1984 de George Orwell, uma visão dos governos totalitários.

September 23, 2017 | Autor: Giordana Medeiros | Categoria: Literature
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1984 de George Orwell, uma visão dos governos totalitários

Giordana Maria Bonifácio
Resumo:

Esse artigo visa demonstrar que a obra 1984 de George Orwell,
uma obra de grande popularidade acadêmica, está extremamente
ligada a uma crítica aos governos totalitaristas que se
disseminavam a época de sua criação, em 1949. A elevação de
uma União Soviética stalinista em contraponto com o idealizado
governo socialista, que visualizava o autor, foi um dos
germens para o nascimento dessa obra intensamente política,
mas nem por isso menos arte. O autor em diversas ocasiões cita
as medidas adotadas nos governos totalitários que fomentaram a
ascensão do Big Brother ao poder. Os personagens estão sempre
se tratando pela alcunha "camarada", como faziam os comunistas
à época, uma prova de que o objetivo do autor não era outro,
senão criticar o meio de governo que se instalou e se expandiu
por diversas partes do mundo. A questão do cerceamento das
liberdades individuais é bem destacada pelo fato de todos
serem vigiados constantemente por "teletelas", bem como, por
cada um dos membros da população. Sem quaisquer direitos, os
homens são continuamente manipulados ao bel prazer de seus
governantes. Não é por menos que o "ministério da verdade"
tratava das mentiras construídas para enganar o povo e o
"ministério do amor" era o responsável pelas desumanas
torturas infligidas a quem tentasse se insurgir contra o
sistema, uma política de engodos e tortura é assim que George
Orwell representou o fim dos regimes totalitaristas. É o que
pretendemos abordar nessa pesquisa.

Em 1949, quatro anos após o término da Segunda Grande Guerra, observava-se
a bipolarização do mundo e o início da Guerra fria entre as duas potências
mundiais em ascensão: Estados Unidos da América e União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, a antiga URSS. George Orwell escritor
declaradamente adepto das idéias comunistas, choca-se com o sistema
político adotado na primeira nação submetida à Revolução do Proletariado.
Assume o poder naquele país, Josef Vissarionovitch Stálin, que, ao
contrário de balisar as antigas idéias comunistas, começa a construir um
estado extremamente totalitário. Em que, a equalização entre classes, tão
amplamente divulgado pelo Ditador, existia tão somente entre os populares,
enquanto os membros do partido comunista desfrutavam de todos os luxos que
possibilitavam o poder. Assim como os assassinatos e jogos de espionagem
tornaram-se extremamente comuns no Estado. Membros do partido desapareciam,
sem que se obtivessem jamais notícias de seu paradeiro. Vendo esta
realidade, estarrecido, George Orwell escreveu o livro 1984, uma visão de
futuro possível caso aquele modelo de governo se perpetuasse.
George Orwell não queria apenas criar uma obra ficcional, mas um meio de
protesto. Embora o sentido esteja sendo deturpado por reality shows que
usam as idéias para criar programas de inutilidades na televisão. Uma
cultura pop que desvirtua o real interesse de uma obra de arte em todo o
seu teor político. O cerceamento dos direitos individuais bem como dos
meios midiáticos, não se trata de ficção, mas de meios de ação adotados
pelos regimes ditatoriais. Nas palavras de Orwell, em seu ensaio Politics
and the English Language, presente no livro A Collection of Essays: "A
linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e
o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de
solidez". (PILLEGGI, O pesadelo totalitário de George Orwell). É isso que
se fazia continuamente no "ministério da verdade", onde trabalhava Wiston,
em adaptar os fatos de acordo com a vontade do partido. Apagavam-se
notícias, convertiam-nas de modo a enganar a população, que aceitava
pacificamente a mentira como verdade sem qualquer protesto. Wiston sentia-
se atordoado pelo modo como calavam o povo e do embuste que se tratava o
Big Brother, cometendo uma "crimidéia", ou crime de pensamento. Pensar era
vedado. Duvidar, muito mais. Ele também cometia o crime de "duplipensar"ou
lembrar-se da nova verdade criada para esquecer a antiga. Não aceitava
simplesmente que diminuíssem a cota de chocolate e que no minuto seguinte
fosse anunciado o aumento da cota que na verdade era uma minoração. Winston
estava descontente com a situação estabelecida e procurava destruí-la, mas
não teve sequer tempo para isso. Suas atitudes subversivas logo foram
descobertas, sendo submetido ele e sua amante às torturas no "ministério do
amor".
As guerras constantes entre as nações totalitárias, (tal qual ocorria na
Guerra Fria em que as potências se confrontavam veladamente em jogos de
Poder), foi retratada na sua essência na obra que as mostram em constantes
desavenças, mudando de aliados e inimigos a todo o momento. Na realidade,
se deu da mesma maneira. Estados Unidos e União Soviética, de antigos
aliados na Segunda Grande Guerra, tornaram-se inimigos, que disputavam sem
cessar a hegemonia entre as nações. Orwell, já tinha a percepção da
instabilidade dos acordos entre as nações. Um potencial aliado é também um
potencial inimigo. Depende do período em que se abordem essas relações. A
fomentação do ódio aos inimigos entre os cidadãos, é parte de uma
estratégia bem engendrada de fazer de cada um, um soldado a serviço do
regime. Uma verdadeira lavagem cerebral. Wiston, o personagem central da
trama, sente-se sufocado por saber de todas essas situações, e quer
encontrar meios de derrubar o Big Brother e o regime que ele representa. A
possibilidade de se ver livre é tão enganadora que Orwell destitui os
leitores da esperança de que o personagem tenha um final feliz. Submetido
as torturas mais degradantes, Wiston acaba por aceitar o regime. Até o dia
em que desaparece como os demais que ousaram se revoltar contra a ordem
instalada.
O Leviatã, de Hobbes, tornou-se o monstro invencível. Aquele a quem se
entregam todas as possibilidades de liberdade, em troca de uma proteção que
inexiste. "A liberdade", escreve Wisnton, "é a liberdade de dizer que dois
mais dois são quatro". A liberdade de pensamento e imprensa são os pontos
fortes de uma nação democrática. Acontece que os governos totalitários só
conseguem manterem-se no poder a custa do cerceamento dos direitos
fundamentais dos cidadãos.
Segundo Eduardo Akira Azuma:

"os meios utilizados pelo Grande Irmão para extinguir
a individualidade não se resumem à "teletela". Na
teoria de Hobbes o medo possui papel fundamental,
posto que, ele baseia o funcionamento do sistema. A
metáfora bíblica do monstro Leviatã também fortalece
tal importância na medida em que encarna o medo dos
homens em paralelismo ao medo construído pelo Leviatã
de Thomas Hobbes.
O poder eclesiástico na ótica de Thomas Hobbes também
exerce uma certa repressão espiritual, pois, segundo
ele, este seria o meio mais persuasivo de fazer com
que as pessoas obedeçam as leis.
Se pensamos em um dos grandes princípios de
funcionamento da república segundo Hobbes, a saber, a
obediência, compreendemos facilmente que o autor do
Leviatã tenha se sentido à vontade ao introduzir a
religião e sua hierarquia em sua montagem política.
Com efeito, onde já reina a obediência pelo medo de
Deus e pelo respeito aos princípios da fé, a
edificação de uma república que tende ao respeito
destes mesmos valores retomados por conta da paz
civil é sem dúvida facilitada. Os meios são os
mesmos: obediência, medo e fé. Somente diferem
aqueles que o inspiram: Deus ou o Soberano.
(ANGOULVENT, 1996: 35)
O medo da morte também é visto por Hobbes como uma
das paixões que levam o homem em busca da paz. As
outras paixões são: o desejo das coisas necessárias a
uma vida agradável e a esperança de obtê-las por meio
de seus esforços.
Ainda a respeito do medo da morte, Hobbes o considera
também como motor da razão humana. Este sentimento
faz com que o homem busque de forma institucional, o
meio mais eficaz de assegurar a sua sobrevivência,
neutralizando os seus próprios inimigos e não
obviamente a morte.
Em "1984", o medo também possui um papel fundamental
como meio de persuadir os indivíduos a obedecerem às
leis do Grande Irmão. Os enforcamentos perante a
multidão, além de terem uma conotação de propaganda
política do Estado que protege seus "cidadãos",
possuem também o objetivo de coagir os indivíduos a
obedecerem as leis sob pena de morte".


Estão bem evidentes os meios de dominação empregados pelo Big Brother, e,
portanto, a crítica política ao governo Stalinista, instaurado sobre o medo
da população, com o domínio dos exércitos e o poder de decidir sobre a
morte ou vida dos cidadãos. E, no livro, Wiston persegue o sonho de
liberdade que ficou gravado para nós na imagem do jovem na Praça da Paz
Celestial na China, que sozinho, parou uma fila de tanques. E desapareceu
entre as rodas dentadas da engrenagem do regime comunista na China. Wiston
será forçado a calar-se, será forçado a deixar de amar. Será forçado a
submeter-se sob a égide de um sistema de brutalidades e mentiras. E então,
como o jovem que sumiu como se jamais tivesse existido, também Wiston
transformar-se-á em "impessoa". Não foi difícil ao autor imaginar o mundo
que projetou nas páginas da obra em epígrafe. A ascensão da União Soviética
e a possível união da Europa em um megabloco foram previstas pelo por
Orwell mediante a situação que vigia no mundo em 1948. O futuro mostrava-se
quase como presente. E hoje não estamos a salvo da realidade ficcional que
nos sonda. O futuro é agora. E 1984 pode muito bem vir a ser um 2084. O
problema é se o povo vai permitir que lhes destituam dos direitos e
garantias fundamentais que foram conquistados a duras penas.
Não temos idéia de quanto nos foi subtraído mediante escusas transações
políticas. O Leviatã mostra-se mais terrível do que costumava ser. E creio
que, ainda nesse século, o mundo de 1984 pode vir à tona, com os
megablocos, a novilíngua e a tríade que sustenta o duplipensamento: guerra
é paz; liberdade é escravidão; e ignorância é força. A guerra será o meio
de sustentar uma falsa paz. Como invadir nações em virtude de um chamado
"Eixo do mal". A liberdade é considerada escravidão, por deixar abertas
várias possibilidades. Afinal, o Leviatã pode cuidar de seu povo, tomando
para si a obrigação de fazer escolhas. A ignorância do povo é a força dos
governos totalitários. Essa tríade que tornou possível ao Big Brother
manter-se no poder, pode muito bem vir a ser usada pelos governantes que se
perpetuam no governo, principalmente das nações sul-americanas. O silêncio
imposto à mídia, que se espalha como epidemia entre os países do sul leva-
nos ao conceito de verdadeira liberdade: aquela de poder dizer o que está
realmente acontecendo, dizer a verdade é a nossa maior conquista. Ocorre
que o totalitarismo se dissemina sobre uma população de miseráveis calados
pela força. E 1984 está cada vez mais próximo, é provável que chegue o dia
que lamentaremos, como Wiston, não termos a liberdade fundamental: a de
poder dizer que dois e dois são quatro. E muitos ainda se enganam ao dizer
que 1984 trata-se de um livro de ficção científica. É, na verdade, uma
crítica ao totalitarismo, para nos conscientizar que não estamos a salvo
das "teletelas", na verdade, elas apenas começaram a nos vigiar por toda
parte.



Bibilografia:


AZUMA, Eduardo Akira, Uma Análise da Obra "1984" de George Orwell a partir
de Elementos da Teoria Hobbesiana – A instrumentalização do medo em favor
de um Governo Absolutista. Disponível em






ORWELL, George, 1984, 29ed, Companhia Editora Nacional: 2007.





PILLEGGI, Marcus Vinícius, 1984, O pesadelo totalitário de George Orwell.
Disponível em





SILVINO, Eduardo, George Orwell e o mundo de 2084. Disponível em

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