1912: São Raimundo Nonato, um Projeto de Emancipação Política

July 12, 2017 | Autor: Jaime Oliveira | Categoria: Politics, Historia
Share Embed


Descrição do Produto

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS UNIVERSITARIO PROFº. ARISTON DIAS LIMA CURSO LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

JAIME DE SANTANA OLIVEIRA

1912: SÃO RAIMUNDO NONATO, UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

SÃO RAIMUNDO NONATO-PI 2011.

2

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS UNIVERSITARIO PROFº. ARISTON DIAS LIMA CURSO LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

JAIME DE SANTANA OLIVEIRA

1912: SÃO RAIMUNDO NONATO, UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Monografia apresentada como requisito final à obtenção do grau de Licenciado em História pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI.Orientador: Prof. Esp. Gabriel Frechiani de Oliveira

SÃO RAIMUNDO NONATO-PI 2011.

3

1912: SÃO RAIMUNDO NONATO, UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

JAIME DE SANTANA OLIVEIRA

Aprovada em 19 de Dezembro 2011

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Profº. Esp. Gabriel F. Oliveira-UESPI Orientador

_________________________________________________ Profª. Esp. Deborah Gonçalves Silva -UESPI ________________________________________________ Profª. Drª Selma Passos Cardoso-UNIVASF

4

Dedico este trabalho a Joana Francisca de Santana Oliveira (mãe), (in memória) pela prova de amor dela para com os seus filhos e a Aurélio Batista de Oliveira (pai) por ter acreditado na educação sendo capaz mudar nossas vidas.

5

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar e a todo a minha família pelo apoio dedicado a mim durante o curso; Em especial ao meu pai Aurélio Batista de Oliveira que foi uma pessoa presente demonstrando confiança nos meus estudos e pelo seu amor a mim destinado durante toda a vida, e a minha mãe Joana Francisca de Santana Oliveira (in memória) por ter me concedido a vida maior presente que ela poderia dar-me. Ao meu irmão, Valmir de Santana Oliveira que acompanhou cada passo ao longo dessa graduação orientando os melhores caminhos e emprestando seus livros e matérias didáticos. Além de ouvir pacientemente as minhas histórias nos finais de semana quando retornava a Anísio de Abreu-PI. Aos demais irmãos Joedson, Eliana, Silene, Edilene, Vânia, Auricélio, Auristela, e Aurea. Caros irmãos sou muito grato pelos momentos que passamos juntos nestes quatro anos. Em São Raimundo Nonato, nos momentos de dificuldade, eu lembro que a vida é uma dádiva de Deus por ter vivenciado tantos momentos felizes com vocês. Agradeço ao Professor. Gabriel Frechiani Oliveira pela orientação, pela amizade, pelo companheirismo, pela cumplicidade na construção deste texto. Parabéns pela sua passagens pela coordenação tivemos bons resultados. A professa Déborah Gonçalves pela amizade e confiança depositado ao longo do curso. Em São Raimundo Nonato esses quatro anos foram momentos de realizações e construção de amizades. Fica os meus agradecimentos a Dona Marilene, Dona Zedite (in memória) e Dona Arlete pela acolhida e atenção que teve nos primeiros meses da graduação. Neste mundo que foi de construção não poderia deixar de agradecer a família Anisiense que foram grandes irmãos que tiveram que me aturar morando comigo Marcos Pereira (Vaqueiro nego), José Walter (Shikim), José de Anchieta, Glauber Mota, Danilo Santana. A Talita Cavalcante, obrigado por ter disponibilizado computador maquina Digital, pela amizade construída, foi mal tantas brincadeiras bobas nestes três anos de convivências. Ao Kleber Macedo pela amizade, inúmeras caronas e favores e pelo humor. Aos amigos e colegas de Universidade pelas brincadeiras, companheirismos, amizades.

6

Aos professores do trio de ferro Luiz Gonzaga, Lucas Castro e Sidrac Barreto fico muito feliz e orgulhoso de dizer que fui aluno de vocês. Ao grupo de trabalhos Waldeir (o homem das caças), Raimundo Mauricio (cara do cemitério), Ariel, Silvano, Luciano, pó cara, flamenguistas chatos, e Alano Jaciguara grande amigo, Josimar, Ney Clemente. Às belas e compreensíveis mulheres Renata pela compreensão e carinho amizade, Estelita, Marina, Janaina, Jucineia, Layane, Iramaia, Rosiane, Andréia que tiveram papel importantíssimo, nesses quatro anos, pois seria inviável contar nossa história sem mencionar os mementos felizes que vivemos juntos. Aos demais colegas de instituição cujo espaço não permite que seja citados, mas que sabem são especiais. À Glaubia Santos pelo apoio técnico, o incentivo moral, pelo sorriso e carinho concedido nas vésperas da apresentação deste trabalho. A todos os funcionários da UESPI pela prestatividade. Ao Fred de Santana Paes Landim pelos diálogos já que ele trabalhava o mesmo tema em trabalho de conclusão de curso. À Zildene e Marcos Paulo, pois são pessoas muito especiais, que me concedem muita atenção e carinho. À professora Selma Passos Cardoso que foi uma educadora que transmitiu coragem e que de certa forma muito contribuiu e influenciou na escolha deste tema. Os amigos da UNIVASF, em especial a Geórgia Layala, Tamara Graziela e Jane Ribeiro. À cidade São Raimundo Nonato fica o meu elogio pela hospitalidade nesses quatros anos de curso. Destaca que o silêncio, as ruas vazias no amanhecer sempre foi algo que me provocou reflexão e questionamentos quanto os seus primórdios.

7

[...] A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado, mas talvez não seja útil esforçarmos por compreender o passado, se nada sabemos do presente. Marc Bloch

8

RESUMO O presente trabalho tem como foco o estudo do inicio do século XX em São Raimundo Nonato-PI. Teve como objetivo investigar o processo de emancipação política ocorrido em São Raimundo Nonato-PI em 1912, percebendo as mudanças que desencadearam esse evento e analisar, a partir deste marco as relações sociais, políticas e econômicas que propiciaram a elevação da vila à cidade no período da primeira metade do século XIX. São Raimundo Nonato teve seu povoamento através das fazendas de gado, uma vila pacata longe da capital pouco tinha desenvolvido, no entanto o desenvolvimento do extrativismo da maniçoba no final século XIX e início do século XX, colocou a vila em cenário estadual como uma das vilas de maior produção. Logo, em 1912 a vila é elevada a condição de cidade, conservando o mesmo nome, sendo desmembrada de Jaicó e Jerumenha. Fazendo o uso de uma abordagem historiográfica no primeiro capítulo foi discutido o conceito de cidade e feito uma leitura de como as cidades no mundo ocidental se desenvolveram da antiguidade ao mundo contemporâneo sendo delimitado como abordagem de estudo o desenvolvimento e formação das cidades brasileiras e piauienses. No segundo capítulo procurou-se identificar a colonização da região sudeste do Piauí, e como a povoação possibilitou identificar a gênese das cidades piauienses observando os seus elementos em comum. Buscou-se centrar as análises na formação do Distrito-Freguesia de São Raimundo Nonato percebendo seus limites geográficos, principais eventos, a passagem para condição de vila e seu referencial no estado do Piauí. No terceiro capítulo foi feito um estudo de casos do processo de emancipação política, este evento intimamente relacionado à produção extrativista da maniçoba, logo o pensamento político do início do século será muito diferente dos atuais apesar de práticas coronelistas já existirem, é também uma das preocupações entender a organização urbana e social que influenciaram a dinâmica social de São Raimundo Nonato.

Palavras-Chave: Historiografia; Identidade; Colonização; Coronelismo; Emancipação Política.

9

ABSTRACT This work focuses on the study of early twentieth-century Nonato-PI, was to investigate the process of political emancipation occurred in Nonato-PI in 1912, realizing the changes that triggered this event and to analyze from this March the social, economic and political rise that led to the village to the city during the first half of the nineteenth century, Nonato had its settlement through cattle ranches, a quiet village far from the capital had little developed, however the development of extraction of maniçoba in late nineteenth and early twentieth century, the village placed on the state scene as one of the largest towns in production, so in 1912 the town is elevated to city status, keeping the same name, being spun off from Jaicó and Jerumenha. Making use of a historiographical approach in the first chapter discussed the concept of the city, and had a reading of how cities have developed in the Western world from antiquity to the contemporary world is defined as an approach to study the development and training of Brazilian cities and Piaui. The second chapter attempts to identify the colonization of southeastern Piauí, and how the village enabled us to identify the genesis of cities piauienses observing their common elements. We tried to focus the analysis on the formation of the District-Parish of Nonato realizing their geographical boundaries, major events, the transition to village status and its reference in the state of Piaui. The third chapter is made a case study of the process of political emancipation, this event closely related to the extractive production of maniçoba, so the political thought of the beginning of the century will be very different from current practices while coronelista already exist, it is also a concern understand the urban and social organization that influence the social dynamics of Nonato.

Keywords: City, Nonato, Emancipation Policy, Coronelismo

10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01: á cidade é um reino de construções de casas dos poderosos e ricos dão provas disso entre os monumentos urbanos...................................................................................................25 Figura 02: Fotografia Estados Unidos 1934.............................................................................25 Figura 03: Planta da cidade de Oeiras.......................................................................................40 Figura 04: Igreja Matriz São Raimundo Nonato.......................................................................52 Figura 05: Família de maniçobeiro mesmo em tempos bem mais recentes vê-se traços culturais antigos........................................................................................................................64 Figura 06: A representação do homem e o animal que era de grande utilidade no trafego dos tropeiros e na movimentação do comércio local.......................................................................65 Figura 07: Gaspar Dias Ferreira entrevista concedida em seu domínico.................................74 Figura 08: Entrevista Noé Ribeiro ............................................................................................75 Figura 09: Mapa elaborado por Olavo Pereira Silva Filho (2007) resultado pela sua passagem por São Raimundo Nonato, destacando em verde as Estruturas Arquitetônicas e Urbanísticas de Interesse de Preservação.......................................................................................................77 Figura 10: Local onde fica a Praça do Abrigo liga com Avenida Professor João Meneses em 1915 às belas casas demonstra um das regiões mais urbanizadas na cidade de São Raimundo Nonato.......................................................................................................................................79 Figura 11: Açude Aldeia...........................................................................................................81

11

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 01: Brasil- Rede Urbana Colonial ..............................................................................34 Tabela 02: Fazendas na região de São Raimundo Nonato-PI e em seu entorno no século XIX ..........................................................................................................47 Tabela 03: Eleições gerais para a constituinte (1891) ..........................................................57 Tabela 04: Agências arrecadadoras de dinheiro no sudeste do Piauí ...................................63 Tabela 05: Exportação da Borracha da Maniçoba do Piauí (em quilos) ..............................68

12

SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................13 1- A FORMAÇÃO DAS CIDADES E SUAS CONCEPÇÕES AO LONGO DA HISTÓRIA ..................................................................................................................16 1.1.

A FORMAÇÃO DAS CIDADES ANTIGAS..............................................................16

1.2.

AS CIDADES NA IDADE MÉDIA ............................................................................23

1.3.

A

FORMAÇÃO

DAS

CIDADES

NO

MUNDO

MODERNO

&

CONTEMPORÂNEO...............................................................................................................27 1.4.

A CIDADE NA HISTÓRIA A PARTIR DO CONTEXTO BRASILEIRO

...................................................................................................................................................29 1.5.

A CONSTITUIÇÃO DAS CIDADES PIAUIENSES ................................................37

2-

A FORMAÇÃO HISTÓRICA DE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI

...................................................................................................................................................42 2.1 POVOAMENTOS DISTRITO-FREGUESIA VILA (1832-1880)....................................42 2.2 PIAUÍ: SÃO RAIMUNDO NONATO-PI NO FINAL DO SÉCULO XIX (18801900).........................................................................................................................................55

3-1912:

SÃO

RAIMUNDO

NONATO-PI,

UM

PROJETO

DE

POLÍTICA..........................................................................................................59 3.1 DESENVOLVIMENTOS ECONÔMICOS.......................................................................59 3.2 SÃO RAIMUNDO NONATO: A ELEVAÇÃO A CIDADE E A CONSTRUÇÃO DE UM CORPO POLÍTICO ..........................................................................................................67 3.3 ANDARILHOS DA HISTÓRIA: MEMÓRIAS COLETIVAS.........................................72 3.4 ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CRESCIMENTO URBANO.............................................76

CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................82 REFERÊNCIAS.................................................................................................................84 APÊNDICES........................................................................................................................91 ANEXOS.............................................................................................................................101

13

INTRODUÇÃO Este trabalho em sua maior parte foi escrito em São Raimundo Nonato, desde quando iniciou-se esta pesquisa em maio de 2010. A mesma vem modificando-se, ganhando formas diferentes com o andamento dos trabalhos. A mudança de orientador do projeto para o Professor Gabriel Frechiani de Oliveira, fez levantar novos questionamentos e partir para uma abordagem da História Social. A História Social é uma sub-especialidade que tem seus primórdios na proposta dos Annales, a destacar nela certos objetos mais evidentes: os modos e mecanismos de organização social, as classes sociais e outros tipos de agrupamentos, as relações sociais, (entre esses grupos e dos indivíduos no seu interior), e os processos de transformações da sociedade (BARROS, 2004). Ao estudar a história de São Raimundo Nonato ao longo da graduação constatou-se que nessa região tem-se como forte as pesquisas em pré-história em função da grande concentração de sítios arqueológicos. Os demais trabalhos apresentavam o contexto do povoamento e do seguimento do Distrito-Freguesia que em 1950 é elevado a condição de vila. Mesmo não dispondo de bom estudo historiográfico as pesquisas contemplavam todos esses temas. A pesquisa voltada para história e memória dos maniçobeiros principalmente com trabalho de Ana Stela de Negreiros Oliveira, conseguia nos dar boas respostas do contexto final do XIX e início do século XX. No entanto, as referências estudadas contemplavam todos estes itens, história econômicas cotidianos dos maniçobeiros, e mencionava superficialmente a elevação de São Raimundo Nonato a condição de cidade em 1912. A partir deste pressuposto iniciou-se os questionamentos. Quais os elementos essenciais que levaram São Raimundo Nonato a condição de Cidade? Quais os modos de vida da população? Como foi sua participação neste evento? O que os Sanraimundenses projetaram para essa vila que virou cidade? Nascia aí um trabalho de investigação que não buscava respostas conclusivas, porém as vésperas de seu centenário vê como sendo de fundamental importância que o povo de São Raimundo Nonato conheça sua história. No entanto a pesquisa objetiva históricizar o processo de emancipação política da Cidade de São Raimundo Nonato, percebendo as mudanças que desencadearam esse evento e analisar a partir deste marco as relações sócias e políticas entres os distintos grupos. Dentre os objetivos específicos buscou-se:

14



Apresentar uma revisão bibliográfica da formação e desenvolvimento das

cidades no mundo ocidental e das cidades brasileiras. 

Contribuir para uma discussão acerca do processo em que levou São

Raimundo Nonato a conquistar sua emancipação política. 

Diagnosticar as mudanças ocorridas no final do século XIX e início do século

XX que contribuíram para a emancipação política. 

Identificar os agentes financeiros que influenciaram o desencadear de tal

processo. 

Contextualizar o início do século XX buscando entender as relações políticas e

sociais. Na tentativa de chegar as respostas dos questionamentos propostos foi adotado como procedimento metodológico a leitura, seleção e registro das informações. O registro destas informações foi feito mediante produção de fichamentos, bem como sínteses. Logo recorreuse sistematicamente, o trabalho com fotografia foi útil, pois possibilitou a visualização bem como perceber imagens marcantes desta cidade. A visita aos documentos do cartório foi de fundamental importância, por ter possibilitado visualizar documentos oficiais produzidos no final do século XIX e início XX, essa visita nós fez levantar novos questionamentos e ter contatos com documentos que nos mostrava outra face da vila de São Raimundo Nonato que não aparecia nos livros estudados que foi os documentos referente a escravidão. Como técnica de registro foi utilizado o trabalho de digitalização por meio de fotografia sendo esta uma das melhores formas já que as condições dos papeis eram frágeis. O trabalho com relatos orais foi de fundamental importância, devido ter percebido à ausência de documentos que tratasse dos eventos políticos das decisões tomadas e suas preocupações. Logo por se tratar de um período distante foram utilizadas algumas entrevistas feitas em períodos anteriores na busca dos relatos de pessoas mais idosas, nessas entrevistas procurou-se através dos relatos entender como eram o cotidiano e as preocupações das pessoas que habitavam esta vila. Feito este trabalho, esperamos ter contribuído para entender como estava organizada a cidade São Raimundo Nonato em seu contexto social, a qual ocorreu à emancipação política. No primeiro capítulo, abordaremos o conceito de cidade voltado para ocidente, logo, se tratando de um conceito que se modifica ao longo do tempo, foi estudado como surgiram as cidades na Idade Antiga, na Idade Média e no Mundo Moderno identificado que as últimas

15

não vão se diferenciar tanto das cidades do mundo contemporâneo. A partir iniciamos um estudo das cidades brasileiras desde os primeiros interesses da colonização portuguesa até o surgimento das primeiras vilas e cidades. As cidades piauienses também foram contempladas nosso estudo em vista que seu surgimento acontece posteriormente e traz características importantes que podem ser identificadas em São Raimundo Nonato. O segundo capítulo é apresentado um estudo da colonização da região sudeste do Piauí na tentativa de identificar os processos de colonização e as primeiras bandeiras e desbravamentos. Em seguida é feito um estudo do desenvolvimento do Distrito-Freguesia de São Raimundo Nonato assim como sua elevação a condição de vila e suas dimensões territoriais, logo, busca a entender o contexto e representação de São Raimundo Nonato no estado piauiense. No último capítulo é feito um estudo do processo de emancipação política os elementos que contribuíram para tal evento, os fatores econômicos, a formação política, os elementos da memória e história oral das entrevistas que possibilitaram entender melhor algumas das lacunas dos documentos, e o seu desenvolvimento urbano junto sua organização social.

16

CAPÍTULO I- A FORMAÇÃO DAS CIDADES E SUAS CONCEPÇÕES AO LONGO DA HISTÓRIA 1.1 A FORMAÇÃO DAS CIDADES ANTIGAS

[...] As origens da cidade são obscuras, enterrada ou irrecuperavelmente apagada uma grande parte do passado, e são difíceis de pensar suas perspectivas futuras. Lewis Mumford

O conceito de cidade é algo que modifica- se ao longo do tempo, pois este é um termo que é determinado em sua maior parte pela cultura em que está inserida, sendo de fato a cultura algo mutável em uma variável de tempo e espaço. O capítulo um, “A Formação das Cidades e suas Concepções ao Longo da História” apresenta uma discussão a respeito da criação das cidades e suas definições ao longo da história. O primeiro tópico abrange a gênese das cidades antigas que será a parte mais desafiadora tendo em vista que trataremos de período longínquo onde os estudos não dispõe de fontes que possibilite aproximar analogias com dias atuais, além do mais, refere-se ao um tempo muitas vezes distante do nosso olhar. Para Coulanges (2004), o estudo das antigas regras de direitos privados faz nos entrever para além do tempo chamado histórico, um período de século a qual a família foi à única forma de sociedade existente. Coulanges (2004) coloca em sua obra como gênesis da formação das cidades a família, se fez o primeiro núcleo da sociedade, onde têm-se regras e direitos pré-estabelecidos. Logo, ao tratar-se de um período longínquo faz-se necessário voltar-se aos direitos e regras para entender sua formação. Coulanges (2004) ao descrever a formação familiar na antiguidade discorre que a estreiteza dessa sociedade primitiva correspondia à ideia pequena que se faziam a partir das divindades. A religião estará entre as primeiras formas de organização que regem a família, sendo a mesma onde cada família tem um deus. Contudo, é válido mencionar que o aparecimento das tribos e das cidades, estreitamente ligado a este elemento intelectual das antigas populações.

17

Para Coulanges (2004), várias famílias formavam a fratria, várias fratrias as tribos, diversas tribos a cidade são, portanto, sociedades perfeitamente análogas e nascidas umas das outras por uma série de federações. Logo, fratria vem do grego e representa a junção de duas famílias que se misturava sem abrir mão de sua religião particular pelo menos para celebrar outro culto que lhe fosse incomum. No entanto Coulanges (2004, p.138) ao descrever a formação das tribos e cidades a partir da junção de família discorre que duas tribos de modo algum podiam fundir - se em uma, pois a religião a isso se opunha. Mas assim com várias fratrias estavam reunidas sob a condição de o culto de cada uma ser respeitada. No dia que se firmou essa aliança nasceu a cidade. Contudo Coulanges (2004, p.139) define a cidade como:

[...] Uma confederação que para isso viu-se obrigada, pelo menos durante alguns séculos, a respeitar a independência religiosa, e civil das tribos, das cúrias e da família, não tinha no principio de intervir nos negócios particulares de cada um desses pequenos corpos. [...] assim a cidade não é um agregado de individuo, mas uma confederação de vários grupos previamente constituídos e que ela deixa subsistir [...].

Na Antiguidade, cidade e urbe não foram sinônimos. Entre os antigos a cidade era associação religiosa e política das famílias e das tribos, as urbe, o lugar de reunião o domicílio e, sobretudo o santuário dessa sociedade. Vale ressaltar que ao imaginar as cidades antigas não pode-se ter ideias similar a que nos é dada para cidade nos dias atuais. De acordo Coulanges (2004), construíam-se alguma casa dessas nasciam às aldeia pouco a pouco o numero de casas aumentavam sendo capaz assim de surgir a urbe, sedo estas, a vezes necessário cercá-las de fossos e de muralhas, para proteger de invasores bárbaros. Partindo da leitura da obra A Cidade Antiga, pode - se levantar que as cidades em suas origens estavam ligadas a religião que detinha cada família e que esta é determinante na medida em que se formam as tribos de onde juntam formando as cidades. Contudo, Aristóteles (2008) em sua obra Política descreve uma visão onde aproxima a cidade da comunidade política, a cidade visa o bem maior por que abrange outras comunidades menores e por que possui uma auto-suficiência que a comunidade maior não alcança. Logo, Aristóteles (2008) em seu discurso aproxima o cidadão e sua participação política dentro da cidade, dissertando que o cidadão é quem participa na vida política através

18

das funções deliberadas ou judiciais que designa cidade à multidão de tais cidadãos em numero suficientes para alcançar a autarquia. Ao definir a cidade e sua formação não apenas como uma comunidade de lugar Aristóteles (2008, p.35) coloca que:

[...] Cidade é a forma mais elevada de comunidade e tem como objeto mais elevado. A diferença entre cidade e outros tipos de comunidade surge quando examinamos as partes pela quais ela é composta [...] a cidade é constituída de aldeia que por sua vez são constituídas de famílias [...].

Aristóteles (2008 p.14) afirma que toda cidade é um tipo de associação, e toda associação é estabelecida tendo em vista algum bem sendo, por conseguinte “[...] a melhor cidade será aquela em que for possível a felicidade obtida pela criativa da razão. A felicidade individual deve corresponder à cidade feliz”. Conforme Resende Filho (2000) que discorre dentro de uma lógica1 ocidental as primeiras civilizações que vieram a surgir na Idade Antiga foram às civilizações hidráulicas que nasceram ao entorno do rio Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, atualmente o Iraque e as civilizações do Nilo, na Índia, e do rio Amarelo na China. As primeiras denominadas de acordo com suas características básicas civilizações hidráulicas que pode ser monarquiateocrática. Resende Filho (2000) coloca que as civilizações das cidades Mesopotâmicas eram densamente habitadas e de alta produtividade agrícola, sendo que desde quatro milênios A. C., as mesmas, possuíam uma urbanização crescente com desenvolvimento prospero de cidades-estados, mesmo com constantes ataques de povos nômades. De acordo com Resende Filho (2000) as populações da mesopotâmia formavam enormes e estáveis sistemas econômicos em torno do Palácio Real e dos templos, que englobava terras, rebanhos, barcos, oficinas e trabalhadores fossem pessoas cumprindo suas quotas de trabalho compulsório, fossem escravos.

Quanto ao seu comércio interno, centrado nas cidades, ele sempre foi ativo e diversificado, oferecendo desde produtos alimentícios até ferramentas e 1

Conjunto de estudos, originados no hegelianismo, que tem por fim determinar categorias racionais validas para apreensão da realidade concebida como uma totalidade em permanente transformação; lógica dialética.

19

demais utensílios de uso cotidiano, como reflexo natural de um sistema econômico composto por homens livres e bastante monitorizado. (RESENDE FILHO, 2000, p.16)

Os grupos humanos que habitaram essa região sempre procuraram os melhores lugares que atendessem suas necessidades e favorecessem o florescimento de suas vilas e cidades, logo com as riquezas naturais de suas terras férteis tem-se o desenvolvimento de seus e culturas que iram influenciar seu entorno com leis, organizações sociais e religiosas (RESENDE FILHO, 2000). Cidades como Lagash, Umma, Kish, Ur, Uruk, Akad desenvolveram características peculiares, no entanto sob a representação de um rei a qual eram o representante dos deuses. Os reis segundo Pinsky (1994), recebiam a maior parte das terras do clã, além de impostos. Logo, em caso de guerra cabia-lhe os saques que favorecia o aumento de sua riqueza. As cidades Mesopotâmicas na leitura de Pinsky (1994) apresentavam-se independente do ponto de vista político, embora interdependentes economicamente e extremamente homogêneas do ponto de vista cultural. A cultura, entretanto, estava em plena ebulição. Administrar uma cidade exigia mais que disposição e procuração divina. Exigia instrumentos adequados, que se desenvolveram de forma notável na Mesopotâmia. (PINSKY, 1994 p.55). Outra civilização que teve êxito em seu desenvolvimento foi à civilização egípcia que se desenvolveu ao longo do vale do rio Nilo. Para Resende Filho (2000) a civilização do Egito embora baseada na irrigação suas características são bastante diferente da Mesopotâmia. Conforme Resende Filho (2000) o que vem a diferenciar uma da outra primeiro as cheias do Nilo regulares, e muito menos destruidoras que as do Triges e Eufrates o que faz com que da irrigação artificial demorasse, segundo os desertos protegiam as regiões de ameaças externas, o que produzia uma sociedade isolacionista e conservadora. Contudo, o Egito não era tão dependente do mercado externo para obtenção de matéria-prima. Por último, o Egito não se desenvolveu a partir de cidades-estados independente, mas sim de um Estado precocemente unificado, o que fez com que o sistema econômico fosse extremamente centralizado, concentrando-se na corte real, notadamente na pessoa do rei-deus, o faraó. Todavia, ao estudar a Grécia Antiga fica notório que os gregos tiveram grande influência no pensamento ocidental ao longo da história, principalmente no campo da política, assim como de um sistema democrático em que esteja em foco um “governo do povo”.

20

Finley (1988) afirma que na Grécia antiga prosperou as polis que, em seu sentido clássico significa um estado que governa a si mesmo. Eram sempre pequenas em áreas e população, por convenção muitas antigas veio a denominar cidade-estado. Para Finley (1988, p.47) ao descrever as principais pólis coloca que:

A maior de todas Atenas, era de fato um estado muito pequeno, segundo os padrões modernos – cerca de 500 quilômetros quadrados, mais ou menos, a Dorset, Derbyshire ou ao Grão Ducado de Luxemburgo – e chama-lhe cidade-estado, confere-lhe um realce duplamente erróneo: ignora a população rural, que constituía maioria dos cidadãos, e sugere que a cidade governava o campo o que não é exato.

As principais cidades da Grécia Antiga eram Atenas, Esparta e Tebas que durante muito tempo lutaram contra os persas - na conhecida como Guerras Médicas século VI. Logo após estabeleceram conflitos na guerra do Peloponeso entre as duas cidades-estados Atenas e Esparta que apresentavam certa dualidade em suas características. Conforme Jones (1977)2 dificilmente duas cidades apresentavam tantas diferenças Atenas estava num ponto de convergência estabelecendo-se em um movimentado ponto comercial e industrial, de grande força naval. Dispunha da produção do espaço com gramas, se embelezavam suas cidades com esplendor dos templos, soberbas estátuas e acima de tudo era progressista fervilhavam-se de novas idéias. Neste contraste Jones (1977) esclarece que Esparta caracterizava-se por um isolamento no vale do Europa. Era um estado que gozava de auto-suficiência agrícola, parecia uma aldeia que crescera demais, e não teve tanto destaque no campo da arte e da literatura ficado para Atenas o brilho de grandes intelectuais como historiador Tucídides e o filosofo Platão.

A esterilidade cultural de Esparta era o resultado inevitável de sua estrutura social e política. Seus cidadãos eram treinados rigorosamente desde a infância apenas para uma coisa- ser bom soldado, e esses cidadãos, os espartanos, eram uma pequena elite, apoiada pelo trabalho de um número conformavam-se com a situação, particularmente os que eram originários do território original espartano, a Lacônia. (JONES, 1977 p.66).

Logo segundo Jones (1977) os espartanos eram admirado pelos atenienses pela sua coragem e dedicação ao dever. Os gregos se impressionavam com o poder militar e Esparta 2

A. H. M. Jones, Professor de História Antiga da Universidade Cambridge.

21

passou séculos como sendo referência na organização de exército que era educado desde da infância de seu soldados. Triunfante em suas batalhas, Esparta desfrutava de uma estabilidade política excepcional no mundo grego.

A principal atração de Esparta, porém, era a sua aristocracia perfeita. Seus admiradores atenienses eram, quase exclusivamente, cidadão das classes superiores, homens de nascimento, riqueza e educação que lamentavam o fato de terem de aceitar camponeses e trabalhadores como seus iguais. (JONES, 1977 p.67)

Todavia na organização dessas duas cidade que tanto influenciou o pensamento ocidental percebe-se Atenas um cidade cosmopolita onde provoca uma ruptura com aversão ao estrangeiro, sendo capaz de discutir seus problemas em um diálogo onde inclua outros setores da sociedade, além de uma elite. Esparta por mais que tenha um sistema político organizado e estável, não esta aberta a criar novas formas de convívio que venha a beneficiar os hilotas3e periecos4. As cidades do mundo romano constituíram um incontentável legado para o Ocidente, marcado pelo seu domínio duradouro foram suas cidades fantasmas como Pompéia ou Trimgad (na Argélia) ou Verulâmio (St. Albans) que nos deram informações sobre sua vida social. Frederiksen (1968) destaca que as cidades eram centro da vida civil e foco da ambição. Embora criada pela mão de conquistadores, orgulhavam-se de administrar a si mesma, e chegava a resistir as interferências.

A cidade planejada dos romanos, com o seu xadrez de rua, tinha uma longa história, mas poder-se-ão perceber alguns progressos. (...) eram elas pequenas guarnições de cerca de trezentas famílias guardiões de uma estrada ou litoral mais exposto, pequenas demais para serem propriamente cidade. (FREDERIKSEN, 1968 p.151).

3

Hilotas: servos de propriedades do estado que descendiam dos primitivos habitantes de Lacônia dominadas pelos Dórios. Sem direitos políticos tinha seu trabalho explorado pelos espartanos. 4 Periecos; habitantes da periferia das pólis, eram pequenos proprietário que se dedicavam às atividades rejeitadas pelos espartanos, como o artesanato e o comercio em pequena escala.

22

As cidades de estilo hipodomiano5 com design de xadrez onde possibilita uma movimentação dentro de ruas retangulares construíram ao longo tempo a imagem da cidade ideal de forma que influenciava todo o seu entorno pelo seu planejamento e sua configuração. Roma em detrimento de suas pequenas cidades vizinhas emergiu em contexto diferente discorre Frederiksen (1968)6 que seu florescimento bem cedo não compartilhou de nenhum planejamento complexo e teve seus problemas agravados pelo crescimento da população. Evidencia Frederiksen (1968) que a capital romana tinha a sua maior parte um verdadeiro caos de casas altas e raquíticas, bem como de ruas tortuosas e estreitas. Logo com estes problemas acentuados na capital Romana Frederiksen (1968) destaca que uma planificação esquemática das cidades de seus domínios seja derivada em partes, de um desejo de evitar que os mesmos problemas irrompessem em outras regiões. Contudo as proposições a respeito deste tema às vezes tornam-se divergentes em alguns pontos do que vem a resultar essa simetria e organização como ressalta Frederiksen (1968, p.153): Acima de tudo, uma cidade independente necessitava de uma boa localização para seus templos, uma delimitação da propriedade drenagem e abastecimento de água.

[...] Dificilmente se vê um lugar que não tenha sido alvo das preocupações de Roma – Pompéia, Óstia e mesmo Volubilis Mauretânia denotam o cuidado pròdigamente dispensado; de fato o planejamento das ruas desaparecido da Cartago de Augusto foi totalmente recuperado através de seu sistema de esgotos subterrâneos, tão ìntimamente ligado eram os traçados de ruas e esgoto. Além do mais, os romanos orgulhavam-se muito de seus santuários públicos [...]. (FREDERIKSEN, 1968 p.155).

Ressalta-se que as casas romanas obedeciam a muitas características diversas, variavam segundo o clima e o gosto ou posição social de seu proprietário. Dentre as peculiaridades nota-se que as cidade sob o domínio romano destaca-se os jardins nos arrabaldes montanhosos, com árvores e chafarizes, que se tornavam possíveis graça aos aquedutos que traziam água em abundancia. Essas características na produção das cidades dominada por Roma com forma linear será algo que ira influenciar na formação das cidades do mundo ocidental. Logo, mesmo 5

Hipodomiano: Assim chamado em razão do nome do arquiteto grego que o projetou ( Frederiksen, 1968 p.151). 6 M. W. Frederiksen: educado na universidade de Sydney e na de Oxford, é membro do Worcester Collge, Oxford, desde 1959. Foi, anteriormente, Junior Research Fellow, do Corpus Christi College, Oxford. Escreveu artigos sobre a topografia romana para Pauly-Wissowa, Real-Encyclopaedie der classischen Altertumswissenschaft.

23

ocorrendo esse problema em Roma o crescimento de cidades com forma ordenadas será algo desafiador para sociedades posteriores.

1.2 AS CIDADES NA IDADE MÉDIA

Na tentativa de desenvolver um enredo mais lógico, transparente, a cerca do legado do Ocidente para formação das cidades contemporâneas, pode-se parecer estar preso a uma divisão cronológica da história onde divide a história em Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea. A Idade Média é uma periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, entre a Idade Antiga e Idade Moderna. Assim o período de aproximadamente mil anos que vai convencionalmente da queda do império Romano, após a ocupação pelos hérulos em 476, até a tomada de Constantinopla, pelos turcos - otomanos em 1453. Segundo Franco Junior (2006, p.11) a Idade Média durante muito tempo foi vista com certo preconceito:

[...] Se numa conversa com homens medievais utilizássemos a expressão „idade Media‟, eles não teriam idéia do que estaríamos falando. Como todos os homens de todos os períodos históricos, eles viam-se na época contemporânea. De fato, falarmos em Idade antiga ou Média representa uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de se dar nome aos momentos passados. No caso do que chamamos de Idade Média foi o século XVI que elaborou tal conceito [...].

Descreve Franco Junior (2006) que este conceito foi colocado com certo desprezo indisfarçado aos homens que viveram naquele período logo, o admirador do clássico, o italiano Francesco Petrarca (1304-1374) já se referia ao período como idade das trevas. No entanto Le Goff (1998) destaca que a Idade Media não foi um período de imundice. A higiene corporal, em particular é objeto de cuidado, seja no âmbito privado, seja mais tarde em estabelecimentos especiais. Conforme Le Goff (1998) na Idade Média, o castelo, lugar de influência e poder econômico e política domina a sociedade camponesas. É muitas vezes contra o poder

24

senhorial que a cidade afirmará sua independência e, depois sua influência sobre o campo ao redor. Le Goff (1998) ao usar um estudo etimológico disserta que a palavra “ville” somente tardiamente vem designar cidade, durante século XI e XII, se escreve “civitas”, “cite”. Contudo vila é um domínio com um prédio principal que pertence a um senhor, em conseqüência é um centro de poder, não apenas de poder econômico, mas também de poder em geral sobre todas as pessoas que vivem ao redor da terra. Contudo “Villa” se aplicará a aldeia nascente a partir dos séculos IX e X. Le Goff (1998) disserta que não há uma continuidade entre Idade Média e Antiguidade. A fusão entre populações romanas e bárbaros dará origem aos germânicos que se denomina a banalidade, o direito de banalidade, que é um direito de comando bastante geral, que inclui direito de justiça, mas, sobretudo o direito econômico; a obrigação de moer a farinha no moinho do senhor: a obrigação de pagar para vender sua colheita nos mercados etc., contudo a partir do século XI, aproximadamente esse direito espalha-se essencialmente no campo, e forma-se um estrutura típica da feudalidade que para Le Goff (1998) a banalidade, diz respeito também ao território

urbano

e,

sobretudo

suburbano.

Sendo

essa

urbanização

característica

principalmente do século XI. Para Le Goff (1998, p.17) ao descrever a formação das cidades antigas e medievais o mesmo coloca que:

[...] Desde o século XII, a evolução das cidades medievais consiste na reunião, lenta e numa única instituição, do núcleo primitivo da cidade e de um ou dois burgos importantes. A cidade vai lançar seu poder sobre certa extensão em volta, na qual exercerá direito mediante coletas de taxas: é isso que se chamará de subúrbio [...].

Vale destacar que Le Goff (1998, p.26) descreve três espaços preponderantes na formação da Paris medieval: o econômico, o político e o universitário. O primeiro gira entorno dos mercados construídos onde se situa também o mercado da mão-de-obra. O segundo, poder político e eclesiástico o rei, o bispo, o parlamento a partir do fim do século XIII, por último concentra-se a cidade escolares, universitárias e intelectuais.

A cidade da Idade Media é uma sociedade abundante, concentrada em um pequeno espaço, um lugar de produção e de troca em que se mesclam o artesanato e o comércio alimentados por uma economia monetária. É

25

também o cadinho de um novo sistema de valores nascidos da prática e criadora do trabalho do gosto pelo negócio e pelo dinheiro [...]. (LE GOFF, 1998, p.25.)

Segundo Le Goff (1998) “as cidades contemporâneas, apesar de grandes transformações, esta mais próxima das cidades medieval do que as últimas das cidades Antigas. Le Goff (1998, p.25)”. (Ver figura abaixo).

Figura 01. segunda Le Goff (1997) á cidade é um reino de construções de casas dos poderosos e ricos dão provas disso entre os monumentos urbanos. (Ambrogio Larenzetti, Effets Du bom gouvernerment dans La ville, 1337-1339), detalhe: arquitetura e construção de uma casa. Siena, Palácio Publico.

Figura 02. Exagera-se na verticalidade na contemporânea; as técnicas de construção sofreram uma revolução. Mas o homem o trabalhador esta sempre ali, correndo risco de vida Fotografia Estados Unidos 1934.

Conforme Raminelli7 (1977, apud Pirrenne) em sua obra As cidades na idade Media de 1927, o mesmo define cidade como uma concentração humana portadora de personalidade jurídica, vivendo do comércio e da indústria.

7

Ronald Raminelle: Ex-professor do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná e atualmente na UFF. Autor de vários artigos sobre historiografia e história colonial. Mestre e doutor pela USP é autor do livro Imagens da Colonização (Jorge Zarar editor, 1996).

26

Outro autor que descreve bem a Idade Média será Leo Hubermam (1986) que apresenta uma visão tripartida da sociedade feudal dividido-a em três grupos sacerdotes, guerreiros e trabalhadores.Esses três grupos formavam uma sociedade de hábitos diferentes da nossa de hoje. Nesta sociedade, os trabalhadores desempenhavam papel fundamental, pois eram os mesmo que sustentavam o clero e padres que pregavam, enquanto os cavaleiros lutavam então os trabalhadores era quem sustentavam a classe sacerdotal e os guerreiros. Um fator que favoreceu o desenvolvimento das cidades na Idade Média foi o comércio. Porém, para Hubermam (1986) este comércio sofreu alguns obstáculos dentre eles o dinheiro que era muito escasso e a moeda variava conforme o lugar. Além do transporte ser penoso e perigoso, difícil e extremamente caro. Hubermam (1986, p.18) é claro ao falar do desenvolvimento do comercio na Idade Média.

Mas não permaneceu pequeno. Chegou um dia em que o comercio cresceu, e cresceu tanto que afetou profundamente toda a vida da Idade Média. Todo século XI viu o comércio evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transformar-se em conseqüência disso [...].

Não significa que antes houvesse a ausência das cidades, logo as cidades prosperam como resultado do desenvolvimento do comércio, contudo Hubermam (1986) afirma que existiam cidades rurais sem privilégios especiais ou governos que as diferenciassem. Mas as novas cidades que se devolveram ou as antigas cidades adotaram uma vida nova sob tal estímulo, adquiriram aspectos diferentes.

Se é fato que as cidades crescem em regiões onde o comércio tem uma expansão rápida, na Idade Média temos de procurar as cidades em crescimento na Itália e Holanda. E é exatamente onde elas surgiram primeiro. À medida que o comércio continuava a se expandir, surgiam cidades nos locais em que duas estradas se encontravam, na embocadura de um rio, ou ainda onde a terra apresentava um declive adequado. Tais eram os lugares que os mercadores procuravam. Neles, além disso, havia geralmente uma igreja, ou uma zona fortificada chamada „burgo‟ que assegurava proteção em caso de ataque. (HUBERMAM 1986, p.26).

Contudo para Hubermam (1986) a cidade trazia um ar de liberdade para o homem da Idade Média já que os senhores feudais tinham o domínio das terras. As populações

27

desejavam algo mais que liberdade das terras. O hábito feudal de arrendar a terra de fulano que por sua vez arrendava a de beltrano, não os agradavam. O homem da cidade via as terras e a habitação sob diferentes do senhor feudal, sendo que no período feudal a terras por si só constituía um fonte de riqueza.

1.3- A FORMAÇÃO DAS CIDADES NO MUNDO MODERNO & CONTEMPORÂNEO

Como pensar o Mundo Moderno, a modernidade ou até mesmo o mundo contemporâneo em suas transformações ao longo da história? Este é um bom questionamento para poder compreender a constituição das cidades na contemporaneidade. Para Hobsbawm (2007, p.16) ao falar dessas cidades do Mundo Moderno tem a inclusão de novas palavras:

[...] Imaginar o mundo moderno sem estas palavras (isto é, sem as coisas e conceitos e que dão nome) e medir a profundidade da relação que constitui a maior transformação da história da história humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalúrgica, a escrita, a cidade e o estado [...]

Na construção do Mundo Moderno pode-se perceber que a partir deste momento vamos ter a expansão das fronteiras. Ao falar sobre Antiguidade e Idade Média o discurso estará centrado somente no ocidente europeu, contudo somente a partir da expansão marítima vamos ter a inclusão de novos povos. Hobsbawm (2007) descreve o Mundo Moderno em sua construção com a dificuldade ou incertezas das comunicações como um mundo muito maior. Logo Hobsbawm (2007, p.25) afirma: [...] – não tenho a intenção de exagerar estas dificuldades. O final do século XVIII era pelos padrões medievais ou do século XVI, uma era de comunicações rápidas e abundantes e mesmo antes da revolução das ferrovias, eram notáveis os aperfeiçoamentos nas estradas, nos veículos puxados e no serviço postal.

28

Contudo, afirma o autor, é mais fácil ligar capitais distantes por mares do que ligar campos à cidade.

O mundo em 1789 era, portanto para a maioria dos seus habitantes incalculavelmente grande. A maioria deles, a não ser que fossem arrancados de suas terrinhas por algum terrível acontecimento, como o recrutamento militar, viviam e morriam no distrito ou mesmo na paróquia onde nasceram [...]. (HOBSBAWM 2007, p 27).

Do século XVIII, para o século XIX, tem-se a estruturação dos estados monárquicos como França, Espanha, Inglaterra e Itália, que viram a constituir a formação dos estados nações. Contudo será na Idade Moderna que vamos ter a estruturação de grandes cidades resultado dos processos de industrialização, processo pelo qual ira contribuir para formação das grandes mega cidades no início do século XX. A respeito das condições das cidades Raminelli (1977, p.190) destaca os seguintes pontos:

Os estudos demográficos permitem afirmar que nas cidades tradicionais as taxas de mortalidade eram altíssimas, devido às condições de insalubridade e a grande concentração de pessoas pobres em espaços pequenos. As cidades era o principal campo de atuação de epidemia, que acometia uma grande parte da população urbana. A situação de precariedade caracterizou as cidades europeias até meados do século XIX, quando proliferam os planos de modernização do espaço urbano.

Hobsbawm (2007) destaca bem o período de 1789 sendo este um período marcante para a história do Ocidente, contudo coloca que o mundo de 1789 era essencialmente rural e é impossível entendê-lo sem assimilar este ponto fundamental. Para Hobsbawm (2007) em países como Rússia, a Escandinávia, ou os Bálcãs a cidades jamais se desenvolveram de forma acentuada, cerca de 90% a 97% da população era essencialmente rural, somente em 1851 a população urbana na Inglaterra iria ultrapassar a rural pela primeira vez.

A palavra urbana e certamente ambígua. Ela inclui as duas cidades europeia que por volta 1789 podem ser chamadas de genuinamente grandes segundo o nosso padrões – Londres, com cerca de um milhão de habitantes, e Paris, com cerca de meio milhão – é uma 20 outras com cerca de 100 mil o mais: duas na França, duas na Alemanha, talvez cinco na Itália (o mediterrâneo era

29

tradicionalmente o berço das cidades), duas na Rússia, e uma em Portugal, na Polônia, na Holanda, na Áustria, na Irlanda na Escócia e na Turquia europeia. (HOBSBAWM 2007, p 28).

Conforme Hobsbawm (2007) o Mundo Moderno a cidades europeias tiveram seu desenvolvimento fortemente influenciado por meio de navegação sendo como exemplo a própria cidade de Veneza e Gênova, na Itália. Essas são favorecidas pelo transporte que impulsionara o comércio e o crescimento urbano, outras cidades como Londres terá seu desenvolvimento atrelado a produção industrial que aconteceu na Inglaterra, todavia o próprio posicionamento geográfico da Inglaterra irá lhe favorecer para industrialização. Raminelli (1977) ao escrever sobre a História urbana coloca que hoje as cidades que crescem com mais rapidez não se encontram em regiões industrializadas, mas em países de terceiro mundo, onde a proliferação do espaço urbano não é acompanhada de industrialização. Após fazer uma leitura de vários autores sobre as formações das cidades, em vários tempos diferente, levantado o questionamento, o que venha definir a cidade hoje. Concluo que cidade é uma determinada região ou localidade que dispõe de um ou mais povoados compartilhando entre si redes comerciais e relações políticas e culturais, chegando a um número populacional relevante a uma organização administrativa para melhor funcionamento.

1.4

A CIDADE NA HISTÓRIA A PARTIR DO CONTEXTO BRASILEIRO

A colonização da América Latina deu-se a partir do século XV, com os países ibéricos impulsionados pelas navegações e os projetos mercantilistas com o Oriente, as caravelas portuguesas chegaram às terras hoje denominadas Brasil, e a exemplo da Espanha inicia período de novas riquezas.

Foi a partir dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase á margem das congêneres européias, e sem delas receber qual quer incitamento que já não trouxesse em germes. (HOLANDA, 1995, p. 31).

30

Holanda (1995), para tentar compreender a constituição da nação brasileira faz um estudo da própria formação de Portugal, em sua obra Raízes do Brasil onde percebe-se que o autor estabelece um elo de comparações buscando as semelhanças e diferenças de uma América espanhola e outra portuguesa identificando as peculiaridades de cada colônia que foram determinada na sua estruturação e organização.

[...] A frouxidão da estrutura social a falta de hierarquia organizada devemse alguns dos episódios mais singulares da história das nações hispânicas, incluindo-se nelas Portugal e o Brasil. Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente com a cumplicidade ou indolência displicente das instituições e costumes [...]. (HOLANDA, 1995 p. 33).

Faz-se importante antes de entrar na formação das cidades brasileiras compreender a formação do povo brasileiro, pois partindo desse eixo tem-se uma melhor compreensão da formação do Brasil nação. Contudo o que se observa a partir de Holanda (1995), é que a sociedade brasileira ela não nasce em uma perspectiva organizada, mais sim como fruto do acúmulo de fatores.

Pioneiro da conquista do tropico para a civilização, tiveram os portugueses, nessa proeza, sua maior missão, histórica. E sem embargo de tudo quando se possa alegar contra sua obra, forçoso é reconhecer que foram não somente os portadores efetivos como os portadores naturais dessa missão, nenhum outro povo do velho mundo achou-se tão bem armado para se aventurar á exploração regular e intensa das terras próximas a linha equinocial, onde os homens depressa degeneram, segundo o conceito generalizado na era quinhentista [...]. (HOLANDA, 1995 p. 43).

Holanda (1995) discorre em sua obra que a exploração do trópico não se processou por empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtivista, mas com um desleixo ou abandono. Conforme Holanda (1995), o estilo de colonização de Portugal diferente da Espanha, exerceu sua dominação através da vida rural. Logo os portugueses preocuparam menos em construir, planejar alicerce e mais na implantação de feitoria ou riquezas fácil. Destaca Holanda (1995) que a construção dos centros urbanos na antiguidade seguiuse como elemento de dominação desde construção do mundo helenístico. Contudo os próprios

31

espanhóis, diferentes dos portugueses que estabeleceram bases ruralistas, tiveram a preocupação em fixar organizações urbanas na colônia.

Já primeira vista, o próprio traçado dos centros urbanísticos na América espanhola denuncia o esforço determinado de vencer e ratificar a fantasia caprichosa da paisagem agreste: é um ato definido da vontade humana. As ruas não se deixam modelar pela sinuosidade e pela aspereza do solo; impõem-lhe antes o acento voluntario da linha reta. O plano regular não nasce, aqui, nem ao menos de uma idéia religiosa, como a que inspirou a construção das cidades do Lácio e mais tarde a das colônias romanas, de acordo com o rito estrusco; foi simplesmente um triunfo da aspiração de ordenar e dominar o mundo conquistado. O traço retilíneo, em que se exprime a direção da vontade a fim previsto e eleito, manifesta bem essa duas cidades espanholas, as primeiras cidades “abstratas” que edificaram europeus em nosso continente. (HOLANDA, 1995 p. 96).

Para Holanda (1995) a escolha de um lugar para povoar pelos espanhóis era verificada com cuidado, escolhia-se um lugar de boa compleição sem enfermidade, onde não houvesse coisas peçonhentas e nocivas; de boa e feliz construção de céu claro e ao ar puro. Já Freyre (2004) apresenta uma leitura diferente quanto à ocupação e determinação do território do Brasil Colonial, talvez pelo lugar social. Todavia é plausível no conhecimento histórico levantar novas abordagens e interpretações, em vista que não podemos ser imparcial no desenvolvimento da pesquisa. Freyre (2004) descreve que a ocupação do espaço da-se por uma ordem a partir do eixo de uma triangulo. Engenho, casa grande (com senzala) com capela, sendo introduzidos nesta paisagem desordenada, aqueles traços novos de ordem e de regularidade dentro de uma geometria da colonização agrária.

Embora o colonizador português não tivesse a mística da ordem como o espanhol nem como inglês ou o holandês – que neste mesmo Nordeste seria o primeiro a cuidar de construir bairros e até uma cidade inteira (o Recife) dentro de um plano geométrico de urbanização -, foi ele que deu á paisagem desta parte da América seus elementos característico de ordem: blocos de construção que representaram um método ou um sistema de conquista, de economia, de colonização de domínio sobre a água e sobre as matas. E não uma série de aventuras a esmo, cada qual a seu jeito. (FREYRE, p.2004. 59).

32

Quanto essa dualidade no planejamento e na forma como o português se estabeleceu no território brasileiro, levantada por Freyre (2004) e Holanda (1995), destacamos que o colonizador visava a busca de recursos, já a criação de vilas e cidade foi algo provenientes da necessidade, devido a isso vamos ter algumas cidades onde não vão dispor de um planejamento urbanístico, devido o seu surgimento ser resultado de empreendimento econômico a exemplo das fazendas gado, e da extração mineral.

O triangulo rural – engenho, casa, capela – se impôs a paisagem do nordeste de massapé, como a sua primeira nota de ordem européia. A água dos rios e dos riachos da região se subordinou ao novo sistema de relações entre o homem e a paisagem, embora conservando-se cheia de curvas e até de vontades. Sem se militarizar em canais rígidos à holandesa. (FREYRE, 2004 p. 59).

Conforme Holanda (1995) a cidade começaria sempre pela chamada praça maior. Quando em costa de mar, essa ficaria no lugar de desembarque do porto; em zona mediterrânea, ao centro da povoação destaca ainda Holanda (1995, p.97) que,

[...] A forma da praça seria a de um quadrilátero, cuja largura correspondesse a dois terço do comprimento, de modo que, em dias de festa nela pudessem correr cavalos. [...] a praça servia de base para o traçado das ruas: as quatro principais sairiam do centro de cada face da praça. De cada ângulo sairiam mais duas, havendo o cuidado de que os quatro ângulos olhassem para os quatro ventos. Nos lugares frios, as ruas deveriam ser largas; estreitas nos lugares quentes. No entanto, onde houvesse cavalos, o melhor seria que fossem largas. (HOLANDA, 1995 p. 97).

Holanda (1995) disserta que os empreendimentos portugueses parece-se tímido e mal aparelhado para vencer, comparando aos castelhanos, os portugueses caracterizavam-se pela exploração comercial. Logo não quer dizer que essa vontade criadora distinguisse sempre o esforço castelhano e nele as boas intenções tinha triunfado persistentemente sobre todos os esforços e prevalecido sobre a inércia dos homens.

[...] Ao contrario da colonização portuguesa, que foi antes de tudo litorânea e tropical, a castelhana parece fugir deliberadamente da marinha, preferindo as

33

terras do interior e os planaltos. Existem, aliás, nas ordenanças para descobrimento e povoações, recomendações explícitas nesse sentido [...]. (HOLANDA, 1995 p. 97).

Com relação à colonização portuguesa, Holanda (1995) disserta que os portugueses criavam toda as dificuldades a entrada de terra adentro receoso de que se povoasse a marinha. Logo Holanda (1995) discorre outra medida adotada para conter a povoação no litoral foi à estipulação pelas cartas de doação das capitanias onde o donatário poderiam edificar junto dos mares quantas ilhas interessa, porém era valido construir terras adentro somente seis léguas. Para Ribeiro (2006, p.177), ao falar do surgimento das cidades brasileiras coloca que:

Nossa primeira cidade, de fato, foi a Bahia, já no primeiro século, quando surgiram também Rio de Janeiro e João Pessoa. No segundo século, surgem mais quatro: São Luis, Cabo Frio, Belém e Olinda. No terceiro século, interioriza-se a vida urbana com São Paulo; Mariana, em Minas; e Oeiras, no Piauí.

Ribeiro (2006) evidência a exemplo de outros autores a preocupação da coroa portuguesa em proteger o litoral brasileiro, em virtude desse ato a rede colonial das cidades e vilas tem seu principal centro de dominação em Salvador, Rio de Janeiro, São Luis, Belém, Florianópolis. Conforme Ribeiro (2006, p.179) “suas principais edificações eram as igrejas, conventos e fortalezas, que constituíam, também, seu principal atrativo. Por ocasião das festas religiosas, a aristocracia rural deixava as para viver ali um breve período de convívio urbano festivo”. Ressalta-se que mesmo estabelecendo uma relação de aventureiro como coloca Holanda (1995), percebe-se que a decisão de proteger o litoral foi sábia e eficaz, fazendo com que o território brasileiro mantivesse uma só unidade, rica em recursos naturais, além de compartilhar de vários traços culturais a partir de uma miscigenação. temos a descrição do processo de crescimento das cidades brasileiras8.

8

ver tabela 1 página 34.

34

TABELA 1 BRASIL- REDE URBANA COLONIAL _____________________________________________________________________________ Fins do século XVI

Fins do século XVII

3

7

10

14

51

60

N° de Cidades N° de Vilas

População das principais cidades e vilas.

Salvador 15.000 Olinda/Recife 5000 São Paulo 1500 Rio de Janeiro 1000

População do Brasil

60.000

Fins do século XVIII

Salvador 30.000 Recife 20.000 São Paulo 4000 Rio de Janeiro 3000

300.000

Salvador Recife Rio de JaneiroOuro Preto São Luís São Paulo -

40.00O 25.000 43.000 30.000 20.000 15.000

3000000

Fonte: Estimativa baseadas em cronistas contemporâneas - apud Darcy Ribeiro (2006).

Segundo Ribeiro (2006, p.180) “[...] aglomerados menores surgiram no interior de cada área produtiva para exerce funções especiais, à medida que a população aumentava e se concentrava”. Conforme Ribeiro (2006) as feiras de gado alcançaram grandes expansões por todo mediterrâneo interior como Sorocaba, Campina Grande, Feira de Santana, já a produção de algodão tinham as feira de Itapicuru-mirim, Caxias, Oeiras, Crato etc. Os portugueses ao longo de sua colonização penetraram pelo litoral e sobre implantação das capitanias hereditárias fundaram às primeiras vilas, tendo prosperado as capitanias de São Vicente e Pernambuco, todavia essas vilas dariam origem às primeiras cidades brasileiras.

Com a criação da Borda da campo de vila de santo André e depois com a fundação de São Paulo, decaiu São Vicente e mesmo Santos fez menores progressos do que seria de esperar a principio, assim como continuaram sem morador algum as terras de beira-mar que ficaram ao norte da Bertioga e ao Sul de Itanhaém; não trabalhavam mais os engenhos da costa e, por falta de gênero que se transportasse, cessou a navegação da capitania tanto para Angola como para Portugal. . (HOLANDA, 1995 p. 101).

35

Na capitania de Pernambuco tiveram-se melhor desenvolvimento a vila de Olinda e povoado de Recife. Olinda era onde moravam os senhores de engenhos, conforme Silva (2003) foi fundada em 1537 pelo português Duarte Coelho, sendo que Olinda teve seu rápido desenvolvimento pela cana-de-açúcar na região nordestina.

Apesar de números ataques estrangeiros nos séculos XVI e XVII, que provocaram saques e destruição da cidade, subsiste um conjunto das mais antigas casas e igrejas da América. A cidade ainda conserva em suas colinas construções que testemunham os períodos coloniais e imperiais do Brasil. (SILVA, 2003, p.101).

Para Holanda (1995) no terceiro século de domínio português é que se tem uma maior migração para além das faixas litorâneas com o descobrimento do ouro das gerais. De acordo com Silva (2003) este será o período marcado por uma forte influência do estilo Barroco no Brasil, contudo a descoberta e exploração do ouro, no período denominado “Idade do Ouro” que ocorrerá no século XVIII, ter-se-á a fundação da Vila Rica hoje Ouro Preto, Congonhas(MG) e Diamantina no estado de Minas Gerais.

A antiga Vila Rica, Fundada em 1738, teve seu ápice durante o século XVIII e desenvolveu um estilo barroco peculiar em relação ás outras áreas do Brasil. Atualmente, é um testemunho de importante ciclo histórico da mineração de ouro e de outros metais preciosos. (SILVA, 2003, p.100).

Holanda (1995) é bastante claro ao descrever as cidades brasileiras diferentes das América espanhola, as brasileiras se distribuíram ao reflexo das circunstâncias. Conforme Holanda (1995, p. 109):

[...] Na própria Bahia, o maior centro urbano da colônia, um viajante do século XVIII, notava que as coisas se achavam dispostas segundo os caprichos dos moradores. Tudo ali era irregular, de modo que a praça principal, onde se erguia o Palácio dos Vice-Reis, parecia estar só por acaso no seu lugar. Ainda no primeiro século da colonização, São Vicente e Santos, ficava as casas em tal desalinho, que o primeiro governador-geral do Brasil se queixava de não poder murar as duas vilas, pois isso acarretaria grandes trabalhos e muito dano aos moradores.

36

Silva (2003) destaca que Salvador foi um importante centro administrativo e econômico dos mais notáveis do Brasil entre a metade do século XVI, e a metade do século XVIII, privilegiado pela posição estratégia do seu porto considerado um dos mais importantes do mundo português e durante o Brasil colonial devido o ponto convergente entre o comercio português e os países ultramarinos. Contudo Holanda (1995) evidencia que os portugueses construíram no Brasil cidades que não resultaram de planejamento preliminar, mas sim construíram cidades sem nenhum rigor, logo as cidades cresceram ao abandono, ao desleixo. Posteriormente com a ocupação do interior do Brasil tem-se a cidade de Goiás que para Silva (2003) representara o testemunho do interior do país. Logo Goiás terá grande destaque pela sua concepção urbanística, um exemplo de uma colônia adaptada ás particularidades do meio ambiente com a utilização de materiais típicos da região formando um conjunto único e notável. Prado Junior (2006), descreve que ocupação do interior nordestino processou-se com a pecuária iniciando na região da Bahia e Pernambuco, se expandido posteriormente para o norte. “A outra direção que toma a progressão das fazendas de gado depois de atingir o São Francisco, é para o norte. O rio é transposto, e em fins do século XVIII, começa a ser povoado o interior do estado do Piauí”. (PRADO JUNIOR, 2006, p.66). Para Prado Junior (2006) os currais de gado expandiram para além do estado do Piauí, chegando ao Maranhão e para o leste também transbordam no Ceará, contudo se deu de forma irregularmente distribuída, em período em que as populações eram pouco numerosas. Esse povoamento em pequenos estabelecimentos agropecuários, mesmo que com pouca densidade demográfica será o pontapé para a formação das primeiras vilas e cidades.

[...] Em meados do século XVII o sertão do nordeste alcança o apogeu do seu desenvolvimento. O gado nele produzido abastece, sem concorrência, todos centros populosos do litoral desde do Maranhão até a Bahia. O gado é conduzido através destas grandes distancias em manadas de centenas de animais. (PRADO JUNIOR, 2006, p.68).

A realidade descrita por Prado Junior (2006) é bastante pertinente no território piauiense que tem sua formação a partir da exploração das terras que então eram quase desconhecidas, pelo governo de Portugal. O estudo das bases econômicas que se faz presente

37

em sua obra é uma fonte importante já que os fatores econômicos influência a ocupação do espaço e o surgimento das cidades.

1.5

O CONTEXTO DAS CIDADES PIAUIENSES.

A ocupação do território piauiense pelo colonizador dá-se por meio de doação de grandes lotes de terras a fazendeiros que estabelecem currais de gado, essas fazenda conduzira a ocupação desse espaço de forma lenta, sendo que este gado criado de forma extensiva temse a necessidade de pouca mão-de-obra e também pouco investimento que sempre foi escasso por parte da portuguesa. De acordo com Costa Filho (2002) o atual território do Piauí antes do processo de colonização era habitado por sete nações nativas. Acróas, Tremembé, Gueguês, Timbira, Jaico, Tabajara e Pimenteiras. Destacando que o último se estabeleciam a margem do rio Piauí, localizado na atual microrregião de São Raimundo Nonato-PI.

O povoamento do Piauí inicia-se com atraso e prossegue vagarosamente. Não obedece quaisquer diretrizes, nem controle faz-se assim, por obra do tempo. Seu curso normal é esse. O ambiente tumultuário da conquista e da ocupação da terra, agravado pela insídia e agressividade do gentil, tira o sossego e a segurança do “branco”. Nessas condições, o homem não leva consigo nem mulher nem filhos [...]. (BRANDÃO, 1995, p.18).

De certa forma a descrição de Brandão9 (1995) vem a corroborar com afirmação de Holanda (1995) e mesmo em tempos bem mais avançados temos uma distribuição da colônia onde as caracteriza-se mais pela exploração do que povoamento. Logo, as primeiras vilas do país, as vilas piauienses nasceram de forma irregular e sem nenhum planejamento. Costa Filho (2002) que descreve sobre as origens urbanas piauiense propõe que os territórios ocupados pelos colonizadores tiveram como elemento norteador a água no processo de fixação, em via da ausência de recursos tecnológicos capazes de extrair água do subsolo com eficiência.

9

Wilson Andrade Brandão: Advogado, professor de Direito Civil da UFPI, ex-Deputado Estadual, Ex- Secretario da Cultura do Governo do Estado do Piauí, membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico Geográfico do Piauí, pesquisador, historiador, jurista e ensaísta, com livros publicados em todas estas áreas.

38

“O primeiro povoado do Piauí povoado da Mocha, teve como marco a fazenda de Cabrobó, instalada próximo ao riacho Mocha, e Pouca Vergonha. Em 1712, por Decreto Real, o lugarejo foi elevada á condição de vila, o mesmo nome”. (COSTA FILHO, 2002, p.16). Ressalta Costa Filho (2002) que desde 1696, a povoação da Mocha era freguesia de Nossa Senha da Vitória, sendo esta subordinada ao governo eclesiástico de Pernambuco. Evidência o autor que a existência de uma igreja era requisito necessário para que o governo civil reconhecesse o lugarejo e incluísse na hierarquia urbana. Brandão (1995) afirma que o povoamento do Piauí faz-se sem apoio financeiro de Portugal. Contudo, por essa e outras circunstância, ao término do século XVII a população piauiense era de 605 habitantes, sendo a pecuária é a única atividade da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória. A cerca do povoamento Mott (1985, p.9) “destaca que em se tratando de uma região onde a unidade de conquista e povoamento foi à fazenda de gado, cristalizando toda a vida sócio-econômica em derredor da pecuária intensiva os estudo sobre a história do Piauí tem se a necessidade de iniciar com os currais de criatório”. Conforme Brandão (1995, p.1995) pouco a pouco aumenta os contingentes da capitania piauiense mais volumoso, “[...] acontecimento auspicioso ocorre no século: o surgimento das povoações”.

São as mais populosas e com melhores condições de desenvolvimento: Valença, Marvão (hoje, cidade de Castelo do Piauí), Campo Maior, São João da Parnaíba (hoje, cidade de Parnaíba), Jerumenha e Parnaguá. Pobres casas muito modestas, sem ruas, somente pedaços de ruas, sem outros logradouros públicos, perdidos nos sertões imensuráveis, esses núcleos ignoram-se completamente. Falta-lhe qualquer forma de intercâmbio. Nem mesmo as regiões comunicam [...]. (BRANDÃO, 1995 p.19).

Brandão (1995) discorre que: por alvará de 1718 cuja execução veio em 1758, toma posse do governo da capitania do Piauí, João Pereira Caldas, o tão solene realizado em 20 setembro de 1759 na Vila da Mocha que posteriormente passa-se a denominar Oeiras. Logo além desse ato em 19 de junho de 1761 por medida da Carta regia é instalada a Vila de Jerumenha, Campo Maior, Marvão e São José da Parnaíba.

39

A Carta Regia de 19 de junho de 1761, que cria os primeiros espaços urbanos piauienses, define as especificações sobre a sua estrutura interna, determinado locais e tipos de construção. O setor administrativo pode-se dizer, balizava todo o conjunto arquitetônico, no qual se dava destaque aos prédios da administração em especial, ao da Igreja Matriz, com seu amplo adro. (NUNES & ABREU, 1995, p. 93).

Para Nunes & Abreu (1995)10 a igreja tinha um papel de referência desse espaço como novo status de vila ou cidade. Conforme Nunes & Abreu (1995) foi a igreja um marco mais presente e destacado na vila, até mesmo mais do que o pelourinho que legislação vigente da época instituiu como símbolo municipal.

Já na condição de capitania constituída com sua vida política já instalada com sede em Oeiras, o Piauí prosseguiu no seu processo de urbanização, lento, porém inexorável. Em toda a Capitania, de norte a sul, surgiam vilas que se espalhavam por todo o sertão disseminando embora precariamente, as características da vida urbana no Piauí. Novas vinte e sete vilas foram criadas no período que abrange as ultimas décadas do século dezoito e até o final do século dezenove, ampliando, assim a estrutura urbana piauiense. (NUNES & ABREU, 1995, p. 94).

Nunes & Abreu (1995) ao descrever sobre a estrutura espacial administrativa coloca que o Piauí após sessenta anos da instalação de seu povoamento, o seu espaço era essencialmente rural onde se destacavam as fazendas de gado, pontuado por algumas vilas. Oeiras era muito pobre, tudo nela que se consumia vinha de longe, além das outras vilas tinham dificuldade de prosperar (ver na foto: 3). Apenas a povoação de Poti, as vilas de Campo Maior e Parnaíba que tinha uma incipiente atividade industrial- a charqueada e beneficio do couro, era facilitado o escoamento de seus produtos pelo mar.

10

Célis Portela Nunes & Irlane Gonçalves de Abreu: a primeira cursou Licenciatura em História e Geografia pela faculdade Católica de Filosofia do Piauí, professora de Teoria da História e de História do Piauí, na UFPI, chefe do Departamento de Geografia e História do Piauí, pesquisador e autora de diversos trabalhos sobre a história do Piauí. A última cursou de Licenciatura em Geografia pela faculdade Católica de Filosofia do Piauí, Mestrado em Planejamento Urbano e regional pela Universidade do Rio de Janeiro, Professora.

40

Figura 03: Planta da cidade de Oeiras autoria de José Pedro César de Menezes 1809. Fonte: Arquivo histórico do Rio de Janeiro - RJ (apud: OLIVEIRA, 2007, p.37).

Contudo, o êxito do da vila de Poti, privilegiado pela agricultura e fatores econômicos e as dificuldades de comunicação de Oeiras, provocaria uma mudança no setor administrativo do estado. Para Nunes & Abreu (1995) a transferência da capital para vila de Poti poderia exercer em plenitude de direito a função de uma cidade-sede de província: promover um desenvolvimento, “mudar para progredir”.

O embate que culminou com a mudança da capital para Vila Nova do Poti, nas terras da fazenda chapada do Corisco, foi eminentemente político e envolveu as poderosas elites agrárias no norte piauiense, representada, principalmente, pelos políticos de Campo Maior e pelos notáveis de Oeiras. (NUNES & ABREU, 1995, p. 95).

Com advento da transferência da capital para Teresina observou-se que durante todo século XIX a base da economia piauiense continuou sendo a pecuária atividade que se distribuiu por todo o território.

41

Com a mudança da capital de Oeiras para as margens do rio Poti conforme Queiroz (1998) tem-se alteração econômica e demográfica da região centro-norte como Amarante, Floriano, Teresina, Parnaíba, União, que passam da condição de distrito para vila conseqüentemente cidade. Contudo os distritos e vilas presentes na região sul-sudeste do estado procederam em passos lentos. Distante da capital e carente de boas estradas manteve por muito tempo relações comerciais com cidades do norte da Bahia como Remanso e Juazeiro.

42

CAPÍTULO II - A FORMAÇÃO HISTÓRICA DE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI 2. 1 POVOAMENTOS DISTRITO-FREGUESIA VILA (1832-1880).

O signo da colonização piauiense faz-se por meio da concessão de sesmaria e da criação dos currais de gado. Tendo seu povoamento posterior a outras regiões, pois os portugueses tinham uma preocupação maior em proteger o litoral brasileiro. Segundo Odilon Nunes (1975) a partir das margens do Rio São Francisco emergem as primeiras bandeiras a busca de novas terras, em 1658 foi empreendida confiada ao capitão Mor Domingos Barbosa Calheiro que vindo de São Paulo, ao chegar à Bahia partiu para Jacobina com uma poderosa expedição, com mais de duzentos homens, ressalta o autor que essa expedição foi completamente destruída retomando poucos anos ao litoral. Em detrimento a tal acontecimento em 1669 é declarada guerra de extermínios a esses índios e organizadas novas bandeiras punitiva. Conforme Nunes (1975) desde 1666 os jesuítas aldeavam no sertão de Jacobina, partidários da catequese para a pacificação e expansão colonizadora. Para Nunes (1975) neste período os Ávilas representantes da casa da torre, entrariam em atrito com os jesuítas, pois temia que os missionários viessem a pedir terras para suas missões. Garcia Ávila representava a casa da torre cujos currais já haviam atingido ao norte do São Francisco. Logo como explica Nunes (1975), em meados do século XVII, os criadores de gado tinham chegado aos pontos mais sentetrionais do São Francisco na região de rios Cabaça, Salitre e Pajeú como uma variante na expansão colonizadora. Ressalta Nunes (1975) em sua obra o depoimento de Sebastião da Rocha Pita, a que o considera historiador contemporânea do desbravamento que escreve sobre a presença dos bandeirantes na capitania de São José do Piauí.

[...] E quando se refere ao Piauí, acrescenta que Domingos Afonso Sertão foi dos primeiros que penetrou no ano de 1671, e que nessa ocasião encontrou com Domingos Jorge Velho que “chegara aquela parte pouco tempo antes que o Capitão Domingos Afonso o entrasse. O próprio Domingos Jorge Velho deixou documento que confirma a data indicada pelo historiador, ou melhor, pelo cronista seu contemporâneo (NUNES, 1975, p.49).

43

Contudo, esse posicionamento exposto por Nunes (1975) corresponde a um processo de colonização que tem seu inicio proveniente das margens do São Francisco direcionado do interior para litoral da capitania por afluente do Rio Gurguéia que deságua no Parnaíba.

[...] Na campanha, comandava Domingos Afonso Sertão um traço dos combatentes da casa da torre. Nessa ocasião, talvez tinham penetrado no Piauí, nos sertões da Parnaguá, os expedicionários dos Ávilas, pois os mananciais do Rio Grande que fluem para o rio que viria a receber o nome de Gurguéia (NUNES, 1975, p.51)

Conforme Nunes (1975) não muito tardaria. Após o ano de 1676 o governador de Pernambuco D. Pedro de Almeida, concede as primeiras sesmarias em território piauiense a Domingos Afonso Sertão, Julio Afonso Serra, Francisco Dias da Àvila e Bernardo Perrura Congo. Nunes (1975) relata ainda que em 1681 é concebida nova sesmaria, logo parece que há um propósito de não tocar no Canindé bem como no Poti que possivelmente já eram conhecidos na Bahia. Os pontos de referência da sesmaria estão na região sul ou parte oriental como Araripe. Ao se debruçar sobre o povoamento do Piauí vamos perceber que trabalhamos com um tema um tanto polêmico, pois a ausência de fontes escritas que venham a alto afirmar um posicionamento deixam muitas perguntas a serem respondidas ou hipótese a ser confirmada. No entanto Pe. Claudio Melo (1983) faz novas abordagens do processo de colonização, propondo que a ocupação do território piauiense tinha surgido a partir de suas porções totalmente distintas sendo que uma porção estaria ligada ao norte, ligada ao Maranhão e na parte Sul Pernambuco e Bahia.

[...] Ambas as porções surgiram para a história, uma como continuidade dos sertões do São Francisco, outra como prolongamento do Maranhão; uma estava sob juridição do estado do Brasil, outra sob o estado do Maranhão, religiosamente uma pertencia à diocese de Pernambuco, outra a diocese do Maranhão [...] (MELO, 1983, p.21).

44

Logo, Pe. Claudio Melo (1983) coloca que ao trabalhar a colonização do Piauí é incorreto pensar uma colonização pelo Gurguéia subindo o rio Parnaíba e Poti, tendo em vista a entrada bem cedo de homens brancos pelo Maranhão na parte norte. Vem a corroborar com as afirmação acima a seguinte passagem de Pe. Claudio Melo (1983 p.26).

[...] Os desbravadores do São Francisco, a quem a maioria ainda crerem dever a primazia na ocupação do Piauí, certamente que variam este sertão quase de extremo a extremo. Em suma andanças, porém não foram os primeiro desbravadores e tiveram missões diferentes no sul e no norte do estado.

Pe. Claudio Melo (1983) descreve que a ocupação do norte na serra da Ibiapava ocorreu de forma mais amistosa com os nativos, contrário a região sul que a meta com guerreiros, como militar destroçadores de grupos indígenas. Ana Stela de Negreiro Oliveira (2007) descreve o processo de colonização da região sudeste evidenciando que tal colonização deu-se de forma tardia, em apenas dois séculos de contato entre colonizador e povos indígenas, a violência extrema de uma guerra contínua dispersou toda a população nativa, sendo que as terras foram ocupadas para a implantação de uma economia baseada na criação de gado. “O Sudeste do Piauí encontrava-se na rota dos dois pontos de irradiação da pecuária para o interior do Brasil, a corrente baiana e a pernambucana, assim como dos caminhos do gado do sertão para distribuição na Bahia e Minas Gerais”. (OLIVEIRA, 2007, p.26). A região que se localiza nos dias atuais São Raimundo Nonato e cidades vizinhas caracterizam-se pelo Bioma Caatinga em uma região entre fronteiras geológicas: a planície pré-cambriana da depressão periférica do São Francisco e bacia sedimentar Piauí-Maranhão. Rico em biodiversidade muito cedo a região foi habitada por grupos de nativos. Os últimos grupos de gentios a habitar a região foram denominados de Pimenteiras pertencentes à tribo dos Tapuias. Nesta região desenvolveram-se com habitações rústicas, extraído somente os recursos necessários para sua sobrevivência. Logo essa foi à melhor maneira de suprir suas necessidades. A exemplo de outras regiões não tardou para os nativos serem surpreendidos com ação do colonizador que trazia consigo um pensamento destrutivo, tendo em vista a conflituosa

45

relação em perdas humanitárias por parte dos nativos e desfalque no rebanho de gado de fazendeiros. “Perseguição feita aos gentios deve-se, segundo pensamos ao fato de o mesmo haver dado cabo, entre outras, de cerca de trinta e cinco fazendas de gado pertencentes ao ilustre Carlos César Burlamaque explica William Palha Dias (2003, p.18).” Dias (2003) em sua obra “Caracol na História do Piauí” descreve a colonização da região e vê os bandeirantes representante do governo a partir de uma visão romântica aonde o mesmo vai de protagonista a herói nas “bravas bandeiras” pelo Piauí. De acordo com o autor Coronel José Dias Soares configura-se como moço forte, bravo, inteligente, simpático As primeiras bandeiras se dirigiram em direção ao Baixo Médio Piauí na chapada de Bonsucesso, depois formigas, atual Caracol. Conforme Dias (2003) o governador em 1806 recebe da capitania do maranhão o aval para empreender as primeiras guerras contra os nativos, por vez é tomada a primeira tentativa no fim do mesmo ano. A primeira bandeira demonstra uma descrição de conflito extremo. Uma relação de extermínio por parte dos colonizadores para com os nativos. Informa Dias (2003, p.20) que,

[...] Ao se aproximar, a tropa da fortificação foi interceptada pela agressividade dos Tapuias que aguerridamente procuravam defender a rústica cidadela. O comandante em conseqüências deu ordem para sorte final. Travou-se profunda luta somente cessada o fogo após algumas horas. Determinou-se imediato ingresso no interior da faxina e verificou-se ter o inimigo em quase sua totalidade abandonando o local feito o balanço, tomou-se conhecimento da morte de dez índios e de doze aprisionados, sem que dos soldados ficasse um ferido [...].

Na descrição do fatídico extermínio William Palha Dias (2001, p.41) em outra obra, São Raimundo Nonato Distrito- Freguesia a Vila, continua a descrever:

Na nação indígena morreram doze Tapuias e aprisionaram-se outros doze, todos de guerra, e pegaram ainda nove índias adultas e três curumins, dos quais dois morreram, imediatamente, enfelizados. Cessada a peleja, encontraram-se mais outras rancheiras, onde fizeram a apreensão dos seguintes: oitenta arcos, trezentos e seis fechas, quarenta redes, vinte e quatro machados de pedras, trinta e dois cães seis papagaios, dois periquitos, vários instrumentos de caça e utensílios domestico.

46

A citação acima demonstra a fragilidade dos nativos nos combates resultando de suas armas, assim como o objetivo dos bandeirantes de conquistas das novas terras mesmos que a custo de sangue. Para o nativo a opção muitas vezes foi afastar-se dos domínios do colonizador a procura de lugares longe de combate. Relatos de fontes orais demonstram que os conflitos entre os índios e os colonizados não se limita a um único momento, mais sim ao longo da primeira metade do século XIX, teve-se situações de confrontos e apreensões de índios Pimenteiras como destaca Noé Ribeiro Soares.

O primeiro morador foi Manuel Ribeiro Soares, aqui era situado de índios ai eles brigaram e escorraçaram eles. Ficou sem morar ninguém o primeiro morador foi Manuel Ribeiro Soares, História que meu pai conta (...). Primeiramente foi ele, os outros eu não sei foram chegando foram chegando, ai... Mais o primeiro foi ele. Hei! Quando ele chegou não sei se havia filho meu pai era neto. Quando os outros moradores chegaram já tava desocupado. Nesse tempo chamavam Tamanduá. E trabalhava de roça. Quando eu conheci meus avôs trabalhavam de roça e criavam gado que era adquirido com meus avôs e assim vai (...) a primeira história era que aqui morava só índios pegavam brigar com eles e começaram, meu bisavô mesmo pegou quatro índios para amansar. Aí ficou desocupado e meu bisavô veio morar.11

Nesta entrevista o Senhor Noé Ribeiro Soares, membro da família Ribeiro que teve papel importante na povoação na região sul, faz referência as bandeiras e o processo de pacificação desta área, mais precisamente da fazenda Tamanduá localizada na rota dos tropeiros que locomovia entre Caracol e São Raimundo Nonato nas margens do rio Piauí. Este relato nos indica que o processo de contato de índios e brancos não é resultado de único conflito, mas que tudo indica que havia presença de nativos esporadicamente dispersos nos arredores mantendo contato com homem branco mesmo que em sua maioria de conflitos, já as fazendas expostas reforçam a afirmação de Noé Ribeiro Soares. Contudo é valido ressaltar a existência de várias outras fazendas que viraram núcleos de povoação.

11

Noé Ribeiro Soares nascido em 1910, entrevista: Fevereiro 2009 Anísio de Abreu-PI.

47

TABELA 2: FAZENDAS NA REGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI E EM SEU ENTORNO NO SÉCULO XIX12 FAZENDA Manoel Pereira dos Santos Manoel Ribeiro Soares

Manoel do Nascimento

Ângela Liberato Café

PROPRIETÁRIOS Na fazenda Jenipapo Na fazenda Tamanduá Nas fazendas Onça, Ponta da Serra, Cana Brava, Pedregulho e Bom Jardim Nas fazendas Jenipapo, São Lourenço e Riacho Seco

DATA 1844 1845

1851

1855

Fonte: Acervo FUMDHAM, com modificação pelo o autor.

A vila de São Raimundo Nonato desde o início foi povoada por famílias tradicionais de prestígios políticos no estado. Logo, o processo de colonização procedeu-se com os Dias sob o comandante Coronel Dias Soares e como os Ribeiros nas bandeiras de Manuel Ribeiro Soares que se instalou nas proximidades. Manoel Bonfim Dias Ribeiro, (1996) ao descrever a história da família Ribeiro, disserta que da Ilha de Madeira muitos portugueses emigraram para o Brasil, inclusive da família Ribeiro, sempre pela rota marítima, único meio de comunicação da época. Para Manuel Ribeiro (1996) os Ribeiros constituíam uma família imensa que desde os primeiros anos de colonização, ajudou a povoar o Brasil. Segundo o Manuel Ribeiro (1996 p.107). “Um pequeno ramo se adentrou nas terras do Piauí, pelo delta do rio Parnaíba, único meio de penetração no Brasil colônia provavelmente na segunda metade do século XVIII.” Conforme Manuel Ribeiro (1996) por via de fontes orais, três irmãos da família Ribeiros resolveram emigrar para o sul do estado nos primórdios do século XIX. Nesta migração fizeram longa cavalhada até São Raimundo Nonato, distante 85 léguas do Alto Longá. A rota deve ter sido via Regeneração onde vivia outros parentes a quem sabe incorporando alguns deles na viagem.

[...] Os irmão Ribeiro vieram para o Sul do Piauí em busca de terras boas para criação de gado, atividade predominantemente em todo o Estado. Fixaram-se em lugares diferentes, mas relativamente próximos. Queimadas perto da divisa de São Lourenço. Queimadas pertencem hoje, ao município de Dirceu Arco Verde, Antigo Bom Jardim. Jurema, nas nascentes do rio 12

Fonte: Acervo FUMDHAM. São Raimundo Nonato-PI. Inventários. Cartório do 1º Ofício ano1894-1898.

48

Piauí, próximo a Caracol, hoje cidade com mesmo nome. Macacos, lugarejo próximo a São Raimundo Nonato. (RIBEIRO, 1996, p.108).

A família Ribeiro foi um caso aparte, pois de origem fidalga tiveram êxito em historicisar o seu povoamento nesta região. Outro grupo familiar a ter escrito sobre sua história foi os Dias Soares que chega às vezes a confundir com a história local. Todavia, temos outras famílias com bastante relevância na região como os Macedos, Negreiros e os Ferreiras entre outros, contudo estes nomes vão figurar no cenário político local (OLIVEIRA, 2009). Logo, as três primeiras décadas do século XIX, serão de apropriação, desbravamento e conhecimento da região sudeste da capitania de São José do Piauí. Ressaltando os intensos combates aos índios Pimenteiras que abrigavam esta região. Os Pimenteiras eram grupos de grande locomoção tendo os mesmo assimilados costumes de outros grupos Segundo Oliveira (2007, p.64):

Em quase todos os mapas do Piauí nos séculos XVIII e XIX, os Pimenteira aparecem localizados entre os rios Piauí e Gurguéia, o que levou esta pesquisadora a trabalhar com a hipótese de que o grupo foi formado no Sudeste do Piauí, não se constituindo apenas de uma só etnia. Por meio da documentação pesquisada, há a possibilidade de existirem duas etnias, Coripó e Prassaniú, ou mais grupos que fugiram das frentes pastoris que atuavam no século XVII no São Francisco. Aqueles grupos podem ter se juntado, dando origem a uma nova etnia, que se formou no período póscontato.

Dado os intensos conflitos sob o comando do Coronel José Dias Soares na bandeira organizada na região sudeste do Piauí o mesmo demonstrou-se interessado em habitar a região. Segundo Dias (2003) para isso, teve de organizar, ás próprias custas, uma pequena bandeira agregando a ela algumas pessoas de sua família. A partir dai começava a povoar a região do Baixo Médio Piauí nas cercanias da lagoa chamada de Bonsucesso que depois, cujo nome não agradava o comandante que modificou para Lagoa do Caracol. Contudo o Decreto Regencial em 6 de julho de 1832, é criada a Freguesia Eclesiástica, com nome de São Raimundo Nonato. Conforme Dias (2001) o Distrito Freguesia que se instalou no lugar confusões não tendo bom desempenho foi transferido em 1836, para um local que oferecesse melhor condições ao seu desenvolvimento (ver mapa p.33).

49

A escolha recaiu no lugar Jenipapo, na confluência do Baixão Vereda com a margem esquerda do rio Piauí. A escassez de água potável, por certo, concorreu para que fosse escolhido aquele local tão sujeito a constantes inundações, porém, mais fácil seria, então escapar-se a uma repentina inundação que aos rigores de uma estiagem cuja duração não se poderia prever. (Dias, 2001, p.32).

Ressalta Dias (2001) que a transferência em um curto espaço possibilitou o rápido florescimento da povoação. Atendo em comprimento ao disposto na Lei Provincial Nº 35 de agosto de 1836. Logo, o Rio Piauí desempenha um papel fundamental para a gênese da urbanização deste novo povoado, possibilitando o trafego de tropeiros e o uso de suas águas para fins domésticos e da pecuária e agricultura. Conforme Ferreira (1959) o encontro do Baixão “vereda” com rio Piauí, forma uma baixia de boas proporções, com excelentes terras para lavoura e pastagem e abundantes lençóis de água potável subterrânea. Muito próximo destas águas estavam as demais construções, sem entender que muito úmido, o solo é cercado de águas estagnadas durante o inverno e sujeitos a inundações nas grandes enchentes do rio Piauí. (ver mapa na página seguinte):

50

Mapa 01: Copia do Mapa da Região Sudeste do Piauí. Fonte: Ana Stela Negreiros com modificações do autor.

São Raimundo Nonato no desenvolvimento enquanto Distrito-Freguesia não dispôs de nenhum recenseamento, tendo os primeiros trabalhos de pesquisa somente na primeira década do século XX, no entanto carece de dados quantitativos da pesquisa. Contudo sob empreendimento imperialista tem uma colonização do homem branco para com os indígenas, não deixando de fora o negro que se faz presentes nas instalações das fazendas de gado da Capitania São José do Piauí.

Por esse tempo a escassa população era tão dispersiva que só a muito custo conseguiu-se formar a nova comuna. Os habitantes se compunham de poucos brancos alguns mamelucos, negros, índios aldeados e um que outro mulato desgarrado de outras freguesias cujos limites confundiam-se com aqueles gerais. (DIAS, 2001, p.45).

Ressalta-se que o Distrito Eclesiástico de São Raimundo Nonato integrava a região Alta Piauí e pertencia aos domínios dos municípios de Jaicós e Jerumenha tendo muitas vezes

51

sua história relacionadas a história destes municípios . Contudo o rio Piauí favorece a rota de tropas nesta região, em vista que a ocupação fez-se sem investimento financeiro por parte do governo. A Freguesia Eclesiástica que se instalou na região Sudeste do Piauí com o nome de São Raimundo Nonato, com seu florescimento passou da condição de Distrito-Freguesia por meio da Lei provincial número 257 de 12 de agosto de 1850 a categoria de Vila conservando o mesmo nome de São Raimundo Nonato, com extensa faixa de terra em que compreende hoje outros municípios, a vila conciliava um território onde se acham hoje Canto Buriti, Caracol e São João do Piauí, assim como os outros municípios que se encontram entre os limites de São Raimundo Nonato. De acordo com Ferreira (1959) Tendo a instalação da sua nova comuna só em 4 de março do ano 1851, período em que tinha como governo da província Inácio Francisco da Mota. Ficou constituído o distrito judiciário subordinado a Oeiras até 1859 e, posteriormente, a Jaicós, quando foi elevado à categoria de comarca, por efeito da Lei provincial número 468, de 12 de agosto de 1850. Segundo Ferreira (1959) em 17 de março de 1872, sendo instalada a vila de São João do Piauí, criada no ano anterior com sede no povoado Jatobá, ficou desmembrada de seu território toda a zona que corresponde aquele município e o de Canto do Buriti. Poucos anos depois uma Resolução provincial aumentou o território do município de São João do Piauí, recortando ao nascente de São Raimundo Nonato uma boa extensão de terra. Distrito judiciário que apresentava bons florescimentos São João do Piauí até 1874 pertencia a São Raimundo Nonato. Contudo, a parir deste ano passou a ser comarca, desligando-se judicialmente deste município. Contudo, conforme os dados da Ferreira (1959) São João do Piauí, volta permanecer a São Raimundo Nonato, porém esta é uma decisão que não firma, e vista inconformidade dos habitantes da vila de São João do Piauí sem o mesmo desligado em 1896,.

Em 1896, porém, em virtude de dissenções [sic] políticas, uma lei estadual extinguiu-lhe os foros de vila, comarca e termo, voltado novamente a incorporar-se ao município de São Raimundo Nonato, que readquiriu os seus antigos limites de 1871. Todavia, no ano seguinte acalmadas [sic] as agitações em são em São João do Piauí, foi-lhe restabelecida a autonomia administrativa, com os mesmos limites anteriores, permanecendo, põem, em São Raimundo Nonato, o seu termo judiciário. (FERREIRA, 1959, p.615).

52

O advento do Distrito-Freguesia de São Raimundo Nonato que surge na região do Jenipapo não diferente de outras povoações do Piauí tem-se a igreja que construída em 1876, marca o símbolo da comunidade. Ressalta–se que tratando de tempos bem remotos, a vila apresentava crescimento lento, com dificuldades no sistema de comunicação e transporte.

Noticias eclesiástica dão como pároco residente os seguintes: Pe. Henrique José Cavalcante, que foi substituído pelo Pe. Sebastião Ribeiros Lima (1878): Pe. Pedro Álvares de Araujo (1899), segundo do cônego Marcos Francisco de Carvalho, que ficou com visitador até 1922, quando da presença mercedária, [sic] até o presente, como se depreende a resenha que ao texto se insere. (DIAS, 2001, p.49).

A ordem religiosa se constituiu como referência na formação das vilas, e cidades piauienses. Logo encontra-se no centro das vilas e cidades a construção da igreja, que tem maior representatividade do que os prédios de domínio do governo da capitania.

Figura 04. Igreja Matriz São Raimundo Nonato Fonte: FUMDHAM

São Raimundo Nonato, uma vila distante 517 km de Teresina, capital do Estado, tinha uma economia agrária, baseada na lavoura de milho, feijão e arroz e atividade da pecuária,

53

sem participar ativamente das decisões de um governo, que vivia o período imperial, onde o município pouco podia intervir assuntos estaduais. Logo, a ausência efetiva do domínio público, fazia com as aparelho religiosos predominasse . Neste contexto o religioso era de destaque, conforme Ferreira (1959) o templo que servia de igreja matriz, tornará um dos melhores do sul do estado e um cemitério de regulares proporções, a que deram o nome de Cemitérios de Nossa Senhora de Lurdes.

[...] alinham-se ruas, abriram um praça, construíram-se casas alegantes e foi criada uma feira semanal, aos sábados onde os lavradores expunham os seus produtos à venda. Sob direção do infatigável progressista cônego Sebastião Ribeiro Lima, Vigário da freguesia foi fundado um colégio no qual alguns moços se preparavam em português, latim aritmética [...]. (FERREIRA, 1959, p.116).

Na segunda metade do século XIX, a vila de São Raimundo Nonato ganha as primeiras formas urbanísticas, escolas, praças crescido de belas casas, pontuam o desenho urbanístico da vila. Todavia as secas decenais era algo bem presente nas lutas do sertanejo. Segundo Ferreira (1959) o crescimento da vila era lento com uma população que desconhecia os meios políticos de guardar e conservar os cereais e farinhas excedentes contribuía para que fossem apanhados de surpresa, quando lhe visitava o flagelo clima da seca. A alternativa era migrar para as regiões de Bom Jesus e Gibués. Na Vila de São Raimundo Nonato-PI que teve povoamento a partir das fazendas de gado, além dos extensos conflitos com grupos indígenas resultados de aprisionamento domesticação terá também o trabalho escravo um papel importante na consolidação do povoamento da vila. De acordo com Joseane F. Paes Landim (2010, p. 35) “inúmeras foram as fazendas agropecuárias existentes na de São Raimundo Nonato. Fazendas como: São Victor, Fazenda Tigre, Queimadas, Várzea Grande, Á Verde, Massapê, Caldeirão, São Lourenço, Curral Novo, entre outras”. Logo, feita uma revisão bibliografia ficou constatado a ausência de publicações que contemplasse a escravidão na vila de São Raimundo Nonato, sendo este sugestivo para o desenvolvimento de novas pesquisas. No entanto a pesquisa de campo fez com que nos deparássemos com documentos que demonstram face dessa história silenciada. Trecho da carta de libertação de escrava no ano de 1884:

54

Registro de carta de libertação da escrava Bonifácia, como se vê. nos abaixos asseguramos marido e mulher como lemos liberdade como represente livre tivesse nascido nossa escrava Binifácia, a qual horemos por comprar a Senhora Maria José pela quantia de duzentos mil reis que ao passar desta recebemos sem que a nossa herdeira função nisto o menor obstáculo, para que afessuaemos [sic] ao testamento a baixo assinado. Vila de São Raimundo Nonato sete de maio de mil oitocentos e oitenta e quatro. Agostinha José da Silvia Árogo de Ana Josefa Caroline do Raimundo da Costa Martins se testemunham João Ribeiro Soares, Vitorino Ferreira Braga. Nada mais se tinha em dita carta de libertação que vem oficialmente para que se registre em reporto próprios originais reporto e dou fé. oito de maio de oitocentos e oitenta e quatro, eu João Raimundo do Martins, eu tabelião de notas.13

No livro de registro de compra e venda bens e imóveis de 1884 do cartório foram encontrados documentos referentes à libertação de escravos. Contudo compreende que estes escravos, mesmos quando libertos conviviam em difíceis realidades. A respeito do trabalho muitos vieram encaixar na agricultura, pecuária e posteriormente na atividade de extração da maniçoba, destacando que a extração de borracha era uma atividade proporcionou acessão para pequenos grupos, já em outras partes as condições em que os maniçobeiros trabalhavam eram condições precárias conforme Oliveira (2007) Paes Landim (2010), em seu trabalho de pesquisa “As representações da família no sertão do Piauí (1836-1888)” buscou interpretar algumas faces dessa história que muitas vezes não é narrada, pois segundo a autora esta é uma história dos vencidos, porém durante muito tempo não houve o interesse de torná-la legitima. Para tentar entender algumas características nos livros de batismo a formação da família escrava. Contudo Paes Landim (2010) constatou que grande maioria dos filhos batizados eram filhos naturais, não havia registro dos pais, esclarecendo este fato a autora disserta que:

Apesar da grande quantidade de batizados de filhos naturais, não podemos interpretar que a escrava não possuía um parceiro fixo, pois, para a igreja o 13

Cartório municipal de São Raimundo Nonato - Piauí. Livro de compras e vendas de bens e imóveis do Cartório 1º Ofício. 1884-1913.

55

marido só é reconhecido se a união for realizada sob a solenidade de matrimônio, caso contrario a união era reconhecida, e nos casos de casamentos no período de 1836 a 1882 (até onde consta as fichas) dos 1738 matrimônios celebrados na região apenas aproximadamente 3, 45 % (60) são de cativos (PAES LANDIM, 2010, p. 36).

A autora apresentando dados significativos para a compreensão da participação dos escravos na no distrito-freguesia vila de São Raimundo Nonato destaca que a quantidade de escravos por fazendas era pequena, em relação aos grandes plantéis do sul do país. Conforme Paes Landim (2010,) pelas fichas de batizados foram encontrados 112 proprietários de escravos, a maioria possuíam apenas dois, outros possuíam de dois a cinco escravos apenas o Comendador Piaulino possuía 12 escravos. Contudo acredita-se muito que os escravos tenham participação significativa na construção vila de São Raimundo Nonato, logo de acordo com Paes Landim (2010) o silêncio muitas vezes oculta essa história.

2.2 O PIAUÍ: SÃO RAIMUNDO NONATO-PI NO FINAL DO SÉCULO XIX (1880-1900)

O desenvolvimento do Estado está intrinsecamente relacionado à formação econômica, social e políticas dos municípios. Contudo os acontecimentos históricos justificam a formação das vilas piauienses, que emergiram nas proximidades dos rios sendo os principais rios Parnaíba, Gurgueia, Canindé, e Piauí. A transferência da capital de Oeiras para Teresina em 1851, pelo presidente provincial José Antônio Saraiva será algo benéfico para as vilas do Norte da província, pois irá torna-se mais acessíveis. Todavia para as vilas da parte sul e sudeste tornaram-se mais distante dificultando a comunicação, além de seus vários setores como saúde, educação economia. Logo, como resultado algumas vilas da região sul e sudeste apresentaram forte comércio com a compra e venda no mercado do estado da Bahia e Pernambuco regiões que também migram habitantes em seus desenvolvimentos econômicos. No entanto, as longas distâncias sempre foram um empecilho, pela dificuldade de transporte dos afastados centros consumidores. Ferreira (1959, p.116) faz referencia a movimentação deste comércio:

56

Com a criação da vila de São Gonçalo de Amarante a 70 léguas de distancia, e o desenvolvimento comercial de Feira de Santana, no estado da Bahia, distante de São Raimundo Nonato cerca de 150 léguas, convergiu para esse ponto de venda de bois, requeijão e manteiga de nata para Amarante e os mencionados produtos e mais bois e cavalos para Feira de Santana, cujas viagens eram verdadeiras caravanas.

Além da atividade da pecuária a produção de algodão também se desenhou como um importante fator na economia do Estado. Conforme Santana (2001) em 1846, á província produzia bastante algodão exportando-o para o estrangeiro. Teresina, União, São Gonçalo do Amarante eram os maiores produtores. Para Santana (2001) a exportação anual calculava-se em dez mil arrobas. Bastava, porém, uma queda na colheita ou alteração do mercado externo para que todo o comércio sofresse duras conseqüências. Assim, conforme o relatório do presidente da província de 7 de setembro de 1886, neste ano casas comerciais faliram em virtude da má colheita do algodão. Conforme Teresinha Queiroz (1998) até o fim do século XIX a base da economia piauiense é a pecuária, atividade distribuída por todo estado, mas com leve concentração na área centro-sudeste. A partir do início do século XX, com a exploração da maniçoba, há um período de evidência da região sul - sudeste, mas ao longo do tempo a tendência mais forte é o adensamento da população no Centro-Norte do estado. Este crescimento populacional na parte Norte será devido fatores econômicos, a fortes grupos políticos que se encontravam, possibilitando seu desenvolvimento e as tomadas importantes decisões políticas do estado. A proclamação da republica em 1889, atuara de forma positiva já que o Estado e municípios terão mais autonomia, assim como uma melhor organização política. Com o efeito de tal ato o primeiro governador será o Major Gregório Taumaturgo de Azevedo, nomeado pelo governo central. Contudo, em 15 de setembro de 1890 é realizado Eleições Gerais para a Constituinte14 sendo que:

14

NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Cronologia do Piauí Republicano1889-1930. Teresina, Fundação Cepro, 1988.

57

TABELA 3: ELEIÇÕES GERAIS PARA A CONSTITUINTES (1891) PARA A CÂMARA Joaquim Negreiros Paranaguá Anfrísio Fialho [sic] Nelson de V. e Almeida Firmino Pires Ferreira

PARA O SENADO Joaquim Cruz Teodoro Alves Pacheco Elizeu Martins

ANOS 9 6 3

Fonte: NASCIMENTO (1988, p.17).

Os presentes dados fazem referência aos primeiros constituintes, ao longo do Piauí Republica ficará visível na história do Piauí que grupos familiares irão fazer-se presentes na política estadual criando oligarquia no poder onde famílias tradicionais, a exemplo dos Nogueiras, Martins, Ferreiras entres outros. Ainda, em 1890 de relevância na política Estadual, tem-se a eleição para governador do estado sendo eleito Dr. Gabriel Luis Ferreira e João da Cruz e Santos. Gabriel Luís Ferreira foi o primeiro governo constitucional do Piauí, tendo sido eleito pela Assembleia Estadual Constituintes. Dentre os fatos importantes destacam a instalação dos municípios de Gibués, Bertolínia, Floriano, Luzilândia, e Buriti dos Lopes, além da criação do tribunal de Justiça do Piauí. No que desrespeito a educação no Estado, Queiroz (1998) pontua que o analfabetismo é um traço de continuidade na história do Brasil sendo o fim do século XIX e inicio do século XX, com características similares.

Nas duas ultima décadas do século XIX, a instrução particular ganha impulso no Piauí. Durante a década de 1880 aparecem vários institutos de instrução primaria e secundarias e cresce o numero de preparatório que vão dirigir-se às escolas superiores do império. O liceu e a Escola Normal (18821888) são os principais estabelecimentos de ensino público. As escolas particulares algumas funcionado como internato para alunos do interior, supriam parte da carência deixada pelo ensino público.(QUEIROZ, 1998, p. 77).

Os referidos dados apresentados sobre a educação demonstram um pouco do cenário político do Estado, pois os presentes dados favorecem a construção de regime político coronelista onde possibilitam grupos familiares, revezar nos cargos públicos, criando assim uma oligarquia.

58

Em um contexto Estadual, o final do século XIX, os municípios de maiores influências política encontraram-se principalmente na parte Centro-Norte locais onde prosperaram a vila da Parnaíba, Campo Maior, União e a capital Teresina.

59

CAPÍTULO III- SÃO RAIMUNDO NONATO UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA 3.1 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EM SÃO RAIMUNDO NONATO NO INICIO DO SÉCULO XX

O historiador é sempre de um tempo, aquele em que o acaso o fez nascer e do qual ele abraça, às vezes sem saber, as curiosidades, as inclinações, os pressupostos, em suma, a “ideologia dominante”, e mesmo quando se opõe, ele ainda se determina por referência aos postulados de sua época. René Remond

O final do século XIX e o limiar do século XX serão marcados por profundas mudanças no econômico e social em São Raimundo Nonato, uma vila que nasceu da fazenda de gado. A dificuldade em seu crescimento, acentuado pelas baixas na produção da pecuária que já não tinha tanta força como em seu inicio, faz com que a população de São Raimundo Nonato veja no extrativismo da maniçoba a possibilidade de impulsionar a economia local. Não somente São Raimundo Nonato se beneficiou da exploração da extração da borracha da maniçoba, mas o estado do Piauí com maior concentração no sudeste que vem a presenciar o boom da borracha maniçoba favorecido por agentes externos supriu a necessidade do desenvolvimento da indústria automobilística e elétrica. Com relação a exploração da maniçoba no sudeste do Piauí o trabalho de pesquisa de Ana Stela Negreiros Oliveira (2001) “Catingueiros da borracha vida de maniçobeiros no sudeste do Piauí”, constitui-se como importante referência no preenchimento do conhecimento histórico sobre a exploração da maniçoba. Logo cabe neste estudo buscar entender suas modificações na formação social e no processo de emancipação política de São Raimundo Nonato. Conforme Oliveira (2001) algumas cidades no sertão do Piauí tiveram seu desenvolvimento relacionado à economia extrativista da maniçoba destacando na região os seguintes municípios São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Caracol e Canto do Buriti.

60

Mapa 2: Atuais limites territoriais de São Raimundo Nonato-PI Fonte: Filho Oliveira (2007 p.108).

Contudo, é valido ressaltar que a então Vila de São Raimundo Nonato disponibilizava de uma vasta extensão estando sob sua jurisdição à região Caracol, e vários outros municípios

61

que limitavam com a vila de São João do Piauí e Canto do Buriti. Todavia, a produção econômica da borracha da maniçoba não impulsionava o crescimento somente de São Raimundo Nonato, tendo assim florescido outras regiões do seu entorno que posteriormente vieram a ser elevada a condição de cidade. Conforme Ferreira (1959) com exploração da maniçoba abriram-se grandes roçados para o plantio compensando dessa euforbiácea, e a vila e município sentiam o influxo da prosperidade individual. “Na vila as construções de boas e elegantes moradias sucediam-se a fazenda da Serra, duas léguas distante adquirida por sindicatos norte-americanos, convergiam numa vila operaria com agradáveis vividas em quadriláteros formados uma praça no centro Ferreira (1959, p.118)”. Em entrevista Gaspar Dias Ferreira faz referências aos seus familiares que tiveram êxito no cultivo e comércio da borracha da maniçoba.

A borracha de maniçoba é uma árvore que se tem muito aqui nessas chapadas ela dá um liquido com uma liga, que a gente chamava de borracha de maniçoba é não é tão diferente da seringueira, mais tem muita liga então no início do século ela deu muito dinheiro, meu avô plantou uma roça muito grande. Então a situação econômica dele passou a ser muito boa já em 1925, então deu muito dinheiro naquela época15.

De acordo com Oliveira (2001, p. 246 apud. Emperaire) a população da cidade de São Raimundo Nonato teve um crescente aumento acentuado em 30 anos, passando de 5.997 habitantes em 1890 para 19.851 em 1920. Como resultado desse crescimento tem-se a crescente emigração de outros estados principalmente Pernambuco, Ceará, Bahia, Alagoas. Para Oliveira (2001) de Pernambuco partiu o maior contingente de trabalhadores que chegaram a região sudeste do Piauí. Neste contexto destaca-se que o ambiente constitui-se de forma positiva para a extração e cultivo da maniçoba. Pertencente ao gênero botânico Manihot glaziowii, da família euforbiácea. Estás árvores são resistentes a seca por meio de suas reservas de água nas raízes e nos caules.

15

Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos.

62

A árvore produz um látex durante todo o ano, porém os maniçobeiros preferiam trabalhar logo após o inverno, isto é, de março a setembro. Nas épocas de seca quando as folhas e flores caem, a produção é menor. (Oliveira, 2001 p.22). A forma como se procedeu a exploração da maniçoba a mesma não se constitui como uma economia sustentável, logo sua extensa exploração ocorreu de forma impactante ao meio ambiente chegando a mesma em dias atuais estar quase extinta. Conforme Teresinha Queiroz (2006) em sua obra: A importância da borracha de maniçoba na economia do Piauí 1900-1920. Onde a autora faz uma interessante leitura sobre esta atividade econômica no estado destaca:

A exploração da maniçoba para a produção láctea tornou-se economicamente viável com alta nos preços internacionais da borracha na segunda metade do século XIX, e inicio do século XX, impulsionado pela demanda de países industrializados, sobretudo a Inglaterra, constituía o principal comprador e distribuidor dessa matéria-prima. (QUEIROZ, 2006 p.33).

Conforme Queiroz (2006) a produção da maniçoba teve inicio no estado do Ceará, na segunda metade do século XIX, contudo na última década do século XIX, com alta dos preços no mercado internacional viabilizou-se a exploração em outras áreas do nordeste.

Na fase inicial da exploração no nordeste, foi predominante o esforço dos particulares interessados em nova fonte de renda. A ignorância dos exploradores, o teor dos artigos da impressa periódica e as pretensões fiscais dos governos criaram expectativa exageradamente otimista para a exploração que dava os primeiros passos. (QUEIROZ, 2006 p.37).

Como resultado deste otimismo tem-se uma leva migratória para região semi-árida, logo os municípios da região sudeste vão ter um perceptível aumento populacional. Os bons preços influenciaram a atividade do plantio constituído a organização de fazendas. Segundo Queiroz, (2006) a lucratividade do artigo da maniçoba contribuiu para o cultivo das espécies Piauhyenses, Dichotoma e Heptaphylla. O plantio por regra congregava espécies diferentes, o que contribuiu para alargar as áreas de ocorrência natural, uma vez que houve migração de sementes.

63

De acordo com Oliveira (2001 p.73) “[...] a maniçoba no sudeste do Piauí era comercializada em Juazeiro na Bahia, e Petrolina em Pernambuco. Estas cidades separadas pelo rio São Francisco estão localizadas a uma distancia de 300 quilômetros”. Contudo a maniçoba despontava como um importante fator econômico na economia piauiense cria-se a necessidade de uma ação fiscal. Logo conforme Queiroz, (2006) em 1899 o governo toma medidas objetivando maiores controles e fiscalização das receitas provenientes de exportação. De acordo com Queiroz, (2006) o decreto nº 141 de 17 de agosto 1899, cria a agência arrecadares no interior de vários municípios. Contudo é criada agência em São Raimundo Nonato e em São João do Piauí municípios inseridos na mais importante área produtora da maniçoba. Logo as agências são criadas nos seguintes lugares.

TABELA 4: AGÊNCIAS ARRECADADORAS DE DINHEIRO NO SUDES DO PIAUÍ POVOADO

MUNICÍPIOS

Cacimba

São Raimundo Nonato

Caracol

São Raimundo Nonato

Tamanduá

São Raimundo Nonato

Guaribas

São João do Piauí

Fonte: Queiroz (2001 p.158).

As fazendas no sudeste do Piauí apresentavam graves problemas estruturais às estradas por onde os maniçobeiros transitavam na extração do produto eram pequenos carreiros de péssimas qualidade Oliveira (2001). Noé Ribeiro Soares relata a importância que a maniçoba teve no sudeste do Estado provocando uma mudança continua no meio social com viandas de emigrantes além de ressaltar as condições de transporte que apresentava certa carência.

A maniçoba, eu era menino, o movimento daqui era só maniçoba veio uns homens de Pernambuco botaram barracão em alguns lugares aqui para comprar maniçoba, o movimento era só maniçoba, agora exportava para o Remanso de cavalo, jumento, burro não tinha carro, num tinha rodagem neste tempo, lá o vapor recebia e tocava com ela ai no mundo. A maniçoba nessas serras nasceu muito ai nessas serra, mas ela deu dinheiro, muitos anos, ai o povo começou plantar elas em suas roças.16

16

Noé Ribeiro Soares, 99 anos.

64

Ressalta-se que a extração da maniçoba era algo produtivo e que pouco a pouco foi tendo melhores números que a pecuária atividade econômica que se caracterizou na segunda metade do século XIX, viabilizando aqui a criação de fazendas de gado. Logo, no sertão do semiárido a atividade da maniçoba era desenvolvida ao tempo que não impedia que se desenvolvesse a agricultura, todavia a mesma consistia artigo de extinta necessidade, pois era do plantio do milho, feijão, arroz que se adquiria as bases elementares que era complementada pela caça ou até mesmo com a criação local como galinhas, porcos, ovelhas outros.

Figura 05. Família de maniçobeiro mesmo em tempos bem mais recentes vê-se traços culturais antigos.

Na foto acima podemos identificar uma habitação com estilo vernacular, pau a pique que mesmo sendo período posterior nos remete as condições das habitações que maniçobeira encontrava no início do século. Ressalva-se que existem outros sítios arqueológicos históricos que denunciam estas ocupações no inicio do século. Lembrando que no início do século XX, não se tinha uma disposição de uma variedade de produtos industrializados. Noé Ribeiro Soares é enfático em sua entrevista destacando: “Faziam a compra em São Raimundo ia uma pessoa vender nas costa de um jumento de burro, aí as pessoas encomendava, café, açúcar, sal, sabão nesse tempo não tinha óleo era toicinho”.

65

São Raimundo Nonato de muito cedo funcionou como polo comercial muitas das fazendas do seu entorno que tinha um estreito ligamento comercial com São Raimundo Nonato local em que possibilitava a venda quando a compra de produtos. Logo, o relato oral de Noé Ribeiro Soares evidência que não se dispunha de estradas que ligasse São Raimundo a Caracol tendo estás sido construída somente em 1932, por via o transporte era feito por tropeiros que levavam suas mercadorias lombo de animais como jumento, burros tendo estes bons valores no mercado, na imagem a seguir observa-se uma relação de aproximação do homem com os animais que lhe tinham grande utilidade como meio de transporte e na agricultura.

Figura 0 6. A representação do homem e o animal que era de grande utilidade no trafego dos tropeiros e na movimentação do comércio local. Fonte: IBGE, 1959.

Em um país de vasto território e diferentes realidades, vivendo os anos inicias da primeira República, tinha-se um sertão e a participação do Estado era muito ausente predominava a lei do valente e os mais aguerridos. Como discorre Guimarães Rosa [...]“O senhor sabe o sertão é lugar onde manda quem é forte com astúcia. Deus mesmo quando vier que venha armado [...]”17. No entanto no período da extração da borracha devido à chegada de

17

Guimarães Rosa. Grande Sertão Vereda.

66

várias pessoas e aumento da violência São Raimundo Nonato em 1912, era uma das cidades que tinham uma maior quantidade de policiais conforme (Oliveira 2001) Segundo Oliveira (2001) a primeira fase de desenvolvimento da maniçoba a resistência em aceitar a interação dos trabalhadores de fora era mais frequente inclusive alguns casamentos ocorriam entre os próprios forasteiros. A participação da mulher no trabalho da maniçoba se consistia com muita importância para a família. Conforme Oliveira (2001) muitas mulheres que ficavam viúvas assumiam o trabalho de extração com a ajuda dos filhos pequenos. Elas tinham jornadas duplas cuidava da família e dos afazeres domésticos e ainda limpando e comercializando o produto.

Mulher tinham muitas trabalhando... as mulheres tinham umas trabalhadoras que trabalhavam muito mais que homens. Elas faziam até mais vantagem. Conheci uma senhora conhecida por Raimunda, tratada de Raimundinha, que era a esposa do Salu, era Salustiano que morava no Zabelê, ela trabalhou em maniçoba, era filha mulata. A Raimundinha é até minha prima e ela fazia muito mais vantagem em maniçoba que o próprio Salustiano. Tinha a Maria Rosa que é esposa do senhor Roso, que é conhecido como Negrinho, ali é outra que era maniçobeira que não tinha homem, era difícil explorar maniçoba ou tirar maniçoba como nos diz, pra produzir maniçoba igual a Maria Rosa. Tinha a Elisa que era esposa de José Messias, a Elisa era outra maniçobeira especial. A Velha Mulata que mourou muito tempo na Serra Branca era uma das maiores maniçobeiras que existia era mulata com os filhos.18

O comércio em São Raimundo era bem peculiar como inexistiam carros o transporte era feito com animais os comerciantes eram os responsáveis pelo transporte da borracha até a cidade de Remanso e Juazeiro da Bahia, de onde seguiam para portos exportadores. De acordo com Oliveira (2001) os comerciantes foram reconhecidos em diversos depoimentos como sendo as pessoas que realmente tiveram lucro dentre os principais comerciantes do primeiro ciclo da maniçoba destacavam Jerônimo Belo, Aniceto Cavalcante. Os comerciantes na região eram os que tinham mais lucro, pois também eram donos dos barracões e forneciam também alimentos que os maniçobeiros necessitavam em troca de resultados de trabalho. Logo, o que pode-se perceber uma relação íntima de práticas coronelistas, e uma subordinação do maniçobeiro que muitas vezes conseguia a mercadoria com o comerciante para depois pagar com lucro da maniçoba. 18

Oliveira 2001 p.86. apud, Cicero Batista.

67

3.2 SÃO RAIMUNDO NONATO: A ELEVAÇÃO A CIDADE E A CONSTRUÇÃO DE UM CORPO POLÍTICO.

Neste tópico abordaremos a formação política de São Raimundo Nonato no início do século XX, destaca-se que as carências nas documentações oficiais deixam muitas interrogações. Logo a leitura de José Murilo de Carvalho, em sua obra: “Os Bestializados”, e de Vitor Nunes Leal “Coronelismo, Enxada e Voto”, nos mostra a face de uma política nacional que possibilita fazem um estudo de analogias. Carvalho (1987) faz uma leitura de como o povo brasileiro encarou o novo regime, em conformidade com Aristides Lobo o povo que pelo ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos assistira tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgado talvez ver uma parada militar. Conforme Carvalho (1987, p.35) alguns anos mais tarde, depois de assistir os acontecimentos que cercaram a proclamação da república, o povo do Rio, “[...] antes surpreso que entusiasmado não pode compreender o que se passa”. Neste período o que se percebe é que o povo brasileiro que fica totalmente aparte das decisões políticas ficando essas nas mãos de uma oligarquia. A pouca participação do povo nas decisões políticas no início do século XX, a partir da leitura de Carvalho (1987) denuncia uma população fluminense que quase não participava do processo eleitoral até mesmo, por que, embora a República tivesse eliminado o voto censitário, manteve, por outro lado restrições, inclusive a exclusão dos analfabetos e das mulheres. Sendo a população do Rio a mais urbanizada esperava-se que fosse mais independente de chefes políticos e mais preparada para a cidadania. Quanto ao exercício da cidadania evidenciou-se que 80% da população eram excluídas ao direito do voto, o que nos mostra o indicador do que pouco significou o novo regime em termos de ampliação da participação (CARVALHO, 1987). Segundo Murilo de Carvalho (1987 p.85-86):

As coisas não mudaram muito com o passar do tempo. Nas eleições presidenciais de 1910, 21 anos após a proclamação da republica, havia no Distrito Federal 25 246, isto é, 2,7% da população calculada para esse ano. Apenas 8 687 compareceram às urnas, isto é, 34% dos eleitores e 0,9% da

68

população total. Computando somente os votos apurados – a química eleitoral da época anular mais votos -, verificamos que representavam 18% dos eleitores e 0,5 da população local.

Neste estudo de Murilo de Carvalho (1987), pode-se perceber é que no inicio do século a dinâmica política não pertence a âmbito das classes marginalizadas. Ficam as decisões nas mãos de uma oligarquia que concentrava suas riquezas nos grandes centros. Logo a eminente abstinência do exercício do voto demostra uma exclusão das populações analfabeta e as mulher que estão totalmente fora deste quadro politico. Quando voltamos a tentar entender São Raimundo Nonato nos primeiros anos do século XX o que se pode interpretar é um sertão que tem sua representação no campo religioso ao invés de um poder político bem organizado. Contudo o erguimento da economia proveniente do extrativismo da maniçoba faz com que se criem pouco a pouco um corpo político devido o período de 1906 a 1912, São Raimundo Nonato está entre os três maiores produtores de maniçoba ficando atrás somente de Floriano e São João do Piauí. A Tabela 5, abaixo, aponta as relações entre os três maiores produtores de maniçoba nos primeiros anos do século XX.

TABELA 5: EXPORTAÇÃO DA BORRACHA DA MANIÇOBA DO PIAUÍ (EM QUILOS) Municípios São João do Piauí Floriano São Raimundo Nonato-PI

1906 1907 1908 1909 1910 1911 1912 202.432 154.286 165.062 182.559 176.742 152.964 107.627 169.052 172.184 129.339 129.014 188.261 223.192 169.388 100.160 105.488 130.532 171.981 246.046 216.678 107.932

Fonte Queiroz (2006, p.75) com adaptação pelo autor. Em vermelho período em que São Raimundo tem-se os maiores números na produção da maniçoba.

Pode-se destacar que neste período houve nada mais que a consolidação do poder privado que ira concentra-se nas mãos dos comerciantes que serão os principais beneficiados com a exportação da maniçoba de forma que há uma melhora de vida, mas que não acontece com a maior parte, pois o lucro com a exploração da maniçoba será estratificado tendo os comerciantes e donos de barracões obtendo lucros mais altos e por fim os maniçobeiros grandes responsáveis pelo trabalho braçal.

69

Oliveira (2001) descreve com muita autonomia a dificuldade que tais maniçobeiro passavam. Através de fontes orais a autora relata que ficou notória na fala dos entrevistados a miséria e as dificuldades que enfrentavam nesta atividade que sempre oferecia e demandava muito esforços para conseguir o sustento. Outra característica também deste período era o adiantamento de dinheiro e mercadorias para os maniçobeiros que muitas vezes trabalhavam para pagar os fornecedores. Em uma relação que pode ser vista de uma forma romântica, relação de confiança, como de outras formas, de práticas coronelistas dentro do poder privado. Logo, a gente vai identificar neste sistema o que podemos conceber de “coronelismo” que seria um resultado da superposição de forma desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Sendo este não somente uma mera sobrevivência do poder privado, mas sim uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado tem conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa (NUNES LEAL, 1997). De acordo com Nunes Leal (1997) o coronelismo é um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público progressivamente fortalecido, e a adjacente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores donos de terras. Não é possível, pois, compreender o fenômeno sem a nossa referência à nossa estrutura agrária, que fornece base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil. Destacamos que os remanescentes de privatismo são alinhados ao poder público de forma que vem a explicar justamente em função do regime representativo com sufrágio amplo, divido a incontestável situação de dependência do eleitorado com o governo (NUNES LEAL, 1997). No entanto, desse compromisso fundamental resultam as característica secundária do sistema “coronelista”, com sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais. Na tentativa de tentar entender como estava organizada á formação social de São Raimundo Nonato no início do século XX, temos a contribuição das viagens realizadas pelos cientistas do Instituto Oswaldo Cruz que tinha como objetivo realizar amplo levantamento das condições epidemiológicas e socioeconômicas das regiões percorridas pelo rio São Francisco e de outras áreas do Nordeste e Centro-Oeste brasileiro. Os relatórios produzidos por Belizário Penna e Artur Neiva constituíram como um importante documento referente ao período da emancipação política, mesmo que suas analises sendo voltas para as questões higiênicas.

70

Conforme Lima (apud PENA & NEIVA, 2003, p.202) os dois pesquisadores deixaram a seguintes impressões:

Raro é o indivíduo que sabe o que é o Brasil. Piauí é uma terra, Ceará outro, Pernambuco outra e assim os demais estados. O governo é para esses párias um homem que manda na gente, e a existência desse governo conhecem-na por que esse homem manda todos os anos cobrando-lhe os dízimos (impostos) [...] Nós éramos para eles gringos, lordaços (estrangeiro fidalgos) a única bandeira que conhecem era a do divino.

A leitura destes pesquisadores vem a corroborar com afirmação que desrespeito a ausência da população nas atividades de ordem política, assim como é visível a relação coronelista do inicio do século XX. Neste período Anísio Auto de Abreu foi eleito governador do Piauí para anos de 1908 a 1912 falecendo em 5 dezembro de 1909 no ano seguinte ao de sua posse assume Raimundo Manuel da Paz já que Antônio Freire da Silva, anunciou seu problema de saúde. Segundo Chaves (2009) o anúncio de Antônio Freire procedeu-se como maneira astuciosa de o mesmo legitimar sua ascensão política, logo pouco depois apresentou suas condições para se tornar governador: queria que o legislativo realizasse eleição indireta, sendo ali candidato. Se eleito assumiria. Dessa foram foi eleito Antonino Freire da Silva, tendo Raimundo Manoel da Paz como seu vice. De acordo com Paulo Chaves (2009, p.86): “Anísio foi eleito governador do Piauí tendo Antonino Freira como seu vice. Atravessam um processo eleitoral estranhamente calmo, e assumiram a nobre missão administrativa que se estenderia do ano de 1908 a 1º de julho de 1912”. No ano de 1912 no Governo de Antônio Freire da Silva possui como fatos importantes a criação da Escola Normal oficial de Teresina em março de 1910, hoje Instituto de Educação Antônio Freire, somando a este acontecimento vamos ter de relevante a criação da Vila Miguel Alves e inauguração da imprensa oficial. Contudo para a região sudeste do estado o que ira marcar será a criação do Município de São Raimundo Nonato por meio de decreto alcançando por intermédio da Lei nº 669, de 25 de junho de 1912. O acontecimento da elevação de São Raimundo Nonato é algo que carece de informações. Contudo diferente dos dias atuais o intendente, prefeito não tinha ao seu dispor verbas significativas, para construções de obras publicas.

71

Destaca Ferreira (1956) que a cidade em 1912 no período de sua elevação possuía um cemitério de Nossa Senhora da Piedade, construído em 1903; uma casa de mercado solidamente edificada e outra servindo de cadeia, fôro e um poço municipal na praça do mercado. Gaspar Dias Ferreira por ter a família envolvida na política regional relata a memória herdada de seus avôs que protagonizarão as primeiras disputas políticas nas primeiras décadas do século XX.

Então a emancipação veio em 1912, mas ela veio através de um decreto do governo do estado do governador, passou de comarca passou a ser cidade em 1912, passou a categoria de cidade, mas já era vila, então era assim já tinha uma prerrogativa de vila, mas não tinha política, não tinha delegacia não tinha nada, mas com a cidade que veio o povo e a organização de cidade e criou o primeiro prefeito naquele tempo chamado intendente, era escolhido através de eleição, não era secreta então os primeiros intendentes foram os “Coronéis”, pois eles tinham mais gente junto deles, então o voto era bico de pena, então os “Coronéis” ficaram só veio a alterar a situação em 193019.

São Raimundo Nonato teve como primeiro intendente a pessoa de Manoel José Rúbem de Macêdo, destacamos que a família Macêdo constitui-se como uma família de forte influencia política, vindo dela os primeiros, professores, advogados, e médicos de São Raimundo Nonato. No relato de Gaspar Dias Ferreira o mesmo descreve os Macedos como “Coronéis” de posse de grandes fazendas de gados e grande quantidade de terras, e que em oposição aos Macedos tinha-se a família de Coronel José Dias Soares e Manuel Carlos de Oliveira.

Era, ai eles eram os opositores, eles eram os opositores, eles fundaram a oposição, oposição aos coronéis, ai nasceu à oposição em 1912, então meu avô, meu dois avôs e o amigo deles Manuel Carlos de Oliveira foram os fundadores da oposição contra os coronéis. Depois meu avô Coronel José Dias pela sua, pelo que se destacou com sua intelectualidade, era intelectual naquela época ele conseguiu o titulo de coronel e de tenente coronel também, mas não foi por boi não foi através de fazenda nem gado nada, foi por causa de sua cultura né, ele era muito culto advogado foi até promotor na cidade20.

19 20

Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos. Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos

72

Gaspar Dias Ferreira relata que sua família obteve muitos lucros no comercio da maniçoba e que ai veio a possibilitar a sua entrada na política. “[...] Então nós tivemos neste extrativismo o meu pai o pai dele, então nos entramos neste comércio e ai foram muito bem sucedido e entraram na política em 1912 quando foi à emancipação da cidade meu avô materno e paterno, Coronel José Dias Soares e um cidadão chamado Manuel Carlos fundaram a oposição, Manuel Carlos gostavam de dizer que iam fundar a oposição aqui, e que a oposição era que nem capim de burro, ele tinha ido a Teresina tinha trazido um capim de burro ia plantar junto com a oposição, “a oposição e capim de burro não ia acabar mais nunca, nessa terra ainda hoje tem capim de burro, é aposição não acabou sempre tem né”. Na fala de Gaspar Dias Ferreira foi percebida uma relação de revanchismo e dualidade entre o grupo dos Macedos e os próprios Ferreiras, logo, as duas famílias vinham na educação um maneira de manter-se forte é com certa representação local. No entanto neste período não havia prédios escolares o ensino acontecia em casa de particulares que lecionavam conteúdos das series iniciais já a partir de 1922 que com a chegada da Ordem Mercedária vamos ter a criação das primeiras escolas privada. Através dos relatos de pessoas que viveram neste período que são encontrados nos livros de Dias (2001) e de Artur Pena e Belizário Neiva e nas fontes orais, entendemos que a emancipação política em São Raimundo Nonato não procedeu de um desejo popular, logo até mesmo como ela acontece por meio de um decreto nos impulsiona a interpretar que não houve um projeto de emancipação da cidade. Outro fator determinante que demonstra a ausência da camada popular é os primeiros lideres políticos em sua maioria serem coronéis pertencentes a famílias tradicionais, que ao longo da história, vão responsáveis pelo aprisionamento de índios e proprietários de escravos, sendo estes sobrenomes identificados no trabalho de Paes Landim (2010).

3.3 ANDARILHOS DA HISTÓRIA: MEMÓRIAS COLETIVAS

Na eminente falta de uma documentação escrita, de ordem política, propôs-se neste trabalho buscar nas fontes orais um suporte que venha nos ajudar entender um passado político que muitas vezes foram esquecidos pela história.

73

Nesta pesquisa consideramos três gêneros distintos em história oral, história oral de vida que muitas vezes se remetem como “biografia”, “notas biográficas”, história oral temática onde se aproxima em certa medida dos procedimentos comuns as entrevistas tradicionais e a tradição oral que são assentadas em base de observação e se trabalha com elementos da memória coletiva, de acordo com José Meihy & Fabiola Holanda (2010). Para desenvolvimento desta pesquisa foi entendida como sendo útil a história oral de vida, já que estávamos procurando elucidar um tema que parte de um acontecimento importante que foi o processo de emancipação política de São Raimundo Nonato-PI. No entanto os familiares dos entrevistados tiveram uma relação íntima com fatos decorridos, além dos modos de vida denunciar uma relação com este passado. José Meihy & Fabiola Holanda (2010, p.35) destacam que a essência subjetiva da história oral de vida está por as histórias orais de vidas serem decorrentes de narrativas e estas dependem da memória, dos ajeites, contornos, derivações, imprecisões e até contradições naturais na fala. Logo, é entendido como história oral, um processo sistêmico que se inicia na elaboração do projeto e faz uso de depoimentos gravados em aparelhos eletrônicos, vertido do oral para o escrito, com o fim de promover o registro e o uso de entrevista (José Meihy, 2005). Outro ponto discutido neste trabalho é história e memória, onde busca-se fundamentação na obra de Michael Pollak (1992)21 para que se possa trabalhar as relações sociais e uma memória herdada relativos acontecimentos que marcaram a emancipação politica que não se apagaram com o tempo. Michael Pollak (1992) faz uma descrição dessa memória individual assim como coletiva que ficou bem notório em nosso trabalho de campo na entrevista de Sr. Gaspar Dias Ferreira.

21

Michael Pollak nasceu em Viena, Áustria, em 1948, e morreu em Paris em 1992. Radicado na França, formouse em sociologia e trabalhou como pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique -CNRS. Seu interesse acadêmico, voltado de início para as relações entre política e ciências sociais, tema de sua tese de doutorado orientada por Pierre Bourdieu e defendida na École Pratique des Hautes Études em 1975, estendeu-se a diversos outros campos de pesquisa, que confluíam para uma reflexão teórica sobre o problema da identidade social em situações limites.

74

Figura 07: Gaspar Dias Ferreira entrevista concedida em seu domínico.

Michael Pollak (1992) responde questionamentos que se tornam imprescindível para o trabalho com as fontes orais a exemplo de questionar: “quais são, portanto, os elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva”?

Se destacamos essa característica flutuante, mutável, da memória, tanto individual quanto coletiva, devemos lembrar também que na maioria das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariantes, imutáveis. Todos os que já realizaram entrevistas de história de vida percebem que no decorrer de uma entrevista muito longa, em que a ordem cronológica não está sendo necessariamente obedecida, em que os entrevistados voltam várias vezes aos mesmos acontecimentos, há nessas voltas a determinados períodos da vida, ou a certos fatos, algo de invariante. É como se, numa história de vida individual - mas isso acontece igualmente em memórias construídas coletivamente houvesse elementos irredutíveis, em que o trabalho de solidificação da memória foi tão importante que impossibilitou a ocorrência de mudanças. Em certo sentido, determinado número de elementos tornam-se realidade, passam afazer parte da própria essência da pessoa, muito embora outros tantos acontecimentos e fatos possam se modificarem função dos interlocutores, ou em função do movimento da fala. (POLLAK, 1992 p.02)

75

O individuo que lembra é sempre um individuo inserido e habitado por grupos de referência: a memória é sempre constituída em grupo, mas é também, sempre, um trabalho do sujeito (SCHMIDT & MUHFOUD, apud HALBWACH, 1993 p.288). Segundo o autor o grupo está presente para o indivíduo não necessariamente, ao mesmo fundamentalmente, pela sua presença física, mas pela possibilidade que o indivíduo tem de retomar os modos de pensamento e a experiência comum próprios do grupo.

Figura 08: de entrevista Noé Ribeiro Soares

Por se tratar de um período distante foi utilizadas algumas entrevistas feitas em períodos anteriores na busca dos relatos de pessoas mais idosas, nessas entrevistas procurouse através dos relatos entender como eram o contendiam e as preocupações das pessoas que habitavam esta vila.

Conforme Pollak (1992 p.02):

[...] Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os acontecimentos que eu chamaria de "vividos por tabela", ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou, mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe, a esses acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma

76

pessoa ou de um grupo. É perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase que herdada.

Destacamos que nas entrevistas a intuição da memória herdada consolidada ao longo tempo, atuou de forma esclarecedora de alguns pontos e que certas situações o entrevistado falou com tamanha segurança que o mesmo aparentava a ter vivido o relato da memória herdada.

3.4 ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CRESCIMENTO URBANO

Neste tópico trabalha-se o crescimento urbano em São Raimundo Nonato e sua organização social que influenciaram diretamente na produção do espaço urbano. De início destacamos que por mais que trabalhamos o conceito de urbano existem distintas relações e realidades diferentes na formação das cidades brasileiras. Ao se tratar de um período de um século ficou evidenciado o que nos resta como fontes os mapas produzidos, documentos de registro de compra e vendas de imóveis, além as fontes orais que possibilita a construção de uma memória coletiva. Através dos relatos orais e estudos bibliográficos pode avaliar nos dias atuais que São Raimundo Nonato do início do século não se tinha uma cidade urbanizada, mas sim uma São Raimundo Nonato com característica essencialmente rural, logo isso fica bem notório devido os fatores econômicos e sociais. Até o período de 1912, à cidade de São Raimundo Nonato viveu o auge da maniçoba tendo contribuído para a criação de uma elite composta de comerciantes e donos de barracões que foi importante na elevação da vila a categoria de cidade, pois a criação do município provocaria a formação de grupos políticos que viam no poder público uma maneira de obter benefícios financeiros e status. Logo, com depreciação da maniçoba, surgiu a cultura do algodão, do fumo e da canade-açúcar, obtendo aumento na produção do arroz, feijão e farinha de mandioca que também foi um dos elementos que caracterizou a cultura local, sendo estas casas de farinhas também locais de relações sociais econômicos e trabalho.

77

No desenvolvimento urbanístico de São Raimundo Nonato Ferreira (1959) relata que a igreja matriz era uma das melhores do estado do Piauí contendo também um cemitério de regulares proporções a que deram o nome de Nossa Senhora de Lurdes. O segundo cemitério foi construído em 1903, o de Nossa Senhora da Piedade. De acordo com Ferreira (1959) neste período foram construída uma casa de mercado solidamente edificada e outra servindo de cadeia, fôro e poço municipal na praça do mercado. Não dispondo de fontes que venha a quantificar o número de habitações em São Raimundo Nonato em 1912, o que se pode identificar segundo Silva (2009) que em 1916 o perímetro urbano de São Raimundo Nonato era composto por 246 casas com telhas e três praças contendo neste período a instalação de um telegrafo. A partir do mapa de Silva Filho (2007) feito no ano de 1989 podemos identificar o centro histórico de São Raimundo Nonato passível de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional-IPHAN, destacando que não significa que São Raimundo Nonato se restringisse somente a essas casas. No entanto, a partir deste mapa podese apresentar como São Raimundo Nonato estava organizado o seu centro urbano no inicio do século XX.

Figura 09: Mapa elaborado por Olavo Pereira Silva Filho (2007) resultado pela sua passagem por São Raimundo Nonato, destacando em verde as Estruturas Arquitetônicas e Urbanísticas de Interesse de Preservação.

78

Com relação ao presente mapa do centro histórico de São Raimundo Nonato-PI, entendemos que os pontos em marcação de verde que Silva Filho (2007) notificou como construções arquitetônicas de estilo colonial vernacular passível de tombamento, os pontos são um marco do surgimento da formação urbanística de São Raimundo Nonato. A Praça Comendador Piauilino no numero um, tem-se uma concentração de casas que segundo a historiografia constituem a sede da fazenda Jenipapo em concordância com Silva (2009). Em entrevista com Gaspar Dias Ferreira, abordado o tema de quando e como surgiram os bairros ao entorno da cidade, o mesmo relatou que no inicio do século não existia a maioria deles, tendo se referência da existência do Bairro Aldeia um dos mais antigos. Quanto aos outros os que se tinha naquele período eram pequenas fazendas que ficavam em regiões mais distantes com relação ao bairro do centro da cidade. De acordo em entrevista Gaspar Dias Ferreira:

Aqui é o seguinte essa cidade de São Raimundo Nonato em principio era aquela praça da igreja ali sempre de quando eu mim entendi já conhecia, mas era o seguinte aqui era só ali aquela rua saindo da igreja pra lado direito era roça, quem sai do lado direito Rua Avelino Freitas, logo ali quando sai daquele cantinho ali só era roça aquilo tudo era roça que vem até o cemitério era roça era morro, e toda a cidade seguia pra li até abeira do riacho. Mas aqui ela vinha até aqui assim, aqui onde estamos meu avô que morava ali, que eu não conheci meu avô, mas meu pai morava ali, ali na frente era uma roça, aqui era outra, aqui era outra, meu avô instalou roça e botou curral ali, depois veio o genro dele ali, não tinha ninguém ai eles foram tomando conta do espaço.

Através dos documentos do cartório do livro de compra e venda de bens e imóveis do ano de 1912, o que se pode constatar é que o Bairro Aldeia já tinha os primeiros núcleos populacionais , no entanto chega-se até notificar que aquele local era onde habitavam grupos indígenas antes da chegada do colonizador dai sua denominação vindo a ser chamado Bairro Aldeia. Quando se fala em crescimento urbano em São Raimundo Nonato destacamos que além de consulta em mapas e fotografias antigas torna se necessário uma visita técnica ao seu centro de forma que possa produzir um relatório de como esta organizada a cidade. Logo, o

79

que se constatou que assim como varias outras cidades do Piauí São Raimundo Nonato surgiu as margens do rio sendo este fundamental para o desenvolvimento do núcleo populacional. Nessas cidades campesinas do inicios do século XX, vai se ter a presença

do

automóvel que é algo vindo a partir do advento da modernidade, no entanto tem-se de forma bem marcante a figura do tropeiro e a valorização do animal como meio de transporte tanto de mercadoria quanto pessoa como pode ser observado na imagem seguinte do ano de 1915. Quanto às construções arquitetônicas pode-se destacar a construção de belas casas para aquele período, em ruas que ainda não dispõe de pavimentação o que vem corroborar para afirmação de uma cidade essencialmente rural.

Figura 10. Local onde fica a Praça do Abrigo liga com Avenida Professor João Meneses em 1915 às belas casas demonstra um das regiões mais urbanizadas na cidade de São Raimundo Nonato.

Outro fator que destaca na construção da cidade de São Raimundo Nonato que é bem característico das cidades brasileiras e piauienses exceto suas atuais capitais é que não houve um planejamento urbano. Logo, a criação das casas deu-se de forma aleatória ou de forma que viesse a atender a preocupação da época que era estar o mais próximo possível das margens do rio de forma que pudesse se beneficiar por estar mais perto da água, assim como uma boa área para plantio.

80

Partindo desta perspectiva pode-se evidenciar que a preocupação do homem que habitou São Raimundo Nonato na metade do século XIX, e início século XX, era diferente dos atuais. Contudo a aproximação dessas casas do rio fez com que São Raimundo Nonato ficasse sujeito a frequentes enchentes prejudicando o seu principal centro urbano. As fortes secas foram algo que marcaram o cenário de São Raimundo Nonato até mesmo a região Nordeste na primeira metade do século XX, a criação do Açude Aldeia em 1912 aparente como uma das construções de maior relevância nessas primeira metade do século sendo este motivo de migração de pessoas de outras regiões que tinha o objetivo de fugir do extenso período de estiagem de 1915. Gaspar Dias Ferreira faz uma descrição da preocupação com a seca no século XX.

O tanque já foi devido à seca foi construído aqui em 1912 então era o seguinte nois tivemos um grande problema de água aqui na cidade, desde quando a cidade era pequenininha nois tinha problema terrível de água, água de Remanso era longe, tinha tempo que tudo que era água de superfície acabava até o daqui secou varias vezes esse Açude, então a água era só essa água minada de cacimbão, essa coisas e tudo aqui era água salgada, tinham cacimbão capaz de da subsistência, mas era tudo água salgada servia só para os animais, aquilo era um clamor pra gente, aqui na cidade que tinha mais gente acabava a água a gente tinha que ir tomando um litro na casa do outro [...]

Nos relatos herdados são frequentes as dificuldades enfrentadas devido a falta de água. Narradas com certa dramaticidade eles ultrapassam o tempo é fica na memória dos mais velhos as dificuldades vivencias pelos antecedestes. Segundo Gaspar Dias Ferreira:

Tivemos uma seca famosa à seca de 1915 morreu muita gente morreu muita gente, o pessoa que morreu era mais retirante que vinha de fora do Ceará, já vinham, a aqui de qual quer forma tinha pouca água, mas aqui tinha nossa fauna tinha muita riqueza muita caça muita coisa, então em 1915 foi uma grande seca

A construção do Açude Aldeia com capacidade para 7.235.259 metros cúbicos e uma bacia hidrográfica ocupa uma área de 406,60 quilômetros quadrados que fica evidenciada nos registros orais e nos documentos oficias do cartório aparece como algo de alta relevância

81

social, pois os problemas era constante tendo São Raimundo Nonato suprido em parte este problema e até mesmo recebido pessoas de fora que fugiam da fortes secas. Em documentos oficiais foram encontrado comprovantes de venda e compra de terrenos no Bairro Aldeia para Inspetoria de obras contra a seca segundo relatos orais o local onde ficavam instalações é onde se instala hoje o Colégio de Nossa Senhora das Mercedes, sendo este local de domínio público foi doando para ordem religiosa mercedária que prestou um relevante papel social. .

Figura 11: Açude Aldeia construído em 1912 nas obras de impactos a seca.

Passando por São Raimundo Nonato em 1912 Artur Neiva e Belisário Penna deixaram suas impressões da descrição de São Raimundo Nonato, uma cidade que segundo o autor “não dispõe de esgotos, nem se usam fossas para as fezes. Cada qual se exonera ao ar livre, e a depuração é feita pelo sol. Há registro civil muito deficiente, única causa da morte e a morte natural”.

São Raimundo Nonato é uma vila de casas térreas, construídas com adobes, pavimentada com tijolos caiados, coberta de telhas, sem forros. Há duas extensões estreitas sem calçamento, duas praças e casas sem ordem

82

população de 2000 almas, mais ou menos. (A. PENNA & B. NEIVA apud LIMA, 2003 p.201).

O que se pode perceber na leitura de Penna & Neiva é que a sua visão da realidade de São Raimundo Nonato é a visão do estrangeiro, que ao tempo ele manifesta uma perspectiva negativa da vila que virou cidade, os seus relatos possibilitam ver o desenvolvimento da história de São Raimundo Nonato a partir de outro ângulo. Contudo destaca-se que a produção do espaço urbano é local de memória e sua formação denuncia além de tudo local de conflito, de forma que a ocupação do espaço dá-se muitas vezes por quem tem maior força econômica e política. Em São Raimundo Nonato local onde a produção do espaço procedeu-se de forma mais vantajosa foi à região do centro e do Bairro Aldeia surgindo, os outros núcleos populacionais em regiões periféricas.

83

CONSIDERAÇÕES FINAIS O milagre do historiador consiste no fato que todas as pessoas que tocamos estão extraordinariamente vivas tratase de uma vitória sobre a morte. Braudel

Iniciamos este tópico não finalizando a presente pesquisa, mas sim fazendo algumas reflexões finais sobre o tema abordado, tendo em vista que consideramos que as pesquisas foram preliminares e muito se tem ainda a ser investigado, pois se trata de uma História onde se obtém fragmentos que requer maior tempo estudado. Consideramos que se trata de um tema de dimensão municipal, na medida em que tentamos entender a dinâmica social que norteiam e marcou a sociedade daquele período. Os trabalhos já publicados como monografias, artigos, dissertações e teses são vistos com bons olhos, já que esta literatura possibilita reconstituir melhor o contexto histórico. Evidenciando que relatos orais em alguns deles são essenciais para entender estes fatos, em vistas que cada vez mais o historiador vem se distanciando dos fatos históricos. Quanto ao tema abordado entendemos que o início do século XX, em São Raimundo Nonato foi um período de descontinuidade e de mudança provocadas pelos rumos que a econômica ganhava naquele período com extrativismo da maniçoba. Contudo, foi uma proposta do nosso trabalho de pesquisa estudar São Raimundo Nonato, mas não pensar São Raimundo Nonato isolado de um contexto nacional, por isso entendermos que o momento histórico que o país vivia naquele período, foi marcado por maior autonomia do estado no período republicano, que determinou à elevação de São Raimundo Nonato à cidade. Assim como também é possível compreender em parte a interação política partindo de analogia com o panorama geral, não deixando de pesquisar suas especificidades locais. Nessa leitura local destacamos que a extração da maniçoba propiciou o surgimento de um sistema representativo, na figura dos comerciantes, e dos remanescentes fazendeiros que terão ampla lucratividade nesta atividade. Contudo esta representatividade é transferida para domínio público, estabilizando um sistema coronelista, sendo representados pelos nomes das famílias tradicionais que iram buscar na política, vantagens econômicas e certo status. Logo, o processo de emancipação política de São Raimundo Nonato será um evento que terá ausência da grande massa popular, surgindo uma oposição devido à ordem natural. A ausência de um projeto de emancipação nos deixa lacunas sobre os possíveis interesses e objetivos futuros a esses acontecimentos.

84

Já o advento da emancipação terá um lado positivo será o início de uma série de mudanças desde um campo político que vai se ter uma representatividade, quanto em termos estruturais que propiciará a construções obras de prédios públicos (barragem do tanque, foro, cadeia pública e estruturas municipais), mesmo que esse desenvolvimento se de forma lenta, pois é importante compreender que é tempo histórico diferente com mudanças distintas. Aos critérios de considerações parciais espera-se ter contribuído acerca do tema mostrando novos caminhos e interpretações. Acreditamos que tal evento é passível de outros questionamentos, até mesmo de críticas construtivas, pois talvez as implicações do lugar social do historiador tenham determinado o desenvolvimento da pesquisa.

85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICOS ARISTOTALES; Política; Tradução Pedro Tolens. 4ª Ed. / Editora Martin Claret, 2008. BARROS, José D‟ Assunção. O campo da História: Especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BRANDÃO, Wilson; Piauí: Formação- Desenvolvimento – Perspectivas. Organizado por R. N. Monteiro de Santana, Teresina, Hally, 1995. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a Republica que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. CHAVES, Paulo Alberto Denis. Antonino Freire - uma biografia. Teresina: O autor, 2009. COSTA FILHO, Alcebíades; Sob o signo das águas: a gênese urbana piauiense. In. Revista do Instituto Camilo Filho – v.1 n.2, Teresina; 2002. COULANGES, Fustel de; A Cidade Antiga. Tradução: Jean Melville. Editora Martin Claret, 2004. DIAS, Willian Palha. São Raimundo Nonato, de Distrito Freguesia a Vila. 1ª edição, Teresina. 2001. _______________. Caracol na história do Piauí. Teresina: Imp. Oficial, 1960. FRANCO JUNIOR, Hilário; A Idade Media: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. FERREIRA, Jarandyr Pires. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. (Instituto Brasileiro de Geografia Estático-IBGE), Supervisão de Edição Dyrno Pires Ferreira. V-15, Rio de Janeiro, 1959. FINLEY, Moses I. Os gregos antigos. Lisboa: Edições 70, 1988. FREDERIKSEN, M. W. Cidade habitações IN. O mundo romano. (org). J. P. V. D. Balsdon. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1968. FREYRE, Gilberto; Aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste Brasil.7ª edição- São Paulo: Editora Global, 2004. HOBSBAWM, Eric J; A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 21ª Ed. Trad. M. T. Lopes Teixeira & Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977. HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 62ª Ed. – São Paulo: Companhia das letras, 1995.

86

HUMBERMAM, Leo; Do Feudalismo ao Capitalismo In. História da Riqueza do Homem. 27ª Ed. Rio de Janeiro. Editora LTC, 1986. JONES, A. H. M.; Atenas e Esparta. IN; O mundo Grego. Org. Hugh Lloyd-Jones. 2ª Edição; Zahar editors, Rio de Janeiro, 1977. LE GOFF, Jacques; Por Amor ás Cidades. Tradução Reginaldo Carmello Correa de Moraes. Editora UNESP. 1998. LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. Rio de Janeiro – 3ª Ed; Editora Nova Fronteira, 1997. LIMA, Nísia Trindade. Viagem Cientifica ao Coração do Brasil: Notas sobre o Relatório da expedição de Artur Neiva e Belizário Pena à Bahia, Pernambuco, Piauí e Goias (1912). FUMDHAM. V1, N° 3, São Raimundo Nonato-PI, 2003. MAHFOU, Miguel; SCHMIDT, Maria Luisa S. Halbwachs: Memória Coletiva e Experiência. In: Revista de Psicologia USP. São Paulo: EDUSP. nº 4, 1993, p.285- 298. MEIHY, José Carlos S. B. & HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer como pensar. - 2 ed. – São Paulo, Contexto, 2010. MOTT, Luiz R. B. Piauí colonial; população, economia, e sociedade. Teresina, Projeto Petrônio Portela, 1985. MELO, Cláudio. Os Primórdios de Nossa História. Teresina: Papelaria Piauiense, 1983. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Cronologia do Piauí Republicano1889-1930. Teresina, Fundação Cepro, 1988.

NUNES, Odilon. Pesquisas para história do Piauí. Volume –I 2ª edição. Editora Artenova,Teresina,1975. NUNES, Maria Célis Portella & ABREU, Irlane Gonçalves; Piauí: FormaçãoDesenvolvimento – Perspectivas. Organizado por R. N. Monteiro de Santana, Teresina, Hally, 1995. OLIVEIRA, Ana Stela. O povoamento colonial do sudeste do Piauí: indígenas e Colonizadores, conflitos e resistência. Tese Doutorado Universidade Federal De Pernambuco-UFPE, 2007. ___________. Catingueiros da Borracha vida de maniçobeiros no sudeste do Piauí. Dissertação de Mestrado Universidade Federal De Pernambuco-UFPE, 2007. OLIVEIRA, Valmir de Santana. O povoamento de Anísio de Abreu-PI (1940-1962). Monografia apresenta no curso de História. UESPI, 2009. PAES LANDIM, Joseane Pereira. As representações da família escrava no sertão do Piauí. (monografia) São Raimundo Nonato-PI, UESPI, 2010.

87

POLLAK, Michael. Estudos.Memória e Identidade Social. Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992. PRADO JUNIOR, Caio; História econômica do Brasil. São Paulo. Brasiliense, 2006. QUEIROZ, Teresinha; Os literatos e a Republica. 2ª Ed. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí; João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Parnaíba, 1988. ___________. A importância da borracha de maniçoba na economia do Piauí 1900-1920. 2 edição. Teresina: FUNADPI, 2006. RAMINELLE, Ronald; História Urbana; In Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. 27ªEd. Ciro Flamarion & Ronald Vainfas. - Rio de Janeiro: Elsivier, 1997. RÉMOND, Réne. Uma história Presente, IN: Por uma História Política. 2ª Edição, Rio de Janeiro: Editora, FGV, 2003. RESENDE FILHO, Cyro de Barros. História Econômica Geral. São Paulo. 5ª ed. Contexto, 2000. RIBEIRO; Darcy; O povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. – São Paulo: Companhia das letras. 2006. RIBEIRO, Manoel Bonfim Dias. Néfirmo, uma vida: o homem no seu tempo. Salvador: Ed. do Autor, 1996. ROSA, João Guimarães.Grande Sertão: Veredas.Rio de Janeiro Novas Fronteiras, 1986. SANTANA, R. N. Monteiro de. Evolução da Economia Piauiense. 2ª edição; Ed. Academia Piauiense de Letras- Convênio com o Branco do Nodeste; Teresina, 2001. SCHMIDT, Maria Luiza S. & MUHFOUD, Miguel. Halbwach: Memória Coletiva e Experiência. São Paulo. Instituto de Psicologia, USP, 1993. SILVA, Fernando Fernandes da. As Cidades Brasileiras e o patrimonial Cultura da Humanidade. São Paulo: Peirópolis: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. SILVIO FILHO, Olavo Pereira Da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania São José do Piauhy. Belo Horizonte. Ed do autor 2007. SILVA, Flávio André Gonçalves. São Raimundo Nonato de belas paisagens, muitas histórias um diagnostico sobre o patrimônio edificado de São Raimundo Nonato-PI. (monografia) São Raimundo Nonato-PI, UNIVASF, 2009. FONTES ORAIS FERREIRA, Gaspar Dias. Gaspar Dias Ferreira. Depoimento. [Set. 2011]. Entrevistador: Jaime de Santana Oliveira, São Raimundo Nonato-PI, 2011. Gravador de voz. RIBEIRO, Noé Soares. Noé Ribeiro Soares. Depoimento. [Fev, 2009].

88

Entrevistador: Valmir de Santana Oliveira. Anísio de Abreu-PI, 2009, Filmadora digital. ACERVO Biblioteca FUMDHAM São Raimundo Nonato - PI São Raimundo Nonato - Piauí. Fichas de Inventários do Cartório do 1º Ofício. 1836-1899. Cartório Municipal São Raimundo Nonato - PI Cartório municipal de São Raimundo Nonato - Piauí. Livro de compras e vendas de bens e imóveis do Cartório 1º Ofício. 1884-1913. FONTES ELETRÔNICAS http://www.fumdham.org.br/culturaimaterial/edificios_emblematicos.aspvv.Acessado 21/09/2011.

89

APÊNDICE

ENTREVISTA: GASPAR DIAS FERREIRA 78 ANOS DATA. 19/09/2011 SÃO RAIMUNDO NONATO-PI

Gaspar Dias Ferreira antes de iniciar a entrevista destacou uma carência muito grande nos documentos públicos, ou às vezes a maioria estaria em Teresina o que sempre dificultou a pesquisa, segundo Gaspar Dias Ferreira um dos locais de pesquisa é a praça da igreja matriz onde se encontra registro de seus antepassados. - Um dos proposito da nossa pesquisa é fazer um estudo da história oral de vida dos entrevistados para a partir dai fazer uma leitura do contexto. - (Gaspar Dias Ferreira) Pois bem o seguinte às vezes as pessoas mim perguntam se eu sou daqui, ai eu digo que tenho mais ou menos duzentos anos, as pessoas acham graça, mais na realidade os meus antepassados o seguinte meu tetra avô era uma cidadão que chamava Antônio Pereira do Porto, ele eram mais ou menos aqui remanescente da independência – mais ou menos quando o Brasil ficou independente Fidié foi preso na dissolução das tropas os brasileiros sempre foram muito bom ele foi levado com festa para Salvador-BA para Portugal. Mas aqui ficou foi dissolvido às tropas, esse meu tetra avô ele é remanescentes desses portugueses. Mas como naquele tempo as estradas eram os rios, esse rio que passa pela cidade e desemboca no Canindé no município de, entre Oeiras e essa cidade de Floriano, naquele meio ai, então eu acredito que ele tenha vindo ai pelo rio, por que naquele tempo as estradas que se conhecia eram somente os rios. Então chegando aqui ele se abrigou localizado próximo ao rio no lugar chamado Pão de Açúcar, hoje município de Bonfim, entre Bonfim e Várzea Branca. Então ele constituiu família e dessa família nasceu meu bisavô que se chamava Cipriano Ferreira dos Santos, ele teve uma prole grande acho que 14 uns 3 homens e 11 mulheres muita gente esse meu bisavô, do pai do meu pai teve também muito filho, mais esse meu bisavô mais novo parece que era o caçula ou o penúltimo de baixo pra cima. Então ele casou-se, casou-se a primeira irmã dele a mais velha casou-se aqui em San Lorenzo, com uma família de SanLorenso os Paes Landim, com o Francisco Antônio Paes landim. A irmã mais velha dele casou-se com a família desse povo aqui desse povo do (Congresso) Chico Antônio era pequeno fazendeiro, então a irmã

90

dele casou-se ai com a família do José Francisco Antônio Paes Landim. Então é o seguinte José Francisco esses rapas casou-se com senhora do cunhado dele que chama Chico Antônio já morava aqui na cidade era advogado raro, pequeno fazendeiro, então meu avô o mais novo da irmandade de Cipriano vão morar aqui na cidade em 1888 para 1890, meu avô. - Era seu bisavô Francisco Antônio Paes Landim? Era sogro dele o bisavô era Cipriano Ferreira dos Santos que era pai de Gasparino Ferreira dos Santos. Gasparino casou-se com a filha do Francisco Antônio Paes Landim (Chico Antônio) então meu avo quando casou-se com essa moça e logo meu ainda nasceu no Pão de Açúcar, mas logo ele veio pra cidade, por volta de 1890 ele veio pra cidade meu pai é o mais velho do meu avô Gasparino Ferreira dos Santos, então meu avô aqui localizou-se no Bairro Aldeia e aqui fez casa. Então esse meu avô morou aqui nesse bairro mesmo, a casa dele era praquele lado, ali pra praça do relógio tinha outra casa é que ele viveu a vida dele aqui até 53 anos e ele passou aqui na região pequeno criador e lavrador, mais na verdade ele sobre saiu mesmo como lavador e plantou aqui no campestre, até eu tenho uma roça lá ele desenvolveu a cultura de maniçoba e maniçoba deu dinheiro, no começo do século e foi muito dinheiro, eu gosto de dizer que aqui em São Raimundo Nonato-PI nois tivemos um, dois, três, ou quatro ciclo da maniçoba a borracha de maniçoba. A borracha de maniçoba é uma árvore que se tem muito aqui nessas chapadas ela dá um liquido com uma liga, que a gente chamava de borracha de maniçoba é não é tão diferente da seringueira, mais tem muita liga então no início do século ela deu muito dinheiro, meu avô plantou uma roça muito grande. Então a situação econômica dele passou a ser muito boa já em 1925, então deu muito dinheiro naquela época. Meu avô era Gasparino Ferreira dos Santos. Então foi mais a cultura da borracha de maniçoba e essa cultura dai passaram pra ser comerciantes foi assim com meu pai José Ferreira Paes Landim construiu uma família muito grande que teve 7 filhos 4 homens e 3 mulheres e praticamente foi o principio da situação econômica. Ainda falando sobre borracha de maniçoba ela deu dinheiro aqui na guerra de 1914, muito dinheiro e não deixou mais de dar dinheiro, de 1905 até 1960,mas o ciclo maior foi 1905 em 1914 deu muito dinheiro e continuou a dar dinheiro ai passou ser um produto de grande valia, melhorou muito a situação econômica aqui do povo, o povo ia pra Serra Vermelha, Serra da Capivara, Serra de São Braz, o ovo iam lá extrair, era um extrativismo de muita importância para aquela época foi na guerra de 1914-1918 e sempre dava dinheiro e em 1938-39 deu muito dinheiro novamente e foi até 1945 o dinheiro era muito ao ponto da empresa norte americana Rock Corporeicho

91

ainda hoje lembro o nome veio pra cá incentivar a produção e ajudou muito o povo firma norte americana ensinava a extração deu muito coisa ao povo deu foice, deu facão, fez muito caldeirão pequeno, reservatório de água aqui na Serra Branca todo lugar, pelas confusões, fez pequenos caldeirões reservatório de água pra não ter que apanhar água daqui pra levar pra o pé da serra eles até que levavam um pouco de agua daqui, mas também tinha os caldeiros lá que a firam botou. Então correu muito dinheiro nessa época nos anos de 1940-50, o pósguerra ela continuou dando dinheiro 50 anos, mais dai foi no tempo que eles descobriram a borracha sintética e substituíram a nossa por que a nossa era pra misturar a seringueira da Amazônia por que ela tinha muita liga então ela foi substituída pela borracha sintética e que atualmente mistura com a borracha da Amazônia, seringueira. Então nos tivemos neste extrativismo o meu pai o pai dele, então nos entramos neste comércio e ai foram muito bem sucedido e entraram na política em 1912 quando foi à emancipação da cidade meu avô materno e paterno, Coronel José Dias Soares e um cidadão chamado Manuel Carlos fundaram a oposição, Manuel Carlos gostavam de dizer que iam fundar a oposição aqui, e que a oposição era que nem capim de burro, ele tinha ido a Teresina tinha trazido um capim de burro ia plantar junto com a oposição, a oposição e capim de burro não ia acabar mais nunca, nessa terra ainda hoje tem capim de burro, é aposição não acabou sempre tem né. - Os avôs do senhor, como eram os nomes deles? Os meus avôs eram Gasparino Ferreira dos Santos e Coronel José Dias de Sousa. Eles fizeram oposição aos Coronéis por que eles não eram coronéis. - a gente tem como referencia do primeiro prefeito Manuel Rubens de Macêdo era esse ai? Era, ai eles eram os opositores, eles eram os opositores, eles fundaram a oposição, oposição aos coronéis, ai nasceu à oposição em 1912, então meu avô, meu dois avôs e o amigo deles Manuel Carlos de Oliveira foram os fundadores da oposição contra os coronéis. Depois meu avô Coronel José Dias pela sua, pelo que se destacou com sua intelectualidade, era intelectual naquela época ele conseguiu o titulo de coronel e de tenente coronel também, mas não foi por boi não foi através de fazenda nem gado nada, foi por causa de sua cultura né, ele era muito culto advogado foi até promotor na cidade, então ele conseguiu o titulo mais tarde de Coronel José Dias e também o honorifico, que se destacou e que serviu muito aos coronéis depois da política foi mudando de chefia né e ele foi um mentor politico aqui na região por muito tempo, ele não foi nenhum intendente nem nada, mas foi sempre um advogado, falava francês e era muito apaixonado pela cultura e pela educação até que ele

92

incentivou a família dele toda para estudar filho, neto, e logo desde muito cedo a família de Coronel José Dias se destacou como advogado a família era tudo universitário, a primeira família que deu universitário aqui na região foi a dele que ele incentivou muito o estudo naquela época, ele gostava de dizer, o meu avô Zé Dias, olha os Coronéis os Macêdo os coronéis tem muita terra, muito gado, eles não precisão botar os filhos no estudo, mais nois não temos gado, não temos terra, temos que vencer pelos livros, temos que vencer pelos livros, estudar, estudar por que o mundo vai precisar de quem sabe ler, estou mim destacando só por que aprendi a ler, ninguém tem terra, ninguém tem gado, ninguém tem nada, tem que ter cultura, temos que vencer pelo livro, então ele foi um grande incentivador dele para estudar exatamente por que ele acreditou na educação na cultura, acreditou e ele estava certo a família dele hoje 80% são universitário, meu irmão mesmo que morreu com 90 anos, há 5 anos era advogado, outros mesmo que morreu não faz muito tempo era advogado outro da família que morreu com 80 anos também era advogado aqui na casa do meu pai teve advogado, farmacêutico teve professora que também era difícil naquela época, mas tudo por insistência dele que também. estudava naquela época. - Senhor Gaspar em relação à iniciativa pra fazer um projeto de emancipação política se fazia o projeto aqui e mandava pra Teresina? (Oliveira, 2011) Não é o seguinte, São Raimundo Nonato na época chamava-se Vila se São Raimundo Nonato, Jenipapo, depois passou a vila, funcionava vila pertencente à Comarca de Jaicós e quando, quando tinha qual quer demanda judicial tinha que ir pra Jaicós, Jaicós que naquele tempo era o ôco do mundo, naquela época no começo do século os transporte era cavalo era muito difícil de ir não tinha estradas iam mais pelos rios né. Então a emancipação veio em 1912, mas ela veio através de um decreto do governo do estado do governador, passou de comarca passou a ser cidade em 1912, passou a categoria de cidade, mas já era vila, então era assim já tinha uma prerrogativa de vila, mas não tinha política, não tinha delegacia não tinha nada, mas com a cidade que veio o povo e a organização de cidade e criou o primeiro prefeito naquele tempo chamado intendente, era escolhido através de eleição, não era secreta então os primeiros intendentes foram os coronéis,pois eles tinham mais gente juntodeles, então o voto era bico de pena, então os coronéis ficaram só veio a alterar a situação em 1930, na revolução de 1930 e que modificou quer dizer passou a ter uma eleição ai teve aquela que Getúlio Vargas entrou, ai houve uma mudança que foi uma mudança no Brasil inteiro, inclusive aqui no nosso São Raimundo Nonato foi nomeado prefeito, interventores municipais, nos temos aqui naquela placa lá tem, mas vou lhe citar alguns teve o Alcindo o filho de Aragão, teve o senhor Alcindino Freitas, e

93

em 1934 Sr. Francisco Candido da Silva que era também dos Coronéis 1934, mas ai ficaram 4 anos em 1937 houve o Golpe de Estado também de Getúlio. Os prefeitos daqui e de outras lugares passam, praticamente a prorrogação de uma data então passou 1934 em 1937 Getúlio deu o golpe de Estado Novo e Getúlio estabeleceu uma ditadura então aqui continuou e até 1945, esse cidadão de 1934 a 1945, sem o julgo do povoe ai em 1945 quando Getúlio Vargas caiu depois da guerra de 1945 assumiu a presidência o presidente do supremo tribunal o senhor ministro Liares então foi mudado aqui no Piauí os governadores que naquele tempo chamavam interventores foram mudados os prefeitos os prefeitos que eram dos anos trinta, trinta e tanto que estavam no poder foram mudando por novos prefeitos nomeados e teve um sucessão de prefeitos aqui rapidamente teve o senhor de, lá nesta placa diz tudo, o Sr. Aristóteles Araújo teve Edson Ferreira, José de Castros, que foi prefeito neste período depois houve eleição estaduais em 1946então meu irmão deixou a prefeitura e foi eleito deputado estadual em 1947, e em 1948 houve eleição municipal no Piauí inteiro quer dizer no Brasil e aqui em São Raimundo foi eleito um cidadão Manuel da Silva Dias, que era filho do Coronel José Dias, que era também meu tio e ai eu ganhei na sucessiva em 50 e em 50 esse cidadão voltou por dois anos foi criado à constituição do estado a constituição de 1948- 47 ai foi o código de postura ele foi modificado mais ainda tem o condigo de postura, então ele foi eleito mais 4 anos ficou até em 54, ai veio uma sucessão de prefeitos 58, 62 eu fui eleito muito jovem 29 anos eu foi eleito pela revolução tomei posse, mas em 1964 teve a revolução militar à revolução de 64 eu era da oposição naquela época do governo então eu fui perseguido aqui e perdi o mandato no fim de 64 eu perdi o mandato foi incluído no Ato Constitucional Numero 2, só por perseguição fui alegado que tinha ideias subversivas, mas na verdade eu não conheci nenhum comunismo naquela época, mas mesmo assim cai. Naquela época tiveram outros prefeitos outros prefeitos que substituíram mais uns dois anos a veio outros prefeitos como Newton Macêdo, Pedro Macário de Castro, eu vim novamente em 1982, fui eleito novamente de 1982 a 1988, veio Amilton Baldoino de 1988 a 1992, eu vim novamente de 1992 a 1993, ai veio o atual prefeito ele veio de 1997 a 2000, em 2000 o Avelar que é o meu filho, mas o Padre retornou novamente em 2008-09 que é o atual, mas em 1954 teve um padre aqui em 1954-54 Padre Lira, já é o segundo padre aqui, mas nenhum deu certo, por que o primeiro foi desastre acabou largando, e o segundo também tem muito problema é respondendo muito processo nas costas, promete de cair toda dia, mas momento isso não interessa, mas na verdade os prefeitos ficaram até ai foram esses, administradores, e São Raimundo Nonato sempre foi assim do comercio muito grande, meu pai foi comerciante, eu fui comerciante, e São Raimundo Nonato sempre foi assim do

94

comércio muito pujante, muito forte, mas por que São Raimundo sempre teve vários ciclos comerciais teve o ciclo da borracha, ciclo da mamona, grande produtor de mamona deu muito dinheiro teve o ciclo do algodão foram os três produtos agrícolas que melhoraram a situação econômica do povo, é uma região muito boa para a pecuária, caprinocultura, ovinocultura, e também gado, então nos fomos um região da pecuária muito boa criação de gado, criação cabra, ovelha, o município teve muito destaque na criação de gado principalmente no passado tinham uma pecuária muito grande, os coronéis tinham muito gado, tinha deles que tinha 5 000 cabeças de gado era porque eram criados extensivamente, ai com o problema de extensivo foi diminuindo o povo aumentando, ai aquelas áreas que estavam aberto foram diminuindo, tanto é que nossa produção de gado diminuiu, mas hoje ainda tem, mas nois aqui nossa tecnologia nos estamos muito fraco na tecnologia, o governo tem até incentivado eu gosto de dizer o Governo Federal o Banco do Brasil sempre teve. dinheiro para ajudar o povo, mas nunca teve uma orientação tem até uma EMATE, mas nunca chegou funcionou como cabide emprego, sem muita ação, pouca ação e nois sempre fomos uma região agrícola, por exemplo, a lavoura diminui, mas nois temos a mandioca de milho, feijão criatório de gado, mas acho que o fato da parte do governo o dinheiro sempre tem, mas ele é dado, sem orientação, sem nenhuma tecnologia ai o povo pega o dinheiro ai gasta em outras coisas então nois tem um agropecuária extensiva, e ai por outras lugares certos estados como Ceara eu conheço a situação melhorou,mas aqui no Piauí, melhorou assim nesta questão de raça, sangue melhoria do rebanho, mas aqui a no Piauínão nessa região que somos essencialmente criadores de caprinos, ovinos não temos incentivos por parte do governo incentivo muito pequeno. - Senhor Gaspar um pergunta lá do início quando o Senhor falava de 1912, os primeiro o Rubens Alves de Macêdo, o primeiro prefeito passava quatro anos no mandato naquele período? Outra questão era se esses coronéis que o senhor sabe dizer se partiu deles a iniciativa de pedir a emancipação política ou partiu dos governadores? Eu não sei dizer não, mas devido à dificuldade da capital ser muito longe naquele tempo tinha que ir a cavalo, no inicio do século esse cidadão Manuel Carlos de Oliveira eles tinhas uns parentes em Teresina, ainda 1930 ele dizia que ir a Teresina em tanto pra 30, a viajem demorava no mínimo 2 dois meses um mês só era de viajem, quer dizer ele passava 15 para ir a Teresina por que ia no lombo de burro e 15 para voltar só a viajem demorava um mês e um mês lá por que o tempo naquele tempo corria de vagar a viajem era longe precisava de descanso dos animais ninguém tinha pressao tempo andava pouco então eu acho que devido essas dificuldades todas e comarca aqui Jaicós ficava até contra mão, contra mão assim por

95

que o caminho naquele tempo era o caminho naturais para Teresina era os rios esse rio Piauí, desemboca no Canindé, o Canindé desemboca no Parnaíba em Amarante, então aqui já no começo do século em 1916, ai depois eu chego ai, então esse pedido de emancipação era um desejo dos Coronéis de passar, já era uma vila grande de São Raimundo Nonato etc., tinha a paróquia tinha a igreja tinha tudo, eu queria lembrar também esqueci de falar do desenvolvimento da cidade, São Raimundo Nonato é uma cidade com educação desenvolvida nois devemos também a ordem mercedária que chegou aqui na São Raimundo Nonato em 1922, em 1922 chegou o primeiro bispo eu não sei o nome desse primeiro bispo, que na realidade, sei que em 1922 chegou os primeiros padres espanhóis então esses pessoal, pessoal espanhóiseles já tinham formação universitária eles eram padres naquela época, então eles abriram escola aqui em São Raimundo Nonato teve o colégio Dom Inocêncio, ei mesmo estudei aqui no, no arquivo, lugar que fica o colégio das Nossa Senhora das Mercês, fundaram uma capela aqui, moram uns padres onde tinha uma prédio grande, ai era desde 1938 eu estudei ai 38, os padres tiveram grande influencia na educação por que eles sempre mantiveram colégios naquela época, e em 1948 eles fundaram o Ginásio Dom Inocêncio, eu estudei ai, mais eu fiz o ginásio em Petrolina, por que só tinha um ginásio em Petrolina aqui perto da gente, mas em eu fui 1946 fazer admissão para o ginásio por que aqui não tinha, e em 1948 eles fundaram o ginásio aqui Ginásio Dom Inocêncio foi de muita importância para região além de servir aqui na redondeza, Bom Jesus, Fronteiras São João, Canto de Buriti, Remanso. Remanso menos mal que tinha o rio para viajar para Petrolina estava mais fácil, mas mesma assim ainda tinha gente de Remanso da Bahia, Campa Legre de Lurdes, então os padre marcaram um a época assim, criaram essa ideia no corpo de educação de estudar, naquela época aqui no Sul do estado o Ginásio Dom Inocêncio foi o primeiroate o Bom Jesus o mundão, o primeiro em 1948 por que naquela época para estudar tinham que ir para Petrolina,já em 1938 se formaram em Petrolina, minha irmão mais velha já em 38 formaram em Petrolina professora e outras moças aqui da família paixão ,já teve varias professoras em 1938 já formada, em Petrolina já existia está escola, a escola Normalista era três anos que dizer então ela deve ter ido em 1935, e outras moças foram, minha irmã mais velha ainda conta com vida ela tem 92 ela formada desde 1938 ela se formou em professora acho que do tempo dela só tem ela as outras foram tudo, ela tá até lucida,o nome de lá e Antônia Ferreira Deusdará, naquele tempo era Dias Ferreira era professora ela casou-se em 1946 com primo dela que era medico também foi embora pra lá e ainda hoje está em Belo Horizonte. Virou Mineira ela dizia eu sou mineira do Piauí. Então teve esse muita influência na educação do povo e a verdade é esse ciclo

esse começo na história educação do municípios vem

96

aumentando, é prova que temos a UESPI, UNIVASF, temos ai UNOPAR, o IFPI, chegou ai temos muitas a escola, as irmãs aqui também mercedárias, as escolas das irmãs são muitas antigas deve ser de 1938 já existia naquele tempo essa escolas das irmãs mercedárias, e criaram a escolas da normal aqui mais ou menos naquele tempo em 1950, e depois mais tarde vieram a escolas do estado. Então essa ordem religiosa das mercedária tiveram muita influência educação uma participação ativa e direta na educação na região foram começadas por elesas primeiras escolas importante na escola normal foi e começa das por eles ajudou muito o povo, São Raimundo Nonato foi privilegiada na questão da educação às vezes a gente reclama que não anda bem mas ela não anda bem em todo Brasil, mas ai é outra história, mas aqui começou um das primeiras do Piauí, aqui de Floriano pra foi uma das primeiras escolas do Piauí, foi escola Normal a das freiras e Ginásio Municipal, de 1948 pra cá depois foi ela foi se estando pra longe com força do governo, foi se estando pra outras cidades, então São Raimundo Nonato foi privilegiada pelo ciclo do extrativismo e da educação que havia com esses mercedários ai. Senhor Gaspar falando sobre desenvolvimento urbano o desenvolvimento do centro da cidade,em conversa com outras pessoas, elas favam que aqui antigamente tinha ligar aqui que eram roça como foi essa modificação? Aqui é o seguinte essa cidade de São Raimundo Nonato em principio era aquela praça da igreja ali sempre de quando eu mim entendi já conhecia, mas era o seguinte aqui era só ali aquela rua saindo da igreja pra lado direito era roça, quem sai alo do lado direitoRua Avelino Freitas, logo ali quando sai daquele cantinho ali só era roça aquilo tudo era roça que vem até o cemitério era roça, era morro era tudo a cidade seguia pra li até abeira do riacho. Mas aqui ela vinha até aqui assim, aqui onde estamos meu avô que morava ali, que eu não conheci meu avô, mas meu pai morava ali, ali na frente era uma roça, aqui era outra, aqui era outra, meu avô instalou roça e botou curral ali, depois veio o genro dele ali, não tinha ninguém ai eles foram tomando conta do espaço, aquele espaço que ia até aquela casa ali, a casa de saúde ali aquilo tudo era roça, e aquela lá na frente ali onde e tem o colégio das freiras tem uma casa que foi construída em 1912, pelo departamento nacional do departamento de obras contra as secas, que foi na construção do Açude Aldeia aqui, foi construído em 1912, ali foi uma espécie de canteiro de obra, então fizeram aquela casa ali, ela foi aumentada, mas com um terreno muito grande que ia até ai na esquina vindo pra cá e até a casa do meu avô que ia na esquina, então isso ficou com o município. Então lá ficou um grande local de baile futebolístico de futebol, no meu tempo em 1940 o jogo de bola ai era um pátio grande ali era o campo de bola eu ainda joguei ai até ante

97

ontem eu tive lá no aniversario de uma amiga minha que completou 90 anos, eu disse olha aqui eu joguei muita bola aqui, teve até um jogo entre São Raimundo e São João do Piauí, e neste dia eu foi até goleador por que o jogo foi 2 a 1, nois ganhamos por dois a um, e um gol foi meu, eu fiz um e outro fez outro, falei até num cidadão que esta na cadeira de roda lá que é o mais velho da turma, ele era o mais velho uns dez anos, mais era um cara que mais jogava fez até o gol deles lá, era o Davi Paulo, Davi Paulo foi até deputado tem o Roncale é filho dele, jogou mais trinta anos era doido por bola quando falasses em bola ele estava no meio, foi dos jogos mais importante aqui, foi mais ou menos 1950, depois o terreno foi murado e depois doado para freiras, por que ainda não doado ai morava nos anos de 40, 40 e pouco quem morava era o prefeito que morava ai o Francisco Antônio, morava ai, depois foi dada ai no governo de José de Castro de 1958 para 1960, que ele doou e começo essa escola normal das freiras ai então o estado deu um dinheiro ele começado ficou só começado, ai o projeto passando, depois sendo prefeito conseguiu um verba só pra terminar ai foi doado às irmãs esse colégio ai, e a área dessa inspetoria foi doado pra elas, elas foram agraciadas com esse terreno ai que vai até a esquina mas na realidade elas mereceram, foram elas que começaram a educação aqui, já vinham moças já formadas em espanhol, eu lembro até que tinha duas casa esta daqui, não primeiro elas tinham uma lá embaixo depois que vieram pra qui, eu lembro que tinha uma freira velha que chamava Madre Getudes ela era italiana, então ela chamava meriquito, merequito, merequito... o negócio dela era merequito, os italianos tem esse negócio de marequito. Então aqui era uma roça e em 1972, o prefeito daqui Valdir Ribeiro, eu esqueci até de citar o nome dele Valdir Ribeiro e foi entre 1970-72, ele indenizou a roça do meu pai e ai dos descendentes dos coronéis ali pra baixo onde tem o riacho onde é hoje o Banco do Brasil, ali só tinha as casa ali da frente, ali tudo era riacho era roça, ai deu até uma briga danada, até indenizaram e tudo minha mão naquele tempo que era viúva, recebeu dois mil e tantos reais que não sei ou cruzeiros que naquele tempo 1970, mas eles não aceitaram teve até promessa de briga. O valor era mais ou menos bom assim para o tempo, pegou uma pontinha do terrenos dos Macêdo ais foi uma briga danada, precisou derrubara a cerca com ordem judicial, no fim foi bom eles fizeram até casa pra eles, então a casa do meu pai aqui e tudo passava pra traz era roça, ali pra traz do Banco do Brasil tudo era roça, ali por de traz do Banco do Brasil, Banco do Nordeste, ali tudo era roça só tinha aquelas ruas de traz era o riacho e roça. Os bairros sugiram de pra 1970, nois tínhamos os bairros mais velho, o mais velho era o Alto São Felix, esse é o bairro mais velho, o primeiro, ai depois nasceu o bairro Gavião e o Santa fé eram roça, por exemplo ali na avenida do Gavião ali onde tem a câmera, tem a

98

avenida que sob, esqueci o nome da avenida, ali era tudo roça, meu pai tinha um roça ali, meu pai tinha uma roça grande e gostava de planta carnaúba, e tinha um chiqueiro de bode ali, criava bode tinha uns 200 bodes então o desenvolvimento veio começar de 1960 pra cá. O Santa Luzia no tempo que eu era menino era difícil de andar depois que veio essa estrada em 1966, e que passou bem no meio perto da capela, a gente ia lá pra capela lá por fora, agora em 66 essa estrada se abriu, mas era poucas casa, agora a explosão demográfica ela veio de 1970 pra cá, tudo tudo tinha começo o Gavião tinha uma casinha pra cá, o São Felix, Santa Luzia, Cipó, tudo casinha pouca o Ubilina tinha um pouco também, agora a explosão demográfica ela veio de 1970 pra cá, acho que foi no Brasil inteiro né, ainda esses dias vi uma reportagem ai nois temos 17% na zona rural os outros 83% estão na cidade, veio àquela explosão demográfica encheu, então aqui depois veio à emancipação dos municípios aqui em 1962 quando eu era prefeito, em uma briga entre parentes, ganhei a eleição em 1962 contra outro primo meu então o revanche dele foi dividir o município aqui em varias cidades em 1962, dividiram todas as cidades que tem hoje já sofreram um divisão, por exemplo aqui nasceu à cidade de Fartura que era Dirceu, então foi criado à cidade de São Lourenso, Dirceu, Dom Inocêncio, Coronel, São Braz e Anísio de Abreu, então o seguinte e nomearam os prefeitos, então eu naquela época mais meu irmão que era deputado nos protestamos contra a criação das cidades não foi propriamente pela criação mas que desse eleição pro povo, ai nois protestamos por que os prefeitos foram nomeados, na constituição da ditadura não existia essa figura de prefeito nomeado, então nois entramos aqui no tribunal protestando, contra Anísio de Abreu não os daqui, e o tribunal deu ganho e nois derrubamos os prefeitos ai foram a Brasília e Brasília confirmou por que ficaram com muita raiva por que a gente não queria o progresso das cidades, não nois queremos mas vocês querem é fazer de tudo curral, vocês não são dono do povo bota eleição, não botaram caiu então veio se arrastando isso foi em 1963 então nois tivemos a primeira cidade, foi só em 1980, que dizer depois de 18 anos ninguém mais falou diminuiu mas aquela vontade de cidade, e começaram falar em cidade mais foi só em 1980 que passaram a ser cidade, Dom Inocêncio o primeiro, não primeiro foi Dirceu primeiro município que passou a ser cidade, primeiros foi Dom Inocêncio que passou a ser cidade em 1982, mais depois foi muito bem foi apresentado o projeto dos outros municípios e foi apresentado em Teresina ai foi criado o Coronel o coronel José Dias recebeu esse nome por que ele é filho de lá meu avô e filho de lá, ele é um dos filhos ilustre lá foi doutor, então botaram o nome da cidade botaram o nome de lá, então foi Coronel foi Dom Inocêncio foi entes desse aqui antes foi Dom Inocêncio, em 1988 já teve eleição em Dom Inocêncio, em 90 teve nos outros, e foi boa a divisão foi boa deu certo o dinheiro aumentou, nois tinha aqui no

99

município 2.2 e somado, aqui diminuiu pra1.6, mas somado 6 e tanto,a região aqui somado então aumentou quase quatro pontos, foi uma melhora grande os municípios tem alguns problemas uns menos outros mais, mas estão ai funcionando. Eu acho que o grande problema nosso de modo geral e o momento nacional uma corrupção danada, eu acho que falta um pouco de, os gestores são de poucas cultura é preciso essa mocidade que esta se formando agora venha tomar conta já são mais esclarecidos muitos prefeitos se perde ai por que não sabe nem como pode gerir o negócio, os outros é quem manda ou os não acreditam na lei direito, às vezes quando aparece um mais sabido diz é por aqui não atende acha que não acontece nada, a impunidade, e tem muitos problemas de um modo geral. Em relação à seca aqui o tanque aqui construído em 1912? O tanque já foi devido à seca foi construído aqui em 1912 então era o seguinte nois tivemos um grande problema de água aqui na cidade, desde quando a cidade era pequenininha nois tinha problema terrível de água, água de Remanso era longe, tinha tempo que tudo que era água de superfície acabava até o daqui secou varias vezes esse Açude, então a água era só essa água minada de cacimbão, essa coisas e tudo aqui era água salgada, tinham cacimbão capaz de da subsistência mais era tudo água salgada servia só para os animais, aquilo era um clamor pra gente, aqui na cidade que tinha mais gente acabava a água a gente tinha que ir tomando um litro na casa do outro, sempre foi sonhado, o riacho de São Lourenso sempre foi um riacho bom de água, pensou sempre em sonhar fazer um Açude em São Lourenso pra trazer água pra cá, mas quando o negócio concretizou com a construção do Açude no governo do Hugo Napoleão em 1980-84, nois sempre tivemos uma secas famosas à seca de 1915 morreu muita gente morreu muita gente, o pessoa que morreu era mais retirante que vinha de fora do Ceará, já vinham, a aqui de qual quer forma tinha pouca água, mas aqui tinha nossa fauna tinha muita riqueza muita caça muita coisa, então em 1915 foi uma grande seca, teve outra em 1932 também foi grande seca, em 1953 teve outra mais essa já estava melhor tinha mais recursos etc., teve ajuda de governo, já tinha mais riqueza, e teve outras secas em 1962, mas secas pequenas mais recursos, agora outra foi em 1980, foi 1980-1-2-3-4, agora essa seca foi uma que o governo ajudou muito tinha carro pipa, agora em 1984 no governo de Napoleão eu era até o prefeito nois conseguimos abrir tem até uma adutora aqui na Serra Branca Chamava Maradas, o ministro das estrutura naquele tempo era outro nome ele, foi quem arranjou a verba, nois seguimos conseguimos com o governos do estado abrimos uns poços ai resolveu nossos problemas, não foi assim bem resolvida por que a água era ainda precária, precisava botar chafariz, num deu pra vim pra todas as casa mas pelo menos a água estava

100

aqui dentro da rua, amenizou muito a situação e ajudou muito essa redondeza aqui de uma légua uns dez quilômetros, já tinha o povo que tinha muita caminhonete, caro pipa o governo mandava colocar no interior, foi uma seca rica, no entanto só para ilustrar a conversa, tinha um caminhoneiro aqui que em dezembro, começa mesmo o sinal de chuva, ai então quando foi em dezembro que começava a chover, ele era muito engraçado ele botava os pés no chão e dizia ô São Pedro aqui não precisa chover não tem muita água tem muita comida tem tudo então não precisa chover não, tem muito caminhão pipa para botar agua pra todo mundo aguenta a mão, então tinha essa brincadeira dele que botava os pés no chão, a seca tá boa tem comida tem água, tem tudo, não estamos precisando de chuva não pode botar para outro lugar, então de 1984 pra foi uma grande seca, mas ai foi melhorando veio água prá com a construção desse açude que ao invés de ser São Lourenso passou a ser da onça, então esse açude passou de 1984 eu eu era prefeito fui até testemunha do contrato da licitação, e veio a terminar em 90 e tantos, e essa adutora ai resolveu o problema, mas a água é salobra, tá servindo mas todo mundo tem saudade da água de lá que era mineral, aqui ainda vem assim por alguns lugar eu por exemplo, é tanto que a água mineral passou a ser um grande negócio entra caminhões, caminhões todo dia com águas minerais, mas muita gente bebe de carro assim que vem na rua eu mesmo tenho um amigo ali que em vez enquanto encho dois tambor que é para cozinhar fazer um café, água boa até pra beber, aqui em casa tem muita visita se botar água do açude é um choro danado ninguém que beber, por que a outra que é a boa, mas a outra não falta não agora tem dado uns problema numas bombas ai o governo fez uma licitação, com uma com material fraco ela tá tendo muito problema de péssima qualidade, mas aqui tá bom que é uma cidade maior, mas Bonfim falta, Várzea Banca , Jurema, em outras cidades, mas governo tem carro pipa ajudou muito construindo caldeirão, cisterna, mas aqui tá bom questão de água melhorou, não está mais àquela seca, o governo tá ajudando muito o povo, o povo também ajudado ele.

101

ANEXOS

102

103

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.