2016 - Análise das finalização da Seleção Brasileira de Futebol nos Jogos Olímpicos Rio 2016.pdf

May 25, 2017 | Autor: M. De Oliveira Pi... | Categoria: Football (soccer), Soccer (Sport Physical Education Exercise Science), I Like Football
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Universidade de São Paulo – Escola de Educação Física e Esporte

Moisés de Oliveira Pinheiro

Análise das finalizações da Seleção Brasileira de Futebol nos Jogos Olímpicos Rio 2016

São Paulo 2016

MOISÉS DE OLIVEIRA PINHEIRO

Análise finalizações da Seleção Brasileira de Futebol nos Jogos Olímpicos Rio 2016

Trabalho apresentado a Escola de Educação Física e Esporte para compor a nota final da disciplina Monografia em Esporte III

Área de concentração: Analise de Jogo; Futebol

Orientador: Prof. Dr. José Alberto Aguilar Cortez

São Paulo 2016

RESUMO

Não é a todo o momento que um país recebe um evento grandioso como os Jogos Olímpicos. Entretanto no ano de 2016 a cidade do Rio de Janeiro foi à sede desse evento mundial. Essa parecia ser uma oportunidade para a seleção brasileira de futebol enfim conquistar a medalha de ouro. Desta forma esse time é alvo de investigação do presente trabalho, pois aquilo que ela realizasse em campo pode ser útil para balizar futuras sessões de treino. Suportada pela visão sistêmica do jogo de futebol a pesquisa teve como objetivo analisar as sequências ofensivas da seleção brasileira olímpica que terminaram em finalização. Assim nesse trabalhou foi utilizado o software SoccerEye para registro das ações dos jogadores, a partir do momento em que se deu o Inicio da Fase Ofensiva até a finalização a gol. Com isso os seis jogos do Brasil na competição foram analisados e 112 sequencias ofensivas registradas. Observou-se que o Brasil iniciou 43,75% das suas fases ofensivas nas zonas 2 e 5 do campo. A linha média foi responsável por iniciar 41,9% dos ataques. E 98% das finalizações aconteceram nas zonas 8 e 11 em situação de inferioridade numérica. Esses dados pertencem a seleção brasileira de futebol, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016

Agradecimentos Ao Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais pelo amor incondicional de que são capazes.

A minha irmã pela amizade de anos e minha sobrinha por ser fonte de alegria.

Aos contribuintes paulistas por manterem a Universidade de São Paulo e seus funcionários que me trataram como um filho nesses anos. À Escola de Educação Física e Esporte e sua dedicação na transmissão de conhecimento. Ao Professor Doutor José Alberto Aguilar Cortez, por ministrar as aulas de Futebol. Ao Renê Drezner pela co-orientação.

Ao Daniel Barreira e João Machado por disponibilizarem o Software SoccerEye e ensinar como utiliza-lo. Aos amigos das republicas pelas emoções divididas e companheirismo por toda a vida. Ao time de futebol de campo pelas conquistas coletivas e experiências trocadas. A amiga Débora pela revisão de última hora.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.

Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota.

Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.” Sun Tzu

SUMÁRIO 1. Introdução...........................................................................................................6 2. O Futebol Enquanto Sistema Dinâmico...........................................................9 3. Análise do Jogo de Futebol................................................................................12 3.1 Estudos que analisaram o jogo de futebol utilizando o SoccerEye..........15 4. Metodologia........................................................................................................17 5. Resultados .........................................................................................................19 5.1 Análise do Inicio da Fase Ofensiva............................................................19 5.2 Análise do final da fase ofensiva................................................................23 6. Discussão............................................................................................................25 7. Referências.........................................................................................................28 8. Anexo..................................................................................................................30

1 Introdução No ano de 2016, o maior evento esportivo da humanidade – os Jogos Olímpicos -

tiveram como sede a cidade do Rio de Janeiro, localizada no Brasil. O país sede é reconhecido

mundialmente pelos seus cinco títulos mundiais no futebol. Entretanto a seleção mais

vitoriosa iniciaria os jogos sem contar com uma medalha de ouro no futebol. E dado que dois

anos antes o Brasil sediou a Copa do Mundo de futebol e sofreu uma derrota contundente nas semifinais, o que fez com que o país pentacampeão do mundo perdesse parte do seu crédito

futebolístico. Assim, conquistar a medalha de ouro no futebol ajudaria a reverter esse cenário de descrédito. Entretanto, após finalizar os jogos com medalha de ouro ou não, surge a

questão sobre o que existe de bom na maneira de jogar dessa equipe que pode ser aproveitado para orientar sessões de treino Brasil a fora?

Uma questão que para ser respondida é necessário antes compreender o jogo de

futebol através da visão sistêmica. Essa teoria científica tem como mantra: “O todo é maior que a soma das partes”. Tomemos como exemplo o funcionamento do corpo humano; o coração é de grande importância para a manutenção da vida, mas se restringirmos o funcionamento do corpo humano à função desempenhada pelo coração estaremos longe de entender o que é a vida, assim, é indispensável considerar a função cardíaca juntamente com a

dos demais órgãos. Com um time de futebol não é diferente, pois não podemos restringir sua

capacidade de obter sucesso observando apenas o jogador que marca mais gols, é preciso voltar os olhos para toda a interação da equipe com os adversários para assim compreender a eficácia de tal jogador em particular. É senso comum que o futebol é o esporte mais popular no planeta devido à dificuldade em antecipar quem sairá vencedor do confronto quando

comparado aos outros esportes. No futebol, uma equipe considerada inferior pode surpreender

um adversário considerado mais forte. Grande parte dos brasileiros é exposta desde tenra

idade a jogos de futebol, seja na TV, nos campos de várzea ou nos estádios de equipes

profissionais. Fato é que antes de aprender a falar já acompanhamos partidas de futebol, e para muitos esse esporte toma parte da vida de tal forma que acabamos nos credenciando em

“experts” em opinar sobre futebol. Capazes de antecipar o que o atleta deve fazer em campo

para ser bem sucedido na sua ação, criticamos aquele chute de dentro da área que vai para

fora e nos perguntamos: “Como pode dar um chute desses se só faz isso?” Até pressentimos o bom momento do time em uma partida. Assim a maioria carrega o seu entendimento sobre futebol construído empiricamente. Entretanto com o advento tecnológico torna-se cada vez

mais evidente a necessidade de uma maior congruência entre ciência e jogo, a fim de diminuir os prejuízos provenientes do “achismo” que permeia o cenário futebolístico.

Após compreender o que a visão sistêmica tem a dizer, são necessárias ferramentas

para responder a questão levantada. Segundo Carling, Williams e Reilly (pg. 2, 2005) a análise de jogo é “o registro e a análise dos eventos comportamentais que ocorrem durante a

partida.” Ela se apresenta como um método eficaz para identificar a forma de jogar de uma

equipe, e assim reduzir o “achismo” do jogo, pois o debate sobre desempenho e rendimento

está embasado em dados coletados quantitativamente. Porém, tomar os números sem colocá-

los em um contexto qualitativo, é considera-los apenas como informação. Por exemplo, um time de futebol conta com alguém que todo jogo faz um levantamento dos passes certos e errados do time e o número de finalizações. No final da partida o placar apresenta um empate

em dois a dois e os dados coletados informam que a equipe acertou 80% dos seus passes e

finalizou 17 vezes no gol. Qual a relevância destas informações para a comissão técnica

elaborar as próximas sessões de treino ou qual jogador substituir no time? Pois são informações que desconsideram a dinâmica espaço-temporal e as inter-relações entre os

jogadores de uma mesma equipe e os adversários. Os dados para a análise de uma partida teriam muito mais significado se tomar em conta a relação espaço-temporal e o posicionamento dos intervenientes do jogo no momento da sua execução.

Diversos pesquisadores tomaram conhecimento desta forma de analisar o jogo de

futebol e trabalhos na área de análise do jogo de têm surgido, com a finalidade de melhor

explicar os acontecimentos da partida. Entre esses estudos destacam-se os trabalhos realizados na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, as dissertações de mestrado de Seabra (2010) e Drezner (2014). O primeiro buscou no seu trabalho criar uma

metodologia que viabilizasse a análise da circulação da bola através de uma visão que abrange

a organização ofensiva de uma equipe relacionada com sua oposição. Já Drezner (2014) elaborou um sistema de análise do futebol fundamentado em um modelo dinâmico de caracterização do jogo. Outros trabalhos que também inovaram a perspectiva da análise do

jogo de futebol foram desenvolvidos na Universidade do Porto por Machado (2012) e Barreira (2013). O primeiro, em sua dissertação de mestrado buscou caracterizar e comparar padrões

ofensivos das equipes semifinalistas da Copa do Mundo 2010, registrando os comportamentos da equipe por meio de critérios que não dispensam o entendimento sistêmico do jogo. Trabalho congruente ao desenvolvido por Barreira (2013) que desenvolveu um modelo de

observação da fase ofensiva chamado SoccerEye, a fim de questionar o rumo da evolução da dinâmica tática no futebol de elite.

Desta forma, por meio do entendimento sistêmico do futebol e utilizando da análise de

jogo este presente trabalho teve o objetivo de identificar parâmetros que consigam caracterizar aspectos relevantes da forma de jogar da seleção olímpica do Brasil através da análise das posses de bola que resultaram em finalização durante os jogos.

2 O Futebol Enquanto Sistema Dinâmico É importante começar esse capítulo citando Bertalanffy (1973, p. 83): “O significado

da expressão um tanto mística ‘o todo é mais que a soma das partes’ consiste simplesmente em que as características constitutivas não são explicáveis a partir das características das

partes isoladas.” Disso podemos entender que o funcionamento do corpo humano não pode ser explicado pelo que se conhece do rim, que o funcionamento de um carro não se resume ao

motor, o computador não é apenas a placa mãe e um avião é muito mais que a turbina. Assim, o futebol não se resume ao gol, um exercício para desconstruir tal mito seria tentar enumerar

todas as partes que constituem uma equipe. Conforme a tecnologia evolui, fica evidente que seria de grande ignorância não buscar compreender o jogo de futebol através da ótica

cientifica moderna. Assim, esse capítulo tem como esforço relacionar a Teoria Sistêmica com o futebol.

A modalidade esportiva futebol é caracterizada pela imprevisibilidade de ocorrências,

pois é considerado apenas o que ocorre dentro das quatro linhas; são vinte e dois jogadores

disputando quem marca mais gols com uma bola, utilizando-se apenas dos pés (exceto goleiro) durante noventa minutos e supervisionados por árbitros que visam garantir o

cumprimento das regras do jogo. Dessa combinação resulta um imenso grau de complexidade e inúmeras possibilidades de interações dinâmicas entre os participantes. Da relação de

oposição entre as duas equipes emergem as restrições espaço temporais que geram

instabilidade e perturbam suas organizações coletivas, levando à necessidade ininterrupta de adaptação às condições ambientais, diante da imprevisibilidade da evolução das configurações

de jogo. Assim, a partida formal de futebol pode ser caracterizada como sistema aberto,

dinâmico, complexo e não linear, onde duas equipes disputam em um campo de múltiplas possibilidades de conexões. (SEABRA, 2010; PIVETTI, 2012; DREZNER, 2014).

Então o jogo de futebol é um Sistema aberto que pode ser definido como “um sistema

em troca de matéria com seu ambiente, apresentando importação e exportação, construção e

demolição dos materiais que o compõem.” (BERTALANFFY, p. 193; 1973) Essa é uma

característica dos sistemas vivos, e sendo o futebol uma manifestação viva onde duas equipes compostas por diferentes indivíduos disputam a vitória, a posse de bola e sua consequente finalização à meta, dispondo para isso estratégias e táticas construídas nas sessões de treino.

O futebol é um sistema dinâmico, de acordo com Drezner (2014), os sistemas dinâmicos passam por alterações espaço-temporais que formam fases ou estados do sistema. Na partida

de futebol quando um time tem a posse da bola ele está em fase ofensiva, pois ele tem a oportunidade de finalizar a gol. Já a equipe sem a bola esta em fase defensiva, pois tem que

evitar que o adversário finalize a gol. (Figura 1). O futebol é um Sistema Complexo conforme Bertalanffy (1973) esse tipo de sistema apresenta interação, competição, soma, etc; entre os

componentes da partida de futebol o jogador quando percebe a bola vindo em sua direção tem

segundos ou centésimos para decidir o que vai fazer com ela, se considerarmos os fundamentos que ele tem a disposição, terá que escolher entre recepcionar, passar, cabecear, driblar, etc. e enquanto decide ele terá que estar atento a movimentação de seus companheiros

e adversários. O futebol é não linear, de acordo com Drezner (2014) os sistemas dinâmicos não lineares são indetermináveis devido à ausência de sequencias estáveis entre os estados. No jogo de futebol grande parte da sua imprevisibilidade está na alternância entre os estados defesa-ataque e ataque-defesa, as denominadas transições.

Figura 1 - Modelo de Organização do Jogo de futebol (adaptado de Barreira, 2007).

Ao caracterizar o jogo de futebol a partir da Teoria Geral dos Sistemas Dinâmicos,

esse ramo teórico pode contribuir na busca de um melhor entendimento tático desse esporte,

pois os sistemas dinâmicos - assim como o futebol - apresentam graus de liberdade que variam ao longo do tempo e espaço. Entretanto esses sistemas formam relações ordenadas e

estáveis entre os vários graus de liberdade, porque os estados coordenados surgem

espontaneamente através de processos de auto-organização. Considerando que uma das grandes dificuldades das equipes de futebol é manter o nível ótimo de rendimento, a leitura da ecologia dinâmica auxilia na tentativa de identificar o aparecimento de padrões estáveis,

variabilidade e quebra de estabilidade no desempenho do time. Os estudos que relacionam os

sistemas dinâmicos e a análise de padrões de coordenação ataque-defesa contribuem ao

futebol na medida em que, capturando o aparecimento e desaparecimento de padrões ofensivos e defensivos de jogo permitem interpretar o contexto espaço-temporal de

ocorrência, em busca de eficiência para um melhor desempenho esportivo. Pois os princípios da dinâmica de sistemas auxiliam na interpretação de como os desempenhos de sucesso da

equipe podem emergir a partir de diversas possibilidades de padrões táticos. (SARMENTO et al., 2009; GLAZIER, 2010; VILAR et al., 2012; DREZNER, 2014)

Contudo, um grande problema para os investigadores de futebol é lançar luz sobre o

modo dos times gerirem os diferentes comportamentos da equipe, pois é de grande importância a uma comissão técnica ter conhecimento dos padrões que induzem performances

esportivas eficientes. Assim, é necessário compreender a globalidade dos eventos táticos

eficientes de um time de futebol sem negligenciar a expressividade individual e local dos atletas. Desde que a ciência passou a ser aplicada no futebol para a resolução de problemas, os

dados científicos tornaram uma ferramenta útil nas mãos de pesquisadores do esporte, afim de uma melhor compreensão do jogo. Para isso uma análise sustentada por métodos científicos que contemple as variáveis situacionais, o local de realização da ação, o resultado

momentâneo do jogo, a forma da oposição e o tempo decorrido na partida, possibilita

reconhecer os padrões eficazes do time. Porque apesar da partida de futebol apresentar

quebras de simetrias ou transições abruptas, que duram instantes de segundos e podem definir o resultado de uma partida; é possível reconhecer sequencias lógicas no campo de jogo.

Somente sustentados na identificação de padrões comportamentais de maior ocorrência, os exercícios de treinamento poderão ter sentido concreto, pois a sessão de treino estará balizada

com a dinâmica observada nas competições, e os atletas estarão mais preparados para os momentos iniciais da perda ou recuperação da posse de bola (transição defesa-ataque ou

ataque-defesa). Consequentemente viabiliza-se a correção de padrões que danificam a lógica

do time e a manutenção dos padrões eficientes que aparecem nas fases e momentos do jogo.

(SARMENTO, et al., 2009; GLAZIER, 2010; VILAR et al. 2012; SEABRA, 2010; DREZNER, 2014; FONSECA; NAVARRO, 2015)

Cabe sublinhar que o jogo de futebol apresenta algumas especificidades da

modalidade, como, a vantagem da defesa sobre o ataque, pois em uma partida 10% das sequências ofensivas terminam em finalização e apenas 1% em gol. Outra particularidade da

modalidade é que grande parte dos gols são provenientes de ataques curtos após o inicio da fase ofensiva. As bolas paradas são momentos particulares em que o cobrador não sofrerá

pressão do adversário, pois este deverá respeitar uma distância mínima de 9 metros e 15 centímetros. (DREZNER, 2014). 3 Análise do Jogo de Futebol O objetivo desse capítulo é apresentar uma forma de análise do jogo de futebol

congruente com a sua caracterização como sistema dinâmico. O objetivo da análise de jogo de acordo com Carling, Williams e Reilly (pg. 2, 2005) é “o registro e a análise dos eventos comportamentais que ocorrem durante a partida.” Entretanto, de acordo com Drezner (2014),

devido ao caráter dinâmico da partida de futebol, os instrumentos de análise não devem

reduzir a complexidade do fenômeno, ao utilizar o somatório das ações e dos eventos do jogo para descrevê-lo. Assim, os instrumentos necessitam do uso de análises sequenciais ao caracterizar os estados e suas transições. Dessa maneira, para instrumentalizar uma forma de

análise é fundamental simplificar a descrição do jogo, mesmo que acarrete em diminuição da sua complexidade. De acordo com Barreira (2013) a análise sequencial é uma técnica ligada ao método científico Metodologia Observacional. Esta forma de análise implica a

sequencialidade de ocorrências durante a partida de futebol por exemplo, ao simplesmente enumerar os passes certos da equipe sem contextualizar com o que ocorre no jogo se está a desconsiderar as relações espaço temporais que guiaram a ação motora do atleta em campo. Assim, uma análise eficiente considera a dinâmica espaço-temporal das equipes em confronto

no momento da ação do jogador o que gera infinitas possibilidades de posições e interações. Com a finalidade de identificar os comportamentos que emergem nas variadas possibilidades

de interações do jogo de futebol, a metodologia observacional, mais especificamente por meio da análise sequencial, apresenta-se como uma ferramenta eficiente para compreender o acaso

de uma ação no contexto complexo do jogo de futebol. Uma vez que a análise sequencial

viabiliza dar qualidade aos dados quantitativos de uma amostra. (SARMENTO, et al., 2009 ; VILAR et al. 2012; FONSECA; NAVARRO, 2015).

De acordo com as regras do jogo de futebol, a partida é disputada entre duas equipes

de onze jogadores, durante noventa minutos em um terreno de no máximo 120 metros e um

mínimo de 90 metros de comprimento. Destas definições pode-se depreender a complexidade da tarefa de qualificar as informações quantitativas provenientes das interações entre os jogadores, pois em questão de segundos a dinâmica espacial do jogo muda rapidamente,

muitas vezes rápido de mais para o acompanhamento de um observador, por mais expert que este seja no jogo. Assim devido à imensa quantidade de dados dos comportamentos táticos em

uma partida de futebol, a análise sequencial utiliza programas de computador (software) que

viabilizam o registro das ações dos jogadores em um contexto espaço-temporal que permite qualificar as informações. Desta forma na Universidade do Porto no Departamento de Ciências do Desporto, estudos que investigam a eficácia ofensiva, padrões ofensivos e

padrões de recuperação da posse de bola no futebol de elite têm apresentado resultados que contribuem para a melhor compreensão do jogo de futebol. Os pesquisadores da Universidade

do Porto estão utilizando o software SoccerEye (Figura 2), que é um instrumento que

possibilita identificar a existência de estabilidade nos comportamentos sucessivos por meio da escolha de uma conduta critério, que será registrada e analisada. Suportado pelo Modelo de

Organização do Jogo de futebol (Figura 1), o jogo apresenta duas fases – definidas pela posse da bola: fase ofensiva, quando se tem a posse da bola e fase defensiva, quando se está sem a

posse de bola. E entre as fases há dois momentos de transição: Transição Ataque-Defesa e

Transição Defesa-Ataque, que podem ser Interfase [Indireta (TIDA)] ou Estado [Direta (TEDA)], de acordo com a forma como a posse de bola foi recuperada. Na competição de futebol as equipes vencedoras apresentam ataques mais eficientes, assim, analisar a fase

ofensiva de uma equipe permitirá identificar seus padrões ofensivos eficazes e ineficazes, a fim

de

aprimorá-los

ou

excluí-los

respectivamente.

(MACHADO;

BARREIRA;

GARGANTA, 2011; BARREIRA; GARGANTA; ANGUERA, 2011; MACHADO; BARREIRA; GARGANTA, 2013; BARREIRA et al.; 2015).

2014; FONSECA; NAVARRO,

O instrumento utilizado para a análise sequencial do jogo de futebol conhecido como

SoccerEye reflete os padrões comportamentais que são observados na dinâmica do jogo

durante a fase ofensiva. Este instrumento conta com sete critérios e um total de mais de 80 comportamentos (Tabela 1 – no anexo), cada critério representado por um código de registro: 1. Inicio da Fase Ofensiva;

2. Desenvolvimento da Transição-Estado defesa/ataque;

3. Desenvolvimento da Posse de bola; 4. Final da Fase Ofensiva;

5. Espacialização do Terreno de Jogo; 6. Centro do Jogo;

7. Configuração Espacial de Interação. A planilha de registro está representada na figura 2.

Figura 2 - Interface do Software SoccerEye

Os critérios um, dois, três e quatro figuram os comportamentos executados pelos

atletas durante a fase ofensiva, ao passo que o critério cinco representa uma divisão do campo de jogo em doze zonas (Figura 3). O critério seis – Centro do Jogo – determina as circunstâncias de cooperação e de oposição entre os jogadores que interagem ou estão em

condições de interagir na partida na zona em que a bola se encontra no preciso instante, tomando como referência um circulo de 9,15 metros de diâmetro tendo a bola como centro.

Desta forma o critério Centro do Jogo fundamenta-se na compreensão comportamental dos jogadores. Por fim, o critério sete demonstra o Contexto Espacial de Interação, que figura o

vínculo entre espaço de jogo efetivo e os jogadores que se encontram nele no momento determinado. (MACHADO; BARREIRA; GARGANTA, 2011; BARREIRA; GARGANTA;

ANGUERA, 2011; MACHADO; BARREIRA; GARGANTA, 2013; BARREIRA et al.; 2014).

Figura 3 - Zonas do Campo - Setor defensivo (SD), Setor médio defensivo (SMD); Setor médio ofensivo (SMO) e Setor ofensivo (SO).

3.1 Estudos que analisaram o jogo de futebol utilizando o SoccerEye Um estudo realizado por Barreira, Garganta e Anguera (2011) intitulado In search of

nexus between attacking game-patterns, match status and type of ball recovery, teve como objetivo identificar os padrões de ataque bem sucedidos em relação a forma de recuperação da

posse de bola e o resultado parcial do jogo (vencendo, empatando ou perdendo) das seleções

que atingiram os play-off da EURO 2008. Os métodos de pesquisa incluíram a utilização do SoccerEye, SDIS-GSEQ e análise estatística, em que atingir o valor de z, favorece encontrar a

força das relações entre os comportamentos e sua sequência. Os resultados mostraram que as tentativas de finalização (gol, na meta e para fora) podem ter relação com a recuperação da

posse de bola de forma indireta – isso em decorrência de uma infração do adversário, particularmente chute de falta. Enquanto a recuperação por interceptação associa-se a ataques

rápidos. Os dados sugeriram que os padrões de ataque das seleções bem sucedidas na EURO 2008 foram influenciados pelos resultados parciais da partida. Quando perdendo, os times se

tornam mais ofensivos, atingindo o ponto de negligenciar a organização defensiva. Entretanto, quando estavam à frente no placar davam ênfase em evitar os avanços do ataque adversário

para próximo da meta e usavam dos ataques rápidos para chegar às zonas defensivas do oponente. Os pesquisadores encontraram que essas seleções que estavam em vantagem no

placar tenderam em concentrar o comportamento defensivo nas zonas centrais de defesa,

principalmente no Zona Cinco. As seleções vencedoras aumentavam a marcação agressiva nas zonas centrais, buscando recuperar a bola de forma direta em busca de realizar as transições ataque-defesa.

Outro exemplo é a investigação realizada por Machado, Barreira e Garganta (2011)

que teve como objetivo explicar os comportamentos táticos realizados pela seleção nacional

da Espanha, durante a Copa do mundo 2010, quando se sagrou campeã. O título da pesquisa

foi: Attacking game-patterns in Soccer. A sequential analysis of the World Cup 2010 winner team. Os métodos consistiram de observação por vídeo dos quatro jogos de play-off da Espanha e registros pelo SoccerEye dos ataques positivos, isto é, que foram concluídos com finalização; a análise estatística foi feita pelo software SDIS-GSEQ. Os resultados mostraram

que na maioria das vezes a seleção espanhola atingiu o gol através de jogadas individuais (1x1 ou condução de bola). A maioria das jogadas ofensivas iniciavam nas laterais esquerdas, com

progressão através de jogada individual, a fim de atingir a zona central do oponente e finalizar em gol. Os gols também aconteceram de cobranças de escanteio.

Outro estudo relevante que utilizou a metodologia observacional através de análise

sequencial do jogo de futebol é intitulado: Eficácia ofensiva e variabilidade de padrões de

jogo em futebol. Ele foi realizado por Machado, Barreira e Garganta (2013), teve como objetivo descrever e confrontar os padrões de jogo ofensivo executados pelas quatro seleções

semifinalistas da Copa do Mundo FIFA 2010, os times eram Uruguai, Alemanha, Holanda e

Espanha. Com essa finalidade, os métodos empregados foram registro das sequencias ofensivas realizadas por Espanha, Holanda, Uruguai e Alemanha, da fase de grupos até a final. Pesquisadores utilizaram a ferramenta de observação SoccerEye para registrar as

sequencias ofensivas, e as análises estatísticas foram feitas através de SDIS-GSEQ. Os resultados mostraram que eficácia ofensiva das quatro primeiras colocadas na Copa do Mundo 2010 deve-se à elevada capacidade de variar os estilos de jogo (ataque posicionado,

quando a equipe busca manter a posse de bola até encontrar o melhor momento para atacar ou

contra-ataque a equipe aproveita a desorganização decorrente da perda da posse de bola pelo adversário para ataca-lo com velocidade) durante uma partida.

Outra pesquisa realizada que utilizou os métodos de registro por software SoccerEye e

análise estatística pelo SDIS-GSEQ foi feita por Barreira et al. (2014). Sob o título: Ball

recovery patterns as a performance indicator in elite soccer. E teve como objetivo analisar

ações ofensivas de Alemanha, Holanda, Uruguai e Espanha. Entretanto o indicador de desempenho foram os padrões de recuperação da posse de bola, e consequentemente a caracterização do estilo de ataque de acordo com a fase da competição. Os resultados

mostraram que a recuperação de bola por forma direta - mais especificamente interceptações prevaleceu sobre a indireta. A pesquisa também mostrou que as seleções de maior sucesso que

obtiveram êxito variavam o estilo de jogo que adotavam. Os pesquisadores também evidenciaram que 54% das recuperações de posse de bola por forma direta, acontecem devido a um erro do oponente.

Desta forma a análise de jogo suportado por programas de computador apresentou-se

como um método eficaz para caracterizar o padrão ofensivo de sucesso de equipes de futebol.

E a lógica do Software SoccerEye capaz de auxiliar na busca para atingir o objetivo deste trabalho em caracterizar o comportamento de sucesso da seleção brasileira olímpica.

4 Metodologia Amostra: Composta por cento e doze sequencias de posse de bola que resultaram em

finalização a partir de seis jogos da seleção brasileira nos jogos olímpicos Rio 2016: Fase de grupos:

04/08/2016 – Brasil 0 x 0 África do Sul 07/08/2016 – Brasil 0 x 0 Iraque

10/08/2016 – Dinamarca 0 x 4 Brasil

Fase Final:

13/08/2016 – Brasil 2 x 0 Colômbia 17/08/2016 - Brasil 6 x 0 Honduras

20/08/2016 - Alemanha 1 (4) x (5) 1 Brasil

Tratamento dos dados: Os dados foram registrados através do software SoccerEye,

dentre os registros foi analisada cada ação de cada posse de bola dentro dos sete critérios previamente descritos na revisão de literatura deste trabalho e presentes na tabela 1 - em anexo no trabalho.

A partir destes dados foram selecionados dois eventos para análise: 1. Evento de inicio da posse de bola; 2. Evento de finalização.

De acordo com Barreira (2013) considera-se que a equipe iniciou a fase ofensiva

quando:

1. O atleta executa no mínimo três contatos seguidos com a bola; 2. O atleta realiza um passe positivo; 3. Um jogador faz uma finalização; 4. O goleiro controla a bola;

5. Após uma infração do time adversário.

Foram consideradas 4 tipos de finalização:

1. Finalização não enquadrada com o gol adversário (Frf)

2. Finalização enquadrada com a meta do adversário (Frd) 3. Finalização interceptada (Frad) 4. Gol a favor (Fgl)

No inicio da posse de bola foi analisado a Zona do Campo que ocorreu a recuperação

da posse de bola, Centro do Jogo e Configuração Espacial de Interação, sendo que a

Configuração Espacial de Interação e Centro do Jogo se aplica apenas as recuperações de posse de bola por forma direta/dinâmica, aquelas de forma indireta/ estática não leva em

consideração o Centro do Jogo e a Configuração Espacial de Interação, pois são bolas paradas que exigem 9,15 de distância do adversário em relação a bola. Para organizar a análise foram

realizadas agrupamento de categorias dentro de alguns critérios. Para o critério Zona do

Campo (Figura 3) as zonas foram agrupadas em setores do campo (Gráfico 1). Zonas 1, 2 e 3

formam o Setor Defensivo; Zonas 4, 5 e 6 formam o Setor Médio Defensivo; Zonas 7, 8 e 9

formam o Setor Médio Ofensivo e Zonas 10, 11 e 12 formam o Setor Ofensivo. Outro agrupamento apresentado nos resultados foi em relação ao corredor (gráfico 2). Zonas 1, 4, 7

e 10 formam o Corredor Lateral Direito; Zonas 2, 5, 8 e 11 formam o Corredor Central e as

Zonas 3, 6, 9 e 12 formam o Corredor Lateral Esquerdo. Em relação ao Centro do jogo

(gráfico 3), Superioridade Relativa (equipe em fase ofensiva com um ou dois a mais que o adversário no Centro do Jogo), Superioridade Absoluta (equipe em fase ofensiva com três ou

mais jogadores que o adversário no centro do jogo) foi agrupado em Superioridade. Igualdade Pressionada (de costas para o gol adversário) e Igualdade não pressionada (de frente para o

gol adversário) foi agrupada em Igualdade. Inferioridade Relativa (equipe em fase ofensiva com um ou dois jogadores a menos que o adversário no centro do jogo) e Inferioridade Absoluta (equipe em fase ofensiva com três jogadores a menos no Centro do Jogo) agrupadas

em inferioridade. E o critério Configuração Espacial de Interação (Gráfico 4 e 5) somaram-se as linhas. VAD Bola no goleiro da equipe em fase ofensiva contra linha adiantada do adversário; ATAD bola na linha atrasada da equipe em fase ofensiva contra linha adiantada

do adversário; ATM bola na linha atrasada da equipe em fase ofensiva contra linha media do

adversário, ATE bola na linha atrasada da equipe em fase ofensiva contra zona exterior do adversário, MAD bola na linha média da equipe em fase ofensiva contra a linha adiantada do

adversário, MM bola na linha média da equipe em fase ofensiva contra linha média do

adversário, MAT bola na linha media da equipe em fase ofensiva versus linha atrasada do da

equipe contrária, ADM bola na linha adiantada da equipe em fase ofensiva versus linha

mediada oposição, ADAT bola na linha adiantada da equipe em fase ofensiva contra a linha atrasada do adversário, EAT bola na zona exterior da equipe em fase ofensiva versus linha atrasada do adversário e ADV bola na linha adiantada contra o goleiro da equipe em fase defensiva. Assim ATAD, ATM e ATE foram agrupados em AT; MAD, MM e MAT agrupados em M e ADM, ADAT e EAT agrupados em AT. (BARREIRA, 2013)

A utilização do programa de computador SoccerEye requer o uso do sistema

operacional Windows. Para realizar a análise é necessário o vídeo do jogo. As ações dos jogadores são registradas e posteriormente é gerada uma planilha de dados para o Excel. Assim foram recolhidos os vídeos de transmissão de TV de todos os jogos da seleção brasileira nos jogos olímpicos Rio 2016.

Assim a amostra do estudo consta de seis jogos, que totalizam aproximadamente 540

minutos de jogo de futebol. A fim de caracterizar os comportamentos ofensivos de sucesso do

Brasil, isto é, os lances que foram finalizados em: 1) Remate fora, 2) Remate contra adversário sem continuidade da posse de bola, 3) Remate dentro sem que a bola ultrapasse a linha (defesa do goleiro ou trave) e 4) gol, a observação dos jogos totalizaram 112

finalizações que enquadram nos quatro critérios de jogada ofensiva de sucesso. Assim todas as 112 finalizações foram registradas no software SoccerEye de acordo com os sete critérios

1) Inicio da fase ofensiva; 2) Desenvolvimento da TEDA; 3) Desenvolvimento da posse de bola; 4) Final da fase ofensiva; 5) Espacialização do terreno de jogo; 6) Centro do jogo; 7) Configuração espacial e as 80 categorias exaustivas e mutuamente excludentes. Os dados

gerados pelo registro no SoccerEye foram tratados estatisticamente através da análise das frequências absolutas e percentuais sem utilização de outras medidas. Cabe informar que por não ser considerado o Centro do Jogo e a Configuração Espacial de Interação nos lances de bola parada, esses dados apresentam menos valores que o total de finalizações. 5 Resultados 5.1 Análises do Inicio da Fase Ofensiva Em relação à zona do campo de inicio da fase ofensiva (Tabela 1), os dados

mostraram que a maior parte das recuperações da posse de bola do Brasil aconteceu na Zona cinco, isto é no corredor central do setor médio defensivo (Gráficos 1 e 2). Que, aliás, como podemos observar no gráfico dois a grande maioria das finalizações tiveram seu inicio no

corredor central provenientes de uma recuperação de bola na metade defensiva – 68 no total,

entretanto a seleção brasileira demonstrou pressionar o adversário recuperando 44 bolas na metade defensiva do adversário (Figura 4).

Tabela 1 - Zona de Inicio da fase ofensiva

1 3

2

23

3

4

1

10

5

26

Zona

6 5

7 8

8

16

9 7

50 40

10 3

11 2

12 8

SD

30 20

SMD

SMO

10 0

SD

SMD

SMO

SO

SO

Gráfico 1 - Setor de inicio da fase ofensiva. Setor Defensivo (SD), Setor Medio Defensivo (SMD), Setor Medio Ofensivo (SMO) e Setor Ofensivo (SO).

80 60

CLD

40

CC

20 0

CLE CLD

CC

CLE

Gráfico 2 - Corredor de inicio da fase ofensiva. Corredor Lateral Direito (CLD), Corredor Central (CC) e Corredor Lateral Esquerdo (CLE)

Figura 4 - Quantidade de recuperação da posse de bola por zona do campo

Em relação ao Centro do Jogo (Tabela 2), os registros mostraram que em sua grande

maioria a bola foi recuperada em situações de superioridade numérica em relação ao adversário (Gráfico 3), considerando as especificidades do jogo de futebol citadas na revisão

de literatura deste trabalho, o motivo do time estar em superioridade numérica no momento de defender é um grande fator para que apenas 10% das sequencias ofensivas terminem em finalização e apenas 1% em gol.

Tabela 2 - Centro do jogo do inicio da fase ofensiva

Pr 7

70 60 50 40 30 20 10 0

Pa 2

Centro do Jogo Pi 8

Spi 8

SPr 46

Spa 12

Série1

Inferioridade

Igualdade Superioridade

Gráfico 3 - Relação dos jogadores do Centro do Jogo no Inicio da Fase Ofensiva - aproximadamente um circulo com 9,15 metros de diâmetro ao redor da bola. Inferioridade (menos jogadores que o adversário), Igualdade (mesmo número de jogadores que o adversário) e superioridade (mais jogadores que o adversário)

Em relação à Configuração Espacial de Interação (Tabela 3), o inicio da fase ofensiva

em sua maioria aconteceu do confronto entre as linhas formadas pelos jogadores de meio campo, quando realizado o agrupamento descrito na metodologia esta informação fica mais

evidente (Gráfico 4) apresentando que o meio de campo foi a zona que deu inicio a maior parte das sequencias ofensivas analisadas da seleção brasileira de futebol. E que o oponente do Brasil quando cedeu à posse, a bola ela estava com seu meio campo (Gráfico 5). Vale

ressaltar a quantidade de vezes que a posse de bola teve inicio com o goleiro ou a zona vazia (Gráfico 5) pois isso demonstra a importância de goleiros competentes no início de uma sequencia ofensiva.

Tabela 3 - Configuração Espacial de Interação no momento do inicio da fase ofensiva. VAD (goleiro x linha adiantada);

ATAD (linha atrasada x linha adiantada); ATM (linha atrasada x linha media), ATE (linha atrasada x zona exterior), MAD

(linha média x linha adiantada), MM (linha média x linha média), MAT (linha media x linha atrasada), ADM (linha adiantada x linha media), ADAT

VAD 9

ATAD 13

(linha adiantada x linha atrasada), EAT (zona exterior x linha atrasada) e ADV (linha adiantada x goleiro)

ATM 4

Configuração Espacial de Interação ATE 2

MAD 3

MM 42

MAT

ADM

2

1

ADAT 4

EAT 2

ADV 1

50 40 30

Série1

20 10 0

V

AT

M

AD

Gráfico 4 - Linha do Brasil que recuperou a posse de bola. V (goleiro), AT (atrasada), M (media) e AD (adiantada)

50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0

Série1

AD

M

AT

V

Gráfico 5 - Linha do adversário que perdeu a bola V (goleiro), AT (atrasada), M (media) e AD (adiantada)

5.2 Análises do Final da Fase Ofensiva No total considerando os chutes para fora (Frf), dentro (Frd), interceptado (Frad) e que

foram gol (Fgl) o Brasil apresentou 112 sequencias ofensivas que terminaram em finalização ao gol (Tabela 4). E conforme o gráfico seis, a maioria dos chutes foi para fora do gol.

Tabela 4 - Distribuição dos tipos de finalização. Fora (Frf); Dentro (Frd); Bloqueada (Frad); Gol (Fgl)

Frf 46

Frd

Finalização Frad

29

24

Fgl

Total

13

112

50 40 30

Série1

20 10 0

Frf

Frd

Frad

Fgl

Gráfico 6 - Distribuição das finalizações. Fora (Frf); Dentro (Frd); Interceptado (Frad) e Gol (Fgl)

Em relação à zona de ocorrência das finalizações (Tabela 5) a maior parte aconteceu

no corredor central principalmente no setor ofensivo – zona 11 (Figura 5). É possível notar

que 98% das finalizações foram provenientes do corredor central e que nenhuma foi proveniente da metade defensiva do Brasil. Das sequencias ofensivas analisadas do Brasil apenas 2 chutes aconteceram nos corredores laterais (Figura 5).

Tabela 5 - Zona de ocorrência das finalizações

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

Zona 7 0

8

30

9 0

10 1

11

80

12 1

Figura 5 - Distribuição das finalizações de acordo com a zona do campo

A respeito do centro do jogo (Tabela 6) no momento das finalizações nota-se que na

maior parte das vezes a equipe estava em inferioridade numérica. Sendo que em nenhum

momento a superioridade foi absoluta. No gráfico sete é possível observar a discrepância no centro do jogo quando o chute foi efetuado. Entretanto como citado anteriormente esta é uma

particularidade do jogo de futebol onde a defesa leva vantagem sobre o ataque. (DREZNER, 2014).

Tabela 6 - Centro do Jogo no momento da finalização

Pa 38

Pr 55

Centro do Jogo Pi 0

SPr 2

SPa 0

Spi 7

100 80

inf

60

igu

40

sup

20 0

inf

igu

sup

Gráfico 7 - Relação dos jogadores do Centro do Jogo no momento da finalização - aproximadamente um circulo com 9,15 metros de diâmetro ao redor da bola. Inferioridade (menos jogadores que o adversário), Igualdade (mesmo número de jogadores que o adversário) e superioridade (mais jogadores que o adversário)

Sobre a configuração espacial de interação (Tabela 7) a maioria das finalizações foi

proveniente da linha adiantada, com uma quantidade considerável saindo da linha média

(Gráfico 8). A linha de finalização do Brasil geralmente esta contra a linha média ou atrasada do adversário (Gráfico 9).

Tabela 7 - Configuração Espacial de Interação no momento da finalização. VAD (goleiro x linha adiantada); ATAD (linha

atrasada x linha adiantada); ATM (linha atrasada x linha media), ATE (linha atrasada x zona exterior), MAD (linha média x linha adiantada), MM (linha média x linha média), MAT (linha media x linha atrasada), ADM (linha adiantada x linha

media), ADAT (linha adiantada x linha atrasada), EAT (zona exterior x linha atrasada) e ADV (linha adiantada x goleiro)

VAD 0

ATAD 0

ATM 0

Configuração Espacial de Interação ATE 0

MAD 2

MM 38

MAT 8

ADM 0

ADAT 32

EAT 2

ADV 20

60 50 40 30

Série1

20 10 0

V

AT

M

AD

Gráfico 8 - Linha do Brasil que executou a finalização. V (Vazia ou do goleiro), AT (linha atrasada), M (linha média) e AD (linha adiantada)

50 40 30

Série1

20 10

0

AD

M

AT

V

Gráfico 9 - Linha do adversário no momento que o Brasil chutou a gol. V (Vazia ou do goleiro), AT (linha atrasada), M (linha média) e AD (linha adiantada)

6 Discussão Durante a competição a seleção brasileira olímpica conquistou sua inédita medalha de

ouro. Após empatar em zero a zero nos dois primeiros jogos, a equipe conseguiu encontrar o

caminho do gol e entre as 112 finalizações 13 foram gol. O programa de computador SoccerEye mostrou ser eficiente para uma análise dinâmica do jogo de futebol, pois registra o

inicio, o meio e o fim da sequencia ofensiva. Para este trabalho os eventos do meio das sequencias ofensivas não foram considerados.

Os resultados mostraram que a equipe brasileira recuperou mais bolas no Setor Médio

Defensivo, quarenta e uma no total. Os dados mostram que nas zonas centrais defensivas o Brasil iniciou a maior parte da sua fase ofensiva, se somadas as zonas 2 e 5 representam 43,75% das recuperações da posse de bola. Nestas zonas o Brasil geralmente estava em

superioridade numérica para recuperar bola e assim dar inicio ao ataque, a partir da disputa

formada entre os jogadores situados no meio de campo, a linha média foi responsável por

iniciar 41,9% dos ataques. Dado que corrobora a pesquisa de Barreira, Garganta e Anguera (2011) em observaram que as equipes de sucesso concentravam seus esforços em recuperar a bola na zona cinco (corredor central do setor médio defensivo) e assim evitar os avanços do

adversário. A maior parte da posse de bola que deu inicio as sequencias ofensivas foram

conquistadas de forma direta/dinâmica, informação também encontrada na pesquisa de

Barreira et. al (2014) onde observou que as seleções de sucesso na Copa do Mundo 2010 recuperaram a bola mais vezes de forma direta do que indireta. Entretanto há de se considerar

que a seleção brasileira recuperou um elevado número de bolas nos Setor Médio Ofensivo e Setor Ofensivo, no total foram quarenta e quatro fases ofensivas iniciadas nesses setores,

demonstrando que o Brasil pressionava o adversário no seu campo. Dos treze gols marcados na competição cinco iniciaram no setor ofensivo, bem como o gol marcado por Neymar na

semifinal contra Honduras, onde após uma pressão intensa logo que o arbitro apitou o inicio da partida, o jogador brasileiro interceptou uma bola mal passada para o goleiro e durante a disputa marcou o gol com quinze segundos de jogo.

Em relação ao final da fase ofensiva o time do Brasil mostrou uma grande tendência

em finalizar as jogadas na zona 11 (corredor central do setor ofensivo), no total 71,42% dos

chutes foram dessa zona. E 26,78% das finalizações aconteceram na zona oito (corredor

central do setor médio ofensivo), assim cerca de 98% das finalizações a gol da seleção brasileira nos jogos Rio 2016 aconteceram dessas duas zonas. Esta informação esta de acordo

com a observação de Machado, Barreira e Garganta (2011) em que a seleção campeã do

mundo em 2010 buscava atingir as zonas centrais para finalizar a gol. Em apenas nove eventos o jogador brasileiro que finalizou a gol estava em situação de superioridade ou igualdade numérica em relação ao adversário e geralmente a finalização era feita por um

jogador da linha média ou adiantada, contra a linha atrasada do adversário. Isto se deve ao fato de nos corredores laterais o goleiro levar vantagem sobre o atacante para fechar os espaços por onde a bola passaria.

Estes resultados levam a crer que quando em fase defensiva é essencial ter jogadores

hábeis em recuperar a posse de bola no meio campo defensivo, pois é onde ocorrem às

disputas por ela, assim é necessário não negligenciar os jogadores com bom desarme e marcação no meio de campo, pois esses podem ser essências para o inicio da fase ofensiva, que não deve ser lenta na condução ou troca de passes, pois é grande a pressão espaçotemporal nos setores de meio de campo. Também nota-se a necessidade de jogadores com

elevada capacidade técnica no setor ofensivo para a fim de lidar com a superioridade numérica do adversário. Além disso, seria interessante aos jogadores brasileiros elevarem sua qualidade técnica nos chutes de longa distância (zonas 7,8,9) a fim de surpreender o adversário.

Desta forma a análise do jogo através do SoccerEye demonstrou-se compatível com a

visão moderna do futebol, pois permite ter uma visão dinâmica do contexto da finalização – que foi o objeto de estudo neste trabalho. Ao considerar o Centro do Jogo e a Configuração

espacial de Interação, juntamente com a variação espaço temporal da sequencia ofensiva ao

registrar as ações da equipe que antecedem a finalização. Entretanto para uma melhor compreensão da forma de jogar da seleção brasileira medalhista de ouro olímpica, um estudo

que considere as ações entre o inicio da fase ofensiva e a finalização, juntamente com uma análise estatística mais aprofundada é necessária.

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VILLAR, L. The Role of Ecological Dynamics in Analysing Performance in Team Sports. Sports Med 2012, 42 (1): 1-10

8 Anexo

Tabela 1

Retirado de Barreira (2013)

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