\" QVAE AD HUMANITATEM PERTINENT - Um vínculo Comum nas Artes em Roma no Final da República \" (notas)

July 24, 2017 | Autor: Angélica Chiappetta | Categoria: Cicero, Retórica
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" QVAE AD HUMANITATEM PERTINENT - Um vínculo Comum nas Artes em Roma no
Final da República " (notas)

No exórdio do discurso em defesa do poeta Árquias, Cícero afirma
que sua excelência como orador, se é que, como afetadamente duvida, possue
alguma, deve-se, em grande parte, aos ensinamentos deste seu constituinte.
Afinal, todas as artes que dizem respeito à cultura humanística, como é o
caso da oratória e da poesia, têm um vínculo comum. Este vínculo, não
especificado pelo orador, é lugar-comum nos discursos teóricos da
Antigüidade. Está, por exemplo, na extensa lista de comparações entre
poesia, de um lado, e pintura e escultura, de outro.
Simônides teria sido o primeiro a dizer que a pintura é poesia muda e
a poesia, pintura falada. Horácio utiliza a comparação para discutir
conveniências relativas ao decoro estilístico de poemas. Moralizando a
leitura de poesia, Plutarco diz que os poetas fabricam imagens com o
objetivo de encantar e convencer; não estão preocupados com a verdade. O
equívoco que pode prejudicar os jovens ao lê-los é confundir as tarefas e
tomar o que os poetas dizem como verdadeiro. Compara, então a poesia à
pintura : se um artista pinta Medéia matando os filhos, devemos reprovar a
ação e apreciar a arte, ou seja, devemos julgar se o assunto está sendo
imitado com propriedade. Não é o mesmo imitar uma coisa bela e imitá-la
belamente, uma vez que "belamente" significa "adequada e propriamente" e as
coisas feias são adequadas e próprias ao feio.
O vínculo afirmado poderia justificar um tentativa de depreender, a
partir de discursos de Cícero que se referem à pintura e escultura (a
Segunda Ação Contra Verres, por exemplo) o estatuto das chamadas artes
visuais na Antigüidade. No entanto, o discurso de Cícero, seja ele qual
for, está comprometido com a persuasão do público e não com o registro da
verdade. Ainda assim, Cícero deve garantir verossimilhança a seus
argumentos e, portanto, podemos, com certa precaução, concluir, por
exemplo, que as obras de arte eram vistas como pertencentes a pelo menos
dois grupos : um primeiro, digamos por comodidade, ornamental, e um segundo
religioso (Verres é tão doentio que rouba até obras deste tipo). Neste
segundo grupo, estão os objetos artísticos que fazem parte do espólio da
cidade ou da família e que compõem a sua honra e tradição. Na política e
sociedade Romanas, era considerado inapropriado demonstrar grande interesse
por objetos do primeiro grupo. Estes eram tidos como mero ornamento e seus
admiradores, pelo menos em público, meros diletantes; o que tende a
desencorajar oradores públicos a mostrar-se muito interessados no assunto.
Para tentar estabelecer o estatuto das artes visuais na Antigüidade,
talvez devêssemos usar de outro modo as informações contidas nos discursos
de Cícero. Poesia,retórica, pintura, escultura são todas artes que, como já
dito, têm um vínculo comum. Este é mais facilmente apreensível a partir da
retórica, a grande instância de teorização da Antigüidade.
A pintura antiga não está interessada em exprimir uma subjetividade
irredutível a qualquer outra, mas sim em mostrar formas já conhecidas e
apreciadas, a cada vez habilmente realizadas e sutilmente diferenciadas. De
um ponto a outro de suas transformações, a pintura antiga vai descobrindo
não o real (com o que retoricamente ela não teria nada a fazer), mas sim o
seu próprio estabelecimento como arte : é assim que nas composições do
chamado quarto estilo, encontram-se com freqüência reproduções de muros
pintados de acordo com o gosto do chamado terceiro estilo, ou seja, a
pintura imita a ela mesma, sentindo prazer em modificar os ecos da
representação, em reduplicar as imagens que ela produz.
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