(2015) Retratos da história | Centro Interpretativo do Patrimonio da Afurada

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[3ª Edição da Newsletter do Centro Interpretativo do Patrimonio da Afurada: http://issuu.com/cipafurada/docs/untitled]

Ninguém pode explicar o que é único. Podemos apenas descrever, louvar e adorar. Henry Miller, 1941 Com uma edição dedicada às gentes e às suas histórias, a participação de Antigoni Geronta enreda-nos numa história de encanto pela Afurada. De nacionalidade grega, Antigoni deixouse cativar por esta comunidade quando, «numa tarde do Novembro de 2011, desde o outro lado da margem, na “Tasca dos fados da Piedade”, olhava com curiosidade a Afurada. Casas pequenas e coloridas, barcos a balançar sobre as ondas do rio e apenas um a atravessar, A Flor do Gás. "É o bairro de pescadores mais autêntico", disseram-me». Três anos passados, reside actualmente no bairro da Afurada de Baixo, com o propósito de realizar uma investigação “in situ”. «Trata-se de um estudo que forma parte da minha tese de doutoramento numa abordagem arquitetónica e antropológica. O estudo centra-se no bairro da Afurada de Baixo, devido às suas características tão específicas e únicas. Uma destas características é a própria organização e utilização do espaço comum. O espaço público está inter-relacionado com os usos, que se destinam "principalmente" ao espaço privado da casa. O umbral da casa, a calçada e, por vezes, a mesma rua constroem o cenário onde os afuradenses cozinham, comem, lavam e estendem a roupa, hábitos que dão forma a um panorama singular, preservado por décadas. A vida privada e doméstica torna-se num acto coletivo. De facto, o espaço público constitui a mera extensão da casa. Pergunto-me se este fenómeno é baseado maioritariamente na necessidade ou no hábito. E como se relacionam as antigas exigências e condições de vida com as actuais? Sendo este o primeiro lugar onde se instalaram os pescadores, é ainda hoje habitado por uma comunidade profundamente enraizada no território e com laços familiares estreitos. É aqui também que se celebram as Festas de São Pedro, o evento mais significativo para o povo. Esta sólida relação dos pescadores com a religião revela-se em vários aspectos da vida cotidiana, desde os símbolos pintados e os nomes dados aos barcos às representações religiosas nas fachadas das casas, até à própria decoração do corpo com tatuagens religiosas – uma manifestação de culto e de luto. Hoje em dia, o bairro vê-se diretamente afectado pelos novos planos urbanísticos, embora continue a resistir, de uma forma ou de outra, às práticas de homogeneização e modernização que se desdobram à sua volta e que poderiam idealmente ser mais coerentes no que diz respeito aos hábitos locais e à vida quotidiana da comunidade. Naquele dia de Novembro, ainda sentada na tasca da Piedade a contemplar o pequeno bairro de pescadores à minha frente, pensei na expressão popular segundo a qual "O Porto tem a beleza, a Gaia tem as vistas". Aquele recanto de Gaia onde o rio Douro encontra o mar iria provar exactamente o contrário. Bela e tranquila, conflictuosa e vibrante, aí estava a Afurada. E, no final de contas, aí continua com as suas contradições, tal como cada bairro e a sua gente que, ao tecer constantemente a sua história, cria a sua própria narrativa do lugar, motivo mais que justo para o adorar e lutar por ele».

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