[2015] Três países latino-americanos (Argentina, Chile e México) e as relações com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial

June 1, 2017 | Autor: Júlia Rosa | Categoria: Latin American Studies, Argentina, Chile, Mexico, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
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Trabalho realizado para a cadeira de Relações Internacionais da América Latina, ministrada pela Profª. Drª. Sônia Maria Ranincheski.
Graduandas do sétimo semestre do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Três países latino-americanos (Argentina, Chile e México) e as relações com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial

Alexandra Oppermann
Júlia Rosa
Josiane Sarti

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é entender como se desenrolaram as relações entre três dos principais países do continente latinoamericano durante a Segunda Guerra Mundial: Argentina, Chile e México, com os Estados Unidos. Pela sua força econômica e militar, os Estados Unidos impõe uma presença muito firme no continente. Na Segunda Guerra Mundial isso se deu na forma da política de boa vizinhança de Roosevelt, com a intenção de mitigar a influência alemã na América Latina e era feita através de investimentos e transferência de tecnologia para os países: uma solidariedade continental.
A ideia dessa revisão bibliográfica e análise é descobrir como essas relações de poder afetaram o desenvolvimento dos três países mais fracos durante os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Quais foram as diferentes resultados dessa interação? Na Argentina e Chile os principais resultados são os governos militares que sobem ao poder durante a Guerra Fria, com forte apoio no discurso dos EUA e do presidente Harry Truman de anticomunismo. Interessante também, nos EUA, os mexicanos passaram a organizar-se num movimento social por direitos civis. No México, houve um desenvolvimento industrial e inserção real no capitalismo, mas esse veio acompanhado de alta inflação e concentração de renda.

1 AS RELAÇÕES ENTRE ARGENTINA E ESTADOS UNIDOS

Historicamente, as relações estabelecidas entre a Argentina e os países centrais foram criadas ou intensificadas a partir da abertura econômica do Estado argentino, ocorrida em 1880, que permitiu caracterizar o país como produtor de matérias primas e importador de bens manufaturados e de capital. De acordo com Rapoport (1995), esse acontecimento se deu devido a um modelo de divisão internacional do trabalho determinado e à existência de uma potência hegemônica, à época a Grã Bretanha.
A Inglaterra, no entanto, vinculou-se à economia argentina como forma de sustentar-se no sistema econômico internacional, visto que, desde 1873, enfrentava forte decadência devido à competitividade enfrentada com países como os Estados Unidos, a Alemanha e a França. Assim, perdia gradativamente influência e mercados tanto em solo europeu como em alguns Estados periféricos, o que a impulsionou a estabelecer relações com nações específicas, fato que garantiria certa estabilidade à sua economia (RAPOPORT, 1995).
Dentre as maiores ameaças à Grã Bretanha estavam os Estados Unidos. Desde 1900, o país vinha crescendo significativamente no cenário internacional, e o seu nível de produtividade aumentava expressivamente. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919), diante de uma Europa fragilizada e instável economicamente, os EUA transformaram-se não apenas em potência industrial, mas também no primeiro poder financeiro internacional. Assim, começaram a expandir seus capitais ao exterior, especialmente à América Latina, e chegaram à Argentina como principal cliente e provedor. Como atesta Rapoport (1995)
"Tudo parecia levar, como de fato ocorreu a partir dos anos trinta com o Brasil e com outros países do continente, ao abandono da relação privilegiada com o Reino Unido e a um novo tipo de vinculação com a América do Norte. Ao mesmo tempo, essa relação econômica privilegiada que Washington começava a ter com a América Latina depois da Primeira Guerra também passou a se manifestar no âmbito político, e é nesse momento que começa a ter impulso a construção de um sistema político hemisférico sob influência norte-americana, dando início ao ideário do pan-americanismo".
No entanto, é interessante observar que a Argentina, ao longo dos anos 30, acabou por reforçar suas relações com os países europeus – sobretudo com a Inglaterra- e, por vezes, criticou diversos aspectos da política exterior estadunidense. Muito disso foi em decorrência da não abertura do mercado norte-americano aos produtos argentinos, fato que motivou o governo da Argentina a declarar sua preferência por nações que tipicamente investiam na compra dos bens produzidos em seu território, a dizer, países europeus. Em 1933, foi firmado o Pacto Roca-Runciman, que favorecia os interesses britânicos e prejudicava o comércio com os EUA, através da utilização de mecanismos de controle de câmbio. Somado a este fato estavam os efeitos da crise financeira de 1929, que acabou por isolar os países latino-americanos. Como consequência, o Programa de Substituição de Importações teve lugar no continente, inclusive na Argentina, e modificou expressivamente a realidade industrial dos países (RAPOPORT, 1995). Além disso, o governo argentino não enxergava com bons olhos a política de aproximação dos Estados Unidos aos países latino-americanos, pois temia uma mudança drástica no posicionamento da política estadunidense, fato que prejudicaria as relações do restante do continente com o mundo (FERRER, J.; ZBEBIT, A.; SILVA, F, 2012):
"O Ministro Cantilo se recusou a apresentar qualquer proposta de tratado sobre segurança continental, afirmando que, no futuro, qualquer tipo de compromisso teria o inconveniente de perder sua função, se os EUA mudassem sua política em relação à Europa. A Argentina não aceitou assinar o tratado, propondo apenas uma declaração dos princípios americanos, expressando a Soberania Continental e alertando sobre qualquer interferência externa, por meio de ideias e propósitos, no intuito de interferir na política de defesa dos interesses do continente".

Em 1938, foi realizada em Lima a VIII Conferência Interamericana, cujo tema principal envolveu a consolidação da política de solidariedade e cooperação americana. Essa conferência ocorreu com relutância argentina, principalmente porque o país não aprovava a construção de uma política de defesa do continente americano sob as influências dos Estados Unidos. Assim, durante todo o segundo conflito mundial (1939-1945), a Argentina manteve uma postura hostil em relação ao apoio requisitado pelos norte-americanos, seguindo um caminho completamente diferente dos das demais Repúblicas Americanas (FERRER, J.; ZBEBIT, A.; SILVA, F, 2012).
Após a invasão da Noruega e da Dinamarca por alemães, em 1940, o presidente argentino Ortiz, propôs tanto aos governos norte-americano quanto brasileiro uma política agressiva contra os países do Eixo (liderados por Alemanha, Itália e Japão). No entanto, temerosos de uma possível represália, principalmente por parte dos alemães, os EUA e o Brasil, assim como algumas outras Repúblicas Americanas, recusaram a proposta. Como consequência, a política externa argentina passou por modificações e adotou uma postura neutra diante do conflito, não aceitando romper com as potências do Eixo (FERRER, J.; ZBEBIT, A.; SILVA, F, 2012).
Dessa forma, a Argentina assumiu um comportamento singular ao longo da Segunda Guerra Mundial, não indo de encontro aos interesses norte-americanos e preservando-se neutra por quase todo o conflito. De acordo com Dalio (2008) , isso não representava um afastamento completo da nação argentina peronista dos Estados Unidos, mas sim afirmava o poder de barganha da nação sul-americana ao mesmo tempo que lhe garantia autonomia. Foi apenas em 1945, ano do fim da guerra, que o governo argentino declarou guerra à Alemanha, ato principalmente incitado pelo desejo da República Argentina de ingressar futuramente nas Nações Unidas.

2 AS RELAÇÕES ENTRE CHILE E ESTADOS UNIDOS

Desde o século XIX, as relações entre Chile e Estados Unidos foram pautadas por tensões e disputas, resultado da competição entre os países pela área de influência latino-americana (MUÑOZ e PORTALES, 1987 apud LAVÍN, 1992). As ações intervencionistas que buscavam influenciar a economia e a sociedade chilenas foram criando uma identidade cultural antiamericana, gerando um sentimento de desconfiança mútua. O resultado disso foi a oposição chilena à influência americana na região.
Apesar disso, já no século XX, os EUA se tornaram o principal parceiro comercial do Chile, com mais da metade do comércio interno total. Ainda, um terço do que os EUA investiam na América Latina foi direcionado ao Chile, principalmente no setor de cobre, consolidando o poder de Washington na vida econômica e política chilena (LAVÍN, 1992). Também é necessário citar a presença empresarial da Alemanha no Chile no período entre guerras. A relação entre esses países não se pautava somente em um comércio significativo, mas também na presença de imigrantes alemães e o papel desempenhado por Berlim na formação do exército chileno. Para eles, as colônias alemãs (as chamadas "quinta colunas") representavam um recurso eficaz da política exterior nazista. Seria por meio delas, aliadas a propagandas e programas de rádio, que cooptariam e estenderiam a influência do nacional-socialismo pelo mundo (FARÍAS, 2000 apud LAVÍN, 1992, p. 401).
Já no contexto pré Segunda Guerra Mundial, o Chile tinha como presidente Pedro Aguirre Cerda, o qual assumiu um viés de esquerda moderada, promovendo a industrialização e diminuindo o poder da oligarquia. Ao afirmar um projeto de substituição de importações, buscou aprofundar a independência econômica do país. Da mesma forma que durante a Primeira Guerra Mundial, o país se manteve neutro – ainda que grande parte da população apoiasse os Aliados. O Chile mantinha essa neutralidade em seu posicionamento por diversas razões: nenhum país tinha lhe dado motivos concretos para entrar no conflito e o abastecimento proveniente dos EUA, a partir do tratamento do país como uma nação não-beligerante, era de grande interesse (NOCERA, 2005).
Ainda que o Chile fosse o único latino-americano com governo composto pelos principais partidos de esquerda e que tinha, como base na sua política externa, uma campanha de luta contra o fascismo e o imperialismo internacional, o país mantinha relações comerciais com estadunidenses, britânicos e alemães, sendo os EUA os principais parceiros no período da Segunda Guerra Mundial, até fim de 1945 (FERRER; ZBEBIT; SILVA, 2012).
Sobre as questões militares, o Chile, junto com Argentina e Brasil, desde o fim do século XIX, sofria grande influência alemã, dado que suas Forças Armadas eram treinadas por militares prussianos. Conforme modelo argentino, o governo do Chile contratou instrutores alemães para lecionar em suas escolas de Forças Armadas (FERRER; ZBEBIT; SILVA, 2012). Além disso, os chilenos estavam insatisfeitos com o baixo fluxo de equipamentos militares norte-americanos. Em meados de 1940, o Chile informou aos americanos sobre uma oferta alemã para a venda de armas a um preço inferior ao preço estadunidense. A alusão de que o governo chileno poderia estar negociando com os alemães acelerou as negociações realizadas com os EUA. Não demorou muito para que um empréstimo para a aquisição de equipamentos militares fosse autorizado para o Chile (NOCERA, 2005, p. 427-428).
Os EUA, então, ameaçaram retaliar a ajuda caso o Chile não cortasse as relações com o Eixo, mesmo sabendo das necessidades chilenas de assistência econômica e militar. Isso se deve ao fato de que os EUA viam essa manutenção da neutralidade como uma permissão para que os agentes do Eixo agissem livremente na América Latina através do território chileno. Essas ações seriam atividades subversivas e uma possibilidade de envio de informações para Berlim e Tóquio sobre os movimentos de navios de guerra aliados, além de notícias sobre o esforço de guerra das nações americanas (NOCERA, 2005, p. 435).
Em 1940, por exemplo, os EUA mantiveram neutralidade e resolveram defender todas as colônias europeias na América contra qualquer investida alemã. Nesse contexto, o Chile não concordou com as propostas argentinas de ação conjunta entre os EUA e as demais Repúblicas Americanas para essa contenção nas colônias europeias. O Chile não era favorável ao princípio de autodeterminação dessas possessões, preferindo a sugestão norte-americana sobre um mandato de ocupação dessas regiões, caso fosse necessário, para impedir que a Alemanha pudesse utilizá-las como pontos estratégicos de apoio, pois tal atitude poderia afetar a defesa do Continente (FERRER; ZBEBIT; SILVA, 2012 apud AHI, 26 jul. 1940).
Sobre o posicionamento (ou a falta dele) chileno, Nocera (2005) afirma que o governo do Chile não identificou que a neutralidade traria más consequências, políticas e econômicas, nas relações com os EUA, já que reduziu as importações de bens essenciais (alimentos e matérias-primas) e deixava uma situação de incerteza para as exportações futuras, com a possível perda do único mercado que ficou disponível. Além disso, ao cessar as negociações que estavam vigentes sobre o apoio financeiro e militar, o governo se isolou no continente, da mesma forma que a Argentina.
A demora na declaração de guerra ao Eixo, só em 1943, explica-se pela possibilidade de uma vitória do mesmo, evitando correr o risco de perder um grande parceiro comercial. Pelo menos até a entrada dos EUA na guerra, o governo chileno não era o único a pensar que o conflito teria terminado com a vitória ítalo-alemã na Europa e, acima de tudo, a guerra não seria prorrogada para além 1941 ou 1942. Com Pearl Harbor, houve a mudança drástica no teatro de guerra, impondo uma nova consideração das forças no terreno, fato que o governo chileno não observou perfeitamente. Santiago se recusou a aceitar a ideia de ter de se render aos EUA, mesmo que fizesse parte da esfera de influência do país. O Chile não aceitou, então, que a política externa se alterasse por pressões político-econômicas e continuou insistindo no plano global por uma posição autônoma e independente que não pode ser danificada por qualquer país em guerra ou, melhor ainda, ter lucros em ambos os lados (NOCERA, 2005).

3 AS RELAÇÕES ENTRE MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

A situação mexicana na primeira metade do século XX era bastante complexa. Durante o governo de Porfírio Diaz, que durou 30 anos, até 1911, diversas empresas dos Estados Unidos adquiriram terras mexicanas, cerca de 100 milhões de acres e havia ainda um rancor na década de 1930 (O'BRIEN, 2007, p. 117). A derrubada de Porfírio Diaz e os governos que existiram depois tornaram mais complexas as relações com os Estados Unidos, apesar delas terem sido mantidas, pela própria existência de novos grupos sociais e organizações que não se tinha previamente (O'BRIEN, 2007, p. 122). Em 1938, uma onda de nacionalismos econômicos atingiu países na América Latina, como o Brasil de Vargas e no governo de Cárdenas (1934-1940), que nacionalizou as empresas de petróleo do Reino Unido e dos EUA que estavam no país e reforma agrária (O'BRIEN, 2007, pp. 134-135; NIBLO, 1995, p. 16). A nacionalização por parte do México nasce com base das demandas por maiores salários e ampliação de funcionários sindicalizados e, apesar dos protestos das firmas americanas, foi negociado que elas receberiam parte do dinheiro que pediram e garantias de que poderiam realizar novos investimentos no México (O'BRIEN, 2007, p. 139). O governo de Cárdenas também incluiu reformas trabalhistas e impulsionou a criação e participação dos sindicatos nas negociações (NIBLO, 1995, p. 43). A expansão nazista na Europa melhorou as relações entre os dois países e, no final de 1939, o México já recebia favoritismos na compra de armamentos dos EUA, comprando 30 aeronaves de reconhecimento, 30 bombardeiros e outros 30 caças com o preço semelhante ao pago pelas Forças Armadas dos EUA (NIBLO, 1995, p. 48).
Na década de 40, no governo de Ávila Camacho (1940-1946) e de Miguel Alemán Valdés (1946-1952), o México encontrava-se num período em que o governo buscava a rápida industrialização do país, acreditando que resolveria todos as questões de desenvolvimento nacional (NIBLO, 1995, p. 4). Apesar do consenso quanto à necessidade da industrialização, existiam divergências quanto ao modo como ela seria atingida, principalmente após a Segunda Guerra. Empecilhos não eram poucos: tais como o sistema de taxação herdado da Espanha, a disparidade imensa de classes no campo, uma burguesia sem ação. Todos esses elementos contribuíram para a ação dos vizinhos, principalmente dos Estado Unidos, realizassem investimentos sem muito planejamento por parte dos mexicanos e prejudicou o desenvolvimento de uma indústria exportadora no país (NIBLO, 1995, p. 5). A política de boa vizinhança de Roosevelt oferecia uma excelente margem de manobra para o México encontrar um caminho para a industrialização. Entre 1941 e 1945, o número de trabalhadores em manufaturas no México cresceu em torno de 50% (O'BRIEN, 2007, p. 182). Camacho e Aléman Valdés abandonaram boa parte das preocupações sociais de Cárdenas, e focaram no crescimento concentrado e abandonando a reforma agrária, focando na acumulação nas mãos de poucos (NIBLO, 1995, p. 22). Em 1940, Camacho estabelece o plano sexenal, que listava seis pontos para a política externa do país, sendo eles:
a) autonomía nacional; b) relaciones amistosas internacionales; c) no preferencias extranjeras; d) conocimiento del gobierno sobre la vida social y necesidades del pueblo; e) creación de tratados comerciales para favorecer al mercado mexicano y f) colaboración y cooperación en pro de la paz. (GRACIA HERNÁNDEZ; RAMOS GUERRA, 2012)
Assim, a aproximação entre México e EUA durante a Segunda Guerra também foi a alternativa pensada pelo governo mexicano para resolver o impasse colocado pela retração das economias e também permitiu uma certa barganha por parte do México na arena internacional, também pelo medo dos EUA de que o México se aproximasse do Eixo, dadas as antigas disputas (FLORES apud GRACIA HERNÁNDEZ; RAMOS GUERRA, 2012; NIBLO, 1995, p. 65). A guerra havia deixado o México com alta inflação, grande concentração de renda e perda de poder aquisitivo. O acordo econômico firmado entre Estados Unidos e México durante a guerra para a venda de matéria prima mexicana aos EUA previa compras de ambos os lados. Todavia, devido aos problemas de guerra e de moeda, o México teve que recorrer a métodos alternativos e complexos de pagamento, que acabaram criando fortes vínculos entre a economia estadunidense e a mexicana (NIBLO, 1995).
No âmbito militar duas situações são de destaque: o desenvolvimento da Força Aérea Expedicionária Mexicana e a cooperação entre militares dos dois países. Em 1941, mais jovens de origem mexicana nascidos nos EUA se alistaram do que de qualquer outra minoria, cerca de 500 mil, e as Forças Armadas ofereceram a oportunidade de ascensão social que não era vista em outras áreas de trabalho, que muitas vezes se recusavam a contratar mexicanos (CASTILLO, 2008, pp. 20 e 49-50). Depois de 1942, quando o México declara guerra ao Eixo, após o naufrágio de navios petroleiros mexicanos por um submarino alemão, não só é criado o serviço militar obrigatório, mas diversos cidadãos também cruzaram a fronteira também para se alistar após Camacho assinar um tratado permitindo tal ação. Do mesmo modo, as mulheres mexicanas, vivendo nos EUA e no México começaram a trabalhar em fábricas e a desenvolver uma consciência política e independência econômica (CASTILLO, 2008, p. 62). Quanto às Forças Armadas, é preciso destacar a Força Aéra Expedicionária, criada em 1944. Em comparação aos outros braços das Forças Armadas, a Força Aérea foi a mais desenvolvida no período. A Marinha mexicana era composta por apenas 1.400 homens e três navios de guerra. A Força Aérea Expedicionária foi representada pelo Esquadrão 201, que foi enviado para as Filipinas em 1945 (NIBLO, 1995, p. 95-98). Em 1942, foi criada a Joint Mexican-United States Defence Commission, entre os dois países e serviu como diretriz para o desenvolvimento tecnológico e cooperação militar entre os dois países, com destaque para o treinamento de pilotos mexicanos nos Estados Unidos. Após a guerra, a modernização e profissionalização militar mexicana continuará em pauta e definiu-se que seria reorganizado nos moldes das Forças Armadas dos EUA (TURBIVILLE, 2010; NIBLO, 1995, pp. 99-100).
A pouca atenção após a guerra foi feita deliberadamente, com base na posição de dominação dos EUA frente ao México e à região da América Latina, em geral (NIBLO, 1995, p. xiii). Em 1945, o governo dos EUA pediu a redução de barreiras tarifárias, aumento das exportações estadunidenses e da participação do país na indústria mineradora mexicana, pressionando pelo retorno ao liberalismo econômico entre México e Estados Unidos anterior ao período da Revolução Mexicana (O'BRIEN, 2007, p. 181). Ainda assim, o México conseguiu se inserir, durante a Segunda Guerra Mundial, no modelo de substituição de importações, aumentar as suas exportações e o investimento estrangeiro, num processo de desenvolvimento que irá perdurar por 30 anos (NIBLO, 1995; GRACIA HERNÁNDEZ; RAMOS GUERRA, 2012).
O principal impacto social que afetou o México, e também os Estado Unidos, foi o despertar da comunidade mexicana nos EUA como movimento por direitos civis. O número de imigrantes mexicanos não era pouco, entre os anos de 1910 e 1920, cerca de 250mil pessoas cruzaram para os Estados Unidos e em 1937, cerca de 2,5 milhões de mexicanos moravam na nação vizinha (O'BRIEN, 2007, p.199). A participação na luta armada e no esforço de guerra em geral, com empregos em fábricas que pagavam o mesmo que para os anglo-americanos atraíram diversos mexicanos ao país (O'BRIEN, 2007, p. 199; CASTILLO, 2008). Além disso, segundo Castillo (2008, p. 2), a nação estadounidense "acordou" para a existência dos mexicanos como parte da sociedade, assim como dos negros, e se iniciou um processo de criação de políticas para responder a essa minoria que sofria com o racismo institucionalizado. Outra interessante consequência foi o aumento do turismo estadunidense para o México, com apoio das elites mexicanas para desenvolver um ar "exótico" à sua cultura tradicional e gerava lucros iniciais de maneira mais fácil que o investimento industrial (O'BRIEN, 2007, p. 260).

Conclusão
Na nova era de liberalismo econômico e livre mercado, a continuidade dos nacionalismos econômicos no continente latinoamericano era uma das principais preocupações dos Estados Unidos na Guerra Fria, junto com o comunismo: ambos eram anticamericanos (O'BRIEN, 2007, p. 181). Isso explica o esforço estadunidense para enfraquecer governos que estavam seguindo por esse caminho e as medidas drásticas por vezes tomadas. Apesar da pouca atenção que era dada ao continente, de modo geral, a América Latina recebeu enormes quantidades de Investimento Externo Direto dos EUA após 1945, chegando a 8 bilhões de dólares em 1960 (O'BRIEN, 2007, p. 194).
No Chile, a continuidade das parcerias estratégicas resulta em um desenvolvimento econômico, aliado à ascensão dos movimentos de esquerda e relativo medo estadunidense da expansão do comunismo pela América Latina, trazendo os governos militares ao poder. Com apoio do programa estadunidense, Aliança para o Progresso, enraizaram-se as bases para o que viria a ser o período mais obscuro do Chile. A ditadura do General Pinochet (1973) pode ser explicada a partir das dinâmicas advindas do fim da Segunda Guerra, criando um ambiente favorável para que a instauração do regime fosse possível.
O México inaugura um novo período nas suas relações exteriores após a Segunda Guerra Mundial, amplamente interligado aos Estados Unidos. Cria-se uma dependência de desenvolvimento econômico e de modo de pensar o próprio modelo de desenvolvimento dos Estados Unidos, também na área militar. Como resultado e também aprofundamento dessas relações na década de 70 e 80, teremos uma nação que cada vez mais parece não conseguir uma evolução autônoma ou voz própria no cenário internacional.
A Argentina, por sua vez, tem suas relações políticas e econômicas com os Estados Unidos modificadas no pós- Segunda Guerra Mundial. A assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) de 1947, que regulamentava a atuação do capital estrangeiro no país, e os acordos sobre a questão petrolífera são exemplos disso, apesar de não significarem o esmorecimento do programa peronista que garantia autonomia e poder de barganha à Argentina, fato que de certa forma desagradava os Estados Unidos. A partir da década de 50, houve um aprofundamento da dependência econômica argentina em relação aos Estados Unidos e, ao longo da Guerra Fria, o governo argentino se viu imerso na órbita capitalista, liderada pelos norte-americanos. Assim, mesmo que desejosa por poder escolher seus parceiros comerciais e políticos em troca de apoio militar aos Estados Unidos, a Argentina tornou-se fortemente dependente das políticas norte-americana. Sob a alegação de existirem forças esquerdistas no continente, os Estados Unidos reconheceram e deram apoio ao governo militar instaurado na Argentina, na década de 60.

REFERÊNCIAS

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RIVAS-RODRÍGUEZ, Maggie; ZAMORA, Emilio. Beyond the Latino World War II hero: the social and political legacy of a generation. Austin: University of Texas Press, 2009.
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