[2005] O povoado neo-calcolítico de Casa Branca 7 (Serpa): resultados preliminares

Share Embed


Descrição do Produto

O povoado neo-calcolítico de Casa Branca 7 (Serpa): Resultados preliminares Ana Filipa Rodrigues e Andrea Cristina Martins CRIVARQUE

Resumo A Casa Branca 7 é um sítio arqueológico situado no Sudoeste de Portugal, cuja cronologia se situa nos finais do IV milénio/ inícios do III milénio a.C. Foram escavadas, neste local, várias estruturas arqueológicas in situ, fornecendo novos dados sobre este período de transicção no Sudoeste de Portugal. Abstract Casa Branca 7 is an archaelogical site in the Southwest of Portugal, whose chronology is situated between the IV and the III millennium b.C. Several structures were excavated providing new data about this specific period of transition in Southwest Portugal.

INTRODUÇÃO

espaços distintos (Área 1 e Área 2, respectivamente), com cerca 150 m2 cada um deles. O presente texto pretende assim ,apenas uma descrição preliminar dos resultados obtidos.

A estação arqueológica de Casa Branca 7 localiza-se administrativamente no distrito de Beja, concelho de Serpa, freguesia de Santa Maria. As suas coordenadas UTM são as seguintes: Longitude W (Greenwich) – 4205808; Latitude (N) – 621614; Altitude (M) – 117. Encontra-se implantado na confluência de duas linhas de água: o Barranco da Retorta e a Ribeira do Enxoé, ambas localizadas na margem esquerda do Rio Guadiana. A Casa Branca 7 foi referenciada pela primeira vez na carta arqueológica de Serpa (Lopes, Carvalho e Gomes 1997). No ano de 2001 detectou-se que naquele local funcionava uma pedreira que provocava a destruição total do sítio arqueológico. No final desse mesmo ano, a CRIVARQUE, Lda iniciou os trabalhos arqueológicos no local ao abrigo dos trabalhos arqueológicos de emergência previstos pelo Instituto Português de Arqueologia, permitindo deste modo, o salvamento da estação arqueológica através do registo. À chegada da equipa de arqueologia o sítio apresentava já um elevado grau de destruição, observando-se que a sua vertente Norte estava já completamente arrasada e que o topo da elevação encontrava-se afectado pela abertura de um caminho que permitia à maquinaria da pedreira o acesso aquele local. Delineou-se então, a metodologia de actuação que foi traduzida em três fases distintas: uma primeira, onde se efectuou a prospecção de toda a elevação de forma a detectar áreas de maior concentração de materiais e de maior potencial arqueológico; uma segunda fase, que consistiu na implantação de sondagens de diagnóstico (15 m2); e, um terceiro momento, onde se realizou uma intervenção arqueológica em área, subdividida em dois

IMPLANTAÇÃO Como já foi referido o sítio pré-histórico da Casa Branca 7 encontra-se implantado na confluência do Barranco da Retorta com a Ribeira do Enxoé, localizados na margem esquerda do rio Guadiana, num cabeço do lado direito. Esta elevação apresenta a cota máxima de 134 m, dominando uma ampla paisagem de campos usados intensivamente para a agricultura e pastorícia, entrecortados por ribeiros e pequenos montes. As vertentes Norte e Este encontram-se já muito afectadas pelos trabalhos da pedreira o que impossibilita a correcta visualização de como seriam estas encostas, contudo podemos supor que seriam vertentes suaves até à Ribeira do Enxoé e do Barranco da Retorta. As vertentes Sul e Oeste são igualmente constituídas por declives suaves, terminando em vastos campos de cultivo de cereais. Deste modo, podemos afirmar que a implantação geográfica do sítio pré-histórico Casa Branca 7 não obedeceu a critérios de defesa natural, visto que os acessos ao topo do cabeço onde se localiza o povoado são fáceis de qualquer vertente. GEOLOGIA A nível geológico a estação arqueológica Casa Branca 7 situa-se entre Serpa e Brinches, encontrando-se no Maciço de Beja (situado no bordo sudeste da Zona de Ossa-Morena), que é um complexo de rochas plutónicas hipabissais e vulcânicas de idade Hercínica, situado

957

Ana Filipa Rodrigues e Andrea Cristina Martins

sobre um importante acidente tectónico que separa parcialmente uma crista eugeanticlinal, a norte, de uma bacia eugeossinclinal a sul, ou seja separa a Zona de Ossa Morena da Zona Sul Portuguesa. O Maciço de Beja ocupa uma área de grandes dimensões, entre Vendas Novas e Serpa. Numa análise geral ao Maciço de Beja podem-se distinguir duas zonas: uma zona básica, Complexo gabro-diorítico de Beja e uma zona ácida Pórfiros de Baleizão-Alcáçovas. Neste caso, a estação em questão localiza-se na segunda zona. A vegetação presente no cabeço é maioritariamente constituída por oliveiras, carrascos e espargueiras. Além da actividade destrutiva da pedreira a outra actividade produtiva praticada no cabeço é a pastorícia. Os campos envolventes estão plantados de cereais, existindo alguns montes onde se realizam actividades agro-pecuárias.

- dois alinhamentos de blocos de calcário, interpretados como sendo parte integrante de um muro com cerca de 1 m de largura, sendo assim, a sua face interna e externa; - um “fundo de cabana” composto por argila vermelha muito compacta e que assentava directamente sob o afloramento rochoso; - uma estrutura negativa escavada no afloramento que teria como função alicerçar o “muro” acima descrito, uma vez que se encontrava abaixo dos alinhamentos; - uma outra estrutura negativa escavada no afloramento onde foi inserido um pote esférico, liso, abaixo do qual era possível observar alguns termoclastos e um fragmento de uma taça carenada. (fig. 1) Associados a estas estruturas foram exumados diversos materiais arqueológicos que nos permitem efectuar uma datação relativa para esta ocupação. Sobre estes far-se-á uma curta abordagem adiante. Nos 150 m2 escavados nesta área a estratigrafia apresentou-se bastante reduzida (cerca de 50 cm no máximo), reconhecendo-se apenas um nível de ocupação.

RESULTADOS OBTIDOS Área 1 Na denominada Área 1 da intervenção, reconheceram-se uma série de estruturas in situ que nos permitem afirmar que naquele local existiria uma cabana. Passamos a descrevê-las: - um “buraco de poste” constituído por um agrupamento de blocos de calcário dispostos em cunha, cujo negativo se apresentava escavado no afloramento rochoso;

Área 2 Na Área 2 do povoado identificaram-se igualmente, outras tantas estruturas, cuja clara associação com diversos artefactos permite-nos afirmar que são contemporâneas da ocupação das acima descritas. São elas: - uma estrutura de combustão composta por uma concentração de termoclastos, fauna queimada em abundância (porco e ovicaprinos), assim como alguns fragmento de cerâmica e indústria lítica; - um troço de muro, com orientação Oeste/ Este protegendo a estrutura de combustão acima referida. Era composto por blocos de calcário de grandes dimensões. Ainda nesta mesma área, mas numa pequena zona de clareira entre o afloramento rochoso, detectou-se um outro muro que aproveitava o próprio afloramento para e desenvolver. Em termos de estratigrafia esta área apresentava o mesmo problema que a Área 1: potência reduzida, demonstrando também um único nível de ocupação. BREVE ANÁLISE DA CULTURA MATERIAL Este capítulo pretende fazer exclusivamente uma referência aos materiais exumados, não se realizando aqui um estudo aprofundado ou uma descrição mais pormenorizada sobre os mesmos. Ao nível da cerâmica recolhida no decorrer da intervenção pode-se dizer que formalmente foi possível identificar diferentes tipos de morfologias: taças carenadas; esféricos; globulares; taças em calote; recipientes de grandes dimensões (possivelmente, contentores de armazenagem), pratos de bordo espessado/ almendrado; copos. A grande maioria da cerâmica é lisa, sendo a

Figura 1. Planta con as estructuras identificadas na Área 1.

958

O povoado neo-calcolítico de Casa Branca 7 (Serpa): Resultados preliminares

ENQUADRAMENTO CRONOLÓGICO E CULTURAL

cerâmica decorada mais escassa, representando, no entanto, uma ampla diversidade decorativa: cerâmica mamilada; cordões plásticos, existindo estes no bordo ou no bojo, podendo ainda ter incisões ou não; decoração incisa e excisa; caneluras; decoração compósita, apresentando vários tipos de decoração. Uma peça singular pela sua raridade e que merece aqui destaque são os dois fragmentos de “cerâmica simbólica”, provavelmente pertencentes a um ídolo placa, que representam o olho raiado da “deusa-mãe mediterrânica”. Este achado torna-se ainda mais particular devido ao carácter excepcional da sua recolha: ambos os fragmentos pertencem à mesma peça, colam, no entanto foram recolhidos a uma distância de cerca de 40 metros um do outro, estando um fragmento abaixo de um dos alinhamentos da Área 1 e o outro abaixo da estrutura de combustão da Área 2 (fig. 2).

Os materiais exumados no decorrer da escavação demonstram uma uniformidade cronológica, podendo ser integrados no período correspondente à transição do Neolítico final para o Calcolítico inicial, ou seja, finais do 4º milénio a.C./ inícios do III milénio a.C. Neste momento ainda não existem datações absolutas para o povoado da Casa Branca 7, sendo através da cultura material que se pode iniciar a discussão acerca da integração cronológica e cultural da estação. Esta cronologia é atribuída através de paralelos com os designados “fósseis-directores” deste período de transição, de diversas estações arqueológicas do Centro e Sul de Portugal e também do Sul de Espanha. Contudo, por considerarmos que se integra num período de transição os “fósseis-directores” tornam-se ambíguos, existindo em ambos os períodos com ligeiras diferenças percentuais. Os “fósseis-directores” do Neolítico final, entre outros, são a taça carenada e os cordões plásticos, enquanto que os do Calcolítico Inicial são o prato de bordo espessado e a decoração com caneluras. Contudo, também surgem, embora em percentagens mais reduzidas, taças carenadas e cordões plásticos no Calcolítico e caneluras no Neolítico Final. O período de transição é assim muito difícil de caracterizar apenas através dos designados fósseis directores. A taça carenada surge no litoral estremenho em contextos do Neolítico Médio (Olelas) e Neolítico Final (Praia das Maçãs e Lapa do Fumo) e também em meios claramente calcolíticos como o Castro do Zambujal. No Alto Alentejo surge em dólmens (Anta 1 do Paço, Anta 1 dos Gorginos, Anta 1 dos Cebolinhos). Esta forma encontra-se presente por todo o sudoeste peninsular em diversos povoados do Neolítico Final e do Calcolítico Inicial. A taça carenada seria assim de origem neolítica, tendo o seu desenvolvimento no Neolítico final, entrando em declínio no Calcolítico inicial (Silva e Soares 1976-77). O prato de bordo «almendrado» ou espessado ocorre, ao contrário da taça carenada, em contextos Calcolíticos como no povoado da Rotura ou no de Valencina de la Concepcion (Sevilha), surgindo no Alto Alentejo em dólmens muito evoluídos (Anta 1 do Cebolinho, Anta Grande do Olival da Pega e Anta Grande da Comenda da Igreja) e nos povoados do Castelo do Giraldo e Famão (Silva e Soares 1976-77). A fase inicial do Calcolítico no sul de Portugal caracteriza-se pela ausência de vestígios metalúrgicos, a taça carenada encontra-se em declínio, enquanto novas formas, como os pratos de bordo espessado e os crescentes em cerâmica, são já abundantes. Esta fase inicial caracteriza-se, na Estremadura, pela cerâmica canelada. A fase seguinte, o Calcolítico Pleno, caracteriza-se por uma presença maioritária do prato de bordo espessado e pela ausência da taça carenada e de outros materiais de tradição Neolítica (Soares e Cabral 1993: 221).

Figura 2. Ídolo-placa com a representaçãodo olho raiado da “Deusa-mãe”

Ao nível da indústria lítica, recolheram-se poucos elementos categoricamente classificáveis. Em relação à pedra polida, exumaram-se alguns machados, uma enxó, um alisador e duas contas de colar. No que diz respeito à pedra lascada, recolheram-se: pontas de seta de base côncava, recta ou com aletas; lâminas de sílex retocadas; núcleos e lascas indiferenciáveis; percutores; moventes, etc.

959

Ana Filipa Rodrigues e Andrea Cristina Martins

Na Casa Branca 7 surge-nos numa única ocupação, verificada pela única camada de solo arqueológico existente, artefactos característicos do Neolítico final e artefactos característicos do Calcolítico Inicial. Surgem-nos a nível cerâmico taças carenadas, bordos com mamilos, carenas com mamilos, decoração plástica no bordo e no bojo, pratos de bordo espessado, decoração com caneluras horizontais e verticais, decoração com unhadas, decoração com punções, decoração de triângulos incisos com pontuações, entre outros padrões decorativos. (fig. 3, 4 e 5).Outros artefactos que surgiram foram: “pesos de tear” em placa ou em salsicha, um pequeno copo de cerâmica, um corniforme, duas contas, entre outros. A nível de indústria lítica aparecem pontas de seta em sílex, lâminas e lamelas em sílex, machados de pedra polida, enxós, percutores e numerosas lascas de diversas materiais primas, sendo o quartzo e o quartzito as mais

abundantes. Deste modo apercebemo-nos desta homogeneidade cultural onde surgem materiais de ambos os períodos em conjunto, não sendo o resultado de perturbações de distintas fases de ocupação. Encontramos paralelos para estes artefactos em diversos povoados do sul de Portugal e também de Espanha, onde surgem por vezes associados a estruturas de habitação, defensivas ou em sequência estratigráfica. Apresentamos assim um quadro com algumas das mais significativas estações arqueológicas do sul de Portugal e de Espanha deste período de transição, onde se sistematiza alguma da informação transmitida pelos autores, tentando assim realizar interpretações. No referido quadro, apresentamos a designação do sitio arqueológico e a sua localização, alguns dos materiais recolhidos no sítio, a cronologia dada pelos autores e a respectiva referência bibliográfica.

Figura 3. Taça carenada.

Figura 4. Prato de bordo espessado.

960

O povoado neo-calcolítico de Casa Branca 7 (Serpa): Resultados preliminares

Figura 5. Taça canelada.

característicos de uma etapa inicial do Calcolítico. Característicos do Calcolítico Inicial da Estremadura são os «copos canelados» que apenas surgiam nesta região, contudo o espólio cerâmico da Casa Branca 7 também ofereceu exemplares deste tipo de cerâmica. O registo arqueológico da Casa Branca 7 não nos apresenta duas camadas distintas correspondentes a duas fases distintas de ocupação, mas apenas uma, onde todos estes materiais se correlacionam, não sendo resultado de remeximentos posteriores. Não conseguimos diferenciar um primeiro momento onde esteja presente a taça carenada ou outros artefactos característicos do Neolítico final e outro posterior onde surja o prato de bordo espessado. Porém, poderemos estar na presença de um palimpsesto de fases de ocupação muito próximas cronologicamente, onde se realiza uma reocupação quase permanente dos locais, trazendo novos materiais e aí os depositando. Admitindo a contemporaneidade de recipientes carenados e recipientes de bordo espessado, como se verifica na Casa Branca 7 e em outras estações analisadas no quadro como Moinho de Valadares I, S. Brás 1, Porto Torrão, Cabeço da Mina, Vale Pincel II, Monte da Tumba, Los Charcones e La Mesa podemos levantar algumas hipóteses sobre esta contemporaneidade.

Da análise do quadro anterior apercebemo-nos da complexidade da atribuição do estatuto de «fóssil-director» às taças carenadas para o Neolítico final, pois estas surgem em alguns contextos atribuídos ao Calcolítico Inicial e mesmo Calcolítico Pleno como no povoado de Porto Torrão. Por outro lado os pratos de bordo espessado ou «almendrado» e as taças de bordo espessado apenas aparecem em contextos de Calcolítico inicial, sendo abundantes no Calcolítico Pleno. A decoração de cordões plásticos ou denteado no bordo parece ser um motivo decorativo exclusivo do Neolítico final, não aparecendo em contextos posteriores. Por outro lado os designados «pesos de tear», cossoiros, cinchos, colheres, peças corniformes, entre outros, surgem no Calcolítico Inicial. Na Casa Branca 7 surge-nos todas estas formas e tipos de artefactos cerâmicos, teoricamente de períodos distintos, mas numa mesma camada de ocupação. Surgem-nos taças carenadas, decoração de cordões plásticos e bordos ou carenas denteadas cerâmica característica do Neolítico final e também pratos de bordo espessado ou «almendrado», decoração de caneluras horizontais e verticais, punções, digitações, unhadas, cerâmica canelada, pesos de tear em placa e em salsicha com perfurações nas extremidades e fragmentos de cinchos ou queijeiras

961

Ana Filipa Rodrigues e Andrea Cristina Martins Sítio Foz do Enxoé (Serpa)

Igreja Velha de S. Jorge (Serpa)

Moinho Valadares I (Mourão)

Cerro dos Castelos de S. Brás (Serpa) Sítio S. Brás I (Serpa) Monte do Tosco I Porto Torrão (Ferreira do Alentejo)

Cabeço da Mina (Alvito)

Vale Pincel II (Sines) Leceia (Oeiras) Leceia (Oeiras)

Penedo do Lexim (Mafra) Escoural (Montemor-o-Novo) Monte da Tumba (Alcácer do Sal)

Mercador (Mourão) Sítio Los Charcones (Càdiz) La Mesa (Cádiz) Papa Uvas (Huelva)

Cerâmica taças carenadas; cerâmica mamilada; cordões plásticos; peça corníforme; ausência de pratos taças carenadas; cerâmica mamilada; ausência de pratos

taças carenadas; cerâmica mamilada; decoração plástica; pratos de bordo espessado e bordo simples; pesos de tear; cossoiros; cinchos; coadores; colheres taças de bordo espessado e pratos de bordo almendrado; pesos de tear; um ídolo de cornos; cerâmica simbólica; ausência de taças carenadas Cerâmica taças carenadas; cerâmica mamilada; taças de bordo espessado; pratos de bordo espessado pratos de bordo espessado; ausência de taças carenadas e potes mamilados taças e pratos de bordo espessado; taças carenadas; cerâmica com decoração de unhadas; caneluras e impressões de dedos; queijeiras e pesos de tear taças carenadas; cerâmica mamilada; taças de bordo espessado; prato de bordo não espessado; colheres; pesos de tear e cossoiros taças carenadas e taças de bordo espessado; prato de bordo não espessado; peça corníforme e pesos de tear taças carenadas; cerâmica mamilada e decoração denteada no bordo; queijeiras decoração canelada em copos e taças; decoração simbólica; escassas taças carenadas; taças e pratos de bordo espessado taças carenadas; taças de bordo denteado; copos e taças canelados pratos de bordo almendrado; vasos esféricos pratos e taças de bordo espessado; taças carenadas e cerâmica mamilada; decoração com caneluras e decoração simbólica; pesos de tear; colheres e crescentes pratos de bordo simples e espessado; tigelas; esféricos; taça carenada praticamente ausente Cerâmica taças carenadas e cerâmica mamilada; pratos de bordo espessado taças carenadas; cerâmica mamilada; pratos de bordo espessado taças carenadas e cerâmica mamilada; decoração plástica

962

Cronologia Neolítico final Calcolítico inicial

Bibliografia Diniz 1999, 95-126

Neolítico tardio – meados da 2ª metade do IV milénio a.C. OxA - 5443-4540 ± BP 3376-3034 cal BC (nível 4 a) Neolítico final Calcolítico inicial

Soares 1994, 41-49 Soares 1996, 51-58 Cardoso 1994, 51-55

Calcolítico pleno

Parreira 1983, 149-168

Cronologia Calcolítico pleno 4410 ± 140 BP (3500-2630 cal BC)

Bibliografia Soares e Cabral 1993: 217-235

Calcolítico pleno

Valera 1999: 213-214

Calcolítico PréCampaniforme 4220 ± 45 BP (3035-2650 cal a.C)

Arnaud 1993: 41-60

Calcolítico inicial

Silva e Soares 1976-77: 179-272

Calcolítico inicial

Silva e Soares 1976-77: 197-272

Neolítico final

Cardoso 1994: 164 Cardoso 1997: 128

Calcolítico inicial

Cardoso 1994: 164 Cardoso 1994: 128

Neolítico final Calcolítico inicial

Sousa 2000: 76

Calcolítico inicial e pleno Calcolítico inicial 4250 4460 BP

Gomes 1989: 225-269

Valera 2000, 24-37

Silva e Soares 1987: 29-79

Calcolítico inicial e pleno

Valera 2001: 42-58

Cronologia Neolítico final Calcolítico inicial

Bibliografia Ramos 1995: 33-50

Neolítico final Calcolítico inicial

Ramos 1993-1994: 93-102

Neolítico final; Calcolítico inicial

Martín de la Cruz 1983-84: 93-102 Martín de la Cruz 1985: 274

O povoado neo-calcolítico de Casa Branca 7 (Serpa): Resultados preliminares

mos poder realizá-las num futuro próximo e, deste modo, clarificar algumas destas dúvidas. Casa Branca 7 é assim uma estação arqueológica, localizada na margem esquerda do Guadiana, ocupada durante o período de transição do Neolítico final para o Calcolítico Inicial, ou seja, período de transição do 4º milénio para o III milénio.

Poderá ser uma justificação de origem cultural ou funcional, onde grupos com distintas tradições culturais partilhavam ideias e artefactos, havendo um intercâmbio de culturas e materiais (Diniz 1999:124). Contudo esta hipótese pressupõe diferenças substanciais na cultura material, facto não verificado nas intervenções e registo arqueológico. Por outro, lado esta relação entre a taça carenada e os pratos de bordo espessado, existente em diversos contextos, vem confirmar a inexistência de uma substituição brusca a nível artefactual na transição do Neolítico final para o Calcolítico inicial. Devemos antes aceitar uma substituição progressiva, havendo um decréscimo a nível percentual da taça carenada no Calcolítico inicial e um acréscimo das morfologias de bordo espessado (Valera 2000: 33). Esta polémica sobre a cronologia do Neolítico Final/ Calcolítico Inicial e a cultura material inerente a cada período, tornar-se-á mais clara com o recurso a datações absolutas. Existem várias datações para estações arqueológicas deste período do sul de Portugal, contudo os resultados tornam-se, por vezes, ambíguos, existindo uma aparente contemporaneidade de sítios do Neolítico tardio e do Calcolítico pleno. Para a Casa Branca 7 ainda não se possui datações absolutas, contudo espera-

CONCLUSÃO Em relação à estação arqueológica, concluímos que a Casa Branca 7 é um sitio fundamental para a compreensão da transição Neolítico final / Calcolítico inicial na margem esquerda do Guadiana e a uma escala supraregional em todo o sul da Península Ibérica. A breve análise da cultura material assim o indica, pois aparecenos no mesmo registo arqueológico, formas como a taça carenada, o prato de bordo almendrado, cerâmica “simbólica” e copos canelados, que aparecem pela primeira vez no interior alentejano. A decoração plástica também desempenha um papel fundamental na atribuição cronológica de transição, no entanto consideramos também a hipótese de existência de um palimpsesto. Esperamos que o resultado de futuras datações absolutas venha a clarificar todas estas questões.

963

Ana Filipa Rodrigues e Andrea Cristina Martins

BIBLIOGRAFIA

Martín de la Cruz, J., 1994. El transito del Neolítico al Calcolítico en el litoral del sur-oeste Peninsular. Ministerio de Cultura, Dirección General de Bellas Artes e Archivos. Parreira, R. 1983. O Cerro dos Castelos de S. Brás (Serpa). Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos de 1979 e 1980. O Arqueólogo Português, série 4(1): 149-168. Lisboa. Ramos Muñoz, J., et al. 1993-1994. La secuencia prehistórica del poblado de La Mesa (Chiclana de la Frontera). Su contribución a la ordenación del territorio de la campina litoral y banda atlántica. Boletín del Museu de Cádiz VI: 23-41. Ramos Muñoz, J., et al. 1995. Los Charcones. Un poblado Agrícola del III y II milenios A.C. – su vinculación con el foco dolménico de la laguna de la Janda, ALMORAIMA- Revista de Estudios Campogibraltarenos 13: 33-50. Silva, C. T., e Soares, J. 1976-77. Contribuição para o conhecimento dos povoados calcolíticos do Baixo Alentejo e Algarve. Setúbal Arqueológica 2-3: 179-272. Silva, C. T.; Soares, J. 1984. A estratégia do povoamento dos Chãos de Sines durante a Pré-história. Volume d’hommage au géologue G. Zbyszewski: 393-410. Paris: Ed. Recherche sur les Civilisations. Silva, C. T. Soares, J. 1987. O Povoado Fortificado Calcolítico do Monte da Tumba I- Escavações Arqueológicas de 198286 (Resultados Preliminares). Setúbal Arqueológica VIII: 29-79. Soares, António Monge; Cabral, João M. Peixoto, 1993. Cronologia absoluta para o Calcolítico da Estremadura e do Sul de Portugal. Actas dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia 33 (3-4): 217- 235. Soares, A. M. 1994. Descoberta de um povoado do Neolítico junto à Igreja Velha de S. Jorge (Vila Verde de Ficalho, Serpa) – Resultados preliminares Vipasca 3: 41-49. Soares, A. M. 1996. Datação absoluta da estrutura neolítica junto à Igreja Velha de S. Jorge ( Vila Verde de Ficalho, Serpa). Vipasca, 5: 51-58. Soares, J. e Silva, C. T. 2000. Capturara a mudança na Pré-história recente do sul de Portugal. Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular, Vol. IV, “Pré-história recente da Península Ibérica”: 213-224. Porto: ADECAP. Sousa, A. C. 2000. O Povoado Pré-Histórico do Penedo do Lexim: Resultados Preliminares da Campanha 1999, Cadernos de Arqueologia de Mafra , 1, ed. Câmara Municipal de Mafra. Valera, A. C. 1999. O povoado fortificado do Monte do Tosco 1: primeira campanha de escavações no âmbito do PMIA do Alqueva. Almadan, II série, 8, Almada. Valera, A. C. 2000. Moinho de Valadares I e a transição Neolítico Final/Calcolítico na margem esquerda do Guadiana: uma análise preliminar. ERA Arqueologia 1: 24-37. Valera, A. C. 2001. A ocupação pré-histórica do sítio do Mercador (Mourão). ERA Arqueologia 3: 42-58.

Arnaud, J. M. 1993. O povoado calcolítico de Porto Torrão (Ferreira do Alentejo): síntese das investigações realizadas. Vipasca 2: 41-60 Barker, P. 1982, Techniques of Archaeogical Excavation. London: B. T. Batsford Ltd. Cardoso, J. L. e Soares, A. M. 1990-1992. Cronologia absoluta para o campaniforme da Estremadura e Sudoeste de Portugal. O Arqueólogo Português, Série IV-V, 8/10: 203-228 Cardoso, J. L. 1994a. Os restos de grandes mamíferos do povoado Neolítico da Igreja de S. Jorge ( Vila Verde de Ficalho). Vipasca 3: 51-55. Cardoso, J. L. 1994b. Leceia 1983-1993. Escavações do povoado fortificado pré-histórico, Estudos Arqueológicos de Oeiras, número especial, Câmara Municipal de Oeiras. Cardoso, J. L. 1997. O Povoado de Leceia – sentinela do Tejo no terceiro milénio antes de Cristo, Museu Nacional de Arqueologia, Câmara Municipal de Oeiras. Carvalho, A. F. 1998. Talhe da pedra no Neolítico Antigo do Maciço Calcário das Serras D’Aire e Candeeiros (Estremadura Portuguesa). Um primeiro modelo Tecnológico e Tipológico, Textos Monográficos, 2, Lisboa: Colibri. Castro Martínez, P. V., Lull, V. e Micó, R. 1996. Cronología de la Prehistoria Reciente de la Península Ibérica y Baleares (c. 2800-900 cal ANE). Oxford: Tempus Reparatum, Bar Internacional Series 652. Diniz, M. 1999. Povoado neolítico da Foz do Enxoé ( Serpa): primeiros resultados. Revista Portuguesa de Arqueologia 2(1): 95-126. Enriquez Navascues, J. J. 1990. El Calcolítico o Edad del Cobre de la Cuenca Extremena del Guadiana: Los Poblados. Editora Regional de Extremadura. Gomes, M.V. 1989. Arte Rupestre e contexto Arqueológico. Almansor, Colóquio Internacional de Arte Pré-Histórica, nº 7: 225-269. Câmara Municipal de Montemor-o-Novo. Gomes, M. V. s.d. Corniformes e figuras associadas de dois santuários rupestres do Sul de Portugal. Cronologia e interpretação. Almansor: 17-73. Jorge, S. O. 1990. Desenvolvimento da hierarquização social e da metalurgia. Nova História de Portugal – Portugal das origens à romanização, (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques), Vol. 1: 163-212. Editorial Presença. Lopes, M. C., Carvalho, P. C. e Gomes, S. M. 1997, Arqueologia do Concelho de Serpa. Câmara Municipal de Serpa. Martín de la Cruz, J., 1983-1984. Precisiones en torno a la cronología antigua de Papa Uvas (Aljaraque. Huelva). Clio/Arqueologia, Revista da Uniarch, Vol. 1: 93-102. Lisboa. Martín de la Cruz, J. 1985. Papa Uvas I – Aljaraque, Huelva – Campañas de 1976 a 1979, Ministerio de Cultura, Dirección General de Bellas Artes e Archivos.

964

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.