Pensamento-Doutrina-algumas definições

September 7, 2017 | Autor: Paula Frazão | Categoria: Filosofia, Teologia, História da Igreja
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O Pensamento Social Cristão pode traduzir-se pela reflexão que a
igreja tem feito ao longo dos tempos acerca das questões sociais, a partir
de documentos oficiais que não são estanques, são dinâmicos, estão em
permanente atualização e tentam acompanhar as constantes alterações
sociais. Estes documentos, principalmente a partir do século XIX permitiram
à igreja posicionar-se, como instituição, num papel de intervenção, perante
a realidade da sociedade. Não significa que a igreja não se tenha debruçado
anteriormente sobre as questões sociais, contudo, oficialmente é atribuído
aos leigos um papel interventivo e reconhecida a ajuda insubstituível na
identificação e resolução das questões mais prementes.

«A questão (da Igreja) não é entrar na política partidária, mas sim na
grande política que nasce dos mandamentos e do Evangelho." Cardeal Jorge
Bergoglio, Papa Francisco

A Doutrina Social da Igreja é composta por um conjunto de doutrinas,
cujos conteúdos e ensinamentos são fruto da dedução teórica resultante de
experiências orgânicas e sistemáticas ao longo dos tempos, a partir da
constituição e da organização das sociedades, tendo como objetivo o bem
comum e o ensinamento social. Para tal, a dimensão histórica e prática das
intervenções perpetuadas pelo magistério, permitiu fazer a leitura dos
sinais dos tempos. Não é rígida é uma busca em permanente reflexão. Traduz-
se por um conjunto dos ensinamentos contidos na doutrina da Igreja
Católica e no Magistério da Igreja Católica é composta de
numerosas encíclicas e pronunciamentos dos Papas inseridos na Tradição.
Tendo as suas origens nos primórdios do Cristianismo, a sua finalidade é
fixar princípios, concretizar o Evangelho estando atenta às realidades
compreendendo as alterações que a sociedade sofre partindo de critérios e
diretrizes gerais a respeito da organização social e política dos povos e
das nações. O concílio Vaticano II permitiu olhar com outros olhos esta
realidade penetrando-a a partir da interpretação do evangelho. A finalidade
da doutrina social da Igreja é conduzir os homens à ação, com o auxílio
também da reflexão racional e das ciências humanas em interdisciplinaridade
com a sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena em
permanente diálogo. A finalidade última da doutrina social da igreja é
pois, interpretar estas realidades examinando se estão em conformidade ou
não, com as linhas orientadoras do Evangelho acerca do género humano e da
vocação terrena e simultaneamente transcendente.
A Doutrina Social da Igreja é por isso uma resposta doutrinal que se
tem vindo a estudar, desenvolver, trabalhar, aperfeiçoar e adequar à
realidade dos nossos tempos algumas foram as tentativas de resposta e
alerta ao longo dos tempos, nomeadamente a Carta Encíclica Solicitude Rei
Socialis, 41, de João Paulo II. Tem como objetivo servir de orientação ao
comportamento cristão, pertence por isso, não ao domínio da ideologia, mas
ao domínio da teologia, concretamente da teologia moral. A doutrina social
da Igreja tem um papel determinante e fundamental para que Princípios como
a equidade e a igualdade sejam colocados em prática.

A Ação social da Igreja poderá definir-se como o conjunto de
atividades da igreja destinadas à solução dos problemas sociais, a partir
da caridade e visando o desenvolvimento integral, que atinge a sua
plenitude na bem-aventurança eterna. Para que os princípios de
solidariedade, de subsidiariedade e de equidade possam coexistir, os
governos, as instituições, a população em geral, e os cristãos em
particular devem criar condições para que todos, sem exceção possam ter as
necessidades básicas garantidas, que de acordo com a Pirâmide de Maslow
partem do exterior para o interior, físico e fisiológico, de Segurança, de
Amor e Relacionamento, de Estima e de Realização Pessoal, ora sabemos que a
dimensão espiritual é determinante para a serenidade do ser humano, mas se
as anteriores não forem garantidas, é quase impossível conseguir o que quer
que seja. A caridade é a base dinamizadora, e a finalidade a alcançar é o
desenvolvimento integral, que só na bem-aventurança eterna se realiza em
plenitude. A Igreja não pode ser substituída por nenhuma organização humana
esta ação é da responsabilidade social da Igreja em parceria e nunca
isoladamente.
A Responsabilidade Social da Igreja traduz-se no papel efetivo que os
cristãos, tendo como exemplo Jesus Cristo devem ter partilhando com os que
têm menos para que desta forma possam todos ter um pouco mais e, alertar as
consciências de todos para uma partilha, de forma a equiparar uns aos
outros. Não chega ajudar com géneros, devem-se dar também ferramentas
necessárias para que consigam condições para lutar pelo que precisam.
Ensinar a fazer. As sociedades devem organizar-se a fim de criar
infraestruturas capazes de suportar as dificuldades inerentes à queda de
Bancos, à falta de dinheiro, à falta de alimentos, que afetam sempre os
menos afortunados. É praticamente impossível chegar aos corações, quando os
corpos têm fome, estão doentes, quando lhes são negadas as condições
básicas de sobrevivência. No entanto, sabemos que estas alterações só serão
possíveis, com profundas transformações, primeiro no interior de cada um de
nós e depois nos grupos mais ou menos visíveis e nas organizações
governamentais ou não-governamentais, concretizando a CARIDADE que se
traduz por um tipo de amor que se dá sem esperar recompensa, do grego –
agapê – caridade ao serviço da Justiça e da Paz. Este tipo de amor não se
dirige ao Homem em geral, mas à Pessoa em particular, aquele com quem nos
cruzamos e, não precisa de planificação no tempo.
Do Discurso Social Cristão fazem parte um conjunto de narrativas
oficiais da Igreja e que se debruçam e refletem sobre a necessidade do
"Amor ao Próximo", na necessidade de criar uma "Civilização do Amor" e
partem da premissa fundamental de que todos os bens da terra pertencem a
todo o género humano. O discurso de partilha do capital e do trabalho dos
ricos com os mais pobres, vem da intenção de estabelecer a harmonia entre
classes hierarquicamente diferentes. A narrativa de ajuda ao Próximo, nas
palavras de Jesus Cristo, não está relacionada com a reciprocidade das
relações de parentesco. O Próximo é quem se cruza no nosso caminho, baseia-
se na gratuidade. A Caridade ao serviço dos outros é o objeto da mensagem
cristã. Todo o Cristão deve testemunhar o seu amor compassivo a Deus e aos
outros, na doação plena e na interpelação ao Divino, no Dom da
responsabilidade, ao serviço da Humanidade.
Ao longo da história da humanidade e da igreja muitos foram os que
perceberam e envidaram esforços teóricos e práticos para colocar ao serviço
de todos, aquele que é o Mandamento do Amor de Jesus Cristo: " Amai-vos uns
aos outros como Eu Vos Amei e ao Próximo como a vós mesmos" (Jo 13,34), na
certeza porém, de que "Aquilo que fizerdes ao mais pequenino dos meus
irmãos, é a mim que o fazeis" (Mt 25, 40). Se conseguirmos realizar estes
dois princípios de Jesus Cristo estaremos todos a colocar em prática o
Pensamento Social Cristão.
Em jeito de conclusão a igreja do mundo contemporâneo é aquela que é
conservada e orientada pelo amor do Criador, cuja humanidade tem tido
momentos de insanidade e pecado, mas a quem Jesus Cristo veio devolver a
Luz pela sua morte e ressurreição, a fim de alcançar o objetivo último,
consumar a natureza divina do Homem, pelo homem. "O desenvolvimento
integral do homem não pode caminhar sem o desenvolvimento solidário da
humanidade." (Populorum Progresio 43). Como se pode pedir às crianças que
estudem, aprendam, trabalhem quando não estão reunidas as condições
básicas?! Claro que continua a haver famílias catalogadas nos escalões mais
carenciados que simplesmente não precisam desse apoio e que só o recebem
porque as famílias não declaram os reais rendimentos, mas fazer essa
inspeção cabe ao Estado, para que não continuem a ser cometidas tantas
injustiças. Contudo, cabe também a cada um de nós, individualmente e a
todos enquanto sociedade, e a cada Cristão o dever moral de contribuir para
uma justiça social mais equitativa e participar na recuperação da sociedade
e principalmente dos mais necessitados.
"As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos nossos
contemporâneos, sobretudo dos pobres e dos aflitos, são também as alegrias
e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo, e
nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração."
Gaudium et Spes
A preocupação do CVII pelo Ser Humano em geral e pelos mais
necessitados em particular é notória e dirige-se a todos os filhos da
igreja católica, mas apela à intervenção de todos os Cristãos e a uma ação
concertada no mundo contemporâneo, o mundo de toda a família humana, "mundo
que é o teatro onde se desenrola a história do género humano…" com todas as
vicissitudes que dele fazem parte.
Paula Frazão
Professora e Psicóloga
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