11 de Setembro 2001: Da guerra ao terror ao Século Estadunidense

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11 de Setembro 2001 Da guerra ao terror ao Século Estadunidense Mário Maestri Em 11 de setembro, boeing da American Airlines chocava-se contra a Torre Norte do World Trade Center. Minutos mais tarde, avião da United Airlines investia sobre a Torre Sul. O mundo assistia em direto ao maior atentado da história, quanto ao número de vítimas, danos materiais e perdas econômicas. Era claro o selo islâmico do atentado, que se seguia a outros menores, fora dos USA, acusados de proteger Israel e ocupar e agredir nações islâmicas. A administração Bush deu logo um rosto aos terroristas, acusando Osama bin Laden e al-Qaeda de promotores do ataque. Porém, bin Laden jamais seria indiciado como executor do atentado. Filho de família saudita riquíssima, ele se distinguira na guerra santa contra a revolução socialista afegã, quando cem mil fundamentalistas foram levados ao país e treinados pela CIA e a Arábia Saudita para sangrar a URSS, que interviera na guerra. Após a II Guerra, os britânicos impulsionaram o fundamentalismo para combater o avanço do comunismo e do pan-arabismo no Egito, Iraque, Afeganistão, etc. Milhares de escolas corânicas [madrassas] sunitas, financiadas pelos petrodólares sauditas, pariram fanáticos defendendo o império da lei islâmica - charia - e o fim de direitos civis, políticos, femininos, etc. Em 1980-90, a vitória da contra-revolução neoliberal mundial e a dissolução da URSS fizeram regredir o prestígio do socialismo como programa anti-imperialista e de organização social. No mundo islâmico, fortaleceu-se o fundamentalismo como via de emancipação social. Regredia a racionalidade, avançava o irracionalismo. O imperialismo ocidental, antes aliado contra os soviéticos, tornou-se agora alvo da guerra santa. Maná dos Céus O atentado às Torres Gêmeas foi maná dos céus para os Republicanos. A sua instrumentalização fez avançar a simpatia mundial ao imperialismo e o apoio interno à “guerra ao terror”. E isso consolidou o governo Bush II; a expansão dos gastos militares; a extensão dos poderes do Estado; o enquadramento dos aliados.  Buscava-se estabilizar o unilateralismo USA nascido da destruição da URSS. Naquele então, Putin apenas iniciava a reação ao sucateamento da Rússia da era Yeltsin e a China era ainda uma ameaça distante. Naquele mesmo ano de 2001, mais de cem mil soldados invadiram o Afeganistão onde, após a libertação do socialismo, reinavam os talibãs -

antigos estudantes das madraças. Mesmo nada tendo a ver diretamente com o mega-atentado nos USA, eles foram expulsos do poder, iniciando resistência que obrigou os estadunidenses a permanecerem até hoje no país. A prisão aberta em Guantanamo, para enjaular suspeitos de “terrorismo” e a institucionalização da tortura sinalizavam que o imperialismo estadunidense passava a ignoral o direito internacional. Dois anos mais tarde, a administração republicana lançava a 2ª Guerra do Iraque, preparada por Bush pai, mas interrompida pela vitória de Bill Clinton. Paradoxalmente, o fundamentalismo combatia o regime baathista iraquiano, nacionalista e laico e Saddam Hussein se pusera ao serviço dos USA. A justificativa da invasão foi derrubar o “ditador” e a destruição de inexistentes “armas de destruição em massa”. Ela causou mais de um milhão de mortos. Nos USA, após o 11 de setembro, generalizaram-se as agressões islamofóbicas contra milhares de turistas, residentes e estadunidenses que portavam sobrenomes, vestes, turbantes, etc. vistos como sinais de islamismo. A decisão monocrática republicana de invadir o Iraque registrou o desprezo pela OTAN e a ONU, órgãos colegiados imperialistas. Ela almejava privatizar a economia do país e ampliar o controle sobre o petróleo mundial. O domínio do Iraque abria enorme fronteira com o Irã, o grande objetivo dos USA na região. A operação teve sucesso parcial. Mesmo abocanhando o petróleo, o governo teve que ser entregue aos xiitas pró-iranianos, devido à resistência sunita. Isto quando se preparava ataque ao Irã, acusado de buscar a arma atômica para sua proteção! Novo Século estadunidense Em 2009, a vitória de Obama registrou o cansaço interno à “guerra ao terror”. O democratas prometiam o fim da tortura legal e o fechamento de Guantanamo. Entretanto, o fim democrata da “Guerra ao terror” manteve o belicismo republicano, sob justificativas humanitárias e o recurso à intervenção indireta. Hillary Clinton foi nomeada secretária de Estado e se manteve Robert Gates, ex-ministro da Defesa de Bush II. Com a “dama da morte” no governo ou fora dele, a administração Obama promoveu o golpe de Estado em Honduras (2007), no Paraguai (2012) e no Brasil (2016); uma fracassada ofensiva no Afeganistão (2009); a sabotagem do acordo nuclear com o Irã (2010) e a destruição da Líbia de Kadafi (2011). O golpe na Ucrânia aproximou tropas da OTAN da fronteira russa, motivando dura reação de Putin. Para a liquidação rápida da Síria, como no Afeganistão, mobilizaram-se multidões de islamistas estrangeiros, financiados por Arábia Saudita, Emirados, Turquia, USA, França e Israel. Entretanto, em

setembro de 2015, milícias libanesas e iranianas e a aviação e a marinha russas intervieram no conflito, no qual se decidia igualmente seus destinos. A destruição do Estado líbio e a reação síria lançaram na Europa vagas de refugiados. E quando França, Bélgica, Alemanha e Turquia passaram a combater o Estado Islâmico, que alçava vôo próprio, receberam de volta, como terroristas, os “fedayins da liberdade” que haviam promovido e coberto de elogios. No frigir dos ovos, os democratas estadunidenses substituíram a “guerra ao terror” pelo programa neoconservador mais ambiciosa de um “Novo Século Norte-Americano”, a ser alcançado através de mudança de regimes na Rússia e, sobretudo, na China. O “tendão de Aquiles” da“fábrica do mundo” é sua total dependência às importações de petróleo. Os USA controlam direta ou indiretamente as grandes reservas mundiais de petróleo - Arábia Saudita, Emirados, Iraque, Líbia, México, etc. - e preparam-se para dominar, através de golpes brandos ou violentos, as de nações como o Brasil e a Venezuela. Esse é o programa a ser radicalizado pela democrata Hillary Clinton, se eleita, sempre sob a nova justificativa de “defesa dos direitos humanos”, de “combate às ditaduras”, de “defesa da democracia”. Entretanto, a hegemonia mundial USA nascida da dissolução da URSS, em 1989-90, e relançada quando da “Guerra ao terror”, em 2001, foi corroída pela grande crise econômica de 2008, pelo emergir da Rússia de Putin como potência e pelo inusitado crescimento da China. Nos últimos anos, Rússia e China aproximaram-se e armaram-se, conscientes que a construção do “Novo Século Norte-Americano” exige seu desaparecimento como nações autônomas. Consciente de sua inferioridade militar, quando da crise ucraniana, Putin exigiu respeito à Rússia pela OTAN, nem que seja por ser “potência nuclear”. Acendamos uma vela para que 2017 e os anos seguintes não nos tragam horrores de tal dimensão que reduzam a destruição das Torres Gêmeas a insignificante nota de pé da página da história contemporânea.

" Mário Maestri, 68, historiador é professor do PPGH da UPF. " " " " " " " "

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