[2015] Hidráulica na Pré-História? Os fossos enquanto estruturas de condução e drenagem de águas: o caso do sistema de fosso duplo do recinto do Porto Torrão

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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Hidráulica na Pré-História?
Os fossos enquanto estruturas de condução e drenagem de águas: o caso do sistema de fossos duplo do recinto do Porto Torrão
Filipa Rodrigues
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso II – a estrutura
Fosso II do Sector 3 Este = Fosso Externo
Dimensões:

Largura (topo) = c,12m

Profundidade = c. 6m
Morfologia:

Perfil tendencialmente em V

Taludes oblíquos com cerca de 20º

6
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso I – a estrutura
Fosso I do Sector 3 Este = Fosso Interno




Túnel
Dimensões:

Largura (base) = 1,5m

Profundidade = 1,5m

Cotas de base sugerem desnível conforme orientação

Morfologia:

Abertura na interface externa do fosso

Orientação SE

Paredes convexas e fundo plano



6
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso I – a estrutura
Fosso I do Sector 3 Este = Fosso Interno
Dimensões:
Fosso
Largura (topo) = 8,5m
Profundidade = 5m

Sub-vala
Largura (topo) = 0,50m
Profundidade = 0,50m


Morfologia:

Perfil tendencialmente em U

Taludes oblíquos com cerca de 45º

Interface interna mais suave que externa

A 4,5m de profundidade desenvolve sub-vala

Sub-vala de paredes rectas e fundo plano


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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
O Sistema de Fossos Duplo do Sector 3 Este
Porto Torrão:
os dados arqueológicos








Fosso I
Fosso II

22 m


Fosso I
Fosso I


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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Os troços de fossos em análise:
Porto Torrão:
os dados arqueológicos
Margem esquerda da Ribeira do Vale do Ouro

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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Os troços de fossos identificados no Porto Torrão:
5 troços de fossos identificados nas duas últimas intervenções;

Presentes em ambas as margens da Ribeira do Vale do Ouro

Apresentam todos eles uma característica comum: 2 fossos paralelos, distanciados escassos metros entre si (de 8m a 20m)




Sistema de fosso duplo
Aparentemente sistema de fosso duplo da margem esquerda não tem correspondência com o sistema de fosso duplo da margem direita, ou seja, não formam a circunferência, por vezes quase perfeita, que se observa nas fotografias aéreas/ magnetograma de outros recintos;
Porto Torrão:
os dados arqueológicos
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
geomorfologia e geologia






Complexo Ofiolítico de Beja – Acebuches (COBA)
Constituído por metagabros, que raramente afloram;

Resultado da sua meteorização química = a uma camada de alteração comummente designada por "Barros de Beja", devido à sua matriz argilosa;

"Barros de Beja" = óptima aptidão agrícola (Fonseca, 1995; Paralta, 1997)




(adaptado de Duque e Almeida, 1997
Sistema Aquífero dos Gabros de Beja
(SAGB)


Um dos mais importantes reservatórios de águas subterrâneas do Alentejo;

Aquífero freático pouco profundo;

Ferreira do Alentejo regista recarga anual média de 52 – 105 mm/ ano, o que torna possível o uso sustentável deste recurso (Paralta et alii, 2003; Duque, 2005)
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso II – a estrutura
Fosso II do Sector 3 Este = Fosso Externo
Dimensões:

Largura (topo) = c,12m

Profundidade = c. 6m
Morfologia:

Perfil tendencialmente em V

Taludes oblíquos com cerca de 20º

Túnel
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso II – a estrutura
Túnel
Morfologia:

Abertura na interface interna do fosso

Orientação NW

Paredes convexas e fundo plano

Dois "buracos de poste" situados no início do túnel,
afastados entre si cerca de 75cm, com 15cm de diâmetro e 25cm de profundidade







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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
Fosso II – a estrutura
Túnel




Estratigrafia interna do túnel escavado no Fosso II do Sector 3 Este demonstra o colapso do tecto desta estrutura




Porquê "túnel"?
pacote sedimentar com cerca de 1m de potência arqueologicamente estéril, idêntico aos caliços/ margas das paredes do fosso




Resultados da escavação do Sector 2




Sector: 2
Fotografia: Neoépica
Na senda do Horizonte 2020…
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
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Terá o sistema de fossos duplo do Porto Torrão a mesma função dos Blocos de Rega que passam hoje pelo sítio?
Eventualmente

To be continued...
Considera-se esta proposta uma verdade absoluta? Não
Dentro das hipóteses interpretativas que existem para estruturas de tipo fosso é a que melhor se adapta aos dados empíricos existentes no Porto Torrão? Sim
Esta hipótese pode ser considerada uma verdade universal e assim ser aplicada a todos os recintos de fossos do SW peninsular? Não
O que falta para validar ou infirmar a hipótese apresentada?

Mais trabalhos complementares de investigação, que não passam necessariamente pela escavação arqueológica – e.g. geofísica, geoarqueologia, arqueometria...

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A aplicabilidade da hipótese "hidráulica" no recinto de fossos do Porto Torrão: Contras
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
X Só existe informação para pequenos troços de fossos, ou seja, não sabemos como se comportam: são contínuos? Haverá
alguma interrupção que "corte" a circulação da água?

X Será que as estruturas chegam de facto até à Ribeira?


X Os fossos analisados apresentam processos de preenchimento distintos:
externo = processos naturais VS interno = processos antrópicos

Porquê? Em que momento isso aconteceu? Será um processo simultâneo? Ou em períodos distintos?

Qual o seu significado no quadro da proposta apresentada, de âmbito funcionalista?

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A aplicabilidade da hipótese "hidráulica" no recinto de fossos do Porto Torrão: Prós (sinopse)
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Dados paleoclimáticos que apontam para períodos de seca à época da ocupação do sítio;


Implantação junto a uma ribeira de regime permanente, com ocupação e construção de estruturas de tipo fosso em ambas as margens, centralizando o recurso natural;

Área de implantação coincidente com um dos maiores aquíferos subterrâneo do Baixo Alentejo, com nível freático pouco profundo;

Sistema de fosso duplo com túneis de ligação que permite assumir a sua abertura e funcionamento de forma simultânea;

Cotas da base dos fossos dos sectores 2 e 3 Este semelhantes ou abaixo da actual cota de circulação da Ribeira do Vale
do Ouro;

Estratigrafia interna do Fosso II (externo) do Sector 3 Este, que apresenta uma camada laminada, que pode indicar a
presença de água e respectiva circulação (lenta), comprovada pela presença do nível freático na sua base (c. e 6m de
profundidade a partir da superfície da estrutura)

Outros indicadores:

Túneis em "rampa", subindo do fosso externo para o fosso interno, permitem assumir uma funcionalidade associada ao controlo do fluído;

"Buracos de poste" nos túneis permitem supor a existência de estruturas de fecho, ou seja, de "comportas";

O facto destes túneis assumirem uma morfologia subterrânea e não a "céu aberto" como os próprios fossos, o que permitiria o fácil manuseamento das "comportas" e assim o controlo da passagem da água de um para outro fosso;

Diferença altimétrica na base dos fossos, que permite presumir uma eventual funcionalidade de condução de águas para o fosso externo e drenagem e armazenamento de água para o fosso interno


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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Túnel
Porto Torrão:
O Sistema de Fosso Duplo
Corte Esquemático
Nível Freático
Circulação de água?
(sedimentos laminados)
Coluvião
Reabertura do
fosso
Estrutura pétrea
Preenchimento do novo fosso

Corte Esquemático
Fosso II (externo) Sector 3 Este
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Túnel
Porto Torrão:
O Sistema de Fosso Duplo


Sector 2
Sector 3
Este
Sector 2
Sector 3 Este
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão:
O Sistema de Fosso Duplo
Túnel
Sector 3 Este
Fosso II (externo)
Fosso I (interno)
Pequenos túneis que conectam os fossos permitem assumir a sua abertura simultânea, de modo a cumprir
um objectivo comum;

Ou seja, detêm a mesma funcionalidade, que terá sido desenvolvida antes do preenchimento das estruturas (preenchimento = desactivação)
Túnel


Sector 3 Este
Sector 2
Porto Torrão:
geomorfologia e geologia
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate

Peneplanície do Baixo Alentejo




Rede de drenagem pouco
desenvolvida

2) Reduzido número de linhas de
água temporárias e permanentes
3) Principais colectores superficiais:
ribeiras de Canhestro, Capela e
Vale do Ouro




Atravessa o sítio do Porto Torrão,
no sentido E - W
(Feio, 1952; Silveira, 1990; Duque, 1997)
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Porto Torrão: os dados paleoclimáticos
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Três indicadores distintos apontam para fenómenos de seca no SW Peninsular, por volta de 4000 BP
Proxies de alta resolução registam várias e pequenas oscilações climáticas, que terão ocorrido de forma abrupta

Destes eventos destaca-se, no Hemisfério Norte, uma ocorrência em 4200 BP, manifestada através do recuo dos glaciares, incremento de ventos secos do quadrante W-SW, que poderão ter resultado numa intensificação do upwelling costeiro (Mayewski et alii, 2004; Wang et alii, 2013)
Registado na orla ocidental do golfo de Cádis e na costa portuguesa, por volta de 4000 BP

"[...] no sudeste e, possivelmente, também no sudoeste espanhol, o intervalo de 4500 e 4000 BP, corresponderá a uma época de aridez e, por conseguinte a uma insolação intensa [...]" (Soares, 2004: 183)


Diagramas polínicos no NW Alentejano apontam para terrestrialização nos pântanos fluviais, secagem na sedimentação das turfeiras interdunares e expansão de taxa mediterrâneos (Mateus et alii, 2003)
Clima mais seco que o actual
(temperatura média anual elevada – entre 15º e 17,5º - com precipitação acentuada no Outono e Inverno e carência de água no Verão)
Primeira década do século XXI
(Dias e Figueiredo, 2009; Figueiredo, 2009; Santos e Granja, 2009; Pereiro, 2010; Neves e Mendes, 2011; Corga e Ferreira, 2011; Santos et alii, 2014)

1
Porto Torrão: breve enquadramento
Intervenções
Três intervenções realizadas em diferentes épocas, por equipas distintas
Início da década de '80 do século XX (Arnaud, 1982 e 1993)
Início do século XXI
(Valera e Filipe, 2004)




Legenda:
Localização das sondagens manuais realizadas no início da década de '80
Vasta área de dispersão de materiais
"[...] estimada entre 75 e 100 ha [...]"
(Arnaud, 1993:46), abarcando ambas as margens da Ribeira do Vale do Ouro


"[...] dispersão e densidade superficial de artefactos [...] sugerem a existência de uma zona "nuclear", com cerca de 200m de diâmetro, localizada aproximadamente em torno de uma pequena elevação, perto do centro geométrico do povoado [...]"
(Arnaud, 1993:46)



prospecções de superfície
sondagens manuais (a azul)
prospecção geofísica

O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Primeira década do século XXI
(Dias e Figueiredo, 2009; Figueiredo, 2009; Santos e Granja, 2009; Pereiro, 2010; Neves e Mendes, 2011; Corga e Ferreira, 2011; Santos et alii, 2014)


1
Porto Torrão: breve enquadramento
Intervenções
Início da década de '80 do século XX (Arnaud, 1982 e 1993)
Início do século XXI
(Valera e Filipe, 2004)
prospecções de superfície
sondagens manuais (a azul)
prospecção geofísica

sondagens manuais (a roxo)




Intervenção na margem direita da Ribeira do Vale do Ouro permitiu identificar "[...] pela primeira vez estruturas negativas – fossos e fossas" (Valera e Filipe, 2004:49)
Poste 181: identificação de 2 fossos, distanciados entre si "[...] sensivelmente 8 metros [...] e com a mesma orientação genérica" (Valera e Filipe, 2004:49), ou seja, paralelos

Fosso 1: largura no topo = 3,50m;
(interno) profundidade = 3m
orientação = SSE – NNO

Fosso 2: largura no topo = 5,90m;
(externo) profundidade = 3,40m
orientação = SSE – NNO



a
Localização das sondagens manuais realizadas no início da década de '80
Localização das sondagens manuais realizadas no início do século XXI
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Três intervenções realizadas em diferentes épocas, por equipas distintas
Porto Torrão:
geomorfologia e geologia
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O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Fotografia: EDIA, SA
Peneplanície do Baixo Alentejo = "Superfície de Beja"
altitude média = 80 – 180m

Aplanação por vezes perfeita,
com escassos relevos residuais





(Feio, 1952; Silveira, 1990; Duque, 1997)

2
Porto Torrão: breve enquadramento
Cronologia – Datações Absolutas
O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
Primeira década do século XXI
Ainda não são conhecidas datações absolutas


Datações relativas apontam para uma longa diacronia de ocupação do sítio com início no Neolítico Final e término no período campaniforme


Início da década de '80 do século XX (Arnaud, 1993)
Estrato 1: Campaniforme
Estrato 3: Pré – Campaniforme

Sugere-se uma ocupação contínua do local, "[...] entre a fase em que a cerâmica campaniforme ainda não era conhecida e a fase em que a mesma surge com relativa abundância" (p.46)


Início do século XXI – Poste 181
(Valera, 2006, 2012 e no prelo)
Fosso 1: Neolítico Final
Fosso 2: Campaniforme

Sugere-se que o Fosso 2 foi aberto em época posterior, quando o Fosso 1 já estaria completamente colmatado


Primeira década do século XXI
(Dias e Figueiredo, 2009; Figueiredo, 2009; Santos e Granja, 2009; Pereiro, 2010; Neves e Mendes, 2011; Corga e Ferreira, 2011; Santos et alii, 2014)

1
Porto Torrão: breve enquadramento
Intervenções
Início da década de '80 do século XX (Arnaud, 1982 e 1993)
Início do século XXI
(Valera e Filipe, 2004)
prospecções de superfície
sondagens manuais (a azul)
prospecção geofísica

sondagens manuais (a roxo)




O Neolítico em Portugal, antes do Horizonte 2020:
perspectivas em debate
escavação em área, em ampla
escala, no interior do recinto
(ambas as margens da Ribeira do
Vale do Ouro), e áreas adjacentes
(a Sul e a Este)

Complexo arqueológico do Porto Torrão: > 500ha
Legenda:
Localização das sondagens manuais realizadas no início da década de '80
Localização das sondagens manuais realizadas no início do século XXI
Localização das várias intervenções realizadas no interior do recinto de fossos e áreas adjacentes
Três intervenções realizadas em diferentes épocas, por equipas distintas
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