2013 - Sistemas de Informações Geográficas: ferramentas tecnológicas para a pesquisa cemiterial

June 19, 2017 | Autor: Maristela Carneiro | Categoria: History, Cemeteries, Cemetery Studies
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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: FERRAMENTAS

MARISTELA CARNEIRO**

Resumo: os cemitérios são espaços de representação simbólica que demandam a escolha de procedimentos teórico-metodológicos específicos para a compreensão das informações cristalizadas através do tempo. Esse trabalho compartilha a experiência pessoal da autora junto à pesquisa cemiterial, desenvolvida com o apoio de ferramentas tecnológicas, como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) – Kosmos, Spring e GVSig – e outros softwares – SPSS e Inkscape. Esta metodologia contribuiu para a construção do olhar interdisciplinar, fundamental para a investigação então proposta, a qual priorizou o levantamento quantitativo e qualitativo dos elementos materiais e simbólicos. Palavras-chave: Cemitério. SIG. Tecnologia.

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s classificações práticas moldadas pelos homens estão sempre subordinadas a funções também práticas e orientadas para a produção de efeitos sociais. Os critérios identitários são objetos de representações mentais (atos de percepção, apreciação, conhecimento e reconhecimento) e de representações de objetos (coisas ou atos). Estes critérios objetivos da identidade acabam funcionando como signos, emblemas, estigmas e mesmo como poderes. Não havendo sujeito capaz de ignorá-los, as propriedades simbólicas podem ser utilizadas em função dos interesses materiais e simbólicos do seu portador, muitas vezes articuladas às lutas representacionais (BORDIEU, 1998, p. 108).

* Recebido em: 09.05.2012. Aprovado em: 19.07.2012. ** Doutoranda em História naUniversidade Federal de Goiás, Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Licenciada em História e Filosofia. E-mail: [email protected].

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A PESQUISA CEMITERIAL*

ARTIGO

TECNOLÓGICAS PARA

As lutas em torno das identidades constituem um caso particular das afrontas entre classificações, pelo monopólio do poder ver e de fazer crer, de conhecimento e reconhecimento, de imposição da definição legítima das divisões do mundo social e, assim, de fazer e desfazer os grupos.

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O móvel de todas essas lutas é o poder de impor uma visão do mundo social através dos princípios de di-visão que, tão logo se impõe ao conjunto de um grupo, estabelecem o sentido e o consenso sobre o sentido, em particular sobre a identidade e a unidade do grupo, que está na raiz da realidade da unidade e da identidade do grupo (BORDIEU, 1998, p. 108). Em nossa sociedade, vê-se comumente a utilização dos mortos como exemplos e orientadores de posições e relações sociais, tomados como foco para os sobreviventes, vivificando e dando forma concreta aos elos identitários que ligam as pessoas de um grupo. O espaço dos cemitérios, por conseguinte, é privilegiado para a concretização e demonstração das conexões entre as práticas identitárias e as representações sociais, bem como para a leitura das lutas entre as classificações, dos princípios de “di-visão”, dos sentidos simbólicos construídos culturalmente, das bifurcações do mundo socialetc. O culto dos mortos passa por um filtro de percepção, permitindo que somente os valores considerados essenciais pelos vivos, para a recomposição do sentido da vida, sejam expressos no espaço cemiterial. Deste modo, a análise da individualização das sepulturas e dos valores expressos nas mesmas demanda a escolha de procedimentos teórico-metodológicos específicos, que possibilitem a compreensão da gama de informações ali cristalizadas através do tempo. Ante a paisagem contemporânea dos cemitérios, resultante da sobreposição de várias camadas de representações construídas ao longo do tempo, esse trabalho se propõe a compartilhar a minha experiência pessoal desenvolvida junto à pesquisa cemiterial. Tomo como exemplo norteador da aplicação destas ferramentas o trabalho já desenvolvido junto ao Cemitério Municipal São José, localizado em Ponta Grossa, Paraná, em função da investigação que resultou na dissertação de mestrado intitulada “Construções tumulares e representações de alteridade: materialidade e simbolismo no Cemitério Municipal São José, Ponta Grossa/PR/BR, 1881-2011”. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em grande medida com o apoio de ferramentas tecnológicas, como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) – Kosmos, Spring e GVSig – e outros softwares – SPSS e Inkscape. Há que se observar que os programas a serem referidos podem ser utilizados para o processamento dos dados de qualquer necrópole, desde que satisfeitas as condições mínimas de coleta. A referida investigação se propôs a averiguar a constituição das representações de alteridade nas construções tumulares presentes no Cemitério Municipal São José, desde a sua instituição na cidade de Ponta Grossa (PR/BR), em 1881. Para tanto, privilegiou-se os elementos materiais e simbólicos selecionados, partindo do pressuposto de que a simbologia cemiterial objetiva a expressão ou a transmissão dos valores culturais, para o estabelecimento e reafirmação, ainda que de forma fragmentária, das identidades e relações sociais. A pluralidade destes valores, expressos pelos espaços funerários e pela arte e história ali contidas, está profundamente relacionada às diferentes maneiras encontradas pelo ser humano para se lidar com a própria morte. Para penetrar nesta questão, investigou-se como tais elementos são expressos na distribuição espacial da necrópole e

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CEMITÉRIO MUNICIPAL SÃO JOSÉ: HISTÓRIA EM MÚLTIPLAS VOZES

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Observa-se que as informações sobre os cemitérios se encontram comumente em livros de registros manuscritos, nem sempre bem conservados, sendo comum a ausência de interesse quanto a registros mais apurados ou rigorosos. No caso do Cemitério Municipal São José, os registros de sepultamentos são bastante dispersos. Sua história é referida somente em algumas notícias do Jornal Diário dos Campos e por poucos autores locais, sem referentes documentais, de maneira breve e limitada, dentre os quais GuíselaChamma e Josué C. Fernandes. De fato, uma dificuldade que tem acompanhado a comunidade acadêmica vinculada às ciências humanas, na construção do saber, é a escassez de fontes primárias organizadas e/ou disponíveis para a consulta, sendo presumível que o vazio historiográfico em torno da fundação e desenvolvimento do referido cemitério possa ser explicado por esta carência documental. O Cemitério Municipal São José protagonizou disputas políticas entre a Câmara Municipal e o clérigo Anacleto Dias Babtista, que ficou à frente da administração da Paróquia de Sant’Ana por mais de quarenta anos (aproximadamente entre 1837 e 1880) e, supostamente, exercia forte influência sobre a população local. Em vista desta animosidade, os vereadores chegaram a oficiar ao Governo Provincial em 1865 acerca da necessidade de um Vigário Encomendado para a Matriz de Sant’Ana, mas o pedido foi negado. Tais disputas políticas se acentuaram, conforme Fernandes, quando o clérigo tentou fazer prevalecer uma antiga doação de imóveis outorgada à padroeira pela família de Domingos Ferreira Pinto, referente à área do bairro da Ronda. O vigário encontrou forte oposição da parte dos edis, que contestaram a doação, no mesmo ano, junto ao Governo e, após, ao Ministério da Justiça (FERNANDES, 2003, p. 327). Com o

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como são demonstrados nos ícones contidos nos túmulos desta, especialmente no que diz respeito à estatuária e à arquitetura. Entende-se que tais elementos são significativos para a compreensão das representações de alteridade. Decidimo-nos pela baliza temporal de 1881 até os dias atuais, com destaque para o que se refere aos elementos materiais, considerando-se que a paisagem contemporânea dos cemitérios é fruto da sobreposição de várias camadas de representações construídas. Muitas vezes a “camada” que percebemos é apenas a mais recente (CYMBALISTA, 2002, p. 21). O espaço cemiterial é acrescido diariamente de novas representações – novos sepultamentos, reformas e ampliações nas construções, transferência de concessões, demolições, intervenções em geral. Em outras palavras, a paisagem do Cemitério Municipal, tal como se encontra atualmente, constitui-se de um conjunto de fragmentos representacionais acumulados ao longo do final do século XIX aos primeiros anos do século XXI, ou seja, de 1881 aos nossos dias. Assim, optou-se por trabalhá-lo em sua integridade, de modo a valorizar tais camadas temporais, sobretudo no que diz respeito aos elementos materiais. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi realizado, túmulo a túmulo, um levantamento fotográfico, quantitativo e qualitativo dos dados cemiteriais, organizados em fichas catalográficas elaboradas com este fim. Tais dados foram em seguida processados em SIG, para a geração de cartogramas e gráficos a fim de instruir a análise qualitativa, contando com o apoio de outras ferramentas tecnológicas, imprescindíveis para a organização dos dados, conforme explorarei neste trabalho.

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objetivo de diminuir o poder do religioso, que tentou fazer prevalecer o Memorial, insistindo em sua validade, os vereadores resolveram transferir o Cemitério São João (o primeiro cemitério urbano existente em Ponta Grossa) para um terreno situado fora da cidade, alegando que a localização da necrópole impedia o crescimento urbano. Porém, conforme a Edição Comemorativa do Cinqüentenário da Diocese de Ponta Grossa (1976, p. 58), o objetivo da construção de um novo cemitério, não somente por parte da Câmara Municipal, como também de outros moradores ilustres da cidade, era diverso. Aparentemente, os lugares que possuíam uma melhor localização na necrópole antiga já estavam ocupados “e como mesmo na morte, não desaparece a mania de ostentação dos vivos, resolveram construir [o novo cemitério] bem distante do centro da cida­de (atual cemitério São José), sem consultar o Vigário [...]”. De fato, é possível afirmar que um dos objetivos na construção dos cemitérios, no século XIX, foi a procura pela monumentalidade, sendo indiscutível que os cemitérios não resultaram sóbrios, padronizados, como eram os locais dos sepultamentos tradicionais, no interior das igrejas (CYMBALISTA, 2002, p. 78). O Cemitério São João, com efeito, ficava localizado em área central da cidade naquele momento, o que explica a justificativa apresentada pelos políticos. Sem consultar o Vigário, que era o responsável pela conservação do cemitério, enterros e certidões de óbitos, conforme o que decidia a Constituição Imperial de 1824, O Governo Municipal mandou cercar um terreno fora da cidade, e começaram a insistir com o povo para que os sepultamentos ali fossem efetuados. O resultado disso foi que, o Vigário não tomou conhecimento dessas resoluções e não abençoou o novo cemitério, que não teve, portanto uma cruz de madeira, o que segundo a tradição o torna campo santo. Em razão disso, muitas pessoas não deixavam seus mortos serem enterrados ali. O problema durou alguns anos (CHAMMA, 1988, p. 33). Assim, o vigário, não podendo impedir a iniciativa da Câmara, não abençoou o novo cemitério para que este fosse considerado campo santo e, dessa forma, as pessoas não queriam que seus mortos fossem enterrados neste local, considerado “um lugar inadequado para a inumação de católicos” (FERNANDES, 2003, p. 327). Esta situação foi alterada apenas em 1881, quando o Padre João Evangelista Braga, assumindo como novo vigário abençoou o cemitério e a população progressivamente passou a utilizá-lo, sem temores. Logo o Cemitério São João foi desativado. A denominação de “Cemitério Municipal São José” foi recebida somente em 1948, através da Lei n° 80, de 05 de outubro daquele ano, sendo que até então não possuía denominação oficial, assim como os demais cemitérios do município na época, designados na mesma oportunidade: Cemitério Municipal São João Batista, Cemitério Municipal São Sebastião e Cemitério Municipal Santa Luiza. Todos os cemitérios em funcionamento na cidade eram denominados “municipais”, quando na verdade todos o eram, pois pertencentes ao município, mas não possuíam outra forma de discriminação oficial.1 Observa-se que o Cemitério Municipal São José pode, já na atualidade, ser tomado como um ordenador espacial, pois de limite do perímetro urbano, quando de sua fundação, foi absorvido pela expansão da cidade e assumiu localização central. Ao ser fundado era o único cemitério urbano do município, destinado a todos; todavia, com sua lotação e a construção dos demais cemitérios, em áreas mais periféricas, pode-

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mos concluir que os concessionários passaram a ser, em certa medida, “selecionados”, até mesmo pelas providências legislativas então tomadas, que encareceram a utilização deste cemitério. A partir da década de 1950, já instituídos os demais cemitérios na cidade, o Cemitério São José passou a ser definido como “necrópole central”, espaço privilegiado para a demonstração da cultura local do município. Considerando-se que a morte é portadora de múltiplas dimensões, diretamente influenciadas pela relação entre espaço e tempo, observa-se que a paisagem cultural é o conjunto de formas materiais dispostas e articuladas entre si no espaço: [...] resultado de uma dada cultura que a modelou [...] constitui-se em uma matriz cultural. Como resultado a paisagem é ‘uma vitrine permanente de todo o saber’, expressando a cultura em seus diversos aspectos, possuindo uma faceta funcional e outra simbólica (CORRÊA, 1995, p. 04).

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No caso do Cemitério Municipal São José, é possível observar que se trata de uma necrópole que se destaca dentre as demais presentes na cidade por possuir construções suntuosas, com elementos arquitetônicos e escultóricos de significativa beleza, inspirados nos moldes europeus.

Figura 1: Localização do Cemitério Municipal São José Fonte: adaptado de SAHR (2001, p. 30).

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As paisagens, dentre as quais a cemiterial, servem como mediadoras na transmissão cultural, contribuindo para transferir de uma geração para outra os saberes, crenças, atitudes sociais, ou seja, suas práticas identitárias, para o estabelecimento e reafirmação das relações sociais. E o espaço define-se como um campo

de representações simbólicas, enriquecido com signos que possuem a finalidade de expressão das estruturas sociais em suas múltiplas dimensões. Logo, a cultura é caracterizada por componentes materiais, sociais e simbólicos, não se constitui pela justaposição de traços independentes, mas antes forma sistemas relacionais, mais ou menos coerentes. Portanto, o espaço cemiterial é identificado enquanto experiência individual e coletiva, reflexivo da cidade na qual está inserido e portador das tensões e representações sociais inerentes à mesma. A individualização de cada túmulo, através de elementos artísticos, por exemplo, localizados temporalmente, é indicativa do desejo de continuidade existencial, cujo levantamento e análise se fez possível em função da abordagem teórica e metodológica escolhida.

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O USO DA TECNOLOGIA PARA A ANÁLISE CEMITERIAL: INTEGRAÇÃO, GERENCIAMENTO E TRANSFORMAÇÃO DAS INFORMAÇÕES. Para o desenvolvimento da investigação do Cemitério Municipal São José, tomado, portanto como exemplo, inicialmente fez-se necessário o levantamento e a sistematização dos dados cemiteriais, a partir dos próprios túmulos, visto que foi impossibilitada a consulta dos registros manuscritos, porque incompletos e desordenados. Desta forma, foi realizado, túmulo a túmulo, um levantamento fotográfico e quantitativo dos dados cemiteriais, organizados em fichas catalográficas elaboradas com este fim, contemplando dados referentes à localização dos túmulos, sepultamentos, à construção e aos signos e/ou simbologias. Estas fichas foram elaboradas de modo a admitir livre preenchimento, em especial no que se refere aos signos e/ou ornamentos. Os dados coletados foram em seguida processados em Sistemas de Informações Geográficas (SIG SPRING 4.3 e KOSMOS 0.8.3), para a geração de cartogramas e gráficos a fim de instruir a análise qualitativa, contando com o apoio de outros softwares específicos (Microsoft Office Excel 2003 e Inkscape). Posteriormente os dados puderam ser convertidos para os softwares – SIG GVSig e SPSS. Os SIG são uma tecnologia do mundo contemporâneo, que tem como característica principal a capacidade de integração e transformação de dados espaciais, entendidos como a descrição quantitativa e qualitativa dos fenômenos ocorridos no “mundo real” e que têm como premissa a reprodutibilidade, desde que satisfeitas as mesmas condições de coleta. Ao agregar-se valores intelectuais e subjetivos, os dados transformam-se em informações que, além de refletir o grau de reflexão do autor, constituem a base fundamental dos SIGs para a intervenção no meio social. Os Sistemas de Informações Geo-referenciadasou Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são usualmente aceitos como sendo uma tecnologia que possui o ferramental necessário para realizar análises com dados espaciais e, portanto, oferece, ao ser implementada, alternativas para oentendimento da ocupação e utilização do meio físico (...). [grifo no original] (SILVA, 2003, p. 27). Ao mesmo tempo em que a utilização dos SIGs revoluciona a análise das informações, também depende de forma umbilical da racionalidade da construção de um banco de dados, somente possibilitada com o auxilio de técnicas computacionais sofis-

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Não se tratam de modelos a serem aplicados acriticamente. São experiências que apresentam possibilidades e limites e que podem eventualmente orientar o historiador que deseja utilizar novas técnicas em suas pesquisas, na escolha do equipamento, do software ou no desenvolvimento de procedimentos. Mas a eficácia das técnicas utilizadas não depende apenas da escolha do equipamento ou dos programas. A definição dos procedimentos e sua correta configuração podem significar uma diferença radical de produtividade (SILVA, 1998, p. 168).

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Assim, ao considerar a inerência entre técnica e teoria, este trabalho se propõe a demonstrar a utilização dos Sistemas de Informações Geográficas, ferramentas para a investigação científica, para a análise do espaço cemiterial e, indo além, como contribuição reflexiva para a análise e/ou ampliação do próprio campo do historiador, na era do gerenciamento disciplinado de informações. O fato é que os estudiosos do campo cemiterial ainda encontram dificuldade em definir seus pressupostos teórico-metodológicos, considerando a complexidade do espaço dos cemitérios, que agregam múltiplas representações simbólicas, cristalizadas ao longo do tempo. Em geral, os SIG têm facilitado a visualização e armazenamento de informações relevantes, por ser um sistema automático que codifica, gerencia e analisa dados espaciais, conforme nos esclarece Cruz e Campos. Segundo as autoras, os dados geográficos (ou geo-referenciados), a serem processados pelos SIG, são dados espaciais cuja dimensão espacial está associada à sua localização na superfície terrestre, espacial e temporalmente. As entidades geográficas se tratam de objetos identificáveis no mundo real, com características espaciais e relacionamentos espaciais com outras entidades geográficas. “O dado espacial descreve fenômenos associados a dimensões espaciais. A representação espacial de um objeto geográfico é a descrição de sua forma geométrica associada à posição geográfica” (CRUZ; CAMPOS, 2005, p. 02) Os SIG têm incorporado uma crescente variedade de funções, não somente a construção de mapas, como era sua pretensão inicial, mas já apresentam sofisticados mecanismos para manipulação e análise espacial de dados, permitindo uma visualização bem mais intuitiva dos dados do que a obtida através de relatórios e gráficos convencionais. No caso da análise do espaço dos cemitérios, evidencia-se a utilização de SIG como ferramenta de auxilio para resolução de algumas problemáticas, tanto no que se refere ao levantamento e cruzamento dos dados, quanto à própria administração dos mesmos por parte da administração municipal.

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ticadas e de profissional especializado, pois a utilização dos mesmos não garante a segurança de que o produto final corresponda a alternativas corretas, em especial quando não há um controle de qualidade do banco de dados. Ressalta-se que o modelamento dos dados espaciais é realizado através de estruturações lógicas, para representar variações geográficas em bancos de dados digitais, sendo que os cartogramas, construídos para a análise das informações na configuração espacial do Cemitério Municipal São José, são as representações gráficas destes bancos (SILVA, 2003, p. 17-8). Todavia, as mudanças na linguagem do historiador, impostas pelos procedimentos informatizados e pelas novas mídias, e as mudanças nos métodos de pesquisa e na organização das fontes, geram atitudes paradoxais na comunidade acadêmica. Segundo Silva, para romper esta dualidade de representações talvez seja útil a demonstração de algumas experiências que sirvam de bases reflexivas acerca do impacto da informática no campo do historiador. De acordo com o autor:

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A EXPERIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO TECNOLÓGICA JUNTO AO CEMITÉRIO MUNICIPAL SÃO JOSÉ Como exemplo de aplicação do SIG na análise espacial no campo de pesquisa cemiterial, o objeto de estudo do presente trabalho é o Cemitério Municipal Santa José. Fundado em 1881, encontra-se localizado em área central entre a Rua Balduíno Taques, Largo Professor Colares, Travessa Santa Cruz e Travessa Pasteur. Muito embora já estivesse praticamente sem terrenos disponíveis para sepulturas desde meados da década de 1950, o mesmo é utilizado ativamente até os dias atuais, o que dificultou o levantamento dos dados, pela evidente dinâmica do espaço, destacada nas contingentes reformas nos túmulos, por exemplo. Nos mais diversos tamanhos, cores e formatos, subdivididos em 20 (vinte) quadras, o Cemitério Municipal São José conta atualmente com 2.284 (dois mil duzentos e oitenta e quatro) túmulos. A perspectiva de análise considerou duas escalas para a leitura do referido espaço cemiterial: a dos elementos materiais, do alto, numa perspectiva macro, e a dos elementos simbólicos, ao nível do olhar; os quais foram catalogadas por intermédio dos SIG e, posteriormente, analisadas. O primeiro software utilizado foi o SPRING, versão 4.3, sistema de geo processamento ao qual é agregada uma planilha eletrônica, que permite o lançamento das mais diversas variáveis.

Figura 2: Tabela do SIG Spring – Múltiplas Variáveis Fonte: acervo da autora.

No caso em estudo, contei com as seguintes: área, numeração do túmulo, quadra, denominação, estado de conservação, formato, material, padrão, número de sepultados, primeiro e último ano de sepultamento e símbolos religiosos, celebrativos e sentimentais. Após o preenchimento dos dados neste SIG, exportei-os para o SIG KOSMOS, versão 0.8.3, para a geração de cartogramas, porque este software admite a diferenciação e cruzamento das variáveis com o auxílio de cores.

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Fonte: acervo da autora.

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Os dados também foram exportados para o software Microsoft Office Excel 2003 e para o software Inkscape, para a geração de gráficos e acabamento dos cartogramas, respectivamente. Posteriormente os dados puderam ser convertidos para os softwares – SIG GVSig, que contempla ao mesmo tempo o preenchimento em planilhas eletrônicas, a geração de imagens e o acabamento dos cartogramas, e o softaware SPSS, mais avançado no tratamento estatístico, os quais não serão abordados neste momento, em virtude dos limites do presente texto. Na redação da dissertação, os elementos materiais e simbólicos a serem analisados foram apresentados a partir dos cartogramas confeccionados com este fim, com o apoio dos SIG – Sistemas de Informações Geográficas. Conforme legenda indicada nestes (Figura 5, como exemplo), cada polígono representado na imagem corresponde a um túmulo existente no espaço real, respeitando a disposição e distâncias entre as unidades deste mesmo espaço, reservadas as devidas proporções. Faz-se pertinente observar que o posicionamento do cartograma, horizontalmente, busca ser compatível com a orientação geográfica do Cemitério Municipal, para a qual também contribuem a indicação do norte, escala gráfica e alamedas e quadras. Procurou-se utilizar escalas de cores em gradiente para evidenciarmos a distribuição dos dados em escala, ou seja dados correlatos, quando possível, como é o caso dos cartogramas referentes ao estado de conservação dos túmulos. Já para dados independentes, a utilização das cores se deu de forma aleatória, por exemplo, no que se refere ao formato dos túmulos. Também há que se observar que a entrada principal da necrópole é situada de frente para o Largo Professor Colares. No cartograma, esta entrada está indicada pela representação simplificada do Portal, conforme abaixo.

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Figura 3: SIG Kosmos

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Figura 4: Representação do Portal de Entrada Fonte: acervo da autora.

Tal indicação é significativa porque nos auxilia na percepção do direcionamento das áreas de concentração de determinados elementos na configuração espacial da necrópole, como veremos mais adiante. Ao ultrapassarmos o limite dos muros do Cemitério Municipal São José, um primeiro dado nos é revelado, o qual é aqui apresentado como exemplo da utilização tecnológica para a análise proposta. De forma geral, diferentes temporalidades constituem o traçado arquitetônico da necrópole. São túmulos ora do final do século XIX, ora do início do século XXI, a disputar um lugar no mesmo perímetro. Não é possível categorizar-se com segurança as datações de todos os túmulos, em função de múltiplos fatores que interferem na forma concreta dos mesmos, como ausência de manutenção, abandono, demolição e reforma, compra e venda, novos sepultamentos. Todavia, é possível que nos aproximemos da configuração temporal dos túmulos, à medida que observamos as datações de sepultamento, conforme as inscrições ou placas de registro afixadas às construções. Sobretudo, o vislumbre do primeiro registro de sepultamento em cada túmulo nos oferece uma estimativa aproximada da ocupação do Cemitério, conforme cartograma infra. Os túmulos não representados (ver falhas em todo o cartograma) são aqueles nos quais não constam registros de sepultamento. Não é possível esclarecermos ao certo o motivo para tal ausência, que pode ser motivada por falta de interesse no registro ou relacionada ao determinado recorte temporal em que se encontram inseridas as construções, cujas datações podem ter sido excluídas ou substituídas com o tempo. Entretanto, vimos que estes túmulos, sem registros de sepultamento, encontram-se diluídos na espacialidade do cemitério, de forma que a ausência dos mesmos não se relaciona diretamente à temporalidade dos túmulos, ou seja, a época em que foram construídos. Se assim o fosse, encontraríamos um esvaziamento de

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Figura 5: Sepultamentos iniciais em cada túmulo Fonte: acervo pessoal da autora.

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Vemos ainda que os polígonos mais escuros, os quais representam os túmulos datados da fundação do Cemitério Municipal até 1930, encontram-se pulverizados nas primeiras quadras da necrópole. Ainda que não seja possível indicarmos um padrão de distribuição ou concentração dos mesmos nestas quadras, é seguro afirmar que estes túmulos mais antigos encontram-se quase totalmente ausentes de toda a parte de trás do Cemitério (quadras 09, 10, 11, 12, 13, 14 e 18), bem como da lateral esquerda (quadras 19 e 20). Por sua vez, nesta região vemos uma maior quantidade de túmulos cujos primeiros sepultamentos indicados são posteriores a 1970, representados através dos polígonos de cor mais clara. O tamanho dos túmulos, bem como a área que ocupam, também não se encontra uniformemente distribuído no traçado arquitetônico da necrópole. Ao analisarmos a área ocupada pelos túmulos, novamente exemplificando o uso dos SIG, evidencia-se que àqueles que ocupam áreas inferiores a 2,5 m2 (representados no tom mais claro de verde), estão concentrados na parte de trás do Cemitério (canto superior esquerdo), oposta à entrada, onde possuem pouca visibilidade, por tratar-se de lugar periférico, em relação ao Portal de Entrada. Vejamos o cartograma:

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informações na região mais próxima ao Portal, ou seja, na região mais antiga da necrópole, o que não é o caso.

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Figura 6: Área dos túmulos Fonte: acervo da autora.

Por sua vez, os maiores terrenos para sepultamentos (coloridos com o tom de verde mais escuro), cujas áreas são superiores à 5m², estão concentrados na parte frontal da necrópole, próximos ao Portal de Entrada. Esse ordenamento coincide com a localização dos eixos de alta visibilidade, produzidos pelas ruas mais largas, correspondendo à inserção urbanística do espaço e à própria construção da monumentalidade. Diversos destes túmulos correspondem àqueles mais antigos, construídos antes de 1930. Os túmulos de tamanho intermediário (medindo entre 2,5 e 5m²) encontram-se espalhados na organização espacial do Cemitério. Esta forte concentração dos túmulos maiores, que ocupam áreas superiores à 5m², pode ser interpretada à luz da lógica dos sepultamentos que eram realizados até meados do século XIX no interior das igrejas. Dentro das igrejas havia locais de sepultamento privilegiados, destinados àqueles que podiam pagar mais pelos mesmos, como o espaço próximo aos santos e suas relíquias ou ao altar dos sacramentos sob as pedras da nave. Enquanto o eixo de valorização do local dos sepultamentos ad sanctosera comumente a proximidade ao altar, nos cemitérios a valorização da sepultura se dá pela proximidade as entrada e às avenidas principais, repetindo em certa medida os costumes referentes aos sepultamentos eclesiásticos. Segundo visualizado no cartograma acima (FIGURA 6), no Cemitério Municipal São José o eixo de valorização se dá, sobretudo a partir do Portal, fator que também pode ser percebido através da análise de outros atributos, como o estado de conservação dos túmulos, por exemplo (Figura 7).

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Fonte: acervo da autora.

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Em síntese, a título de ilustração, em função do uso dos SIG para a leitura do cemitério, é possível verificar uma discreta diminuição dos túmulos deteriorados e regulares próximos à primeira quadra da necrópole. Isso reafirma mais uma vez a lógica dos sepultamentos eclesiásticos e a existência de áreas privilegiadas para o sepultamento dos indivíduos socialmente mais abastados. Notou-se que o estado de conservação não implica relação com o tipo de jazigo ou mesmo com a temporalidade, a datação das sepulturas, visto que as categorias para a análise deste elemento encontram-se muito mais dispersas na organização espacial da necrópole, do que concentradas, salvo discretos agrupamentos. A partir da análise metodológica em questão, foi possível observar certas relações entre a existência das áreas de concentração de determinados elementos, como apontado, a possibilidade de áreas mais valorizadas dentro do traçado arquitetônico da necrópole e algumas reflexões. A exemplo de Lefebvre (2011, p. 52), pontuamos que a cidade – onde incluímos a cidade dos mortos – “é obra a ser associada mais com a obra de arte do que com o simples produto material.” Com isso quero afirmar que, mais do que metragens, cores e tinta, a análise de elementos como área e conservação acabam por revelar disposições humanas que produzem a cidade e as próprias relações sociais na mesma. Ao verificarmos os agrupamentos e, por oposição, a dispersão de determinados elementos no Cemitério Municipal São José, como vimos ocorrer com área e conservação, por exemplo, também evidenciamos a manutenção de certas práticas sociais. Com a instituição dos cemitérios extramuros e, posteriormente, sua secularização, o homem não deixou de representar a si e às suas relações sociais em suas práticas fúnebres. Ao contrário, o cemitério público permitiu novas formas de exposição de tais relações, oportunizou novas estratégias para a exibição da própria identidade humana.

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Figura 7: Estado de conservação dos túmulos.

Tal exposição é muitas vezes explorada através da representação e da discriminação dos estratos sociais, cuja leitura é válida, não somente em si mesma, enquanto expressão material. Mais do que isso, esta reflexão é relevante porque as “relações sociais são atingidas a partir do sensível”, do elemento material (LEFEBVRE, 2011, p. 52).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O que buscamos destacar aqui é a pertinência do uso das ferramentas tecnológicas para o processamento e posterior leitura do espaço urbano, a partir da disposição dos cemitérios, entendidos como reflexivos dos ambientes urbanos nos quais se encontram inseridos. Os SIG e outros softwares referidos enriquecem o estudo cemiterial, principalmente pela habilidade de armazenar, recuperar e combinar os dados disponíveis sobre um território, o que possibilita uma leitura mais complexa dos objetos propostos. Ademais, a tabulação dos referidos dados em SIG também possibilitaria uma otimização no registro dos dados dos cemitérios por parte das administrações municipais, o que facilitaria tanto a conservação quanto à consulta pela comunidade. É perceptível que a completa informatização da administração do cemitério proporcionaria a execução de serviços de forma rápida e eficiente. Para concluir, destacamos que o uso das ferramentas de um Sistema de Informação Geográfico foi de fundamental importância em quase todas as etapas desenvolvidas no estudo. Para o olhar que lançamos ao Cemitério Municipal São José optamos pela perspectiva interdisciplinar, ao entendermos que a morte possui múltiplas dimensões. Esta perspectiva se construiu no decorrer da pesquisa não somente em termos teóricos, como também metodológicos. A metodologia de abordagem dos dados, através dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e a geração dos cartogramas, auxiliaram na construção de um olhar mais ampliado sobre o espaço do cemitério, demonstrando-se essencial para a construção da análise dos elementos materiais e simbólicos no viés interdisciplinar. Os SIGs têm incorporado uma crescente variedade de funções, não somente a construção de mapas, como era sua pretensão inicial, mas já apresentam sofisticados mecanismos para manipulação e análise espacial de dados, permitindo uma visualização bem mais complexa destes do que a obtida através de relatórios e gráficos convencionais. No caso da análise do Cemitério Municipal São José, os SIG enriqueceram o estudo cemiterial, principalmente pela habilidade de armazenar e gerenciar os dados coletados, possibilitando uma leitura mais complexa dos objetos propostos. Destacamos que o uso destas ferramentas tecnológicas foi de fundamental importância, pois permitiu inclusive que a investigação se pautasse conforme uma escala de análise ampliada, conforme já visto, pois a ausência destas não permitiria que trabalhássemos com um volume tão grande de dados com rapidez e flexibilidade. Ainda, devido à facilidade de apreciação e visualização dos cartogramas, evidencia-se que dentre as possibilidades de análise de dados geo-referenciados temos a produção de novas informações, um entendimento melhor do objeto e a geração de novos problemas, antes não observáveis. GEOGRAPHIC INFORMATION SYSTEMS: TECHNOLOGY TOOLS FOR RESEARCH WITH CEMETERY Abstract: the cemeteries are places of symbolic representation that require the selection of specific theoretical and methodological procedures for understanding the information crys-

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tallized over time. This paper shares the author’s personal experience with cemetery research, developed with the support of technological tools such as Geographic Information Systems (SIG) - Kosmos, Spring and gvSIG - and other software - SPSS and Inkscape. This methodology has contributed for the construction of an interdisciplinary look, fundamental for the investigation then proposed, which has priorized the quantitative and qualitative survey of the material and symbolic elements. Keywords: Cemetery. Sig. Technology. Nota 1 Projeto de Lei n° 79/48 – Dando denominações aos Cemitérios de Ponta Grossa.

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