2015 - Um cadáver? Oui, mon ami (Revista Época, 6.7.2015)

July 9, 2017 | Autor: Jean Pierre Chauvin | Categoria: Agatha Christie, Romance policial, Sophie Hannah
Share Embed


Descrição do Produto

M E N T E A B E R TA

herdeira Sophie Hannah em sua casa, em Cambridge, na Inglaterra. “Quanto mais incomum o crime, melhor”

Um cadáver? Oui, mon ami A inglesa Sophie Hannah ressuscitou o detetive belga Hercule Poirot e concorre ao título de herdeira de Agatha Christie Ruan de Sousa Gabriel

Q

uando Agatha Christie (18901976) publicou Cai o pano, em 1975, uma legião de fãs lamentou a morte do cerebral detetive belga Hercule Poirot. A Rainha do Crime morreu no ano seguinte. Em 2014, Poirot ressuscitou pela pena de outra escritora inglesa: Sophie Hannah. No romance Os crimes do monograma (Nova Fronteira, 288 páginas, R$ 29,90), o detetive usa o intelecto para desvendar um assassinato triplo em um hotel de luxo em Londres. Quando ergueu o pano que, há décadas, cobria o corpo de Poirot, Sophie Hannah já havia publicado poemas que arrancaram elogios da crítica. Seus romances policiais, protagonizados pelo casal de detetives Simon Waterhouse e Charlie 78 I época I 6 de julho de 2015

Zailer (sim, Charlie é uma mulher), justificavam as comparações com Agatha. Os crimes do monograma veio à luz graças à ousadia de Peter Straus, o agente literário de Sophie Hannah. Num almoço com o editor dos livros de Agatha, Straus sugeriu que sua cliente seria a pessoa perfeita para trazer Poirot de volta à ativa. Os herdeiros aprovaram a ideia. Tito Prates, coordenador do fã-clube brasileiro de Agatha e autor deViagem à terra da Rainha do Crime, chama Os crimes do monograma de “o mais gótico dos casos do Poirot”. O livro é sombrio, conta crimes macabros e um cemitério serve de cenário para algumas cenas. Bem ao gosto de Sophie Hannah, cujos thrillers psicológicos sempre começam

com personagens devastados por circunstâncias sinistras e inexplicáveis. A trama é narrada em primeira pessoa por Edward Catchpool, um jovem policial da Scotland Yard que recorre a Poirot. Catchpool substitui o Capitão Hastings, o fiel escudeiro do detetive belga, e, ao narrar a história, exime a escritora da árdua tarefa de imitar o estilo de Agatha (mas, oui, mon ami, imita o delicioso sotaque francês do detetive). Outra solução adotada para dar verossimilhança ao romance foi situá-lo em 1929 – Agatha não publicou nenhuma aventura de Poirot entre 1928 e 1932. As comparações entre o Poirot de Agatha e o Poirot de Sophie Hannah são inevitáveis. Tito Prates diz que alguns fãs Foto: David Sandison/Eyevine

mais puristas consideraram Os crimes do monograma “um sacrilégio” e querem distância do livro. “Sophie Hannah quis ser tão fiel ao Poirot que, às vezes, exagerou”, afirma. Jean Pierre Chauvin, professor da Universidade de São Paulo (USP), diz que a ressurreição de Poirot é um milagre que beneficia ambas: “Agatha ganhou pelo resgate de sua obra e Sophie Hannah se firmou como uma nova voz que dialoga com o passado”. Convidada pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Sophie Hannah aproveitou a vinda ao Brasil para lançar A vítima perfeita (Rocco, 432 páginas, R$ 39,50), um livro que é só seu e conta a história de Naomi, uma mulher independente que constrói relógios de sol decorados com frases em latim. Quando seu amante Robert desaparece, ela convence os detetives Simon e Charlie a procurá-lo. Inventa que Robert a havia estuprado. Um estranho a violentara anos antes, mas ela manteve a história em segredo e só revelou os detalhes terríveis aos policiais quando percebeu que eles não levaram sua denúncia de desaparecimento a sério. Metade dos capítulos é narrada pela própria Naomi, em discursos dirigidos a seu amante sumido. Os outros capítulos acompanham a investigação do genial Simon e da problemática Charlie. “É importante para mim que o livro seja um desafio para o leitor, que ele não consiga adivinhar o que vai acontecer até o final. Quanto mais incomum é o crime, mais interessante”, disse Sophie Hannah a ÉPOCA. Os crimes narrados pela nova dama do romance policial não são cometidos por vingança ou dinheiro, mas por motivos obscuros em circunstâncias muito específicas. Chauvin afirma que os thrillers psicológicos de Sophie Hannah resgatam a densidade de autores como Ruth Rendell (1930-2015), outra inglesa que já foi declarada herdeira de Agatha Christie. Sophie Hannah quer entreter seus leitores e também ensiná-los sobre a mente humana e seus transtornos. “Você nunca conhece alguém de verdade até conhecer seu lado sombrio. Eu escrevo histórias sobre esse lado sombrio, que é muito mais interessante”, afirma. Os velhos fãs de Poirot e os novos de Simon e Charlie concordam.  u

Jairo Bouer

Casamento e paternidade: inimigos do peso D

ois novos estudos divulgados nas últimas semanas parecem reforçar a tradição popular: casar engorda! Além disso, homens que se tornam pais parecem carregar os quilos acumulados em sua barriga sem muita preocupação. No primeiro trabalho, pesquisadores do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, na Alemanha, e da Universidade da Basileia, na Suíça, analisaram dados de mais de 10 mil homens e mulheres de nove países europeus. Eles perceberam que os casados, apesar de se alimentarem melhor (em termos nutricionais), têm índices de massa corporal (IMC) mais elevados e fazem menos atividade física do que os solteiros. Os resultados foram publicados no periódico Social Science and Medicine e noticiados pelo jornal britânico Daily Mail. Há muito tempo considera-se que o casamento é um fator de proteção à saúde. Casados tendem a viver mais e melhor. Mas o novo estudo revela que essa máxima pode não ser totalmente verdadeira. Um IMC (que é um indicador de sobrepeso e obesidade) mais elevado, associado ao sedentarismo, aumenta o risco de problemas como diabetes, hipertensão, infartos e derrames. Os dados mostram que homens e mulheres casados ganham, em média, 2 quilos a mais que os solteiros. Apesar de pequena, a diferença pode pesar em sua saúde. O outro trabalho, divulgado pelo jornal The New York Times, é a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição,

que avaliou 5 mil homens e mulheres nos Estados Unidos. Os resultados mostram que a paternidade acrescenta mais peso à vida dos casados. Homens que se tornam pais têm, em média, 5 quilos a mais e 5 centímetros adicionais em sua cintura. O curioso é que, apesar de mais “cheinhos”, os casados têm índices de satisfação com o corpo semelhantes aos dos solteiros, ou seja, eles se importam pouco com esse peso extra. Segundo os pesquisadores, essa satisfação corporal pode ter relação com uma expectativa mais baixa em relação ao que seria o ideal. Em média, casados se conformam com 2 quilos a mais que os solteiros. Mais: 70% não fizeram nada no ano anterior para tentar perder peso. Como o peso de casados e solteiros era parecido antes do casamento e como o “corpo de papai” aumenta com o tempo (descontando o fator idade), os pesquisadores supõem que algo acontece no casamento que faz com que os homens se desliguem dessa preocupação. Falta de tempo, necessidade de ganhar mais para sustentar a família, acomodação, segurança de já ter encontrado uma parceira fixa são algumas das apostas. Quer arriscar outra? Será que as esposas se importam com esses quilos a mais? Ou até acham sexy a “barriguinha” do parceiro? u Jairo Bouer é médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde. E-mail: [email protected] 6 de julho de 2015 I época I 79

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.