2005 A asas do irokos

July 22, 2017 | Autor: Thierry Dousset | Categoria: Cinema Studies
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As asas dos irokos Roteiro Thierry Dousset Tradução Carlos Eduardo Rego

Carta de intenção “As asas dos irokos” tem origem em uma longa meditação sobre as “thèses sur l’histoire” (teses sobre a história), de Walter Benjamin, escritas em 1940, e também na longa novela ‘La solitude du coureur de fond” (A solidão do corredor de fundo), de Alan Sillitoe, escrita 20 anos depois. A esses dois grandes pintores do tempo somou-se igualmente um interesse pela história do Brasil e particularmente pela reivindicação de outubro de 1992, referente à propriedade da terra, com base no Título 68: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos (termo que na época da escravidão designava as comunidades dos escravos foragidos) que ocupassem suas terras é reconhecida sua propriedade definitiva, devendo o Estado emitir para estes seus respectivos títulos”. São precisamente essas três fontes que reuní ao escrever uma ficção sobre o Agora de um corredor de fundo mestiço e o Antigamente de um quilombo minerador clandestino (montagem paralela). O filme é, desta forma, dirigido aos brasileiros e também aos europeus. O que motivou por fim a escrita desse curta-metragem foram minhas duas estadas em Arraial d’Ajuda, a quase ilha de Porto Seguro, na Bahia. Em 1989, eu havia descoberto um lugar selvagem e pouco conhecido, onde as florestas inundavam a paisagem, enquanto que em 2003 estas mesmas florestas haviam sido destruídas por uma estação balneária, e o asfalto havia substituído a terra. Por essa razão não estabeleço no filme um lugar preciso e menciono apenas uma igreja em uma colina no horizonte e uma cabana a alguns metros de uma praia – paisagem que pode ser vista em diversos lugares da Bahia. Imaginei entretanto a corrida de fundo nas praias entre Arraial d’Ajuda e Troncoso correspondendo a vinte quilômetros acessíveis unicamente na maré baixa. Em contrapartida, em minha segunda estada tive a ocasião de encontrar Ditão, que divide sua vida entre o artesanato, de dia, e a pesca, à noite, e que mora em uma pequena cabana de madeira (Barraca da Onda), a dois passos da Praia de Mucugê. Transformei então Ditão em corredor de fundo que corta as sublimes praias da costa bahiana. O filme, cuja duração é aproximativa, é curto pelo simples fato de termos de viver através dessa corrida uma precipitação do tempo e captar então alguns raios luminosos.

Sinopse Um jovem mestiço corre na areia fina e quente da Bahia ao longo das falésias marinhas, de madrugada, em um 2 de fevereiro, durante a celebração de Iemanjá, deusa do mar, abrindo a porta dos acontecimentos e ensejando os encontros mais inesperados. Esse dia de festa funciona como uma data para a rememoração dos que se foram. O corredor de fundo espera reatar os laços com seus ancestrais da Guiné, longe dos sobressaltos do Futuro, que ele relega, a partir daí, ao mundo das quimeras. À medida que o atleta do tempo erra em meio aos elementos da natureza, o tambor sagrado de Zumbi vibra em seu corpo pejado de sinais do horizonte, guiando-o na iminente chegada dos ancestrais, prevenindo-o dessa forma dos perigos de um fortíssimo encontro com o desconhecido. Mas a parede obstrutora do Futuro vai elevar-se diante das gerações reunidas, despertando então as forças ocultas da África.

Seqüências Duração aproximada: 18’ A abertura do tempo A lembrança da fábrica A rememoração dos ancestrais Um luar no horizonte

Seqüência I : a abertura do tempo

1001

Insert. Sobre fundo preto lê-se: BAHIA, 2 DE FEVEREIRO... (8’’)

1002

PLANO DO CONJUNTO (em ligeiro plongée). Exterior. Madrugada (40’’)

Aqui a cena se situa na colina, que se tornou o lugar da acolhida aos deuses. O plano de fundo no campo deve ser diminuído e o primeiro plano ampliado. Câmera baixa. No primeiro plano uma praça que se estende até uma igrejinha ao longe. Acima o céu, um pedaço do horizonte no fundo, à esquerda. 5 cavalos dormem na praça (no meio do campo).Ditão entra no campo em primeiro plano à direita e anda tranqüilamente ao longo do caminho que margeia a praça e a igreja.

Passos (ouvidos antes da entrada no campo). Voz em off: “Quando o sol atingir seu ponto culminante para celebrar a deusa dos mares (e também os encontros mais inesperados) muitos presentes serão jogados das barcas em alto mar... Ditão trocou Brasília por essa pequena ilha no dia 20 de novembro passado, dia do aniversário da morte de Zumbi – herói guerreiro de Palmares que para escapar aos Brancos fez um corte na continuidade do tempo: vivendo clandestinamente nas florestas... A partir de então Zumbi vibra em seu corpo quando este erra solitário na natureza...”

Estamos em uma colina – lugar ao qual Ditão chega para acolher Iemanjá, que vai permitir que ele contacte seus ancestrais. Ë dia 2 de fevereiro, em toda parte celebramse a divindade dos mares e os encontros mais inesperados. Não devemos nos dar conta da presença dos cavalos logo de início. Sua nitidez deve ser ligeira e brevemente acentuada quando Ditão, caminhando tranqüilamente e respirando calmamente, chega à altura deles pela direita. Portanto, a zona de nitidez da imagem em profundidade deve ser fraca. O ano de 1995 marcou o tricentenário da morte de Zumbi, herói guerreiro do Quilombo de Palmares (1655-1695). O governo brasileiro resolveu então organizar para o evento um vasto programa de comemorações. A partir desta data, a questão das “comunidades remanescentes de quilombos” se torna o centro de debates políticos em amplitude nacional. Zumbi, mencionado na voz em off, metamorfoseou-se em tambor. Os tambores são instrumentos que levam nomes, assim como os homens. São encontrados em candomblés (pedaços transplantados da África): eles servem para fazer surgir os Eguns (os ancestrais) ou outras divindades na cabeça das jovens que são iniciadas durante os transes. Aqui Zumbi vibra no corpo de um corredor de fundo, guiando-o no processo da chegada iminente dos ancestrais, e prevenindo-o também dos perigos de um encontro muito intenso com o desconhecido. Ditão é um mestiço, seus ascendentes vieram da Guiné. Ele é de estatura mediana, robusto, músculos extraordinariamente desenhados. Sua fisionomia é graciosa e temerária.e seu rosto moreno, com os ossos malares protuberantes. Ditão tem 28 anos e está vestido com uma sunga de banho azul marinho, da qual saem ligeiramente pedaços de cana-de-açúcar que ele vai mascar quando uma dor aguda sobrevier durante a corrida.

1003

PPLANO ABERTO (3/4 direita) em contra-plongée. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (15’’)

Passos ao longe.

No primeiro plano, em baixo, à esquerda, a colina. No plano de fundo, no alto, à direita, a igreja vista de trás e de lado. Movimento de câmera em arco. Câmera que sobe lentamente e pára na igreja. Não se vê ainda o banco de pedra colado à fachada posterior da igreja, vêem-se apenas o rosto e os ombros de um velho cego sentado na extremidade direita do banco. Ditão entra no campo pela esquerda e se senta a alguns metros do cego.

1004

PLANO MÉDIO. Exterior. Madrugada (30’’)

A linha do horizonte (na parte de baixo do campo) entre o céu cinza violáceo e o mar. Movimento de câmera, que recua (zoom para trás bem lento, antecipando o plano 1008), deixando aparecer as copas das árvores que se espalham pela colina, e pára na altura da balaustrada (a alguns metros da parte de trás da igreja: isto corresponde a um PLANO SUBJETIVO).

1005

Voz em off (continuação):“No momento, nesta majestosa luz do alvorecer, a única que convém para acolher Iemanjá, que Ditão crê ser capaz de intervir no Antigamente e no Agora, este se prepara para se conectar a seus ancestrais da Guiné, deixando os sobressaltos do Futuro no mundo das quimeras.”

PLANO FECHADO NA CINTURA. Exterior. Madrugada.(15’’)

Ditão de frente, sentado no banco de pedra, iluminado pela madrugada, braços estirados, mãos na beirada do banco. Ele observa o horizonte (olhar fora do campo). Movimento de câmera (Traveling para o lado direito e parada enquadrando o velho sentado, cabeça e ombros encostados na parede, os cabelos brancos acariciando essa fachada da igreja, mãos nos joelhos. Ele parece sorrir.

Aqui a luz é um lusco-fusco da madrugada: a noite se foi e o dia ainda não nasceu. É a luz adequada para acolher os deuses. O mar fica a cerca de 200 metros da igreja, que o domina do alto. As cores do mar estão ainda inibidas pelo céu ligeiramente violáceo. A posição dos braços de Ditão, cuja tensão vai até os ombros, parece confirmar a misteriosa resolução de audaciosamente decifrar a natureza. 1006

PLANO FECHADO (em ligeiro contra-plongée). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (5’’).

No primeiro plano, à esquerda, Ditão (visto de 3/4 de frente, esquerda) observa o horizonte. No plano de fundo, à direita, o velho parece continuar a sorrir.

1007

PLANO GERAL (em contra-plongée). Exterior. Madrugada. (4’’)

O rosto de Ditão (visto de 3/4 de frente, esquerda), que observa o horizonte, o olhar fora do campo.

1008

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada. (10’’)

A linha do horizonte, como no fim da tomada 1004, que vai se duplicar por um curto espaço de tempo para tornar-se uma só novamente (efeito de um fio de luz quase imperceptível).

Respiração calma. Tambor ligeiro (que começa com o efeito).

1009

PLANO ABERTO (em ligeiro contra-plongée). Exterior. Madrugada. (10’’).

Ditão de frente, sentado no banco de pedra, iluminado pela madrugada, braços estirados e mãos na borda do banco. Ditão está ligeiramente à esquerda do eixo central do quadro, observando o horizonte (olhar fora do campo). À esquerda uma velha está deitada de lado, pernas ligeiramente dobradas, envolta em um tecido de lã branco (ligeiramente fluorescente), deixando à mostra apenas os pés descalços. A cabeça está apoiada em um saco de provisões. Na extremidade esquerda do plano, seus longos cabelos negros e ondulados flutuam no vazio, escorrendo pela beirada do banco, e escondendo em parte seu rosto adormecido. À direita, o velho continua sentado, mas desta vez ele está sorrindo.

Tambor ligeiro.

Esse plano funciona como um quadro : a distância em profundidade deve ser aumentada (os alguns metros que separam a balaustrada do banco de pedra da igreja). A velha deitada no banco de pedra deve produzir um efeito de suavidade e de pureza, como uma nuvem que veio discretamente deitar-se no mar: a imagem poderia ser distendida à esquerda e nesta mesma extremidade poderíamos distingüir um fio vertical de luz rósea, quase imperceptível (como aquele que aparece no horizonte em 1008). Essa velha é Iemanjá (vamos adivinhá-lo em seguida). É desta forma representada uma divindade, que mantém suas origens africanas a despeito de sua catolicização a partir do século XVIII. Ela emerge aqui sob a forma humana para assumir depois a forma de uma boneca de argila.

1010

PLANO FECHADO (em ligeiro plongée). Exterior. Madrugada. (4’’) Tambor ligeiro.

A velha deitada, cercada de mistério. 1011

PLANO SEMI-OBJETIVO. Exterior. Madrugada. (8’’).

Vamos rever este plano no fim do plano 1088. Ditão de costas, em primeiro plano, à direita do campo (cabeça e ombro esquerdos), observando o horizonte ao longe, à esquerda.

Tambor vai diminuindo de intensidade.

O efeito da imagem distendida e do fio de luz poderia ser ligeiramente reforçado As vibrações do tambor (o instrumento celeste) misturadas ao mar e ao céu anunciam a vinda de um refúgio para o corpo.

1012

PLANO GERAL. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (5’’)

Rosto atento de Ditão na luz da manhã, cortado na testa e sob o nariz. Olhar fora do campo.

Respiração calma.

1013

FALSO PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada. (10’’).

A linha do horizonte. O céu cinza-violáceo está ligeiramente mais claro. Passos que se afastam. Movimento de câmera (zoom para frente, bem lento, que enquadra o oceano em PLANO MÉDIO. Em seguida a cena vai desaparecendo.

1014

PLANO MÉDIO (em ligeiro contra-plongée). Exterior. Madrugada. (10’’).

Uma cabana de madeira fechada por uma porta em dois panos sob o céu cinza-violáceo. Acima do pano direito está escrito “Artesão da Onda”, que brilha ligeiramente. Acima do pano esquerdo vê-se uma janelinha entreaberta (para o lado de dentro) sob o telhado inclinado. À direita da cabana há uma árvore. Entre a cabana e a árvore está pendurada uma rede na qual está deitada uma criança: sua cabeça está apoiada em seu ombro esquerdo, seu braço esquerdo pende no vazio. Há um ligeiro reflexo do dia em seu rosto. Ditão entra tranqüilamente no campo pela esquerda (visto de perfil), contorna sua cabana para chegar à escada que se encontra atrás desta, desviando-se de passagem da criança que dorme na rede.

1015

Passos (ouvidos antes da entrada no campo).

PLANO FECHADO (em ligeiro contra-plongée). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (3’’).

A criança que dorme na rede. Luminosidade do dia em seu rosto, boca levemente aberta.

1016

O mesmo que em 1014. (40’’).

Ditão (que não mais se vê) sobe a escada para entrar em casa. Logo após uma luz aparece na janela. Em seguida Ditão desce a escada, desvia-se novamente da criança adormecida e volta ao meio do campo. Ele tem um objeto na mão esquerda. Movimento de câmera (panorâmica e traveling) que segue Ditão, que se dirige para a praia, e enquadra-o em PLANO AMERICANO. A câmera pára, enquanto que Ditão avança alguns passos, parando brevemente na altura da praia. Visto de pé a partir daí, Ditão coloca o objeto a seus pés e executa rapidamente e com agilidade um exercício de alongamento das pernas e dos braços. O sol vermelho, que acaba de aparecer no horizonte, é visível no plano de fundo, à esquerda. Ditão pega o objeto e volta a caminhar tranqüilamente para o mar (maré baixa).

Passos na escada. Passos diminuindo de intensidade.

O plano é o mesmo que em 1014, mas o ângulo poderia ser sensivelmente modificado.

1017

PLANO ABERTO (em ligeiro contra-plongée). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (10’’).

(Câmera baixa) No plano de fundo das cabanas, sob o céu cinza-violáceo. Ditão (visto de frente) caminha em direção à câmera, segurando na mão esquerda o objeto serrado contra si. Ditão desaparece do campo, resvalando na câmera pela direita. 1018

PLANO MÉDIO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (8’’).

(Câmera baixa) Ditão (visto de costas, dos pés ao meio das costas) dá alguns passos antes de se acocorar à beira d’água. No plano de fundo, à esquerda, um pedacinho de sol vermelho. Ditão retrai o pescoço e sua cabeça se aninha entre os ombros. 1019

Mar calmo. Som de passos aumentando

Mar calmo. Som de passos diminuindo.

PLANO FECHADO (em plongée). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (12’’).

Ditão, acocorado, cabeça encolhida entre os ombros, ante-braços apoiados nos joelhos, balbucia um pedido ao objeto que tem nas mãos: uma boneca modelada em argila, deitada em uma barquinha, ao lado de um leque fechado. A boneca está enrolada em um tecido branco, seus olhos estão fechados (traços pretos pintados em grandes olhos brancos), cabelos negros e ondulados pendem da borda da barca. Reflexo da luz do dia no tecido e nos olhos. Movimento de câmera, que desce lentamente para enquadrar o rosto de Ditão, que eleva suavemente a cabeça.

Mar calmo. Voz murmurando palavras indistintas.

A boneca modelada em argila faz eco às estátuas que encontramos igualmente nos candomblés da América do Sul e da África. Devemos compreender que o corredor de fundo é um animista, o que significa que na hora da corrida que ele se dispõe a começar os deuses sãs palpáveis da mesma maneira que os objetos. Quando Ditão eleva a cabeça, devemos ver o rosto de um homem jovem que pela primeira vez vê o horizonte luminoso que difunde seus tons suaves, aquecendo a cor violeta do céu. Uma mistura de concentração e de esperança deve então emanar sensivelmente desse rosto moreno, de malares protuberantes.

1020 PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (7’’). A linha do horizonte ligando o céu e o mar. 1021

Mar calmo. Respiração calma.

PLANO FECHADO (em plongée). Exterior. Madrugada. (6’’). Mar calmo.

Iemanjá deitada na barquinha que Ditão coloca na água. A mão deste entra no campo por baixo, empurra delicadamente a barquinha e sai do campo. A barca sai do campo pelo alto. 1022

PLANO GERAL. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (4’’).

(Câmera baixa) A barquinha recua lentamente sobre a água, em direção ao horizonte luminoso. 1023

Mar calmo. Explode alto o batuque de um tambor.

PLANO MÉDIO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (4’’).

(Câmera baixa) No meio do campo, à direita, a barca avança. No plano de fundo, à esquerda, Ditão acocorado à beira d’água. Movimento de câmera (zoom bem rápido para frente) que enquadra o rosto angustiado de Ditão (no reflexo da manhã). Ditão fecha os olhos.

Mar calmo. Tambor ainda mais alto. Galope de cavalos (= cessar do tambor).

Ditão é assaltado por um pavor indescritível, em razão da louca precipitação de Zumbi, novamente audível.

1024

PLANO ABERTO (em ligeiro contra-plongée). Exterior. Madrugada. (18’’).

CÂMERA LENTA. Aqui a luz é estranha, as cores são em degradê (próximas do preto e branco). Movimento de câmera (traveling para trás): no plano de fundo, à esquerda, 5 cavalos (vistos de frente) a galope na areia, montados por crianças, à direita das falésias. Distingüem-se (em ligeira fluorescência) os olhos das crianças e os dos animais. As crianças têm o tronco inclinado para a frente. Zoom avança bem rápido e enquadra em PLANO FECHADO os rostos das crianças, praticamente na mesma altura dos focinhos dos cavalos. Búzios brancos (em ligeira fluorescência) ornam as laterais dos olhos dos cavalos e acima dos olhos das crianças, um traço negro pintado em cima. Os cavaleiros desaparecem do campo obstruindo a câmera totalmente. TUDO ESCURECE.

Respiração acelerada. Galope dos cavalos aumentando (diferenciado em relação à imagem: mais rápido).

Vemos aqui uma semelhança entre os olhos brancos das crianças e os dos cavalos, e os da boneca em 1019. As crianças representam aqui os deuses crianças enviados por Iemanjá. Eles são chamados Erês ou Toquens.

1025

PLANO ABERTO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (8’’).

CÂMERA LENTA e luz como em 1024. Os cavaleiros vistos de costas no meio do campo, ao longe, distanciando-se ao longo da praia. Escurecimento da imagem. Em seguida TUDO PRETO. 1026

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada. (6’’).

A partir deste momento, ligeira CÂMERA LENTA (imperceptível) para todos os PLANOS SUBJETIVOS e movimento “tremelicado” nas bordas da imagem. Zona de nitidez da imagem em profundidade: nitidez normal em profundidade e mais fraca nas bordas da imagem. Ditão correndo na areia: o horizonte, o mar à esquerda e as falésias à direita, ambos ficando para trás.

Galope dos cavalos diminuindo (diferenciado em relação à imagem: mais rápido). Respiração acelerada de Ditão correndo.

Galope dos cavalos diminuindo. Respiração acelerada de Ditão correndo. Mar calmo.

Em todos os planos subjetivos é necessária uma câmera lenta quase imperceptível, a fim de que se tenha uma vaga sensação de estranheza em relação ao que está se passando.

Seqüência II: a lembrança da fábrica

1027

PLANO DO CONJUNTO (3/4 frente, esquerda). Exterior. Madrugada. (35’’).

(Câmera baixa) Em primeiro plano a areia da praia, no plano de fundo, à esquerda, um pedaço da falésia, à direita, o mar e o sol vermelho que começa a aparecer no horizonte. No fundo, à esquerda do campo, Ditão vem trotando em direção à câmera, sai do campo resvalando na câmera pela direita e se distancia fora do campo (Zona de nitidez da imagem em profundidade acentuada).Logo que Ditão sai do campo, novo enquadramento do sol no plano de fundo.

Mar. Passos e Respiração aumentando e depois diminuindo

Os planos 1027 a 1033 funcionam como um tempo de recuperação, no qual passamos a conhecer o corredor enquanto este corre na areia. Podemos então imaginar o que quisermos, identificando-nos com ele graças aos planos subjetivos. Esse tempo pode ser ampliado eventualmente, da mesma forma que os tempos em 1050 (seq. 3) e de 1076 a 1079 (seq. 4), com a condição única de a aproximação do corpo do corredor permanecer progressiva.

1028

PLANO ABERTO (3/4 esquerda). Exterior. Madrugada. (15’’).

(Traveling para frente, câmera baixa). Ditão (visto de costas) correndo (trotando) no meio do campo, à direita. Mar. Passos. Respiração. 1029

PLANO DE CORPO INTEIRO. (3/4 esquerda). Exterior. Madrugada. (12’’).

(Traveling para frente). Ditão (visto de costas) correndo. Em seguida a câmera acelera para enquadrá-lo em PLANO AMERICANO (3/4 esquerda). 1030

PLANO SEMI-SUBJETIVO. (3/4 esquerda). Externa. Madrugada. (10’’).

(Traveling para frente). Ditão (visto de costas, cabeça e ombro esquerdo em primeiro plano, à direita) correndo. 1031

Mar. Passos. Respiração.

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada. (6’’).

Ditão correndo: o horizonte, o mar à esquerda e as falésias à direita ficando para trás (como em 1026). Panorâmica bem rápida em direção à esquerda (1/16 de círculo) [22.5 graus à esquerda] e volta ao ponto inicial. 1032

Mar. Passos. Respiração.

Mar. Passos. Respiração.

PLANO FECHADO NO PEITO.(3/4 esquerda). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (10’’).

(Traveling para trás) Ditão (visto de frente) correndo. Em seguida a câmera acelera para enquadrá-lo em PLANO AMERICANO (3/4 esquerda), desacelerando então para reenquadrá-lo em PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 esquerda): Ditão está tendo uma dor de estômago, que pode ser lida em seu rosto.

Mar. Passos. Respiração diminuindo e aumentando.

1033

1034

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (6’’). Como em 1026.

Mar. Passos. Respiração. Confusão de vozes irritadas (sutil eco).

PLANO FECHADO. Interior (17’’).

Lembrança da fábrica: a imagem deve ser mais nítida, as cores mais acentuadas, os sons mais estridentes (ligeiro eco), o espaço ampliado e o enquadramento oblíquo. (Câmera na altura do ombro). Ditão (visto de costas), em um corredor pouco iluminado, vai até a altura da porta aberta de um vestiário estreito e também mal iluminado e entra nele. Em seguida a câmera pára, enquadrando-o em PLANO FECHADO NO PEITO. Ditão está agora de perfil, à esquerda, abrindo a porta de seu armário para se trocar. 3 colegas saem do vestiário, meio fora do campo quando chegam a altura de Ditão, passando por este pela direita. No plano de fundo, à direita, um colega (1), sentado em uma banqueta baixa feita de ferro velho, fuma e observa Ditão (enquadramento alternado): ele fala com Ditão, enquanto este, que acaba de colocar suas coisas na prateleira do armário, olha ligeiramente para cima e pára de se mover.

Confusão de vozes irritadas. Colega (1): “Pois é!” Silêncio. “A fábrica fechou!” Silêncio.

A lembrança da fábrica permite distingüir claramente a diferença entre o movimento de um corpo vivo na praia e a imobilidade de um corpo de pé, sem sair do lugar, cego e surdo, diante de sua máquina. Ditão trabalha como mecânico em uma fábrica de automóveis (Volkswagen).

1035

PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 esquerda). Contra-plano. Exterior. Madrugada. (10’’).

Luz mais clara que em 1033. (Traveling para trás) Ditão (visto de frente) correndo. Ele acelerou ligeiramente seu passo e continua com dor de estômago. 1036

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (6’’). Como em 1026, mas a luz está mais clara.

1037

Mar. Passos. Respiração.

PLANO AMERICANO. Interior. (7’’).

Lembrança da fábrica. Em primeiro plano uma máquina funcionando, atrás da qual Ditão é visto de frente, ligeiramente curvado, com as mãos sobre ela: ele está de pé e quase imóvel. Colegas apressados passam por detrás dele, entrando em campo pela direita e saindo pela esquerda. 1038

Mar. Passos. Respiração.

Barulho de máquina. Sirene (bem alto).

PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 esquerda). Exterior. Madrugada. (8’’).

Luz mais clara que em 1036. (Traveling para frente). Ditão (visto de costas) correndo. 1039

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada. (6’’).

Como em 1036, mas a luz está mais clara.

Fim da sirene. Mar. Passos. Respiração.

1040

PLANO MÉDIO. Interior. (15’’).

Lembrança da fábrica. (Hora do almoço). (Câmera baixa). Ditão e 4 colegas estão sentados no chão em uma sala. Dois deles (um dos quais Ditão) têm uma gamela de zinco vazia diante de si. Ditão (visto de perfil), em primeiro plano, à direita, está sentado em um saco de gesso, encostado na parede. Os 4 colegas estão sentados a seu lado (Todos os rostos devem ser vistos). Vê-se o colega (1), que está novamente olhando para Ditão. Estão todos em silêncio e quase imóveis. Ditão pega a gamela que tem à sua frente, segurando-a obliquamente, de maneira a poder-se ver seu interior; ele a fixa, como que para se ver no espelho, depois agitaa brevemente da esquerda para a direita. Em seguida, Ditão, que virou o rosto, olha para fora do campo. Zoom bem rápido para frente na gamela de Ditão, novamente em ângulo oblíquo. ESCURIDÃO.

Mar. Passos. Respiração. Colega (2): “Estamos na rua no fim do mês”. Silêncio. Colega (3): “O que é que a gente vai fazer agora?” Silêncio. Ditão: “Cantar!” Riso nervoso dos colegas e o barulho de um trem à toda velocidade.

A gamela do operário na fábrica faz eco à cuia do minerador de ouro do século XVIII em 1056 (seq. 3). O barulho do trem antecipa o daquele que surge a partir de 1061 (seq. 3). 1041

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada. (6’’). Como em 1039, mas a luz está mais clara.

1042

PLANO AMERICANO.(3/4 direita). Exterior. Madrugada/dia. (6’’).

(Traveling para frente). Ditão (visto de costas) continua correndo sem se apressar, no meio do campo, à esquerda. Em seguida a câmera acelera suavemente para enquadrar Ditão em PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 direita). 1043

Fim do trem. Mar. Passos. Respiração.

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada/dia. (6’’).

Como em 1041, mas a luz está mais clara. Em se seguida a imagem se torna desfocada durante um curto período de tempo.

Mar. Passos. Respiração aumentando.

Mar. Passos. Respiração. Tambor acelerado breve.

A imagem se torna desfocada, porque o corredor é tomado de inquietude.

1044

PLANO FECHADO NO PEITO. (3/4 direita). Contra-plano. Exterior. Madrugada/dia. (5’’).

(Traveling para trás). Ditão (visto de frente) continua correndo: seu rosto deixa transparecer que ele acabou de ter uma vertigem entrecortada por uma intensa alegria. 1045

Mar. Passos. Respiração.

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Madrugada/dia. (4’’).

Como em 1043, mas sem imagem desfocada. Em seguida a imagem escurece.

Mar. Passos. Respiração acelerada.

1046

Como em 1024.

Desta vez os cavaleiros estão bem alerta (bolas pretas sobre os búzios).

1047

PLANO FECHADO. Exterior. Madrugada. (6’’).

CÂMERA LENTA como em 1024. (Câmera baixa). Iemanjá no mar, vista de frente: uma outra boneca de argila representa uma mulher mais jovem que a de 1019. Desta vez ela está sentada na barca, que recua suavemente; seus olhos estão abertos (bolinhas pretas pintadas sobre grandes olhos brancos). Ela tem nas mãos um leque (rosa e azul claro) meio aberto, acima do qual aparecem os grandes olhos abertos. Ela continua vestida com um tecido branco, mas os ante-braços e o pescoço estão à mostra. No plano de fundo luz rósea desfocada. ESCURIDÃO.

Mar. Respiração acelerada.

Le fait de voir Yémanja rajeunie lors de cette nouvelle apparition donne à comprendre qu’elle recule dans le temps.

1048

Como em 1025

1049

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Madrugada/dia. (8’’). Como em 1045.

Mar. Respiração acelerada.

Seqüência III: a rememoração dos ancestrais

1050

PLANO DO CONJUNTO. (3/4 frente, esquerda). Exterior. Dia. (40’’)

(Câmera baixa). Em primeiro plano a areia da praia, no plano de fundo, à esquerda, uma pedaço da falésia, à direita, o mar. Ditão no campo, no plano de fundo, à esquerda, correndo (mais rápido a partir daqui) em direção à câmera. Quando ele chega ao meio do campo, a câmera o enquadra em PLANO FECHADO NA CINTURA, para logo após recuar à mesma velocidade (Traveling para trás). Em seguida desacelera ligeiramente e enquadra Ditão em PLANO FECHADO NO PEITO. Ditão parece calmo, não obstante a dor de estômago. (Zona de nitidez da imagem em profundidade acentuada).

Respiração acelerada aumentando ligeiramente.

O ângulo deve ser modificado em relação a 1027. 1051

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (8’’).

(Zona de nitidez da imagem em profundidade: um pouco menos acentuada que em 1026). Ditão correndo: o horizonte, o mar à esquerda e as falésias à direita vão ficando para trás. Em seguida Ditão observa brevemente o cimo das falésias iluminadas: Movimento de câmera bem rápido em direção ao alto, à direita (1/16 de círculo) [22.5 graus] e volta ao ponto inicial.

Respiração acelerada.

A zona de nitidez deve ser menos acentuada que em 1026, porque neste momento o corredor tem a impressão de que tudo à sua volta está nu, não ouvindo ruído algum, a não ser o do ar sendo expirado. A partir deste momento, sua visão do que o cerca não é mais a mesma e a potência de seu corpo continua a aumentar. O dia clareou, o calor está no auge e o ar começa a ficar pesado.

1052

PLANO FECHADO NO PEITO. (3/4 frente, esquerda). Contra-plano. Exterior. Dia. (10’’).

Respiração acelerada.

(Traveling para trás). Ditão continua correndo no seu ritmo, parecendo ao mesmo tempo calmo e inquieto. Ele está suando. 1053

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (6’’).

Respiração acelerada.

Como em 1051, mas sem movimento de câmera. 1054

PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 frente, esquerda). Contra-plano. Exterior. Dia. (13’’).

Como em 1052, mas a partir daqui Ditão, todo suado, segura o estômago com a mão esquerda. Lê-se em seu rosto uma fascinação que o transporta para além da inquietude e da dor. Em seguida a câmera desacelera e Ditão a deixa para trás, resvalando-a pela direita.

Respiração acelerada.

Atravessado por novos comportamentos do tempo, o corredor começa a sentir que seu corpo não pertence mais apenas a ele; ele quase não sente o movimento das pernas e o balanço dos braços. Seu estômago, que está doendo desde a madrugada, tornou-se o único órgão sensível de seu corpo e ele o segura com a mão esquerda para acalmar a dor insólita. 1055

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (12’’).

Ditão correndo: a forma das falésias, à direita, tornou-se quase imperceptível. A visão de Ditão se turva. Escurecimento da imagem. Ditão se sente transportado ao mesmo tempo para dentro e para fora de si. A partir de agora a perspectiva das falésias é nova, espalhando uma sensação de gelo nos maxilares do corredor.

1056

PLANO GERAL. Interior. (7’’).

Mina de ouro (reconstituída no interior de um hangar). A imagem deve ser mais nítida e as cores mais acentuadas que em 1034 (a lembrança da fábrica). A luz deve ser em claro-escuro e o ambiente sufocante. Deve-se conseguir identificar Ditão e seus colegas de fábrica não obstante sua metamorfose em mineradores cadavéricos. Eles são marcados a ferro no peito, usam coletes abertos e calças em tecido de juta. Uma cuia de metal entre duas mãos: Movimento de câmera (zoom rápido para trás) que enquadra em PLANDO DE CORPO INTEIRO os 5 mineradores de ouro. Seus olhos estão esbugalhados e injetados de sangue. Desdentados, os moribundos transpiram muito e ao mesmo tempo sentem frio. Ditão está à direita do campo segurando a cuia, curvado lavando o ouro, com os pés descalços na água. Ao lado dele um minerador faz a mesma coisa. Mais atrás 3 mineradores estão de pé, segurando pás. Todos os rostos se voltam bruscamente para a câmera.

Pás. Tambor afobado.

Neste momento estamos no século XVIII, em uma mina de ouro. Os 5 mineradores vieram da Guiné para o Brasil. Eles são marcados a ferro no peito. A cena deve ser valorizada, a velocidade deve ser superior a 24 imagens/segundo. Ditão e seus colegas de fábrica estão aqui metamorfoseados em mineradores, pois é Ditão que salta como um animal selvagem na floresta cadavérica do passado, e não o inverso. Explicando melhor: os laços com os ancestrais estão invertidos em relação àqueles que encontramos nos candomblés. 1057

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Dia. (12’’).

Como em 1055. Ditão correndo: a forma das falésias, à direita, tornou-se quase imperceptível. A visão de Ditão se turva. A imagem escurece. 1058

PLANO DE CORPO INTEIRO. Interior. (8’’).

Mina de ouro. Ligeira CÂMERA LENTA. Os 5 mineradores de pé gritam, olhos arregalados, fixos na câmera, porque o Futuro está indo em direção a eles a enorme velocidade. Movimento de câmera (zoom para frente): os mineradores jogam suas ferramentas para trás, o Futuro surge (nuvem transparente) e a câmera pára ao chegar a altura dos 5 rostos afobados, desaparecendo na imagem, que se tornou branca (luz cegante). 1059

Respiração acelerada. Tambor afobado aumenta e pára. Rugir do mar. Gritos abafados.

Rugir do mar. Gritos. Cessa a CÂMERA LENTA.

PLANO FECHADO NA CINTURA. Exterior. Dia. (10’’).

(Traveling para trás). Todo suado Ditão está correndo um pouco mais rápido, o olhar assustado.

Passos (quase inaudíveis). Respiração acelerada (alto).

O corredor está como que engolido pela insônia, e compreende que está rememorando o passado, ou seja, ele está vivendo, independentemente e no mesmo momento, o Antigamente da mina e o Agora da corrida.

1060

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (11’’). Como em 1055.

1061

Respiração acelerada (mais alto).

PLANO DE CORPO INTEIRO. Interior claro-escuro. (12’’).

Quilombo minerador: mesmo efeito que em 1056 + efeito de solavancos e raios de luz que vão passando (como em um trem), porque a cena se situa ao mesmo tempo no trem da história, invadido pelo Futuro, e em uma floresta (hangar). (Traveling para trás). Os 5 mineradores, molhados de suor (vistos de frente) correndo por uma floresta, esquivando-se dos galhos das árvores: Ditão na frente, à direita do campo; um minerador ligeiramente recuado à esquerda, os outros 3 atrás. A câmera fica ligeiramente mais lenta e retoma a velocidade dos corredores quando estes são enquadrados em PLANO FECHADO NA CINTURA. Reflexo nos rostos assustados.

Gritos intermitentes. Trem à toda velocidade aumentando.

A cena deve ser valorizada como em 1056 e em 1064. Portanto, a velocidade aqui deve também ser superior a 24 imagens/segundo. Aqui devemos compreender que o Quilombo minerador se situa clandestinamente em uma floresta ocupada pelos trilhos do Futuro (daí o trem). Quilombo significa literalmente União. Numerosos grupos de 3 a 5 pessoas escavaram minas de ouro ao longo de todo o século XVIII para tentar se instalar na floresta, longe dos Brancos, sabendo, contudo, que corriam o risco de ser novamente capturados. Alguns poderão identificar também a imagem da revolução, sugerida por Marx (a locomotiva da história) e que Benjamin inverte: a revolução tornando-se o ato (pela humanidade que viaja no trem) de acionar os freios de emergência da máquina que se aproxima do desastre. O Futuro acaba de se abater sobre o Quilombo minerador e os roncos do trem, que se intensificaram, envolvem os gritos intermitentes do grupo, que vai em direção à catástrofe.

1062

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Interior claro-escuro. (6’’).

Quilombo minerador: aqui a imagem deve ter o efeito de uma imagem de arquivo. Ditão correndo: luar avermelhado ao longe, galhos de árvore que ficam para trás, à esquerda do campo.

Gritos intermitentes. Trem à toda velocidade aumentando. Respiração acelerada.

A máquina diabólica conduz os mineradores ao temido desfecho e, não obstante, Ditão distingüe um luar avermelhado ao longe, sinal de que alguma coisa ainda é possível: talvez ele consiga escapar desse universo de sofrimento.

1063

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Dia. (10’’). Como em 1055.

Respiração acelerada.

1064

PLANO FECHADO NO PEITO. Contra-plano. Interior claroescuro. (6’’).

Quilombo minerador: mesmo efeito que em 1061. (Traveling para trás). Ditão todo suado (visto de frente), correndo e gemendo no meio do campo, ao lado de um minerador ligeiramente recuado e metade fora do campo, à esquerda (os outros 3 em fuga atrás deles). Eles se esquivam de alguns galhos de árvore. Reflexos nos rostos assustados.

Gritos intermitentes. Trem à toda velocidade aumentando. Respiração acelerada.

Ainda uma vez (como é Ditão que salta no passado) não é a voz dos ancestrais que grita por sua boca, mas sua própria voz que geme pela boca desdentada dos mortos que se ergueram. 1065

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (10’’). Como em 1055.

1066

Respiração acelerada.

PLANO ABERTO (em ligeiro plongée). Interior claro-escuro. (16’’)

Locomotiva (reconstituída no hangar): ambiente sufocante. O plano de fundo no campo deve ser reduzido e o primeiro plano ampliado. CÂMERA MUITO LENTA. (Nitidez da imagem em profundidade acentuada). (Câmera baixa) O interior vazio da locomotiva: fachos de luz que atravessam o campo (como em um trem). No plano de fundo, no meio do campo, a entrada da locomotiva (luar avermelhado como em 1062). Bem em frente à entrada, em ambos os lados, 2 alavancas de freio em aço levantadas, presas nas paredes negras. No meio do campo, em ambos os lados e também levantadas, 2 outras alavancas. Galhos de árvores pendem das paredes entre as alavancas. Os 5 mineradores entram no campo em fila indiana pela entrada avermelhada. Mal entram e cada qual vai para uma alavanca (Reflexo nos mineradores e nas alavancas). Ditão, que entrou na frente, vem em direção à câmera (sua alavanca está fora do campo). A imagem congela. (Movimento dos mineradores ligeiramente perceptível). No plano de fundo 2 mineradores estão com os braços esticados sobre as alavancas dos freios sem tocá-las. No meio do campo os 2 outros, que também não tocam suas alavancas. Em primeiro plano o rosto de Ditão cortado sob o nariz. Estão todos de boca aberta e seus olhos arregalados estão fixos na câmera. Em seguida, metamorfose dos mineradores em anjos (à exceção de Ditão), que são logo apagados da imagem (INSERT de asas em ligeira fluorescência às suas costas). Ditão está neste momento só na locomotiva, o rosto assustado, ainda cortado sob o nariz. Ele conseguiu acionar os freios.

Gritos intermitentes. Trem à toda velocidade (mais alto). Cessa a CÂMERA LENTA.

Cessam os gritos e o trem. Guincho agudo de freada no limite do suportável.

Quando a imagem estiver congelada, continua-se a perceber (muito ligeiramente) um movimento no lugar dos mineradores. A imagem funciona então como um quadro que representa uma constelação de mineradores. A paralisação da imagem se dá quando os mineradores precisam apenas estender as mãos para acionar os freios da irresistível máquina. Adivinhamos então que eles não vão conseguir e que cairão em um abismo. Surgem então as asas dos irokos da África (árvores do tempo), que vão permitir que os mineradores saiam voando, ou seja, que ressuscitem em terra santa.

1067

PLANO FECHADO NO PEITO. Exterior. Dia. (6’’). (Traveling para trás). Ditão correndo, molhado de suor, olhar assustado.

1068

PLANO FECHADO em contra-plongée. Contra-plano. Ext. Dia. (5’’) (Traveling para trás). O rosto assustado de Ditão (visto de frente, esquerda)

1069

Respiração acelerada.

PLANO ABERTO em ligeiro plongée. Interior claro-escuro. (3’’)

Como no final de 1066, mas a imagem não é mais congelada. Ditão sozinho na locomotiva continua sendo visto de frente em primeiro plano, o rosto cortado sob o nariz e os olhos arregalados. Em seguida ele fecha os olhos: vêem-se então olhos pintados sobre as pálpebras, que brilham ligeiramente. ESCURIDÃO.

1071

Respiração acelerada.

PLANO GERAL em ligeiro plongée. Contra-plano. Ext. Dia. (5’’).

(Traveling para trás). O rosto assustado de Ditão (visto de frente). Em seguida Ditão abre a boca. ESCURIDÃO. 1070

Respiração acelerada.

Guincho agudo de freada insuportável. O trem não freia.

PLANO DO CONJUNTO em ligeiro plongée. Ext. Madrugada. (30’’)

O anjo do tempo. (CÂMERA LENTA). (Zona de nitidez da imagem em profundidade fraca). Luz estranha, similar à de 1024. Preto e branco. (Câmera baixa). Em primeiro plano a areia da praia, no plano de fundo as falésias e o sol.Ditão entra no campo resvalando na câmera pela direita. Quando ele chega ao meio do campo, a câmera sobe um pouco e segue (Traveling para frente) o corredor (cujo corpo está semeado de olhos arregalados em ligeira fluorescência). Em seguida a câmera acelera e ultrapassa Ditão pela direita.

Silêncio.

Estes 3 planos sucessivos desnudam o aspecto que o anjo da história deve necessariamente ter, segundo Benjamin: olhos arregalados, boca e asas abertas (in Thèse IX sur l’histoire). Assim como o anjo de Benjamin não consegue deter a tempestade, os anjos mineradores não conseguem frear o trem. Quando Ditão aparece metamorfoseado em anjo do tempo, imaginamos que os braços ao longo do corpo se movem como o bater de asas, retendo o grito silencioso de um mundo impregnado do passado. Os grandes olhos arregalados pintados no corpo do corredor fazem eco aos olhos das crianças a cavalo, da mesma forma que aos olhos da boneca na barquinha.

1072

PLANO GERAL. Contra-plano. Exterior. Dia. (8’’).

(Traveling para trás). O rosto suado de Ditão (visto de frente), olhos arregalados. 1073

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (10’’). Como em 1055.

1074

Respiração acelerada.

Repetição de 1040 a partir do segundo silêncio (15’’).

Repetição e continuação da lembrança da fábrica. Os cinco operários sentados no chão em uma sala começam a rir nervosamente e depois começam a cantar. Neste momento a câmera não está em zoom na gamela de Ditão.

Respiração acelerada.

Silêncio. Ditão: “Cantar!” Riso nervoso dos colegas Canto: “Samba, negro. Que o futuro não venha. Se vier, entra no chicote! “ (alto). Em seguida repetem em coro (Mais alto. Tom de militante).

Aqui a voz em off permite adivinhar que o Futuro é o inimigo comum dos operários, dos mineradores e do corredor. Ora, apenas Ditão consegue fugir do Futuro, à medida que corre pelas praias. O canto entoado pelos operários faz eco aos Quizumbas (canto em língua africana proferido à noite pelos escravos, após o labor do dia, enquanto os Brancos estavam dormindo). Ele é uma retomada da canção: “Samba, negro. Que o Branco não venha. Se vier, entra no chicote.”, entoado pelos escravos negros que fugiam. 1075

PLANO GERAL. Contra-plano. Exterior. Dia. (6’’).

Como em 1072, mas desta vez adivinha-se um laivo de alegria no rosto suado e meio assustado de Ditão.

Seqüência IV: um luar no horizonte

1076

PLANO DO CONJUNTO. Exterior. Dia. (35’’).

(Câmera baixa). Em primeiro plano a areia da praia, no plano de fundo, à esquerda, o mar, à direita, as falésias. Ditão (visto de costas, direita) entra correndo no campo, resvalando na câmera pela esquerda, o corpo cheio de ancestrais desaparecidos, e continua correndo em direção ao horizonte, no plano de fundo, à direita. (Zona de nitidez da imagem em profundidade acentuada). 1077

PLANO DO CONJUNTO. Contra-plano. Exterior. Dia. (20’’).

(Câmera baixa) Em primeiro plano a areia da praia, no plano de fundo, à esquerda, um pedaço da falésia, e à direita o mar. Ditão no campo, no plano de fundo, à esquerda, correndo em direção à câmera: como está sentindo dor no joelho direito, ele tira um pedaço de canadeaçúcar de sua sunga com a mão esquerda e o põe na boca. Entretanto, quando chega todo suado ao meio do campo, ele parece tranqüilo. Corta. (Zona de nitidez da imagem em profundidade acentuada). 1078

PLANO ABERTO. Contra-plano. Exterior. Dia. (12’’).

(Traveling para frente). Ditão (visto de _ direita) correndo no meio do campo: ele joga fora o bagaço da cana-de-açúcar. Em seguida a câmera acelera ligeiramente, vai em direção a Ditão até ficar obstruída. 1079

PLANO OBSTRUÍDO. Contra-plano. Exterior. Dia. (10’’).

(Traveling para trás). A câmera obstruída por Ditão acelera (mesma velocidade que em 1078) e retoma a velocidade do corredor assim que este é visto em PLANO FECHADO NO PEITO (3/4 frente, esquerda): seu rosto continua calmo e abruptamente assume uma expressão de surpresa. 1080

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (12’’).

(Zona de nitidez da imagem em profundidade mais acentuada que em 1051). O Futuro acaba de cruzar o horizonte: uma parede branca o obstrui e recua à medida que o corredor avança. A areia se torna dourada.

Mar. Passos e respiração (que voltou ao normal) aumentando e depois diminuindo.

Mar. Passos e respiração ao longe aumentando.

Mar. Passos e respiração que aumentam em seguida. Mar. Passos e respiração aumentando.

Cessa o mar. Passos. Respiração que acelera. Tambor afobado (Não muito alto).

A parede cegante do Futuro obstrui neste momento o fundo da paisagem. A areia se torna dourada para evocar o ouro das minas – situação que o corredor acabou de vivenciar. Ditão corre com o corpo cheio de ancestrais desaparecidos. Temos liberdade para pensar que Ditão está tendo alucinações, ou que ele está realmente vendo o Futuro diante de si.

1081

PLANO FECHADO. Exterior. Dia. (4’’).

CÂMERA LENTA como em 1024. (Câmera baixa). Iemanjá vista de frente no mar: uma outra boneca de argila representa uma mulher mais jovem que em 1047. Desta vez ela está de pé na barca, que recua suavemente, braços levantados para o céu, cabelos em desalinho, olhos arregalados (grandes bolas pretas pintadas em grandes olhos brancos), boca aberta deixando sair um sopro. Um leque aberto (rosa e azul claro), no qual se vêem grandes olhos arregalados, se estreita contra ela. Ela continua vestida com um tecido branco, mas seus braços estão expostos. O plano de fundo está iluminado com um rosa desfocado.

Passos. Respiração que acelera. Tambor afobado (Não muito alto).

1082

PLANO SUBJETIVO. Exterior. Dia. (18’’).

A parede branca do futuro obstruindo o horizonte como em 1080. INSERT: os 4 mineradores alados (os que desapareceram da locomotiva em 1066) vistos de costas no plano de fundo, em frente ao Futuro, que recua à medida que eles correm na areia dourada atirando-lhe pedras. Em seguida eles desaparecem novamente através da parede branca. Após isto a parede explode em mil pedaços, redescortinando o horizonte. A areia volta à sua cor normal.

Passos. Respiração acelerada. Tambor que cessa logo antes da aparição dos mineradores alados. Gritos abafados ao longe.

Acontece novamente o imprevisível: os mortos continuam correndo, ao longe, diante do Futuro, que por causa das forças destes reunidas, recua à medida que eles avançam correndo pela areia, realizando enfim aquilo pelo que haviam lutado antes, sem haver no entanto conseguido. 1083

PLANO FECHADO NO PEITO. Contra-plano. Exterior. Dia. (8’’)

(Traveling para trás). Ditão, todo suado, parece alegre observando o horizonte fora do campo em direção à esquerda. Seus olhos se enchem de lágrimas.

Passos. Respiração acelerada.

A visão aberrante e feliz do grupo protetor com o qual Ditão acaba de lidar cria neste um estado de exaltação extrema. A partir daí ele compreende porque foi esperado nessa praia, na qual está correndo desde a madrugada. Ele é desta maneira ligado por um segredo aos lutadores que acabam de fustigar o Futuro. O milagre da explosão do tempo se fez e o prazer de viver essa corrida a plenos pulmões lhe dá novo ânimo. Desta forma, a alegria, confundida com o esforço tranqüilo, se irradia de seu rosto moreno, e as primeiras lágrimas que essa alegria o faz verter podem ser vistas em seu rosto.

1084

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (12’’).

O horizonte, o mar à esquerda e as falésias à direita vão ficando para trás. Ditão abraça o horizonte do lado do mar à esquerda: Panorâmica na esquerda (1/16 de círculo) [22.5 graus]. Escurecimento da imagem (como em 1055).

Passos. Respiração acelerada.

Ditão com os olhos marejados de lágrimas. A imagem deve ser diferente. Desde há pouco o corredor vem observando o horizonte na direção do mar, que a partir daí parece atraí-lo e mantêlo à distância ao mesmo tempo, parecendo acenar para ele como de uma janelinha entreaberta, pela qual pode a qualquer momento passar o inesperado. Neste momento a natureza abunda em vida, as falésias aspiram a seiva do céu, o sol apazigua a sede do mar, a areia é uma mão estendida em direção ao horizonte, o qual se tornou o único limite do corredor. Aqui, a profundidade de campo deve ser acentuada. 1085

PLANO ABERTO. Interior/exterior. Dia. (15’’).

CÂMERA LENTA como em 1024. Iemanjá em sua casa: aqui a imagem deve criar o efeito de uma imagem de sonho. A cena se passa em uma cabana de madeira sem parede ao fundo (abertura para o horizonte róseo desfocado). Efeito de balanço lento da esquerda para a direita e da frente para trás, pois a cabana flutua no mar. O plano de fundo no campo deve ser ampliado. Uma jovem dança no meio do campo: gestos lentos e graciosos reunindo todas as idades do tempo. Ela está com um vestido branco (braços, ombros, pescoço e pernas à mostra) e segurando um leque aberto em cada mão. Seus longos cabelos negros e ondulados flutuam no vazio. Um colar azul, feito de búzios, contorna seu pescoço. O plano de fundo ampliado do campo está iluminado com um rosa desfocado, como em 1081. Movimento de câmera, que circula à volta da jovem e recua, subindo, para sair por uma janela. Corta assim que a câmera, recuando bem lentamente, acabar de sair pela janela (que se torna a única fonte de luz, como em 1016).

Passos. Respiração diminuindo rapidamente Tambor ligeiro. Cessa a CÂMERA LENTA.

Ditão é precipitado, como em um sonho, em direção a um lugar que lhe parece familiar. A jovem divindade vestida de branco dança ao ritmo de um tambor na boca aberta do horizonte róseo, colhendo com gestos sublimes a constelação do Antigamente, do Agora, do Próximo e do Longínquo. A dança deve ser similar à Acontunda,ou dança de Tunda, que era executada pelos escravos da região mineradora no século XVIII.

1086

PLANO GERAL. Exterior. Dia. (4’’).

O rosto iluminado de Ditão, que abraça o horizonte fora do campo em direção ao lado esquerdo: lágrimas de alegria continuam correndo em sua face. 1087

PLANO SUBJETIVO. Contra-plano. Exterior. Dia. (4’’).

Ditão continua abraçando o horizonte do lado do mar, à esquerda, como em 1084. Escurecimento da imagem (como em 1055). 1088

Passos. Respiração acelerada. Tambor ligeiro.

Passos. Respiração acelerada. Tambor ligeiro.

PLANO FECHADO. Externa. Madrugada. (45’’).

Zoom bem lento para trás. A janela iluminada (como em 1085). Vêse novamente a cabana de Ditão, a qual neste momento flutua no mar, uma barca vazia a seu lado. O zoom pára quando Ditão é visto de costas, cabeça e ombro esquerdo em primeiro plano, à direita, como em 1011.

Tambor ligeiro. Breve evocação (ligeiro eco) de: Guincho agudo da freada, Canto dos operários, Gritos intermitentes do Quilombo minerador.

Quando distingüirmos Ditão observando o horizonte como na madrugada, temos liberdade para pensar que essa corrida tinha sido apenas um sonho, ou então que Ditão continua a imaginar sua deusa.

Thierry Dousset Nasceu em 1968, em Paris, França Mora e trabalha na mesma cidade.

Formação 1999

Université Paris X Nanterre, D.E.A. (Diploma de Estudos Aprofundados – Pós Graduação) em Filosofia Diretor: François Laruelle Professora: Cathérine Perret

1998

La parole errante (A palavra errante) Iniciação à técnica de vídeo e DVD, Iniciação à montagem de imagens – som.

Experiência 2003-2004

“Les ailes des irokos” (“As asas dos irokos”), curta-metragem, ficção, 18’ Roteiro bilingüe francês/português e storyboard.

2002-2003

“Le vent” (“O vento”), documentário em vídeo, 7’ A construção de bombas movidas a energia eólia com os alunos de C.A.P. (Certificado de Aptidão Profissional) em Trabalhos com couro, no Liceu Bartholdi, em Saint-Denis, Paris, França

2002

(“Temps libre”),“Tempo livre” documentário em vídeo, 25’ Instalações sonoras de Malachi Farrell: La Ferme Du Buisson (A fazenda Du Buisson) e La Maison des Arts de Maladoff (A Casa de Artes de Malakoff )

2001-2002

Na exposição de Stéphane Gatti realizada na região francesa Seine-Saint-Denis: Cartes Provisoires du ciel (Cartas provisórias do céu) “Hamid Salmi: la kabylie” (“Hamid Salmi: a cabília”), filme-entrevista, 15’ “Jean-Luc Einaudi: le 17 octobre 1961” (“Jean-Luc Einaudi: 17 de outubro de 1961”), filme-entrevista, 15’ “Daniel Maximin: l’esclavage en Amérique” (“Daniel Maximin: a escravatura na América”), filme-entrevista 17’ “Boniface N’Guessan: les ancêtres en Afrique” (“Boniface N’Guessan: os ancestrais na África”), filme-entrevista, 13’

Publicações Dart International:

Suzanne Lafont, fotógrafa (revista, volume 5, 2002) Eric Aupol, fotógrafo (revista, volume 6, 2002)

Carte provisoire du ciel:

“:L’éternité par les astres de L.A. Blanqui” (catálogo, 2002)

Le Philosophoire:

“Du temps libre à l’invention de soi”, (revista, 2001)

Crash Magazine:

“Malachi Farrell: Back from America” (revista 2000)

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