2013-\"A pedra talhada do Moinho de Valadares, Mercador e Monte do Tosco\" en: As comunidades agropastoris na margem esquerda do Guadiana. 2.ª metade do IV aos inícios do II milénio AC\" (ed. Valera, A. C.), pp. 229-269. Edia-Drcalen.

Share Embed


Descrição do Produto

AS COMUNIDADES AGROPASTORIS NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série

UNIÃO EUROPEIA

Empresa de Desenvolvimento

EDIA e Infra-Estruturas do Alqueva S.A.

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

6 MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª série

AS COMUNIDADES AGROPASTORIS NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA 2.ª metade do IV aos inícios do II milénio AC António Carlos Valera

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva

AS SOCIEDADES AGROPASTORIS NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA

FICHA TÉCNICA

MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série TÍTULO

AS SOCIEDADES AGROPASTORIS NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA 2ª metade do IV aos inícios do II milénio AC AUTORES

António Carlos Valera EDIÇÃO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva DRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo COORDENAÇÃO EDITORIAL

António Carlos Silva Frederico Tátá Regala FOTOGRAFIA DA CAPA

Autores DESIGN GRÁFICO

Luisa Castelo dos Reis / VMCdesign PRODUÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

VMCdesign / Ligação Visual TIRAGEM

500 exemplares DEPÓSITO LEGAL

Memórias d’Odiana R 2ª série

356 090/13 FINANCIAMENTO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva INALENTEJO QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

António Carlos Valera

AS SOCIEDADES AGROPASTORIS NA MARGEM ESQUERDA DO GUADIANA (2ª metade do IV aos inícios do II milénio AC)

Memórias d’Odiana R 2ª série

4

ÍNDICE

ÍNDICE

9

MEMÓRIA DESCRITIVA

11

INTRODUÇÃO

11

1. O bloco 5 do plano de minimização 1.1. Enquadramento da acção de minimização 1.2. A base documental 1.3. Breve resumo do estado dos conhecimentos à partida 1.4. Equipa ESPAÇO FÍSICO E IMPACTES DO REGOLFO 2. Caracterização geográfica genérica 2.1. Inventário dos sítios atribuíveis à Pré-História Recente na área de estudo OS CONTEXTOS INTERVENCIONADOS: CARACTERIZAÇÃO, FASEAMENTO E CRONOLOGIA (António Valera) 3. Moinho de Valadares 1 3.1. Localização e caracterização geomorfológica 3.2. Áreas intervencionadas: sequências estratigráficas, faseamentos e cronologias 4. O Mercador 4.1. Localização e caracterização geomorfológica 4.2. Levantamento topográfico e prospecções geofísicas 4.3. Áreas intervencionadas e organização faseada das sequências estratigráficas 5. O Monte do Tosco 1 5.1. Localização e caracterização geomorfológica 5.2. Áreas intervencionadas: sequências estratigráficas, faseamentos e cronologias 6. Os Cerros Verdes 3 6.1. Localização e caracterização geomorfológica 6.2. Áreas intervencionadas: sequências estratigráficas, faseamentos e cronologias 7. A Nova Aldeia da Luz 7.1. Localização e caracterização geomorfológica 7.2. Áreas intervencionadas: sequências estratigráficas, faseamentos e cronologias 7.2.1. O faseamento e as cronologias possíveis

ÍNDICE

Memórias d’Odiana R 2ª série

5

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS TEMÁTICOS Nota prévia a uma compartimentação do estudo de materiais 8. Os Materiais Cerâmicos 8.1. Caracterização morfológica, estilística decorativa e comportamento diacrónico dos artefactos cerâmicos (recipientes, colheres, queijeiras, vasos suporte e discos) 8.1.1. O equipamento cerâmico do povoado do Moinho de Valadares 1 8.1.2. O equipamento cerâmico do povoado do Mercador 8.1.3. O equipamento cerâmico do Monte do Tosco 1 8.1.4. O equipamento cerâmico de Julioa 4 / Luz 20 8.1.5. O equipamento cerâmico dos Cerros Verdes 3 Tabela de Formas 8.1.6. Nota à evolução morfológica dos recipientes ao longo do 3º milénio AC no norte da margem esquerda portuguesa 8.2. Tecnologias de produção cerâmica e exploração de matérias primas nos povoados do Moinho de Valadares e Monte do Tosco 1 8.3. Étude céramologique d’un ensamble de neuf vases campaniformes provenant du site de Monte do Tosco (Portugal) 9. Tecelagem e Pesca: os pesos 9.1. Os elementos de tear 9.2. Os pesos de rede 10. A Pedra Talhada 10.1. Introdução 10.2. Metodologia 10.3. Moinho de Valadares 1 10.4. Mercador 10.5. Monte do Tosco 10.6. Conclusões Gerais 11. A Pedra Polida 12. A Moagem

Memórias d’Odiana R 2ª série

6

13. Metais e Metalurgia 13.1. Metalurgia, metais e as comunidades do 3º milénio AC da margem esquerda do Guadiana 14. Evidências do sagrado e outros artefactos de excepção 14.1. As evidências do sagrado 14.2 . Objectos de adorno ÍNDICE

14.3. Artefactos em osso 14.4. Discos de xisto

DADOS PALEOECONÓMICOS: FAUNAS E SEMENTES 15. Estudo arqueozoológico dos restos faunísticos do povoado calcolítico do Mercador (Mourão) 15.1. Introdução 15.2. Métodos 15.3. Recolha e estado de conservação 15.4. Espécies presentes 15.5. O contributo do estudo arqueozoológico do povoado do Mercador (Mourão) para o conhecimento da exploração dos recursos faunísticos no Calcolítico do Sudoeste Peninsular Caixa 15-1 Chalcolithic animal bones from Mercador, Alentejo: some biometrical considerations 16. Moinho de Valadares, Mourão. Estudo da fauna mamalógica das sondagens 1, 2 e 3 (Campanha de 1999) 16.1. Introdução 16.2. Análise arqueozoológica do material faunístico por sondagem e unidade estratigráfica 16.3. Discussão e resultado Caixa 16-1 Monte do Tosco 1. Faunas recolhidas na campanha de 2000: análise preliminar 17. Faunas malacológicas do povoado do Mercador 17.1. Introdução 17.2 Metodologia 17.3. A fauna malacológica – identificação e caracterização 17.4. As espécies identificadas e o povoado do Mercador

DADOS ANTROPOLÓGICOS 19. Povoado calcolítico do Mercador – Relatório bioantropológico ÍNDICE

7

Memórias d’Odiana R 2ª série

18 . Dados sobre elementos vegetais no povoado do Moinho de Valadares 1 18.1. Identificação de um conjunto de carvões vegetais proveniente do sítio do Moinho de Valadares, Mourão 18.2. Impressões vegetais num fragmento cerâmico do sítio arqueológico do Moinho de Valadares (Mourão)

20. Povoado do Moinho de Valadares 1 – Relatório bioantropológico A DINÂMICA SOCIAL 21. Faseamento e cronologia dos contextos em análise 22. Organização social e estratégias de povoamento 22.1. Implantações, arquitecturas, organização espacial intra povoado e dinâmicas de ocupação 22.1.1. As intencionalidades de implantação 22.1.2. Principais construções arquitectónicas 22.1.3. Espacialidades intra povoado e dinâmicas internas de ocupação 22.1.4. A organização económica e níveis de interacção 22.2. Que modelo para o povoamento do 3º milénio AC na margem esquerda? 22.2.1. Hierarquização ou autarcia: a problemática dos fenómenos de agregação 22.2.2. Seria o Guadiana uma fronteira ? 22.3. Calcolítico Final e transição para a Idade do Bronze: a questão campaniforme 22.3.1. O problema das cerâmicas campaniformes 22.4. O problema funerário e a reutilização de contextos residenciais abandonados

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS Anexo I – A rocha gravada de Agualta 7 Anexo II

Memórias d’Odiana R 2ª série

8

ÍNDICE

10. A PEDRA TALHADA DO MOINHO DE VALADARES, MERCADOR E MONTE DO TOSCO Javier Moro Berraquero

O presente capítulo é dedicado ao estudo do material lítico dos sítios de Moinho de Valadares 1, Monte do Tosco 1 e Mercador, cronologicamente enquadráveis no Calcolítico. Trata-se de contextos intervencionados arqueologicamente no âmbito dos trabalhos de minimização patrimonial da área do regolfo da barragem do Alqueva e, portanto, localizados no contexto da bacia do curso médio do Guadiana. No que se refere aos líticos, estes correspondem a conjuntos industriais macrolíticos ou, mais concretamente, a um conjunto caracterizado pela exploração e configuração quase exclusiva de seixos rolados de rio, em quartzito. O seu estatuto definido quanto a espaço-tempo adquire relevância – como se verá – por se tratar de cadeias operatórias. Estas, por se encontrarem pouco estudadas nas escavações arqueológicas de sítios de cronologia calcolítica e por se tratar de conjuntos de traços técnicos simples, portanto tecnologicamente pouco alteradas ao longo do tempo, mantiveram aberta uma discussão teórica que entronca no controverso conceito de Languedocense. Sem que possamos deter-nos em excesso neste ponto, cabe mencionar que a discussão sobre o Languedocense se manteve aberta cerca de meio século, desde que foi definido por Breuil como uma indústria pós Acheulense, produto de uma degeneração industrial. Esta discussão manteve-se tanto em termos conceptuais como cronológicos (Raposo e Silva, 1980/81). Des-

de então, com o desenrolar de novos estudos e investigações a par do desenvolvimento de metodologias para o estudo dos conjuntos artefactuais, tem-se observado uma progressiva aproximação da sua cronologia às cronologias pós paleolíticas e da Pré-história recente. A raiz desta problemática parece residir na origem do conceito Languedocense, que surge na primeira metade do século passado a partir de uma caracterização muito ambígua de materiais procedentes de prospecções em terraços fluviais, recolhidos maioritariamente à superfície ou, mais pontualmente em cortes, mas em qualquer dos casos descontextualizados; produto de uma metodologia por seriação de patinas que, se ofereciam algum tipo de conclusões, eram de um nível de resolução muito baixo. O estudo tipológico destes conjuntos de coerência interna já de si problemática, baseado em critérios formais com o uso e abuso do “fóssil director”, unidos ao uso pouco preciso de conceitos como Cultura, Civilização ou Indústria, aplicados a um discurso interpretativo sobre evidências que não permitem dar resposta a essas perguntas, avivou uma polémica estéril, que durou até aos nossos dias. No que concerne a contextos estritamente calcolíticos, deparamo-nos com uma realidade observável inclusive na bibliografia mais recente: a atenção reservada ao estudo de conjuntos artefactuais líticos reduz-se aos conjuntos laminares sobre sílex, pois, por regra geral, a análise dos materiais resultantes de escavações arqueológicas centra-se no material cerâmico, reduzindo a atenção dispensada ao material lítico a

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

229

Memórias d’Odiana R 2ª série

10.1. Introdução

breves resenhas. Não queremos com isto dizer que não existam trabalhos que abordem o estudo dos conjuntos de líticos sobre seixos rolados; porém são insuficientes. Assim, é possível reconhecer nos conjuntos artefactuais líticos dos sítios em estudo que, em primeiro lugar, correspondem a uma preferência integrada em determinadas condições ambientais e, por último, a uma tradição que pode “percorrer a arqueologia” em centenas de milhares de anos, sendo que ambas as realidades são indissociáveis.

10.2. Metodologia Na busca da verdade enfrentamos o problema da sua intangibilidade, uma vez que a verdade é um conceito de ordem moral e a interrogação sobre a verdade é uma demanda

Figura 9-9 - Rede de pesca (Stewart, 1977, p. 86)

Memórias d’Odiana R 2ª série

230

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

racional. Assim, o passar dos séculos, apesar do silêncio da resposta, levou-nos a fixar a nossa atenção na formulação da pergunta, num empenho absurdo mas belo. O mesmo empenho nas suas formulações compromete o conhecimento histórico por meio da metodologia, num esforço objectivo por alcançar essa verdade, e cujo resultado não é mais que um reflexo formal da verdade, constituído pela ideologia e a matéria objecto de estudo. A confusão gerada com o conceito Languedocense parte, possivelmente, de uma metodologia inadequada, mas justificada tendo em conta o momento histórico da sua formulação. O problema radica na perpetuação desse conceito como fundamento da discussão e, pior ainda, da sua conversão como meio de apreensão à finalidade última do conhecimento, convertendo-se numa ideia aculturada (Kuhn, 1962), que leva à errática dos esforços da investigação. A metodologia converte-se então num elemento essencial na formação do conhecimento que temos do passado, dado que constituí respostas às perguntas que ordena. Neste sentido, o Sistema Lógico Analítico (S.L.A.), que pretendemos aplicar, supõe um modelo de formulação que difere substancialmente dos modelos prévios fundados em maior ou menor medida em “sistematizações tipológicas”, modelos formalistas que marcaram o termo Languedocense. O S.L.A. é um modelo de análise desenvolvido a partir das linhas mestras marcadas pelo Sistema Analítico de Laplace por E. Carbonell, R. Mora y Guilbaud ou J. Airvaux (Carbonell, Guilbaud y Mora, 1985), (Airvaux, 1985) y (Carbonell et al., 1999). Este modelo teórico poderia definir-se como Marxista, ainda que o seu carácter e desenvolvimento sistémico entronque no estruturalismo, um estruturalismo que salva, pela sua projecção histórica mar-

– Base Natural (Bn): todo o material lítico que não apresenta evidências de ter tomado parte dos suportes explorados ou configurados para a produção instrumental. – Base Negativa (BN): Base natural submetida a transformação pelo seu uso ou inclusão dentro de um processo de talhe, o que resulta numa perda de volume, assim como uma perda da sua morfologia original. – Base Positiva (BP): Massa de volume desprendida no processo de talhe. Dentro da sequência de talhe, numa sequência temporal, diríamos que duas Bases naturais (Bn) ao interactuar, geram uma Base Negativa de Primeira Geração (BN1G) em que o suporte funcione como matriz, onde ficam marcados os negativos e Bases Positivas de Primeira Geração (BP1G), que são os objectos desprendidos da matriz. A repetição desta sequência gere a acção

sobre uma BP1G, uma nova BN, desta vez Base Negativa de Segunda Geração (BN2G) e Bases Positivas de Segunda Geração (BP2G) nos objectos desprendidos e assim sucessivamente. Estas categorias ficam enquadradas na sequência de talhe dentro de cada Unidade Operativa Técnica (U.O.T.) consoante correspondam a uma acção de configuração ou exploração e, dependendo desta, teremos BN1GE e BN2GE ou BN1CG e BN2CG. Entende-se por exploração, a acção dirigida para obter uma Base Natural – suportes para serem configurados; e por configuração, a acção dirigida à definição de um suporte como ferramenta. Assim, teríamos Temas Operativos Técnicos Directos (T.O.T.D.), aquelas estratégias orientadas à configuração directa da Base Negativa e Temas Operativos Técnicos Indirectos (T.O.T.I.), aquelas estratégias orientadas para a obtenção mais ou menos estandardizada de suportes de uma Base Negativa para serem configurados. O conjunto de T.O.T. constitui o corpo de uma Cadeia Operativa Técnica (C.O.T.), “actividades com um princípio e um fim definidos previamente à sua execução” (Carbonell et al., 1995); o conjunto de C.O.T. encaminhado à interacção com o meio por parte de um grupo, denominar-se-á Sistema Operativo Técnico (S.O.T.); e todo o “esquema operativo hierarquizante” fica englobado pela Unidade Ecosocial, que constitui o “conjunto de relações entre os sistemas produtivos de uma comunidade e do seu redor” (Carbonell, et al., 1995). O modelo de análise parte de uma desconstrução dos materiais categorizados em atributos, entendendo-se estes últimos, como “um carácter logicamente irredutível de dois ou mais estados, actuando como uma variável independente dentro de um marco de referência específico” (Clarke, 1984); e sua quantificação e estudo estatístico que permitirá detectar mode-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

231

Memórias d’Odiana R 2ª série

xista, o perigo de se converter numa ideologia formalista que privilegia os elementos estáticos da realidade. Um aspecto que o identifica com a leitura estruturalista que fazem do próprio Marx estruturalistas marxistas como M. Godelier. Estudam-se os materiais líticos com base na dialéctica que lhes dá origem, a própria interacção de dois elementos líticos, entendendo-os dentro de um processo pelo qual se transforma um material obtido do meio natural. Entende-se que todo o elemento que intervém neste processo manifesta variações físicas consistentes, fundamentalmente na perda de volume, que transforma a sua singularidade em sequência: a sua qualidade de se desenvolver numa acção, num lugar e num tempo determinado do dito processo. Daqui resultam as categorias estruturais que são a base substancial da série de conceitos hierarquizados que formam o sistema (Carbonell, et al., 1985):

Memórias d’Odiana R 2ª série

232

los de regularidade cuja associação evidencia os métodos de elaboração e uso do instrumental lítico, entendendo-se que “todo o artefacto, sem excepção, reflecte um comportamento necessário para a sua fabricação e outro para seu uso” (Clarke, D.L., 1984). Os atributos considerados no estudo dos artefactos correspondem a caracteres Contextuais (Unidade Estratigráfica, Fase, Localização, Número de Identificação), Naturais (Natureza Petrográfica e Peso), Morfológicos (Largura, Altura, Espessura, Índice de Largura, Índice de Espessura, Perímetro Total e Perímetro do Gume) e Técnicos (Delineação do Gume, Ângulo do Gume, Modos de Retoque...)5. A quantificação e o estudo estatístico dos diferentes atributos conduzirá à definição de modelos de regularidade, tanto nos seus aspectos morfotécnicos como morfopotenciais e morfofuncionais, que, relacionados entre si, permitirão destacar diferentes T.O.T., estratégias de exploração e configuração que se organizaram graficamente numa matriz morfotécnica, o “instrumento analítico processual em que se representa de uma forma icónica da análise de um registo arqueológico desde a perspectiva do sistema lógico-analítico” (Carbonell et al., 1992). O estudo morfotécnico do material corresponde à consideração dos caracteres técnicos que este manifesta na morfologia dos materiais como consequência do processo de transformação, enquanto o morfopotencial e morfofuncional demonstram fenómenos mentais como propósitos e preferências, mostrando o primeiro a capacidade teórica de intervenção da morfologia, seus potenciais, e o segundo o modo real em que o objecto foi elaborado6.

A exposição dos resultados articular-se-á do seguinte modo, atendendo individualmente a cada sítio: primeiro a Gestão da Matéria-Prima, seguido da apresentação estatística das diferentes Categorias Estruturais, abordando num terceiro ponto, os Sistemas Técnicos de Produção, na sua exploração e configuração, terminando com as matrizes morfogenéticas. Depois do desenvolvimento individual de cada jazida concluir-se-á com uma síntese de projecção histórica no seu contexto regional.

10.3. Moinho de Valadares 1 *HVWmRGD0DWpULD3ULPD

A localização do sítio do Moinho de Valadares 1 próximo ao rio Guadiana, na sua vertente esquerda, limitado por cursos de água subsidiários, apresenta-se como um elemento essencial na compreensão do seu conjunto artefactual lítico. Os depósitos fluviais conservados e suspensos nesta zona, com níveis de grande potência de seixos rolados sobre o substrato de xisto, foram a fonte de matéria-prima maioritária deste povoado, realizada sobre quartzito7. Como já foi visto anteriormente, nas proximidades do sítio (num raio de 3 km) encontra-se a matéria-prima que abasteceu o povoado para elaborar a sua utensilagem: “O povoado encontra-se aproximadamente a 3 km (em linha recta, para sudeste) de uma área de terras argilosas e cascalheiras. Para norte, a 2,5 km, desenvolve-se uma mancha de rochas eruptivas (quartzodioritos) parcialmente sobreposta por terraços fluviais e delimitada por “anéis” de

A aplicação de alguns atributos é particular a algumas das categorias estruturais (ver anexo). este aspecto de análise será abordado parcialmente dado que no estudo se consideraram as marcas de uso somente observáveis macroscopicamente e não as características diversas destas, só observáveis ao microscópio. 7 GRPDWHULDOGHWUtWLFRTXHWUDQVSRUWDR*XDGLDQDpTXDUW]LWR 5 6

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

8 9

10.3.2. Distribuição das Categorias Estruturais

Bases Naturais Conforme a definição já adiantada na Metodologia, consideram-se nesta categoria todos aqueles elementos líticos que evidenciam o uso pelo homem mediante marcas ou estigmas e que, ainda que formando parte do processo de talhe, não são suportes de exploração ou configuração. Não estão contemplados todos aqueles elementos líticos que, presentes no contexto antrópico, não apresentam evidências físicas do seu uso em qualquer actividade humana, mesmo que esta pudesse ter ocorrido. Da totalidade do espólio recuperado existem 245 Bn, destas 231 são fragmentos ou seixos rolados fracturados e afectados pela exposição continuada a altas temperaturas, 13 são fragmentos ou seixos rolados usados para percussão no processo de talhe e 1 é um fragmento de seixo rolado usado como suporte dormente na percussão8. Sobre as primeiras e mais abundantes, comprovou-se uma concentração muito significativa na UE 19 (50 fragmentos), UE 59 (21 fragmentos) e UE 46 (33 fragmentos): as UEs 19 e 59 foram interpretadas como solos de ocupação no interior das cabanas e definidos como ambientes específicos, onde se comprovou a presença de abundante material cerâmico e lítico, bem como fauna e algum carvão, e a UE 46, como um depósito de vertente acumulado durante a vida do povoado. As Bn relacionadas com o processo de talhe, ao contrário das anteriores, foram incluídas nas percentagens gerais relativas às categorias estruturais por estarem dentro da análise tecnológica. No entanto, dado o seu número ser pouco representativo9 e se apresentarem na

Bigorna (PTXDOTXHUFDVRRQ~PHURGHHOHPHQWRVpFRHUHQWHFRPRFRQMXQWR

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

233

Memórias d’Odiana R 2ª série

corneanas e xistos com manchas escuras. Cerca de 2 km para nordeste encontram-se outros depósitos de terraços fluviais e longos filões de quartzo e dolerito. A presença de granito mais próxima do povoado está registada numa pequena mancha na Herdade das Pipas a cerca de 2 km para noroeste, na margem esquerda do Guadiana” (Valera, 1999). Assim, aproximadamente 95% do espólio é realizado em quartzito e só 5% se reparte entre o quartzo, o xisto, o xisto jaspóide e o sílex. Enquanto que o primeiro se obtém maioritariamente de pequenos e grandes seixos rolados (entre 5 e 19 cm de comprimento e 3 a 12 de largura), o quartzo obtém-se ou de seixos rolados muito pequenos (de 5 cm), ou de quartzo procedente dos filões existentes no substrato de xisto. Esta circunstância não varia se atendermos às diferentes fases definidas para a jazida (Cf. ponto 4), já que as percentagens se mantêm sem variações significativas. O uso maioritário de quartzito justifica-se por ser o material disponível mais favorável para o talhe, que se encontra em grande quantidade e com volumes e tamanhos muito variados, ao contrário do quartzo que, para além de ter uma fractura mais irregular, só pode ser explorado para a obtenção de pequenas lascas, dadas as pequenas dimensões dos suportes. Finalmente, o xisto e o xisto jaspóide, apesar da abundância ou acessibilidade no território envolvente (sobretudo no caso do primeiro), devido à sua fragilidade a amostra reduz-se a poucas pontas de seta (possivelmente votivas) e alguns fragmentos retocados (suportes abandonados para pontas de seta). O único elemento em sílex presente no espólio procede de um seixo rolado muito pequeno com entalhe, que pode ser um elemento isolado, transportado pelo rio.

maioria, fracturadas (54%), as possibilidades que oferecem a um estudo estatístico são muito limitadas e reduzem-se ao observar que nas Bn mais achatadas e largas as marcas de percussão distribuem-se nas zonas mais angulosas correspondentes ao seu perímetro sagital.

Memórias d’Odiana R 2ª série

234

Bases Negativas de Primeira Geração de Exploração A representação das BN1GE, na totalidade do espólio, é de 4,6% (21), uma presença muito reduzida, ainda que significativa, já que é o primeiro indicador de uma Cadeia Operativa orientada para a obtenção de utensílios por meio de T.O.T.D.. Sem considerar os fragmentos, a dimensão média das BN1GE é de 6,3 x 5,4 x 3,4 cm, sendo a dimensão máxima de 8,2 x 6,5 x 5,5 cm e a dimensão mínima de 4,8 x 4 x 2,8 cm. É de salientar, em primeiro lugar, as percentagens de BN1GE realizadas sobre quartzo, que correspondem a 23,8% (5) do total, em contraposição aos 76,2% (15) das de quartzito, o que pressupõe uma anomalia relativamente ao resto das categorias, onde o quartzo está muito pouco representado. Este desequilíbrio na presença de quartzo, entre esta categoria e as restantes, explica-se pelo uso desta matéria-prima para os T.O.T.I. e não para os T.O.T.D., circunstância que não se verifica no caso do quartzito, onde a estratégia de produção se realiza por ambas, ainda que, principalmente por T.O.T.D.. 85,8% dos casos trata-se de núcleos não esgotados, sem planos de percussão preparados e que respondem a uma estratégia de exploração muito elementar. Estão presentes as BN1GE multipolares com 19% (4), as BN1GE unipolares com 14,3%(3) e as BN1GE bipolares com 14,3% (3), correspondendo o resto da percentagem a fragmentos de núcleos e indeterminados.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Bases Positivas de Primeira Geração As BP1G são todos aqueles volumes de massa desprendidos de uma matriz (BN1G) como consequência de um talhe e que não têm evidências de uso ou que não foram explorados posteriormente para sua configuração e uso. A sua representação dentro do conjunto industrial é de 52,7% (241) – uma percentagem de elementos brutos ou residuais muito importante, uma vez que 74,2% (176) desta categoria é parcialmente cortical e 23% (55) é cortical, o que confirma a exploração das Bn “in situ”. Assim, a ausência de BP internas, explica-se pela simplicidade das estratégias de exploração e configuração, observável tanto nas BN1GE, como vimos anteriormente, como nas BN1GC, como veremos. Quanto à morfometria, as suas medidas médias são de 4,77 x 3,58 x 1,4 cm, sendo que, atendendo aos seus índices de largura e espessura, supõe um baixo índice de largura, 75,9 e um também baixo índice de espessura, 30,6. Trata-se então de formatos pouco largos e pouco espessos, não se observando variações significativas nas diferentes fases do sítio. Em 60,9% (145) dos casos, o bolbo é reduzido ou imperceptível e em 72,9% (173) tem um talão cortical, o que indica precisão e controlo em relação de forças entre as massas de impacto e uma ausência de necessidade em estratégias elaboradas para a exploração das Bn, tanto pelas características morfológicas naturais dos seixos rolados, como pelas exigências inerentes da sua finalidade. Muito significativa é a percentagem das BP originadas pelo continuado reavivamento das BN1GC, visíveis na superfície dorsal junto a alguns vestígios de uso procedentes da extracção, marcas maioritariamente de percussão. A sua representação percentual sobre o total de BP é 17% (41).

Bases Positivas de Primeira Geração de Configuração É a categoria mais representativa do conjunto artefactual, com 18,2% (83), dado que a sua configuração supõe um maior número de extracções que, somadas às originadas a partir do reavivamento dos gumes, resultam numa quantidade semelhante às BP e BN2G. Este facto, sugere que a estratégia de exploração se focaliza nos Temas Operativos Técnicos Directos de grande e médio formato, aproveitando-se os resíduos como ferramentas de formato mais pequeno, tão eventuais como eficazes. A dimensão média dos artefactos é de 8,45 x 6,81 x 3,56 cm, com um Índice de Largura de 81,9 e um Índice de Espessura de 42,53, o que supõe, em termos gerais, formatos de grande tamanho, pouco largos e pouco espessos. Se bem que se deva destacar o número também significativo de BN1GC de tamanho médio, pouco espessas e de configuração elaborada. A isto junta-se a progressiva diminuição no Índice de Espessura observada na primeira fase do sítio com 52,76 e na segunda fase com 32,91, que em qualquer caso se deve considerar com os receios evidentes, dada a

10

falta de espectro suficiente. O perímetro total é de 25,2 cm e o perímetro das unidades potenciais é de 9,54 cm, o que pressupõe que a unidade potencial do perímetro total da peça é, em média, de 2/5. As unidades potenciais, exclusivamente diedros, correspondem a 65,4% (53) de unifaciais e 34,5% (28) de bifaciais com um ângulo médio de 70º, com a seguinte distribuição: 90º com 7,6% (5). As marcas de uso e o grau de desgaste não existem em 15,5% (10) dos casos, em 53% (30) são marcadas e em 30,3% (20) chegam a ter o gume massacrado. Atendendo à relação entre as variáveis do ângulo dos gumes, o volume das peças e o grau de desgaste, comprova-se que quanto maior o volume das peças e maior ângulo, maior é o seu grau de desgaste. A localização dos gumes é frontal em 64,8% (35) dos casos, frontal-lateral em 14,8% (8), lateral em 12,9% (7) e periférico em 7,4% (4); a delineação dos gumes é convexa em 52,8% (37) dos casos, rectilínea em 28,5% (20), sinuosa em 7,1% (5), irregular em 10,1% (7) e côncava em 0,7% (1). Destaca-se o facto de que só em 30,3% (24) das BN1GC se observaram retalhes ou retoque, sendo maioritária a configuração a partir de uma série de configurações e o seu posterior reavivamento antes do seu desgaste. Bases Negativas de Segunda Geração de Configuração (BN2GC) No conjunto artefactual estas correspondem a 21,4% (98) dos casos se considerarmos as marcas de uso, reduzindo-se a 7,06% (33)

'HQRPLQDGRSRUFULWpULRVIRUPDLVFRPR´JRPRGHODUDQMDµ

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

235

Memórias d’Odiana R 2ª série

A morfologia mais frequente entre as BP é aquela que a um potencial recto diedro se contrapõe um dorso cortical convexo, algo mais espesso, próximo ao ângulo recto em relação ao plano sagital da peça, variando o eixo de extracção da peça, que não segue um padrão de regularidade, ainda que se possa destacar o eixo de extracção que procura o paralelo com a unidade potencial10.

Quadro 10-1 – Distribuição   das categorias estruturais por fase

Ŷ

dKd>

&ϭ

&Ϯ

&ϯ

&ϰ



ϯй;ϭϰͿ

Ͳ

;ϭͿ

;ϰͿ

;ϱͿ

;ϭͿ

 Eϭ'

ϰ͕ϲй;ϮϭͿ

;ϰͿ

Ͳ

;ϵͿ

;ϰͿ

;ϰͿ

 Wϭ'

ϱϮ͕ϳй;ϮϰϭͿ

;ϰϳͿ

;ϰϭͿ

;ϲϬͿ

;ϰϱͿ

;ϯϰͿ

 EϮ'

Ϯϭ͕ϰй;ϵϴͿ

;ϭϲͿ

;ϮϰͬϮͿ

;ϮϰͿ

;ϭϬͿ

;ϲͿ

 Eϭ'

ϭϴ͕Ϯй;ϴϯͿ

;ϮϬͿ

;ϮϮͿ

;ϭϴͿ

;ϭϲͿ

;ϳͿ

*UiÀFR'LVWULEXLomRGDVFDWHJRULDV estruturais por fase

se só contemplarmos os elementos retocados – destas 92,7% (89) são em quartzito e 4,1% em quartzo11. A dimensão média das BN2GC é de 5,08 x 3,73 x 1,44 cm; o seu Índice de Alargamento é de 75,1 e o Índice de Espessura de 28,6%, confirmando, portanto, produtos pouco espessos, relação semelhante com as observadas no caso das BP. Em 33,3% (32) dos casos, as BN2GC são corticais e em 59,3% (57) parcialmente corti-

cais, proporção esta também semelhante às das BP e, que se explica pela estratégia de produção que se reflecte tanto nas BN1GE como nas categorias anteriores. O bolbo apresenta-se reduzido em 56,25% das BP e os talões são maioritariamente corticais, 72,9% (70) e lisos, 11,4% (11), não existindo exemplos de talões facetados que impliquem uma preparação elaborada dos planos de percussão.

236

2SWRXVHSRUVHFRQVLGHUDUQHVWDFDWHJRULDDTXHODV%3TXHDLQGDQmRWHQGRVLGRFRQÀJXUDGDVDSUHVHQWDPPDUFDV GHXVRVDEHQGRWRGDYLDTXHQRSURFHVVRGHWDOKHHVWHJUXSRÀFDIRUDGHVWDFDWHJRULD$VUD]}HVSDUDHVWHSURFHGLPHQWR enfatizam o facto de que não só a actuação sobre os elementos, mas também, a ausência da mesma, evidencia-se a eleição GDHVWUDWpJLDGHH[SORUDomRHGHÀQLomRDWpRXVRGHIHUUDPHQWDV&RQVLGHURXVHSRUWDQWRTXHDLQFOXVmRQHVWDFDWHJRULD HVWDYDMXVWLÀFDGDMiTXHDHYLGrQFLDPDWHULDOGRVHXXVRMiRGHQXQFLDYDDSHVDUGDHOHLomRGH´QmRFRQÀJXUDomRµGDV SRWHQFLDOLGDGHVREVHUYDGDVHHVFROKLGDVSDUDRLQVWUXPHQWR QmRVHVXEPHWHDXPDFRQÀJXUDomR WUDQVIRUPDomR GD%3 mas a dita transformação é lhe atribuída com posterioridade, como consequência de uma eleição e sua utilização).

Memórias d’Odiana R 2ª série

11

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Uma vez exposta a distribuição estatística das categorias e seus atributos mais importantes, abordamos a análise do Sistema Técnico de Produção, que compreende toda actividade do homem dirigida para a transformação de uma matéria-prima, num elemento com novas qualidades ou potenciais para interactuar com o meio. Neste caso, o processo de transformação da pedra como matéria-prima em ferramentas para satisfazer diversas necessidades. São duas as estratégias dentro do sistema técnico de produção lítica: os Temas Operativos Técnicos Directos, estratégia direccionada até à configuração do próprio suporte BN1G e os Temas Operativos Técnicos Indirectos, nos quais o objectivo é, a partir de um suporte BN1G, a obtenção de produtos BP1G a configurar (BN2G) ou não para uso como ferramentas, ou entrar numa nova série de exploração e configuração. Por conseguinte, podemos dizer que o estudo dos T.O.T.I. é o estudo da exploração, enquanto que a configuração requer o estudo tanto dos T.O.T.D como dos T.O.T.I. 10.3.3.1. Exploração

A análise da exploração dentro de uma Cadeia Operativa, supõe o estudo dos diferentes T.O.T.I definidos, pelo menos parcialmente, por alguma das suas Unidades Operativas. Os T.O.T.I. presentes no sítio de Moinho de Valadares caracterizam-se por serem estratégias de exploração tecnicamente simples na elaboração dos produtos finais. 10.3.3.1.1. T. O. T. I. Unipolar

Encontra-se maioritariamente representado na cadeia operativa lítica do sítio em estudo.

Efectua-se em quartzito, sobre Bn elipsóides com maior ou menor tendência rectangular, aproveitando-se como plano de percussão cortical a face com o plano horizontal de maior extensão e mais regular, sem que exista uma preparação prévia. A intervenção de forças para a exploração é realizada por uma percussão directa que procura ângulos abruptos ou simples, procurando nas fases iniciais de exploração, ângulos simples, quando o extremo distal da Bn carece de um volume suficiente. Esta preferência origina produtos potenciais iniciais amplos distais, com um gume agudo e convexo, cujos planos de interacção são por um lado, o dorsal cortical e o ventral, sendo funcionalizados de forma causal, sem necessidade de se proceder à sua configuração. A exploração da Bn continua com uma configuração alternada dos pontos de impacto de forma ziguezagueante em disposição adjacente relativamente às faces das BP, obtendo-se em cada série das BP semicirculares, que deixam num dos seus lados um amplo gume normalmente rectilíneo e no lateral oposto um talão cortical grosso semicircular. Como resultado deste procedimento, a face dorsal das BP apresenta a soma dos negativos das extracções prévias, em regra geral no paralelo com o gume, e o eixo de simetria da peça é com frequência perpendicular ao eixo de extracção. Esta estratégia de exploração é denominada como T.O.T.I. Longitudinal Unipolar Massivo Recorrente. Nesta cadeia operativa é possível observar a presença de um T.O.T.I. Periférico Unipolar Adjacente realizado também em quartzito, sobre Bn possivelmente de grande largura e espessura, aproveitando-se como plano de percussão cortical a face com o plano horizontal de maior extensão e mais regular, sem que exista uma preparação prévia ou, em todo o caso, como se documentou entre as BN1GC, apro-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

237

Memórias d’Odiana R 2ª série

10.3.3. Sistemas Técnicos de Produção

veitando-se uma fractura natural prévia. A exploração é periférica a partir de único plano de percussão, que envolve a peça com uma série de levantamentos de grande amplitude e ângulo simples, que evita a perda excessiva de massa e da obtenção de BP demasiado espessas), alternando com séries de levantamentos de menor amplitude.

10.3.3.1.2. T. O. T. I. Bipolar

Memórias d’Odiana R 2ª série

238

É um T.O.T.I. ocasional, realizado sobre Bn de quartzito, seixos rolados fluviais elipsoidais de um volume maior, mais grossos, que exigem uma exploração em ambas as faces, tanto pelo plano mais horizontal e regular, como por outra face convexa. O resultado são BP que podem apresentar uma morfologia variada e vários potenciais, em muitos casos similares ao T.O.T.I. Longitudinal Massivo Recorrente; o facto de as suas faces dorsais apresentarem três negativos de extracção, um deles numa extremidade, é normalmente indicativo de que nos encontramos perante um T.O.T.I. Bipolar Oposto. Localizaram-se dois BN1GE e algumas BP com as características anteriormente mencionadas. No entanto, as BN1GE localizadas, encontram-se numa última fase de exploração e poderiam muito bem tratar-se da última fase de exploração, incluindo de um T.O.T.I. Longitudinal Massivo Recorrente. Trata-se de uma estratégia de exploração que parte dos mesmos pressupostos e os seus produtos resultantes são similares, o que torna a sua definição complexa. Esta estratégia de exploração está também presente na produção de BN2GC como as pontas de seta sobre xisto, já que a mesma estrutura laminar desta matéria-prima exige uma exploração numa única direcção, de preferência explorada

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

bipolarmente, mediante levantamentos opostos sucessivos. Estão presentes na cadeia operativa BP que indicam esta possibilidade, ainda que não se tenha contabilizado nenhuma BN1GE.

10.3.3.1.3. T. O. T. I. Multipolar

Incluem-se neste grupo todos aqueles BN1GE que apresentam mais de duas superfícies de exploração e que adaptam a sua estratégia de exploração ao progresso morfológico da peça sem nenhum esquema pré-estabelecido. Encontramo-los documentados na cadeia operativa do Moinho de Valadares sobre quartzo e quartzito por BN1GE, ainda que não existam BP ou BN2GC que se possam atribuir a este grupo com segurança, já que os produtos resultantes desta estratégia de exploração são muito variáveis. De qualquer forma, em todos os exemplos presentes sobre quartzito, o grau de aproveitamento é baixo, ao contrário dos exemplos documentados sobre quartzo.

&RQÀJXUDomR

A sequência de configuração consiste da definição da morfologia e do potencial ou potenciais, tanto sobre um suporte Bn directamente (T.O.T.D.), como sobre produtos resultantes da sequência de exploração (T.O.T.I.). Os critérios de definição das diferentes estratégias de configuração. A sua classificação partirá da distinção do Tema Operativo Técnico a que pertencem, seja Directo ou Indirecto, atendendo-se, como critério para sua ordenação, às dimensões dos produtos configurados, segundo os parâmetros analíticos baseados no modo de pressão dos utensílios (Plana & Rando, in Carbonell et al., 1995).

A. Formato Mediano – Um primeiro grupo caracteriza-se por morfologias originais pouco largas (Ia=80,8), de tamanho médio, com um único potencial diedro em que a extremidade distal ou proximal, configurando um gume com uma única série de grandes levantamentos unifaciais (excepcionalmente bifaciais), de ângulo agudo e delineação continua, rectilíneo ou convexo, produzindo-se diedros cuja secção sagital é assimétrica. Partindo desta mesma estratégia encontra-se uma configuração bifacial mais elaborada a partir de três séries de levantamentos de menor amplitude progressiva, que define potenciais diedros de gumes ligeiramente convexos no extremo proximal, em morfologias pouco espessas (Ie: 31,6), de onde existe uma grande diferença de largura entre o extremo distal e proximal; 9-3-4. – Um segundo grupo caracterizado por morfologias sub-circulares (Ia: 90,25), muito pouco espessas (Ie: 29), de tamanho mediano, com um potencial diedro, unifacial e periférico que supõe mais de ¾ partes da periferia; configurando a partir de uma série de levantamentos

abruptos ou duas séries de levantamentos: uma primeira série simples e uma segunda abrupta, definindo ambas uma delineação denticular do gume. Detectaram-se casos em que selecção dos suportes pouco espessos motivaram o aproveitamento de Bn de fractura natural longitudinal; 4-3. – O terceiro grupo caracteriza-se pela Configuração periférica a partir de um único potencial diedro unifacial de extensão periférica, que envolve a peça com uma série de levantamentos de grande amplitude e ângulo simples, que pode seguir-se, em alguns casos, de uma série de levantamentos de menor amplitude conservando a sua extremidade cortical. A morfologia resultante é alargada (Ia: 72,6) e relativamente espessa (Ie: 56,3). Tal é semelhante ao caso do grupo anterior, a preferência de suportes pouco espessos motivou a selecção de Bn com fractura natural longitudinal; 4-3. – O quarto grupo que se caracteriza pela definição de um potencial diedro unifacial, lateral, com duas séries de levantamento que configuram o gume ligeiramente convexo (num caso de delineação denticular) e com uma morfologia de tamanho médio, mais alargado (Ia: 73,5) e de pouca espessura (Ie: 39,5); 2. – Por último, um grupo formado por utensílios, de médio formato, morfologia alargada (Ia: 75,5) e uma espessura média (Ie: 50), com duas unidades potenciais diedros, unifaciais, uma distal e outra lateral; realizados por uma série de levantamentos amplos e abruptos, que configuram gumes de delineação regularizada, ligeiramente convexos no potencial lateral e convexo no distal, conservando a corticalidade do lateral oposto e o extremo proximal para a preensão da peça; 2.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

239

Memórias d’Odiana R 2ª série

Configuração dos T. O. T. D. A configuração directa de Bn, seleccionadas entre seixos rolados fluviais de quartzito, é uma estratégia muito representada dentro da cadeia operatória do sítio em estudo, tanto por BN1CG, como por BP; destina-se à obtenção de produtos maioritariamente de médio e grande formato, com potenciais diedros, mediante uma sequência de configuração, na sua maioria, com uma única série de levantamentos. Foi possível determinar uma série de grupos, atendendo a uma selecção inicial do suporte, selecção e adequação dos potenciais e a relação com a morfologia de peças a estes.

– Entre os diversos materiais encontramos com um caso de morfologia de formato médio, pouco alargada (Ia: 93) e pouco espessa (Ie: 25), que apresenta um potencial diedro distal realizado a partir de uma série de levantamentos profundos e planos, longitudinais à morfologia da peça e duas extracções oblíquas ao eixo morfológico em ambos os extremos do potencial, a modo de entalhe, resultando um gume central reduzido e convexo; 1. B. Grande formato – Um primeiro grupo sobre seixos rolados de morfologia muito espessa (Ie: 46,3; Ia: 68,5), com potenciais unifaciais ou bifaciais de delineações variadas (convexas, rectilíneas e irregulares) e ângulos muito abertos, configurados a partir de extracção de grande amplitude. Apresentam um gume normalmente massacrado por um uso continuado; 10. – Um segundo grupo sobre seixos rolados de grandes dimensões de morfologia variada que apresenta potenciais unifaciais de gumes de menor dimensão e ângulos agudos; 5. – Um terceiro grupo sobre seixos rolados de grandes dimensões, de morfologias espessas também variadas, mas que apresentam vários potenciais configurados nos laterais de forma alternada; 4.

Memórias d’Odiana R 2ª série

240

– Por último, um grupo pouco definido e de caracteres diversos que compartem o facto de apresentar um potencial configurado sobre grandes formatos; 8. Pelo exposto, deparamo-nos com uma selecção de morfologias naturais determinadas com vista a economizar os gestos técnicos para obter o produto útil final, de tal forma

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

que a configuração dos potenciais não requer, em nenhum momento, de uma preparação prévia do suporte que se adapta em cada circunstância aos perfis que a morfologia natural oferece, centrando-se a configuração em definir gumes úteis sobre os ditos perfis. Destaca-se, portanto, a simplicidade técnica, em regra geral, com uma série de extracções de média e grande amplitude que apesar de poderem resultar num número reduzido e concentrar-se somente no gume, não implicam uma grande perda de volume, nem uma variação substancial na morfologia original, como já havia referido. No caso concreto dos suportes configurados sobre grande formato, observa-se que a série inicial de configuração, seguindo-se o reavivamento do gume, que é muito abundante tanto na sua representação de BN1GC, como nas BP estudadas. Não existem potenciais triedros na amostra. No entanto, observa-se o uso intensivo de diedros, aproveitando a extremidade do potencial diedro num ângulo da peça, que supõe em definitivo a convergência de três pequenos planos: os dois planos rectos do potencial diedro e um cortical ligeiramente convexo. Configuração dos T. O. T. I. Configuração dos T.O.T.I. na cadeia operativa aqui em estudo orienta-se para a obtenção de utensílios de médio e pequeno tamanho, a partir da selecção de potenciais BP que não requerem transformação ou, pelo menos, requerem uma transformação mínima. Foi possível determinar uma série de grupos atendendo aos critérios apontados anteriormente na selecção inicial do suporte, selecção e adequação dos potenciais e da relação com a morfologia de peça.



фϯϬŵŵ

ϯϭͲϲϬŵŵ

ϲϭͲϭϬϬŵŵ

хϭϬϬŵŵ

 EϮ'

;ϯͿ

;ϳϮͿ

;ϮϬͿ

Ͳ

 Eϭ'

Ͳ

;ϰͿ

;ϰϲͿ

;ϭϭͿ

 Wϭ'

;ϭϯͿ

;ϭϱϬͿ

;ϯϬͿ

Ͳ

4XDGUR²'LPHQV}HVGRVSURGXWRVFRQÀJXUDGRV

*UiÀFR'LPHQV}HVGRVSURGXWRV FRQÀJXUDGRV

dorso espesso e que, pelo contrário, são muito achatadas, apresentando um potencial diedro periférico, que apresenta marcas de uso ou retoques marginais simples em toda a periferia, excepto num extremidade que se reserva para a preensão; 2.

– Uma variante a partir do grupo anterior são os suportes que sobre a extremidade lateral de um potencial distal apresentam um entalhe amplo; 3.

– Um quarto grupo formado por BP de pequeno formato, parcialmente corticais e espessas, procedentes dos T.O.T.I. unipolares longitudinais, a partir dos suportes de tendência semicircular que apresentam um lateral rectilíneo espesso não cortical e, no lateral oposto, uma frente cortical semicircular mais espessa que forma um potencial diedro de ângulo abrupto que apresenta retoques marginais e marcas de uso; 5.

– Um terceiro grupo seria formado pelas BP corticais iniciais que não apresentam um

– Um quinto grupo de BP de pequeno formato e morfologia diversa que apresenta um

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

241

Memórias d’Odiana R 2ª série

– Um primeiro grupo foi caracterizado pela selecção de BP corticais da extremidade inicial dos seixos rolados, de pequeno e médio formato, suportes cuja extremidade distal desenvolve um potencial diedro largo com um gume agudo e ligeiramente convexo, que apresentam frequentemente marcas de uso e/ou retoques isolados, marginais e simples, enquanto que na extremidade proximal apresentam um dorso cortical e espesso, apto para a preensão do utensílio; 13.

potencial diedro configurado a partir de retoques denticulados; 6. – Um grupo formado pelos BN2GC a partir de BP de xisto muito pouco espessos, com retoque parcial escalariforme marginal num caso e retoque plano remontante noutro; 2. – Finalmente, um grupo numeroso de BP de morfologia diversa, de pequeno e médio tamanho com gumes diedros que apresentam retoques isolados, que se configuram como frentes abruptos, como frente simples; 12 + 6.

10.3.1. Análise Morfofuncional

Memórias d’Odiana R 2ª série

242

Neste ponto pretende-se uma aproximação à função dos utensílios líticos, isto é, o modo como o dito objecto está pensado para ser utilizado e em algum dos casos, o seu uso, o modo como o dito objecto foi utilizado. Atender-se-á à morfologia dos utensílios, à forma definitiva em que nos chegou depois de serem transformados no processo técnico de produção e modificados no processo de funcionamento. Consideraram-se uma série de variáveis morfológicas observáveis macroscopicamente, como: o modo de configuração das unidades potenciais, a relação situacional das unidades potenciais com respeito à morfologia da peça, o volume e geometria geral da peça e das características das marcas de uso macroscópicas. Portanto, esta análise é, consequentemente, um avanço preliminar em que se analisa a função, sem que permita abordar a discussão do uso concreto que lhe foi atribuído, conclusão esta a que só se pode chegar mediante um estudo pormenorizado e microscópico dos vestígios de uso. As categorias consideradas nesta análise serão as BN1GC e as BN2G, ainda sem considerar o seu volume total, devido à discrimi-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

nação prévia daquelas unidades cujo modo de ser utilizado a partir dos parâmetros indicados que ofereciam sérias dúvidas, ou por não serem parâmetros suficientemente significativos, ou por estarem fracturados. Assim a percentagem de peças consideradas é de 56,6 % sobre o total: 102 peças em 180. Atendendo à acção realizada com peças líticas, ou seja, o modo em que foram utilizadas, temos: – Cortar, consiste em separar ou dividir uma superfície ou objecto mediante a acção de sulcar sob pressão num movimento longitudinal com um objecto cortante. O efeito consegue-se mediante a relação da pressão exercida pelo gume cortante e o movimento bidireccional do objecto activo. Esta acção requer gumes vivos, muito agudos, sem retoques ou apenas com retoques simples marginais, com trajectos amplos e delineação preferencialmente rectilínea ou ligeiramente convexa, não precisando de grande volume. Trata-se de uma acção presente numa percentagem maioritária entre os utensílios: 41, 3%. A estratégia de obtenção destes utensílios viabiliza-se unicamente através dos T.O.T.I., sendo o grosso das morfologias das BP obtidas das “explorações” unipolares aptas para cortar, seja directamente, ou depois de uma configuração mínima. – Truncar, que consiste em separar ou dividir um objecto mediante a acção de rachar por golpe com um objecto cortante. O efeito consegue-se por meio da força exercida pela massa do objecto cortante com o gume no extremo num movimento na vertical do objecto a dividir. Esta acção requer uma grande massa do objecto activo, já que o resultado da operação depende mais da relação massa-movimento

– Percutir, consiste na acção de golpear um objecto com outro de maior ou menor volume. A sua função de golpe, ainda que possa necessitar de diferente grau de precisão, não requer normalmente uma transformação prévia do suporte original, seixos rolados fluviais que em todo o caso proporcionam volumes e morfologias variadas. Porém, no conjunto estudado observa-se uma possível reutilização do uso paralelo das BN1GC, configuradas inicialmente para a acção de truncar, possivelmente, daí o massacre dos gumes. No conjunto estudado, existem um máximo de 32,7% (34) de utensílios que em algum momento poderiam funcionar como percutores, se bem que a configuração do suporte se deva a uma função inicial dirigida à acção de truncar, no entanto, entre os suportes que não foram explorados temos um total de 13 Bn funcionando como percutores. – Raspar, consiste em raspar com um objecto com gume numa superfície para eliminar ou rebaixar a superfície do outro objecto ou material. O efeito que se consegue mediante a relação da pressão exercida pelo gume de deli-

neação convexa e de ângulo preferencialmente abrupto e o movimento unidireccional do objecto activo, dispondo-se o gume em posição transversal em relação ao movimento. Obtiveram-se utensílios para serem utilizados deste modo, tanto de entre os T.O.T.I. como dos T.O.T.D.. Procedente dos T.O.T.I. Unipolares longitudinais, os utensílios são de pequeno formato, parcialmente corticais e espessos, com uma morfologia de tendência semicircular que apresenta um lateral rectilíneo, espesso, não cortical e no lateral oposto uma frente cortical semicircular mais espesso que forma um potencial diedro de ângulo abrupto que apresenta retoques marginais e marcas de uso, no entanto, os utensílios configurados nos T.O.T.D., de formato médio, apresentam uma morfologia e uma configuração variada, em que predominam os gumes agudos de uma assimetria sagital que apresentam um plano de diedro alinhado com o plano das BN1G horizontal. – Serrar, consiste em separar ou dividir uma superfície ou um objecto mediante a acção de fender sob pressão num movimento longitudinal com um objecto de gume dentado; portanto, o efeito consegue-se pela acção conjunta pelo gume dentado e um movimento bidireccional. Na cadeia operatória lítica em estudo estão presentes utensílios preparados para serem utilizados deste modo a partir tanto dos T.O.T.I., como dos T.O.T.D. Os rasgos comuns que apresentam são um potencial diedro configurado mediante retoque denticular, com gumes rectílineos ou ligeiramente convexos. – Perfurar, consiste em atravessar um objecto ou superfície com um objecto com gume pungente mediante pressão ou projecção. No caso da cadeia operatória em estudo estão

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

243

Memórias d’Odiana R 2ª série

que gume-movimento, o gume sendo necessário para rachar deve ter um ângulo superior a 40º aproximadamente, de outro modo, a resistência nula do gume à violência do golpe tornaria a operação inviável. Existe uma percentagem maioritária de utensílios dirigidos a esta acção, 37,5 %, todos eles realizados a partir de T.O.T.D., sobre grandes volumes, só numa percentagem mínima destes se pode definir a acção de truncar por separado da acção de percutir, dado o grau de massacre que apresentavam gumes na maioria dos casos, evidenciavam tanto o uso para truncar como, em segunda instância, para percutir.

presentes dois exemplos de projécteis perfurantes em duas pontas de seta realizadas sobre xisto, que de qualquer maneira, dadas as suas características físicas oferecem dúvidas da sua efectividade como tais e apresentam a possibilidade de poder tratar-se de elementos votivos. Ainda que a totalidade das estratégias de exploração entre os T.O.T Indirectos estejam presentes em todos os seus temas operativos, a verdade é que no caso do T.O.T.I Multipolar e o Bipolar, existe uma indeterminação no que respeita às BN2G, já que não existe entre elas nenhuma que possa atribuir exclusivamente a este T.O.T.I, dado que entre as possíveis, todas partilham características com as BP procedentes dos T.O.T.I. Unipolares. Não obstante, tanto num caso como no outro o T.O.T.I deve considerar-se completo. Por outro lado, é possível que os T.O.T.I. Unipolares em determinadas ocasiões se tenham desenvolvido a partir da exploração do instrumento resultante de um T.O.T.D. excluído, ou vice-versa, circunstância em si mesma dificilmente comprovável para além da constatação dos utensílios com marcas de uso com morfologias de características mais próximas ao resultado de uma exploração, que para o seu uso. Este facto

é altamente provável dado que na realidade os gestos técnicos e o progresso da transformação morfológica no processo da produção dos T.O.T.D. e T.O.T.I são idênticos nas estratégias que são maioritárias. Em geral, a cadeia operativa lítica de Moinho de Valadares funda a sua economia de produção nos T.O.T. directos, ou seja, aqueles dirigidos à configuração em primeira instância dos suportes de seixos rolados fluviais para a realização de instrumentos. Com os mesmos procedimentos técnicos em ambos os T.O.T., os produtos resultantes dos T.O.T.D. são susceptíveis de uma maior variabilidade morfotécnica e morfopotencial e, portanto, resulta de uma estratégia de produção mais versá-



EϮ' ŽƌƚĂƌ

Eϭ'

dKd>

ϳϯ͕ϱй;ϯϲͿ Ͳ

ϯϰ͕ϲй;ϯϲͿ

 ŽƌƚĂƌͬZĂƐƉĂƌ

Ͳ

ϭϮ͕ϳй;ϳͿ

ϲ͕ϳй;ϳͿ

 dƌƵŶĐĂƌ

Ͳ

ϵ͕ϭй;ϱͿ

ϰ͕ϴй;ϱͿ

 dƌƵŶĐĂƌͬWĞƌĐƵƟƌ Ͳ

ϲϭ͕ϴй;ϯϰͿ ϯϮ͕ϳй;ϯϰͿ

 ^ĞƌƌĂƌ

ϭϮ͕Ϯй;ϲͿ

ϳ͕ϯй;ϰͿ

ϵ͕ϲй;ϭϬͿ

 ZĂƐƉĂƌ

ϭϬ͕Ϯй;ϱͿ

ϵ͕ϭй;ϱͿ

ϵ͕ϲй;ϭϬͿ

ϰй;ϮͿ

Ͳ

ϭ͕ϵй;ϮͿ

 WĞƌĨƵƌĂƌ  ;WŽŶƚĂƐĚĞ^ĞƚĂͿ

Quadro 10-3 – Utensílios por categoria funcional

Memórias d’Odiana R 2ª série

244

*UiÀFR8WHQVtOLRV por categoria funcional

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Bases Naturais Conforme a definição já adiantada na metodologia, consideram-se nesta categoria todos aqueles elementos líticos que evidenciam um uso humano mediante marcas ou

Bases Negativas de Primeira Geração de Exploração A representação das BN1GE, na totalidade do espólio, é de 10,34% (12), encontrando-se portanto uma percentagem significativa.

10.4. Mercador *HVWmRGD0DWpULD3ULPD

12

Bigorna

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

245

Memórias d’Odiana R 2ª série

10.4.1.1. Distribuição das categorias estruturais

estigmas, e que, ainda que fazendo parte do processo de talhe, não são suportes de exploração ou configuração. Não foram contemplados todos aqueles elementos líticos que, presentes em contexto antrópico, não apresentam evidências físicas do seu uso em qualquer actividade humana, mas que ainda assim pudesse ter ocorrido. No total, do espólio recuperado, 173 Bn das 159 são fragmentos ou seixos rolados fracturados e manchados pela exposição continuada a altas temperaturas; 19 elementos de moagem, dos quais 3 são Bn usadas como percutores e 2 são Bn usadas como suporte dormente na percussão12. Sobre as primeiras e mais abundantes, importa referir que a sua abundância se deve à existência de contextos de habitação nos quais o lume e o uso do fogo, em geral, requer o uso de seixos rolados pela sua capacidade de reter o calor; para a dita função utilizavam-se não somente materiais reconhecidos expressamente para o dito uso, mas também BN1GE configuradas ou exploradas que eram reaproveitadas, dos quais se encontraram vários exemplos frequentemente fragmentados. Do resto das Bn destacamos o reaproveitamento de elementos de moagem que formam um grupo muito definido, maioritariamente realizado sobre diorito, nas quais existem vestígios muito marcados de desgaste por fricção em todo o perímetro das peças de morfologia sub-circular ou elipsoidal.

til. Os T.O.T.I. complementam os anteriores numa série de instrumentais que são inviáveis por configuração directa, pelos seus requesitos morfopotenciais e carácter sumamente efémero e que, portanto, requerem estandardização, como é o caso dos utensílios cortantes. Observa-se, pois, uma cadeia operatória lítica perfeitamente conseguida, na qual se alcançam altos níveis de retroalimentação e portanto se economiza a energia empregue. Uma cadeia operativa na qual as estratégias de produção estão adaptadas à matéria-prima e às morfologias naturais das proximidades e aplicação minoritária, complementar e especializada de técnicas mais desenvolvidas sobre as outras matérias-primas que requerem outras soluções. O mesmo será dizer que a aplicação simples e efectiva das estratégias de exploração e configuração unipolar que permitem o aproveitamento ou reaproveitamento dos suportes de seixos rolados fluviais e emprego da configuração do retoque plano ou escaliforme que aportam o instrumental complementar sobre outra matéria-prima do entorno, como o xisto.

Quadro 10-4 Cadeia operativa do Moinho de Valadares 1.

Memórias d’Odiana R 2ª série

246

Sem considerar os fragmentos, a dimensão média das BN1GE é de 7,5 x 6,1 x 3,9 cm, sendo a dimensão máxima 11,4 x 7,2 x 4,1 cm e a dimensão mínima 5,2 x 5,1 x 1,1 cm. A matéria-prima empregada é exclusivamente o quartzito, circunstância esta que supõe um feito discordante, se tivermos em conta que existem BP e BN2G exploradas e configuradas sobre outros materiais como o quartzo e o xisto jaspóide, especialmente no caso dos T.O.T.I. sobre pontas de seta que são realizadas sobre estes dois últimos materiais. Apenas em 33,3% (4) dos casos, a BN1GE se encontra esgotada ou muito explorada, sem que esta circunstância coincida com uma estratégia específica de exploração. Em 83,3% (10) o plano de percussão é cortical e não preparado, correspondendo a uma estratégia de exploração muito elementar. Estão presentes as BN1GE unipolares em 58,3% (7) dos casos, as BN1GE bipolares apresentam-se em 16,6% (2), correspondendo o resto da percentagem a fragmentos de núcleos e indeterminados 25% (3).

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Bases Positivas de Primeira Geração A sua representação dentro do conjunto industrial é de 16,38% (19), uma percentagem de elementos brutos ou residuais muito importante que, a juntar a isto 47,37% (9) desta categoria é cortical e 42,1% (8) parcialmente cortical, nos confirma a exploração das Bn “in situ” e, para além desta circunstância, explicam a simplicidade das estratégias de exploração e configuração, observável tanto nas BN1GE como nas BN1GC. Quanto à sua morfometria, as suas medidas médias são 4,4 x 3,5 x 1,3 cm, o que atendendo ao seu índice de largura e espessura, supõe um baixo índice de largura com 57,9% e um índice de espessura também baixo (30,12). Trata-se portanto de formatos pouco largos e pouco espessos, não se observando variações significativas nas diferentes fases do sítio. No que respeita aos bolbos, 68,4% (13) são reduzidos ou imperceptíveis e 68,4% (13) tem um talão cortical, o que indica, por um lado precisão e controlo na relação de forças entre as massas que chocam e, por outro, ausência

marcadas ou chegam a ter o gume massacrado. Se tivermos em conta a relação entre as variáveis do ângulo dos gumes, o volume das peças e o grau de desgaste, comprova-se que quanto maior é o volume de peças e o ângulo, maior é o grau de desgaste dos mesmos. A localização dos gumes é frontal em 68,6% (24) dos casos, frontal-lateral em 20% (7), lateral em 5,7% (2) e periférico em 5,7% (2), a delimitação dos gumes é convexa em 64,9% (24) dos casos, rectilínea em 16,2% (6), sinuosa em 8,1% (3), côncavo em 8,1% (3) e irregular em 2,7% (1). De destacar o facto de apenas 34,2% (13) das BN1GC apresentarem retalhe ou retoque, sendo maioritária a configuração a partir de uma única série de configuração e o seu posterior reavivamento antes do seu desgaste, 65,7% (25) com retoque ou retalhe.

Bases Negativas de Primeira Geração de Configuração Trata-se da categoria mais representativa dentro do conjunto artefactual, 42,24% (49). A dimensão média dos artefactos é de 9,9 x 7,3 x 4,2 cm, com um índice de largura de 74,9 e um índice de espessura de 42,3, o que em termos gerais supõe formatos de grande tamanho, pouco largos e espessos. O perímetro total é de 29,3 cm e o perímetro das unidades potenciais é de 9,6 cm o que supõe que a unidade potencial sobre o perímetro total da peça seja de 1/3 como média. Relativamente às unidades potenciais, são exclusivamente diedros, unifaciais em 68,5% (22) dos casos e bifaciais em 31,25% (10), o ângulo médio de 73º, sendo a distribuição a seguinte: 90º. As marcas de uso e o grau de desgaste não se verificam em 14,3% (5) dos casos, em 31,4% (11) são marcadas e em 54,3% (19) são muito

Bases Negativas de Segunda Geração de Configuração (BN2GC) Consideram-se como BN2G 31,03% (25+8+3) se considerarmos as BP com marcas de uso, reduzindo este valor para 18,5% (15+8+3) se contemplarmos apenas os elementos retocados; dos quais, 1% são de quartzito e 1% em quartzo. As BN2GC apresentam como dimensões médias 5 x 4 x 1,6 cm, o seu índice de largura é 80,62 e o índice de espessura 42,35, originando

 Ŷ

dKd> ʹ;ϮϰͿ

 Eϭ'

ϭϬ͕ϯϰй;ϭϮͿ

 Wϭ'

ϭϲ͕ϯϴй;ϭϵͿ

 EϮ'

ϯϭ͕Ϭϯй;ϮϱнϴнϯͿ

 Eϭ'

ϰϮ͕Ϯϰй;ϰϵͿ

Quadro 10-5 Representatividade das categorias estruturais

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

247

Memórias d’Odiana R 2ª série

da necessidade de estratégias elaboradas para a exploração das Bn, tanto pelas características morfológicas naturais dos seixos rolados, como pelas exigências da sua finalidade. A percentagem das BP originadas pelo continuo reavivamento das BN1GC é de 21% (4) manifestando na superfície dorsal, junto de algum dos gumes, vestígios de uso precedentes à extracção, marcas maioritariamente de percussão. À semelhança dos casos anteriormente estudados, a morfologia mais repetida entre as BP é aquela que a um potencial recto diedro se contrapõe um dorso cortical convexo, mais espesso, próximo do ângulo recto relativamente ao plano sagital da peça, variando o eixo de extracção da peça, que não segue um padrão de regularidade, ainda que possa destacar-se aquele eixo de extracção que procura o paralelo com a unidade potencial.

portanto produtos muito pouco largos e pouco espessos, relações similares às observadas no caso das BP. O valor de 33,3% (6) das BN2GC são corticais e 61,1% (11) parcialmente corticais, proporção que é também similar nas BP, e que se explica pela estratégia de produção que se reflecte tanto nas BN1GE, como nas categorias anteriores. Das BP, 66,6% (14) possui um bolbo reduzido, os talões são maioritariamente corticais em 68,2% (15) dos casos e lisos em 31,8% (7), não existindo exemplos de talões facetados que impliquem uma preparação elaborada dos planos de percussão.

10.4.2. Sistemas Técnicos de Produção 10.4.2.1. Exploração

Os T.O.T.I. presentes no sítio do Mercador caracterizam-se, tal como os do Moinho de Valadares, por serem estratégias de exploração tecnicamente simples na exploração dos produtos finais.

10.4.2.1.1. T.O.T.I. Unipolar

Memórias d’Odiana R 2ª série

248

À semelhança dos sítios anteriormente estudados, estes T.O.T.I. apresentam-se maioritariamente representados na cadeia operativa lítica do sítio em estudo, encontrando-se exemplos em todas as categorias. Elaboradas em quartzito, sobre Bn elipsoidais com maior ou menor tendência rectangular, aproveitando-se como plano de percussão cortical a face com o plano horizontal de maior extensão e mais regular, sem que exista uma preparação prévia. A interacção de forças para a explora-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

ção é realizada por uma percussão directa que procura ângulos abruptos ou simples, procurando nas fases iniciais de exploração ângulos simples, quando o extremo distal da Bn carece de um volume suficiente. Esta preferência possibilita logo nos produtos iniciais largos, potenciais distais, com um gume agudo e convexo, cujos planos de interacção são, por um lado o dorsal cortical e o ventral, sendo funcionalizados sem necessidade de se proceder à sua configuração. A exploração da Bn continua com uma configuração alternada dos pontos de impacto de modo ziguezagueante, em disposição adjacente relativamente às faces das BP, obtendo-se em cada série de BP semi-circulares que deixam num dos seus lados um amplo gume, normalmente rectilíneo e, no lateral oposto, um talão cortical grosso semicircular. Como resultado deste procedimento, a fase dorsal das BP apresenta a soma dos negativos das extracções prévias, em regra geral no paralelo com o gume, e o eixo de simetria da peça é com frequência perpendicular ao eixo de extracção. Esta estratégia de exploração é denominada como T.O.T.I. Longitudinal Unipolar Massivo Recorrente que é maioritária no sítio. Existe também um exemplo entre as BN1GE de exploração do T.O.T.I. Periférico Unipolar Adjacente realizado também em quartzito, sobre Bn originalmente de maior largura e espessura, aproveitando-se como plano de percussão cortical da face com o plano horizontal de maior extensão e mais regular, sem que exista uma preparação prévia ou, em todo o caso, como foi documentado pelas BN1GC, aproveitando uma fractura natural prévia. A exploração é periférica a partir de um único plano de percussão que envolve a peça com uma série de levantamentos de grande amplitude e ângulo simples (que evita

10.4.2.1.2. T.O.T.I. Bipolar

Localizaram-se dois BN1GE porém não se definiu nenhuma entre as BP com as características anteriormente assinaladas. Trata-se de uma estratégia de exploração que parte dos mesmos pressupostos e os seus produtos resultantes são similares, o que torna a sua definição complexa. Tal como se destacará no caso do Monte Tosco, esta categoria de exploração está também presente na produção de BN2GC como as pontas de seta em xisto (7, sendo 3 de base recta e 3 de base côncava), ainda que não se tenha detectado nenhum exemplo de suporte ou BN1GE. Não obstante a estrutura laminar desta matéria-prima exige uma exploração numa única direcção, preferencialmente explorada bipolarmente mediante levantamentos opostos sucessivos.

10.4.2.1.3. T.O.T.I. Multipolar

Não se localizaram nenhuns exemplos de BN1GE pertencente a este T.O.T.I.. &RQÀJXUDomR

Passaremos agora a analisar os critérios de definição das diferentes estratégias de configuração. Distinguiremos el T.O.T. a que pertencem utilizando como critério para sua ordenação as dimensões dos produtos configurados, segundo os parâmetros analíticos baseados no modo de pressão dos utensílios (Plana & Rando, in Carbonel et al., 1994).

Configuração nos T.O.T.D. Deparamo-nos novamente com uma cadeia operativa lítica na qual a configuração directa de Bn seleccionadas entre os seixos rolados fluviais de quartzito é uma estratégia que corresponde a modelos técnicos simples, com uma representação similar de produtos configurados ao T.O.T.I.. Dentro da cadeia operativa do sítio, à semelhança dos casos estudados anteriormente, as BN1GC apresentam uma estratégia dirigida para a obtenção de produtos maioritariamente de médio e grande formato, com potenciais diedros, maioritariamente, mediante uma sequência de configuração com uma única série de levantamentos. Em todo o caso a Cadeia Operativa Lítica do Mercador destaca-se por uma menor padronização, maior simplicidade técnica e uma consequente menor variedade de objectos configurados. Conforme os critérios anteriores, atendendo à selecção inicial de suporte, selecção e adequação dos potenciais e a relação com a morfologia da peça destes, os grupos definidos reduzem-se a formato médio e grande. Configuração nos T.O.T.I. Como no caso dos T.O.T.D., encontramo-nos perante um conjunto pouco padronizado, o que reunido ao número reduzido de elementos que o compõem, impossibilita a eleboração de grupos por estratégia de configuração. Não obstante, apesar disso podem destacar-se alguns elementos nesse sentido, que respondem a modelos já observados no sítio anterior: – É o caso do grupo formado pelas BP, que sendo provenientes de um T.O.T.I. Unipolar Massivo Recorrente, aproveitam a morfologia resultante formada por um potencial

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

249

Memórias d’Odiana R 2ª série

a perda excessiva de massa e a obtenção de BP demasiado espessas), alternando com séries de levantamentos de menor amplitude.

diedro amplo, fio agudo, ao qual se aplica uma série de retoques marginais, ao qual se opõe um talão cortical, convexo mas espesso. – As BP iniciais obtidas a partir do T.O.T.I. Unipolar Massivo Recorrente, corticais, com uma morfologia conformada por um potencial diedro formado pelo córtex e face interna, oposto a um talão cortical mais espesso, também são aproveitadas para uso com o fio vivo ou sujeito a uma ligeira configuração mediante a aplicação de uma série de retoques marginais. – Por último, surgem algumas BP de morfologia variada, mas que proporcionam um potencial que é configurado mediante retoque denticular aplicado sobre parte do diedro.

10.4.3. Conclusões

Memórias d’Odiana R 2ª série

250

Sendo um conjunto muito reduzido, de apenas 116 peças líticas, a caracterização dos T.O.T a partir das diversas categorias foi muito condicionada. Esta circunstância somada ao facto de nos confrontarmos com uma Cadeia Operativa Lítica maioritariamente de técnica simples e pouco padronizada, dificultou o estabelecimento de padrões técnicos de exploração e configuração que foram claramente definidos como expressão dos diversos T.O.T.. A Cadeia Operativa Lítica realiza-se maioritariamente em quartzito (material disponível nas proximidades do sítio), com excepção dos T.O.T. laminar e pontas de seta, que são exploradas e configuradas sobre xisto e sílex, circunstância que no caso dos T.O.T. laminares parecem indicar uma procedência externa de produtos já formatados. Em geral, a produção realiza-se por igual a partir de T.O.T.D. e T.O.T.I.; os primeiros para obtenção de supor-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

tes configurados de médio e grande tamanho e os segundos para a obtenção de suportes configurados de pequeno tamanho. Tal como nos restantes conjuntos estudados, o T.O.T.I. Unipolar é o que está mais representado na Cadeia Operativa, encontrando-se completo em todas as categorias. O T.O.T.I. Bipolar é usado mais ocasionalmente e nunca se encontra representado entre as BP, nem de maneira definível entre as BN2G. Finalmente o T.O.T.I. Multipolar é de uso provável, segundo se depreende das características de algumas BP ou BN2G, que em qualquer caso podem pertencer a tempos concretos e desligados do resto dos T.O.T.. Os T.O.T.D. encontram-se tanto entre as BN1G como entre as BP, como exemplos de reavivamento. Não se encontram padronizados e respondem a esquemas adaptados à morfologia particular de cada Bn, a partir de uma configuração mínima de uma série muito limitada de extracções.

10.5. Monte Tosco *HVWmRGD0DWpULDSULPD 10.5.1.1. Distribuição das Categorias Estruturais

Encontramo-nos perante um conjunto muito reduzido que não supera os 153 elementos, número que, se descriminarmos as Bn, categoria que se situa fora da exploração propriamente dita, se reduz para 125. Este facto limitou os objectivos planeados para o estudo da cadeia operativa lítica deste sítio. Bases Naturais No todo, o espólio recuperado é de 28 Bn, do qual menos de 10 Bn têm características próprias de possíveis elementos utilizados em

фϯϬŵŵ ϯϭͲϲϬŵŵ ϲϭͲϭϬϬŵŵ хϭϬϬŵŵ

 EϮ'

;ϯͿ

;ϳϮͿ

;ϮϬͿ

Ͳ

 Eϭ'

Ͳ

;ϰͿ

;ϰϲͿ

;ϭϭͿ

 Wϭ'

;ϭϯͿ

;ϭϱϬͿ

;ϯϬͿ

Ͳ

4XDGUR'LPHQV}HVGRVSURGXWRVFRQÀJXUDGRV

*UiÀFR'LPHQV}HVGRVSURGXWRVFRQÀJXUDGRV

moagem e 18 Bn são fragmentos ou cantos rolados, usados para a percussão no processo de talhe. Não se tendo encontrado nenhum fragmento de seixo com marcas de ter sido exposto a altas temperaturas por qualquer actividade humana, até porque nos contextos escavados não se localizava actividade humana que requeresse a conjunção do fogo e da pedra. Todavia, no processo de escavação, o critério de discriminação só considerava os estigmas ou sinais de um uso directo de interacção entre Bn.

 Ŷ

dKd> ϭϴ͕ϯй;ϮϴͿ

 Eϭ'

ϱ͕ϵй;ϵͿ

 Wϭ'

ϭϳй;ϮϲͿ

 EϮ'

ϰϱ͕ϭй;ϯϵнϮϵͿ14

 Eϭ'

ϭϯ͕ϳй;ϮϭͿ

Quadro 10-7 Representatividade das categorias estruturais

Bases Negativas de Primeira Geração de Exploração A representação das BN1GE, na totalidade do espólio, é de 5,9% (9), uma quantidade escassamente representativa sobre o todo, se nos detivermos nas suas características técnicas pouco elaboradas. Deparámo-nos com a dificuldade de definir as cadeias operativas líticas com um número muito pequeno de exemplos com um indicador tão importante como este. A dimensão média das BN1GE é de 5,48 x 4,46 x 2,89 cm, sendo a dimensão máxima de 8,1 x 7,1 x 6,9 cm e a dimensão mínima 3,5 x 2,5 x 1,9 cm. A representação percentual segundo as matérias-primas distribui-se do seguinte modo: em primeiro lugar, a percentagem de BN1GE realizadas em quartzito é de 33,3% (3) do total, face a 33,3% (3) de quartzo e 22,2% (2) de xisto jaspóide. Mais uma vez, este equilíbrio entre o quartzo e o quartzito destaca-se pelo facto manifesto de que essa mesma situação não se produz entre as BP e BN2G, onde existe uma quantidade muito superior de elementos sobre quartzito. Em todo o caso, devemos considerar, à semelhança do caso de Moinho de Valadares, a produção de BN1GC em quartzito como a origem da percentagem maioritária de BP e BN2GE, pela importância prioritária das estratégias de produção em quartzito, fundadas em T.O.T.D. sobre os T.O.T.I.. A existência de BN1GE em xisto estão relacionadas com o T.O.T.I. direccionado para a obtenção de pontas de seta, sendo dos exemplos bastante prováveis14 da dita produção.

13 'HQWURGDFDWHJRUtDGH%1*GLVWLQJXLUDPVHDTXHOHVHOHPHQWRVSHUWHQFHQWHVDR727,GHVWLQDGRjREWHQomRGHSRQWDV de seta, do resto de elementos. 14 ([LVWHXPDGLÀFXOGDGHPDQLIHVWDSDUDGHWHUPLQDUFRPVHJXUDQoDDV%1*GH[LVWRGDGDVDVFDUDFWHUtVWLFDVGDVXDH[SORração, seguindo a sua fácil extracção laminar.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

251

Memórias d’Odiana R 2ª série

 

A percentagem maioritária de BN1GE em quartzo e quartzito são pouco explorados, sem planos de percussão preparado e respondem a uma estratégia de exploração muito elementar. Não se definiram os T.O.T.I. diferenciados, à excepção de um exemplo de T.O.T.I. Bipolar. Bases Positivas de Primeira Geração As BP1G são todos aqueles volumes de massa desprendidos de uma matriz (BN1G) como consequência de um talhe, que não têm evidências de uso ou que não foram explorados posteriormente para a sua configuração e uso. A sua representação no conjunto industrial é de 17% (26), uma percentagem de elementos brutos ou residuais coerentes com o conjunto de todas as categorias. De todos eles, 50% (13) são de quartzito, 23% (6) de quartzo, 11,5% (3) em xisto e 3,8% (1) em xisto jaspóide. Sobre o grau de corticalidade: 26,9% (7) desta categoria interna e 46,1% (12) são parcialmente corticais e 15,4% (4) corticais. No que respeita à sua morfometria, as suas medidas são de 4,16 x 3,16 x 0,92 cm, o que, atendendo ao seu índice de largura e espessura, supõe um baixo índice de largura, 77,08% e um índice de espessura também baixo, 25,57%,

Quadro 10-6 Cadeia operativa do Mercador.

Memórias d’Odiana R 2ª série

252

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

tratando-se portanto de formatos pouco largos e muito espessos. Relativamente aos bolbos, 92,3% (24) destes apresenta dimensões reduzidas ou são mesmo imperceptíveis, sendo que 50% (13) tem um talão cortical e os restantes indeterminados e não se definindo talões preparados, à semelhança do sucedido no caso de Moinhos de Valadares. Indica por um lado precisão e controlo na relação de forças entre as massas que chocam e uma ausência de necessidade de estratégias elaboradas para a exploração das Bn, tanto pelas características morfológicas naturais de seixos rolados, como pelas exigências devidas à sua finalidade. Está presente em dois elementos das BP originadas pelo continuado reavivamento das BN1GC, que manifestam na superfície dorsal, junto a algum dos gumes, vestígios de uso precedentes da extracção, marcas maioritariamente de percussão. A sua representação percentual sobre o total das BP é um verdadeiro testemunho. Bases Negativas de Primeira Geração de Configuração No conjunto do espólio, esta é uma categoria muito presente, apresentando-se como 13,7% (21) do total. A sua presença, é indicati-

va da importância do T.O.T.D. para a produção de utensílios de médio e grande formato. A dimensão média dos artefactos é de 11,53 x 7,71 x 3,8 cm, com um índice de largura de 71,28 e de espessura de 66,6, o que em termos gerais supõe formatos de grande dimensão, pouco largos e espessos. O perímetro total médio é de 31,86 cm e o perímetro médio das unidades potenciais é de 16,54 cm, o que pressupõe que a unidade potencial sobre o perímetro total da peça se aproxima da metade. No que respeita às unidades potenciais, trata-se exclusivamente de diedros, unifaces em 72,2% (13) e bifaces em 27,8% (5) dos casos; o ângulo médio de 77,6º, sendo a distribuição a seguinte: 90º 6,25% (1). As marcas de uso e o grau de desgaste não surgem em 33,3% (4), em 50% (6) são marcadas e em 16,7% (2) chegam a ter o gume marcado. Ao contrário do que sucede no Moinho de Valadares, não se verificou relação entre as variáveis do ângulo dos gumes, o volume das peças e o grau de desgaste. Pelo que devemos ter em conta o escasso número de elementos considerados. A localização dos gumes é frontal em 33,3% (4) dos casos, frontal lateral em 41,6% (5), lateral em 16,7% (2) e periférico em 8,3% (1), a sua delimitação é convexa em 83,3% (10) dos casos e rectilínea em 16,7% (2). No sentido de regularizar a frente do potencial da peça, verificamos que 58,3% (7) das BN1GC apresentam retoque ou mesmo um novo talhe.

Bases Negativas de Segunda Geração de Configuração (BN2GC) No conjunto artefactual encontramos 45,1% (29+35+4), se considerarmos as BP com marcas de uso, reduzindo-se este número para 32,50% (29+16+4) se calcularmos apenas os elementos retocados. A gestão da matéria-prima distribui-se da seguinte forma: se excluirmos do calculo os T.O.T.I. de pontas de seta e laminares: 55,89% (19) de BN2G são de quartzito e 20,59 (7) em quartzo15, 20,59% (7) xisto jaspóide, percentagens que variam consideravelmente se considerarmos BN2G dos T.O.T.I. de pontas de seta e laminares, que são exclusivamente explorados em xisto jaspóide ou sílex. A dimensão média das BN2GC é de 4,72 x 3,52 x 1,21 cm; o seu índice de largura é de 75,01 e o índice de espessura 25,59, evidenciando portanto produtos pouco largos e pouco espessos, relações similares às observadas no caso das BP. 28,58% (10) das BN2GC são corticais, 42,86% (15) parcialmente corticais e 28,58% (10) não apresentam cortéx, proporção que sendo similar às contabilizadas para as BP, varia levemente na relação existente entre corticais e não corticais. No que se refere ao bolbo, 74,28% (26) das BP apresentam-no reduzido ou imperceptível; e os talões definidos são maioritariamente corticais, 94,7% (16), encontrando-se apenas 5,3% (1) lisos, não existindo exemplos de talões face253

2SWiPRVSRUFRQVLGHUDUQHVWDFDWHJRUtDDTXHODV%3TXHHPERUDQmRWHQKDPVLGRFRQÀJXUDGDVDSUHVHQWDYDPPDUFDV de uso, ainda que atendendo ao processo de talhe este grupo se situasse fora desta categoría. As razões para este procedimento estão relacionadas com o facto de se considerar que não é apenas a actuação sobre os elementos, mas também DDXVrQFLDGDPHVPDHYLGHQFLDPVHSHODHOHLomRGDHVWUDWpJLDGHH[SORUDomRHGHÀQLomREHPFRPRRXVRGDVIHUUDPHQWDV&RQVLGHURXVHSRUWDQWRTXHDLQFOXVmRQDFDWHJRUtDHVWDYDMXVWLÀFDGDXPDYH]TXHDHYLGrQFLDPDWHULDOGRVHXXVR GHQXQFLDYDDSHVDUGDHOHLomRGH´QmRFRQÀJXUDomRµDVSRWHQFLDOLGDGHVREVHUYDGDVHHVFROKLGDVSDUDRLQVWUXPHQWRQmRVH VXEPHWHDXPDFRQÀJXUDomR WUDQVIRUPDomR GD%3PDVDGLWDWUDQVIRUPDomRVXUJHQDSRVWHULGDGHFRPRFRQVHTXrQFLDGH uma eleição e sua utilização.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Memórias d’Odiana R 2ª série

15

tados que impliquem uma preparação elaborada dos planos de percussão. Uma menção particular merecem as quatro BN2G procedentes de T.O.T.I. laminares, três deles efectuados em sílex. Trata-se de três BN2G laminares de secção triangular e uma trapezoidal, todas fracturadas, duas intencionalmente por percussão ou flexão, sendo dois fragmentos mesiais e um completo de talão liso; configurados mediante retoques rectilíneos inversos, em 50% (2), rectilíneo alternativo em 25% (1) e rectilíneo directo em 25% (1), com retoque semi-abrupto, total de amplitude marginal curto em 75% (3).

10.5.2.1.2. T.O.T.I. Bipolar

Localizou-se um exemplo destes T.O.T.I., entre as BN1GE, em quartzito e outro em xisto. Este último caso parece ser um exemplo representativo da técnica de exploração dirigida para a obtenção das BN2GC de pontas de seta sobre xisto, das quais existem abundantes exemplos neste conjunto. Pelas características próprias do xisto, este exige uma exploração numa única direcção, preferencialmente trabalhada bipolarmente, mediante levantamentos opostos sucessivos. Estão presentes na cadeia operativa BP que indicam esta possibilidade, apesar de não se ter contabilizado nenhuma BN1GE.

10.5.2. Sistemas Técnicos de Produção 10.5.2.1.3. T.O.T.I. Multipolar

Neste caso encontramo-nos perante um conjunto muito reduzido, onde observamos um grande contraste entre T.O.T. de diferente desenvolvimento quantitativo e complexidade técnica. Esta circunstância determinará o grau de definição que se pode extrair de cada T.O.T..

10.5.2.1. Exploração 10.5.2.1.1. T.O.T.I. Unipolar

Memórias d’Odiana R 2ª série

254

Pertencentes a este T.O.T. detectaram-se unicamente casos entre as BP e BN2G, apesar de não se ter podido definir com clareza nenhum elemento na categoria de BN1GE, sendo apenas o caso das BN1GE no seu início de exploração. Não obstante, devia ter sido um T.O.T.I. bem presente na cadeia operativa, não apenas pelos exemplos existentes entre os produtos, mas também porque requer os mesmos tempos técnicos que os exemplos, estes sim, mais numerosos dos T.O.T.D. de médio e grande formato.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Incluem-se neste grupo todas aquelas BN1GE que apresentam mais de duas superfícies de exploração e que adaptam a sua estratégia de exploração ao processo morfológico da peça, sem nenhum esquema pré-estabelecido. Está documentado na cadeia operativa do Monte Tosco em quartzo e quartzito por BN1GE, ainda que não existam BP ou BN2GC que se possam agregar seguramente a este grupo, já que os produtos resultantes desta estratégia de exploração são muito variáveis. No caso concreto dos exemplos presentes em quartzito, o grau de aproveitamento é baixo, ao contrário dos exemplos documentados em quartzo.

10.5.2.1.4. T.O.T.I. Laminar

Registaram-se BN2G pertencentes a este T.O.T.I., mas não BN1GE, o que nos leva a pensar numa procedência alógena dos elementos já formalizados.

O TOTI para a obtenção de pontas de seta é o T.O.T. mais claramente definido no sítio, encontrando-se completo em todos as etapas da sua execução, tanto Bn, como possíveis BN1GE, assim como um abundante exemplo das BN2GC. A sua produção destaca-se no conjunto artefactual, não só pelo facto de se encontrar completo, mas também por expressar o alto grau de capacidade técnica desta comunidade.

&RQÀJXUDomR

A sua classificação partirá da distinção do Tema Operativo Técnico a que pertencem, seja Directo ou Indirecto, atendendo-se como critério para a sua ordenação as dimensões dos produtos configurados, segundo os parâmetros analíticos baseados no modo de preensão dos utensílios (Plana y Rando, in Carbonell et al., 1995).

 

фϯϬŵŵ ϯϭͲϲϬŵŵ ϲϭͲϭϬϬŵŵ хϭϬϬŵŵ

 EϮ'

;ϲнϭϰͿ

;ϮϭнϭϱͿ

;ϳнϬͿ

-

 Eϭ'

Ͳ

;ϭͿ

;ϴͿ

;ϭϬͿ

 Wϭ'

;ϲͿ

;ϭϯͿ

;ϮͿ

Ͳ

4XDGUR'LPHQV}HVGRVSURGXWRVFRQÀJXUDGRV

*UiÀFR'LPHQV}HVGRVSURGXWRVFRQÀJXUDGRV

Configuração nos T.O.T.D. A configuração directa de Bn seleccionadas entre os seixos rodados fluviais de quartzito é uma estratégia muito representada na cadeia operativa do sítio em estudo, tanto por BN1GC, como por BP, destina-se à obtenção de produtos maioritariamente de médio e grande formato, com potenciais diedros, mediante uma sequência de configuração, maioritariamente com uma única série de levantamentos. Foi possível determinar uma série de grupos atendendo à selecção inicial do suporte, selecção e adequação dos potenciais e a relação com a morfologia da peça destes. A. Formato Médio - Um primeiro grupo caracteriza-se por morfologia originais pouco largas (Ia.: 67,5), de médio tamanho, com um único potencial diedro no extremo distal ou proximal, configurando um gume com uma única série de grandes levantamentos unifaciais de ângulo agudo e delineação contínua, rectilíneo ou convexo, produzindo diedros cuja secção sagital é assimétrica. Sendo pouca a espessura das peças (Ie: 38,2) e onde existe uma grande diferença de largura entre o extremo distal e proximal; 2. – Um grupo formado por utensílios de médio formato, morfologia alargada (Ia: 67,3) e espessura média (Ie: 53,25), com duas unidades potenciais diedros, unifaciais, uma distal e outra lateral, realizados por uma série de levantamentos amplos e abruptos, que configuram gumes de delimitação regularizada, ligeiramente convexos no potencial lateral e convexo no distal, conservando a corticalidade lateral oposta e o extremo proximal para a preensão da peça; 2. – Um terceiro grupo caracteriza-se pela definição de um potencial diedro unifacial, la-

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

255

Memórias d’Odiana R 2ª série

10.5.2.1.5. T.O.T.I. de pontas de seta

teral, com duas séries de levantamento que configuram um gume ligeiramente convexo (num caso de delineação denticular) e com uma morfologia de tamanho médio, mais largo (Ia: 35,7) e pouco espesso (Ie: 11,9); 1. B. Formato Grande - O único grupo sobre grandes seixos rolados de morfologia pouco espessa e pouco larga (Ia: 65,85; Ie: 33,32), com potenciais unifaciais ou bifaciais de delineações variadas (convexas, rectilíneas e irregulares) e ângulo muito aberto, configurados a partir de extracções de grande amplitude. Apresentam, normalmente, um gume massacrado pelo uso continuado.

Memórias d’Odiana R 2ª série

256

Ainda que a mostra seja mais reduzida no conjunto estudado anteriormente e, portanto, a variabilidade menor, encontramo-nos de novo perante uma mesma estratégia de exploração em geral, e em particular na configuração mediante T.O.T.D.. Uma selecção de morfologias naturais determinadas com vista a economizar os gestos técnicos para obter o produto útil final, de tal forma que a configuração dos potenciais não requer em nenhum momento uma preparação prévia do suporte que se adapta em cada circunstância aos perfis que a morfologia natural oferece, centrando-se a configuração na obtenção do potencial diedro. Destaca-se portanto a simplicidade técnica, em regra geral, com uma única série de extracções de média e grande amplitude, que por ser um número reduzido e concentrar-se apenas no potencial, não implicam uma grande perda de volume, nem uma variação substancial na morfologia original, como já se disse anteriormente. Configuração nos T.O.T.I. Foi possível determinar uma série de grupos atendendo aos critérios já apurados com

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

anterioridade de selecção inicial do suporte, selecção e adequação dos potenciais e a relação com a morfologia da peça destes. O T.O.T.I. para a obtenção de pontas de seta é, como se disse, o T.O.T. mais claramente definido no sítio, encontrando-se completa em todos os tempos da sua execução. Registaram-se 29 BN2GC (pontas de seta) plenamente executadas, bem como 9 BN2GC que são pequenas lascas retocadas que no processo de configuração são descartadas e, finalmente, 2 Bn com uma alta probabilidade de ser uma realidade BN1Ge. Deste conjunto chegaram-nos completas 21 BN2GC e fracturadas em alto grau 8: 1 com fractura proximal; 1 com fractura mesial; 4 com fracturas distal e 2 com fractura mesial e proximal. A matéria-prima utilizada para a sua produção reduz-se ao xisto jaspóide, (21) e ao xisto (8), não se encontrando nenhum elemento produzido em sílex. Dez são de base recta, nove de base côncava, duas de base triangular e uma de base bicôncava. A grande maioria destes utensílios é proveniente dos contextos da fase de ocupação calcolítica. Contudo cinco foram registados no ambiente da Cabana 1 da segunda fase de ocupação. A medida média das pontas de seta é 3,24 x 1,94 x 0,39 cm, observando-se que as realizadas sobre xisto são sensivelmente maiores e menos espessas 3,35 x 2 x 0,33 cm, e as executadas em xisto jaspóide têm 3,2 x 1,92 x 0,41 cm, sendo que esta diferença é extensível à altura relativa ao arco que forma a concavidade das bases das peças em algumas delas, que se desenvolvem mais no caso do xisto jaspóide, 21 cm, relativamente aos ,15 cm do xisto. Esta circunstância indica as características próprias a ambas as matérias-primas, que são, a maior fragilidade do xisto relativamente ao xisto jaspóide, o que impediria uma menos dimensão na execução das peças e uma menor tendência à

– Um primeiro grupo de BP de pequeno formato e morfologia diversa que apresentam um potencial diedro configurado a partir de retoques denticulares. 6 exemplares. – Um segundo grupo caracterizado pela selecção de BP corticais de extremo inicial dos seixos rolados, de pequeno e médio formato, suportes cujo extremo distal desenvolve um potencial diedro largo, com um gume aguçado e ligeiramente convexo que apresentam frequentemente marcas de uso e/ou retoques isolados, marginais e simples, ainda que no extremo proximal apresentam um dorso cortical e espesso que é apto para a preensão do utensílio. 2 exemplares. – Por último, um grupo muito numeroso que não obedece a critério único, mas devemos aproveitar os diferentes potenciais em BP cortical ou parcialmente cortical, de morfologia diversa, de pequeno e médio tamanho, com gumes diedros que apresentam retoques isolados, que configuram quer frentes escarpadas, quer simples; 10 exemplares.

10.5.3 Conclusões Em primeiro lugar devemos ter presente o escasso volume de elementos líticos recolhidos, 125, o que permitiu caracterizar de maneira genérica, mas não permitiu distinguir e caracterizar as Cadeias Operativas Líticas, no que se refere a grupos standartizados na exploração e configuração. Devemos considerar, em geral, a cadeia operativa como completa, à excepção

dos T.O.T.I. laminar, sendo este o caso em que a soma de extracções das BN1G, por um lado e o conjunto BP e BN2G, por outro, precipita uma cifra muito equilibrada. A cadeia operativa lítica foi realizada fundamentalmente em quartzito, ainda que com um uso muito especializado do xisto jaspóide e do sílex nos T.O.T.I. de pontas de seta, elaboradas sobre estas matérias-primas, possivelmente disponíveis nas proximidades, nos detritos aluvionares. Também se encontra o sílex no T.O.T.I. laminar, ainda que neste caso haveria que considerar-se a sua proveniência alógena. O modelo de exploração na Cadeia Operativa Lítica de Monte Tosco encontra-se claramente definido unicamente no caso dos T.O.T.I. de pontas de seta. Deste T.O.T. documentaram-se todos os tempos técnicos já que se registaram exemplos de todas as categorias. Não é o caso do resto dos T.O.T.I., de que se têm escassos exemplos entre BN1GE, as BP e BN2G. No caso concreto do T.O.T.I. laminar, de que se registaram BN2G mas não BN1GE, é muito possível que perante uma importação do sítio dos elementos já configurados. No que respeita ao T.O.T.D., trata-se de um T.O.T. muito utilizado dentro da Cadeia Operativa, ainda que se encontre pouco estandartizado. Caracteriza-se pela configuração exclusiva de diedros de diversas morfologias em quartzito, de formatos médios e grandes, variando o ângulo daqueles consoante a natureza original do seixo. Não foram definidos grupos padronizados de configuração distal do diedro, grupo que só é numeroso no tipo de cadeias operativas líticas. Podemos afirmar, portanto, que a cadeia operativa lítica do Monte Tosco se estrutura para a exploração de T.O.T.I., fundamentalmente para a produção de pontas de seta, no que se empregaram técnicas elaboradas de

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

257

Memórias d’Odiana R 2ª série

fractura laminar do xisto jaspóide, o que permite resistir à pressão com uma fractura concóide, ao contrário do xisto que fractura por lâminas, o que coadjuva a menor espessura das primeiras.

Quadro 10-9 Cadeia operatória Monte do Tosco 1.

configuração de elementos de pequenos formatos, e para formas menos estandardizada e mediante o emprego de gestos técnicos mais simples, ou seja, para exploração e configuração de carácter imediato de formatos muito variados, no âmbito de uma economia baseada na matéria-prima útil disponível em quartzito, através dos seixos fluviais. Não se registou um espectro suficientemente amplo que possibilitasse a observação, na repetição de modelos nos diferentes T.O.T., do grau de desenvolvimento da Cadeia Operativa Lítica na exploração da sua primeira fonte de matéria-prima como é o quartzito. No entanto, é possível afirmar que, à semelhança do caso de Moinho de Valadares, este se encontrava plenamente desenvolvido.

10.6. Conclusões gerais

Memórias d’Odiana R 2ª série

258

Iniciámos este trabalho com uma pequena introdução na qual se expunha sucintamente a velha problemática terminológica do “languedocense” , vinculada de forma equívoca a “cultura” ou “indústria”; expusemos também a extensa recorrência cronológica das assim denominadas indústrias macrolíticas, desde

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

o Peleolítico Inferior ao Postpaleolítico. Por último, sublinhámos como a dita discussão se encontra muito ligada também às Cadeias Operativas Líticas da Idade do Cobre, onde encontramos as ditas indústrias macrolíticas em conjunção, não só de diferentes temas operativos líticos, mas também com outras evidências tangíveis que ampliam o espectro que pode englobar o termo cultura numa cronologia mais definida. Com estas questões de partida iniciámos o estudo dos conjuntos líticos recuperados no curso das diferentes intervenções arqueológicas realizadas nos povoados calcolíticos do Moinho de Valadares 1, Monte do Tosco 1 e Mercador, localizados no troço médio do Guadiana. A partir da análise dos materiais líticos provenientes dos ditos três povoados foi possível determinar as características das suas Cadeias Operativas Líticas, com maior ou menor grau de definição por meio dos seus Temas Operativos Líticos, desde a eleição da matéria-prima, passando pela sua transformação e função, que não uso. Mais além daquelas variáveis que podem introduzir certo grau de distorção, como são fundamentalmente a superfície de intervenção, as características funcionais da área

sença significativa de T.O.T.D. Unipolar Adjacente, a unipolariedade maioritária na configuração dos T.O.T.D. e a presença incompleta ou ausência de T.O.T.I. laminares.

R Na gestão da matéria-prima, que nos três casos estudados é quase exclusivamente realizada sobre quartzito procedente dos terraços fluviais do Guadiana; somando-se, em escassas ocasiões, o quartzo procedente dos filões existentes no substrato xistoso e o próprio xisto para um tema operativo específico como o que é orientado para a obtenção de pontas de seta. Nos três casos estudados, os escassos elementos fabricados em sílex, que pertencem a Temas Operativos Líticos incompletos nos sítios, procedem muito possivelmente de intercâmbio com o exterior. R O Sistema Técnico de Produção, no qual se observa em todos os casos um equilíbrio entre os Temas Operativos Técnicos Líticos Directos e Indirectos

R Quanto às suas potencialidades de uso, no que foi possível extrair dos casos de valor estatístico significativos, constatou-se a presença/ausência de traços morfo-funcionais característicos, a partir do qual se pode afirmar a existência da maior parte de traços morfo-funcionais nos três sítios estudados. Assim, atendendo aos resultados do Moinho de Valadares 1 é possível apontar o amplo espectro morfo-funcional da Cadeia Operativa Lítica tanto nos T.O.T.D. como nos T.O.T.I.

R No Sistema Técnico de Produção, observa-se em todos os casos um equilíbrio entre os Temas Operativos Técnicos Líticos Directos e Indirectos, em que a obtenção de utensílios sobre quartzito mediante processos simples preferencialmente bipolares tanto na exploração como configuração apresenta um amplo leque de funções potenciais, salientando-se, no caso dos Temas Operativos Indirectos, a escassez e a marginalidade do retoque para a configuração (maioritariamente simples ainda que com uma presença significativa do retoque denticular) de suportes que são usados maioritariamente em bruto sobre fios vivos. R Entre os Temas Operativos Líticos, nos quais se observam: a predominância do T.O.T.D. Unipolar Masivo Recorrente, a pre-

Assim, se bem que existe uma diversidade morfológica final ostensiva nos conjuntos, existe, também, uma relação muito estreita entre determinadas morfologias dos suportes nos seus diferentes tempos de exploração e as estratégias de configuração, que permitem individualizar padrões. Como mencionado no capítulo da metodologia estas estratégias de configuração mostram modelos intencionais que implicam a selecção da morfologia inicial (Bn), a eleição de uma estratégia de exploração adequada e a aplicação de uma estratégia de configuração específica para cada caso, ou seja, uma premeditação, uma intencionalidade. Esta intencionalidade é difícil de definir no caso dos conjuntos macrolíticos como os estudados, devido à sua simplicidade técnica e à reduzida quantidade de material. Estes traços comuns são possíveis de rastrear noutros conjuntos estudados de povoados Calcolíticos, apesar da falta de estudos de conjuntos macrolíticos sobre quartzito provenientes das muitas intervenções realizadas neste período, em contraste com as indústrias

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

259

Memórias d’Odiana R 2ª série

do povoado objecto de estudo, assim como a metodologia empregue, é possível afirmar a existência de elementos comuns entre as três Cadeias Operativas Líticas.

foliáceas laminares sobre sílex. Existe um horizonte comum em todo o curso do Guadiana (principal e subsidiário) ao longo do Alentejo português e da Estremadura espanhola que, com excepção das oficinas de talhe e dos contextos funerários, mantém características comuns muito dependentes do diferente acesso à matéria-prima, devido às características geológicas e à unidade geomorfológica sobre a qual se estende esta rede de povoados. No Alentejo, para além dos povoados objecto deste estudo, existem referências tangenciais em publicações aos materiais líticos de alguns outros sítios: ƒ O Povoado de Três Moinhos, no concelho de Beja, situado num esporão pouco elevado sobre o Guadiana, muito próximo a sul dos terraços do rio, onde, segundo o autor (Soares, 1992), abundam os seixos rolados de quartzito, matéria-prima utilizada para muito do repertório macrolítico. Para além das lâminas de sílex e das pontas de seta, surgem numerosos seixos talhados de quartzito e se indica que o talhe se assemelha ao Languedocense, ainda que sem certeza e em menor número que noutros sítios da região.

Memórias d’Odiana R 2ª série

260

ƒ O Povoado do Porto das Carretas, uma pequena fortificação Calcolítica (< 1Ht), situado sobre um terraço do Guadiana que avança num pequeno esporão sobre o rio. Os autores (Silva e Soares, 2002) afirmam que o espólio lítico é pouco numeroso, a indústria lítica sobre sílex é rara e algumas lâminas teriam mesmo chegado ao povoado já manufacturadas, destacando-se a continuação da componente tradicional regional da produção de artefactos expeditos a partir de seixos rolados, de morfo-tecnologia muito elementar, que remonta ao Epipaleolítico.

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

ƒ O povoado da Sala nº 1, situado num cabeço de 129m de altitude, junto à margem do rio Guadiana, cuja indústria lítica se caracteriza pela abundância de seixos rolados talhados, muitos com a chamada técnica Languedocense e relativa escassez das indústrias sobre lâminas (Gonçalves, 1987) Na Extrenadura espanhola, no curso norte do Guadiana, encontram-se outros sítios contemporâneos aos estudados, identificados e estudados através de dados de prospecções: R El Lobo, povoado situado a 500m do curso do Guadiana, no limite fronteiriço com o Alentejo e que foi escavado por Lucio Molina Lemos. O autor assinala a existência de uma indústria lítica obtida a partir de seixos rolados de quatrzito, matéria prima abundante no lugar, destacando no conjunto de seixos talhados os Choppers ou Chopping tools, discos realizados sobre seixo aplanado e talhados em toda a periferia, assim como “discos” com parte do rebordo reservado, assinalando-se, apesar de tudo, a abundância e variedade de lascas (Lemos, 1980). R Comida de Meriendas, próximo da margem do Rio Guadiana, localizado e estudado a partir de uma prospecção na qual se localizou um conjunto formado por 28 elementos líticos em quartzito, no qual as lascas são maioritárias, de talão liso quando se conservam, semi descorticado (12 casos) e internas (9 casos). Também se mencionam 5 lascas das denominadas “gomo de laranja”. Conclui-se que maioritariamente são lascas grandes e pequenas com tendência para serem largas. Finalmente é mencionado um seixo unifacial de fio lateral convergente, com mais de três extracções e de pouca espessura e um núcleo centripeto com preparação periférica total (Enríquez Navascués, 1990).

R O povoado de Araya, objecto de escavação, onde foram registados 17 objectos líticos maioritariamente em sílex, dos quais 10 eram lascas. Mencionavam-se, ainda, quatro fragmentos de facas de sílex, trapezoidais e sem retoque, um furador sobre lâmina de sílex e uma ponta de flecha em quartzo de base ligeiramente côncava (Enríquez Navascués, 1990). Estes sítios mencionados monstram-nos traços comuns aos conjuntos que aqui foram

objecto de estudo, à excepção do último mencionado. São elementos de conexão o recurso maioritário ao quartzito como matéria-prima, a presença significativa dos T.O.T.D. de médio e grande formato, a unipolaridade dos T.O.T.I., assim como aspectos mais concretos como são as morfologias específicas nos casos das BP ou BN2G, suportes de tendência semicircular que apresentam uma lateral rectilínea, aguda ou espessa não cortical e, na lateral oposta, uma frente cortical semicircular mais espessa, que forma um potencial diedro de ângulo abrupto, denominadas por lascas tipo “gomo de laranja”; as BN1GC, morfologias subcirculares muito pouco espessas, com um potencial diedro, de talhe unifacial e periférico que abrange mais de ¾ partes da periferia e denominadas na bibliografia como “discos”; ou as BN1GC sobre seixos achatados. Assim, para uma integração regional dos estudos aqui realizados, não é possível ir mais além dos traços coincidentes, dada a falta de estudos publicados de forma mais ampla sobre as Cadeias Operativas Líticas.

261

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Memórias d’Odiana R 2ª série

R Los Olivales, povoado localizado a partir de uma prospecção, no qual foram recolhidos 27 objectos líticos, dos quais 22 estavam realizados em quartzito, sendo o resto fabricados sobre sílex e quartzo. Do conjunto de 20 peças a maioria eram lascas internas e de talão liso, de tamanho pequeno e com tendência para serem largas. O resto do conjunto era composto por núcleos centriptos, três seixos trabalhados unifacialmente com fio lateral simples, um denticulado e um furador (Enríquez Navascués, 1990).

Memórias d’Odiana R 2ª série

262

)LJXUD²0RLQKRGH9DODGDUHV%1* DH %3 D 7RGDVHPTXDUW]LWR

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

263

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Memórias d’Odiana R 2ª série

)LJXUD0RLQKRGH9DODGDUHV%1*&WRGRVHPTXDUW]LWR

Memórias d’Odiana R 2ª série

264

)LJXUD0RLQKRGH9DODGDUHV%1*& H %1*( H 7RGRVHPTXDUW]LWR

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

265

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Memórias d’Odiana R 2ª série

)LJXUD0RLQKRGH9DODGDUHV%1*&  %1* D %1* 727,GHSRQWDGHVHWD  7RGRVHPTXDUW]LWRH[FHSWR [LVWRMDVSRLGH H TXDUW]R 

Memórias d’Odiana R 2ª série

266

)LJXUD²0RQWHGR7RVFR%1* D %1*& H 

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

)LJXUD²0RQWHGR7RVFR%1* H %1* 727,ODPLQDU  D %1* (TOTI de pontas de seta) (6 a 12).

Memórias d’Odiana R 2ª série

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

267

Memórias d’Odiana R 2ª série

268

)LJXUD²%1* 727,GHSRQWDVGHVHWD 

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

)LJXUD²0RQWHGR7RVFR%1*&

OS MATERIAIS ARQUEOLÓGICOS: ESTUDOS

Memórias d’Odiana R 2ª série

269

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.