1941 e a industrialização de Cordeirópolis.pdf

May 27, 2017 | Autor: Paulo Tamiazo | Categoria: Industrial And Labor Relations, Brazilian History, Local and regional history
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1941, a encruzilhada da industrialização moderna de Cordeirópolis Nesta oportunidade, vamos recuperar acontecimentos relevantes, relacionados ao desenvolvimento industrial de Cordeirópolis, que tiveram origem em fatos ocorridos durante o ano de 1941, portanto, há 75 anos. Carmello Fior É reconhecida a tradição e a importância da família Fior em Cordeirópolis, desde seus tempos de distrito. Prova disso foi a denominação de uma estrada municipal, asfaltada nos últimos anos, que dá acesso ao pólo cerâmico da cidade, homenageando a memória de Carmelo Fior. Sua biografia pode ser vista no projeto que originou a lei. Segundo documentos públicos, arquivados por um dos cartórios de Cordeirópolis, em 5 de junho de 1941 compareceram, para assinatura de uma escritura de compra e venda, lavrada pelo tabelião Aristeu Marcicano, Orlando Moreira da Cunha e sua mulher, Francisca Corrêa que, pelo valor à época de 25 contos de réis, vendeu a Carmelo Fior, morador de Leme, de uma área de terras com 10 alqueires mais 21.165 metros. O local compreendia “uma área com dez alqueires, com jazida de barro para cerâmica, casa, ranchos para olaria e outras pequenas benfeitorias”, tendo por limites a estrada de ferro da Companhia Paulista, João da Matta (sucessor de Reginaldo de Moraes Salles), o ribeirão Tatu, os vendedores, sucessores de Maria Martins da Cunha e Carlos Tomazella, sucessor de José Corrêa Branco. Alguns anos depois, em 21 de julho de 1945, os mesmos Orlando Moreira da Cunha e Francisca Corrêa venderam à senhora Maria de Lurdes Arrais Fior, que neste ato estava acompanhada de seu esposo, Carmelo Fior, um terreno dividido pela estrada para a Fazenda Santo Antonio, composto de duas partes. A primeira, em forma de trapézio, na esquina da referida estrada, continha 14 ares (1.400 m2), e tinha como limites a própria estrada, a propriedade de Carmelo Fior, o Horto da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e terras da família Moreira da Cunha. A segunda, com cerca de 20,50 ares (2.050 m2), confrontava com a área anterior, com propriedade de Carmelo Fior, com a estrada de ferro da Companhia Paulista e João Fratini. Fioseda Conforme abordamos em outras oportunidades, a implantação do viveiro de mudas da “Indústria de Seda Nacional”, visando a implantação de um sistema industrial de produção de tecidos nacionais, teve vida curta, sustentado basicamente pela subvenção legalmente definida em níveis federal e estadual. Uma conseqüência desta experiência foi a criação da empresa “Fioseda”, situada num local que, àquela época, era o subúrbio do então distrito de Cordeiro. Segundo informações da imprensa (Correio Paulistano, domingo, 6) e da própria Junta Comercial do Estado de São Paulo, em 4 de março de 1938 foram aprovados os

contratos de criação da Fioseda Ltda., no tempo em que Cordeirópolis pertencia ainda a Limeira. Segundo documentação cartorial, os sócios da empresa eram Francisco Orlando Stocco, sua mãe, Maria Amália Fischer Stocco, o dr. Huberto Levy, o Major José Levy Sobrinho, o capitão Ary Levy Pereira, Manoel Simão de Barros Levy e a empresa “H. Levy & Cia.” Como dito, em 10 de fevereiro de 1938 foram comprados pela empresa “Fioseda Ltda.” de Manoel Beraldo e sua esposa, Pierina Carron Beraldo, um terreno na Rua Nova da Paz (posteriormente chamada de Guilherme Krauter), com área de 85 metros de frente por 38 de fundo, que limitava com os herdeiros de Archangelo Panhoca, a “estrada para Santa Gertrudes” (a continuação da Rua Carlos Gomes) e Antonio José Gomes de Affonseca. Curiosamente, esta área foi comprada, em 1924, por Emil Schllapfer, do Rio de Janeiro, que, no período de implantação da Indústria de Seda Nacional, foi o responsável e procurador da empresa até sua efetivação. De qualquer forma, em 20 de novembro de 1941 compareceu o representante da Fioseda para assinar uma escritura de compra e venda para a empresa “Krauter & Cia.”, de São Paulo, cujos sócios eram Hermann e David Wilhelm Krauter, conhecido como “Guilherme”. A propriedade se juntava a outra, com 1.056 m2, ou seja, 12 metros x 88 (um quarteirão padrão da zona central de Cordeirópolis) pela Rua Carlos Gomes, “antiga estrada de Santa Gertrudes”. Sobre estas áreas, foi construído o edifício, de seis cômodos e corredor, com entrada de esquina, sendo dois cômodos e instalações sanitárias e outros quatro cômodos e um pequeno prédio que servia de cabine elétrica. Dois meses antes, Maria Cesira Pagnocca, viúva de Archangelo Panhoca, proprietário de terras onde funcionou uma fábrica de fogos, vendeu a Francisco Orlando Stocco um sítio, denominado “São Joaquim”, com quatro alqueires (aproximadamente 100.000 m2), com frente para a “estrada velha de Rio Claro”, ou seja, a Rua Carlos Gomes. Pela descrição do documento, o imóvel confrontava com a Fioseda, já descrita, Antonio José Gomes de Affonseca, José Ferreira dos Santos e Marieta Crozatti Pereira, nos fundos. A propriedade desta senhora tornou-se posteriormente a “Vila Santo Antonio”. Jafet Anos depois, o patrimônio de Francisco Orlando Stocco, descrito como o “gerente da Indústria Fioseda Limitada” em reportagem do “Estadão” de 22 de setembro de 1939, foi transferido a uma empresa de São Paulo. Em 16 de abril de 1943, Francisco Orlando Stocco e sua mulher, Antonia Bellini Stocco, venderam à empresa Gabriel & Raphael Jafet, de São Paulo, além do

terreno de quatro alqueires, onde fora construído um barracão de 5 metros por 15 e uma casa de residência, outro terreno na Rua Visconde do Rio Branco, esquina da Rua José Bonifácio. Em menos de um ano, duas residências na mesma rua, que eram de propriedade de Manoel Pereira de Mesquita, foram vendidas à mesma empresa e ficaram por muito tempo sem modificações. Em 1945, as empresas de tecelagem de Cordeirópolis, Krauter & Cia. e Gabriel & Raphael Jafet, realizaram permuta de algumas de suas propriedades. A primeira, com mais de 2.300 m2, compreendia um terreno na Rua Nova da Paz, nº 148, contendo quatro casinhas rústicas. Se não foram reformadas posteriormente, são as que ainda existem no local, situado entre as Ruas Guilherme Krauter, Visconde do Rio Branco e 7 de Setembro. Outra área foi envolvida na transação, compreendendo um terreno nos subúrbios do então distrito, com 3.344 m2, medido novamente e que indicava 88 metros (ou seja, um quarteirão da zona central) por 38 metros, situado entre os dois permutantes. Esta área ficou para Krauter e a anterior, para Jafet. O ponto fundamental desta transação foi a presença de representante da “Agência Especial de Defesa Econômica” do Banco do Brasil, setor que tinha por objetivo fiscalizar a execução das leis que dificultaram a vida de cidadãos alemães, italianos e japoneses, inclusive criando embaraços a seus valores e propriedades, sob a alegação de que serviriam para responder pelo prejuízo causado por “atos de agressão praticados pela Alemanha, pelo Japão ou pela Itália”. O confisco de bens e valores de cidadãos de países em guerra com o Brasil abrangia a transferência, para o Banco do Brasil, ou para as repartições encarregadas da arrecadação de impostos da União, de “uma parte de todos os depósitos bancários, ou obrigações de natureza patrimonial superiores a dois contos de réis”, de que fossem titulares “súditos alemães, japoneses e italianos”, pessoas físicas ou jurídicas. Seguindo os dispositivos do Decreto-Lei nº 4.166, de 11 de março de 1942, também “os súditos alemães, japoneses e italianos, e quem possuir bens a eles pertencentes” deveriam comunicar, dentro de quinze dias após a publicação da lei, “às repartições incumbidas do recolhimento, a natureza, a qualidade e o valor provável daqueles bens.” Também ficava “proibida a alienação, ou oneração, por qualquer forma, de bens imóveis, títulos e ações nominativas, e dos móveis em geral de valor considerável, pertencentes a súditos alemães, japoneses e italianos”, pessoas físicas ou jurídicas”. Excluíam-se da proibição os “atos de comércio” usualmente praticados no interesse da manutenção e da prosperidade do estabelecimento, sendo que dos lucros líquidos verificados em balanços trimestrais seria recolhida em depósito a parte superior ao valor indicado anteriormente. Assim, a empresa Krauter & Cia. adquiriu as propriedades em Cordeiro antes do início das sanções aos países em guerra, que começaram com a publicação do DecretoLei nº 3.911, de 9 de dezembro de 1941 que definia: “todas as operações em que intervenham pessoas naturais ou jurídicas de países não pertencentes ao Continente

Americano e que se acham em estado de guerra dependerão de licença prévia da Fiscalização Bancária do Banco do Brasil.” Para implementação das medidas contra os “súditos dos países inimigos”, o governo federal cria a Comissão de Defesa Econômica (CDE), que deixava sujeitas à sua jurisdição e aos efeitos dos Decretos-Leis nº 3.911 e 4.166 “as pessoas naturais ou jurídicas de qualquer nacionalidade, cuja atividade seja julgada contrária à segurança nacional.” As atribuições da CDE estavam determinadas pelo art. 4º e abrangiam a intervenção sobre os bens das pessoas físicas e jurídicas atingidas pelo Decreto Lei nº 4.166, de 11 de março de 1942; providenciar a venda destes bens e direitos a brasileiros; providenciar a desapropriação de materiais estratégicos ou essenciais que estivessem retidos ou ainda liquidar os contratos em que sejam partes pessoas “cuja atividade econômica se tornasse necessário reprimir”. Por fim, à comissão também competia determinar a desapropriação ou utilização provisória de patentes e marcas de fábrica de propriedade de pessoas físicas ou jurídicas com “atividades contrárias à segurança nacional”. No ano seguinte, as competências foram transferidas ao Banco do Brasil, através do Decreto-Lei nº 5.661, de 12 de julho de 1943, para este que exercesse, a partir daquele momento, a repressão econômica aos súditos dos “países inimigos”. Foi neste contexto em que surge a Agência Especial de Defesa Econômica do Banco do Brasil, de Limeira, cujo representante estava presente na assinatura deste documento. Encerrada a guerra, a empresa Krauter & Cia. adquiriu algumas pequenas casas de João Barolo, José Barolo e Maria Barolo, próximas à fábrica, que estavam situadas nos nºs 579, 585 e 599 da Rua Carlos Gomes, além do nº 91 da Rua Nova da Paz, construídas sobre dois terrenos ligados. Policítrica Outra empresa criada no período foi a Policítrica, destinada a produzir óleo de laranja para exportação. Em 1940 foi criada a empresa, que tinha como sócios Salvador Durante Gullo e Bento Avelino Lordello, genros e herdeiros do rico capitalista local Battista Stocco, cuja grande fortuna tinha sido dividida no ano anterior. A empresa se compunha também de Heitor Siqueira e de Leonor Rodrigues Marcicano, respectivamente parceiro de negócios e esposa do tabelião Aristeu Marcicano. A empresa, para efetivar suas atividades, adquiriu, de Alcides Baroni e de sua esposa, Hilda Kaschel Baroni, moradores em Campinas, em 13 de dezembro de 1941, uma área de 6.000 m2, identificada claramente como “antiga fábrica de fogos”, situada na Rua 13 de Maio, nº 308, com entrada num “portão que põe fim à rua”. As confrontações da área eram, naquela época, com Rita Julia das Neves, que posteriormente realizou um desembramento de suas terras; com a empresa H. Levy &

Cia., proprietária da Fazenda Ibicaba, e com Carolina das Neves Vieira. Do outro lado, a área ia até o prolongamento da Rua Saldanha Marinho, nos fundos da Rua 7 de Setembro, contendo três barracões grandes e quatro menores. Foi incluído no negócio também um terreno situado entre a Rua 13 de Maio e a 7 de Setembro. Entretanto, com a declaração de guerra do Brasil contra a Alemanha, Itália e Japão, os negócios foram prejudicados e a fábrica encerrou suas atividades. A área foi vendida a diversos proprietários; inicialmente, a família Leme, através de João, Graciano, Evangelista, Eva e Pedro, compraram área com reserva de usufruto. Posteriormente, o terreno foi parcelado em mais três lotes, a famílias cujos descendentes ainda moram no local: João Baptista Spanhol, motorista, com uma área de 24 metros de frente por 44 metros de fundo; Paschoal Rosolen, ferroviário, com uma área de 14 por 44 e João Magrim, motorista, que ficou com uma área de 16,70 m por 44. Por se tratar de um desmembramento, os compradores se comprometeram, posteriormente, a doar as faixas de terra destinadas às ruas, tanto no prolongamento da Rua 13 de Maio, como na “rua projetada paralela à 7 de Setembro”. Pelegrinetti Outra empresa que fez parte da história do então distrito e que merece ser recuperada é o britador de Giovanni Pellegrinetti, proveniente de Corumbataí. Em 4 de agosto de 1941, é assinada uma escritura de “arrendamento com opção de compra” entre o empresário e o casal José Darós e Justina Ambrósio Darós, na qualidade de proprietários de um terreno de forma triangular, confrontando com a “estrada da Fazenda Boa Vista” e a “lagoa” da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, com prazo de dois anos. Até o correspondente do “Estadão” destacou, em 20 de janeiro de 1942, sob a rubrica “Pela Indústria”, que o Sr. Giovani Pellegrinetti “instalou, nesta vila, um britador de pedras, estando já produzindo e fornecendo esse material para construções, jardins, etc.” Os negócios devem ter prosperado, uma vez que a área foi comprada menos de dois anos depois, em 28 de julho de 1943. Mais tarde, em março de 1945, os mesmos senhores assinam escritura de compromisso para venda de mais 2.340 m2, que foi efetivada em 4 de março do ano seguinte. Depois destes documentos, não temos mais informações sobre que fim levou a referida empresa. Neste texto, pudemos recuperar fatos relevantes para história da indústria em Cordeirópolis, tanto pelas iniciativas bem-sucedidas bem como aqueles que não deram frutos, unidas pelo fato de acontecimentos importantes terem ocorrido no Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e quarenta e um.

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