13 malditas horas e o d\'sempre

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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13 malditas horas e o d’sempre Autor: Def Yuri | 30/07/2004 | Seção: Def Yuri

Saio do trabalho com o alarme de aviso sobre atraso na entrega do artigo tocando ininterruptamente. O tempo é escasso e uma grande quantidade de assuntos bombardeiam o meu cérebro; e o pior, basta colocar o carro em movimento para mais coisas irem aparecendo e as dúvidas sob o tema do artigo da semana só aumentam.. Alguns minutos e me deparo com uma situação já conhecida, reduzo a velocidade e vejo várias pessoas aglomeradas formando uma enorme fila na porta de um hospital. Eram adultos, idosos e algumas crianças. Não precisa ser gênio para saber que todos estão na busca por algum tipo de atendimento. As dificuldades que se abatem sobre a população não param de crescer. É só pensar nas questões de alimentação, tempo, segurança e principalmente a baixa temperatura que tomou conta da cidade nas noites das últimas semanas para o detonador começar a funcionar com mais força; a sensação de impotência é foda perante a situação dessas pessoas. Onde estariam os responsáveis por essa situação? Será que ninguém vê isso? Quando o restante da população irá acordar? Será que é preciso um ente querido ou mesmo a própria pessoa passar por esse tipo de serviço para que acordemos? Passados alguns minutos, aumento o volume do som e coloco o carro em movimento. Dirijo tendo que filtrar todo esse bombardeio de informações e sentimentos. De repente desperto das minhas reflexões, pois pelo retrovisor observo a aproximação de uma viatura da Polícia Militar com todas as luzes apagadas, até que como num passe de mágica as mesmas se acendem: giroflex, faróis, lanternas... Acendo a luz interna do carro e sigo por alguns metros até um ponto mais iluminado e com maior circulação de pessoas. Paro e a viatura estaciona à frente. Abaixo o vidro e aguardo as instruções. Um policial desce da viatura e pede para que eu desembarque. Ele diz boa noite e pergunta se está tudo tranqüilo. Respondo que sim e pergunto por que não deveria estar tranqüilo. Pergunta se estou armado. Ao ouvir uma negativa, pede para efetuar a revista pessoal; após a verificação pessoal e checagem dos documentos, pede para revistar o carro. Ao abrir o carro, o som do REP se faz notar. - É o Racionais?, pergunta o policial. -Não. É o Attack Frontal. -É de São Paulo também? -Não, é de Porto Alegre. Ele diz que o som é maneiro e me agradece por colaborar, pois a abordagem era somente uma medida de segurança para proteção da população. Digo que sem problemas porque, além de não dever nada, estou ciente dos meus direitos e principalmente deveres. Automaticamente ao sair lembro daquela enorme fila. Demoro a dormir e a certeza de que aquela maldita fila ainda está no mesmo local me tira o sono. Amanhece, ligo a televisão e vejo uma matéria sobre a caótica situação da saúde no Rio de Janeiro; por coincidência passa uma reportagem sobre a maldita fila daquele hospital, com as imagens das pessoas que

eu vi. Elas rapidamente ganham nomes, idades e principalmente doenças. O mais revoltante é saber que aquela fila já tinha a duração de 13 malditas horas, e o resto das notícias é o de sempre.

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