(2006) Historia das fotografias

June 15, 2017 | Autor: Fabienne Wateau | Categoria: Anthropology, History of Anthropology, FOTOGRAPHY
Share Embed


Descrição do Produto

Paru sous sa version définitive corrigée, épurée et illustrée dans : Miriam Pillar Grossi, António Motta, Julie Antoinette Cavignac (Eds.), Antropologia francesa no século XX, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, Recife : 333-345.

Historias de fotografias

Fabienne WATEAU CNRS, Université Paris X-Nanterre

Um dia de Dezembro, foi-me pedido reunir fotografias de antropólogos franceses para publicarem no livro que agora temos na mão. Interessada, agradecida, não sabia, no entanto, qual universo e rede de pessoas ia descobrir. São apenas 14 fotografias apresentadas aqui, mas foram pelo menos 17 pessoas e 4 institutos solicitados (bibliotecas, arquivos especializados arquivos privados). Com o universo da imagem, vêm as questões de legislação, de pedido de autorização, de direitos de exploração, universo que se descobre numa cascada de contactos, até chegar enfim à pessoa certa, aquela que dá autorização ou não, que pede mais informações, que se preocupa das condições da edição. Felizmente, neste caminho as vezes tortuoso, correu bastante bem aqui a constituição do conjunto de fotografias. Agradeço muito calorosamente a todas as pessoas que me ajudaram nessa procura. Descobre-se também um mundo de irregularidade na recolha de dados sobre as fotografias. Umas têm cota, data e legenda, com localização geográfica e as vezes informações sobre o contexto geral, sobre a pessoa que tirou a fotografia, sobre a ocasião que levou a sua existência ; outras nem tem data, legenda ou comentários, ou quando têm são errados ou muito aproximativos. Na medida do possível, fui a procura de mais informações e até tive que emendar umas legendas de acordo com as pessoas que conheciam melhor os fundos fotográficos. Mas não foi operação conseguida para todas as fotografias, infelizmente. Claro que as irregularidades de

1

recolha estão ligadas a imensas coisas que têm explicações, sendo umas delas o tempo, o contexto histórico e político, a perca dos arquivos, as condições de recolha, etc. Contudo, há que esperar para o futuro que a preocupação de contextualização sistemática dos objectos se torne uma politica firme e voluntária, quer dos pesquisadores na ocasião das suas recolhas, quer sobretudo e em particular das instituições que os registam e os colectam. O conjunto de fotografias é composto de retratos dos antropólogos e de momentos no terreno onde eles estão com os seus interlocutores e guias. Assim vemos o Maurice Leeenhardt com o seu interlocutor principal, Elaïcha Nadapérémâ Nebayes, numa relação de franca cumplicidade (foto 3). Ou Germaine Diertelen em companhia da sua colega Solange de Ganay, de saída para a cidade e bem vestidas, com o principal intérprete dogon de Marcel Griaule, o Sergente Koguem (foto 6). Se procurarmos mais, solicitando quem sabe - e aqui foi o antropólogo africanista Eric Jolly que estudou tudo o fundo “Griaule” - descobre-se que a fotografia foi tirada durante a Missão Níger de 1946 (com mais exactidão entre Setembro de 1946 e Janeiro de 1947). A missão vem da região de Mopti, no Níger, pára no princípio de Outubro em Bandiagara, principal cidade do pais Dogon, para explorar uns dias os arredores, e continua dia 7 de Outubro para a cidade dogon de Sanga, a terra privilegiada das pesquisas das equipas Griaule. O Sergente Koguem, que na fotografia tem um capacete, começou logo na infância o trabalho de intérprete : tornara-se mais tarde o interlocutor principal de Marcel Griaule, nomeadamente no que trata da classificação dos insectos. Na fotografia 5, Marcel Griaule na Etiopia recebe das mães do pintor Alaga Dasseta (na legenda original era indicado o pintor Dassa) um correio oficial vindo das autoridades locais. Trata-se duma resposta ao pedido de autorização de pesquisa de Griaule. A resposta aqui é negativa. Na fotografia 6, como o contara Michel Leiris no seu livro L’Afrique fantôme, Marcel Griaule está cansado, com febre. Dois dias mas tarde, Griaule terá que ser transferido para a casa do administrador de Kita e esperar a vinda dum médico de Bamako chamado com uma certa emergência. Durante esta virada no ex Sudão francês, dia 16 de Julho de 1931, com Larget, Lutten, Mouffle e Leiris, o descanso de Griaule na árvore deitada tornou-se de repente bastante providencial. Vê-se na fotografia 11, provavelmente tirada dia 4 de Setembro de 1932, Michel Leiris que se encontra com Malkam Ayyahou, a responsável pelo culto dos zar, e com a qual Leiris tem relações fortes de confiança. Relações recíprocas, pois Malkam Ayyahou deixa Leiris assistir às sessões de possessão. Estamos aqui no acampamento da missão construído pelo Larget, dentro da enclave do Consulado italiano, em Gondar. Mais tarde, dia 10 de Outubro de 1932, encontrámo-nos outra vez com as mulheres adeptas do zar, mas fora do acampamento. Michel Leiris que se vê no fundo a direita da fotografia (10), instalou-se na casa de Malkam Ayyahou para assistir durante a cerimónia às transes sucessivas dela. O arquivo “Griaule”, bastante bem tratado, ainda oferece, como se vê, hipóteses de leituras variadas a quem procura por trás das fotografias as histórias de percurso e de vida. Os meus agradecimentos pela ajuda são sinceros. Nestas relações privilegiadas com os guias e interlocutores, também a Germaine Tillon destaca-se, aqui de cavalo nos Aurès, no caminho que vá de Targoust a Menar na Algéria (foto 7). Esta fotografia de 1935 é inédita. Sempre acompanhada dos seus cães, como a fotógrafa Marie Rameau nos contou, Germaine Tillon que fará 99 anos nesse mês de Maio de 2006, deu o nome de Touisa aquele pequeninho cão que se instalou nos braços dela. Touisa signifie entreajuda em Berbere. Nesse lindo retrato da fotógrafa, Germaine Tillon sossegada, na sua casa de Saint-Mandé, perto da lagoa, tem 93 anos (foto 8). O retrato de Marcel Mauss é muito conhecido (foto 1). Já fez a capa de vários livros, e nomeadamente do seu tão famoso Sociologia e Antropologia publicado pelas Presses Universitaires de Franca na colecção Quadrige. Não se conseguiu outra fotografia. A mesma coisa se poderia dizer do retrato de Levy-Brulh, sem legenda, nem data (foto 2). Ao contrario, graças à procura espontânea e activa de Nicolas Govoroff, o retrato de Claude Levi-Strauss no meio dos archivos (foto 12) ganhou informações. A fotografia foi tirada no seio do “velho colégio”, como se diz

2

agora no “novo”, quer dizer na casa-mãe, 11 Place Berthelot em Paris, onde se sediou o Laboratoire d’Anthropologie Social entre 1963 e 1965. Claude Lévi-Strauss, aqui com mais ou menos 72 anos, figura no meio das Human Relations Área files. Em casa de Claude-Hélène Perrot em Paris, Denise Paulme bebe café com a economista e antropóloga Marion Johnson, que trabalhou no Gana, e com a terceira pessoa que tirou a fotografia (foto 9). Estamos nos anos 1990, num dos outros lugares de encontro dos africanistas de passagem em Paris. Os meus agradecimentos vão para : Marie-Dominique Mouton, Geneviève CalameGriaule, Eric Jolly, Olenka Darkowska-Nidzgorski, Claude-Hélène Perrot, Nelly Forget, Marie Rameau, Stéphanie Lamache, Jean-Moé Léonidas, Evelyne Maury, Carmen Alemany, Laure Piaton, Marion Abelès, Christian Bromberger, Catherine Siroux, Nicolas Govoroff, Eva Kempinski, Matthieu Levi-Strauss e Excellentíssimo Professor Claude Levi-Strauss. E a : Institut Mémoires de l’Edition contemporaine, Caen ; Bibliothèque du Laboratoire d’ethnologie et de sociologie comparative, Nanterre ; Service des Archives de la Nouvelle-Calédonie, Nouméa ; Service des Archives du Collège de France, Paris.

3

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.