(2010)_Editor_Apresentação_Revista História Social (n.19): Racismo: História e Historiografia

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HISTÓRIA SOCIAL: REVISTA DOS PÓS-GRADUANDOS EM HISTÓRIA DA UNICAMP ISSN: 1413-7046

No 19 – Segundo semestre de 2010

História Social é uma publicação dos alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Unversidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Tiragem: 300 exemplares Periodicidade semestral Créditos de produção: Revisão: Natalia Cordoniz Klussmann Editoração: Ivan Avelar Impressão: Gráfica do IFCH Projeto de capa: Lucas Zappa de Aguiar Finalização (miolo e capa): Setor de Publicações Contato: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH Secretaria de Pós-Graduação A/C: Conselho Editorial da História Social – Cx. Postal 6110, Campinas (SP) CEP: 13081-970 e-mail: [email protected] homepage: www.unicamp.br/rhs * Solicita-se permuta Exchange desired

* As posições expressas em trabalhos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Os textos não poderão ser reproduzidos sem a permissão dos mesmos.

Universidade Estadual de Campinas Reitor: Fernando Costa Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Diretora: Nádia Farage Diretor associado: Sidney Chalhoub Programa de Pós-Graduação em História Coordenador: Eliane Moura Silva Editor responsável pelo número: Marcos Abreu Leitão de Almeida Editores David Patrício Lacerda, Márcia Cury, Renata Xavier Barbosa do Amaral, Vinicius D. de Rezende Conselho Editorial Angela Alonso (USP/CEBRAP), Antonio Luigi Negro (UFBA), Astor Diehl (UPF), Benito Bisso Schmidt (UFRGS), Carlos Fico (UFRJ), Claudio Batalha (UNICAMP), Edilene Toledo (UNIFESP), Edgar De Decca (UNICAMP), Fernando T. da Silva (UNICAMP), Henrique Espada Lima Filho (UFSC), Isabel Bilhão (UEL), Ivone C. D. Gallo (PUCCampinas), John French (Duke University), Leandro Karnal (UNICAMP), Luzia Margareth Rago (UNICAMP), Marcel Van der Linden (International Instituut voor Sociale Geschiedenis), Marcos Del Roio (UNESP), Maria Stella Bresciani (UNICAMP), Mario Garcés (Universidad Arcis), Mirta Lobato (Universidad de Buenos Aires), Olivia Maria da Cunha (Museu Nacional/UFRJ), Silvia Hunold Lara (UNICAMP), Tania Regina De Luca (UNESP), Teresa Malatian (UNESP)

Consultores científicos deste número: Arthur Lima de Ávila (UFRGS), Alexandre Fortes (UFRRJ), Cristina Stevens (UNB), Fabio Luis Barbosa dos Santos (doutorando/USP), Ivo José Dittrich (UNIOESTE), Jonas Vargas (doutorando/UFRJ), Lettícia Batista Rodrigues Leite, Luciana Liaga de Oliveira (UNICAMP), Sandra Maggio (UFRGS), Solange Pimentel Caldeira (UFV)

SUMÁRIO Apresentação ..................................................................................... 07 Editores Dossiê Racismo: história e historiografia Introdução: a história social e o racismo .................................... 15 Silvia Hunold Lara A Importância da África para as Ciências Humanas ..................... 19 Robert W. Slenes Precariedade estrutural: o problema da liberdade no Brasil escravista (século XIX) ..................................................... 33 Sidney Chalhoub O 13 De Maio e as Celebrações da Liberdade, Bahia, 1888-1893 ....................................................................... 63 Walter Fraga Filho A vala comum da raça emancipada: abolição e racialização no Brasil, breve comentário ................................. 91 Wlamyra Albuquerque Esses intimoratos homens de cor: o associativismo negro em Rio Claro (SP) no pós-abolição ................................... 109 Petrônio Domingues Entre dois mundos: Gilberto Freyre, a ONU e o apartheid sul-africano ......................................................... 135 Jerry Dávila Seção Livre Artigos Dissensos em torno da modernização planejada para o Brasil: intelectuais, política e questão racial no corpus da revista Anhembi (1950-1962) ................................. 151 Gustavo Mesquita

Reforma Agrária e a desconcentração de terra, de renda e de população ................................................. 173 Arlete Maria Feijó Salcides Eloy Alves Filho Revista Argentina: peronismo, cultura e a tradição liberal-democrática argentina (1949-1950) ................................ 193 Paulo Renato da Silva Resenha Sabine G. MacCormack. On the wings of time. Rome, the Incas, Spain, and Peru . Princeton, Princeton University Press, 2006, 320 páginas ............................ 217 Victor Santos Vigneron de La Jousselandière

Apresentação

A inco m p reensão do pres e nte nas c e fatalmente da ignorância do passado. Mas é talve z igualmente inútil es gota r- s e a compreender o passado, se nada se souber do presente (BLOCH, 2001: 65).

A Revista História Social (UNICAMP) organizou, para esta edição, um dossiê in titulado “Racismo: história e historiografia”. Nosso objetivo foi contribuir com o desenvolvimento de uma história do racismo capaz de intervir nos recentes debates no Brasil, sejam eles acadêmicos ou políticos, e que abordam, diretamente, a questão racial no país. Nosso intuito é compreender e levar a público as formas pelas quais o racismo esteve presente, não apenas nas relações sociais e de trabalho na história do Brasil, mas também nas maneiras como informou políticas do Estado. Igualmente, estamos interessados em saber como intelectuais e políticos, dos mais div ersos matizes e contextos, buscaram apropriar-se do conceito de raça para implementar seus projetos de nação. Sem dúvida, a amplitude do tema e sua importância não couberam em apenas um número de um periódico, e para fazê-lo, deixamos muito ainda para ser contado. “Escolher”, ensina Lucien Febvre, “não é cousa fácil, principalmente quando o problema é de tal amplitude que põe em jogo muitos dados” (apud Braudel in: MORAZÉ, 1965). Por certo, até pela natureza fragmentada e polifônica de um periódico, guiou nossas escolhas menos a tentativa de fazer uma história geral do racismo no Brasil, em que se acotovelariam fatos e datas, do que colocar em discussão alguns problemas que nos inquietavam. E que, após a edição ficar pronta, nos inquietam ainda mais.

Nesse sentido, os artigos a seguir tratam de levar aos leitores os seguintes temas: a importância dos estudos africanistas para as Ciências Humanas, racialização das relações sociais no final do século XIX, e projetos políticos para a construção da nação; as apropriações dos mais diversos grupos sociais da ideia de raça, as relações entre cidadania e raça, bem como as experiências de liberdade de ex-escravos no século XIX. Para apresentar o dossiê, convidamos a professora Silvia Hunold Lara, que chamou a atenção para a importância da abordagem da História Social para repensar paradigmas cristalizados nas Ciências Sociais sobre o tema. Abrimos o dossiê com o artigo de Robert Slenes sobre a Importância da África para as Ciências Humanas. Slenes busca responder à pergunta: “Por que, numa conjuntura de escassez de recursos, contratar um historiador [ou an tropólogo, economis ta, cientista político, filósofo, estudioso da literatura] que seja especialista em África, em vez de um perito em outra área geográfica?” Ao oferecer uma resposta, o professor Slenes mostra, com a costumeira erudição, como a incorporação dos estudos africanistas e de professores e pesquisadores negros na universidade brasileira não são apenas ações de polític as sociais, mas também uma pr ement e ques tão epistemológica. Portanto, também de política científica. Em Precariedade estrutural: o problema da li berdade no Brasil escravista (século XIX), Sidney Chalhoub retoma um problema clássico da historiografia sobre a escravidão, mas tão somente para abordá-lo sob um ponto de vista original. Afinal, se a historiografia há muito vem mostrando os espaços para indefinições na fronteira entre a escravidão e a liberdade, esta porosidade não obstante vem sendo abordada em sentido único, isto é, a possibilidade do cativo obter sua carta de alforria e galgar a escala social. Pelo contrário, ao discutir as experiências de liberdade de egressos da escravidão e seus descendentes, Chalhoub enfoca os mecanismos sociais que tornavam, no século XIX, a posse da liberdade precária, em especial a escravização ilegal, as manumissões

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condicionais e a possibilidade revogação das alforrias. O problema então não passa a ser apenas as taxas de alforria, mas a própria liberdade, e seus limites, que o egresso poderia experimentar. Ao entender tal problema como uma questão central para se compreender a sociedade brasileira do oitocentos, Chalhoub passa a apresentar o conceito de precariedade estrutural da liberdade no Brasil escravocrata. No próximo artigo, O 13 de maio e as celebrações da liberdade, Bahia, 1888-1893 , Walter Fraga F ilho mos tra como as festas de celebração ao 13 de maio na Bahia estavam repletas de expectativas e tensões em torno da própria memória da abolição. Fraga mostra que, tão logo pôs fim ao cativeiro, o dia 13 de maio passou a ser disputado pelos partidos políticos, mas também não escapou a este historiador que, para parcela significativa da população, as festas em torno da abolição representavam as lutas do tempo do cativeiro e as expectativas da liberdade que viria a seguir. Ainda em torno do período pós-abolição, o artigo A vala comum da raça emancip ada: abolição e racializaç ão no Brasil, bre ve comentário, de autoria de Wlamyra Albuquerque, busca compreender as formas pelas quais a sociedade republicana redefine os lugares sociais e reorganiza as hierarquias sociais, desta vez pondo em ação critérios raciais. Nesse contexto, a historiadora busca analisar alguns artigos de Rui Barbosa que se utilizava dos termos “Raça Emancipadora” e “Raça Emancipada”, esse último, como lembra a autora, reunindo uma grande parte da população de cor que, em 13 de maio de 18 88, já se encontrava liberta ou livre. Assim, Wlamyra Albuquerque busca definir o conceito de racialização e as formas pelas quais o processo ocorreu no Brasil. Sem dúvida, como ensina a própria professora Wlamyra, o processo de racialização não foi apenas um processo impositivo, “de cima para baixo”. Polissêmico, o conceito de raça se prestou a diversos senhores. Não é de se estranhar, portanto, que dele também tenham se apropriado os próprios negros que, através da ideia de raça, construíam identidades, cultivavam vínculos e inventavam

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origens. Nesse sentido, o artigo de Petrônio Domingues, Esses intimoratos homens de cor: o associativismo negro em Rio Claro (SP) no pós-abolição , mostra o surgimento e desenvolvimento de movimentos associativos dos negros em Rio Claro (SP) na década de 1930. De fato, Petrônio Domingues põe em evidência como, em meio a um ambiente social opressivo, com a implementação de políticas públicas influenciadas pelo racismo científico e pelo darwinismo social, os negros de Rio Claro buscaram se organizar em associações, dando particular enfoque às atuações político-culturais promovidas pela delegação local da Frente Negra Brasileira. Ainda assim, como Domingues habilmente analisa, a adesão da população negra a essas associações não demonstravam uma homogeneidade ou a conformação em um bloco cristalizado. Pois, como afirma o autor, “não existia (e nunca existiu) uma única maneira de ser negro; logo, é escusado salientar que não havia uma única maneira de se contrapor ao ‘preconceito de cor’”. Encerrando o dossiê, o artigo de Jerry Dávila, Entre dois mundos: Gi lberto Freyre, a ONU e o apartheid sul-afric ano, analisa um documento raro: trata-se do relatório que Gilberto Freyre, em 1954, apresentou à ONU e que analisava o apartheid sul-africano. No artigo, Dávila analisa as categorias através das quais Freyre compreendia a questão racial, não apenas na África do Sul, mas em todo mundo atlântico. Ao assim proceder, Dávila percebe a centralidade da distinção, no pensamento de Freyre, entre a colonização ibérica e anglo-saxã, em que a primeira seria o espaço privilegiado da incorporação de não europeus à civilização europeia, e, o último, a região ultramarina onde existiam nexos inseparáveis entre raça e civilização, nexos estes que acabavam por interditar a assimilação do não europeu ao projeto civilizado. A partir dessa chave, Freyre passou também a criticar a lei Afonso Arinos, de 1951, entendo-a como exótica ao Brasil. Dávila mostra que, se tais análises eram ainda possíveis, elas por certo perdiam espaço em um momento de descolonização da África e de derrubada

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da segregação racial nos EUA. Não à toa, o pensamento de Freyre encontrou refúgio na diplomacia salazarista, que, ao defender-se de críticas da ONU sobre suas possessões ultramarinas, brandia o relatório do sociólogo brasileiro, entendido, nesse contexto, como “especialista em questão racial”. Na seção livre, damos sequência, de início, com a mesma temática. Em Dissensos em torno da modernização planejada para o Brasil: intelectuais, política e questão racial no corpus da revista Anhembi (1950-1962), Gustavo Mesquita analisa os embates, na década de 1950, entre a nova sociologia científica, centralizada na USP, e a tradição sociológica representada por Gilberto Freyre, pondo em evidência a s diferentes concepções de modernização e de entendimento da questão racial no país, então presentes naquele contexto. Para tanto, Mesquita utiliza uma documentação pouco trabalhada: além da revista Anhembi, importante periódico da década de 1950, fundada e dirigida por Paulo Duarte, e que publicava resultados de pesquisas recentes no campo das ciências humanas, faz parte de seu arcabouço artigos de Roger Bastide, Florestan Fernandes e Octavio Ianni, entre outros. No segundo artigo da seção livre, intitulado Revista Argentina: peronismo, cultura e a tradição liberal-democrática argentina (19491950), Paulo Renato da Silva, também utilizando um periódico como documentação histórica, vale-se da revista Argentina para analisar a política cultural, e as suas vicissitudes, do governo do presidente Juan Domingo Péron. Com circulação nacional e dirigida a um público amplo, a análise da revista Argentina proporciona a possibilidade de se observar as complexidades da sociedade platina do período e as dificuldades da política cultural de Perón em lidar com este panorama. Por fim, o artigo A Reforma Agrária e a desconcentração de terra, de renda e de população, de Arlete Mario Feijó Salcides e Eloy Alves Filho, traz a análise de dados recém-coletados a respeito do Programa de Reforma Agrária implementado em Minas Gerais. Obtidos a partir

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de entrevistas e questionários, tais dados atestam o alto grau de aceitabilidade do programa entre os assentados, e deslindam o horizonte a que o programa ainda precisa se voltar para melhorar e, assim, reduzir o número de famílias evadidas. A revista conta ainda com a resenha de Victor Santos Vigneron, que chama a atenção do público brasileiro para obra de Sabine Maccormack, On the W ings of time. Rome, the Incas, Spain, and Peru, tratando de um tema original, qual seja, as formas que a tradição clássica fora evocada no contexto colonial peruano. Boa Leitura, Os Editores Bibliografia: BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BRAUDEL, Fernand. Prefácio. In: MOZARÉ, Charles. Os burgueses à conquista do Mundo. Lisboa/Rio de Janeiro: Edições Cosmos, 1965.

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