0 VELUDO SELVAGEM DE DAVID LYNCH: A ESTÉTICA CONTEMPORÂNEA DO SURREALISMO NO CINEMA OU 0 CINEMA NEO-SURREALISTA

May 19, 2017 | Autor: Rogerio Ferraraz | Categoria: Surrealism, Cinema, David Lynch
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UNIVERSIDADE EST ADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES

0 VELUDO SELVAGEM DE DAVID LYNCH: A ESTETICA CONTEMPORANEA DO SURREALISMO NO CINEMA OU 0 CINEMA NEO-SURREALISTA

ROGERIO FERRARAZ

CAMPINAS - SP 1998

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES Mestrado em Multimeios

0 VELUDO SELVAGEM DE DAVID LYNCH: A ESTETICA CONTEMPORANEA DO SURREALISMO NO CINEMA OU 0 CINEMA NEO-SURREALISTA

ROGERIO FERRARAZ

Dissertayao apresentada ao Curso de Mestrado em Multimeios do Institute de Artes da Unicamp como requisite parcial para a obtenyao do grau de Mestre

em

Multimeios

sob

a

orientayao do Prof. Dr. Ivan Santo ~ ""'empl.,r ~ " r~d,.~lle tlaal dli -

Barbosa.

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CAMPINAS - SP 1998

•-• •• •• FICHA CATALOGAAFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

F412v

Ferraraz, Rogerio 0 veludo selvagem de David Lynch: a estetica contempori:mea do surrealismo no cinema ou o cinema neo-surrealista I Rogerio Ferraraz. -- Campinas, SP : [s.n.], 1998. Orientador : Ivan Santo Barbosa. Disserta9ao (mestrado)- Universidade Estadual de Campinas, Institute de Artes. 1. Lynch, David. 2. Banuel, Luis, 1900-. 3. Surrealismo no cinema. 4. Cinema americana. I. Barbosa, Ivan Santo. II. Universidade Estadual de Campinas, Institute de Artes. Ill. Titulo

•• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • I

Aos meus pa1s, Claudio Ferraraz e Laila Daher Ferraraz, que, com amor

e compreensao, me apoiaram em todos os momentos de minha vida.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, que financiou esta pesquisa. Ao Prof. Dr. Ivan Santo Barbosa, meu orientador, que me mostrou, com paciencia e aten91io, a importiincia do dialogo na busca dos melhores caminhos para o desenvolvimento criativo do trabalho.

A CPG do Instituto de Artes, na pessoa da Profa. Dra. Helena Junk, presidenta da Comissao.

A SCPG de Multimeios, na pessoa do Prof. Dr. Ferniio Ramos, presidente da Subcomissao. Ao Departamento de Multimeios, na pessoa do Prof. Dr. Adilson Ruiz, chefe do Departamento. Aos

funcioniirios

da

CPG,

especialmente

ao

Jaime,

e

do

Departamento de Multimeios, especialmente ao Elcio, pela considerayao e paciencia com que sempre me atenderam. Aos professores doutores Jose Mario Ortiz Ramos e Lucia Nagib pelas dicas e pelos conselhos preciosos que me deram no exame de qualificayao, bern como durante as disciplinas por eles ministradas.

A Profa. Dra. Janira Fainer Bastos, por ter me iniciado no campo da pesquisa academica e pelo apoio que me oferece ate hoje. Ao Prof. Dr. Manoel Luiz G. Correa, pela forya e incentivo.

A Fabiane Rodrigues Stefano, por todo o amor e compreensao. Aos meus amigos que sempre me apoiaram, especialmente Marcus (Kinho), Andre, Emerson, Cinthia, Marcelo, Flavia, Marcelo (Tike), Vanessa, a turma do Multimeios e todo o pessoal de Guararema. Ao meu irmao, Claudio Ferraraz Jr., a quem eu devo o inicio de minha paixao pelo cinema. Aos meus familiares, especialmente meus pais, avos, tios, minhas primas e minha cunhada, por todo amor e carinho.

Resumo

Esta dissertayao tern como finalidade demonstrar que o cineasta norte-americano David Lynch renova as caracteristicas do surrealismo em seus filmes, realizando uma especie de cinema neo-surrealista, como denominamos aqui. Para comprovar essa hip6tese, realizamos, numa pnme1ra etapa, o levantamento dos dados biograficos e bibliograficos de e sobre Lynch, bern como a pesquisa de sua obra - incluindo-se aqui seus trabalhos para o cinema,

para

a

televisao,

alem

de

suas

fotografias

e

pinturas.

Concomitante, desenvolvemos o estudo do Surrealismo e de filmes realizados nas decadas de 20 e de 30, epoca inaugural do movimento, e que, reconhecidamente, traduziram os preceitos da arte e da estetica surrealista no cinema. Dentre os varios artistas e filmes pesquisados, fixamos nossas observayoes no conjunto da obra de Luis Bufiuel, desde 1928 ate 1977, respectivamente os anos do primeiro e do ultimo filme do

cineasta espanhol. Numa segunda etapa, realizamos a analise de alguns filmes, especialmente Veludo azul, de David Lynch, e Urn ciio andaluz, de Luis Bufiuel e Salvador Dali, buscando identificar quais caracteristicas do cinema surrealista sao apropriadas e atualizadas por Lynch, tendo em mente que seu cinema estabelece novas significa96es e novos paradigmas em relao;ao a estetica surrealista.

Sum ario Introducao - Desmontando o relogio surrealista Metodos e fundamentos te6ricos Etapas e procedimentos de andlises

13 19

Parte I - A navalha surrealista de Luis Builuel

23

Capitulo I - Panorama da arte e do cinema surrealistas Dadaismo 0 Surrealismo 0 movimento A arte

24

0 Surrealismo e o cinema Capitulo II - Luis Builuel 0 "manifesto" de Builuel

7

26 30 32 34 41 50 52

!dade Media, fe e desejos A Residencia, Paris e o cinema Builuel no Mexico As ziltimas obras

56

Capitulo III - Cortando as amarras sociais Urn ciio andaluz A rendeira

67

Os amantes A pesada farda social

57 61 62

69 70 72 73

Parte II - 0 veludo selvagem de David Lynch

75

Capitulo IV - 0 cinema atual e as possibilidades criativas

76

Aspectos da modernidade e o p6s-moderno Visoes opostas: Jameson e Huyssen 0 cinema contempordneo e sua diversidade 0 caso de David Lynch

78 81 85

89

Capitulo V - 0 obscuro universo de David Lynch Os primeiros curtas Eraserhead 0 homem elefante

Dun a Veludo azul Corw:,:ao selvagem Twin Peaks, a serie e o longa A estrada perdida Capitulo VI - Entre o ceu azul e a escuridao da terra

Veludo azul Contrastes e contrapontos Inicio Final Os sons de Lumberton Lumberton, ou poderia ser a qui... Insetos que devoram e sustentam a America

92 95 95 96

98 99

100 101 103 107 109 110 112 115

116

121 122

Parte III - 0 encontro das estradas surrealistas

126

Capitulo VII - 0 "neo-surrealismo" de David Lynch A beleza convulsiva 0 amor louco 0 humor negro

127

0 acaso e o misterio Desfazendo as amarras do tempo

129 132 133

133 134

Conclusiio - Tecendo os fios surrealistas

137

Trabalhos de David Lynch

142 143 143 144 147

Direc;ao Curta-metragem Longa-metragem Televis[io Video Produc;ao

149

151

Como ator Participat;iio em documentdrios Publicidade A1usica Quadrinhos Exposif;oes - Pinturas e Fotografias

151

152 152 153 153 153

Obras pesquisadas 154 Bibliografia 154 Livros 154 Artigos, entrevistas, catdlogos e textos de palestras 163 Sites 168 Filmes 169

Persistencia da Memoria- 1931 - Dali







•• t

t ~

~

•• • •• ••

I

I

Introducao Desmontando o rel6gio surrealista

9

0 absurdo

ea

crem;a de que uma

l6gica especifica (chamada raziio) possa

dominar

a

l6gica

do

misterio. Rene Magritte

Talvez

nos

todos

estejamos

vivendo dentro de um sonho, na verdade. David Lynch

A busca de novas formas de organiza9ao do conhecimento e de novos

campos

artisticos

deve

ser uma

constante

nas

pesqmsas

cientificas em Artes e Comunica96es, da mesma forma que foi uma constante nas pesquisas plasticas e cinematograficas desenvolvidas pelos surrealistas. Nada mais pertinente, portanto, que a tentativa de se refletir sobre as influencias que esse movimento da vanguarda artistica do inicio do seculo exerceu sobre os processos criativos em nosso tempo e refletir sobre os diferentes sistemas de significa9ao dos varios

mews que trabalham com a imagem e suas inter-rela96es (cinema, televisao,

fotografia

e artes

plasticas),

porem,

centrando

nossas

analises no meio cinematografico. A escolha da obra do norte-americano David Lynch recai sobre o fato de que nela podemos observar a revaloriza9ao das caracteristicas surrealistas, alem de tratar-se de urn artista contemporiineo pelo qual ainda nao formulamos conceitos hist6ricos estabelecidos. Nossa analise recai, portanto, na arte contemporiinea (ou p6s-moderna),

ja que as outras, se niio estiio totalmente encontram-se

recuperadas, em

Jase

de

10

banalizar;do

(ndo

que

intrinsecamente sejam vazias de expressdo,

mas

e

que

nossos

sentidos ja estdo educados para comunicar-se com etas, e assim niio

apreendemos

expressividade .. .).

sua

1

Analisar as praticas de citavao, par6dia ou pastiche, levando-se em consideravao o contexto em que ocorrem essas transposiv5es, permitira ao trabalho apontar para as inspirav5es e para as novas significav5es

propostas

pelo

cmema

David

de

Lynch

e

suas

caracteristicas chamadas aqui de neo-surrealistas. 0 Surrealismo surgiu como urn movimento que pretendia negar a estetica, os valores estabelecidos de uma sociedade burguesa e burocratica.

Primeiramente,

as

pesqUlsas

pbisticas

realizadas

por

pintores desde o inicio dos anos 20 procuraram uma ruptura completa com as tradiv5es aceitas da expressao artistica. A fundavao te6rica do Surrealismo como movimento organizado ocorreu em 1924, com a publicavao do Manifesto do Surrealismo, escrito por Andre Breton. Enquanto urn movimento, o Surrealismo teve dois momentos principais, reflexos das duas grandes correntes de pensamento

que

moveram

seus

artistas.

Num

primeiro

influenciados pelas pesquisas de Sigmund Freud, os

instante,

surrealistas

buscaram revelar os misterios do inconsciente humano. Eles sentiram, no entanto, a necessidade de situar esse subjetivismo no social, de transformar objetivamente esse mundo. Assim, encontraram nos estudos de Karl Marx e de Friedrich Engels urn campo vasto para se

1

BARBOSA, Ivan Santo. "Sexualidade na Comunicavao". In: Comunicat;iio e

Politico. Sao Paulo, CBELA, 1992, p. 22.

11

aprofundarem na questao do individuo inserido em seu mew. Uniram, dessa forma, o universo freudiano de estudos do inconsciente humano com o materialismo marxista.

Para os surrealistas, nesta ligavao

alcanvava-se a completeza do ser humano. 0 Surrealismo foi considerado por seus fundadores como urn meio de conhecimento e investiu sobre continentes ate entao pouco explorados: o sonho, o inconsciente, o maravilhoso, a loucura, os estados de alucinavao. Essas caracteristicas refletiram-se

na arte

surrealista. Po demos eleger, como val ores maiores des sa arte, a beleza convulsiva, o acaso objetivo, o humor negro e o amor louco. Essas buscas atingiram tambem o cinema. A relavao entre o Surrealismo e o cinema foi de atravao mutua. 0

cinema mostrava-se aos surrealistas como urn meio perfeito de

expressar

todos

aqueles

valores

eleitos

como

fundamentais

ao

movimento. Os filmes surrealistas lanvaram as bases de uma narrativa que nao obedecia a 16gica da narrativa clitssica, cultivando as rupturas, o onirico, as imagens mentais, as visoes provocantes, a atravao do e pelo misterio. Podemos citar alguns filmes como exemplos maximos dessa relavao, Entreato (1924), de Rene Clair, 0 retorno

a

raziio

( 1923) - na verdade, est as duas obras sao mais ligadas ao movimento

precedente, o Dadaismo -, Emak Bakia ( 1926), A estrela do mar (1928) e 0 misterio do caste/a dos dados ( 1929), de Man Ray, e Urn

ciio andaluz (1928) e A idade de aura (1930), de Lois Buiiuel (ressaltando que Urn ciio andaluz nasceu de uma parceria de Buiiuel com o pintor Salvador Dali), entre outros. Essas tambem

pesquisas

ressoaram

na

alimentaram

o

ctnema

considerada

produvao

underground, comercial.

A

mas arte

surrealista continuou influenciando artistas mesmo depois do fim do movimento surrealista organizado. Conforme palavras de Maurice Nadeau,

12

o estado de espirito surrealista, me thor

seria

comportamento

dizer,

0

surrealista,

e

eterno. 2

Podemos surrealistas

perceber na

esses

tentativa

valores, de

aceitos

compreender

e o

trabalhados homem

e

pelos

a

sua

(supra)realidade, na obra atual do cineasta norte-americano David Lynch. Criador polemico,

Lynch

e

ao

mesmo

tempo

venerado

e

desprezado pela critica. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, em 1990, pelo filme Cora
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