2014 - A recepção crítica de uma exposição de arte japonesa no Rio de Janeiro em 1921

June 25, 2017 | Autor: Arthur Valle | Categoria: Reception Studies, Japanese Art, Art Criticism, Early 20th Century Art
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Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO UNIFESP

ANAIS DO ENCONTRO INTERNACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTE ORIENTAL

ORIENTE-SE: AMPLIANDO FRONTEIRAS

Cibele Elisa Viegas Aldrovandi Michiko Okano (Orgs.)

São Paulo 21, 22 e 23 de maio 2014

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados, sem citação da fonte e créditos devidos. O conteúdo e a redação dos artigos é de responsabilidade de seus autores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do EFLCH / UNIFESP, Guarulhos, SP

E56a Encontro Internacional de Pesquisadores em Arte Oriental (2014 : São Paulo, SP) Anais [recurso eletrônico] / Encontro Internacional de Pesquisadores em Arte Oriental : oriente-se : ampliando fronteiras; org. Cibele Elisa Viegas Aldrovandi, Michiko Okano. - Dados eletrônicos - São Paulo: UNIFESP, 2014. 990.p.; il. Disponível em: www.outrosorientes.com ISBN: 978-85-66540-08-6 Inclui bibliografias

1. História da Arte; 2. Arte Asiática; 3. Arte Oriental; 4.Arte Japonesa; 5. Arte Indiana; 6. Arte Chinesa; 7. Arte Tibetana; 8. Arte Coreana; 9. Arte Islâmica; 10. Arte Cinema Asiático; 11. Teatro; 12. Dança; I. Aldrovandi, Cibele Elisa Viegas II. Okano, Michiko III. Título

CDD

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A RECEPÇÃO CRÍTICA DE UMA EXPOSIÇÃO DE ARTE JAPONESA NO RIO DE JANEIRO EM 1921 Vinícius Moraes de Aguiar - Prefeitura Municipal de Vassouras Arthur Valle - Universidade Nova de Lisboa e UFRRJ RESUMO: Em 4 de janeiro de 1921, inaugurou-se, no Rio de Janeiro, uma exposição de arte japonesa organizada pelo pintor U. Tadokoro, que era, também, mestre em um ateliê de arte localizado na cidade de Yokohama. A exposição recebeu destaque nos meios de comunicação impressos cariocas e mereceu particular atenção do crítico Fléxa Ribeiro, então professor de História da Arte da Escola Nacional de Belas Artes. Na presente comunicação, pretendemos apresentar os resultados iniciais de nossa investigação sobre essa (aparentemente) inusitada exposição de arte japonesa no Rio de Janeiro, dando especial atenção à sua recepção crítica. Palavras-chave: Arte Japonesa no Brasil; Estudos de Recepção; Crítica de Arte SOMMAIRE: Le 4 janvier 1921, a été inauguré, à Rio de Janeiro, une exposition d’art japonais, organisée pour le peintre U. Tadokoro, qui était, aussi, maître dans un atelier d’art, situé dans la ville de Yokohama. L’exposition a reçu détache dans les médias imprimées de Rio de Janeiro et a mérité particulier attention du critique Fléxa Ribeiro, alors professeur de Histoire d’Art de l’École National de Beaux Arts. Dans cette communication, nous avons l'intention de présenter les résultats initiales de notre investigation sur cette (apparemment) inusité exposition d’art japonais à Rio de Janeiro, en donnant spécial attention pour sa réception critique. Mots-clés: Art Japonais au Brésil; Études de réception; Critique d’Art

No período compreendido entre 4 e 13 de janeiro de 1921, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se uma exposição de arte japonesa, organizada pelo pintor U. Tadokoro, que era, também, mestre em um ateliê de arte localizado na cidade de Yokohama. As obras trazidas por Tadokoro ao Brasil foram expostas no salão do prestigioso Hotel dos Estrangeiros, localizado no bairro do Catete, um espaço referencial em termos de sofisticação e ponto de encontro para membros das elites econômicas e políticas brasileiras. Essa exposição japonesa recebeu destaque nos meios de comunicação impressos cariocas, sendo comentada em jornais como a Gazeta de Notícias, O Paiz e A Noite. Logo no dia seguinte à inauguração, a Gazeta de Noticias (5 jan. 1921, p. 3) publicou uma fotografia da mostra, na qual se pode um ver aspecto da sua instalação, no salão do Hotel dos Estrangeiros [Figura 1]. Nessa mesma edição 965

da Gazeta, eram fornecidas algumas outras informações sobre a mostra, como a quantidade de obras expostas - 260 - e de autores - um total de “13 artistas japonezes, alumnos e profissionaes do ‘atelier’ do Sr. Tadokoro” 1 (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p. 3). O Paiz (5 jan. 1921, p.4) afirmava que, dentre o montante total de obras, estavam incluídas algumas do próprio Tadokoro.

Figura 1: Aspecto da instalação da Exposição de Arte Japonesa no salão do Hotel dos Estrangeiros, Rio de Janeiro, janeiro de 1921 Fonte: Arte Japoneza. Uma exposição inaugurada hontem, no Hotel dos Estrangeiros. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 5 jan. 1921, p. 3

A notícia publicada n’A Noite (4 jan. 1921, p. 2) foi a que mais se deteve sobre a figura do responsável pela organização da exposição de 1921. Em um primeiro momento, o periodicista anônimo precisou que o ateliê onde Tadokoro ensinava se chamava “The Tosa Art Studio” e, em seguida, falou sobre quais seriam as intenções por trás da visita do artista e professor japonês. Ao que parece, a estadia de Tadokoro ao Brasil era apenas uma escala de uma viagem muito mais ampla, em busca de motivos para o seu próprio trabalho artístico: Com o propósito de incutir novas sensações de arte produzidas por trabalhos de paizes exóticos nos seus costumes e aspectos, [Tadokoro] já percorreu, nestes últimos treze mezes, a China, Java, Sumatra, Bornéo, Península Malaia, India Ingleza, Ceylão, África Oriental e Occidental. (A Noite, 4 jan. 1921, p. 2)

O periodicista d’A Noite (4 jan. 1921, p. 2) acrescentava que, após a estadia no Brasil, Tadokoro “tenciona[va] partir, depois, para a Argentina e Japão, via Chile, tendo já visitado os Estados Unidos”. Até o presente momento, nenhuma outra 966

referência a Tadokoro foi encontrada, o que demanda o aprofundamento das investigações. Outra questão que nos tem ocupado, nesse estágio inicial da pesquisa, é precisar que tipo de arte foi de fato apresentada na exposição japonesa realizada no Hotel dos Estrangeiros em 1921. Com exceção da imagem mostrada acima, ainda não encontramos outros registros iconográficos da mostra, e as notícias escritas, apesar de nos permitirem formar uma ideia geral do evento, não deixam de apresentar algumas contradições. Por exemplo, enquanto o periodicista da Gazeta de Noticias (5 jan. 1921, p. 3) afirmava que a exposição era composta exclusivamente de “pinturas em aquarellas”, n’O Paiz (5 jan. 1921, p.4) se dizia que Tadokoro expôs “uma linda collecção de aquarelas e gouaches”. O citado periodicista d’A Noite (4 jan. 1921, p. 2) acrescentou, por sua vez, que a exposição era composta de uma “valiosa collecção de aquarelas modernas e cópias de antigos mestres”. Todavia,

todas

as

notícias

publicadas

nos

três

periódicos

citados

concordavam com relação a um ponto: a elevada qualidade estética da exposição como um todo. Por exemplo, o periodicista d’O Paiz (5 jan. 1921, p.4) afirmou que os trabalhos expostos eram “curiosos e finamente executados, [e] têm sido geralmente apreciados pela sua raridade.” N’A Noite (4 jan. 1921, p. 2), se asseverou: “Os quadros expostos são, de facto, de uma rara beleza e de perfeita execução, merecendo os maiores elogios”. Por fim, na Gazeta de Notícias, podemos encontrar a seguinte apreciação: A arte japoneza, na actual exposição, apresenta-nos os mais deliciosos aspectos, os coloridos mais bizarros, as paisagens mais lindas e as ‘gueichas’ mais sonhadoras, não tendo os autores perdido os meros detalhes para que seus quadros impressionem vivamente o espírito dos que os contemplam. (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p. 3)

Essa noticia na Gazeta de Noticias foi a que mais se deteve na descrição das obras expostas e, através dela podemos inferir, sobretudo, os gêneros preferidos pelos expositores. Entre estes se destacava a pintura de paisagem, representada por obra que mereceram os maiores elogios. Em meio a figurações da “entrada de uma igreja [...], o interior de uma fábrica de chinellos [...], uma grande árvore ‘sakura’, com sua folhagem amarelecida em pleno inverno; plantações de arroz no Japão; 967

flócos de neve cahindo sobre casebres á margem de um rio”, (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p.3) algumas vistas se destacavam, como a de “uma paisagem á noite, vendo-se a lua despontar ao longe e, perto, uma casa com o interior encantadoramente iluminado.” (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p.3) Ou, ainda, [...] um “Pôr do Sol” que é verdadeiramente um mimo de arte. A cor avermelhada, com reflexos brilhantes, dá a impressão exacta de um sol poente, á imagem de um rio tranquillo a que alguns barcos de pescadores dão uns tons de maior poesia. (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p.3)

Além de paisagens, pinturas de figuras femininas também foram abundantes na mostra de 1921. Como resumiu o periodicista da Gazeta de Notícias: Vários quadros apresentam figuras de “geishas”: uma cheia de lindas flores vermelhas “kiku”, flores muito queridas do imperador; outra, num cumprimento gracioso como se usa na sua terra, vergando o busto em sua “Karakami” e ainda uma outra dansando e atirando leques... (Gazeta de Noticias, 5 jan. 1921, p. 3)

Se paisagens e figuras femininas parecem ter sido os temas mais frequentes das obras expostas por Tadokoro no Rio, é bem mais difícil fazer generalizações a respeito do estilo das mesmas. Por dirigir um estabelecimento de ensino artístico que se chamava “Tosa”, poderíamos supor que o japonês trouxe consigo, para a exposição no Hotel do Estrangeiro, obras relacionadas à famosa escola Tosa (土佐 派), que teve um papel de grande relevância na história da arte japonesa. Com efeito, a escola Tosa teve sua origem no século XV e estava relacionada aos interesses da corte imperial; para a produção de suas obras, seus artistas referenciavam-se, predominantemente, na literatura clássica japonesa e utilizavam o estilo denominado yamato-e (大和絵), (The Metropolitan Museum of Art, s.d.) surgido no período Heian (平安時代, 794-1185) e considerado como o estilo clássico de pintura japonesa. Inclusive, o termo yamato-e (“pintura japonesa”) foi criado exatamente para diferenciar obras que se centravam em uma temática e uma estética estritamente japonesas, das obras que ainda carregavam descendências chinesas, denominadas de kara-e (“pintura Tang”), em referência à dinastia chinesa Tang (618-906) (WILLMANN, 2000). Uma das mais conhecidas obras literárias trabalhadas pelos artistas ligados ao estilo yamato-e e à escola Tosa, foi o Conto de Genji (源氏物語), um romance do século X escrito por Murasaki Shikibu (c.978c.1014). Para exemplificar o estilo, reproduzimos, na Figura 2, uma seção de uma 968

composição de 8 painéis dobráveis que representa cenas do Conto de Genji, e que traz as assinaturas de Tosa Mitsuyoshi (1539-1613) e de seu neto, Tosa Mitsuoki (1617-1691).

Figura 2: Tosa Mitsuyoshi (1539–1613); Tosa Mitsuoki (1617–1691): Cenas de “O Conto de Genji”: “O Passeio Real” (capítulo 29), “Um barco sobre as águas” (capítulo 51), “O portão” (capítulo 16), 1573–1615 Par de tela de quatro painéis dobráveis. Tinta e ouro sobre papel dourado. Fonte: The Metropolitan Museum of Arte: Em: . Acesso em: 23 março 2014.

Todavia, a questão de em que medida as obras expostas por U. Tadokoro no Rio de Janeiro se relacionavam à tradicional escola Tosa se coloca quando lemos as opiniões que o crítico de arte José Pinto Fléxa Ribeiro (1884-1971) fez a respeito da exposição de arte japonesa de 1921, em um capítulo de se livro O Imaginário (Pretextos de Arte), cuja segunda edição data de 1925. Poeta, crítico de arte e, então, catedrático da disciplina de História da Arte da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) do Rio de Janeiro, Fléxa Ribeiro exprimiu uma opinião radicalmente diferente daquela estampada nas resenhas anônimas da Gazeta de Notícias, d’A Noite e d’O Paiz. Ao contrário de outros comentaristas, Fléxa Ribeiro (1925) foi categórico ao dizer que a exposição no Hotel dos Estrangeiros não atingia as suas expectativas, porque não manifestava o que ele acreditava serem as qualidades intrínsecas à arte japonesa. “Onde aquela profunda e inexorável sciência do rendu de forma, de perspectiva a cavaleiro, onde o sentimento aéreo das linhas que se não conjugam no horizonte?” (RIBEIRO, p.198, grifo do autor), inquiria, decepcionado, Fléxa Ribeiro. Ele não julgava a mostra uma autêntica exposição de arte japonesa e 969

afirmava, antes, que o evento se tratava de “uma exportação, a granel, de pintura japonesa.” (RIBEIRO, p.198). Para Fléxa Ribeiro (1925), os artistas expositores2 simplesmente não apresentavam, em suas obras, resquícios de mestres como Katsushika Hokusai (1760-1849) e Kitagawa Utamaro (1753-1806), que o critico brasileiro identificava como as verdadeiras referências na história da arte japonesa. O tom de desapontamento perceptível nesse texto não se devia apenas à qualidade da exposição: Fléxa Ribeiro (1925) lamentava, de uma maneira mais geral, a respeito da infrequência de exposições de arte japonesa em solo brasileiro. O crítico advogava o valor pedagógico da vinda de uma exposição que fosse “genuinamente” japonesa ao Rio de Janeiro, pois só assim Poderíamos ter uma ideia fecunda do que é o Japão artístico, na sua forma mais impressionante e sedutora, da Escola da Vida, do Ouki-yo-yé [sic], onde irradia e se imortaliza o génio de Utamáro.(RIBEIRO, p.198)

Em resumo, o que Fléxa Ribeiro (1925) sintetizava em seu texto sobre a exposição de 1921 era uma visão particular do desenvolvimento da arte japonesa: aos seus olhos, este teria sido caracterizado, a partir de meados do século XIX, por uma inexorável decadência. Não por acaso, a seção d’O Imaginário, que abrigava a resenha referente à exposição de 1921 se intitulava “A decadência artística dos Japões [sic]” (RIBEIRO, 189). Fléxa Ribeiro (1925) acreditava que a arte japonesa havia começado a declinar já a partir da morte, em 1849, do seu “incomparável e extraordinário génio do desenho” (RIBEIRO, p.189), Katsushika Hokusai, mas isso se acentuou com o processo de ocidentalização que foi consequência da chamada Restauração Meiji (明治維新), em 1868. O período do Japão que então se iniciou, caracterizado pela modernização e emergência industrial, pelo esvaziamento do sistema feudal, pela transferência da capital para Tóquio etc., teria representado o fim do fechamento cultural do país, associado ao Período Edo (江戸時代), que, para Fléxa Ribeiro (1925), fora importante justamente por frear a incorporação, de maneira delituosa, de costumes artísticos provenientes de outros centros políticos, econômicos e culturais. Todo esse desenrolar implicou, no entender de Fléxa Ribeiro (1925), na precarização da criação artística no Japão e majorou a produção que visava à exportação à Europa e às Américas. Entendemos melhor agora a razão do autor 970

brasileiro utilizar a expressão pejorativa “exportação a granel” quando se referencia à exposição de Tadokoro e de seus companheiros do “The Tosa Art Studio” no Rio de Janeiro: esta seria mais um exemplo de uma produção com fins estritamente comerciais, lançada em enormes quantidades no mercado de arte internacional, sem uma contrapartida cultural japonesa, e incentivada somente pela emergência de um modismo - a “japonesaria”. Com relação a esse ponto, em outro texto d’O Imaginário intitulado “O Contágio Europeizante”, Fléxa Ribeiro (1925) fazia uma ressalva, destacando os esforços e as boas intenções de europeus como, por exemplo, Edmond de Goncourt (1822-1896), Louis Gonse (1846-1921) e Siegfried Bing (1838-1905). Todavia, mesmo com “tenacidade, lucidez especializada, sentimento de bom gôsto” (RIBEIRO, p.190), os textos críticos desses autores e suas importações de obras japonesas também contribuíram para instaurar uma moda vulgarizadora da “japonesaria”, em detrimento “do senso, do belo original, étnico” (RIBEIRO, p.190), que para Fléxa Ribeiro (1925), singularizavam a arte japonesa e a distinguiam das concepções artísticas ocidentais. Com efeito, para Fléxa Ribeiro (1925), a arte japonesa só seria “autêntica” enquanto intocada e casta, ou seja, caracterizada pelo “imaginoso sentimento do pitoresco, [pela] riqueza espontânea e sedutora da decoração” (RIBEIRO, p.192), pela “pureza primitiva, [pelo] exotismo picante, [pela] graça absorvente” (RIBEIRO, p.190). Essas características se exibiam, por exemplo, nos kakemonos, “onde o toque é leve, quase efêmero, dando a impressão de vertiginosa rapidez, de aflitiva habilidade manual” (RIBEIRO, 191); nas cerâmicas nipônicas, que possuíam diversas variantes conforme cada região do país, e da quais um exemplo paradigmático era a produção de Nonomura Ninsei (c. 1646-1994) [Figura 3]; e na obra dos “grandes”, principalmente na do citado Hokusai. Na passagem para o século XX, para Fléxa Ribeiro (1925), essa arte japonesa “autêntica” só podia ser encontrada na obra de alguns poucos perpetuadores, como Yamamoto Shunkyo (1871-1933), Ôkoku Konoshima (1877-1938) e, sobretudo, Kawanabe Kyōsai (18311889) [Figura 4].

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Figura 3: Nonomura Ninsei (c.1646-1694): Queimador de incenso (koro), período Edo (1615-1868) Argila coberta com esmalte craquelado e aplicação de ouro, 17,1 x 18,4 x 18,4 cm. Fonte: http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/29.100.668

Figura 4: Kawanabe Kyōsai (1831-1889): Unhas no farelo de arroz, Grampos no Tofu, Período Edo (1863-1866). Tinta sobre papel Fonte: http://www.mfa.org/collections/object/nails-in-the-rice-bran-nuka-ni-kugi-clamps-on-the-t-fu-t-funi-kasugai-from-the-series-one-hundred-pictures-by-ky-sai-ky-sai-hyakuzu-461706

Apesar da visão decidida de Fléxa Ribeiro sobre a chamada “japonesaria”, podemos constatar, através de pesquisas recentes, a importância que Siegfried Bing, 972

por exemplo, teve para a formação de artistas europeus que desenvolveram produções reconhecidas de maneira positiva, a partir da expansão da arte japonesa. Poderíamos colocar esse fato como uma contraposição à ideia e ao sentimento abatidos de Fléxa Ribeiro - afinal o “boom” japonês, a partir de 1868, mesmo que sem seus valores e intentos ilesos, foi determinante para o fortalecimento das artes decorativas europeias e para o florescimento de nomes como Jean-Édouard Vuillard (1868-1940), Henri Somm (1844-1907), Henri Vever (1854-1942) [Figura 5], entre diversos outros. (WEISBERG, 2005).

Figura 5: Henri Vever (1854-1942): Art Nouveau Comb, 1900 Chifre esculpido e decorado com cor e sementes peroladas, 9,5x11cm Fonte: http://www.artnet.com/artwork/424347178/119156/henri-vever-art-nouveau-comb.html

À guisa de considerações finais, gostaríamos de frisar que esta comunicação procura sintetizar os dados iniciais de uma pesquisa que se encontra apenas iniciada: ela está sujeito, portanto, às insuficiências características de trabalhos do gênero, como a falta de conclusões mais definidas e a abertura de problemas conexos. Nossa intenção é aprofundar as investigações, pois acreditamos que o estudo da exposição de arte japonesa realizada no Rio de Janeiro em 1921 pode nos ajudar a compreender melhor os principais parâmetros que regeram a recepção da arte japonesa no Brasil de inícios do século XX.

Notas 1

Nessa e em todas as demais citações de época, procuramos manter a grafia original com a qual os textos foram escritos.

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2

Fléxa Ribeiro cita os nomes de como “E. Kato, After Rain, Amdmato, Kassigi”, a respeito dos quais ainda não encontramos maiores referências.

Referências Bibliográficas Livros BING, Siegfried. Artistic Japan: illustrations and essays. S. Low, Marston, Searle & Rivington, limited, 1891, v.6 GONCOURT, Edmond de. Hokousaï: l'art japonais au XVIIIe siècle. Paris: E. Flammarion; Paris: E. Fasquelle, 1922 RIBEIRO, Fléxa. O Imaginário (Pretextos de Arte). São Paulo: Nova Era, 1925. - Artigos de sites, revistas ou periódicos: Artes e Artistas. Bellas Artes. U Tadokoro. O Paiz, Rio de Janeiro, 5 jan 1921, p.4. Arte Japoneza. Uma exposição inaugurada hontem, no Hotel dos Estrangeiros. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 5 jan. 1921, p. 3 Exposição de Arte do Sr. U. Tadoroko. A Noite, Rio de Janeiro, 4 jan 1921, p. 2. The Metropolitan Museum of Art: Em: . Acesso em: 23 março 2014. WEISBERG, Gabriel P.. Introduction: Tastemaking in the Age of Art Nouveau: The Role of Siegfried Bing.Nineteenth-Century Art Worldwide, v. IV, 2005. Em: . Acesso em: 26 março 2014. WILLMANN, Anna. Yamato-e Painting. In Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000. Em: Acesso em: 23 março 2014.

Vinícius Moraes de Aguar Graduado em Belas Artes pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Desenvolve pesquisa acerca dos escritos do poeta, crítico e historiador da arte José Pinto Fléxa Ribeiro (1884-1971). Atualmente é Professor de Artes (20h) da Prefeitura Municipal de Vassouras (PMV) e Professor Docente I - Artes (16h) da Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC-RJ). Arthur Gomes Valle Professor Adjunto do Departamento de Artes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (DArtes/UFRRJ). Atualmente é Pós-Doutorando no Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa/Portugal. Seus temas de pesquisa principais, referentes em particular ao campo artístico do Rio de Janeiro entre 1890 e 1930, são: Intercâmbios Artísticos entre Brasil e Portugal; Sistema Expositivo; Ensino Artístico.

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