Economia Política Internacional: uma análise histórica da vertente de pensamento

July 11, 2017 | Autor: A. Magalhães Barata | Categoria: Economia Política, Relações Internacionais
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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia
Mestrado em Relações Internacionais







Economia Política Internacional: uma análise histórica da vertente de pensamento







Professor: Haroldo Ramanzini Júnior
Aluna: Ana Laura Magalhães Barata





Uberlândia
2015
Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia
Mestrado em Relações Internacionais







Economia Política Internacional: uma análise histórica da vertente de pensamento




Artigo necessário para a conclusão da Disciplina Política Internacional no curso de mestrado em Relações Internacionais na Universidade Federal de Uberlândia
Linha de pesquisa: Economia Política Internacional





Uberlândia
2015
Resumo
Este artigo traz uma análise histórica da perspectiva de pensamento da Economia Política Internacional, perpassando por seus principais autores, a priori, independente dos embasamentos teóricos que a sustenta. Aqui são abordados conceitos advindo de autores da escola de pensamento norte americana e britânica, além da exposição de ideais estabelecidos desde a criação do termo até a sua utilidade contemporânea.

Abstract
This article sustains an historical analysisof the International Political Economy perspective and its way of thinking throughout its most important authors standalone the different theoretical foothold that it embraces at first place. The concepts discussed come from both American and British theories aside from the exposition of ideas created from its beginning to its contemporary utility.











Introdução
O termo Economia Política Internacional (EPI) nasceu com a necessidade de pensadores das Relações Internacionais em explicar o fenômeno de interação entre os Estados em uma conjuntura de Guerra Fria. Após a Segunda Guerra Mundial, a ordem que se dava por iniciada trazia aspectos que contradiziam os conceitos mais tradicionais das Relações Internacionais pautados no viés realista de maximização de poder, e, portanto, novas idéias surgiam ao longo dos anos na tentativa de explicar, principalmente, dois fatores: um cenário de bipolaridade estável (considerando estável um termo de não enfrentamento físico entre as duas potências mundiais da época: Estados Unidos da América e União Soviética) e a relação de interdependência não só entre ambas as potências, mas também entre os demais paísesdo globo, algo que se desenrolava de maneira complexa.
Na tentativa de excluir o Estado Racional como único ator relevante das Relações Internacionais, mas sem discriminar sua fundamental importância, pensadores surgiram no campo teórico em questão para demonstrar o poder das instituições e os regimes criados a partir delas, principalmente quando se trata de cooperação. Em 1945 nasceram organizações internacionais de diferentes vertentes para manter a paze a ordem no contexto anárquico, como por exemplo, as Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), etc; e se tornou relevante entender como a existência destes órgãos afetava, então, o comportamento individual dos Estados.
Na linha de pesquisa de EPI, disciplina cuja área de estudo aborda simultaneamente temas tanto da esfera política quanto econômica no contexto das Relações Internacionais, duas escolas de pensamento se destacam, a abordagem norte americana e a abordagem britânica. Dentre os autores americanos, será abordado o viés neoliberal de Robert Keohane, e Joseph Nye, além do conceito de regime de Stephen Krasner. Em relação à vertente britânica, Susan Strange e Robert Cox trazem a tona suas críticas ao ponto de vista anterior, abrindo caminho para contestações palpáveis e para o desenvolvimento da EPI em si.
"Há uma necessidade imperiosa de integrar o estudo da economia internacional com o estudo da política internacional para aprofundarmos nossa compreensão das forças em presença no mundo."
Robert Gilpin
A Economia Política Internacional
De acordo com o pensamento daquele que é considerado um dos pais da Economia Política Internacional (EPI)a abordagem em conjunto de temas políticos e econômicos se torna relevante devido ao peso que as duas disciplinas têm em conjunto(GILPIN, 1987). Segundo o autor, três linhas de pensamento se desenrolaram para explicar esta interação entre estado e mercado, são elas: a nacionalista, aliberal, e a marxista. Em sucinta explicação, tem-se que a primeira delas advoga sobre o pressuposto que a política é superior à economia, onde a segunda é regida pelos interesses da primeira. A linha de pensamento seguinte, explica que as esferas do ideal, do político e do econômico são separadas, e que, portanto, o mercado não deve sofrer interferências do Estado. O marxismo, por sua vez, sustenta o argumento de que a economia sustenta a política e as lutas entre as classes sociais delimitam a distribuição de riqueza. Mesmo chegando a conclusões conflitantes a respeito da natureza e das conseqüências da interação entre estado e mercado, Gilpin argumenta a importância do diálogo que a problematizarão entre as três vertentes traz, tornando possível o desenvolvimento de estudos sobre EPI.
A divisão da EPI é comum entre os autores que discutem sobre sua atuação, seja internamente, ao dividi-la entre vertentes de pensamento como demonstrado por Gilpin, ou externamente através de princípios de ideologia. Benjamin Cohen é um autor exemplo desta segunda maneira de divisão. Especialista em EPI, ele aponta dois tipos de escola de pesquisa que embasaram seus estudos em explicar a relação entre política e economia de maneira totalmente antagônica. De um lado, a linha de pensamento norte americana, cuja ontologia se baseia na centralidade do estado e o conceito de soberania, além da epistemologia reducionista, positivista e empírica sobre o assunto, da onde surgem autores como Robert Keohane, Joseph Nye e Stephen Krasner.
Keohane e Nyecriaram em conjunto a Política da Interdependência através de uma linha de pensamento denominadoInstitucionalismo Neoliberal. A ideia de que o mundo se tornava cada vez mais entrelaçado em relações políticas e econômicas demonstrava a dependência que vinha sendo criada, e na tentativa de explicar este fenômeno, os autores desenvolveram trabalhos como "Relações Transnacionais e Política Mundial" (1972) onde trouxeram o conceito de atores transnacionais, e "Poder e Interdependência" (1977), trabalho do qual surgiu a concepção de interdependência complexa. A noção de interdependência complexa é muito importante para entender o grau de desenvolvimento teórico de uma vertente de pensamento que vinha a se contrapor à noção de estado uno e racional dos realistas, tido como único ator relevante no sistema internacional. Esta nova maneira de entender as relações internacionais trazia aspectos comoo reconhecido dos múltiplos canais de comunicação, a ausência de hierarquia na agenda e a diminuição da importância do aparato militar como força de sobrevivência no cenário anárquico.
Stephen Krasner também é um autor relevante da linha de pesquisa americana de EPI, principalmente no que tange o entendimento de regimes internacionais. Em suas palavras: "regimes são princípios, normas, regras e procedimentos para a tomada de decisões, implícitas ou explícitas, em função dos quais as expectativas dos atores convergem em uma determinada área das relações internacionais."Através desta constatação, percebe-se a importância das normas como fatores que interferem em resultados, principalmente através da influência direta sobre o comportamento dos estados. A existência de organizações internacionais é um exemplo concreto deste tipo de percepção. Ao coordenar interesses entre países sob a égide de suas regras, as instituições moldam o fim de uma relação, ou seja, o produto final de um acordo ou negociação se torna conseqüência da relevância do seu trabalho reconhecidamente como autônomo, o que contrapõe, portanto, a ideia deestado como único ator racional da concepção racionalista.
Ainda sobre a contraposição ao viés racionalista, vem a abordagem de Peter Katzenstein sobre a importância da estrutura doméstica de um país para sua projeção internacional. Ao considerar fatores internos do estado, o autor abre a caixa preta para entender sua composição, alegando a importância da análise dos dois níveis par o melhor entendimento do relacionamento complexo entre os países.
O nascimento da vertente americana é considerado como construído em pilares da ciência política, embora tenha absorvido elementos de economia internacional. O diálogo proposto seria referente às conseqüências políticas do relacionamento entre estados e a sua construção através da lógica da disciplina de Relações Internacionais, a priori. A ideia era analisar politicamente os conflitos, e a EPI foi se desenvolvendo de maneira abstrata, se apoiando em deduções lógicas e modelos teóricos de parcimônia no estilo reducionista.
A linha de pesquisa britânica é considerada como fundada por pesadores críticos da EPI, como Susan Strange e Robert Cox. A autora é tida como uma das pioneiras desta linha, principalmente por ter criado uma rede de pesquisa através de um grupo de pesquisa chamado IPEG cuja liderança expressa sua perspectiva de "abertura intelectual", normatização da teoria, e a noção de crítica necessária. "IPE should be about justice, as well as efficiency: about order and national identity ad cohesion, even self-respect, as well as about cost and price." (STRANGE, 1984). Estas características perpassam na ideia de crítica à vertente teórica realista de EPI que se mantinha embasada nos pilares note americanos.
Robert Cox, por sua vez, que embora fosse canadense é considerado um pensador de EPI Britânica, trouxe a importância da análise entre as esferas econômicas e políticas nas relações internacionais através da perspectiva histórica. Sua concepção partia da ideia de que muito mais que uma interdependência econômica estava acontecendo e que as mudanças deveriam ser vistas de maneira não isolada no sistema. Ele aceitava a ideia dos atores transnacionais e as forças sociais como relevantes para as relações de produção das diversas esferas de atividade, e além disso, a noção da sociedade complexa, o que deixa claro a importância dos diversos fatores que compõe o estado, desconsiderando, portanto, o estadocentrismo da noção norte americana.
Em suma, os trabalhos de Susan Strange e Robert Cox trouxeram uma visão para o campo de estudo de EPI através da contestação, ou seja, pesquisas poderiam ser desenvolvidas através de perguntas fora do mainstream, além de metodologias diferentes da note americana, partindo da aceitação de onde novos pontos de vista que também seriam considerados certos e também seriam aceitos no campo de pesquisa desde que trouxessem relevância para os estudos. O campo crítico foi bem aceito dentro das universidades. O encorajamento para contestar a teoria considerada 'suprema' convergia com a crítica revisionista do capitalismo moderno. Uma análise, mais inclusiva e sensível ao papel das instituições e à importância da história também é característica da vertente de EPI britânica.
Para Benjamin Cohen (2007) as duas concepções de EPI são válidas e não excludentes. Em sua opinião, quando uma das teorias falha para explicar determinado objeto a outra é bem-sucedida ao fazê-lo. Ele acredita que lacunas de um lado são preenchidas por ideias do outro, e o diálogo entre as vertentes é de extrema importância para o desenvolvimento da teoria como um todo, além de trazer e o benefício para o campo de pesquisa. Embora exista um preconceito embasado, inclusive nas bases epistemológicas, ontológicas e de ideologia entre os dois panoramas, ao considerá-los complementares acontece uma evolução do campo de pesquisa, abrangendo assim noções que deixam de ser consideradas americanas ou britânicas, mas de característica da EPI como um todo.
A evolução da EPI aconteceu ao longo da história de maneira dinâmica, segundo a abordagem de Keohane (2009). No inicio de sua trajetória, ela surgiu pra explicar as transformações econômicas e o fator da interdependência, mas principalmente através de deduções. Atualmente, é possível analisar empiricamente os desdobramentos da evolução da EPI como disciplina, e em especial os seus objetos de estudo. Os impactos das transformações econômicas em escala global e o surgimento de novas potências no cenário internacional, a volatilidade do mercado financeiro e do mercado de energia, além de fatores tecnológicos como a internet são agentes que moldaram as estruturas de poder. O conceito de 'geoeconomia' surgiu neste aspecto com Luttwack (2001) com a substituição de termos antes considerados fundamentais como formuladores de política, são eles: o poder de fogo, antes considerado fator primordial para manutenção de poder, fonte de poderio militar, característica que mantinha os estados em segurança e seu status quo, foi substituído pelo capital de investimento que o Estado fornece para sua indústria doméstica, sendo este considerado agora um fator de relevância para a manutenção da ordem. Além deste, a inovação armamentista que fora substituída pelo desenvolvimento de produtos subsidiados pelo estado, e as bases e guarnições militares que atualmente são comparadas com a importância da penetração de mercado de indústrias que são apoiadas pelo Estado e ainda, a influência diplomática. Percebe-se uma reposição de fatores de poder por outros, primordialmente relacionados ao setor econômico, com bastante ênfase na troca do que antes era considerado importante por ser de cunho militar e agora envolve o papel do Estado como regulador de interesses econômicos internos.
Esta mutação de fatores no cenário internacional e a crescente importância de elementos tecnológicos tornam pertinente a formulação de pontos abordados por Keohane (2009) em seu artigo "The old IPE and the new". Primeiramente, o autor desconsidera a Teoria da Dependência para explicar a relação centro-periferia alegando a importância do surgimento de escolas de pensamento crítico advindo de países em desenvolvimento. Dessa forma, seria possível obter dados empíricos destes lugares sem a conotação 'hegemônica' norte americana, e finalmente entender através de outra perspectiva a interdependência entre os fatores econômicos e políticos com enfoque na história proveniente de outros narradores. Em segundo lugar, o papel da China, que se tornou um jogador em potencial na Arena Internacional, principalmente no quesito de trocas e finanças, destacando, portanto, o potencial de surgimento de novos países de relevância no sistema. É interessante destacar também a influência de fatores reducionistas na abordagem contemporânea de EPI, antes com baixo enfoque, como por exemplo, o papel do petróleo. É um produto que afeta a economia e a política, principalmente quando relacionado a conflitos civis e ao ser assunto na agenda de política externa de alguns países por possuir influência no mercado financeiro e em setores de energia. A evolução na abordagem de EPI considera o surgimento de regras e leis administrativas globais, além da indicação de que o estudo se desloca para uma abordagem de Política Econômica Global na tentativa de explicar as interações entre os atores que se tornaram globais.
O papel das instituições também passou a ser foco das abordagens de EPI. A noção de atores transnacionais sustenta a idéia de relevância do trabalho das organizações internacionais e o papel da globalização como fomentadora deste acontecimento. Uma sociedade diversificada e composta por atores soberanos, cada qual com sua autonomia e nacionalidade podem interagir entre si sem conflito de interesses? O ONU, por exemplo, surgiu como reguladora das relações anárquicas para manter a paz, mas houve mutações em seu papel ao longo da história. A necessidade da padronização de comportamento dos estados através de regras internacionais se deu para facilitar a manutenção do sistema em escala mundial, mas as mutações dessas mesmas regras também devem acontecer caso seja necessário, afinal, é imprescindível o acompanhamento entre ambas as partes na trajetória de acontecimentos do mundo. A conjuntura não é estática e nenhuma abordagem política deveria ser. A EPI, portanto, ao se desenvolver como uma linha de pensamento que leva em consideração as transformações em escala mundial caminha para uma análise abrangente e integrada entre os diversos fatores que a compõe. Desde seu surgimento para explicar a interação entre os países pós Segunda Guerra Mundial, e a instauração dos pressupostos de Bretton Woods, como posteriormente o entendimento da relação bipolar entre Estados Unidos e União Soviética além das formas de poder que ambos os países exerciam são simultaneamente importantes com a abordagem que surgiu com o despontamento tecnológico do Japão e pólos asiáticos, bem como o entendimento dos modelos de desenvolvimento aceitos pelos países africanos e latino americanos, e o enfoque no padrão neoliberal da esfera econômica. Explicar a interação entre política e econômica em âmbito internacional é por si só dinâmico e complicado. A discussão não pode ser pautada apenas em contrates de linhas de pesquisas, mas em embasamentos críticos de larga escala, e é ao longo de sua trajetória que se faz história, enquanto o mundo se torna cada vez mais interdependente ao mesmo tempo em que os países não perdem suas autonomias particulares.














Referências:
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COX, Robert. 1981 Social forces, states and world orders: Beyond International Relations Theory, Milenium, 10(2): 126-155
GILPIN, Robert. A economia política das relações internacionais, 1987; tradução de Sérgio Bath- Brasília, 2002.
LUTTWAK, Edward. Turbocapitalismo: perdedores e ganhadores na economia globalizada. São Paulo, Nova Alexandrina, 2001
KATZENSTEIN, PETER L., 1978. 'Introduction: Domestic and International forces and strategies of foreign economic policy' in Between Power and Plenty: Foreign Economic Policies of Advanced Industrial States, Madison, WI: University of Wisconsin Press, p.3 – 22
KEOHANE, Robert. 2009. The old IPE and the new. Princeton University, Princeton NJ, USA.
KEOHANE, Robert; Nye, Joseph Transnational Relations and World Politics in Transition Boston: Little Brown, 1972.

___________________________Power and Interdependence: World Politics in Transition, Boston: Little Brown, 1977.

KRASNER, Stephen. (1982), Structural Causes and Regime Consequences: Regimes as Intervening Variables. International Organization, vol. 36, nº 2, pp. 185-205.

STRANGE, Susan. 1984 'Preface', in Paths to International Political Economy, London: George Allen & Unwin, p ix-xi.


GILPIN, Robert. (1987) Título original: The Political Economy of International Relations. Princeton University. p.20
COHEN, Benjamin. Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia em 1963, especialista em Economia Política Internacional, autor do artigo The Translatlantic divide: why are americanandbritish IPE sodifferent ?Review of Internacional Political Economy, May 2007
KEOHANE, R; Nye, J. (1972) Transnational Relations and World Politics, (Tradução livre)
KEOHANE, R; Nye, J. (1977) Power and Interdependence(Tradução livre)
KRASNER, Stephen. (1982) "Structural Causes and Regime Consequences: Regimes as Intervening Variables".International Organization, vol. 36, nº 2, pp. 185-205. 
IPEG sigla de International Political Economy Group, grupo de pesquisa fundado por Susan Strange em 1971 que atualmente ainda existe ao estar vinculado com a Associação Britânica de Estudos Internacionais

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