[2006] CASA BRANCA 7: UM POVOADO NA TRANSIÇÃO DO 4º PARA O 3º MILÉNIO a.n.e. NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA (SERPA)

June 7, 2017 | Autor: Filipa Rodrigues | Categoria: Neolithic Archaeology, Neolithic & Chalcolithic Archaeology, Chalcolithic Archaeology
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CASA BRANCA 7: UM POVOADO NA TRANSIÇÃO DO 4º PARA O 3º MILÉNIO a.n.e. NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA (SERPA)

ANA FILIPA DE CASTRO RODRIGUES

MESTRADO EM PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA 2006

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CASA BRANCA 7: UM POVOADO NA TRANSIÇÃO DO 4º PARA O 3º MILÉNIO a.n.e. NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA (SERPA)

ANA FILIPA DE CASTRO RODRIGUES

MESTRADO EM PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA DISSERTAÇÃO ORIENTADA PELO PROFESSOR DOUTOR VICTOR S. GONÇALVES 2006

Agradecimentos: Pedro Souto Andrea Martins César Neves Pedro Cura Joaquim Pinhão Cláudia Costa Prof. Dr. Paulo Fonseca Crivarque, Lda

À minha família

Resumo ............................................................................................................................. 1 Abstract ............................................................................................................................. 2 Introdução ......................................................................................................................... 1 Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente ..................................................... 1 1. Localização Administrativa .................................................................................. 1 1.1. Condições de Implantação ................................................................................. 3 2. Enquadramento Geomorfológico e Geológico ..................................................... 5 2.1. Condicionalismos .............................................................................................. 5 2.2. Geomorfologia ................................................................................................... 6 2.2.1. Bacia Hidrográfica ...................................................................................... 7 2.3. Geologia ............................................................................................................ 9 Capítulo III: A Intervenção............................................................................................. 12 1. Antecedentes ....................................................................................................... 12 2. A escavação arqueológica .................................................................................. 14 2.1. Metodologia ..................................................................................................... 14 2.2. Estratigrafia ..................................................................................................... 15 2.2.1. Área 1 ....................................................................................................... 15 2.2.2. Área 2 ....................................................................................................... 16 2.2.3. Interpretação Estratigráfica....................................................................... 17 2.3. Estruturas ......................................................................................................... 17 2.3.1. Área 1 ....................................................................................................... 17 2.3.2. Área 2 ....................................................................................................... 18 2.3.3. Leitura das Estruturas ............................................................................... 19 2.3.3.1. Área 1: Cabana 1 ............................................................................... 19 2.3.3.2.Área 2: Cabana 2 e estrutura indeterminada ....................................... 20 Capítulo IV: Cultura Material ........................................................................................ 22 1. Recipientes Cerâmicos ....................................................................................... 22 1.1. Pastas e Formas ............................................................................................... 25 1.1.1.Pastas ......................................................................................................... 25 1.1.2. Formas Abertas ......................................................................................... 26 1.1.2.1. Os Pratos ............................................................................................ 26 1.1.2.2. As Taças ............................................................................................ 27 1.1.3. Formas Fechadas ...................................................................................... 28 1.1.3.1. Os Vasos ............................................................................................ 28 1.1.2.2. Os Potes ............................................................................................. 29 1.1.4. As Formas Carenadas ............................................................................... 30 1.2. Decoração ................................................................................................... 31 1.2.1. Denteada ................................................................................................... 31 1.2.2. Plástica ...................................................................................................... 33 1.2.3. Impressa .................................................................................................... 34 1.2.4. Incisa ......................................................................................................... 35 1.3. Outros artefactos cerâmicos........................................................................ 38 1.3.1. Pesos de tear ....................................................................................... 38 1.3.2. “Queijeiras” ........................................................................................ 39 2. Indústria Lítica ........................................................................................................ 40 2.1. Pedra Polida ..................................................................................................... 40 2.1.1. Machados .................................................................................................. 41 2.1.2. Enxós ........................................................................................................ 41 2.1.3. Martelos .................................................................................................... 42 Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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2.1.4. Indeterminados ......................................................................................... 43 2.2. Pedra afeiçoada ................................................................................................ 43 2.2.1. Percutores ................................................................................................. 43 2.2.1. Outros ....................................................................................................... 44 2.3. Pedra Lascada ............................................................................................. 44 2.3.1. Lâminas .............................................................................................. 47 2.3.2. Pontas de seta ..................................................................................... 50 2.3.3. Furadores ............................................................................................ 51 2.3.4. Denticulados/ Elementos de foice ...................................................... 51 2.3.5. Material de debitagem ........................................................................ 52 3. “Sagrado”........................................................................................................ 53 4. Objectos de Adorno ........................................................................................ 55 5. Artefactos em osso ............................................................................................. 56 6. Fauna mamalógica .............................................................................................. 57 7. Espaços e Funções: dispersão espacial dos artefactos ........................................ 60 7.1. Cabana 1 e 2: presenças, ausências e associações – a interpretação possível . 62 Capítulo IV: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio a.C. na margem esquerda do Guadiana? ................................................................................................... 68 1. Casa Branca 7: que cronologia? ..................................................................... 68 1.1. A datação absoluta da Casa Branca 7 ......................................................... 68 1.2. A datação relativa para a Casa Branca 7 .................................................... 69 1.3. Compilação dos dados apresentados .......................................................... 78 2. Que modelo para as realidades da margem esquerda do Guadiana, próximas à Casa Branca 7? ....................................................................................................... 79 Conclusão ............................................................................................................... 82 Bibliografia ..................................................................................................................... 85

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Resumo/ Abstract

Resumo A presente tese visa uma apresentação interpretativa dos dados arqueológicos exumados na escavação de salvamento, que se efectuou no sítio Casa Branca 7. Localizada no Sudoeste Peninsular, mais concretamente, na margem esquerda do Guadiana (Serpa), a Casa Branca 7 revelou um conjunto de informações que, embora não constituam novidade, permitem dar a conhecer um pouco mais das comunidades que habitaram aquela área regional, durante a fase de transição do 4º para o 3º milénio a.C. A análise artefactual e arquitectónica permitiram reconhecer: 1. uma estratégia paleoeconómica de uso preferencial do território imediato para a obtenção de recursos, revelado pela identificação das proveniências das matérias-primas utilizadas na elaboração do espólio cerâmico e indústria lítica; 2. um regime de ocupação sedentário com actividades mistas de carácter doméstico (práticas agro-pecuárias, tecelagem), num primeiro plano, e predatório (caça), num segundo; 3. um

subsistema mágico-simbólico, onde se afigura as

representações

iconográficas típicas do início do 3º milénio, no Sul da Península Ibérica; 4. uma realidade enquadrada num momento pós “Revolução dos Produtos Secundários”. Esta análise permitiu um possível enquadramento da Casa Branca 7 num momento inicial do 3º milénio, através da análise comparativa com outros sítios arqueológicos da mesma área geográfica, a uma escala local. A interpretação das datações disponíveis para a região examinada não permitiu a reconstituição de modelos de povoamento, considerando-se que a aplicação de uma estratégia de investigação desta natureza, à luz do estado actual dos conhecimentos, seria precoce e inconsistente.

Palavras-chave: Casa Branca 7; Transição do 4º/ 3º milénio a.C; Sudoeste Penínsular, Margem esquerda do Guadiana

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Resumo/ Abstract

Abstract The present thesis focuses on an interpretative presentation of the archeological data gathered in the rescue excavation that took place in the following site: Casa Branca 7. Set in the Peninsular Southwest, in the left bank of the river Guadiana (Serpa), Casa Branca 7 revealed an amount of information that, although not entirely new, allowed us to learn about the communities who inhabited that regional area, during the transitional phase from the 4th millennium to the 3rd millennium. Both the artefactual and the architectonical analysis allowed us to recognize:

1. A paleoeconomic strategy determined by the preferential use of the immediate territory in order to attain resources, revealed by the identification of the provenience of raw material used in the making of the ceramic package and the lithic industry. 2. A sedentary occupational regime with mixed domestic activities (agro-pastoral practices, weaving) on a first level, and predatory (hunt) on a second level. 3. A

magic-religious

subsystem

where

one

can

recognize

the

typical

iconographical representations of the early 3rd millennium, in the South of the Iberian Peninsula. 4. A certain reality placed in a determined time: after the “Secondary Products Revolution”. This analysis allowed us to place Casa Branca 7 in an early time of the 3rd millennium, through a comparative analysis with other archeological sites of the same geographical area, to a local scale. The reading of the available absolute datings to the examined region did not allow us to recreate settlement models, considering that the application of an investigation strategy of this nature, at this point of the investigation, would be inconsistent. Key words: Casa Branca 7; Transitional phase from the 4th millennium to the 3rd millennium;

Left

bank

of

the

river

Guadiana.

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Introdução

Introdução A tese de mestrado aqui desenvolvida não é mais do que um “fruto do acaso”. Isto é, não nasce do desenvolvimento de um projecto de investigação da área demarcada – margem esquerda do Guadiana, mas sim, de uma intervenção de emergência que a signatária efectuou1 no povoado que aqui se apresenta: a Casa Branca 7. Este sítio encontrava-se ameaçado de destruição total pelo plano de lavra de uma pedreira que explora a elevação onde se implanta a Casa Branca 7. A intervenção arqueológica efectuada no local entre 2001 e 2002, permitiu o salvamento daquela ocupação através do seu registo. A escassez de dados arqueológicos, na área em apreço, para o período de transição do 4º para o 3º milénio motivou a elaboração desta tese. No desenvolvimento deste texto pretende-se dar a conhecer os dados recolhidos nesta intervenção: estratigrafia, estruturas, cultura material e respectiva integração a uma escala local. Optou-se por um estudo “integral” dos dados recolhidos, uma vez que se concluiu que a área escavada corresponderia ao limite Sul do que teria sido um povoado de maiores dimensões, parcialmente destruído pela acção das sucessivas pedreiras que ali funcionaram. Desta forma, considera-se que este estudo, apesar de “integral”, encontra-se à partida, truncado.

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Esta intervenção foi realizada em co-direcção com a Dra. Andrea Martins. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente

Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente 1.

Localização Administrativa

Identificação Estação:

Casa Branca 7

Distrito:

Beja

Concelho:

Serpa

Freguesia:

Santa Maria

Lugar:

Quinta do Pantufe

Coordenadas Geográficas (UTM):

Latitude P: 621614 Longitude M: 4205808 Altitude: 117 m

Folha nº 522 da Carta Militar de Portugal, à escala 1: 25 000 A estação Casa Branca 7 situava-se na denominada “Pedreira do Pantufe”, propriedade da empresa Barrabrita, S.A., que explora aquela elevação para a produção de britas calcárias. O acesso era feito pela Estrada Nacional (EN) 265 Serpa / Brinches. Ao km 6 (a partir do entroncamento da EN 260 com a 265) encontra-se um caminho particular que dá acesso à propriedade onde se encontram as unidades de extracção de britagem. Para aceder à estação arqueológica seguia-se o caminho no interior da britadeira, até ao topo da elevação. A estação localizava-se no limite do talude de extracção de pedra.

Fig. 1 – Casa Branca 7 na Península Ibérica (base cartográfica: Gonçalves, V., 1989)

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Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente

Fig. 2 – Localização da Casa Branca 7 na Carta Militar Portuguesa, 1/ 25 000 (folha nº 522)

Casa Branca 7: 2 um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente

1.1. Condições de Implantação

A Casa Branca 7 implantava-se numa ligeira elevação situada na confluência da Ribeira do Enxoé com o Barranco da Retorta. Apesar desta elevação ser das poucas que existem nas imediações, não é a mais proeminente. Na análise da cartografia militar à escala 1: 25 000 foi possível observar elevações de maiores altitudes na área em questão. Como se pode verificar pela figura 2, a elevação correspondente à implantação da Casa Branca 7 detém uma altitude de 117 m, enquanto que na área em redor existem outras, cujas altitudes rondam entre os 120 e os 135 m (ver igualmente a fig. 4). Este facto foi igualmente constatado em campo, pelo que se pode considerar que o sítio ficaria “diluído” na paisagem. A sua localização junto a um meandro da Ribeira do Enxoé (ver Anexo I, Fig. 2) permite uma boa visibilidade para Este e Oeste, sendo que a inexistência de elevações a Norte possibilita um alcance visual significativo para este ponto. Para Sul a visibilidade reduz-se, já que o povoado ocupou uma ligeira plataforma, na vertente virada a Norte e não o topo da elevação. Sendo a Ribeira do Enxoé uma linha de água secundária e o Barranco da Retorta um tributário desta, acredita-se que a ocupação neste local, esteja mais relacionada com a exploração dos recursos que estes poderiam oferecer, do que propriamente com o controlo de vias fluviais. Apesar das vertentes do sítio estarem bastante afectadas na altura em que os trabalhos foram realizados (ver fig. 3), foi possível constatar que se tratariam de vertentes suaves, que permitiriam um acesso fácil ao topo da elevação (ver fig. 3, 4). Afirma-se assim, que esta implantação não obedeceu a critérios de condições naturais de defesa. Os critérios de implantação acima descritos e a ausência de “fortificação” integram a Casa Branca 7 numa tipologia de “povoado aberto ribeirinho”, considerando as propostas de Vítor Gonçalves para a área de Portel – Vidigueira. Para este autor, a Sala nº1, povoado que será abordado adiante, enquadra-se neste tipo de habitat.

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo I: A Casa Branca 7 e o território envolvente

Casa Branca 7

Fig. 3 – Casa Branca 7: vista oeste (com possível reconstituição da encosta)

Rio Guadiana

Casa Branca 7

Fig. 4 – Bloco diagrama 3d da Casa Branca 7 e área Oeste até ao Guadiana

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

2.

Enquadramento Geomorfológico e Geológico A investigação arqueológica recolhe a maior parte dos seus dados da superfície terrestre e da subtil película exterior da crusta terrestre, ou seja, dos sedimentos superficiais e do solo. Qualquer tipo de espólio arqueológico encontra-se assim intimamente ligado com as componentes físicas da paisagem, como são, por exemplo, o relevo ou a organização estratigráfica dos depósitos. Diego E. Angelucci, 2003:35

2.1. Condicionalismos

A elaboração deste capítulo deparou-se com uma série de dificuldades, que condicionaram desde logo o seu desenvolvimento. No campo da Geomorfologia constatou-se uma escassez de publicações para a área de estudo. O único trabalho publicado remonta à década de ‘50 do século XX, da autoria de Mariano Feio2. Embora seja uma obra de referência, torna-se um pouco generalista, na medida em que abrange não só o Baixo Alentejo, mas também o Algarve, centrando mais o seu estudo nesta área geográfica, assim como na zona litoral do Baixo Alentejo. No que se refere à Geologia, a maior dificuldade residiu no facto de não estar publicada a cartografia geológica à escala 1/ 50 000. Deste modo, recorreu-se à cartografia geológica à escala 1/ 200 000 (Carta Geológica de Portugal - CGP, Folha 8) e à cartografia litológica elaborada pelo Prof. Dr. Paulo Fonseca, no âmbito da sua dissertação de doutoramento3. As referências às distintas unidades litológicas identificadas por este autor encontram correspondência com a CGP, 1/ 200 00, Folha 8, fazendo-se este paralelismo no subcapítulo referente a esta temática.

2

M. Feio (1952) – A evolução do relevo do Baixo Alentejo e Algarve. Estudos de Geomorfologia. Lisboa. Instituto para a Alta Cultura, Centro de Estudos Geográficos. 3

P. Fonseca (1995) – Estudo da Sutura Varisca no SW Ibérico nas regiões de Serpa – Beja – Torrão – Alvito – Viana do Alentejo. Lisboa. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para obtenção do grau de doutor.

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

Os dados apresentados têm origem num trabalho académico realizado no âmbito da pós-graduação de Geoarqueologia, a decorrer na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no âmbito da disciplina de Geomorfologia4.

2.2. Geomorfologia

Geomorfologicamente a região meridional de Portugal, onde se enquadra a Casa Branca 7, caracteriza-se por terras baixas, grandes planuras e depressões extensas. Cerca de 65% desta parte do território é formada por terrenos de altitude inferior a 200 metros. O sítio Casa Branca 7 situa-se na peneplanície Alentejana ou Superfície fundamental do Baixo Alentejo. Aqui, destacam-se poucos e modestos relevos de dureza (Alcaria Ruiva e Ficalho) e levantam-se relevos de origem tectónica, ou por elevação gradual e lenta da peneplanície, ou de escarpa de falha. Esta unidade é relativamente estável, derivando a maior parte dos seus elementos morfológicos por deslocação tectónica e por erosão. Esta aplanação bem conservada, a ponto de lhe caber o nome de peneplanície (área a Oeste e a Sudoeste de Beja, próximo de Santa Vitória e entre Brinches-PiasMoura), surge por vezes com ondulações suaves correspondentes a rugosidades residuais ou resultantes de rejuvenescimento lento. Apenas denota-se rejuvenescimento forte nas proximidades do Guadiana, que corre encaixado mais de 100 metros, e dos seus efluentes principais (Feio, 1952). O sítio arqueológico em questão situa-se entre Serpa e Brinches, encontrando-se assim no Maciço de Beja (situado no bordo sudeste da Zona de Ossa-Morena). Trata-se de um complexo de rochas plutónicas hipabissais e vulcânicas de idade Hercínica, situado sobre um importante acidente tectónico que separa parcialmente uma crista eugeanticlinal, a norte, de uma bacia eugeossinclinal a sul. Ou seja separa a Zona de Ossa-Morena, da Zona Sul Portuguesa. Numa análise geral ao Maciço de Beja, que ocupa uma extensa área entre Vendas Novas e Serpa, podem-se distinguir duas zonas: uma zona básica (Complexo gabrodiorítico de Beja) e uma zona ácida (Pórfiros de Baleizão-Alcáçovas) (Andrade, 1976). A Casa Branca 7 implanta-se nos Pórfiros de Baleizão-Alcáçovas, mais concretamente na Antiforma de Serpa. 4

A. Rodrigues, M. de Deus (2006) – Casa Branca 7 e Salsa 3: análise geomorfológica, exemplar policopiado. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

2.2.1. Bacia Hidrográfica

Como foi anteriormente referido a Casa Branca 7 localiza-se genericamente, na grande unidade geomorfológica que é a peneplanície alentejana. O principal rio desta região é o Guadiana, cujos vales estão entalhados a partir da superfície de aplanação (cotas de cerca 170-180 m), correndo a uma cota de aproximadamente de 50 metros, apresentando uma bacia exorreica, no que se refere ao escoamento. Este rio apresenta, em território espanhol, um curso de direcção aproximadamente leste-oeste, inflectindo, a partir de Badajoz, numa direcção norte-sul até à Foz, escavando o seu leito em substratos litológicos distintos. Na presente área de estudo, o principal afluente é a Ribeira do Enxoé, implantando-se a Casa Branca 7 numa ligeira elevação (117 m) sobranceira à confluência desta com o Barranco da Retorta. Na área envolvente à Casa Branca 7 foram identificados padrões de drenagem específicos: dendritica, sub-dendritica e sub-paralela. Estes padrões encontram-se relacionados:

1. com os grupos litológicos predominantes; 2. com a estrutura local, mais concretamente com a presença de um conjunto de falhas naquela área específica.

Analisando a bacia de drenagem da Ribeira do Enxoé verifica-se a presença de um padrão dendrítico (ver Anexo I, Fig. 2). Os cursos de água tributários, dos quais faz parte o Barranco da Retorta, distribuem-se em várias direcções e unem-se formando ângulos de confluência predominantemente agudos, de graduações diferentes. 

A variabilidade litológica naquele local influencia certamente o padrão de drenagem observado. Nesta área afloram litologias com resistências distintas: gabros do maciço de Beja, “xistos de Moura”, mármores carbonatados; micaxistos, gnaisses e quartzitos negros; rochas quartzo feldespáticas. Denota-se:



na zona dos xistos um padrão sub-dendrítico;



na zonas dos gabros um padrão que se aproxima do sub-paralelo.

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

A Ribeira do Enxoé apresenta um canal meandriforme (ver Anexo I, Fig. 2), encaixado ou de vale, onde o carácter sinuoso do leito resulta do próprio traçado do vale, tratando-se de meandros instalados no substrato rochoso (Cabral, 2004). No perfil transversal que atravessa a sítio arqueológico Casa Branca 7 (Fig. 5) a Ribeira do Enxoé apresenta um perfil em V, sendo a encosta da margem esquerda convexo-côncava e a da margem direita policiclica convexo-côncava.

Fig. 5 – Perfil transversal da Ribeira do Enxoé junto à Casa Branca 7 (Rodrigues, A,: Deus, M.; 2007)

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

2.3. Geologia A área onde se enquadra a Casa Branca 7 caracteriza-se pelos “Terrenos Autóctones Ibéricos (TAI)” definidos por Fonseca (Fonseca, 1995). Neste sector, Fonseca definiu cinco unidades litológicas distintas. São elas: “Unidade da Herdade do Peixoto” (Fonseca, 1995)

Esta unidade apresenta um grau metamórfico e de deformação muito desenvolvido, sendo considerada a unidade mais antiga deste sector, atribuída ao Precâmbrico. É limitada a Sul pelo Cavalgamento de Ferreira - Ficalho e a Norte pela falha de Beja - Vale de Vargo. Litologicamente, é constituída por micaxistos, micaxistos biotíticos, gnaisses biotíticos, anfibolitos, liditos e/ou quartzitos negros, podendo ocorrer localmente, rochas carbonatadas parcialmente silicificadas. Esta unidade corresponde na Carta Geológica de Portugal (CGP) (1/200 000, folha 8) à “Série Negra” (Pgn – Proterozoico Superior Indiferenciado: xistos, grauvaques, quartzitos negros, e metabasitos) (Carvalho, 1992). “Unidade da Ribeira do Enxoé” (Fonseca, 1995) Tem-se atribuído à “Unidade da Ribeira do Enxoé” uma idade enquadrada no Proterozóico superior, embora existam algumas dúvidas. Esta unidade é visível ao longo do curso da Ribeira do Enxoé. A litologia presente nesta unidade é constituída por três tipos distintos de gnaisses félsicos, embora na cartografia de Fonseca (Fonseca, 1995), estes não se encontrem diferenciados, aparecendo apenas uma única unidade. Corresponde à unidade de “rochas quarzto-feldspáticas” (vulcânicas ácidas e arcoses) da CGP, 1/200 000, folha 8), estando no topo da sequência do Proterozoico Superior Indiferenciado (Pqf) (Carvalho, 1992).

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

“Unidade da Sra. da Guadalupe” (Fonseca, 1995) Na “Unidade da Sra. da Guadalupe”, enquadrada no Paleozóico inferior, Fonseca identifica mármores cinzentos ou ligeiramente rosados, de grão muito grosseiro, devido à forte recristalização metamórfica. Estes mármores, em contacto com as rochas intrusivas do “Complexo Ígneo de Beja”, podem aparecer transformados em corneanas calcossilicatadas. Esta unidade encontra correspondência na CGP, 1/ 200 000, folha 8, nos “Mámores com forsterite”, enquadradas no Câmbrico inferior (CbM) (Carvalho, 1992). Sobre esta atribuição Fonseca afirma: “[…]unicamente por correlação litoestratigráfica, admitem uma idade do Câmbrico inferior, por comparação com a região de Elvas, onde existem fósseis daquela idade associados a calcários dolomíticos. Em nossa opinião, uma correlação desta espécie entre sectores tão longínquos e com estruturas tão diversas, somente por um acaso poderá estar correcta.” (Fonseca, 1995:43). O sítio Casa Branca 7 encontra-se implantado nesta unidade. “Unidade da Serrinha” (Fonseca, 1995) A “Unidade da Serrinha” detém uma correlação com os denominados “Xistos de Moura”, na CGP (1/200 000, folha 8) (Carvalho, 1992). Esta unidade é delimitada por acidentes tectónicos, estendendo-se desde o território espanhol, até à extremidade ocidental do Maciço de Évora – Aracena. Não havendo um consenso quanto à idade desta unidade, na “Notícia explicativa da folha 8”, da CGP (1/ 200 000) os “Xistos de Moura são enquadrados no Silúrico (SXM) (Carvalho, 1992). Fonseca considera a possibilidade desta unidade ser um pouco anterior (Fonseca, 1995). Nesta unidade pode-se identificar as denominadas “rochas verdes”: filonitos luzentes, filonitos quartzo-micáceos, filonitos grauvacóides finos, alguns quartzitos micáceos e por vezes, anfibolitos.

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Capítulo II: Enquadramento Geomorfológico e Geológico

“Unidade dos Navegados” (Fonseca, 1995)

Esta unidade encontra-se fracamente representada na área de estudo, identificando-se apenas alguns afloramentos junto ao Moinho dos Doutores (margem esquerda do Guadiana). Tratam-se de “rochas verdes”, de origem vulcânica que, em termos geomorfológicos, originam zonas deprimidas, amplamente aproveitadas para a agricultura. Estudos microscópicos identificaram a presença de minerais como plagioclase, clorite, anfíbola, epídoto, quartzo e moscovite. Na CGP (1/ 200 000, folha 8) esta unidade é enquadrada no “Complexo vulcanosedimentar de Ficalho”, onde são identificados metavulcanitos básicos (basaltos, tufitos, calco-xistos).

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Capítulo III: A intervenção

Capítulo III: A Intervenção 1.

Antecedentes A Casa Branca 7 foi referenciada pela

primeira

vez

Concelho

de

na

carta

arqueológica

do



Arqueologia

do

Serpa

Concelho de Serpa, da autoria de Conceição Lopes, Pedro Carvalho e Sofia Gomes. Neste trabalho, o sítio é localizado num “topo de cabeço

bem

destacado,

sobranceiro

à

confluência do barranco da Retorta com a ribeira do Enxoé”, onde foram identificados fragmentos de “cerâmica manual, incluindo uma taça carenada […]”, sendo-lhe atribuída uma cronologia enquadrada no “Neolítico Final/ Calcolítico” (LOPES et alli, 1997: 39).

Fig. 5 – Frontispício da Carta Arqueológica de Serpa

No ano de 2001 os arqueólogos do Instituto Português de Arqueologia (IPA), Dra. Manuela de Deus e Dr. José Correia (Extensão Territorial de Castro Verde), identificaram a destruição do sítio, devido ao avanço da frente de uma pedreira que ali funcionava. Como consequência, a empresa Barrabrita, S.A. foi obrigada a realizar trabalhos arqueológicos, prévios ao avanço do plano de lavra. Contratou esta empresa a Crivarque, Lda, para a realização de sondagens arqueológicas de diagnóstico, de forma a traçar um quadro de referência sobre a ocupação arqueológica daquele espaço. A responsabilidade científica destas sondagens ficou a cargo da signatária e da Dra. Andrea Martins. À chegada ao local era visível que a elevação tinha sofrido alterações antrópicas profundas, que alteraram substancialmente a sua configuração natural. Os trabalhos da pedreira tinham afectado profundamente as vertentes Norte e Este da elevação, impossibilitando, de imediato, uma correcta visualização de como seriam. As vertentes Sul e Oeste encontravam-se intactas, sendo constituídas por declives suaves, que terminavam em extensos campos agrícolas.

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Capítulo III: A intervenção

A análise posterior da fotografia aérea (ver Anexo IV, Foto 1), da carta militar e contactos com a população local permitiram a percepção de que a destruição do topo da elevação datava, seguramente, da década de ‘60 do século XX, período em que laborava no local uma pedreira de exploração artesanal. Deste modo, desde essa época que ali se realizavam desmatações e aberturas de caminhos, intercalados com períodos de total inoperância. A constatação deste facto traçava, à partida, um quadro negativo sobre a preservação dos vestígios arqueológicos. Foi perante este cenário, pouco estimulante, que se iniciaram os trabalhos arqueológicos na Casa Branca 7. Previamente à implantação das sondagens arqueológicas realizou-se uma prospecção clássica de terreno, que abrangeu toda área onde se previa a afectação da pedreira. Esta prospecção sistemática tinha como objectivo identificar áreas de concentração de materiais e possíveis núcleos da ocupação pré-histórica. Metodologicamente, optou-se pela realização de uma batida em percursos lineares, com uma distância máxima de 5 m entre os prospectores. Verificou-se: a.

que os materiais arqueológicos identificados à superfície

enquadravam-se, tipologicamente, na Pré-história recente, apontando para uma fase Final do Neolítico, não havendo vestígios de épocas anteriores ou posteriores; b.

estes materiais concentravam-se no topo Norte da elevação, junto

ao corte da pedreira, reduzindo significativamente a Sul, até serem inexistentes; c.

o topo Norte podia ser subdividido em duas áreas diferenciadas,

correspondentes a dois sectores distintos de concentração de materiais, embora estes fossem tipologicamente idênticos; d.

que, ao longo das vertentes Oeste e Este, era possível recolher um

grande número de artefactos, provenientes de escorrências do topo.

Estes resultados foram cartografados à escala 1:2000, correspondendo ao levantamento topográfico do “Plano da Pedreira”, ficando a implantação das sondagens condicionada ás manchas de materiais identificadas.

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Capítulo III: A intervenção

2.

A escavação arqueológica 2.1. Metodologia

A escavação arqueológica na Casa Branca 7 deteve três fases distintas, decorrendo entre os dias 3 de Dezembro de 2001 e 7 de Abril de 2002. A primeira fase dos trabalhos correspondeu à realização de seis sondagens arqueológicas de diagnóstico (3 X 1 m), subdivididas por duas áreas diferenciáveis: Área 1 (3) e Área 2 (3). Estas duas áreas correspondem a dois sectores distintos de concentração de materiais tipologicamente idênticos, detendo no entanto, condições de implantação desiguais na elevação. A Área 1 corresponde a uma ampla plataforma, no lado Norte, sendo o início da vertente, de declive pouco acentuado, que termina junto à Ribeira do Enxoé. A Área 2 encontra-se numa situação de topo da elevação, também virada a Norte, encostando ao afloramento de calcário (lapiás) que é visível naquele local. Ainda na Área 2 era possível a distinção de uma pequena área situada entre o afloramento de calcário, que recebeu a designação de “clareira”. Neste local, eram visíveis alguns materiais à superfície, sendo que a sua posição topográfica na elevação impossibilitava a hipótese destes terem sido ali depositados por fenómenos de “escorregamento”. Os resultados destas sondagens - identificação de níveis arqueológicos preservados in situ, permitiram a realização de uma intervenção em área aberta, quer na Área 1, quer na Área 2. Na Área 1, foram intervencionados 160 m2 e na Área 2 totalizaram-se 145 m2 de área intervencionada. (Anexo I, Fig. 3) Metodologicamente, optou-se pela realização de uma intervenção que permitisse a obtenção de um diagnóstico caracterizador de realidades arqueológicas preservadas in situ. Deste modo, implantou-se uma grelha de escavação com uma malha de 1X1 m em todas as áreas intervencionadas, sendo os eixos longitudinais definidos por numerais e os perpendiculares por letras. A remoção dos sedimentos realizou-se por camadas naturais, seguindo uma ordem inversa à da sua deposição, seja esta de origem antrópica ou de origem geológica. Para um melhor controlo estratigráfico, as camadas foram subdivididas por níveis artificiais de 10 cm. Na primeira fase (sondagens), coordenaram-se tridimensionalmente todos os

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Capítulo III: A intervenção

artefactos, exceptuando os bojos lisos de dimensão inferior a 5 cm. Todos os artefactos foram recolhidos e registados consoante a Área, quadrícula, camada e nível artificial. Efectuaram-se os registos gráficos (escala 1: 20), fotográficos (digital e diapositivos) e topográficos de todos os topos de camada, níveis artificiais e de cada estrutura, assim como de todos os perfis da intervenção. Todos os sedimentos foram crivados no local (crivos com malha de 3 e 4 mm), procedendo-se igualmente, à recolha de amostras sedimentares, ainda não analisadas. Os depósitos foram integralmente escavados, até atingir o substrato geológico.

2.2. Estratigrafia

2.2.1. Área 1

As camadas identificadas na Área 1 foram as seguintes: Camada 0: camada de terra vegetal, com cerca de 20 cm de espessura máxima. Nesta camada recolheram-se materiais contemporâneos (cartuchos de caça, ferro, etc) e artefactos pré-históricos. Este sedimento não se encontrava em toda a área intervencionada, tendo sido previamente removido durante a abertura de um dos caminhos que dava acesso ao topo da elevação (fileiras I, J, K, L M, N, O, P). Camada 1: camada de matriz areno-argilosa, com compactação muito heterogénea, castanho muito escuro, com uma potência máxima de cerca 50 cm Esta camada surgia sobreposta pela camada 0 ou imediatamente à superfície, nos locais onde se observava a remoção da camada 0 (caminho). Esta camada apresenta materiais arqueológicos muito frequentes, observando-se vários fragmentos de cerâmica em conexão. Camada 1a: sedimento com uma matriz idêntica à camada 1, mas que apresenta componentes mais arenosos e pedra miúda angulosa com abundância. Identificou-se apenas nas quadrículas J, K, L/ 18, quando em contacto com o afloramento (neste local observou-se uma depressão na rocha de base sendo neste local que o depósito foi registado). Camada 2: Camada de matriz arenosa, com uma compactação muito heterogénea, castanho-escuro. Identificou-se uma grande abundância de materiais Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo III: A intervenção

arqueológicos,

nomeadamente

fragmentos

pertencentes

a

um

recipiente

de

armazenagem, com decoração incisa. Esta camada foi identificada abaixo da estrutura 6 da Área 1 (Piso). Camada 3: Camada geológica – terra rossa. Camada 4: Camada de matriz arenosa, castanha-amarelada, presente no interior da Estrutura 5. Identificaram-se alguns fragmentos de fauna mamalógica. Camada 5: Camada recente (pó de pedra) resultante dos trabalhos da pedreira. Foi identificada nas quadrículas H, I/ 9, junto ao corte da pedreira. Cortou a camada 1. Camada 6: Camada recente (argilosa com carvões) resultante dos trabalhos da pedreira. Foi identificada nas quadrículas H, I/ 9, junto ao corte da pedreira. Cortou a camada 1. Identificada abaixo da camada 5.

2.2.2. Área 2

Na Área 2 a estratificação observada foi a seguinte: Camada 0: Camada de terra vegetal, com cerca de 30 cm de espessura máxima. Nesta camada recolheram-se materiais contemporâneos (cartuchos, ferro, etc) e artefactos pré-históricos. Corresponde à camada 0 da Área 1. Camada 1: Camada de matriz areno-argilosa, de compactação heterogénea, castanha-escura, com cerca de 50 cm de espessura máxima. Foi identificada em toda a área intervencionada. Apresenta abundantes materiais arqueológicos. Corresponde à camada 1 da Área 1. Camada 2: Camada areno-argilosa, pouco compacta, diferenciando-se da camada 1 pela sua coloração – castanha muito escura. Esta camada foi identificada apenas nas quadrículas ZZ/ 18, 19, 20, 21, 22 e 23 Apresenta abundantes materiais arqueológicos. Camada 3: Camada arenosa, castanha-amarelada, muito solta. Foi identificada no interior da estrutura 3, da Área 2 (“fossa”). Cortava a camada 2. Camada 4: Camada de matriz arenosa, amarela, muito solta, arqueologicamente estéril, resultante da degradação do calcário de base.

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Capítulo III: A intervenção

2.2.3. Interpretação Estratigráfica

A Casa Branca 7, como já foi possível constatar, encontra-se numa situação de topo de elevação, onde a característica ambiental que prevalece é, provavelmente, a erosão. O facto de estarmos perante uma área de fraca potência estratigráfica (máximo de 50 cm) e perante sedimentos com uma matriz essencialmente argilosa, pode indicar que a grande parte desta matriz sedimentar é de origem autóctone, provavelmente provenientes da dissolução dos calcários. Estratigraficamente é possível estarmos perante o desenvolvimento de um perfil de solo tanto na Área 1, como na Área 2, o que demarca a estabilização sedimentar da plataforma num período indeterminado, mas certamente pós-ocupação. Definiram-se assim, duas camadas – camada 0 e camada 1, pertencendo a primeira a um horizonte orgânico de topo, mais actual. A camada 1 é aquela onde se detecta a presença de um número mais significativo de materiais arqueológicos, havendo fenómenos pós-deposicionais, tais como a bioturbação animal e vegetal, que terão certamente afectado a posição original de alguns ecofactos e artefactos. Desta escavação em área resultou a identificação de apenas um nível de ocupação, concluindo-se, a partir do estudo dos materiais arqueológicos, que é contemporâneo em ambas as áreas intervencionadas. Não foram detectadas fases distintas de ocupação.

2.3. Estruturas

2.3.1. Área 1 Na Área1 foi identificada uma cabana – Cabana 1, composta por uma série elementos, abaixo descritos individualmente. Estrutura 1 (E1) (ver Anexo II, Fig. 3; Anexo 4, Foto 4, 5, e 6): “Buraco de poste”, detectado na intersecção das quadrículas H, I / 15, constituído por um agrupamento de pedras de calcário em cunha; o sedimento do seu interior continha pedra miúda e apresentava-se mais solto que no exterior; identificou-se o seu negativo escavado no afloramento.

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Capítulo III: A intervenção

Estrutura 2 (E2) (Ver Anexo II, Fig. 4; Anexo IV, Foto7, 8, 9 e 10): Estrutura negativa, tendencialmente oval, escavada no afloramento rochoso, com a finalidade de inserir uma taça; para se retirar o recipiente foi necessária a implantação de uma “sondagem” com 50 cm x 50cm; foi necessário escavar o afloramento, ficando ainda visível parte das paredes da estrutura; encontrava-se abaixo do piso. Estrutura 3 (E3) (Ver Anexo II, Fig.2; Anexo IV, Foto 3): Dois alinhamentos de blocos de calcário de médias e grandes dimensões, interpretados como a face interna e externa de um muro com cerca de 1 m. Estrutura 4 (E4) (Ver Anexo II, Fig.2; Anexo IV, Foto 3): Concentração de blocos de calcário de pequenas e médias dimensões a Nordeste dos alinhamentos acima referidos; esta concentração foi interpretada como um possível derrube do muro acima descrito. Estrutura 5 (E5) (ver Anexo II, Fig. 5; Anexo IV, Fig. 11 e 12): Estrutura negativa, identificada abaixo dos alinhamentos, preenchida por um sedimento arenoso (camada 5 da Área 1), interpretada como “alicerce” do muro. Estrutura 6 (E6) (Ver Anexo II, Fig.2; Anexo IV, Foto 3): “Piso”, composto por argila vermelha, muito compacto, com abundantes elementos pétreos angulosos e nódulos de argila cozida na sua composição. Identificaram-se alguns materiais arqueológicos imbricados na argila, inclusive uma ponta de seta de base côncava.

2.3.2. Área 2

As estruturas detectadas na Área 2 foram as seguintes: Estrutura 1 (E1) (ver Anexo II, Fig. 10; Anexo IV, Foto 13 e 14): Estrutura de combustão que apresentava um aglomerado de cerâmica, abundante fauna queimada, indústria lítica e termoclastos. Esta estrutura tinha sido já identificada na primeira fase dos trabalhos (sondagens), tendo sido intervencionada apenas na fase de escavação em área. Estrutura 2 (E2) (ver Anexo II, Fig. 10; Anexo IV, Foto 14): Troço de um muro, com orientação Oeste/ Este, com cerca de 2 m de comprimento, constituído por pedras de calcário de grandes dimensões. Esta estrutura assentava directamente sob o afloramento. Foi possível distinguir uma zona de maior concentração de materiais a Sul da estrutura, sendo estes quase inexistentes a Norte da mesma. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Estrutura 3 (E3) (ver Anexo IV, Fig. 11): “Fossa”, com cerca de 30 cm de diâmetro e 40 cm de profundidade, que continha no seu interior fragmentos de cerâmica, dos quais não foi possível obter colagens, embora possam pertencer ao mesmo recipiente. Esta estrutura foi identificada na quadrícula YY/ 27. Estrutura 4 (E4) (ver Anexo II, Fig. 11;Anexo IV, Foto 16) : troço de um muro, orientado Norte / Sul, constituído por blocos pétreos de calcário. Esta estrutura encontrava-se numa clareira onde se detectou uma quantidade significativa de materiais arqueológicos.

2.3.3. Leitura das Estruturas

As estruturas identificadas foram acima descritas unitariamente. No entanto, em ambas as áreas formam um todo. Deste modo, passa-se a descrever a leitura do espaço.

2.3.3.1. Área 1: Cabana 1

O conjunto de estruturas identificadas na Área 1 completa a denominada Cabana 1, delimitada por dois alinhamentos de blocos de calcário (E3), interpretados como as faces interna e externa de um muro com cerca de 1 metro de largura. Estes alinhamentos sugerem uma cabana de tendência circular com cerca de 6 m de diâmetro no máximo, com uma possível entrada em forma de “corredor”, de orientação Sul/ Norte. Foi identificado ainda um “piso” (E6) tal como um “buraco de poste” (E1) que se encontrava no eixo do “corredor” de entrada da Cabana 1. Levanta-se a possibilidade deste poste ter funcionado como suporte para a cobertura de um possível espaço doméstico. A estrutura da Cabana 1 requereu algum investimento na sua construção: parte do afloramento de base encontrava-se escavado, formando o diâmetro que se pensa como máximo para a estrutura. Para além deste factor, identificou-se uma outra estrutura negativa abaixo de um dos alinhamentos que terá formado a parede da cabana, pensado – se que esta estrutura negativa poderia ter funcionado como “alicerce” (E5). (Anexo II, Fig. 2; Anexo IV, Fotos 3 e 4)

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Capítulo III: A intervenção

A Cabana 1 foi bastante afectada pelos trabalhos de pedreira, pois a Norte encontrava-se a frente de lavra e a Este tinham sido realizados rebentamentos para a exploração da pedra. Como se pode verificar pela planta desta estrutura (Anexo II, Fig. 2), não foram detectados vestígios significativos para Oeste, detectando-se o afloramento a cerca de 10 cm da superfície. Os materiais arqueológicos recolhidos nessa área apresentavam-se ligeiramente rolados, indiciando um deslocamento dos mesmos. Outros apresentavamse mais frescos, podendo esse facto estar correlacionado com o afloramento daquela área – lapiás, considerando-se que terá havido uma deslocação desses materiais, embora tenha sido estagnada pelas depressões no terreno. Os materiais exumados nesta área contribuíram para a atribuição de uma funcionalidade doméstica daquela estrutura

2.3.3.2.Área 2: Cabana 2 e estrutura indeterminada

A Área 2 possuía duas áreas de intervenção distintas: uma localizada junto à estrada aberta no topo da elevação e outra numa área de clareira (R, S, T/ 42 a 48) entre afloramentos. A área aberta junto à estrada detinha por si só várias unidades de escavação distintas, condicionadas pelo decurso dos trabalhos: havia uma área central de escavação, onde se localizavam as estruturas que descreveremos adiante; e pequenas sanjas (E, F – 29 – 41 e XX, F – 37), onde se realizou uma intervenção mais expedita, de forma a averiguar a preservação do sítio nesses locais. Verificou-se que estas áreas de sanja encontravam-se profundamente afectadas por fenómenos pós-deposicionais, tais como a bioturbação animal e vegetal. Reconheceu-se também uma menor densidade de materiais à medida que se intervencionava para Sul da elevação. No que diz respeito a estruturas arqueológicas, foi identificada uma outra cabana – Cabana 2 – e uma estrutura indeterminada, na área de clareira.

2.3.3.2.1. Cabana 2

A Cabana 2 foi identificada no centro da Área 2. Esta cabana era composta por um troço de muro (E2), com orientação Oeste/ Este. O muro encostava, a Oeste, ao afloramento rochoso – lapiás – sendo este o limite desta estrutura. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo III: A intervenção

O interior da Cabana desenvolvia-se para Sul, já que para Norte foram identificados escassos materiais arqueológicos. Na área que se considera como o interior da cabana, escavou-se uma “estrutura de combustão” (E1), constituída por uma acumulação de termoclastos, alguns líticos, fragmentos de cerâmica e fauna mamalógica. Neste último caso, há que considerar o facto de que nem toda a fauna exumada nestas quadrículas (D, E/ 20) apresentava sinais de combustão (ver Anexo II, Fig.10; Anexo IV, Fig. 13 e 14). Considera-se que esta estrutura deteria uma funcionalidade doméstica. Para esta atribuição funcional contribuiu a presença de recipientes de armazenagem (ver Anexo IV, Foto 25), ao lado de utensílios comuns, como se poderá verificar adiante.

2.3.3.2.2. Estrutura indeterminada Ainda na Área 2, na zona de “clareira”, foi identificada uma outra estrutura, também correspondente a um troço de muro, com orientação Norte/ Sul, restando deste apenas a primeira fiada de pedras, que aproveitava a bancada de calcário para se soerguer (ver Anexo II, Fig. 11; Anexo IV, Fig. 16). Este muro veio assim, justificar a quantidade significativa de artefactos recolhidos neste local na fase de sondagens de diagnóstico, comprovando que aqueles materiais não foram ali depositados por agentes naturais, tal como fenómenos de erosão de sedimentos situados, topograficamente, acima desta área. Não foi possível aferir uma funcionalidade para esta estrutura.

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Capítulo IV: Cultura material

Capítulo IV: Cultura Material

1.

Recipientes Cerâmicos A quel élément faudra-t-il donner la préférence ? A la technique de fabrication qui, à priori, a dû évoluer au cours des âges ? Mais il est très probable que les nouvelles acquisitions n’ont pas toujours détrôné les anciens procédés. Aux formes qui sont à la fois fonctionnelles et sujettes à des modes plus ou moins passagéres et locales ? Aux décorations, également influencées par ces mêmes facteurs ? M.-R. Séronie-Vivien, 1982 : 5

De todos os artefactos recolhidos na Casa Branca 7 a cerâmica é, sem dúvida, o elemento melhor representado. Foi contabilizado um total de 25627 fragmentos, divididos pelas duas áreas intervencionadas: na Área 1, 8172 fragmentos (cerca de 80 kg); na Área 2, 17455 (cerca de 150 kg). Numa primeira fase de análise à cerâmica os problemas que se colocaram foram, obviamente, de ordem metodológica. “Quais os critérios a adoptar, não só na seriação tipológica, mas também no inventário?”, era a questão que se colocava. Por uma razão estritamente “economicista” (neste caso, “economia do tempo”) optou-se pela realização de dois inventários de cerâmica: um inventário exclusivo para os bojos lisos; outro, para os fragmentos de cerâmica que apresentavam bordo, fundo, carena, elementos de preensão ou motivos decorativos. No caso do inventário dos bojos lisos utilizou-se como elemento diferenciador dos fragmentos as pastas. Adoptou-se o critério apresentado pela primeira vez por Joaquina Soares e Carlos Tavares da Silva (Soares e Silva: 1976-77), em que se considera que uma pasta compacta terá raros elementos não plásticos (de dimensões compreendidas entre 0 mm e  1 mm), uma pasta semi-compacta terá alguns elementos não plásticos (de dimensões compreendidas entre 0 mm e  1 mm), e uma pasta pouco compacta terá abundantes elementos não plásticos (de dimensões compreendidas entre 0 mm e  1 mm). Para além destas informações, os fragmentos de cerâmica lisos foram ainda subdivididos pela cor das pastas, sendo que a cada cor fazia-se corresponder um número. Assim, à cor vermelha correspondia o número 1, ao cinzento o 2, ao negro o 3 e por fim, ao castanho o número 4. Estes fragmentos foram devidamente acondicionados conforme a sua proveniência dentro da escavação (área, quadrado, Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

quadrante, camada, nível artificial), efectuando-se a sua quantificação e pesagem (peso fornecido em gramas). Não sendo o objectivo deste trabalho a criação de um quadro tipológico, adoptou-se, para as cerâmicas em que era possível delinear a sua configuração, os critérios sintetizados por Manuel Calado (Calado: 2001), que dentro das famílias das formas abertas e das formas fechadas5, inclui os pratos e as taças (formas abertas) e os vasos e potes (formas fechadas)6. Para o reconhecimento dos recipientes tradicionalmente conhecidos como taças carenadas, adquiriu-se a definição de Soares e Silva: “A taça carenada […] é um recipiente pouco profundo […] e largo […], formado por um fundo quer aplanado quer em calote de esfera, e por um corpo sub-cilíndrico ou troncocónico, separado daquele por uma carena” (Soares e Silva, 1981: 127). Mais recentemente, Victor Gonçalves propõe um quadro tipológico para esta forma, dividindo-a em duas componentes distintas: uma componente inferior e uma componente superior. Para a seriação desta última, reconheceram-se três formas geométricas que podem distingui-la: rombóide, troncocónica e hiperbolóide. Quanto à componente inferior, refere-se a forma de calote ou fundo convexo (Gonçalves, 2003:89-90). Esta tipologia, assumidamente incompleta7, foi aplicada nas taças carenadas da Casa Branca 7, sendo a componente inferior acrescida de um fundo aplanado, elemento já reconhecido e referido na definição de Soares e Silva. A diferenciação entre as formas anteriormente descritas e os vasos carenados seguiu os princípios apontados por Ana Catarina Sousa: “[…]recipientes com uma carena situada no terço superior do recipiente […] muito fechados […]” (Sousa, 1998: 105).

5

Cf. Gonçalves, V.S. (1989) – Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental, uma perspectiva integrada. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica/ Uniarq, p. 150) 6 “ No grupo das formas simples abertas, inclui os pratos (Forma I) e as taças (Forma 2), cuja “fronteira” tem sido traçada, como atrás referi, em função do índice de profundidade de 20 (Ip = altura: diâmetro da boca x 100), sendo, em meu entender, por razões lógicas, o índice 25 o mais adequado. Na prática, nos casos em que o referido índice não é calculável, utilizei antes o ângulo formado pelo bordo e parede do fragmento com o plano de abertura, considerando que até 45o se trata dos pratos e de 45o a 90o, inclusive, se trata de taças. No caso das formas simples fechadas, vasos e potes, uma vez que é geralmente impossível, a partir da amostra disponível, calcular iníces de profundidade, considerei o limiar lógico dos 135 o para as distinguir, sendo os potes as peças mais fechadas”. Manuel Calado, 2001: 44-45 7 “Não é impossível que o estudo sistemático das várias centenas de taças carenadas na Sala nº1 e de TESP-3 nos tragam outras variantes […]. Mas, como ponto de partida, penso estarmos perante uma aceitável proposta, e o facto de se apresentar à partida como susceptível de ser melhorada não a diminui minimamente.”, Victor Gonçalves, 2003: 90-91. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Em todas as formas anteriormente enumeradas – pratos, taças simples ou carenadas, vasos simples ou carenados e potes, considerou-se as características intrínsecas do bordo, utilizando-se os critérios de Gonçalves (Gonçalves, 1989: 159). Nos diferentes bordos estimou-se o seu espessamento, tendo-se registado as seguintes categorias: não espessado, espessado internamente, espessado externamente, espessado interna e externamente. Foi também registada a direcção / orientação do bordo, da seguinte forma: bordo recto, exvertido, introvertido e “almendrado”. As formas presentes na Casa Branca 7 encontram-se genericamente descritas no gráfico abaixo (fig. 7). Como se pode verificar, grande parte da colecção (44%) corresponde a fragmentos de bordos cuja morfologia é indeterminável, devido às suas reduzidas dimensões. O restante conjunto é dominado pelos recipientes carenados (37%), pelas formas abertas (10%), na qual se destaca a fraca presença do prato (1%), seguindo-se as formas fechadas (9%). Numa análise comparativa entre a cerâmica lisa e a cerâmica decorada verifica-se que as cerâmicas lisas sobressaem em relação ás que apresentam decoração (fig. 8). As cerâmicas lisas representam 98% do conjunto, enquanto que a cerâmica decorada corresponde apenas a 2% de toda a colecção. No campo da decoração denota-se uma grande diversidade nas temática e nas técnicas decorativas empregues. Foram identificados cinco grandes grupos decorativos: denteada, plástica, impressa, incisa, ungulada, havendo igualmente decorações compósitas, conjugando as diferentes técnicas já referidas (como por exemplo, incisão/ impressão no caso da “cerâmica simbólica” (Gonçalves, 1992) (fig. 9). A cerâmica com decoração plástica é, sem dúvida, a mais representada (56%), como se pode observar na figura 15. Neste campo reconhece-se a presença significativa dos recipientes mamilados e dos cordões plásticos, sendo este um assunto que se voltará a abordar no sub-capítulo destinado a esta temática. Segue-se a cerâmica com decoração incisa (37%), havendo uma grande variedade estilística. As cerâmicas com decoração impressa, impressa ungulada e denteada detêm um valor meramente residual nesta colecção.

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Capítulo IV: Cultura material

Fig. 7 – Formas identificadas na Casa Branca 7

Fig. 8 – Comparação cerâmica lisa/ cerâmica decorada

Fig. 9 – Tipos de decoração representadas

1.1. Pastas e Formas

1.1.1.Pastas

Das categorias utilizadas para o estudo das pastas de cerâmica da Casa Branca 7, constatou-se que as pastas semi-compactas são as que se encontram em maior número, representando 50% de toda a colecção. As pastas pouco compactas seguem-se no registo (44%), detendo as pastas compactas uma expressão reduzida (6%) (Fig. 10). Os elementos não plásticos observáveis à lupa binocular são o quartzo, o quartzito, as micas branca e preta, remetendo para um universo local de exploração de barreiros, facto já anteriormente atestado por Mariana Diniz para as pastas do povoado da Foz do Enxoé (Diniz, 1999: 113)

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Capítulo IV: Cultura material

Fig. 10 – Tipos de pastas

1.1.2. Formas Abertas

1.1.2.1. Os Pratos

Os pratos constituem a forma menos representada na Casa Branca 7, perfazendo apenas 1% da colecção, num total de 39 fragmentos. Foram

identificados

três tipos de pratos: pratos não espessados (28),

pratos

espessados

internamente (5) e pratos

Fig. 11 - Espessamentos dos bordos no grupo formal dos pratos

espessados interna e externamente (6) (ver Anexo III, Est. 1). Quanto à direcção do bordo, reconheceram-se bordos simples sem espessamento (Anexo III, Est. 1, Fig. 1 e 2), bordos exvertidos (Anexo III, Est. 1, Fig. 8)e o característico prato de bordo “almendrado” (Anexo III, Est. 1, Fig. 4, 5, 6 e 7). Como se pode verificar pela Estampa em anexo (Anexo III, Est. 1) os diâmetros dos pratos de bordos sem espessamento são bastante reduzidos face aos pratos de bordo espessado. No caso dos bordos não espessados verifica-se que o diâmetro máximo que

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Capítulo IV: Cultura material

atingem são os 21 cm, enquanto que os pratos de bordo espessado podem atingir diâmetros que chegam perto dos 40 cm. Os pratos da Casa Branca 7 têm bons acabamentos, detendo a maioria as superfícies alisadas. Os pratos decorados, patentes em diversos contextos de habitat do Sul de Portugal, como o Monte da Tumba, Santa Justa ou Porto Torrão, não foram identificados na Casa Branca 7. A presença deste tipo de recipientes pode transparecer “[…] uma economia dependente da agricultura e uma alimentação com uma forte componente vegetal, implicando o consumo de cereais cozinhados” (Gonçalves, 1989:165), embora, no caso desta estação arqueológica, esta interpretação deva ser encarada com reservas, face às percentagens residuais desta forma, na totalidade do conjunto cerâmico.

1.1.2.2. As Taças

As taças são o segundo grupo formal mais representado no aparelho cerâmico da Casa Branca 7. Foram contabilizados 305 fragmentos, constituindo assim, 9% das formas registadas neste sítio. Identificaram-se três tipos de taça: taças simples; hemisferas e hemisferas altas. Os dois últimos grupos, hemisferas e hemisferas altas, são aqueles que apresentam um maior índice de presença. No que diz respeito aos bordos registaram-se, em todos os tipos identificados, os seguintes tipos (Anexo III, Est. 1 e 2): bordos simples, sem espessamento e bordos em aba. Foi ainda possível registar uma presença acentuada dos bordos rectos, embora os biselados e exvertidos também tenham sido contabilizados. Não se registaram diâmetros inferiores a 10 cm, podendo atingir cerca de 35 cm. Neste grupo formal estão presentes diferentes tipos de decoração, embora a grande maioria pertença a taças lisas (92%). Salienta-se que nesta forma o maior número de cerâmicas com decoração plástica corresponde a aplicação de mamilos de preensão (5%). A decoração incisa também está presente (3%), tal como a decoração denteada, embora em número pouco significativo (um exemplar).

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Capítulo IV: Cultura material

Fig. 12 – Decoração presente no grupo formal das taças

1.1.3. Formas Fechadas

1.1.3.1. Os Vasos

Os recipientes designados neste trabalho por vasos, denominados noutros de “esferóides” (Gonçalves, 1989; Sousa, 1998, etc), correspondem a 6% das formas registadas na Casa Branca 7, tendo sido exumados 221 fragmentos. Grande parte dos exemplares observados corresponde a recipientes de bordo simples, sem espessamento, rectos. Foram registados, no entanto, bordos exvertidos com e sem espessamento, porém em menor número. Os diâmetros destas peças são bastante abrangentes, podendo chegar até aos 60 cm, diâmetro máximo registado (ver Anexo III, Est. 4, 5), remetendo esta forma para uma funcionalidade provavelmente relacionada com armazenagem. Ao nível da decoração verificou-se uma presença acentuada dos recipientes lisos. Não obstante, a decoração plástica, mais concretamente a aplicação de mamilos e a decoração incisa estão, mais uma vez, presentes. Foram ainda registados exemplares com decoração ungulada, dentada e com perfuração para suspensão.

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Fig. 13 – Decoração presente no grupo formal dos vasos

1.1.2.2. Os Potes Os “potes” são recipientes usualmente conectados com armazenamento. Os tipos identificados em Casa Branca 7 sugerem igualmente, esta funcionalidade. Tal com é possível observar na Estampa 6, do Anexo III esta forma não apresenta um espessamento do bordo, apresentando-se recto. Os diâmetros da boca oscilam entre os 12 e os 24 cm, embora a abertura do corpo remeta para diâmetros bem mais elevados. Estes recipientes correspondem a 3% das categorias formais identificadas (incluindo os bordos de morfologia indeterminada). No que respeita às decorações presentes nesta categoria formal foram utilizadas técnicas como a decoração plástica, realçando-se aqui o papel exclusivo da aplicação de mamilos de preensão, e da decoração incisa. Foi ainda inventariado um fragmento de bordo com perfuração. No entanto, mais uma vez, são os fragmentos lisos que predominam no registo.

Fig. 14 – Decoração presente no grupo formal dos potes

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1.1.4. As Formas Carenadas […] 1- que função para as taças carenadas ? questão tão pouco inocente que implica,de algum modo, duas outras: 2- por que aparecem as taças carendas neste momento específico? 3- por que desaparecem tão cedo e de forma tão definitiva? Victor S. Gonçalves, 2003: 91

As formas carenadas são, sem qualquer dúvida, o grupo formal mais presente no conjunto cerâmico da Casa Branca 7, desempenhando assim um papel fundamental na atribuição de uma cronologia do sítio, tema que será abordado adiante. As formas carenadas representam 37% dos grupos formais registados na Casa Branca 7. Como já foi referido no início do presente capítulo, diferenciou-se neste trabalho as taças e os vasos carenados, realizando-se aqui um enquadramento tipológico diferenciado, com base no método proposto por Gonçalves (Gonçalves, 2003: 89-90). No que se refere às taças carenadas da Casa Branca 7 registaram-se, essencialmente, quatro grupos tipológicos, como se pode verificar pela tabela abaixo apresentada8: Tipo

Componente superior

Componente inferior

1

rombóide

calote de esfera

2

hiperbolóide

calote de esfera

3

troncocónico

calote de esfera

4

troncocónico

aplanado

Tal como o anteriormente proposto por Gonçalves (Gonçalves, 2003: 90) é possível ainda elaborar sub-tipos considerando as variações dos bordos. Assim, e continuando a utilizar o tipo de tabela proposta pelo autor citado, verifica-se: Tipo 1 1 2 2 3 3 4 4

Sub-tipo 1 2 1 2 1 2 1 2

Designação recto exvertido recto exvertido recto exvertido recto exvertido

8

Cf. Gonçalves, V. S. (2003) – Sítios, Horizontes e Artefactos. Estudos sobre o 3º milénio no Centro e Sul de Portugal, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, pp-90. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Desta forma, constata-se que as taças carenadas da Casa branca 7 são, na sua maioria, fechadas havendo exemplares que tendem para um maior abertura do bordo (troncocónicas). Os diâmetros destas peças são sempre superiores aos 20 cm, chegando perto dos 40 cm. Neste sentido há que salientar que o tipo que apresenta menores diâmetros é o Tipo 4 (troncocónico de fundo aplanado) (ver fig. 1 a 4, Est. 8). À excepção da aplicação de mamilos na carena, não foi identificado mais nenhum tipo de decoração. Assim, a ausência de perfurações nestes recipientes remetem para uma realidade aparentemente lógica: “[…] não são cerâmicas que se possam usualmente suspender” (Gonçalves, 2003: 93). À pergunta “qual a funcionalidade destes recipientes?” Gonçalves responde com outra: “Seriam as taças carenadas uma forma antiga, correspondendo a uma utilização similar à dos pratos, que progressivamente perde a importância com a generalização destes?” (Gonçalves, 2003: 92), remetendo esta forma para um ambiente de forte consumo de cereais e vegetais, proposta que anteriormente terá avançado para os pratos de bordo “almendrado” (Gonçalves, 1989: 165). Em relação aos vasos, forma que se distingue da anterior pelo índice de profundidade (Ip), pode-se afirmar que se encontram em número mais reduzido que as taça. Tipologicamente, denotou-se que a forma rombóide de fundo em calote de esfera é o melhor representado, se não mesmo, exclusivo. As formas com carenas altas apresentam uma maior “fechamento” do bordo que as taças, embora em termos de diâmetros não se constatem diferenças significativas. Não foram identificados vasos com decoração.

1.2.

Decoração

1.2.1. Denteada

A decoração denteada na Casa Branca 7 está representada em cinco exemplares, nos quais se reconheceu quatro tipos estilisticamente distintos. Estes grupos estão esquematicamente figurados nas tabelas abaixo apresentadas (ver desenhos completos no Anexo III). Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Tipo

I

II

Descrição

Desenho (esquemático)

Bordo denteado com pequenas incisões, paralelas, junto à linha exterior de um bordo recto, sem espessamento. Estas incisões são pouco profundas (cerca de 2mm), sendo o intervalo entre elas também bastante reduzido (cerca de 2 mm). Esta decoração encontra-se representada num fragmento de vaso. Bordo denteado com incisões oblíquas, paralelas entre si. Localizam-se ao longo de um bordo espessado externamente, ligeiramente exvertido. As linhas incisas espaçam-se em cerca de 5 mm, sendo bastantes profundas (cerca de 4 mm), prolongando-se no topo do bordo. Esta decoração foi identificada numa forma fechada (vaso).

III

Bordo denteado, exvertido, espessado externamente. Foi executado através de linhas incisas, paralelas entre si. No único fragmento com este tipo, parece que as incisões se intercalam entre si: umas prolongam-se até ao topo do bordo, ficando as restantes junto à face externa do mesmo As incisões são bastante profundas (cerca de 5 mm) sendo o seu espaçamento cerca de 4 mm.

IV

Bordo recto, não espessado, no qual o denteado foi executado na face exterior, através de pequenas linhas incisas, pouco profundas e com uma espessura de cerca de 1mm. Estas linhas encontram-se espaçadas entre si cerca de 5 mm. Esta decoração foi acrescentada de um elemento plástico (mamilo) junto ao bordo. Este tipo foi identificado num fragmento pertencente a um pequeno vaso.

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Os fragmentos identificados com este tipo de decoração detêm um elemento comum: pertencem ao grupo das formas fechadas, genericamente designadas, neste trabalho, de “vaso”. Excepção à regra é o fragmento aqui apresentado como “Tipo 3” no qual a orientação do seu bordo parece remeter para uma “taça”, apesar de não se ter conseguido determinar o seu diâmetro. Os diâmetros obtidos apontam para formas pequenas, rondando entre os 13 e os 20 cm.

1.2.2. Plástica

A cerâmica com decoração plástica é a que se encontra em maior número no registo da Casa Branca 7. Os motivos plásticos significam 56% da cerâmica decorada do conjunto estudado, correspondendo grande parte deste segmento à aplicação de mamilos, quer de preensão, quer decorativos. Os tipos de decoração plástica identificados são os seguintes: mamilos (Tipo 1); botões ou pastilhas (Tipo 2); cordão plástico com reforço mamilado (Tipo 3); cordão plástico simples (Tipo 4); cordões plásticos múltiplos (Tipo 5). Cada uma dessas técnicas foi, por vezes, acrescida de outros tipos decorativos (como por exemplo, a incisão ou impressão), exibindo motivos compósitos. Veja-se:

Tipo

Descrição

I

Aplicação de mamilo no colo do recipiente, imediatamente abaixo do bordo. Este mamilo pode ter uma simples função decorativa, como pode ter a função de preensão do recipiente, detendo este último um alongamento do motivo plástico.

II

Desenho (esquemático)

Aplicação de botões ou pastilhas ao longo do recipiente, diferenciando-se dos mamilos descritos no tipo 1 pela sua morfologia: no que diz respeito ás dimensões é mais pequeno; detém uma morfologia perfeitamente circular, sendo a sua superfície superior plana .

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III

Organização de vários motivos decorativos centrados na aplicação de um cordão plástico junto ao bordo, ao longo do recipiente. Pontualmente, este cordão é reforçado ganhando a forma de mamilo de preensão. Ao longo do cordão plástico foram aplicadas impressões oblíquas, paralelas.

IV

Aplicação de cordão plástico no corpo do recipiente, horizontal em relação ao bordo, sobre o qual são aplicadas incisões verticais, paralelas.

V

Aplicação de múltiplos cordões plásticos, verticais em relação ao bordo.

Cerca de 50% dos fragmentos com decoração plástica pertencem a formas indeterminadas. Quando foi possível determinar a forma, as taças são os recipientes onde mais se aplica este tipo decorativo (23%), seguindo-se as formas fechadas (vasos e potes). Observou-se que os diâmetros das formas fechadas são maiores que o das formas abertas, remetendo para possíveis contentores de armazenagem com este tipo decorativo. No caso da decoração plástica com botões ou pastilhas (Tipo 2) verificou-se uma forma fechada – vaso, de pequenas dimensões.

1.2.3. Impressa

A variedade temática dos fragmentos de cerâmica com decoração impressa é pouco diversificada. Na maior parte dos casos, tratam-se de decorações compósitas, enquadrando-se os restantes fragmentos nos tipos abaixo descritos.

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Capítulo IV: Cultura material

Tipo

Descrição

I

Decoração impressa a punção sobre o corpo do recipiente. As perfurações visíveis são mais ou menos profundas, encontrando-se dispersas, sem organização.

II

Organização vertical (?) de impressões digitadas, havendo um repuxamento da pasta quando ainda fresca, provocando relevo na decoração.

Desenho (esquemático)

Os fragmentos de cerâmica impressa recolhida na Casa Branca 7 correspondem, na totalidade, a bojos, não sendo assim possível averiguar em que tipo de formas este grupo estilístico estaria representado.

1.2.4. Incisa

O grupo das cerâmicas incisas é o segundo mais bem representado na Casa Branca 7, sendo o mais variado ao nível das figurações temáticas. Tipo

I

Descrição

Desenho (esquemático)

Linhas incisas na vertical e na horizontal, pouco espessas e profundas, que ao cruzarem-se, esboçam grandes rectângulos na horizontal (cada um com cerca de 2 cm de largura e 1 cm de altura). As linhas incisas na horizontal não são contínuas, provocando a sua interrupção uma certa “desordem” no arranjo.

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Capítulo IV: Cultura material

II

Linhas incisas abaixo do bordo. Nos exemplares da Casa Branca 7 foram identificados vários fragmentos de cerâmica com esta temática, variando apenas no número de linhas aplicadas, havendo séries de duas linhas (como o exemplar apresentado) ou, apenas uma linha. As incisões variam na sua espessura.

III

Grupo de linhas incisas sobre o corpo do recipiente, sub-paralelas, espaçadas entre si cerca de 2mm.

IV

Organização de linhas paralelas abaixo do bordo, observando-se, já no colo do fragmento, linhas incisas curvas (circulares?)

V

Agrupamento de linhas incisas abaixo do bordo (duas?), a partir das quais partem linhas incisas na vertical, ao longo do recipiente.

VI

Organização de incisões sobre o colo do recipiente, que podem ser decompostas em três fases: 1. organização de linhas verticais, paralelas; 2. organização de quatro linhas horizontais, paralelas; 3. organização de linhas oblíquas, paralelas, que terminam junto ao conjunto de linhas horizontais. Neste caso é possível observar que o grupo 2 foi elaborado posteriormente ao grupo 3 – existem linhas oblíquas que ultrapassam as linhas horizontais, verificando-se que as últimas interrompem o traço das linhas oblíquas.

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Capítulo IV: Cultura material

VII

Incisão abaixo do bordo, na qual convergem agrupamentos de duas linhas incisas verticais, que se prolongam pelo colo do recipiente. Os agrupamentos de duas linhas incisas verticais distam entre si cerca de 2 cm.

Um dos traços comuns que se verificou

neste

conjunto

é

a

utilização das linhas incisas junto ao bordo, demarcando-o. No entanto, a grande parte dos fragmentos identificados com Fig. 15 – Relação bordos/ bojos com decoração incisa

este tipo de decoração pertencem a bojos, como se pode verificar pelo gráfico. Dos fragmentos de bordo que apresentam decoração incisa 43% pertencem a formas indeterminadas, 20% a taças, 17% a vasos e 10% a potes e a grandes recipientes de armazenagem.

1.2.5. Ungulada

Embora a decoração ungulada seja um tipo de decoração impressa, foi aqui distinguida pelo facto de estar cronologicamente bem demarcada9, aparecendo, por vezes, acompanhada por figurações que remetem para o sub-sistema simbólico destas comunidades10. Foram identificados quatro tipos distintos desta decoração. Veja-se:

9

Conforme Gonçalves atestou no Castro da Rotura, na camada IIIa (Gonçalves, 1971) e Cardoso, Carreira e Ferreira puderam constatar no povoado calcolítico da Penha Verde (Cardoso et alli, 1993: 35 – 38) 10 Facto atestado no povoado dos Perdigões (Lago et alli, 1997), confirmando o que anteriormente já se havia observado na Anta 1 do Olival de Pega (Leisner; Leisner, 1985). Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Tipo

Descrição

I

Organização de impressões unguladas, em forma de crescente, representadas na oblíqua, partindo imediatamente abaixo do bordo, espessado externamente.

II

Organização de impressões unguladas, em forma de crescente, que, aparentemente, convergem para o mesmo ponto, verificando-se linhas organizadas na oblíqua e linhas organizadas na horizontal.

Desenho (esquemático)

Organização de impressões unguladas, em forma de crescentes, aparentemente circulares, apontando para uma geometria concêntrica (?).

III

Organizações de impressões unguladas, em forma de crescente, dispostas na vertical, apontando as extremidades deste segmento de circulo para o fundo do recipiente. Este padrão encontra-se abaixo de um conjunto de linha incisas (aparentemente quatro).

IV

Apenas um fragmento deste tipo decorativo apresentava bordo, remetendo para a forma de vaso.

1.3.

Outros artefactos cerâmicos

1.3.1.

Pesos de tear

No decorrer da intervenção arqueológica na Casa Branca 7 recolheram-se 21 fragmentos de pesos de tear. Destes fragmentos, 16 correspondem a partes mesiais da peça, enquanto que as restantes 5 correspondem ás extremidades perfuradas. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Apenas 10 fragmentos foram recolhidos em contexto de Cabanas, sendo os restantes 11 exumados em áreas exteriores às estruturas, nalguns casos, com fortes perturbações pós-deposicionais (Capítulo II, ponto 3.1). A análise da totalidade deste conjunto (21 fragmentos) permitiu a identificação de apenas um grupo tipológico, segundo a seriação tipológica realizada por Valera relativamente aos pesos de tear recolhidos no povoado dos Perdigões (Lago et alli, 1998:102). O grupo tipológico identificado pertence aos pesos em forma de crescente, de secção circular, sub circular ou ovalada. As suas espessuras podem variar entre 1 e 2 cm. Tal como o descrito para o povoado dos Perdigões, este tipo pode “[…] apresentar uma curvatura muito acentuada, em U, ou mais aberta […]”(Lago et alli, 1998:102). Também neste tipo foi identificada apenas uma perfuração nas extremidades. Não foram identificados pesos de tear decorados. A pergunta “que função para estes objectos?” já encontrou a sua resposta. São sem dúvida, elementos de tecelagem. Qual a sua função neste processo é que parece ser discutível. Estes elementos têm sido apontados como um dos indicadores da “Revolução dos Produtos Secundários” (Gonçalves, 1989), o que enquadra o seu aparecimento no Final do Neolítico, inícios do Calcolítico. O valor cronológico destes artefactos voltará a ser abordado num capítulo posterior. 1.3.2.

“Queijeiras”

O grupo formal dos “cinchos” ou “queijeiras” está também presente neste sítio arqueológico . Os fragmentos registados são de dimensões reduzidas, sendo igualmente reduzido a quantidade em que aparecem (4). Não foram registados bordos, não sendo assim possível integrá-los num grupo tipológico (mangas abertas, formas cilíndricas ou fechadas). Constatou-se que não existe diferenciação nem nas dimensões, nem na morfologia das perfurações, que atingem 2 mm de diâmetro, detendo uma morfologia entre as cilindróide e as trococónicas.

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Capítulo IV: Cultura material

Tal como foi já referido em trabalhos anteriores, as perfurações foram executadas do exterior para o interior, apresentando uma superfície externa alisada, contrastando com a superfície interna, bastante rugosa. (Gonçalves, 1989: 146-147)

2. Indústria Lítica

2.1. Pedra Polida

Os critérios usados na sistematização da pedra polida da Casa Branca 7 seguiram a metodologia avançada por António Carlos Valera. Deste modo, entende-se por pedra polida todos os artefactos que se enquadram no grupo dos machados, enxós, cunhas, martelos, escopros e goivas, excluindo-se deste modo, os artefactos relacionados com actividades de moagem (Valera, 1997: 115). Os aspectos descritivos visados na análise destes elementos, para além dos dados de proveniência, foram os seguintes: dimensões, secção longitudinal, secção transversal, polimento, bordos, gume, estado do gume, talão e presença/ ausência de fixação. Os parâmetros descritivos de cada um destes critérios foram executados conforme a tabela de sistematização de Valera (Valera, 1997: 17). A indústria de pedra polida da Casa Branca 7 é constituída por oito utensílios, tipologicamente distintos. Identificaram-se machados (3), enxós (2), martelo (1) e fragmentos de utensílios indeterminados (2). As matérias-primas utilizadas na sua execução foram a anfibolite, o xisto verde, o metagabro e o grauvaque. Estas matérias-primas, à excepção do grauvaque encontram-se disponíveis na área imediata do povoado. Assim, podemos encontrar o “xisto verde” na unidade geológica da Serrinha, a anfibolite na “Unidade da Herdade do Peixoto” e o metagabro na “Unidade dos Navegados” (ver capítulo II). O grauvaque pode ter chegado ao povoado sob a forma de clastos rolados recolhidos nos terraços do Guadiana.

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Capítulo IV: Cultura material

Pedra Polida Quadro relação categoria tecnológica/ matéria-prima “xisto anfibolite metagabro grauvaque verde” Machado 1 1 Enxó

2

-

-

-

Martelo

-

-

1

-

Indeterminada

1

1

-

1

2.1.1. Machados

Como é possível verificar pela figura 22, as matérias-primas seleccionadas para a elaboração dos machados foram o xisto verde e o metagabro. As dimensões médias para o comprimento máximo destes objectos são: 10cm, a média da largura máxima de 54 cm. As secções transversais verificadas são de morfologia elíptica, sendo as secções longitudinais convergentes no gume ou convergentes no talão. No que respeita ao polimento destas peças, verificamos que o machado elaborado sobre “xisto verde” encontra-se totalmente polido, enquanto que o machado em metagabro detém polimento apenas no gume. Provavelmente, esta diferença está relacionada com os condicionalismos da matéria-prima: sendo o metagabro uma rocha mais dura, implicava um dispêndio de tempo mais elevado no tratamento da sua superfície. Em ambos os machados está ausente indícios de fixação.

2.1.2. Enxós

A anfibolite foi a matéria-prima seleccionada para a execução das enxós da Casa Branca 7. Os dois exemplares identificados encontram-se fragmentados, estando presente apenas a zona do gume. Desta forma, as dimensões retiradas dizem respeito apenas ao comprimento, largura e espessura do gume. Apesar de incompletos facilmente se percebe as suas distintas dimensões.

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Capítulo IV: Cultura material

A tabela ao abaixo (Fig. 23) representa a largura máxima do gume (LGM) e a espessura máxima do gume (EMG), dos dois exemplares. Como se pode verificar, o exemplar identificado com número L2440 apresenta dimensões que rondam a metade do exemplar L2436. Possivelmente, esta diferença é de carácter funcional.

Fig. 216– Dispersão de índices de espessura e largura das enxós da Casa Branca 7

As áreas dos gumes destes fragmentos encontram-se totalmente polidas, encontrando-se o gume praticamente intacto, com ligeiros sinais de uso. A linha do gume apresenta-se convexa dissimétrica.

2.1.3. Martelos

Na Casa Branca 7 foi recolhido apenas um exemplar desta categoria tecnológica, tendo sido elaborado sob um lingote de metagabro. A funcionalidade deste grupo de artefactos Gonçalves afirma “(…) haverá a dizer que não têm que ver com a mineração, não se tratando efectivamente de martelos de mineiro. A sua robustez, tanto absoluta como a que resulta da leitura do índice de espessamento, indica função específica, traduzida aliás no estado do gume” (Gonçalves, 1989: 221). O martelo aqui analisado apresenta dimensões gerais bastante robustas (Cm – 8, 5 cm; Lm – 6, 6 cm; Em – 4, 5 cm11), detendo um perfil transversal sub-quadrangular e um perfil longitudinal biconvexo. O polimento é parcial, detendo o gume intensos sinais 11

Cm – Comprimento máximo; Lm – Largura máxima; Em – Espessura máxima) Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

42

Capítulo IV: Cultura material

de uso. A observação de duas linhas picotadas no talão, prolongado-se pelo flanco do martelo, pressupõe a presença de fixação.

2.1.4. Indeterminados

Foram identificados três utensílios de pedra polida, cuja morfologia não permitiu integrá-los com segurança em nenhuma categoria tecnológica Não obstante, os três apresentam características morfológicas distintas que permitem afirmar com certeza, que se tratam de elementos com funcionalidades distintas. Distinguindo-os pela matéria-prima o utensílio manufacturado sobre grauvaque, que se encontra inteiro, apresenta uma morfologia oval e uma secção transversal elíptica. As superfícies encontram-se abrasionadas. Possivelmente poderá tratar-se de um polidor, embora se deva encarar com algumas reservas esta classificação, optandose assim, por integra-lo no campo dos objectos indeterminados. O fragmento em “xisto verde” é um talão de um instrumento indeterminado, mas de dimensões reduzidas, equivalente às reproduzidas na enxó acima descrita (L2440). Este talão apresenta-se pontiagudo, parcialmente fracturado, encontrando-se totalmente polido. O fragmento elaborado em anfibolite trata-se provavelmente, de um de machado. As superfícies não se encontram polidas.

2.2. Pedra afeiçoada

2.2.1. Percutores

Foram identificados 22 percutores distribuídos pelas duas áreas intervencionadas na Casa Branca 7. As matérias-primas seleccionadas para esta função foram quase exclusivamente o Fig 17 – Matérias-primas seleccionadas para percutor Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

43

Capítulo IV: Cultura material

quartzo e quartzito, havendo apenas um exemplar sob uma matéria-prima que não foi identificada.

2.2.1. Outros Introduziu-se nesta categoria “artificial” os elementos que estão “menos presentes” nas descrições artefactuais doutros contextos, mas que merecem aqui ser referidos. Outro factor para esta diferenciação e talvez a principal é a falta de uma tabela tipológica de enquadramento dos mesmos. Um dos elementos que aqui importa diferenciar são os pequenos discos sob quartzito, de bordo irregulares que foram integrados na categoria formal denominada por Vítor Gonçalves de “tampas” (Gonçalves, 1989: 145). Embora apareçam no Cerro do Castelo do Corte João Marques e no Cerro do Castelo de Santa Justa elaborados exclusivamente em existo, a descrição que Gonçalves faz destes elementos remete imediatamente para os discos em quartzito da Casa Branca 7: “[…] laje […] desbastada com golpes desferidos abruptamente, determinando uma forma de disco com bordos geralmente irregulares.” (Gonçalves, 1989: 145). Outro artefacto enquadrado nesta “categoria” é uma placa de quartzito, fracturada, que apresenta uma superfície alisada. Não foi detectado qualquer paralelo para este artefacto, nem lhe é atribuída qualquer funcionalidade.

2.3. Pedra Lascada

No que concerne à indústria de pedra lascada da Casa Branca 7 o quartzo é a matéria-prima predominante em toda a colecção, representando 74.9%, seguindo-se-lhe o quartzito, apenas com 19.4%. As restantes matérias-primas identificadas – chert, lidito, jaspe, opala e sílex, têm um carácter meramente residual em toda a colecção, estando reservadas apenas para a elaboração de utensílios formais. Todas as matérias-primas acima descritas, à excepção do sílex, encontram-se disponíveis numa área próxima do povoado. Deste modo, o quartzo e o quartzito são facilmente detectáveis no leito da Ribeira do Enxoé, curso de água mais próximo do sítio. Tanto o chert como o lidito, registam-se nas imediações do sítio: na “Unidade da Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

44

Capítulo IV: Cultura material

Ribeira do Enxoé” e na “Unidade da Herdade do Peixoto”, respectivamente. A opala , utilizada apenas num fragmento de lâmina pode ocorrer na unidade geológica da “Sra. da Guadalupe”. O número reduzido de utensílios em sílex, assim como as reduzidas dimensões dos mesmos, faz supor que esta matéria terá sido recolhida sob a forma de clastos nos depósitos dos terraços fluviais do Guadiana, excluindo-se à partida, a hipótese de terem sido recolhidos em áreas supra-regionais ou de ali terem chegado através de “trocas comerciais”. A indústria de pedra lascada na Casa Branca 7 (Área 1 e 2) encontra-se brevemente descrita nos seguintes quadros:

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

45

Capítulo IV: Cultura material

Área 1 Quadro relação categoria tecnológica/ matéria-prima Quartzo Quartzito

Quartzo- Chert hialino

Xisto

Outras Total

Produtos de Debitagem Lascas corticais

3

5

-

-

-

-

8

Lascas semi-corticais (> 50% córtex) Lascas semi-corticais (< 50% córtex) Lascas não corticais

7

7

-

-

-

1

15

13

12

-

-

2

2

29

50

12

-

-

2

4

68

Lâminas

-

-

-

5

-

4

9

Lamelas

-

-

1

3

1

-

5

Seixo rolado

-

11

-

-

-

-

11

Seixo/ bloco testado

8

2

-

-

-

-

10

Esboço de núcleo

1

1

-

-

-

-

2

Seixo/ bloco talhe unifacial

5

4

-

-

-

-

9

Seixo/ bloco talhe bifacial

1

2

-

-

1

-

4

9

2

-

-

1

-

12

3

-

-

-

-

-

3

Núcleo prismático

3

-

-

-

-

-

3

Núcleo bipolar

-

-

1

-

-

-

1

Núcleo sobre lasca

1

-

-

-

-

-

1

Flanco

-

1

-

-

-

-

1

Núcleo esgotado

4

-

-

-

1

-

5

Fragmento de núcleo

1

1

-

-

-

-

2

Acidentes de Siret

9

9

-

-

-

-

18

Fragmentos de lasca

19

8

-

-

-

2

29

Esquírolas

56

7

-

1

1

-

65

Resíduos de talhe

183

29

1

-

-

-

213

376

113

3

9

9

13

523

Núcleos

Núcleo sup. debitagem organizada Núcleo centrípeto

não

Resíduos de talhe

TOTAL GERAL

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Área 2 Quadro relação categoria tecnológica/ matéria-prima Quartzo Quartzito

Quartzo- Chert hialino

Xisto

Outras Total

Produtos de Debitagem Lascas corticais

36

16

1

-

-

2

55

Lascas semi-corticais (> 50% córtex) Lascas semi-corticais (< 50% córtex) Lascas não corticais

44

28

-

1

-

-

73

65

43

-

1

1

1

111

175

46

3

3

6

6

239

Lâminas

-

-

-

14

-

-

14

Lamelas

1

-

1

3

1

-

6

Seixo/ bloco testado

19

4

-

-

-

-

23

Seixo/ bloco talhe unifacial

6

3

-

-

-

-

9

Seixo/ bloco talhe bifacial

2

1

-

-

-

-

3

4

11

-

-

-

-

15

1

4

-

1

-

-

6

Núcleo prismático

1

4

-

1

-

-

6

Núcleo bipolar

-

1

-

-

-

-

1

Núcleo sobre lasca

1

2

-

-

-

-

3

Flanco

1

2

-

-

-

-

3

Núcleo esgotado

-

3

-

-

-

-

3

Fragmento de núcleo

7

10

-

-

-

17

Acidentes de Siret

36

46

-

-

-

-

82

Fragmentos de lasca

22

60

2

-

-

3

87

Esquírolas

23

187

2

1

1

1

215

Resíduos de talhe

48

517

2

3

3

4

577

492

988

11

28

12

17

1548

Núcleos

Núcleo sup. debitagem organizada Núcleo centrípeto

não

Resíduos de talhe

TOTAL GERAL

2.3.1. Lâminas

Foram recolhidas 24 lâminas na Casa Branca 7, tendo-se distinguido quatro matérias-primas distintas, sendo elas, o chert, o sílex, a opala, e o lidito. A matéria-prima melhor representada neste conjunto é o chert, com 18 fragmentos de lâminas, seguindo-se o lidito, embora menos representado, existindo apenas 4 fragmentos. As restantes matérias-primas - opala e sílex, aparecem em número residual, havendo apenas um fragmento de lâmina de cada uma delas. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

O padrão de fracturação destes exemplares demonstrou a superioridade de fragmentos mesiais e proximais, cada um com 10 exemplares, e um número menor de fragmentos distais (3). Apenas uma lâmina em chert foi recolhida inteira.

Quadro de matérias-primas Exemplares

Chert

Lidito

Sílex

Opala

Peça distal

1

2

-

-

Peça mesial

8

2

-

-

Peça proximal

8

-

1

1

Completo

1

-

-

-

18

4

1

1

TOTAL

Deste modo, o tratamento estatístico das medidas diz respeito exclusivamente à espessura e largura.

Dimensões médias das lâminas

Chert

Largura (mm) 14, 18

Espessura (mm) 4, 79

Lidito

15, 19

4, 63

Sílex

13, 72

3, 45

Opala

13, 82

2, 95

Matéria - prima

Os valores acima apresentados para a indústria laminar da Casa Branca 7 encontram-se perfeitamente enquadrados nos valores obtidos noutros contextos do Neolítico Final/ Calcolítico do Sul de Portugal, especificando-se concretamente o estudo realizado para a indústria lítica do Monumento Funerário1 dos Perdigões (Carvalho, 1998: 130). Verifica-se o predomínio das lâminas com secção transversal trapezoidal, embora se tenha registado um conjunto com secção triangular. Os perfis são na maioria rectos, verificando-se de igual forma, peças com arqueamento, observados, principalmente, nas peças distais. No universo das lâminas da Casa Branca 7 constatou-se a presença de retoque em 65% do conjunto, sendo uma percentagem relativamente elevada (15 retocadas, 8 não retocadas).

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Capítulo IV: Cultura material

A morfometria das lâminas da Casa Branca 7 remete para uma tecnologia de talhe por pressão ou percussão indirecta. A obtenção de lâminas de grande amplitude deverá ser remetida para uma estratégia de uso de “alavancas compressoras” (Carvalho, 1998: 130), não se tendo verificado no sítio estudado.

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

49

Capítulo IV: Cultura material

2.3.2. Pontas de seta

Na Casa Branca 7 foram identificadas nove pontas de seta. Praticamente todas elas apresentam a sua morfologia original, à excepção de um fragmento distal e de um outro fragmento mesial. As matérias-primas identificadas na sua elaboração foram as seguintes: chert, quarzto, quarztito e uma matéria-prima indeterminada, identificada num fragmento mesial de ponta de seta. A classificação das pontas de seta foi efectuada considerando a sua base. Deste modo, foram identificadas pontas de seta de base côncava, de base côncava com aletas, de base triangular invertida e, por último de base recta .

Quadro tipo/ matéria-prima Tipos de base

Chert

Base concava

3

-

-

Base concava com aletas

1

-

-

Base triangular invertida

-

-

1

Base recta

1

1

-

5

1

1

TOTAL

Quartzo Quartzito

O número reduzido da amostra não permite reconhecer um padrão de escolha de uma matéria-prima específica, para cada um dos grupos tipológicos. Salienta-se apenas o predomínio do chert que pelas suas características, semelhantes às do sílex, e pela sua disponibilidade na área envolvente ao povoado foi amplamente utilizado. Quantos aos suportes foram reconhecidos dois tipos: suporte laminar e sobre lasca. Os bordos são rectos e as secções longitudinais variam conforme o suporte que é utilizado: quando são utilizadas lascas como suporte, as secções são rectas; quando se observa um suporte laminar, as secções tendem para o côncavo. As suas dimensões médias (comprimento x largura ao nivela da base X espessura) são as seguintes:

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Capítulo IV: Cultura material

Quadro dimensões médias das pontas de seta Matéria-prima Chert

Comp. x Larg. Espessura (mm) (mm) 26, 09 x 14, 54 2, 91

Quartzo

18,70 x 13, 89

2, 57

Quartzito

18, 69 x 13, 35

3, 87

Como se pode verificar o índice de espessuras é muito semelhante em todos os exemplares, sendo o índice de alongamento mais distinto: as pontas de seta em chert apresentam alongamentos mais elevados. Reconhece-se o retoque recobridor em seis exemplares, retoque marginal numa única ponta de seta e uma outra sem retoque (quartzito).

2.3.3. Furadores

Foram identificados dois furadores na Casa Branca 7. As matérias-primas seleccionadas foram o chert e o sílex. Em ambos os casos o suporte é laminar. Reconheceu-se o retoque bifacial e directo, invasor e cobridor. O exemplar em chert apresenta marcas de uso.

2.3.4. Denticulados/ Elementos de foice

Os denticulados / elementos de foice recolhidos na Casa Branca 7 foram elaborados sobre lasca, utilizando como suporte exclusivamente o chert. Estes elementos caracterizam-se pela aplicação de entalhes em sequência sobre a lasca.

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51

Capítulo IV: Cultura material

2.3.5. Material de debitagem

Na análise aos produtos de debitagem da Casa Branca 7 reconheceu-se

a

escolha

preferencial do quartzo como matéria-prima – atestada pelos números patentes no quadro ao lado. Esta sobrevalorização do quartzo

remete

para

uma

possível escolha cultural desta Fig. 18 – Matériaprima

matéria-prima.

O número elevado de esquírolas e de resíduos de talhe em quartzo representam não só uma característica intrínseca da transformação desta matéria-prima, mas também atesta a produção de utensílios no próprio local. Tal facto coaduna-se com a presença de diversas morfologias de núcleos, salientando-se a presença de núcleos prismáticos. No que diz respeito aos produtos de debitagem predominam as lascas não corticais. Está assim atestada toda a cadeia operatória do quartzo na Casa Branca 7. Estas mesmas características estão patentes tanto nos núcleos como nos produtos de debitagem em quartzito, salientando-se a utilização desta matéria-prima para a elaboração de entalhes e lascas retocadas. A quase ausência de utensílios formais em quartzo e em quartzito, parece indicar que as lascas não transformadas poderiam ser utilizadas como utensílios. Denota-se ainda a inexistência de produtos de debitagem em chert, matériaprima predominante na elaboração dos utensílios formais. Esta ausência poderá significar que, ou estes produtos chegavam até ao povoado sobre a forma de “produto acabado”, ou então, haveria áreas especializadas para o talhe desta matéria-prima que não foram reconhecidas na área de intervenção. Reforça-se mais uma vez o facto de o chert é uma matéria-prima disponível no local.

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Capítulo IV: Cultura material

3. “Sagrado” Em praticamente todos os povoados calcolíticos surgem artefactos que não estão relacionados com a vivência puramente material do povoado. O escasso número destes artefactos em contexto de habitat não permite muitas vezes reconhecer a função que estes exerciam no seu interior. Ana Catarina Sousa, 1998: 130

Aproveitando a citação escolhida para iniciar este tema, será caso para dizer que a Casa Branca 7 não é excepção. De facto, foi identificado um artefacto relacionado com o mundo “simbólico”, excepcional não só pela sua tipologia, mas também pelas condições do seu achado. Ao nível formal, pode-se dizer que se trata de um ídolo-placa em cerâmica com a representação do olho raiado da figuração genericamente denominada de “Deusa Mãe” calcolítica. Esta figuração, relativamente comum nos ídolos de calcário da Península de Lisboa, das placas de xisto megalíticas, ou dos ídolos-falange, raramente aparece, em contextos de habitat, representada sob suportes cerâmicos. Embora seja conhecida a sua reprodução em recipientes, como é o caso da Sala nº1 (Gonçalves, 1987:14), o único ídolo-placa em cerâmica registado até ao momento, é o exemplar do Alto do Montijo, na Península de Lisboa (Sousa, 1998: 131). No entanto, assinalam-se grandes diferenças entre este exemplar e o recolhido na Casa Branca 7. O ídolo do Alto do Montijo é descrito por Ana Catarina Sousa da seguinte forma “[…] pequena placa paralelepipédica com tatuagens faciais” (Sousa, 198: 131). O ídolo da Casa Branca 7 é um fragmento de placa, que pode ser decomposta em três zonas distintas (Pascual Benito, 1998): a. zona superior, onde se observa a representação da “sobrancelha” como é vulgarmente designada; esta zona superior está claramente representada em relevo, destacada, assumindo uma forma curva; b. zona ocular, em que o olho aparece, não com a forma vulgar de círculo, mas sim com uma forma amendoada, raiado por linhas incisas sub-paralelas; nesta zona é ainda possível observar a representação da pupila em baixo-relevo;

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Capítulo IV: Cultura material

c. zona inferior, imediatamente abaixo do olho, com duas linhas, no mínimo, incisas, paralelas entre si, interpretadas como “tatuagens faciais”. Os motivos oculados são amplamente conhecidos no Sudoeste peninsular, aparecendo com maior frequência em contextos de necrópole, reconhecendo-se diferentes matérias-primas utilizadas como suporte. Estes motivos estão igualmente identificados na arte rupestre esquemática, cujo estudo permitiu diferenciar geograficamente algumas características destas figurações: “[…]los del este y sudeste se caracterizan por un mayor acusamiento de las líneas infraoculares y la indicación en algunos de las líneas en zig-zag; en la cuenca media del Guadiana se concede mayor importancia a los arcos superciliares [...]” (Pascual Benito, 1998: 183). O exemplar da Casa Branca 7 enquadra-se no último sub-tipo referido, não só em termos de representação, mas também no que se refere ao enquadramento geográfico, espelhando assim, uma característica regional. Salienta-se ainda a excepcionalidade das condições do seu achado: 1. um dos fragmentos foi exumado na Cabana 1 abaixo da E3; 2. o outro foi identificado abaixo da estrutura de combustão da Cabana 2, junto ao afloramento. Isto significa que os dois fragmentos, distantes um do outro em cerca 40 m remontavam, embora se posicionassem estratigraficamente abaixo de estruturas distintas, impossibilitando a hipótese de um qualquer fenómeno pós-deposicional os ter afastado. Voltando à citação inicial, não se reconhece a função deste artefacto, neste contexto de habitat, embora a designação de “ritual” pareça indicada para explicar esta ocorrência. Esta é uma questão que se deixa em aberto. Foi identificado ainda um recipiente em cerâmica – vaso, com o tipo de decoração que se tem relacionado com o subsistema “simbólico” desta comunidades. Esta decoração compósita apresenta-se organizada a partir do bordo, ligeiramente exvertido, sendo realizada no colo uma canelura em torno do recipiente. É a partir desta canelura que partem os dois triângulos invertidos visíveis, não havendo contacto entre estes e a incisão que demarca o bordo. Um dos triângulos está definido por duas linhas incisas, que não se tocam no vértice inferior. O preenchimento deste triângulo é efectuado com recurso a punção fino. Não existe organização neste preenchimento, sendo assim, aleatório. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

O outro triângulo visível tem uma composição mais complexa. A linha da base é, mais uma vez, a canelura que demarca o bordo do colo do recipiente, partindo daqui quatro linhas incisas nos dois lados restantes. No entanto apenas as linhas exteriores completam um triângulo invertido, denotando-se um certo descuido nesta composição. Os triângulos internos encontram-se desorganizados, sendo que cada par de linhas incisas não se completa. O último “triângulo” interno define a área de preenchimento de um ponteado a punção, também fino. Neste recipiente encontra-se ainda uma perfuração, provavelmente, para suspensão. Não foram identificados paralelos directos para esta composição, registando-se apenas a temática dos triângulos invertidos em diversos contextos do Sudoeste peninsular (povoado dos Perdigões, antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz, Sala nº1 ou Santa Justa).

4. Objectos de Adorno

Foram exumados dois objectos de adorno na Casa Branca 7. Ambos pertencem à categoria formal das contas discóides, cuja definição se pode resumir da seguinte forma: “objecto de forma discoidal com pequeña perforación central, facetado por entero sobre diversas matérias, cuyo diâmetro es generalmente inferior a 10 mm no superando los 30 mm y siempre mayor que su espesor” (Pascual Benito, 1998:115). A matéria-prima sobre a qual estas contas foram elaboradas foi a anfibolite, rocha que se encontra nas imediações do sítio arqueológico. Este grupo formal de contas está bem documentado nos contextos pré-históricos do Sul de Portugal, sendo frequentemente identificados em contextos de necrópole.

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Capítulo IV: Cultura material

5. Artefactos em osso

No decorrer da intervenção arqueológica na Casa Branca 7 foram recolhidos três artefactos em osso, encontrando-se dois destes elementos intactos, estando o terceiro fragmentando. A integração tipológica destes materiais, assim como as hipóteses avançadas para a sua funcionalidade tiveram por base o trabalho publicado por Clara Salvado (Salvado, 2004). A análise morfológica dos ossos trabalhados remeteram para a utilização de diáfises de animais de grande porte, como suporte. Devido ao intenso polimento observado, não foi possível distinguir qual o osso e qual a espécie animal utilizada. No caso do exemplar fragmentado, não foi possível chegar a qualquer conclusão (Costa, Anexo V). Distinguiram-se dois grupos tipológicos e funcionais nos três exemplares exumados. O primeiro corresponde ao grupo tipológico que Salvado designa por “cilindros sem perfuração” (Salvado, 2004: 53). Este grupo é tecnologicamente elaborado através do desbaste e polimento das superfícies do osso, até ganhar uma forma cilíndrica. Neste objecto não é executada qualquer perfuração ou decoração. Segundo esta autora, não é possível averiguar nenhuma função para este objecto, sendo assim integrado na categoria dos artefactos “simbólicos”. No seu trabalho, vocacionado apenas para a área geográfica da Península de Lisboa, Salvado invoca os exemplares de Vila Nova de São Pedro, estabelecendo um paralelismo entre este grupo tipológico e o grupo dos ídolos cilíndricos de calcário. O segundo grupo identificado foi integrado na categoria dos artefactos “pontiagudos indeterminados” (Salvado, 2004: 89). Segundo a autora já citada, a principal característica deste tipo é a presença de uma “[…]zona distal pontiaguda ou uma zona mesial que sugere continuação pontiaguda pela orientação dos bordos […]” (Salvado, 2004: 89). Enquadram-se neste tipo os outros dois artefactos supra citados. Para este grupo, Salvado atribui uma série de prováveis funções: agulha, furador ou objecto empregue na decoração de cerâmica (Salvado, 2004: 89)

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Capítulo IV: Cultura material

6. Fauna mamalógica

O processo de recolha da fauna mamalógica na Casa Branca 7 foi executado seguindo o princípio de que todos os fragmentos de osso, em todas as quadrículas intervencionadas, assim como de todas as camadas e níveis artificiais devem ser registados e devidamente acondicionados. Durante a fase de sondagens arqueológicas procedeu-se ao registo tridimensional de todos os fragmentos que apresentassem alguma particularidade que os permitisse identificar. Na fase de escavação em área, a fauna mamalógica foi recolhida por quadrantes. Em laboratório procedeu-se à limpeza de todos os restos, realizando-se de seguida, o seu inventário. O estudo da fauna mamalógica da Casa Branca 7 foi executado pela Dra. Cláudia Costa, cujo relatório de síntese encontra-se anexo a este trabalho (ver Anexo V). Neste estudo a autora realiza uma descrição detalhada dos taxa identificados, tecendo

as

considerações

paloeconómicas

e

paleoambientais

possíveis.

São

precisamente estes dois últimos pontos que se foca neste capítulo, pretendendo-se articular os resultados obtidos nesta estação, com os estudos realizados noutras estações arqueológicas da margem esquerda do Guadiana, enquadráveis no espectro cronológico da Casa Branca 7. Deste modo, do conjunto faunístico recolhido na Casa Branca 7 há que salientar o facto da maioria dos fragmentos pertencerem a esquírolas de osso inferiores a 2 cm (Costa, Anexo V). O elevado grau de fragmentação dos ossos parece estar correlacionado com uma actividade antrópica de aproveitamento dos restos faunísticos, já que o ambiente sedimentar de ph básico é favorável à conservação dos mesmos. Sobre este ponto Costa afirma: “[…]a presença de determinadas partes anatómicas caracterizadas por uma estrutura óssea mais consistente, em detrimento de outras, mais frágeis do ponto de vista da conservação, tenha origem na utilização dos restos ósseos pelo homem” (Costa, Anexo V). Esta característica não é exclusiva da Casa Branca 7 ocorrendo o mesmo fenómeno noutros contextos pré-históricos, nomeadamente na Igreja Velha de São Jorge (Vila Verde de Ficalho) (Cardoso, 1994:54), no Moinho de Valadares e no Monte do Tosco (Mourão) (Valera, 2006: 171). João Luís Cardoso no estudo que efectuou da fauna da camada 4 da Igreja Velha de São Jorge, datada por radiocarbono da 2ª metade do 4º milénio cal BC, admite que “[…] a grande generalidade de esquírolas relaciona-se Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

57

Capítulo IV: Cultura material

com a preparação de cozidos, única técnica culinária que permitiria o aproveitamento adequado da medula óssea […]” (Cardoso, 1994:54). Por outro lado, o estudo comparado da fauna recolhida no Moinho de Valadares e no Monte do Tosco (muito fragmentada), com a fauna do Mercador (bem conservada) permite a António Carlos Valera afirmar que se trata de uma diferença “[…] de natureza tafonómica, na medida em que a grande maioria da fauna recuperada no Mercador é proveniente de fossas, enquanto que, nestes últimos dois contextos [Moinho de Valadares, Monte do Tosco], as faunas registadas se encontram dispersas nos depósitos de ocupação” (Valera, 2005: 171). No que respeita aos restos faunísticos identificáveis da Casa Branca 7 constatase a presença das seguintes espécies de mamíferos de grande e médio porte: Bos taurus e Bos sp, Ovis/ Capra, Sus sp, Cervus elaphus e Equus caballus (Costa, Anexo V). Uma característica que prevalece em todos eles, e que é fundamental nesta colecção é o abate da maioria dos animais em idade adulta. Este facto tem especial importância se considerarmos que as espécies domésticas estão melhor representadas em número do que as selvagens, que apresentam uma maior variabilidade nas espécies. Assim, as espécies domésticas presentes na Casa Branca 7 são Ovis/ Capra e o Bos taurus. A correlação destes dados (animais domésticos abatidos em idade adulta) com o restante espólio da estação, nomeadamente os “cinchos” ou “queijeiras” e pesos de tear, remete para um ambiente sócio-económico de aproveitamento dos produtos secundários dos animais (leite, lã, etc), afastando para segundo plano a exploração da carne. A predominância do boi doméstico em relação aos restos indeterminados desta espécie parece estar em conexão com o cenário esboçado, embora esta seja uma conclusão que deve ser encarada com reservas “[…] os bois domésticos são mais numerosos que os exemplares de bovinos não determinados, se bem que a diferença numérica entre ambos não seja muito significativa” (Costa, Anexo V). No entanto, os resto identificados de Bos sp pertencem a animais também abatidos em idade adulta – “[…]A observação dos caracteres etários demonstrou que todos os elementos deste género correspondem a animais adultos, não se tendo identificado ossos pertencentes a indivíduos jovens ou sub adultos” (Costa, Anexo V). Considerando estes dados surge a hipótese do aproveitamento da força animal para tracção, embora, como já foi dito anteriormente, os dados estatísticos não são suficientemente seguros para se retirar de imediato

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Capítulo IV: Cultura material

conclusões desta natureza. Não obstante, deve-se admitir uma inclinação para este cenário. As espécies caçadas, como já se referiu, são mais variáveis reconhecendo-se o coelho e a lebre, o veado, o cavalo e ainda o cágado “A criação de gado bovino e ovino/ caprino seria complementada pela caça a animais de pequeno porte como o coelho e a lebre e, pontualmente, ao veado e cavalo. A captura de cágado está também documentada e a marca de fogo que um dos fragmentos exibe mostra o eventual aproveitamento deste animal na alimentação” (Costa, Anexo V). Completamente distinto é o que João Luís Cardoso propõe para a ocupação da Igreja Velha de São Jorge “A relação espécies domésticas – espécies caçadas sugere uma comunidade ainda pouco fixada ao território, cujas bases de subsistência se baseariam, essencialmente, na actividade cinegética e no pastoreio de ovinos e caprinos” (Cardoso, 1994:54). António Carlos Valera encara com alguma reserva os dados faunísticos do Moinho de Valadares e Monte do Tosco, já que “[…] os restos faunísticos recuperados são relativamente escassos, não permitindo análises estatísticas consequentes ou conclusões de grande significado” (Valera, 2006:171). No entanto, refere-se a predominância das espécies caçadas no Moinho de Valadares e, apesar de serem dados frágeis, é exposto o aproveitamento da pastorícia em detrimento da caça no Monte do Tosco, afirmando-se que “[…] a valorização quantitativa destes dados é desaconselhável” (Valera, 2006: 171). No entanto, a presença de queijeiras, ainda que diminuta, nestes contextos permitem ao autor afirmar que “Em ambos os contextos existem evidências de exploração de produtos secundários alimentares […]” (Valera, 2006: 171). Perante o quadro acima descrito, surgem algumas hipóteses quanto às diferenças faunísticas dos sítios acima referidos, sendo esta uma discussão que será retomada adiante, uma vez que interessa discutir cronologias, não sendo este o assunto primordial deste capítulo. Neste ponto e em jeito de conclusão, interessa demarcar que na Casa Branca 7 as actividades pastoris associam-se com certeza à caça, havendo um aproveitamento dos produtos secundários alimentares e, provavelmente, o aproveitamento da tracção animal para fins agrícolas. Um modelo desta natureza pressupõe uma comunidade sedentária,

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Capítulo IV: Cultura material

com uma economia de produção de excedentes, ou seja uma comunidade pós “Revolução dos Produtos Secundários” (Sherrat, 1981). As espécies identificadas indicam um paleoambiente muito semelhante ao que existe actualmente naquela área (Costa, Anexo V), facto já anteriormente averiguado por João Luís Cardoso no estudo sobre a Igreja Velha de São Jorge, situada a poucos km da Casa Branca 7: “ […] a existência de um biótopo idêntico ao actualmente existente na zona” (Cardoso, 1994:54).

7.

Espaços e Funções: dispersão espacial dos artefactos “[…] há sempre uma possibilidade de, a partir das relações entre artefactos, artefactos e estruturas e da sua dispersão espacial, se tentar chegar a algumas interpretações ou, pelo menos, enunciar tendências perceptíveis nesse registo arqueológico.” António Valera, 1997: 128

O principal objectivo deste exercício foi a tentativa de uma reconstituição dos espaços de habitat da Casa Branca 7, tentando apreender uma eventual organização da parte do povoado intervencionada. Para alcançar este objectivo, efectuaram-se gráficos de superfície para a Área 1 e Área 2, divididos conforme a grelha utilizada em escavação. Incidiu-se inicialmente na cerâmica (sem diferenciação de formas) e na pedra lascada (sem diferenciação de utensílios/ categoria tecnológica), focando-se apenas a camada 1. Estes três elementos – cerâmica, pedra lascada e camada 1, são os componentes que predominam no registo arqueológico da Casa Branca 7, sendo aqueles que conjugados nos podem fornecer mais informações. Com esta primeira análise pretende-se demonstrar a correspondência entre a distribuição dos artefactos e a leitura das estruturas demonstrada no Capítulo 2, e assim verificar processos tafonómicos relevantes para a interpretação destes espaços. Após este primeiro ensaio procedeu-se à análise da distribuição espacial dos diferentes artefactos que demonstram actividades sócio-económicas, tais como os pesos de tear, os “cinchos” ou “queijeiras”, a pedra polida/ afeiçoada, as pontas de seta, as lâminas e elementos de foice/ denticulados. Esta análise foi realizada apenas dentro do perímetro da Cabana 1 e Cabana 2, não se tendo realizado o mesmo exercício para a estrutura indeterminada que foi identificada na zona de “clareira”, na Área 2. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

No progresso deste trabalho foram detectadas algumas limitações que devem ser referidas: em primeiro lugar, o facto de estarmos perante um cenário truncado, ou seja, o facto do estudo deste povoado estar limitado pelas áreas intervencionadas, que não corresponde à totalidade do povoado da Casa Branca 7. Em segundo, pela circunstância de nunca sabermos como seria esse espaço em falta, uma vez que foi destruído sem intervenção arqueológica prévia.

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Capítulo IV: Cultura material

7.1. Cabana 1 e 2: presenças, ausências e associações – a interpretação possível

A distribuição espacial da cerâmica (fig. 6) e da pedra lascada (fig. 7) na Área 1 demonstram uma concentração de materiais nas quadrículas compreendidas entre G – N/ 7 – 17, que corresponde à implantação das estruturas arqueológicas identificadas, acima descritas. Comparando estas duas realidades – estruturas arqueológicas e dispersão espacial, verifica-se que as quadrículas que apresentam um maior número de artefactos na Área 1, correspondem ao que se pode considerar, o espaço interno da Cabana 1. Se observarmos a planta desta estrutura (ver Anexo II, Fig. II), verificamos que o alinhamento externo do muro delimitador da Cabana 1 teria como limite máximo (caso estivesse completo) as quadrículas da fileira N. Observando-se as figuras abaixo representadas (fig. 19 e 20) verifica-se que é precisamente nesta fileira que o número de artefactos, quer de cerâmica, quer de pedra lascada começam a perder expressão.

Fig. 19 – Distribuição espacial da cerâmica na Área 1

Fig. 20 – Distribuição espacial da pedra lascada na Área 1

O mesmo fenómeno acontece na Área 2, observando-se que as quadrículas que apresentam um maior número de artefactos se enquadram no que se pensa como “espaço interno” da Cabana 2. Observando-se as figuras 8 e 9 e comparando-as com a planta da Cabana 2 (ver Anexo II, Fig. 10) é perfeitamente visível a quase inexistência de artefactos para Norte das quadrículas C, D, E/ 18, 19, nas quais se identificou o muro delimitador (E2) desta estrutura. Verifica-se que a grande concentração de cerâmica na Área 2 está directamente relacionada com a presença das estruturas internas. Como é possível constatar pela Figura 3 existem quatro focos de concentração de cerâmica na Área 2:

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Capítulo IV: Cultura material



nas quadrículas D, E/ 20, nas quais foi identificada a “estrutura de combustão” descrita no capítulo anterior (E2 da Área 2);



nas quadrículas A, B/ 21, 22 e C, D, E/ 23 e 24, que não estando directamente enquadradas numa estrutura específica, como acontece na situação acima descrita, encontram-se numa grande proximidade da estrutura E2;



na quadrícula ZZ/ 27, onde foi identificada a estrutura 3 (E3) da Área 2, correspondente a uma pequena “fossa”, onde se verificou uma acumulação de cerâmica; é ainda possível observar que esta concentração está em sintonia com as quadrículas envolventes (YY/ 26, 27; ZZ/ 26 e 28; A/ 25, 26);



uma última concentração de cerâmica é visível nas quadrículas E/ 29, 30 e 31 que corresponde a uma área profundamente afectada por raízes de árvores e pela actividade de animais edáficos (toupeira).

Fig. 21 – Distribuição espacial da cerâmica na Área 2

Fig. 22 – Distribuição espacial da pedra lascada na Área 2

Ainda na Área 2 há a salientar uma concentração de elementos de pedra lascada na quadrícula D/ 20 que, como já foi a anteriormente referido, corresponde à área de Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

implantação da E1. Abreviando a situação da pedra lascada na Área 2, não será erróneo dizer que as concentrações existentes correspondem, genericamente, às mesmas que se observaram nas cerâmicas. Destaca-se nas figuras 21 e 22 a escassez de artefactos na área de sanja da Área 2. Este facto pode demonstrar que os fenómenos pós-deposicionais identificados em escavação (bioturbação vegetal e animal, e, a abertura de caminhos de acesso ao topo da elevação) terão, com certeza, afectado a posição original dos artefactos, tanto na Área 1 como na Área 2, embora, em termos de dispersão horizontal, este processo não tenha sido substancial. Como se demonstrou, as grandes áreas de concentração de artefactos encontram-se perfeitamente enquadradas nos limites das estruturas identificadas – Cabana 1 e 2, comprovando uma “conservação do recheio” das mesmas. Partiu-se, a partir deste ponto, para uma distribuição horizontal dos artefactos que podem indiciar práticas sócio-económicas. O quadro abaixo apresenta, de um modo, genérico, as presenças e ausências de artefactuais12 nas Cabanas 1 e 2. Veja-se:

Tipo de artefacto

Cabana 1

Cabana 2

“Queijeiras”

ausente

presente (4)

Pesos de tear

presente (8)

presente (2)

Pontas de seta

presente (1)

presente (5)

Lâminas

presente (8)

presente (9)

Elementos de foice

ausente

presente (3)

Pedra polida

presente (4)

presente (4)

Do quadro representado pode-se apreender desde logo, a ausência de “cinchos” ou “queijeiras na Área 1, assim como de elementos de foice. As pontas de seta aparecem aqui de forma residual, estando em maior número na Cabana 2. Nesta área (Cabana 1) ressalta a predominância dos pesos de tear em relação à Área 2, que aparecem em número mais reduzido. Importa agora ver o comportamento de cada uma das categorias artefactuais, no interior da Cabanas 1 e 2.

12

Os números apresentados não correspondem à totalidade de cada categoria de artefactos na estação arqueológica, mas sim à totalidade representada no interior das Cabanas. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Fig. 23 – Distribuição espacial dos pesos de tear, pedra polida, pontas de seta e lâminas na Cabana 1

Na figura 2313 é possível observar que os pesos de tear se encontram um pouco dispersos pela área da Cabana 1, havendo no entanto duas pequenas concentrações: nas quadrículas N/14 e L/ 13, 15; e, nas quadrículas H13, I/ 12e J/ 9. Reconhece-se igualmente, esta situação de dispersão nos instrumentos de pedra polida. O oposto acontece com as lâminas, que aparecem concentradas nas quadrículas M/ 12, 14 (com dois exemplares) e 15, K/ 11, 14 e 15 e por fim, nas quadrículas J/9 e K/ 10. O único exemplar de ponta de seta registado nesta área situa-se na quadrícula L/10. Sem querer tirar grandes elações, pode-se, no máximo, correlacionar este exemplar com as lâminas das quadrículas J/10 e K/ 11. Na Cabana 2, as situações são necessariamente distintas, já que a própria panóplia artefactual é desigual.

13

As cores representadas na figura 10 e na figura 11não têm a ver com densidade de materiais, mas sim com as diferentes categorias artefactuais. Cada quadricula assinalada corresponde a um exemplar de cada categoria. Quando assim não é, faz-se referência no texto. Optou-se por apresentar dois quadros da Cabana 1 para não haver sobreposição de categorias nas quadrículas, como seria, por exemplo, o caso da pedra polida e das lâminas na quadrícula K10. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

Fig. 24 – Distribuição dos pesos de tear, pedra polida, pontas de seta, lâminas e “queijeiras” na Cabana 2

Neste caso sobressai de imediato, tal como acontece na Cabana 1, as concentrações de lâminas. Nesta área, podem-se observar três concentrações desta categoria artefactual., estando elas expressas nas quadrículas: ZZ, YY/ 23, 24, C/ 18, 19 e 20, e por último, nas quadrícula E/ 28 e 29. As pontas de seta encontram-se reunidas nas quadrículas D/ 20 e C/21 (dois exemplares), estando as restantes dispersas pela área examinada, tal como acontece com os utensílios de pedra polida. Os fragmentos de “queijeiras”, como já se referiu anteriormente, foram identificadas unicamente nesta área, embora em número reduzido. Não obstante, a sua identificação remete para actividades sócio-económicas fundamentais para uma atribuição crono-cultural da estação, sendo este um ponto que será abordado adiante. No interior da Cabana 2 considera-se que estes artefactos não aparecem em número suficiente para se retirar grandes conclusões, sendo também este o caso dos pesos de tear. Apesar de não estarem representados nos gráficos, os elementos de foice encontram-se exclusivamente dentro da Cabana 2, estando ausentes na Área 1. Na conclusão deste capítulo, interessa referir os objectivos que foram atingidos com este exercício: Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo IV: Cultura material

1. foi possível atestar uma concentração de artefactos no interior das Cabanas 1 e 2, considerando-se assim, que os fenómeno de perturbação identificados não terão afectado o sítio de forma efectiva; 2. que há uma conexão lógica entre a concentração de artefactos e as estruturas, demonstrando-se assim, que os materiais exumados estão inseridos num contexto preservado; 3. que os artefactos remetem para contextos domésticos, de actividades artesanais, agrícolas e de caça, espelhados na Cabana 1 pela presença dos pesos de tear e instrumentos de pedra polida e na Cabana 2, pela presença das pontas de seta.

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Capítulo IV: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio a.C. na margem esquerda do Guadiana? 1. Casa Branca 7: que cronologia? Os capítulos anteriores não foram mais que uma análise sintética dos materiais recolhidos no decorrer da intervenção de emergência na Casa Branca 7. Pretendeu-se uma descrição exaustiva dos artefactos, enquadrá-los tipologicamente nos quadros de referência existentes, relegando sempre para um debate posterior o valor cronológico de cada um. O presente capítulo visa esse mesmo debate. Primeiro, com a apresentação da datação absoluta obtida para o sítio e qual o seu significado em relação aos dados disponíveis, procurando, num segundo momento, estabelecer paralelos artefactuais noutros contextos do Sudoeste peninsular que justifiquem a cronologia proposta.

1.1. A datação absoluta da Casa Branca 7

À partida o discurso acima realizado parece desadequado na medida em que uma datação absoluta é sempre uma datação absoluta. Mas quando se está perante um conjunto artefactual que remete para os finais do 4º/ inícios do 3º milénio a.C.14., como é o caso da Casa Branca 7, uma datação 2130 – 1910 BC cal 2 sigma, parece estranha. Perante tal facto, afirma-se que este resultado é desajustado e que certamente, não data o contexto escavado. Apesar da datação ter sido efectuada sobre uma amostra de “vida curta” (osso) acredita-se que uma série de fenómenos pós-deposicionais terão ocorrido e provocado uma contaminação. Como foi demonstrado no Capítulo II da presente tese, o sítio apresentava uma potência estratigráfica reduzida, podendo ter havido fenómenos de erosão/ sedimentação (e vice-versa) que de algum modo poderão ter afectado os níveis de colagéneo do osso datado. Esta é só uma explicação, embora 14

Cronologia relativa defendida e apresentada na Associação dos Arqueólogos Portugueses, numa série de conferências realizadas no âmbito da temática “Novos dados no Calcolítico no Sul de Portugal” (28 de Junho de 2002), e no III Congreso de Arqueologia Peninsular, realizado em Santander, sempre em coautoria com a Dra. Andrea Martins. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

tantas outras possam ser enumeradas. Uma coisa é certa, não foi identificada uma fase de ocupação posterior à que foi já referida, nem em campo, nem em laboratório: não existem artefactos na Casa Branca 7 que se enquadrem neste espectro cronológico (transição do 3º para o 2º milénio a.C.). Uma datação não data um sítio arqueológico e espera-se que num futuro próximo se consiga obter definitivamente um quadro de datações fiáveis para a Casa Branca 7. Deste modo, continua-se a afirmar e a defender que a Casa Branca 7 é um povoado cronologicamente enquadrado na transição do 4º para o 3º milénio a.C., cronologia subentendida desde logo pelo título da presente tese.

1.2. A datação relativa para a Casa Branca 7

Na ausência de uma datação absoluta fiável para o sítio, importa agora justificar a cronologia relativa defendida. Interessa assim, ver com mais pormenor os artefactos anteriormente enumerados e os contextos arqueológicos escavados nas imediações da Casa Branca 7. Efectuou-se uma selecção dos sítios já intervencionados, tendo-se considerado: 

Foz do Enxoé (Serpa) (Diniz: 1999);



Igreja Velha de S. Jorge (Vila Verde de Ficalho) (Soares: 1994 e 1996; Cardoso, 1994);



S. Brás I ou Cerros dos Castelos de S. Brás (Serpa) (Parreira: 1983; Soares e Cabral: 1993)



Sala nº 1 (Gonçalves, 1987, 1995, 2003)



Papa Uvas (Huelva) (Martín de la Cruz: 1984, 1994: Soares e Martín de la Cruz, 1996).

Para a compreensão crono-cultural da Casa Branca 7 considera-se indispensável a dicotomia taça carenada/ prato de bordo espessado. Sobre estes recipientes Gonçalves afirma: Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

A 1º metade do 3º milénio consagra, a nível da produção cerâmica, a afirmação estilística de um recipiente hoje muito bem conhecido, o grande prato de bordo espessado, bem como a extinção do recipiente de morfologias e volumetria próximas que aparentemente o antecedeu e com ele coexistiu, a taça carenada (Gonçalves, 1991 b)” (Gonçalves, 2003:291).

Tradicionalmente considerava-se que esta dicotomia seria representativa de duas fases distintas, sendo a taça carenada um fiável indicador do Neolítico final, estando o prato de bordo espessado correlacionado com o Calcolítico, aparecendo como um substituto da forma anterior. Esta substituição, segundo este ponto de vista, terá sido abrupta, sendo que, quando se regista a presença de ambos, o prato aparece como a forma dominante em detrimento da taça carenada (Soares e Silva, 1976-77). Na Casa Branca 7 acontece precisamente o oposto. Como é possível verificar na figura 13 desta tese (formas identificadas na Casa Branca; ponto 1 do Capítulo III Recipientes cerâmicos) as taças carenadas são o grupo formal mais representado neste sítio, correspondendo a 37% das formas identificadas, enquanto que o prato, com as múltiplas morfologias de bordo reconhecidas, constitui apenas 1% da colecção. Qual o significado destes valores? Na construção de uma resposta a esta pergunta, a verificação dos resultados publicados nos sítios anteriormente enumerado são fundamentais. No sítio da Igreja Velha de S. Jorge, para o qual se obteve uma datação absoluta que o enquadra cronologicamente nos meados da 2 ª metade do 4º milénio (OxA – 5443 – 4540 + 60 BP, 3376 – 3034 cal BC, a dois sigma), registou-se a ausência dos pratos de bordo espessado, aparecendo com algum destaque a cerâmica mamilada e a taça carenada, embora esteja referida os poucos fragmentos desta última categoria formal (Soares:1994 e 1996). O sítio da Foz do Enxoé, interpretado como um sítio cronologicamente integrado “[...] numa etapa final do Neolítico, num momento anterior à Revolução dos Produtos Secundários (Sherrat, 1981)” (Diniz: 1999) enquadra-se no mesmo âmbito cronológico que o anterior. Apesar da ausência de datações absolutas, a comparação artefactual com a Igreja Velha de S. Jorge torna-se inevitável, na medida em que nesta estação também se registou a taça carenada, embora em valores percentuais pouco expressivos, ao lado Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

da cerâmica mamilada. A ausência, na área intervencionada, do prato de bordo espessado, está igualmente documentada. Em S. Brás S. Brás 1, Parreira define um povoamento pré-campaniforme (Parreira, 1983) com as seguintes datas (Soares e Cabral, 1993, Est. IV): Data convencional de 14C (anos BP)

Data calibrada 2 σ (cal BC)

+

3500 - 2630

+

3360 - 2920

ICEN 44: 4410 140 ICEN 43: 4480 60

Nesta fase pré-campaniforme convivem a taça carenada e o prato de bordo espessado, embora seja referido que a primeira forma se encontra em menor número. Já para a Sala nº1 reconhecem-se três níveis arqueológicos selados e cronologicamente bem definidos, onde convivem a taça carenada e o prato de bordo espessado (Gonçalves: 1987; 1995; 2003). Veja-se então, as datações obtidas para os níveis 4, 5 e 6 do locus 1 (Gonçalves: 1987; 1995; 2003):

Nível 4 5 6

Data convencional de 14C (anos BP) ICEN 447: 4490

+

110

+

ICEN 445: 4490 80 +

ICEN: 444: 4490 100

Data calibrada 2 σ (cal BC) 3510 – 2910 3491 – 2920 3502 - 2910

Bibliograficamente está documentada a presença da taça carenada e do prato de bordo espessado a partir do nível 3. Segundo o autor, a proximidade cronológica dos três níveis datados podem revelar uma sequência ocupacional ininterrupta15 (Gonçalves, 2003). Seria interessante verificar nestes sítios – S. Brás 1 e Sala nº 1, quais as diferenças percentuais entre as duas formas, nos diferentes níveis datados, exercício já efectuado para o sítio Papa Uvas (Gonçalves, 2003: 106), aqui recuperado e acrescido da série de datações absolutas publicadas (Martín de la Cruz: 1994; Martín de la Cruz e Soares: 1996):

15

“Nestes três níveis, cuja proximidade cronológica é evidente, traduzindo muito provavelmente uma sequência não interrompida, pratos de bordo espessado e taças carenadas coexistem, confirmando situações verificadas em Papa Uvas”, Gonçalves, 2003: 291 Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Fases

% F. carenadas

% Pratos

Data calibrada 2 σ (cal BC) Cronologia relativa

0.84

3.44 a 3.7

3.7 a 46

S/ inf.

3330-2620 3360-2880 3330-2910 3080-2880 3290-2890 3300-2890 -

IIA

3.7 a 34.62

0.37 a 1.21

3010-2770

IIB

40 a 46.7

0.21

-

Calcolítico inicial

III

20.79 a 33.33

1.98 a 4.16

-

Calcolítico inicial

IA

IB II

IV

0

0

11.9

-

Calcolítico inicial -

2590-2450 2600-2460 2210-2110 2430-2330

11.9

-

Verifica-se em Papa Uvas uma importância progressiva das taças carenadas desde os finais do Neolítico (nível IB), atingindo o “auge” na fase IIB, que não estando datada pelo método do radiocarbono, integra-se perfeitamente numa fase inicial do Calcolítico, hipótese sustentada pelas datações obtidas para os níveis IIA e IV. Estes dados são estatisticamente compatíveis com os resultados obtidos para a Sala nº1 e para S. Brás 1, embora se deva ter em consideração os largos intervalos de tempo obtidos para estes sítios, questão que será abordada no capítulo seguinte. Retomando Papa Uvas, constata-se que os pratos têm uma importância distinta, ocorrendo sempre em percentagens pouco significativas até ao nível IV, onde atinge a mesma percentagem que as taças carenadas (11.9%), numa fase plena do Calcolítico. Curiosamente a subida mais significativa das percentagens dos pratos ocorre entre os níveis IIB e III (aumentando uma média de cerca de 2%) e os níveis III e IV (onde o “salto” é de cerca de 10%), correspondendo ao início da descida gradual da importância da taça carenada. Não esquecendo o sítio objecto de estudo deste trabalho – a Casa Branca 7, e as percentagens aqui obtidas, torna-se inevitável a comparação entre estes valores e os de Papa Uvas. Assim, recuperando-se os dados já referidos, verifica-se uma coincidência percentual entre os níveis IIA e IIB de Papa Uvas e a Casa Branca 7:

Sítios

% F. carenadas

% Pratos

Papa Uvas (Fase IIA)

3.7 a 34.62

0.37 a 1.21

Papa Uvas (Fase IIB)

40 a 46.7

0.21

Casa Branca 7

37

1

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

72

Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Poderão estas percentagens deter um valor cronológico e enquadrar a Casa Branca 7 num momento inicial do Calcolítico? Outro elemento fundamental para a obtenção de respostas é os recipientes mamilados. Na Casa Branca 7 constatou-se uma contemporaneidade da “trilogia” taça carenada, prato de bordo espessado e recipientes mamilados. Traduziria esta contemporaneidade, uma sequência ocupacional sucessiva não identificada nos trabalhos de campo, que remeteria para uma 1ª fase de ocupação idêntica às da Igreja Velha de S. Jorge e Foz do Enxoé e uma 2ª fase, compatível com os dados da Sala nº 1, S. Brás 1 e Papa Uvas? Para

atestar

esta

hipótese

elaboraram-se

gráficos

de

dispersão

vertical

(contemplando estes três elementos) do interior das Cabana 1 e 2 que, como já foi anteriormente referido (Capítulo III), correspondem às áreas melhor conservadas do sítio. Como se pode verificar pelos gráficos abaixo representados, tanto na área da Cabana 1, como na área da Cabana 2, há uma compatibilidade estratigráfica entre estes três elementos.

Fig. 25 – Dispersão vertical de taças carenadas, pratos de bordo espessado e recipientes mamilados na Cabana 1 e 2 da Casa Br

Na área ocupada pela Cabana 1 há um aumento progressivo destes três anca 7 componentes, verificando-se um “pico” da sua presença no nível artificial 3. É

precisamente neste nível que o conjunto de estruturas que compõem a Cabana 1 fica em evidência, demonstrando assim, uma clara conexão entre estas e os artefactos aí exumados. O último nível artificial corresponde ao final da escavação, explicando-se assim, a descida abrupta observada.

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

73

Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

O mesmo fenómeno verifica-se na Cabana 2, sendo bem visível nas duas áreas o predomínio da taça carenada em relação aos restantes elementos, observando-se que os recipientes mamilados estão melhor representados que os pratos. Acredita-se que estes resultados seriam distintos caso houvesse duas ou mais ocupações daquele espaço. Relembre-se os dados documentados na dispersão horizontal (Capítulo II) que demonstraram concentrações artefactuais coincidentes com as Cabanas, em detrimento das áreas anexas. Ocupações intercaladas testemunhariam uma “desordem” no registo, que aqui não se observa. Os dados publicados para as três fases de Papa Uvas que se integram cronologicamente no Calcolítico inicial demonstram que a crescente importância da taça carenada é acompanhada dos recipientes mamilados. Perante estes resultados, torna-se inevitável voltar ao “exercício percentual” que Gonçalves efectuou para os diferentes níveis de Papa Uva e verificar como é que se comportam estes três elementos. (Gonçalves: 2003, 107). Mais uma vez, o paralelismo entre estas fases e a ocupação da Casa Branca 7 parece inevitável, não sendo demais recordar valores percentuais:

Sítios

% F. carenadas

% Pratos

% C. mamiladas

Papa Uvas (Fase IIA)

3.7 a 34.62

0.37 a 1.21

7. 47 a 9.55

Papa Uvas (Fase IIB)

40 a 46.7

0.21

10. 52

Casa Branca 7

37

1

8

A presença de recipientes mamilados está igualmente documentada em S. Brás 1 e na Sala nº 1, nos níveis arqueológicos anteriormente referidos, embora tratamentos estatístico como os apresentados não estejam publicados. Embora se enquadre num ambiente regional distinto os resultados preliminares publicados para o sítio Torre do Esporão 3 (TESP – 3) (margem direita do Guadiana, Concelho de Reguengos de Monsaraz), para o qual está disponível uma datação entre 2850 – 2340 cal BC a 2 sigma, estão de acordo com os valores acima descritos (Gonçalves, 2003: 335):

Sítio TESP 3

% F. carenadas 20%

% Pratos 16

% c. mamiladas 14

Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

74

Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Outro conjunto artefactual patente na Casa Branca 7 que merece ser destacado é o grupo das “queijeiras” e dos pesos de tear. Para os primeiros elementos já não se questiona quando é que apareceram: “ A questão das “queijeiras” é muito simples. (…) São indiscutivelmente um artefacto do 3º milénio, particularmente da sua primeira metade” (Gonçalves, 2003: 256). Já os pesos de tear e as suas distintas morfologias levantam questões de ordem cronológica ou melhor, de sequência cronológica. Como já foi referido no sub-capítulo referente a este artefacto, na Casa Branca 7 reconhece-se a exclusividade dos pesos tipo “crescente”, para os quais os últimos trabalhos de síntese remetem igualmente para uma fase inicial do 3º milénio a.C. No entanto, a importância destes artefactos na Casa Branca 7 está na sua associação com os resultados obtidos no estudo da fauna mamalógica do sítio (ver anexo V e 1.6 do Capítulo III), que sugerem um cenário económico de aproveitamento dos produtos secundários alimentares, remetida, no caso alentejano, para os primeiros séculos do 3º milénio16. A aparente predominância da decoração no conjunto cerâmico da Casa Branca 7, demonstrada no Capítulo III, não passa disso mesmo: de uma aparência. Se por um lado, está bem documentado uma diversidade temática e estilística do dispositivo iconográfico, por outro, está igualmente bem documentada a percentagem ínfima desses elementos no conjunto cerâmico. Reveja-se a este propósito a figura 13 do Capítulo III: 98% dos fragmentos pertencem a cerâmica lisa, enquanto apenas 2% da colecção se reporta a fragmentos decorados, sendo que uma boa parte destes pertencem à cerâmica com decoração plástica (56%), nos quais se integram em grande parte, os recipientes mamilados, já discutidos neste capítulo. Ainda neste âmbito, sobressai no registo da Casa Branca 7, a figuração do ídoloplaca apresentado no capítulo III. Esta figuração apresenta claramente os “Olhos de Sol” da Deusa que surge “[…] quando o Neolítico termina e é, progressiva mas rapidamente, substituído pelas sociedades de agricultores metalurgistas […] (Gonçalves, 2003: 262).

16

Veja-se a este propósito os resultados publicados para as intervenções arqueológicas realizadas no âmbito do plano de minimização de impactes sobre o património arqueológico da construção da barragem de Alqueva – Bloco 5, para os sítios Monte do Tosco, Moinho Valadares e Mercador. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Retoma-se aqui o caso regional da Sala nº1. Recentemente Victor Gonçaves

17

apresentou, entre um duo de figurinhas antropomórficas, um vaso que se encontrava até esse momento inédito, mas que já havia sido genericamente descrito: “[…] os dois olhos, em forma de sol, estão separados por uma nariz similar a um mamilo vertical alongado. As duas narinas estão indicadas e a boca claramente representada, em relevo, tal como o queixo, bem como as “pinturas” ou “tatuagens” faciais”.” (Gonçalves, 1987: 14). Este vaso foi recolhido no nível 3 do locus 1, cuja datação absoluta foi já aqui citada (ICEN – 448: 4140 + 110 BP, 3018 – 2460 cal BC, a dois sigma), apresentando-se como âmbito cronológico desta representação a 1ª metade do 3º milénio. Considerando a proximidade física e o contexto regional da Casa Branca 7 e da Sala nº1, os paralelos artefactuais (taça carenada, prato de bordo espessao, recipientes mamilados) e agora, os paralelos ao nível do sub-sistema mágico-simbólico, a admissão de uma possível contemporaneidade destes dois sítios não é inexequível. Prosseguindo na defesa de uma cronologia específica para a Casa Branca 7 considera-se que, para além da componente artefactual, também a componente arquitectónica poderá ajudar a resolver algumas questões. As referências bibliográficas aos conjuntos arquitectónicos dos sítios que se tem vindo a descrever, narram quatro realidades distintas: 

por um lado, temos as estruturas descritas para a Foz do Enxoé que, pela sua precariedade, revelam contextos de abrigos simples/ cabanas mal estruturadas e a presença de uma “fossa” na Igreja Velha de S. Jorge, cujo contexto numa rede de povoado não está esclarecido;



por outro, temos as estruturas da Casa Branca 7, onde foi possível delimitar Cabanas, cujos elementos que as compõem (muros, derrubes, pisos, estruturas, negativas, buracos de poste, estruturas de combustão) revelam preocupações construtivas que apenas fazem sentido na admissão de

um

habitat

permanente,

numa

comunidade

completamente

sedentarizada; 

os “fossos” de Papa uvas, documentados num contexto de habitat permanente;



a “fortificação” de S. Brás 1.

17

Comunicação apresentada no XV Congresso da UISPP – Black magic, white Goddess: a Magical and Simbolical situation of the first half of 3rd millenium at Sala #1 (Pedrógão do Alentejo) Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Para a Sala nº1 não se conhecem quais os tipos de estrutura registados, embora hajam referências à sua existência na bibliografia produzida (Gonçalves, 1987).

Perante esta realidade arquitectónica distinta questiona-se se estas diferenças detém um significado cronológico ou se simplesmente, remetem para uma diversidade cultural nesta área regional. Este tema será abordado no capítulo seguinte, retendo-se apenas que a falta de continuidade de trabalhos nestes sítios não permite um estudo de paralelismos ao nível das componentes arquitectónicas e, entre eles e a Casa Branca 7. O único trabalho publicado, até ao momento, onde se faz uma descrição exaustiva dos tipos de estruturas habitacionais em contextos datados do calcolítico no Baixo Alentejo é o recente texto de António Carlos Valera (Valera, 2006). Neste texto de síntese são realizadas descrições exaustivas e elaborados quadros de referência para as estruturas circulares (cabanas/ torres) dos sítios intervencionados no âmbito do plano de minimização de impactes sobre o património arqueológico da construção da barragem de Alqueva – Bloco 5. Os sítios equacionados neste texto foram: Mercador, Porto das Carretas, Monte do Tosco 1, Moinho de Valadares, San Blás e Miguens. Retém-se várias observações que importam referir, na medida que reportam realidades também identificadas na Casa Branca 7: 1. a constatação inequívoca da circularidade das construções; 2. as espessuras dos muros das cabanas/ torres, compreendidas entre os 60 cm e os 100 cm, tal como os muros observados na Casa Branca 7; 3. os diâmetros destas estruturas: 4 a10 metros de diâmetro interno; estimativas de 4 a 6 metros de diâmetro interno da Cabana 1 da Casa Branca 7 “encaixa-se” perfeitamente, nestes valores; 4. a identificação de buracos de poste centrais, tal como na Cabana 1 da Casa Branca 7; 5. a presença de estruturas de combustão, tal como na Cabana 2 da Casa Branca 7.

Importa apenas referir que a diacronia visada no trabalho de Valera é bastante ampla, atravessando todo o 3º milénio, desde a sua fase de transição mais antiga (Neolítico Final / Calcolítico), até à mais recente (Campaniforme/ Idade do Bronze).

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

As características estruturais acima enumeradas retratam exclusivamente os contextos datados, quer relativamente, quer por 14C, da transição do 4º para o 3º milénio a.C e da 1ª metade do 3º milénio a.C.

1.3. Compilação dos dados apresentados

Ao longo deste capítulo pretendeu-se justificar o enquadramento da Casa Branca 7 num ambiente crono-cultural específico, que a datação de radiocarbono não permitiu. Constatou-se:

1. que os materiais arqueológicos recolhidos na Casa Branca 7 remetem para uma ocupação realizada num momento cronológico concreto – a 1ª metade do 3º milénio, como ficou comprovado pelos exercícios realizados para os três “fósseis-directores” da fase de transição do 4º para o 3º milénio a.C. (os recipientes mamilados, a taça carenada e o prato de bordo espessado/ “almendrado”); 2. a compatibilidade dos dados referidos em 1 com outros contextos da área regional em apreço, datados pelo radicarbono da 1º metade do 3º milénio a.C.: Sala nº1 e Papa Uvas; 3. a presença de elementos indicadores de uma exploração secundária dos recursos alimentares: pesos de tear; “queijeiras” e predominância de animais domésticos abatidos em idade adulta, no registo da fauna mamalógica exumada; 4. a presença do sub-sistema mágico-religioso reconhecido para as primeiras comunidades agro-metalurgistas do Sudoeste peninsular; 5. o reconhecimento de estruturas de habitat de carácter doméstico, que requerem investimento de tempo na sua construção, remetendo assim para uma comunidade sedentarizada naquele espaço. Em jeito de conclusão, admite-se ainda para a Casa Branca 7 uma ocupação única, demonstrada pelas distribuições horizontais e verticais dos “fósseis-directores” desta cronologia, exercício esse que revelou, uma disposição artefactual organizada que não é própria de contextos com sequências ocupacionais sucessivas intercaladas no tempo (ver ponto 7, Capítulo III e ponto 1, Capítulo IV). Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

2. Que modelo para as realidades da margem esquerda do Guadiana, próximas à Casa Branca 7? O tema da transição do 4º para o 3º milénio a.C. e a definição de um marco cronológico para o “arranque” das primeiras comunidades agro-metalúrgicas tem sido amplamente discutido na bibliografia arqueológica portuguesa. A acompanhar estes discursos estão, a maior parte das vezes, a construção de modelos de hierarquização de povoamento, na análise de áreas regionais de pesquisa. Se para o primeiro tema, a contribuição de um projecto arqueométrico, de compilação e sistematização de datações de radiocarnono, parece ter resolvido a questão a uma escala supra-regional (Soares e Cabral, 1993), para o segundo, parece haver uma “tradição”

interpretativa

de

dados,

que

não

sendo

qualitativamente,

nem

quantitativamente semelhantes, podem traduzir distorções da realidade arqueológica:

O problema da agregação e da hierarquização do povoamento calcolítico tem sido abordado geralmente com base na diferença de tamanho dos povoados, na sua proximidade, nas evidências de acesso diferenciado à circulação de produtos e na sua localização face a determinados recursos que poderiam sustentar níveis de especialização. […] Todavia, alguns problemas nem sempre são convenientemente ponderados, quer relativos à quantidade, quer relativos à qualidade e natureza dos dados […] (Valera, 2000: 184).

No caso aqui retratado, a área imediata à Casa Branca 7, arriscar modelos interpretativos de uma rede hierárquica de povoamento, com base nos sítios arqueológicos anteriormente enumerados, seria uma “manobra arriscada”, visto que a proveniência dos dados até agora descritos são proporcionalmente distintos. A sua utilização para encontrar paralelismos na construção de uma cronologia relativa para um sítio arqueológico e a sua comparação para a construção de modelos hierárquicos de redes de povoamento, constituem duas realidades bem distintas no quadro da investigação. A apresentação de um quadro com a representação das datações apresentadas para Igreja Velha de S. Jorge, Sala nº 1 e S. Brás 1 confirma esta afirmação. Casa Branca 7: um povoado na transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. na margem esquerda do Guadiana

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

A partir deste quadro observa-se a existência de amplos intervalos de tempo, tanto na Sala nº 1 como em S. Brás 1, remetendo para os finais do 4º milénio um conjunto de características que tradicionalmente são apenas reconhecidas no 3 º milénio, como é o caso paradigmático da metalurgia. Esta sobreposição de intervalos na 2 ª metade do 4º milénio (assinalada com rectângulo vermelho), entre sítios de características tão díspares como os assinalados vem:

1. por um lado, anular a hipótese de construção de um modelo sequencial de ocupações de carácter “artefactualista”; 2.

por outro, permitir a criação de modelos onde se admite a contemporaneidade de diferentes realidades materiais, estruturais e tecnológicas de carácter “cultural”.

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Capítulo V: Casa Branca 7: um povoado do início do 3º milénio na margem esquerda do Guadiana?

Considera-se esta última hipótese excessiva para uma época de transição ainda mal conhecida no Baixo Alentejo, onde as alterações quer a nível artefactual, quer a nível de estratégias de ocupação/ apropriação do espaço podem ter sido demasiado rápidas para serem identificadas no quadro de referência hoje existente.

Se pode-se arriscar dizer, que o quadro até agora traçado permite concluir a uma micro-escala regional, que “[…] a relação entre a taça carenada/ recipientes mamilados e os pratos vem confirmar a inadequação da perspectiva que apresentava esta relação como uma substituição abrupta, evidenciando antes, em contextos de convivência destas morfologias, uma situação de substituição progressiva em termos de representatividade relativa” (Valera, 2000: 37), vem por outro lado, à luz da interpretação dos dados arqueométricos disponíveis para a área em apreço “[…] questionar o significado histórico de algumas datações absolutas” (Diniz, 1997: 124),

Consciente de que a criação de um modelo não é mais do que uma tentativa de organização do caos (Gonçalves, 2003: 319), considera-se que a aplicação de uma estratégia de investigação desta natureza, à luz do estado actual do conhecimento, seria precoce e inconsistente. A insuficiência de datações com curtos intervalos de tempo, a insuficiência de publicações dos sítios aqui mencionados, a observação de diminutas áreas de escavação e ausência de um plano de estudo integrado na micro-região referida, impedem uma abordagem com este carácter.

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81

Conclusão

Conclusão A análise dos dados arqueológicos recolhidos na Casa Branca 7 permitiu o reconhecimento de uma comunidade sedentária, implantada numa ligeira elevação sobranceira à confluência de duas linhas de água secundárias – Ribeira do Enxoé e Barranco da Retorta (ver Capítulo I), que:

1. Explora os recursos naturais imediatos

Facto constatado a partir da identificação das matérias-primas utilizadas como suporte para a produção da indústria de pedra lascada e polida (ver ponto 2 do Capítulo III); dos elementos não-plásticos das pastas utilizadas na elaboração dos recipientes cerâmicos (ver ponto 1 do Capítulo III); no recurso à caça como complemento de uma alimentação baseada na domesticação das plantas (considerando a hipótese de Gonçalves de que as taças carenadas e os pratos de bordo espessado são indicadores de uma alimentação baseada no consumo de cereais e considerando a presença de elementos de foice) e dos animais (considerando os dados revelados no estudo da fauna mamalógica) (ver pontos 1, 2 e 6, Capítulo III). Revela-se assim, uma estratégia paleoeconómica de uso preferencial do território imediato para a obtenção de recursos; 2. Organiza os espaços internos do povoado Organização observada pela predominância dos pesos de tear na Cabana 1, possibilitando a hipótese da prática de tecelagem no seu espaço interno; pela exclusividade de tipos artefactuais conectados com praticas cinegéticas na Cabana 2, como é o caso das pontas de seta (caça) e dos elementos de foice (agricultura) (ver ponto 2, Capítulo II). Revela-se assim, um regime de ocupação sedentário com actividades mistas de carácter doméstico, num primeiro plano, e predatório, num segundo plano.

Conclusão

3. Detém um complexo subsistema mágico-simbólico Inferido a partir da especificidade do achado dos dois fragmentos que compõem o ídolo-placa em cerâmica com a representação dos olhos raiados da Deusa conhecida desde o início do 3º milénio, no Sul da Península Ibérica; a partir da “decoração simbólica” registada num recipiente cerâmico, com a representação de dois triângulos invertidos, preenchidos a ponteado (ver ponto 3, Capítulo III; ver ponto 1, Capítulo IV); a partir da conjugação destes dados com os que foram anteriormente registados no povoado da Sala nº 1 (ver ponto 3, Capítulo III; ver ponto 1, Capítulo IV). Revela-se assim, uma parte de um complexo subsistema mágico-simbólico, cujas “paisagens simbólicas” ainda estão por definir, numa área em que os dados sobre os rituais funerários são praticamente nulos (excepção à regra, é o monumento megalítico do Monte da Velha 2, em Vila Verde de Ficalho);

4. Inserida numa rede de povoamento

Rede de povoamento que no estado actual dos conhecimentos não é perceptível. Sabemos apenas que existe um conjunto de sítios em torno da Casa Branca 7 já intervencionados, que revelaram realidades artefactuais, arquitectónicas e implantações díspares, num intervalo de tempo que se sobrepõem. Por definição uma fase de transição é uma fase de mudança, aqui demarcada não só pela passagem do milénio, mas também por um pacote de transformações artefactuais, tecnológicas e sociais, em torno de uma nova aquisição chamada “metalurgia”. A inexistência de uma cronologia fina que defina os “ritmos” e os “tempos” destas mudanças relega para um segundo plano a construção de modelos hierárquicos de povoamento. Conheça-se primeiro os sítios.

Ao longo deste texto pretendeu-se caracterizar um sítio arqueológico hoje inexistente. Através da interpretação dos dados arqueológicos exumados na escavação de salvamento da Casa Branca 7, pretendeu-se a reconstrução de um espaço de habitat na transição do 4º para o 3º milénio a.C., na margem esquerda do Guadiana. Neste espaço reconheceu-se uma ocupação única, contemporânea nas duas áreas intervencionadas, não sendo possível estabelecer quais os seus limites diacrónicos.

Conclusão

Reconstrução essa que se encontra incompleta, na medida em que os cerca de 30 000 registos efectuados, entre espólio cerâmico, lítico e faunístico, remete-nos para uma realidade truncada, uma realidade já parcialmente destruída aquando da intervenção arqueológica. Admite-se assim, que a Casa Branca 7 seria um povoado de maiores dimensões e que se estenderia ao longo da vertente que culmina na Ribeira do Enxoé. Num momento em que novos dados vão surgindo acerca das ocupações humanas da transição do 4º para o 3º milénio na margem esquerda do Guadiana (Valera, 2006), em que estudos comparativos entre as realidades do Alentejo e da Península de Lisboa revelam uma maior afinidade entre o primeiro e a Extremadura e Andaluzia espanhola, do que entre o Alentejo e a Península de Lisboa (Silva, et alli, 1995, p. 159), este trabalho não é mais do que um contributo para a caracterização de uma realidade regional ainda mal conhecida.

Vale da Serra, Setembro de 2006

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