da população negra Regularização das terras remanescentes de quilombos Produção de diagnóstico da condição de vida, do acesso a bens públicos, da situação fundiária, do perfil econômico, educacional, entre outros, da população negra Cultura e Religiosidade de Matriz Afro-Brasileira Não sabe/ Não respondeu Outro

42,6

38,1

10,4

15,7

11,9 14,8

17,7 11,7

7,0

8,7

12,6 24,4 12,6

14,0 24,7 12,0

No plano das políticas de promoção da igualdade racial, investigamos o grau de conhecimento dos entrevistados sobre a existência de políticas que contam com o apoio e/ou cooperação do governo federal. Em primeiro lugar é importante destacar que um quarto dos entrevistados nas duas marchas não sabiam opinar ou não responderam à questão. Entre as principais respostas, a maioria dos entrevistados nas duas marchas citou a implementação da lei 10.639 como principal ação em nível local. Em seguida destacaram a “capacitação de gestores públicos e de agentes sociais para operar políticas de promoção da igualdade racial” como principal ação. Entre os participantes da marcha do dia 16/11 a terceira ação mais citada foi a regularização das terras dos remanescentes de quilombos e, entre os participantes do dia 22/11, foi citada a política nacional de saúde da população negra em terceiro lugar. Observa-se, portanto, que há um relativo grau de conhecimento das ações de promoção da igualdade racial em nível local. Ainda que nem todas as ações sejam conhecidas, trata-se de um nível de informação provavelmente mais amplo do que o do conjunto da população, não necessariamente tão sensibilizada para esta temática como os participantes destas marchas.

Melhor maneira de combater o racismo Por meio das lutas dos movimentos negros Punindo, dentro da lei, tanto criminal como financeiramente, quem cometeu algum crime racial Por meio da educação Por meio de campanhas publicitárias dos governos federal, estadual e municipal Criando delegacias especializadas em crimes raciais Qualificando policiais, delegados, promotores e juizes, para que possam aplicar a legislação anti-racismo corretamente Publicizando imagens positivas dos negros nos meios de comunicação Não sabe/ Não respondeu Outro

13

Marcha 16/11 59,6 47,4

Marcha 22/11 50,8 41,8

52,6 11,5

55,9 15,7

9,3 25,9

11,7 21,4

20,4

18,1

1,5 2,6

8,3 3,3

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Finalmente, perguntamos aos entrevistados quais eram, ao seu ver, as melhores maneiras de combater o racismo. As respostas dos participantes das duas marchas foram convergentes. As principais medidas contra o racismo identificadas foram: as lutas dos movimentos negros; a educação; a punição de atos de racismo segundo a lei; a qualificação de operadores do direito para aplicar corretamente a legislação anti-racista e a veiculação de imagens positivas dos negros nos meios de comunicação. Como é possível observar, as medidas apontadas complementam-se e compõem uma estratégia de médio e longo prazo que já vem sendo defendida pelas organizações do movimento negro há algum tempo. Muitas destas ações são de responsabilidade tanto da sociedade civil quanto do Estado e sua adoção como política pública tem se dado a partir da pressão das organizações do movimento negro. Entretanto, embora o movimento negro possa atuar como agente de pressão e monitoramento das políticas, as ações voltadas para a aplicação da lei e igualdade racial na educação são basicamente responsabilidade dos governos, que têm o dever de implementa-las. É muito importante, portanto, que tais medidas sejam cobradas dos governos em diferentes níveis. Para isso a ação independente e fiscalizadora dos movimentos sociais tem um papel fundamental. Estas marchas realizadas em novembro de 2005 tiveram o papel de demonstrar a vitalidade e a diversidade do movimento negro em nível nacional. Embora tenham sido duas manifestações, levando ao enfraquecimento de uma bandeira que ecoaria ainda mais forte se tivessem sido unificadas, as manifestações revelaram também as disputas e a diversidade de posições. Entretanto, nossa breve pesquisa demonstrou que as motivações e o posicionamento dos participantes sobre o racismo, suas causas e possíveis soluções são bastante convergentes entre os participantes dos dois eventos, o que revela uma coerência interna ao conjunto das organizações. Resta para o futuro ampliar as conquistas, consolidar as políticas já implementadas, encontrar as convergências possíveis entre as diferentes correntes do movimento e afinar as demandas que contribuam para a ampliação dos direitos e oportunidades da população afro-brasileira.

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III- Zumbi + 10: Uma aproximação sobre Gênero e Sexualidade Osmundo Pinho6 A História Negra em Marcha Este ensaio pretende oferecer interpretação preliminar para o conjunto de dados produzidos por pesquisa amostral realizada durante as duas Marchas Zumbi + 10 realizadas em Brasília, nos dias 16 e 22 de novembro de 2005. Procuraremos salientar, de modo ainda exploratório, às informações relativas a gênero e sexualidade depreendidas das informações disponíveis. Como o propósito geral da pesquisa foi delinear um perfil dos ativistas antiracistas presentes nas marchas, o objetivo desse ensaio é fazer uma aproximação em direção às questões de gênero e sexualidade, possíveis de serem destacadas desse perfil. As marchas realizadas em Brasília em 2006 são partes de uma mobilização trans-histórica do ativismo negro brasileiro e se inscrevem na cadeia de outras manifestações semelhantes. A marcha contra as comemorações da Abolição, intitulada “Marcha conta a farsa da Abolição. 1888 – 1988. Nada mudou, vamos mudar”, por exemplo, foi um ponto referencial, ao levar para as ruas todo o aparato do exército brasileiro no afã de interromper centenas de ativistas, que caminhavam pela mais importante artéria da cidade (RJ),a Av. Presidente Vargas, reivindicando direitos e denunciando o racismo. Os discursos arrematavam os longos meses de preparação logística para a sua realização. Não menos definidoras foram as inúmeras atividades incluindo diferentes marchas utilizadas pelo movimento negro para marcar a passagem dos trezentos anos de morte do líder Zumbi dos Palmares, em 1995, sendo que a “Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida” consolidou-se como um marco. Agora passados dez anos, nova articulação foi feita voltada para aquela data, permitindo o surgimento da(s) Marcha(s) Zumbi + 10 em Brasília, realizadas uma no dia 16 e outra no dia 22. Desse modo, quarta-feira dia 16 de novembro de 2006, Brasília recebeu delegações de mais de 15 Estados do Brasil, perfazendo um total de cerca de oito mil pessoas, que participaram da Marcha Zumbi + 10 - Contra o Racismo e pelo Direito à Vida. Na terça-feira subseqüente, 22 de novembro, cerca de cinco mil pessoas participaram da segunda Marcha Zumbi + 10. Os organizadores realizaram um ato ecumênico pelo Eixo Monumental da cidade - saindo da Catedral de Brasília em direção ao Congresso Nacional, que uniu negros, brancos, índios, judeus e palestinos nas mesmas reivindicações. O processo de organização da marcha, que, como vemos, acabou a cindindo em duas, foi algo tensionado, com acusações da partes dos respectivos grupos organizadores. Os proponentes da Marcha do dia 16 alegam que esta foi autônoma, construída com muitos poucos recursos e extrema dificuldade. Se a Marcha do dia 16 se configurou com a participação de organizações e movimentos sociais negros, a Marcha do dia 22 se conformaria com sindicatos e grupos historicamente ligados aos partidos de esquerda. Nesse sentido ocorreram acusações de aparelhamento e uso político partidário, aliás, tão comuns no período de reorganização do Movimento Negro nos anos 70. Segundo essa argumentação não é necessário romper e virar as costas aos partidos políticos. O que se afirma é a necessidade de reconstrução do Movimento Negro, buscando autonomia, autoridade e legitimidade para encarar os dirigentes partidários e reivindicando representações governamentais comprometidas. Segundo os organizadores da Marcha do dia 16, não seria um partido ou outro, um mandato de governo ou outro, que faria avançar as ações que combatam as desigualdades criadas pelo racismo. Nesse sentido, a marcha 6

Antropólogo. Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP). Ex-Diretor do Centro de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Candido Mendes no Rio de Janeiro. Atualmente é Bolsista de Pós-Doutorado no Departamento de Antropologia da UNICAMP. E-mail: [email protected] .

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Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

do dia 16 foi antes de tudo, proposta para afirmar que as demandas negras não são para o governo, mas para o Estado e para a sociedade brasileira. A marcha do dia 22 foi convocada para a data em que celebrou-se os noventa e cinco anos da Revolta da Chibata, comandada por João Candido, líder da rebelião. A frente da marcha do dia 22, estava Zeilândia Cândido, 81 anos, filha do marinheiro negro, João Cândido, que há 95 anos liderou a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro. Segundo os organizadores dessa segunda marcha, seu objetivo foi fazer um balanço das conquistas e avanço obtidos ao longo desses dez anos, e exigir do Estado Brasileiro o reconhecimento do conceito de reparação como eixo principal para implementação de políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, acompanhamento as orientações da Declaração e do Programa de Ação da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas. Exigiu ademais, do Governo Lula e do Congresso Nacional, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto de Cotas nas Universidades, agilização da titulação e regularização das terras quilombolas. Uma política de combates ao genocídio da população negra que vitima especialmente as mulhares e a juventude negra, e a necessidade da ampliação do combate à intolerância religiosa às religiões de matriz africana.

O sociólogo e ativista Luiz Mendes, coordenador adjunto da Comissão Estadual de Combate a Discriminação Racial da CUT/RS e membro do Comitê Gaúcho que preparou a Marcha Zumbi + 10, negou que a articulação das entidades que defenderam a realização da Marcha no dia 22 de novembro, seja governista ou ligada a partidos da base do Governo Lula e disse que esses argumentos “são uma falácia”.

“Gostaria que as pessoas que nos acusam de “governistas” admitissem não serem ligadas ao PT, inclusive com atuação orgânica no partido”, afirmou. Ele considera inaceitável “a forma com que algumas pessoas acusam quem defende o 22/11 de “governista”, de não querer a marcha, de que queremos fazer defesa do Lula, de não estarmos dispostos a discutir e a exigir uma limpeza neste governo”, enfatizou.

Segundo Mendes, a Marcha deve exigir do Governo “que deixe de ser hipócrita e banque o Estatuto da Igualdade Racial com Fundo de Reparação”. “Vamos, sim, exigir que a SEPIR deixe de ser um chapéu ambulante e tenha recursos para, de fato, implantar igualdade racial neste país. Vamos sim exigir que o Estado brasileiro, hoje representado pelo Presidente Lula, implemente as políticas prometidas ao povo negro brasileiro”, concluiu. As datas do protesto – 16 ou 22 de novembro – dividiram assim o movimento negro do país. A articulação que defendeu o 16/11, liderada por Edson Cardoso, do Jornal Irohin, acusou, por fim, o outro lado de pretender esvaziar o protesto por ter ligações com o Governo Lula e com partidos, sindicatos e movimentos próximos à base governista.

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Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

A seguir, uma pequena introdução histórico-teórica sobre movimento negro no Brasil, na seção seguinte sucinta apresentação dos dados e por fim alguns desafios para a atuação crítica nesse campo interseccional de gênero e luta anti-racista.

Introdução Histórico-Teórica sobre Movimento Negro A construção de identidades afrodescendentes é um processo de agenciamento ou de emergência de sujeitos negros em determinados contextos contemporâneos. Tal processo não está acabado, como é óbvio, nem tem resultado previsível. Está sempre reposto e pode ser caracterizado como uma “luta de identificações e guerra de posições”(Hall, 2002). A gênese dos modernos movimentos sociais negros brasileiros pode ser remetida a duas frentes históricas. De um lado podemos descrever uma tradição de organização social do meio negro que remonta ao período colonial, como uma trajetória independente e com identidade própria. De outro lado podemos ver que o movimento negro moderno, ou seja, aquele surgido no contexto do declínio do regime militar a partir dos anos 70, associa-se a um movimento mais amplo de reorganização dos movimentos sociais e de politização da sociedade e do cotidiano (Figueiredo&Cheibub, 1986-87; Fontaine, 1985; Gonzales, 1982; 1985; Burdick, 1992; Silva, 1988; Telles, 1999). As narrativas sobre a organização política no “meio negro” se alimentam de fontes tanto “nativas” quanto “cientificas”. Pesquisadores acadêmicos, ativistas negros e pesquisadores acadêmicos que são ativistas negros têm inscrito e proposto interpretações sobre a história de organização e resistência dos afrodescendentes no Brasil. A narrativa vista com mais simpatia e na verdade quase entronizada como a oficial do ponto de vista mais próximo de uma versão “ativista”, é aquela que enfatiza a continuidade da “resistência” negra. Nesta narrativa, o quilombo de Palmares e o seu último líder militar Zumbi, derrotado e morto pelo sanguinário bandeirante Domingos Jorge Velho em 1695, é o marco histórico fundamental7. Na verdade, o quilombo de Palmares, e a forma genérica “quilombo”, têm sido ressignificado fortemente a partir da reorganização do movimento negro nos anos 70. O quilombo passa a representar um modelo alternativo de organização da sociedade que desafiou os poderes coloniais e reinventou um mundo africano – no caso de Palmares, banto - baseado no trabalho livre, na propriedade comum da terra, em valores tradicionais holísticos, etc. A utopia afrodescendente passa a incorporar um modelo histórico como referência no passado para a possibilidade de futuro. Não é a toa que as Marchas elegeram Zumbi como seu símbolo. Abdias do Nascimento é, sem dúvida, o grande propositor dessa reapropriação do quilombo, chegando a apresentar um modelo de “práxis afro-brasileira” que ele chamou de quilombismo. Esta práxis, enraizada na história de resistência manifestada em vários níveis, é também um programa político de ação transformadora, sintetizada no “ABC do Quilombismo”. (Nascimento, 1982; 2002; 1980). Parece claro como o movimento de se contar a história da organização autônoma negra faz parte de uma estratégia mais ampla de refundação das bases interpretativas do presente que dê lugar a uma perspectiva sobre o passado nacional e sobre o lugar do negro nesse passado que fundamente uma capacidade insurgente de crítica e de superação da opressão e da desigualdade. Não obstante esse esforço esteja prisioneiro, em Abdias, de diversas contradições. Ora, é neste fundamento histórico, que tem o quilombo como marco e Zumbi como referência, que a narrativa emancipatória de longa duração baseia o surgimento do

7

Sobre quilombos contemporâneos e a politização do quilombo cf. tb. Arruti, 1997; Vogt & Fry, 1996; Ratts, 2000 e outros.

17

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Movimento Negro Brasileiro8: os quilombos, a resistência escrava e a luta abolicionista (p.ex. Chaloub, 1990; Reis & Gomes, 1996; Reis, 1993; 1999, Freudenthal, 1997; Andrews, 1992 e outros). “Os escribas da historiografia oficial comprometida com os interesses das elites dominantes, afirmam que os negros africanos eram dóceis e servis e se submeteram passivamente à escravidão. Pelo contrário, vamos constatar na história do negro brasileiro uma série de movimentos insurreições, revoluções, rebeliões, de luta dos negros africanos contra o regime da escravatura no Brasil. (...) A história do negro no Brasil é uma história de luta. São quase 500 anos de luta, de resistência contra a escravidão, o racismo, a opressão e a exploração”(MNU, 1988: 54). O moderno movimento negro, principalmente aquele representado pelo MNU (Movimento Negro Unificado), vê a si mesmo como a continuidade desta luta secular iniciada com o desembarque dos primeiros escravos na América Portuguesa. Cada negro traz em si o germe desta luta e o movimento negro é a voz representada desta rebeldia, encarnando uma vontade de transformação que, nesta chave, é trans-histórica. Quando, no contexto de redemocratização da sociedade e de reorganização dos movimentos negros, o poeta Oliveira Silveira do Grupo Palmares do Rio Grande do Sul propôs o 20 de novembro – aniversário da morte de Zumbi – como Dia Nacional da Consciência Negra, o 13 de maio passou a ser crescentemente anatemizado como a celebração de uma falsa abolição e o 20 de novembro tornou-se a data principal do reinvestimento simbólico/histórico da política afrodescendente no Brasil (Nascimento &Nascimento, 2000; Mendonça, 1996; Pinto, 1993; 1990). Hamilton Cardoso, um dos mais notáveis intelectuais negros do período, procurou explorar todas as conseqüências políticas do reconhecimento de Zumbi9 como herói nacional em novembro de 1985, principalmente aquelas que sinalizam para o aspecto trans-étnico da luta de libertação quilombola, nesse sentido “resgatar” Zumbi: “É um fato cultural porque é um fato político; é um fato político porque rompe com a política cultural dominante. Reflete, na verdade, outra forma, de engajamento político do militante negro nos processo sociais. Revela um ponto de vista humano, capaz de romper as fronteiras da raça. Arrebentando a geografia da pele e da cor”(Cardoso, 1986: 66). Mesmo confinados nesta geografia da pele e da cor, os negros puderam pouco a pouco organizar-se na República Velha, inicialmente em torno da chamada “imprensa negra” e de Clubes Sociais Negros, notadamente em São Paulo e no Rio de Janeiro (Gomes da Silva, 1998; Fernandes, 1978). A imprensa negra parece ter sido especialmente dinâmica e colaborou decisivamente para formação de uma consciência e uma perspectiva racial voltada principalmente para os temas da “elevação moral” do meio negro e para criar alternativas de integração para a massa negra, excluída do mercado de trabalho, do sistema de educação formal e subjugada pelos padrões tradicionais de controle político e mesmo pessoal, como mostrou, dentre outros, Florestan Fernandes (1978). Os jornais, que formavam legião, chamavam-se, por exemplo: “O Menelik”, “Auriverde”, “Patrocínio” e “A Liberdade”. Em 1924 foi fundado “O Clarim da Alvorada” por José Correia Leite e Jayme de Aguiar, esse jornal e o grupo em torno dele formaram o núcleo inicial da Frente Negra Brasileira, fundada em 16 de setembro 1931, a maior organização negra do Brasil, até hoje 8 A reconstituição de Clóvis Moura é bem representativa, ainda mais porque incorpora também organizações culturais. Moura 1981. Sobre a relação política e cultura no movimento negro Cf. Cunha, 1998. 9 Para a reflexão sobre Zumbi no Movimento Negro cf. tb. Cardoso, 2000 e Fernandes, 1989.

18

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

não superada em termos de adesão numérica e capacidade de mobilização. Transformada em partido político em 1936 foi tornada ilegal pelo regime Vargas em 1937. Oscilando entre o ideal de reforma moral e integração e certo pendor fascista pela ordem, a Frente Negra parece ter sido presa das contradições da época. Em artigos publicados no jornal oficial da Frente, “A Voz da Raça”, exaltavam-se valores fascistas e chegou-se mesmo a saudar a chegada de Hitler ao poder em 30 de janeiro de 1933. Arlindo Veiga dos Santos, um dos líderes da Frente parabeniza o recém empossado chanceler por ter vindo resgatar a Alemanha de “14 anos de república liberal democrática” (Andrews, 1992: 34). Durante o regime militar inaugurado com o golpe de 31 de março de 1964 diversos grupos se organizaram em todo o país. No Rio Grande do Sul, o já citado Grupo Palmares. No segregado interior de São Paulo assistiu-se uma intensa movimentação com o grupo Evolução de Campinas fundado por Thereza Santos e Eduardo Oliveira e Oliveira em 1971 e o Festival Comunitário Negro Zumbi (FECONEZU) que existe desde 1978 até os dias de hoje10, o surgimento do Festival, orgulho da “negritude” do interior paulista, foi saudado por Hamilton Cardoso com o texto significativamente intitulado “Zumbi: Memórias de São Paulo” (2000). Na capital paulista, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) fundando por Abdias do Nascimento em 1980 no seu retorno do exílio. No Rio de Janeiro o Instituto de Pesquisa de Cultura Negra (IPCN) e a Sociedade de Estudo de Cultura Negra no Brasil (SECNEB), A Sociedade de Intercâmbio Brasil África (SINBA), o Grupo de Estudos André Rebouças, etc. Na Bahia o Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, o Grupo de Teatro Palmares Iñaron e assim por diante. A confluência de determinados fatores fez com que alguns destes e outros grupos fundassem em 18 de junho de 1978 o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial (MUCDR), realizando em seguida um ato público nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo no dia 7 de julho. O MUCDR foi depois rebatizado em 23 de julho como Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR), em dezembro de 1979 durante o 1o Congresso realizado no Rio de Janeiro passa a chamar-se de Movimento Negro Unificado (MNU) nome que conserva até hoje (Nascimento & Nascimento, 2000; Barcelos, 1996; Cardoso, 2002; Félix, 1996; Hanchard, 1994). O ato do dia 7 de julho foi convocado em protesto contra a morte do jovem negro Robson Luís. O jornal “Versus” noticiou com detalhe o caso Robson Luís e o protesto que marcou a aparição pública do novo movimento negro brasileiro. No número 22 de junho-julho de 1978 podemos ler que por roubar com amigos que vinham bêbados de uma festa, três caixas de frutas, Robson Luís, 21 anos, casado, morador da Vila Popular, morreu no dia 28 de abril de 1978 no Hospital de Clínicas, seu rosto estava desfigurado e seu escroto fora arrancado na 44ª Delegacia de Polícia em SP11. Segundo apurou o jornal, o delegado enquanto batia dizia: “Negro têm que morrer no pau” (Versus, 1978). O ato público reuniu, além disso, atletas indignados com o Clube de Regatas Tietê em São Paulo que impedira quatro adolescentes negros, atletas de voleibol, de treinarem no clube. O jornal Versus conta como os meninos foram barrados pelo porteiro e que o técnico ao reclamar ouviu de um dos diretores: “Se deixar um negro entrar na piscina cem brancos saem”. (Versus, julho-agosto, no 23, 1978: 33). O momento de surgimento do MNU é o mesmo da aparição dos chamados novos movimentos sociais. Naquela conjuntura os movimentos negros foram por diversas vezes citados pelos autores que então analisavam o surgimento destes novos movimentos sociais. Da perspectiva daqueles que faziam a análise no calor do momento, uma das características próprias que os novos movimentos que os distinguiam de movimentos anteriores é o aspecto de reinvenção da vida cotidiana. Os novos movimentos sociais se

10

Atraindo para suas atividades culturais parcela importante de seus participantes na juventude negra o FECONEZU passou a ter no Hip Hop um elemento importante, cf. FECONEZU, 2000. O fato de que, segundo se diz, Zumbi teve seu pênis cortado e colocado na própria boca faz uma associação sinistra entre violência racial e mutilação sexual, uma associação que infelizmente parece permanecer até hoje.

11

19

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

baseiam na “experiência” dos agentes e para esta se voltam quando pretendem “mudar a vida”. “A capacidade inovadora desses movimentos parece basear-se menos em seu potencial político e mais em seu potencial, para criar e experimentar formas diferentes de relações sociais quotidianas”(Evers, 1984: 15). Estes movimentos romperiam ainda os paradigmas dominantes sobre a representação das classes populares e esse parece ser um ponto altamente relevante. A novidade dos novos movimentos sociais é que eles não “cabiam” nas análises e representações autorizadas sobre a sociedade brasileira. Como colocam Paoli e Sader (1986) a questão tem a ver com representação das classes populares e do seu papel na mudança da história e de como as ciências sociais têm construído um lugar ou categoria sociológica para estes agentes que desde abajo procuram construir uma sociabilidade alternativa à hegemônica12. A “análise de classe” clássica parece conturbada neste momento, no qual surgiram novos agentes sociais não baseados na oposição de classe tradicional, mas justamente politizando o cotidiano a partir de uma série de heterogeneidades, negros, homossexuais, mulheres, ecologistas, donas-de-casa suburbanas, etc. Nesse sentido, a questão passa pela criação de “novos significados que acompanham necessariamente as mudanças na prática social” ( Paoli & Sader, 1986: 53). Estes movimentos que surgem formando novos sujeitos políticos, o fazem a partir de uma ressignificação da prática social feita a partir das experiências cotidianas de base, digamos assim. Esta ressignificação reservou um lugar para a cultura e a identidade como elementos de organização do lugar político e de sua ação. Tornar-se sujeito da própria história passa a ser então, a partir deste momento, assumir sua própria identidade (Evers, 1984).

Tópicos em Gênero e Sexualidade Apresentaremos a seguir, divididos em tópicos, alguns dos dados levantados na pesquisa. As informações referem-se a determinados comportamentos que poderia sofrer viés de gênero, nesse sentido a interrogação é: que elementos diferenciais segundo o gênero encontraríamos entre os participantes da marcha? Não temos, no momento, condições de analisar os dados como deveríamos, a idéia é apenas registrar o que parece mais proeminente.

a) Caracterização Geral Convém uma caracterização preliminar dos participantes segundo o sexo. Na Marcha do dia 16 de novembro foram entrevistados 270 pessoas de um total estimado de oito mil. As mulheres foram uma maioria entre os entrevistados com uma diferença de 7,7 pontos percentuais, como vemos. Ao que parece a marcha foi muito jovem uma vez que 70,4% dos entrevistados tinham menos de 35 anos, com grande concentração na faixa dos 15 aos 25 anos – 46,7%.

12

Cf. tb. Durham, 1984, Skidmore, 1988, Jacobi 1986 e Sader, 1995.

20

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Gráfico 1 – 16/11 Sexo do entrevistado

0,4% masculino

46,7%

feminino 53,0%

ns/nr

Gráfico 2 – 16/11 Idade do entrevistado 46,7%

23,7% 13,0%

8,1%

5,2%

Entre 15 entre 26 Entre 36 Entre 46 Entre 56 e 25 e 35 e 45 e 55 e 60 anos anos anos anos anos

2,6%

0,7%

Acima de 61 anos

ns/nr

Segundo os critérios de classificação racial do IBGE, 63,0% dos entrevistados se declararam “pretos” e apenas 17%, se declararam pardos. O número de brancos, apenas 6,7%, revela que o movimento anti-racista ainda é basicamente negro. Gráfico 5 -16/11

Classificação critério/cor do IBGE 63,0%

17,0% 6,7% 0,7% Preto

Pardo

2,2%

2,6%

Branco Amarela Indígena Prefere não declarar

7,4% 0,4% Outra

ns/nr

Examinemos o perfil da marcha do dia 22. Entrevistamos 299 pessoas, dentre as cerca de cinco mil que compareceram. Neste caso, os homens foram maioria, com vantagem de seis

21

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

pontos. Por outro lado esse é um grupo também um pouco mais velho, com 36% dos entrevistados entre 36 e 55 anos.

Gráfico 1 – 22/11

Sexo dos entrevistados

47,5%

masculino feminino

52,5%

GRAFICO 2 – 22/11

Idade dos entrevistados 37,4%

20,7%

16,1%

15,3%

4,6%

5,0% 0,7%

Entre 15 e entre 26 e Entre 36 e Entre 46 e Entre 56 e Acima de 25 anos 35 anos 45 anos 55 anos 60 anos 61 anos

22

ns/nr

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

A mais interessante das diferenças entre as duas parece ser, entretanto a composição racial. Nesse caso apenas 48,2% se declararam pretos contra os 63% da marcha anterior. Lembremos que essa segunda marcha parece ter sido organizada menos pelo movimento negro e mais pelos partidos de esquerda, sindicatos, etc. Seria o caso de perguntar em que medida existe correlação entre a maior participação de ativistas de outros movimentos sociais, o maior índice de “branquidade” da marcha e o seu conteúdo político.

Classificação critério/cor do IBGEa Frequencia

Percentual

Preto

144

48,2

Pardo

68

22,7

Branco

40

13,4

Amarela

5

1,7

Prefere não declarar Outra

9

3,0

30

10,0

ns/nr

3

1,0

Total

299

100,0

a. Acão Afro - 22/11/2005

b) Gênero e Sexualidade A marcha do dia 16 apresentou uma distribuição eqüitativa por sexo segundo a cor como vemos. Tendo em mente o debate existente sobre relações inter-raciais e seu papel na agenda política afrodescendente perguntamos sobre a eleição de parceiro segundo a cor (Moutinho, 2004; Moreira & Sobrinho, 1994). Classificação critério/cor do IBGE * Sexo do entrevistadoa Sexo do entrevistado masculino

feminino

ns/nr

63,5%

62,2%

Pardo

16,7%

17,5%

17,0%

Branco

7,1%

6,3%

6,7%

Amarela

100,0%

Total

Preto

63,0%

1,4%

,7%

Indígena

2,4%

2,1%

2,2%

Prefere não declarar

2,4%

2,8%

2,6%

Outra

7,9%

7,0%

7,4%

ns/nr Total

,7% 100,0%

a. Ação Afro. 16-11-2005

23

100,0%

,4% 100,0%

100,0%

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Gráfico 18 – 16/11 Ja namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu?

21,1%

0,4% sim não ns/nr 78,5%

Nesta marcha do dia 16, a marcha mais caracteristicamente “negra”, a grande maioria já se envolveu sexual ou afetivamente com pessoas do grupo social considerado distinto do seu. Mas, e se dividíssemos por cor ou sexo? Classificação critério/cor do IBGE * Já namorou oua casou com alguém de grupo racial diferente do seu. Já namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu. sim

não

Total

Preto

59,0%

77,2%

62,8%

Pardo

20,3%

5,3%

17,1%

Branco

6,1%

8,8%

6,7%

Amarela

,9%

,7%

Indígena

2,8%

2,2%

Prefere não declarar

3,3%

Outra

7,1%

ns/nr

2,6% 8,8%

7,4%

100,0%

100,0%

,5%

Total

100,0%

a. Ação Afro. 16-11-2005

24

,4%

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Sexo do entrevistado * Já namorou ou casou com alguém de grupo racial a diferente do seu. Crosstabulation Já namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu. sim

não

Total

masculino

47,2%

43,9%

46,5%

feminino

52,4%

56,1%

53,2%

ns/nr

,5%

Total

100,0%

,4% 100,0%

100,0%

a. Ação Afro. 16-11-2005

Por raça/cor vemos que dentre os que não tiveram parceiros de outro grupo racial os pretos são a imensa maioria, 77,2%. Entre os que tiveram a categoria algo imprecisa, pardo, é a campeã. Por sexo, as diferenças não são tão significativas, ainda assim os homens apresentaram um índice quatro pontos percentuais superior ao das mulheres de interracialidade amorosa. Gráfico 19-16/11 Quanto a sexualidade, define-se como:

0,7% 0,7% 1,5% 7,8%

heterossexual homossexual bissexual panssexual ns/nr

89,3%

Como já esperávamos quase completa maioria dos entrevistados declarou-se heterossexual que não é de estranhar-se dado a distância histórica e política dos movimentos negros dos movimentos homossexuais, ou mesmo do debate dos direitos sexuais na esfera pública negra brasileira. E vice-versa, o debate racial no movimento homossexual apenas inicia-se, apesar de existir, ao que constatamos maior disponibilidade dos homossexuais em discutir racismo, do que dos negros em discutir homophobia. Ainda assim, encontramos 1,5% de homossexuais. Mais uma vez lembramos que esta marcha foi aquela apontada como mais próxima do movimento negro tradicional.

Além disso, perguntamos pelo uso do preservativo. E encontramos o espantoso índice de 40% de respondentes que não usam preservativos sempre. E lembramos que o perfil de idade dessa marcha é extremamente jovem.

25

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Você faz uso de preservativo nas suas relações sexuais(a) Frequency Percent 6

2,2

39

14,4

162

60,0

faço só com parceiros ocasionais

14

5,2

faço até criar confiança no(a) parceiro(a)

14

5,2

faço só quando desconfio do parceiro

2

,7

faço quando me lembro

3

1,1

16

5,9

1

,4

Total

257

95,2

ns/nr

13

4,8

270

100,0

não tem vida sexual ativa não faço sempre

às vezes nunca

Total a Ação Afro. 16-11-2005

Na marcha do dia 22, com perfil mais misto do ponto de vista da origem política dos participantes, o número dos que responderam afirmativamente a pergunta sobre relacionamentos inter-raciais foi maior. Mas o número dos que não tiveram, entretanto, permanece o mesmo, a diferença decorre do menor número dos que não souberam responder nesta marcha. Ou seja, talvez revele uma atenção menor às questões raciais. Classificação critério/cor do IBGE * Sexo do entrevistadoa Sexo do entrevistado masculino

feminino

Total

Preto

45,2%

51,4%

48,2%

Pardo

21,7%

23,9%

22,7%

Branco

13,4%

13,4%

13,4%

,6%

2,8%

1,7%

4,5%

1,4%

3,0%

12,7%

7,0%

10,0%

100,0%

100,0%

Amarela Prefere não declarar Outra ns/nr

1,9%

Total

100,0%

a. Ação Afro. 22-11-2005

26

1,0%

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Gráfico 17 – 22/11 Já namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu?

3,0% 23,1% sim não ns/nr 73,9%

Separada por raça/cor e sexo, a população da segunda marcha comporta-se de forma algo semelhante, as diferenças por sexo não são muito importantes. Mas surpreendentemente, dado o que vimos para a marcha anterior, as diferenças por cor não fazem diferença. Uma diferença de apenas um ponto percentual entre os pretos que tiveram ou não relacionamentos inter-raciais. Uma vez que temos um alto índice de “pretos” na primeira marcha, intuímos, mais uma vez, que a “consciência” racial parece operar aqui, distinguindo o perfil dos participantes das duas marchas nesse aspecto. Para a maioria de pessoa sem vínculo orgânico com o movimento negro questão do critério racial para eleição afetiva não parece se colocar como uma questão e nesse sentido permanece despolitizada. Sexo do entrevistado * Já namorou ou casou acom alguém de grupo racial diferente do seu. Já namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu. sim

não

Total

masculino

55,7%

43,5%

52,8%

feminino

44,3%

56,5%

47,2%

100,0%

100,0%

100,0%

Total a. Ação Afro. 22-11-2005

27

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Classificação critério/cor do IBGE * Já namorou oua casou com alguém de grupo racial diferente do seu. Já namorou ou casou com alguém de grupo racial diferente do seu. sim

não

Total

Preto

48,4%

49,3%

48,6%

Pardo

25,3%

11,6%

22,1%

Branco

13,6%

11,6%

13,1%

,9%

4,3%

1,7%

Prefere não declarar

2,3%

5,8%

3,1%

Outra

8,6%

15,9%

10,3%

Amarela

ns/nr Total

,9%

1,4%

1,0%

100,0%

100,0%

100,0%

a. Ação Afro. 22-11-2005

Quanto à orientação sexual e uso preservativo, o perfil dos participantes dessa segunda marcha é semelhante. Sendo que uso constante de preservativos ainda é menor, apenas 53,8 %, ou seja, aproximadamente metade dos entrevistados não faz uso regular de camisinha.

Tabela 179 Quanto a sexualidade , define-se como:(a) Frequência

Percentual

265

88,6

homossexual

6

2,0

bissexual

6

2,0

lésbica

2

,7

panssexual

1

,3

ns/nr

19

6,4

Total

299

100,0

heterossexual

a Acão Afro - 22/11/2005

28

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Você faz uso de preservativo nas suas relações sexuais(a) Freqüência Percentual 3

1,0

58

19,4

161

53,8

faço só com parceiros ocasionais

16

5,4

faço até criar confiança no(a) parceiro(a)

11

3,7

4

1,3

às vezes

18

6,0

nunca

10

3,3

Total

281

94,0

ns/nr

18

6,0

299

100,0

não tem vida sexual ativa não faço sempre

faço só quando desconfio do parceiro

Total a Acão Afro - 22/11/2005

c) Percepção do Racismo Por fim alguns dados sobre a percepção do racismo segundo o sexo. Na primeira marcha, como vemos abaixo, salta aos olhos o fato de que os que não se sentiram discriminados são vinte por cento a mais entre os homens, ou seja a não percepção de discriminação pessoal é maior entre as mulheres. Dos que se sentiram, o percentual reparte-se quase igualmente entre homens e mulheres. Na segunda marcha, apesar da diferença diminuir a tendência permanece.

Sexo do entrevistado * Já sentiu ou foi discriminado(a) racialmentea Já sentiu ou foi discriminado(a) racialmente sim

não

não me lembro

Total

masculino

50,2%

39,3%

30,0%

47,2%

feminino

49,3%

60,7%

70,0%

52,4%

ns/nr Total

,5%

,4%

100,0%

100,0%

a. Ação Afro. 16-11-2005

29

100,0%

100,0%

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Sexo do entrevistado * Já sentiu ou foi discriminado(a) racialmentea Já sentiu ou foi discriminado(a) racialmente não mencionado masculino

não

não me lembro

47,7%

50,0%

Total

100,0%

55,6% 44,4%

52,3%

50,0%

47,3%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

feminino Total

sim

52,7%

a. Ação Afro. 22-11-2005

Com relação à percepção do racismo disseminado na sociedade não dirigido diretamente contra o agente observamos uma pequena inversão, que não parece muito significativa. Na primeira Marcha os homens tem menor percepção e na segunda o inverso. Sendo que na segunda Marcha os que não acreditam na prevalência do racismo na sociedade são 75% entre os homens e apenas 25% entre as mulheres. Vendo a tabela podemos perceber que a diferença por sexo é grande entre os que não acreditam no racismo, mas se dissolve entre os que acreditam. Sexo do entrevistado * Existe racismo no Brasil hoje.a Existe racismo no Brasil hoje. sim

não

masculino

46,8%

feminino

52,8%

52,6%

,4%

,4%

ns/nr Total

100,0%

100,0%

Total

100,0%

47,0%

100,0%

a. Ação Afro. 16-11-2005

Sexo do entrevistado * Existe racismo no Brasil hoje.a Existe racismo no Brasil hoje. sim

não

Total

masculino

53,0%

75,0%

53,3%

feminino

47,0%

25,0%

46,7%

100,0%

100,0%

100,0%

Total a. Ação Afro. 22-11-2005

O Desafio da Interseccionalidade Consideremos agora como uma conclusão provisória, os desafios colocados pela consideração dos fatores interseccionais para a política de emancipação racial e de gênero. Kimberlé Crenshaw tem salientado como uma atenção específica para sistemas distintos de diferenciação e discriminação pode revelar como estes se combinam para produzir formas muito específicas e concretas de prejuízo, violência, desempoderamento, etc. Ela tem proposto a interseccionalidade como uma maneira de descrever melhor essas

30

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

convergências e de estabelecer políticas específicas que compensam de modo diferenciado os efeitos estruturados e combinados da discriminação interseccional (Crenshaw, 1995; 2002). Por outro lado, uma abordagem interseccional nos permitiria perceber como identidades sociais ou sujeitos subalternos são produzidos no entroncamento destes fluxos de discriminação e reação identitária. A diferença, que opera produzindo mais diferentes entre as subalternidades que habitam a paisagem das sociedades modernas, não implicaria, nesse caso, em fragmentação de possíveis sujeitos “universais” da emancipação como “homens”, “mulheres” ou “negros”, mas pelo contrário significa estratégias de coalizão ou de re-conexão entre experiências localizadas e plenamente vivas de subordinação e autoconstrução vernácula. As políticas de identidade tradicionais, ou seja, não interseccionais, sucumbem muitas vezes a essencialismos que obstaculizam o reconhecimento das diferenças intragrupos ou comunidades específicas. " The problem with identity politics is not that it fails to transcend difference, as some critics charge, but rather the opposite - that it frequently conflates or ignore intragroup differences" (Crenshaw, 1995: 357). A ênfase usual nas combinações de identidade e discriminações recai sobre os cruzamentos de raça, orientação sexual e gênero, com ênfase para a experiência das mulheres negras. Trabalhos como o de Crenshaw, e muitos outros realizados por pesquisadoras brasileiras e estrangeiras, tem mostrado as inter-relações e as combinações perversas entre racismo e patriarcalismo (Gonzales, 1983; Bairros, 1995; Caldwell, 2000; Carneiro, 1995; 2002; Roland, 2000). Mas no que diz respeito aos homens, perguntaríamos, como uma provocação: Como se combinam e se realizam nas performances públicas, nos discursos privatizados, nas representações e institucionalidades bem enraizadas ou efêmeras, a interseccionalidade de raça, orientação sexual e gênero produzindo sujeitos masculinos? Como os homens negros disputam hegemonia no interior dos movimentos negros com um projeto masculinista de emancipação racial? Como as diferenças de gênero condicionam a experiência da discriminação racial e formatam as respostas institucionais e políticas ao racismo? Se a interseccionalidade pode ser percebida como um modo de por relevo nas desigualdades combinadas, que produzem novos efeitos específicos através da combinação, o que poderíamos interrogar é como a interseccionalidade pode ser discutida como um modo de práxis política emancipatória. Ou seja, de como as diversas combinações estruturais que criam as circunstâncias para a formação de sujeitos subalternos interseccionais podem ser enfrentados através de políticas de coalizão que valorizem e levem em consideração as diferenças internas a comunidades e grupos específicos. Como coloca Paul Amar: “Alternativamente, é possível elaborar modos de vida engajados nas interseções de identidades, desigualdades e conflitos que podem ser vividos socialmente, politicamente - e mesmo eroticamente, para alem do mercado e das hierarquias. Este tipo de subjetividade engajada é vivido como um sentimento de imersão em possibilidades específicas, materiais e multidimensionais” (Amar, 2003: 5). Considerar as variantes de identidade, ao inverso do que poderia parecer, não deveria significar fragmentação ou paroquialismo, mas pelo contrário a inclusão ou novas possibilidades de agenciamento político, adequados às trajetórias e cenários sociais específicos. Estas trajetórias e cenários são modernos e incorporam a desigualdade como um modo de reprodução e diferenciação social, como o movimento de mulheres negras tem demonstrado no Brasil. 31

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

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In.

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

IV- A educação para os que marcham Joselina da Silva A educação formal adquirida nos bancos escolares tem sido meta almejada pelos negros organizados. Poderíamos citar, neste particular, o jornal publicado por um grupo na capital gaúcha, seis anos antes da abolição formal da escravatura, que assim dizia: “O que o negro precisa é Educação”...” Uma vez que ajudamos a pagar os custos da educação pública é melhor que lutemos por ela”13 A formação educacional passou, então, a ser usada não apenas como instrumento de inclusão social, mas também e principalmente como condição para serem alçados à categoria de cidadãos nacionais. Moura (1988) - referindose à imprensa negra, em São Paulo - lembra que a educação, vista como um meio de ascender social e culturalmente, era uma de suas constantes preocupações. O autor nos informa que para a geração dos anos trinta - retratada nos jornais negros da época estudar era um encargo a ser destinado às famílias, em relação à sua prole. Este enfoque sofrerá mudanças em suas diretrizes, na visão das lideranças do período pós-ditadura de Vargas, onde o estado passa a ser o interlocutor preferencial, nas demandas para ma educação voltada aos afro-descendentes. De posse dos dados obtidos na pesquisa e tendo estas observações como pano de fundo resolvemos analisar alguns cruzamentos para observar de que maneira o atual debate sobre educação tem sido incorporado pela reflexão dos ativistas ali presentes. No item do relatório sobre participação política detalharmos mais atentamente a análise sobre as ações afirmativas. Nosso objetivo aqui é ver de forma comparativa o olhar destes ativistas em relação aquelas políticas, no quadro mais ampliado sobre a educação. Iniciamos relembrando o nível da educação formal de nossos entrevistados. Lembramos que tivemos um percentual de 1,1% de analfabetos, no dia 16 e 0,75% no dia 22. Na outra ponta encontramos 1,55% de doutores na primeira marcha e 1,05% na segunda. A maioria absoluta, referente ao grau de escolarização esteve para terceiro grau incompleto (21,1%) na marcha dos ativistas e ensino médio completo (33,1%) dia 22. Diante do atual debate sobre as políticas de cotas para afro-brasileiros, nos interessou perceber como este se reverberava no seio dos ativistas - com o perfil educacional apontado aqui - uma vez ser esta uma das demandas inseridas na pauta de reivindicações propostas pelos organizadores da marcha. Na primeira marcha, 65,6% se posicionaram totalmente a favor da reserva de vagas para negros nas universidades. Menos de 49% dos entrevistados, no dia 22, estão entre os que concordaram inteiramente.

13

Jornal O Exemplo. Porto Alegre, julho de 1892.

36

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Dia 16 Discorda ou concorda com a reserva de vagas nas universidades.(a) Frequency

Percent

177

65,6

concordo em parte

50

18,5

Discordo totalmente

25

9,3

Discordo em parte

15

5,6

Total

267

98,9

ns/nr

3

1,1

270

100,0

Concordo totalmente

Total a Ação Afro. 16-11-2005

Dia 22 Discorda ou concorda com a reserva de vagas nas universidades.(a) Freqüência

Percentual

148

49,5

concordo em parte

54

18,1

Discordo totalmente

58

19,4

Discordo em parte

19

6,4

Total

279

93,3

ns/nr

20

6,7

299

100,0

Concordo totalmente

Total a Acão Afro - 22/11/2005

Inseridos na atual discussão encontram-se também as chamadas cotas sociais, que seriam aquelas para estudantes oriundos de escolas públicas. Para este item a marcha do dia 16 coletou 63,3% de respostas completamente favoráveis. Já no dia 22, um total de 54,5 % se mostraram favoráveis às cotas para estudantes de escolas públicas. O que significa dizer que um número superior dos respondentes via em bases mais favoráveis as cotas sociais que as raciais, que tem sido prioritariamente defendidas pelos movimentos negros, desde os anos quarenta (Nascimento,2003). Na mesma direção, o número dos que discordam dos dois tipos de reservas, embora num percentual muito próximo, é maior no dia 22, com 16,4% dos entrevistados.

37

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

Dia 16 Discorda ou concorda com a reserva de vagas para estudantes da escola pública em Universidades.(a) Frequency

Percent 171

63,3

concordo em parte

55

20,4

discordo totalmente

27

10,0

discordo em parte

10

3,7

Total

263

97,4

ns/nr

7

2,6

270

100,0

Concordo totalmente

Total a Ação Afro. 16-11-2005 Dia 22

Discorda ou concorda com a reserva de vagas para estudantes da escola pública em Universidades.(a) Frequência

Percentual

163

54,5

concordo em parte

57

19,1

discordo totalmente

49

16,4

discordo em parte

13

4,3

Total

282

94,3

ns/nr

17

5,7

299

100,0

Concordo totalmente

Total a Acão Afro - 22/11/2005

38

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

A busca pela formação educacional e profissional tem sido tratada, pelos movimentos negros, ao longo de sua história, como um dos pilares mestres para a inclusão social (Barcelos, 1992) e uma das grandes soluções para a mudança das condições de desigualdade social e racial. Inúmeras são as iniciativas implementadas por diferentes organizações - ao longo da trajetória dos movimentos sociais - visando a construção de uma cidadania para a população negra. Esta pode ser uma chave de análise para entender o expressivo percentual dos que responderam, em ambas as marchas, que a melhor maneira de combater o racismo repouse na educação. Dia 16 Melhor maneira de combater o racismo: Por meio da educação(a) Frequency

Percent

não mencionado

127

47,0

mencionado

142

52,6

ns/nr

1

,4

Total

270

100,0

a Ação Afro. 16-11-2005 Dia 22

Freqüência

Percentual

não mencionado

128

42,8

mencionado

167

55,9

ns/nr

4

1,3

Total

299

100,0

a Acão Afro - 22/11/2005 Em consonância com o olhar mais positivo para com as cotas sociais - que encontramos nas duas datas - tivemos a resposta à pergunta que questionava sobre ações do governo federal para diminuir a desigualdade racial na chegada às universidades. O item melhorar radicalmente a qualidade das escolas e do ensino público obteve 65,6% dos votos, secundado por aquele que se referia à necessidade de criar mais universidades públicas. A pergunta que se referia especificamente à reserva de vagas para estudantes negros, recebeu apenas um percentual de 14% na escolha dos entrevistados.

39

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

A respeito do cruzamento racismo e educação obtivemos dois resultados próximos, a partir de duas perguntas diversas. A primeira se referia aos principais problemas sofridos pela população negra no Brasil. Nesta, o acesso à educação foi mencionado por 12% dos respondentes. No mesmo percentual estavam as respostas à pergunta sobre a discriminação racial na escola. Perguntamos quais ações estavam sendo desenvolvidas no estado ou município, de origem no que diz respeito a questão racial, que têm o apoio e/ou cooperação do governo federal. A mais citada, com um percentual de 38, 1% das respostas foi aquela relativa à implementação da lei 10639/2003. A partir desta resposta talvez pudéssemos inferir que o fato de ser uma política pública cuja implementação repouse em grande medida da ação dos agentes envolvidos - professores, escolares, ativistas inseridos na luta pela melhoria da qualidade de ensino - sua aplicação esteja sendo mais efetivamente viabilizada que outras políticas. Citamos como exemplo, aquelas que visem combater as desigualdades e que repouse na atuação dos gestores a maior oportunidade de sua viabilização.

Alguns pensamentos conclusivos A simples titulação dada à atividade de 2005 (marcha Zumbi + 10). Já pressupõe uma conexão direta com aquela realizada em 1995. A idéia de continuidade discursiva e reivindicativa, além da oportunidade de avaliação, está inclusa no título (+ 10). No entanto, a julgar pela resposta dada por uma parcela dos participantes, este objetivo talvez seja mais presente na formulação das organizações, do que na prática dos ativistas. Referimo-nos ao fato – já mencionado anteriormente - de que um número percentual de apenas 8,5% no dia 16 e 11,7% no dia 22 responderam afirmativamente quando perguntados se haviam estado presentes na marcha ocorrida no mesmo local, dez anos antes. Quando observamos as respostas referentes à educação, escola e políticas referentes a estes temas, também ali notamos um descompasso entre a demanda dos líderes e a expressão representada nos dados da pesquisa, aqui, brevemente relatada. A Marcha do dia 16 foi interpretada por diferentes analistas como aquela em que estavam presentes uma maioria mais expressiva das ativistas do movimento. Percebemos nas respostas da primeira marcha (dia 16) uma pequena variância nas respostas relativas ao item sobre a razão para participar da marcha. Os temas elencados como i) lutar contra o racismo;ii) lutar por políticas públicas para a população negra; iii) Apoio às causas dos negros, foram os mais mencionados. Paralelamente, cerca de 20% dos entrevistados em ambas as marchas, apontaram como motivo para sua participação a oportunidade de novo aprendizado. O que reforça nosso argumento da presença de maior número de ativistas com menor longevidade de participação no movimento. As marchas, neste sentido, serviriam como referência de formação sobre o tema das relações raciais. Tal constatação pode sugerir uma renovação de movimento marcada pela entrada de novos ativistas. Ao mesmo tempo, como vimos nos dados analisados aqui, dificilmente, a não ser em alguns temas específicos, se poderia falar numa diferença marcante entre as repostas dos participantes de uma ou de outra marcha.

40

Teses e dissertações sobre Desigualdades Educacionais e Ação Afirmativa

V - ANEXOS

Sites da Internet http://marchazumbimais10.blogspot.com/ http://www.contee.org.br/secretarias/etnia/materia_12.htm http://www.lpp-uerj.net/olped/exibir_opiniao.asp?codnoticias=8945 http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/11/338135.shtml http://www.articulacaodemulheres.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=626&sid=77 http://www.realhiphop.com.br/colunas/negraro/index_12.htm http://www.ibase.br/pubibase/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1168&tpl=printerview&sid=127 http://www.ibase.br/pubibase/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1168&sid=127 http://www2.abong.org.br/final/informes_pag.php?cdm=14606 http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int.asp?cod=4763&cod_sis=17&cat=95 http://www.app.com.br/portalapp/uploads/publicacoes/Jornal_zumbi.pdf http://www2.abong.org.br/final/informes_pag.php?cdm=14485 http://www.lpp-uerj.net/olped/exibir_noticias.asp?codnoticias=9147

Comitê Impulsor Zumbi 10 - II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida: Agente Pastoral Negro do Brasil - APNS; Comissão Nacional Contra Discriminação Racial da Central Única dos Trabalhadores - Cncdr/CUT; Coordenação Nacional de Entidades Negras - Conen; Fórum Nacional de Mulheres Negras; Movimento Negro Unificado - MNU; Pastoral Afro; Setorial de Negros e Negras da Central de Movimento Populares - CMP; União de Negros Pela Igualdade - Unegro; Religião de Matriz Africanas; Juventude e Quilombolas;Centro de Articulação das Populações Marginalizadas - CEAP, Comitês Estaduais; RS, SC, SP, MG, ES, RJ, MS, MT, GO, DF, TO, BA, SE, PE, PI, CE, MA, RO PA, AP,AM.

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Lista de Organizações Participantes da Marcha Zumbi + 10 - 16 de Novembro de 2005 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54.

A Mulherada – Salvador/Bahia ABC Sem Racismo / São Paulo ABONG – Associação Brasileira de ONGs ABPN - Associação Brasileira de Pesquisadores Negros ACMUN - Associação Cultural de Mulheres Negras - RS ACMUN – Associação de Mulheres Negras/ Rio Grande do Sul ACONERU – Associação das Comunidades Negras Rurais do Maranhão Afirma – Comunicação & Pesquisa - RJ Afoxé Alafin Oyó – Recife/Pernambuco Afoxé Oyá Alaxé – Recife/Pernambuco Afropress - São Paulo AKANI – Porto Alegre/ Rio Grande do Sul AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras Amma Psique e Negritude - SP AMNB - Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras Anciãs do Amanhecer Negro contra a Discriminação Religiosa Articulação de Ongs de Mulheres Negras Articulação Estadual do MNDH – Pernambuco Articulação Negra de Pernambuco - PE Associação Cultural Omnirá - Maranhão Associação das Mulheres Negras de Goiás - GO Associação das Trabalhadoras Domésticas da Baixada Santista Associação de Capoeira Ladainha – Brasília/DF Associação de Donas de Casa contra a Carestia Associação de Mães contra a Mortalidade Materna Associação de Mães de Santo Gumenzala-Baixada SantistaAssociação Ori Odara- Uberlância - MG Bamidele – Organização de Mulheres Negras / Paraíba Banda Afgro Axé Dudu – PA Banda Visual Ilê- Brasília/DF Bloco Afro Abibimã – Maranhão Bloco Afro Didara – Maranhão CACES / Rio de Janeiro Cades - Centro de Artes de Santos Campanha Diálogos “Onde Você Guarda o Racismo?” Campanha Reaja ou Será Morto/Reja ou Será Morta - BA CANBENAS - Coletivo de Alunos Negros Beatriz Nascimento - GO Capoeira Palmares de Araras Caretada - Quilombo dos Amaros – Paracatu / Minas Gerais Casa da Cultura da Mulher Negra/Santos -SP Casa da Mulher Catarina/Florianópolis - Santa Catarina Casa Laudelina de Campos Melo – Campinas/São Paulo CCN - Centro de Cultura Negra do Maranhão CEAFRO – Educação e Profissionalização para Igualdade Racial e de Gênero CEDENPA – Centro de Defesa do Negro do Pará/Belém - Pará CEERT – Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades CENAP – Centro Nordestino de Animação Popular Centro Afro-Cultural Coisa de Negro - PI Centro Afro-Cultural Coisa de Negro – Piauí Centro Cultural Orunmilá - Ribeirão Preto - SP Centro D. Hélder Câmara – Recife/Pernambuco Centro das Mulheres do Cabo - Pernambuco Centro de Convivência Negra da UnB Centro de Cultura Luiz Freire – Recife/Pernambuco

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55. Centro de Cultura Negra do Maranhão - MA 56. Centro de Referência Negra Lélia Gonzalez/Goiás 57. Centro de Tradições Populares – Sobradinho/DF 58. Centro Laudelina de Campos Melo - Campinas 59. Cidadania Feminina – Recife/Pernambuco 60. Coletivo de Entidades Negras de Salvador/Bahia 61. Coletivo de Mulheres Negras – Rio Grande do Sul 62. Coletivo de Normalistas Negras – Porto Alegre – Rio Grande do Sul 63. Comissão dos Negros da OAB - Baixada Santista 64. Comissão Pastoral da Terra 65. Comissão Pastoral da Terra – Recife/Pernambuco 66. Comitê Zumbi + 10 do Pólo Coroadinho - Maranhão 67. Comitê Zumbi + 10 do Pólo Itaqui/Bacanga - Maranhão 68. Comitê Zumbi +10 do Pólo Liberdade - Maranhão 69. Companhia dos Comuns – Rio de Janeiro 70. Comunidade Bahá'í 71. Comunidade Quilombola Cedro – Goiás 72. Comunidade Quilombola Kalunga – Goiás 73. Comunidade Quilombola Kalunga de Cavalcanti – Goiás 74. Comunidade Quilombola Kalunga de Monte Alegre – Goiás 75. Comunidade Quilombola Kalunga de Teresina – Goiás 76. Comunidade Quilombola Mineiros – Goiás 77. Comunidade Visual Ilê - GO 78. Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de São Paulo 79. Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo 80. Conselho Municipal das Populações Afro-descendentes de São Luiz - Maranhão 81. Criola - RJ 82. Dignitatis – Recife/Pernambuco 83. EnegreSer – Coletivo de Estudantes Negr@s no Distrito Federal e Entorno 84. Erêgege/Salvador – Bahia 85. Escolas de Samba Porto Cristal de Rio Claro 86. Fala Negra - Paracatu - MG 87. Fala Preta - SP 88. Federação de Capoeira do Maranhão 89. Fórum de Entidades Negras de Goiás - Goiás 90. Fórum de Entidades Negras do Maranhão - Maranhão 91. Fórum de Entidades Negras do Mato Grosso do Sul 92. Fotur – Porto Alegre/ Rio Grande do Sul 93. Fundação Municipal Zumbi dos Palmares de Ituiutaba - MG 94. GAJOP - Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares – Recife/Pernambuco 95. GDAM - Grupo de Dança Afro Malungo – Maranhão 96. GECNI - Grupo de Estudos e Consciência Negra de Ituiutaba - MG 97. Geledés - Instituto da Mulher Negra - São Paulo 98. GESTOS – Soropositividade e Gênero – Recife/Pernambuco 99. Grupo Afro-Dance - Paracatu – Minas Gerais 100. Grupo Cultural Olodum - BA 101. Grupo de Capoeira Sol Nascente – Brasília-DF 102. Grupo de Consciência Negra de Ituitaba – Minas Gerais 103. Grupo de Mulheres Felipa de Souza /Rio de Janeiro 104. Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa – São Luiz/Maranhão 105. Grupo de Mulheres Negras Malungas – Goiás 106. Grupo de RAP Liberdade Condicional – Brasília - DF 107. Grupo Fala Negra – Minas Gerais 108. Grupo Negro Palmares Renascendo - Maranhão 109. Grupo Negro Palmares Renascer – MA 110. Grupo Panteras Afro Brasileiras 111. Grupo Tez – Trabalho Estudo Zumbi – Mato Grosso do Sul

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112. Grupo Transas do Corpo – GO 113. Iara Advogacia – RJ 114. Ilê Aiyê/Salvador - Bahia 115. Ilê de Exu / Rio de Janeiro 116. Ilê Manjelê Ô / Rio de Janeiro 117. Ilê Oju Oyá-Santos - SP 118. Ilê Omiojuarô / Rio de Janeiro 119. IMENA – Instituto de Mulheres Negras/Amapá 120. IMUNE – Instituto de Mulheres Negras/Pará 121. INABRA - DF 122. INCAB - Grupo de Capoeira Nzinga/ Brasília - DF 123. Instituto 21 de Março – Consciência Negra e Direitos Humanos/PR 124. Instituto AMMA Psique e Negritude/São Paulo 125. Instituto Cultural Steve Biko - Bahia 126. Instituto Kuanza - São Paulo - SP 127. Instituto Mariama/Bahia 128. Instituto Negras/ Ceará 129. Instituto Patrícia Galvão – São Paulo/SP 130. Interfórum Global – São José do Rio Preto/ SP 131. Ìrohìn - Comunicação a Serviço dos Afro-Brasileiros - DF 132. Jovens Negras de Santos 133. Maria Mulher Organização de Mulheres Negras/ Rio Grande do Sul 134. Movimento Hip Hop Favelafro – Maranhão 135. Movimento Hip Hop Quilombo Urbano – São Luiz/Marnhão 136. Movimento Rural Sem Teto 137. Mulheres Negras em União / Belo Horizonte/ Minas Gerais 138. NEAAD - UFG 139. NEINB/USP – São Paulo 140. Novo Mundo – Recife/Pernambuco 141. Núcleo Afro Brasileiro Santa Bakita 142. Núcleo de Universitárias Negras do Vale da Ribeira 143. Núcleo Rapensando de Vicente de Carvalho Samaritá - Cubatão 144. Núcleo Religiosas Negras da Capela Aparecida da Baixada Santista 145. Núcleos de Educadores Pró Educação Anti Racista de Santos 146. Nzinga - BH 147. Observatório Negro – Recife/Pernambuco 148. Oficina Affro – Maranhão 149. Organização de Mulheres Negras Maria do Egito - Sergipe 150. Pastoral Afro-Brasileira 151. Projeto Fala Negão 152. Projeto Quilombola Cadê Você - Ribeirão Preto - SP 153. Promotoras legais Populares - São Paulo 154. Promotoras Legais Populares do H.M. São Mateus/ São Paulo 155. Quilombo Acervo de Araras – São Paulo 156. Rádio Comunitária Conquista - Maranhão 157. Rádio Comunitária Liberdade - Maranhão 158. Rede Feminista de Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos 159. Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares - Pernambuco 160. REDEH/CEMINA – Rio de Janeiro 161. Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões – Pernambuco 162. Sindicato dos Urbanitários - Maranhão 163. Sinos Comunicação – Recife/Pernambuco 164. Sociedade Maranhense de Direitos Humanos - MA

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