(2011) CIDADE E SUJEITO NA REDE

May 28, 2017 | Autor: Lauro Baldini | Categoria: Análise do Discurso, Psicanálise, Análise de Discurso
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CIDADE E SUJEITO NA REDE BALDINI, L. J. S.1 Dar corpo às palavras2: a expressão merece ser levada em conta em sua ambiguidade e profundidade. Dar (o seu) corpo às palavras, para que essas signifiquem; fazer com que as palavras se reúnam, formando o todo visível e material a que se dá o nome, por exemplo, de locução; emprestar um pedaço de si mesmo às palavras, para que elas “tomem” (o) corpo... Indicativos de que a relação entre sujeito e linguagem não se dá no nível da representação, mas do ato: ato de intervir simbolicamente e (se) significar, atamento do corpo ao linguajeiro. A cidade: um corpo imaginariamente construído, com seus limites, seus “de dentro” (cidadãos) e seus “de fora” (marginais), sua dupla articulação de sentido (a cidade como o oposto do campo, a cidade como o todo político-administrativo); de qualquer modo, como todo corpo, é necessário traçar um fim e um começo, um dentro do corpo e um fora do corpo, um público e um privado, lugares de identificação. A esse respeito, podemos pensar nos “discursos oficiais”, isto é, naquilo que a cidade diz de si mesma e constrói como memória institucionalizada (as cerimônias, os eventos, etc.), daquilo que circula de boca em boca, os “flagrantes da narratividade urbana3”, esses dizeres anônimos e nem tão anônimos que compõem as “falas desorganizadas4”, esses lugares em que novos sentidos podem advir e onde sentidos silenciados insistem em se fazer ouvir, ao menos na forma de um discurso que não pretende ser cerimonial, mas efetivo – pois a memória também funciona nesses modos nãoautorizados, nessas conversas de ruas escuras, nesse “saber” sobre a cidade que não se diz na luz do dia. Ainda nessa mesma direção, talvez seja importante salientar o que diz Orlandi (2001:23), sobre as duas formações discursivas que permeiam o dizer da(na) cidade: aquela em que ficamos no nível da organização, e portanto do urbanístico e do administrativo, e aquela outra, em que se atinge o “real da cidade”, o político, propriamente. Para o que nos interessa aqui, trata-se de fazer algumas considerações iniciais sobre dois pontos em particular: a) a internet em sua relação com essas falas desorganizadas, essas discursividades que circulam sob, sobre, entre e através (d)as narrativas alicerçadas na memória institucionalizada; b) a relação entre essas falas e os processos de identificação na internet. Para tanto, escolhemos como objetos privilegiados de análise o sítio de relacionamentos Orkut e alguns outros sítios que, contrapostos, podem nos dizer alguma coisa a respeito dos sentidos que se formulam, se constituem e circulam na cidade e a significam. Antes de apresentarmos algumas análises iniciais, julgamos conveniente apresentar alguns dos elementos teóricos que balizarão nosso olhar. Em primeiro lugar, a ideia de que o funcionamento de nossa sociedade é espetacular, não pela profusão de imagens que circulam por todos os meios e todos os momentos da vida dos indivíduos, mas pelo fato de que, como diz Debord (1967:14), “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”. Nesse sentido, “o caráter fundamentalmente tautológico do espetáculo decorre do simples fato de seus meios serem, ao mesmo tempo, seu fim. É o sol que

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Professor do curso de Mestrado em Ciências da Linguagem da UNIVÁS. “Formular é dar corpo às palavras”. Orlandi, (2001:9). 3 Orlandi, op. cit., pg. 11. 4 Idem, ibidem. 2

nunca se põe no império da passividade moderna5”. Tal funcionamento social é correlato da passagem dos sentidos de cidadania que derivam da ideia de cidadão para a ideia de consumidor, e, evidentemente, de consumido. Neste jogo entre consumir, ser consumido e consumir-se, temos o panorama dos processos de identificação contemporâneos, pelo menos em sua vertente imaginária. Como diz ainda Debord, “o homem cuja vida se banaliza precisa se fazer representar espetacularmente6”. Ora, que lugar melhor para pensar essa disseminação espetacular de individualidades produzidas espetacularmente que a internet, ao menos em seus sítios mais acessados e populares, isto é, as comunidades relacionamento, em que fotos cuidadosamente tiradas para dar a impressão de displicência e alheamento, a exposição pública de conversas banais, os comentários acerca das imagens uns dos outros, enfim, tudo conspira para erigir a construção imaginária de um eu indiviso? Aqui convém salientar, como faz Kehl (2004:49), que a esse processo de identificação corresponde o conceito de estádio de espelho em Lacan, ou seja, “a forma mais primitiva de identificação, que nos coloca na dependência absoluta do Outro”. Essa “dependência absoluta”, com a fragilidade que lhe corresponde, produz-se discursivamente no seu inverso, a ilusão de autonomia do sujeito, que Pêcheux magistralmente descreve sob o mecanismo da interpelação ideológica, ressaltando a ligação entre ideologia e inconsciente pelo fato de que “que o traço comum a essas duas estruturas (...) é o fato de elas operarem ocultando sua própria existência, produzindo uma rede de verdades ‘subjetivas’ evidentes, com o ‘subjetivas’ significando, aqui, não que afetam o sujeito, mas em que o sujeito se constitui7”. Esse vínculo entre identificação imaginária e ilusão de autonomia se mostra bem, por exemplo, na escolha do “Homem do Ano” da revista Time, em 2007:

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Debord, (1967:17). Debord, op. cit., pg. 23. 7 Pêcheux, (1982:148). 6

A essa elegia do eu, esse nivelamento do político pela tecnologia, contrapõe-se aqueles que, mesmo tendo acesso à internet, não se identificam com as discursividades dominantes, e, estando dentro, permanecem fora, exclusão que se deixa ver numa expressão que circula pela rede: “maldita inclusão digital”. Malditos esses, de fora, que se colocam dentro da ilha de privacidade narcisista da internet e que abalam a balada tediosa dos discursos do universalismo burguês, pois se é verdade que a sociedade espetacular reúne os contrários na figura da imagem, é preciso lembrar que “o espetáculo reúne o separado, mas o reúne como separado8”. Ainda a propósito de tais questões, do ponto de vista da identificação do sujeito com seu discurso, parece fundamental indicar uma passagem, em vias de se tornar hegemônica, de uma sociedade de produção, cujo fundamento é a repressão, para uma sociedade de consumo, cujo paradigma é o do imperativo do gozo. No entanto, e gostaríamos de salientar este ponto, dizer que o laço social no capitalismo pós-industrial assume a forma da perversão não quer dizer que, do ponto de vista das estruturas clínicas, estejamos diante de uma sociedade composta de perversos. Como diz Kehl (2004:75), “não é preciso que os sujeitos, um por um, sejam estruturalmente fetichistas de acordo com o modelo freudiano da perversão, para que a sociedade como um todo funcione segundo as leis do fetiche”. Desde as teorizações freudianas sobre o fetichismo, sabemos que o fetichismo é um modo particular de relação dos sujeitos com a castração e com a angústia que privilegia a denegação, em vez do recalcamento e da foraclusão, que seriam os modos de funcionamento da neurose e da psicose, respectivamente. Em vez de um “não quero saber nada disso”, tipicamente neurótico, temos uma espécie de clivagem em que o sujeito sabe, mas finge não saber. O fetiche, que pode ter qualquer face, revela e escamoteia a castração, num mesmo movimento contraditório. Esse funcionamento fetichista da sociedade, a nosso ver, indica que há uma relação importante entre o capitalismo pós-industrial e a sociedade espetacular, tal como Debord a concebe, pois é como fetiche que a imagem circula e é construída socialmente. É como se houvesse uma passagem, ou uma alteração no princípio ordenador da sociedade. Como diz Safatle (2008: 22) essa relação entre cinismo e perversão se orienta no sentido de que a perversão se caracteriza não por estar ligada a esta ou aquela prática sexual, mas por uma relação específica dos sujeitos com a lei social, “relação peculiar por basear-se em modos de seguir as injunções da lei, sem, com isso, produzir disposições de conduta normalmente conformes à lei”. É aqui que o laço se torna claro, pois há uma mudança no modo de funcionamento da sociedade, na medida em que não se trata mais do recalcamento funcionando como as normas de relação entre os sujeitos, mas sim de uma estruturação mais próxima da perversão e das leis do fetiche, como por exemplo, nas comunidades do Orkut que se “oferecem” para implementar o “perfil” do usuário, proporcionando imagens, amigos, frases, numa palavra, tornando-os consumíveis, como se pode ver nas imagens abaixo, retiradas do próprio Orkut:

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Debord, op. cit., pg. 23.

É interessante notar que, ao lado de uma proposta de homogeneização completa dos “perfis” dos usuários, que se estabelecem numa grande rede tediosa de repetições de fotos, frases e layout, ainda se possa dizer que “não mudaremos seu estilo, cada um cada um”. Longe de indicar uma incoerência argumentativa, essa contradição nos mostra o funcionamento “normal” da subjetividade contemporânea, em que ser diferente é ser absolutamente igual aos outros, mas “com seu estilo”. Tornar-se “vip”, escapar da massa anônima ao entrar numa outra massa igualmente anônima, mas com uma visibilidade construída adequadamente para parecer ser único. Não importa se os amigos são “fakes”, se os depoimentos no perfil são, eles também, “fakes”, o que importa é aparecer aos olhos dos outros, como consumível. Como diria o perverso, sei, mas mesmo assim... Isso nos indica que o modo de funcionamento dessas comunidades, de um ponto de vista discursivo, é o da circulação de imagens feitas para dar sustentação imaginária a uma identidade fragilizada e sem ancoragem simbólica. Assim, “a lógica do fetichismo da mercadoria deslocou-se para o terreno onde circulam as imagens”9, e, diríamos, constrói um universo discursivo em que o mentiroso mente, sobretudo, para si mesmo. Dito de outro modo, “os vendedores de imagens são presas da própria ilusão que produzem. São, ao mesmo tempo, o fetiche e o fetichista, o ilusionista e o iludido”10.

No entanto, não queremos opor, aqui, um “mundo real”, mais autêntico e verdadeiro, e um “mundo virtual”, onde opera a ilusão é o erro. Tal perspectiva, apenas uma retomada do mito da caverna platônica, não nos permite ver que se trata, na verdade, de uma nova configuração da relação dos sujeitos consigo mesmos, com os outros e com a verdade. Como diz Zizek, devemos nos opor a lógica binária que alterna a visão que temos do fenômeno do ciberespaço entre “a tendência a celebrar o ciberespaço como um novo campo da união protocomunista em que os seres humanos serão transformados em entidades virtuais, flutuando livremente num espaço compartilhado – o que é uma variação do idealismo gnóstico11” e o pensamento de que estamos diante de “apenas uma armadilha ilusória, que solapa o potencial humano e sua capacidade de exercer a liberdade e a autonomia verdadeiras12”. Para o que nos interessa, ainda seguindo o pensamento de Orlandi, não se trata de opor à internet o mundo em sua concretude, 9

Kehl, op. cit., pg. 81. Idem, pg. 82. 11 Zizek, (2006:122/123). 12 Idem, pg. 123. 10

mas em ver como os sujeitos significam e se significam em diferentes espaços enunciativos. Nesse sentido, o imaginário está presente em todas as nossas relações, sejam elas virtuais ou não. Não se sai da ideologia porque se comprou um computador e, desse modo, as relações chamadas “virtuais” não escapam ao “jogo da memória”, já que “todo dizer, na realidade, se encontra na confluência dos dois eixos: o da memória (constituição) e o da atualidade (formulação)13”. Longe de ser o “mundo livre”, que nos separa até de nossas amarras físicas, o ciberespaço está sobredeterminado pelas relações de força presentes numa dada formação social. Todavia, é evidente que tais relações assumem novas formas no espaço virtual e o dizer circula de maneiras inusitadas. A esse respeito, e voltando ao tema central deste trabalho, para se chegar à cidade de Pouso Alegre, em cada uma das possíveis entradas, a depender de onde vem o viajante, é-se recebido ou pelas fachadas luminosas das boates ou pelas garotas de programas (mulheres e travestis). De fato, só se chega ao centro (e à prefeitura e à igreja), depois de passar por essas margens e esses marginais. Tais como “excluídos internamente”, eles fazem e não fazem parte da cidade, pois são aqueles vistos como o corpo degenerado de que a cidade deve se livrar, mas, ao mesmo tempo, são os que fazem a margem da cidade, isto é, desenham seus contornos e permitem que a cidade se reconheça. Precisam, para o funcionamento social, estar, ao mesmo tempo, dentro e fora da cidade. No caso da internet, ao se procurar pela cidade de Pouso Alegre, encontramos sítios em que o “discurso cristalizado” se repete de maneira entediante. Veja-se, por exemplo, a página da cidade na Wikipédia (“a enciclopédia livre que todos podem editar”):

Uma imagem de uma das ruas centrais, dados geográficos e estatísticos, a bandeira oficial e o brasão da cidade, etc., todos esses elementos formam o conjunto do dizer sobre a cidade que, embora funcionando relativamente a uma memória construída 13

Orlandi, (1999:33).

socialmente, exclui outras memórias sobre a cidade, menos respeitáveis, como se pode ver no sítio que faz contraponto à Wikipédia, a Desciclopédia (“a enciclopédia livre de conteúdo e que qualquer um pode editar”):

Aqui, pelo lado do humor, revela-se o “recalcado” da página anterior, trazendo a ironia como modo de resistência dos sujeitos a um discurso ao qual não se sentem identificados, mobilizando diferentes formações discursivas que, pela paródia, explicitam o que havia ficado silenciado em outros lugares. Veja-se, abaixo, uma foto apresentada como sendo a de um “buraco típico da cidade”:

Ou, ainda, a imagem de Iemanjá, após uma das costumeiras enchentes, transitando pelo centro da cidade, como diz a legenda abaixo da imagem:

Como não ver aí, nessas falas anônimas, a conversa de boteco, o sussurro na esquina, o segredo ao pé do ouvido, esses lugares em que, neles também, há um jogo de memória, mas de uma memória que não funciona do mesmo modo que a memória institucionalizada? No caso do Orkut, dá-se praticamente o mesmo: uma busca pela cidade de Pouso Alegre retorna resultados mais ou menos esperados, ou seja, a comunidade da cidade, uma comunidade destinada a divulgar as “baladas” (vocábulo, inclusive, não utilizado na periferia, quer dizer, nas margens), os colégios mais tradicionais, etc. Mas, com um pouco de paciência, clicando mais à frente, como um pesquisador que decide circular pelas vielas menos costumeiras, chegamos a comunidades um tanto quanto distintas, das quais reproduzo a página inicial de apenas duas:

O próprio número de membros, bastante reduzido com relação ao das comunidades mais ou menos previsíveis, mostra-nos que, do mesmo modo, estamos longe do centro e daquilo que é apresentado como parte integrante da cidade. Tais comunidades nos permitem encontrar as “falas desorganizadas”, esses momentos em que uma certa discursividade se propõe, mas ainda não está fixada institucionalmente, a exemplo dos rappers, do grafite, das prostitutas ao lado das rodovias, um dizer que mobiliza certa coletividade, sem com isso se propor como contraponto à discursividade mais fixada institucionalmente. São mais como espaços de “respiro”, em que o não-dito e o silenciado das praças centrais encontra seu lugar, geralmente à luz da noite. São dizeres ligados a movimentos coletivos não-institucionalizados, mas que encontram, na internet, uma forma de expressão, um modo de (se) dizerem que talvez não seja possível na Cidade em sua concretude. Com relação às duas comunidades indicadas acima, pode-se ver claramente a mobilização de diferentes formações discursivas que permitem situar uma delas, a primeira, como um investimento político no campo do sexual, de modo que as palavras “homossexuais, transexuais e bissexuais” são associadas ao campo da “cidadania”. Dessa maneira, ainda que permaneçam à margem, excluídos internamente do campo da cidade, os sujeitos convocam os sentidos da “política” para sustentar uma identidade sexual. No segundo caso, no entanto, percebe-se um movimento em outro sentido, próximo daquilo que chamamos de funcionamento fetichista, pois se trata apenas de uma comunidade destinada a agregar interessados em realizar “realmente” (e não “virtualmente”) uma certa prática sexual (que se pode inferir da imagem que representa a comunidade), e, embora seja uma comunidade também marginal no contexto das comunidades de Pouso Alegre no Orkut, o impedimento de uma vivência menos sorrateira da sexualidade é atribuída ao “medo” e ao “preconceito” que, como tais, não comparecem como efeitos de uma política dos sentidos na cidade, mas de uma questão de interioridade dos sujeitos. O próprio modo de funcionamento da rede de relacionamentos já sobredetermina os sentidos possíveis para essa questão da sexualidade. Ambas as comunidades estão

sob a rubrica “Gays, lésbicas e bi”, e poderíamos pensar que outros sentidos poderiam ser mobilizados caso estivessem, por exemplo, sob a rubrica “Política”. Poderíamos prosseguir fazendo essa relação entre os discursos que circulam na cidade, notadamente, como vimos, os discursos oficialescos e as falas desorganizadas. Poderíamos ver, por exemplo, que o próprio nome da cidade carrega uma origem diferente em cada um dos casos14, e que a remetem a origens míticas distintas... Nos discursos sobre a internet que circulam atualmente, é muito comum que os enunciados gravitem em torno de uma palavra: revolução. No entanto, nunca fica muito claro em que aspecto a internet deve ser considerada revolucionária. Em geral, surgem argumentos em torno do conceito de “velocidade”, “informação”, “liberdade”. O mundo, dizem-nos, está agora “conectado”. No entanto, tal vacuidade conceitual não deve nos levar a nos levar a simplesmente descartar uma possibilidade revolucionária na internet. De certo modo, o próprio fato de que seja difícil discernir e precisar exatamente em que medida e de que modo a internet revoluciona as relações entre os sujeitos indica que se trata de um ponto a ser elaborado teoricamente. A questão é pensar o virtual na sua relação com os processos de socialização do indivíduo, tal como Orlandi os considera na dinâmica entre assujeitamento e individuação. Aqui, a internet tem funcionado numa lógica da identificação bastante fechada, que tende a reduzir, e não ampliar a relação entre os sujeitos. Como aprendemos com Pêcheux, o potencial disruptivo de uma ferramenta tecnológica não está inscrito nela mesma, mas na relação entre esta e a sociedade na qual se coloca. Até o momento, e com exceções dignas de nota15, a rede tem funcionado como uma ilha narcisista, em que pregnância do imaginário possibilita a construção de identidades apoiados na circulação de imagens de si mesmo que apenas contribuem para transformar o sujeito em mais um elemento da usina do entretenimento. Além disso, a falta de regulação do poder das grandes corporações tende a transformar a rede numa imensa fonte de informações sobre os gostos, hábitos e posições políticas dos seus usuários, de maneira que se instale “um controle à maneira do ‘Big Brother’, diante do qual a velha supervisão da polícia secreta comunista [seria] uma primitiva brincadeira de criança”16. Nesse sentido, a cidade na rede e a cidade fora da rede operam de maneira semelhante: colocando à margem o excesso produzido por ela mesma. A socialização da cidade e da rede permanecem um desafio.

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Cf. o trabalho de Diego Natali, neste volume. Evidentemente, a internet também tem possibilitado um jogo de sentidos, especialmente no discurso jornalístico, em que o leitor pode encontrar diferentes filiações e tomadas de posição com relação às “coisas-a-saber”, como diria Pêcheux, em vez da usual cantilena dos conglomerados midiáticos. No entanto, preferimos aqui enfatizar sua dinâmica predominante. 16 Zizek, Paranoias Virtuais, Folha de São Paulo, 29/10/2000. 15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEBORD, G. (1967) A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. KEHL, M. R., BUCCI, E. (2004) Videologias. São Paulo: Boitempo. LEBRUN, J. P. (2008) A perversão comum. Rio de Janeiro: Campo Matêmico.

ORLANDI, E. P. (org). (2001) Cidade atravessada: os sentidos públicos no espaço urbano. Campinas: Pontes, 2001. ORLANDI, E. P. (1999) Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes. PÊCHEUX, M. (1982) “O mecanismo do desconhecimento ideológico”. In: ZIZEK, S. Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. SAFATLE, V. (2008) Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo. ZIZEK, S., DALY, G. (2006) Arriscar o impossível. São Paulo: Martins.

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