1975 O primeiro Ano Internacional da Mulher

July 27, 2017 | Autor: Dulce Rocque | Categoria: História, Mulher
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1975 – 1º. ANO INTERNACIONAL DA MULHER Na Cidade do México, a ONU convocou a Primeira Conferencia Mundial sobre as mulheres e proclamou aberto o DECENIO DA MULHER. Corria o ano de 1975. Você sabia disso? Pois é, a TV falou disso? Então vou lhe contar. A essa Tribuna das organizações não governativas de então, participaram quatro mil mulheres, principalmente norte-americanas e europeias e poucas latino-americanas. As primeiras, falaram de igualdade de direitos e as ultimas, de opressão material. A ONU reconhecia, na ocasião, também, o dia 8 de março como o dia de festejar a MULHER. Isso quer dizer que, antes, tal dia de festa não era internacional, a faziam somente alguns países. Os comunistas brasileiros que estavam exilados na Europa, começaram a trabalhar, massivamente, nos festivais do L‟Unitá, órgão do Partido Comunista Italiano, no verão daquele ano de 1975. . Chegavam dos vários países que os aceitaram. Na Itália, apenas a primavera começava a ser mais verão do que primavera, as praças dos vários bairros das cidades italianas eram ocupadas por barraquinhas e ... por comunistas. Era sinal que começavam os Festivais do Jornal comunista. Todas as seções do partido (PCI) se preparavam e seus inscritos doavam seu tempo livre para tal ocasião. Pessoas de todas as idades se reuniam nas seções para limpar verdura, fazer molhos para macarrão, fazer massa pra os vários tipos de lasanhas, engarrafar vinho, enrolar talheres nos guardanapos, examinar a situação das toalhas de mesa, fazer bandeirinhas, enfim, tudo o que era necessário para aquela festa ao ar livre que duraria ao menos três dias do fim de semana. Com direito até a dança com musica ao vivo. Era o primeiro Ano Internacional da Mulher e, os comunistas brasileiros exilados na Europa, decidimos festejar esse fato com um disco sobre “A MULHER NA MUSICA POPULAR BRASILEIRA”.

Foram escolhidos alguns conhecedores de musica brasileira os quais ficaram encarregados de fazer a seleção das músicas e cuidar do disco . Ficou assim decidido depois de várias discussões que o lado A seria composto com as seguintes músicas: 1- Samba de roda, c/ Quinteto Violado 2 - Maria Moita, c/ Nara Leão 3 – Rosa de Hiroshima, c/Secos e Molhados 4 – Preta Pretinha, c/ Os novos baianos 5 – Valsinha, c/Chico Buarque 6 – Morena do Mar, c/ Dorival Caymmi 7 – Formosa, c/Vinicius de Morais

No lado B do disco estariam as músicas seguintes: 1 – Você não entende Cada e Cotidiano c/ Caetano Veloso 2- O Cheiro d Carolina, c/ Luiz Gonzaga 3- Tres apitos, c/ Bethania 4 – Maria vai com as outras , c/Vinicius 5 – Morte e vida Severina. c/elenco do Tuca

Do lado estava escrito ”A MULHER TRABALHA SEMPRE PELOS DOIS”.... Para resolver o problema dos direitos autorais, uma das estratégias foi escrever no disco, a frase “ EDIÇÃO FORA DO COMÉRCIO OFERTA DOS COMUNISTAS BRASILEIROS A SEUS AMIGOS”, mesmo se alguns compositores foram informados e permitiram, verbalmente, o uso de suas músicas.

E, mesmo se o dinheiro para pagá-lo foi arrecadado no festival do l‟Unità do ano anterior, organizado por mim na Itália, não apareceu no disco nada escrito em italiano. Espero, para salvaguardar minha segurança, já que tudo acontecia por “culpa” minha: única cidadã italiana do PCB, ali residente e engajada em denunciar a ditadura.

Portugal e Espanha já estavam livres do fascismo e para la também foram nossos companheiros, com o nosso disco, para angariar dinheiro nas festas populares dos Partidos Comunistas, e assim podermos continuar a denunciar a ditadura brasileira. A II Conferência Mundial das Mulheres, aconteceu em Copenhague , na metade do decênio, em 1980. Naquela ocasião foi aprovada a Convenção internacional contra toda forma de discriminação da mulher. Nesse fórum participaram 8.000 mulheres, desta vez incluindo as africanas. As do Norte denunciaram as mutilações sexuais femininas que aconteciam em grande parte dos países africanos. As africanas não aceitaram o „paternalismo‟ das feministas europeias. Não teve aliança, mas o confronto tinha começado. Naqueles anos o mundo se dividia em Norte (desenvolvido) e Sul (sub desenvolvido). Nos primeiros cinco anos da primeira Conferência em alguns países nasceram as leis sobre a paridade entre os sexos no trabalho e sobre o aborto. No Sul, nascem grupos e movimentos de mulheres. Os anos passavam, as denuncias do que a ditadura fazia no Brasil aumentavam e começava a fazer efeito e dar resultados as nossas lutas e denuncias. Mulheres brasileiras famosas tinham ido para a Itália pedir ajuda e solidariedade para as lutas que aqui se realizavam. Diretas Já, era a palavra de ordem. Em 1980 organizei o ultimo Festival do L‟Unitá. O Brasil estava se democratizando e os exilados já tinham começado a voltar desde fins de 1978. Este ano de 2015 festejamos em democracia a passagem de 40 anos do inicio desse reconhecimento internacional, mas, temos que reconhecer também que a realidade da mulher ainda deixa muito a desejar tendo que fazer muita estrada em vários lugares do mundo....

Dulce Rosa de Bacelar Rocque - Belém 8/3/2015

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