60 anos de Átomos para a Paz

August 11, 2017 | Autor: Leonam Guimaraes | Categoria: Nuclear Energy
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60 anos de Átomos para a Paz
Em 8 de dezembro de 1953, o presidente Eisenhower falou perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, comprometendo-se com "determinação para ajudar a resolver o aterrorizante dilema atômico" e com "dedicação de todo o seu coração e mente para encontrar o caminho que permita que a inventividade milagrosa do homem não seja dedicada a sua morte mas consagrado a sua vida".
Sessenta anos se passaram desde que o discurso "Átomos para a Paz" foi pronunciado. O seu programa de implementação deu origem à indústria nuclear global, e precipitou um progresso notável no uso de tecnologia nuclear para melhorar a saúde pública e desenvolvimento humano. Poucos discursos na história podem ter sido ao mesmo tempo tão controverso, tão mal compreendido e com legado tão duradouro.
Hoje, 31 países têm um total de 438 usinas nucleares e mais de 246 reatores de pesquisa operacionais. Aproximadamente 10.000 hospitais em todo o mundo usam radioisótopos para realizar mais de 30 milhões de procedimentos médicos por ano. As aplicações nucleares pacíficas incluem erradicação de insetos causadores de doenças e a produção de cultivares induzidos pela radiação que melhoraram o rendimento das culturas alimentares no mundo em desenvolvimento. Além disso, Átomos para a Paz forneceu a base ideológica para a criação da Agência Internacional de Energia Atômica e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Mas nem todas as notícias são boas, já que o programa contribuiu para aumentar os riscos das armas nucleares. O programa Átomos para a Paz deu cobertura política para a corrida armamentista da Guerra Fria. Cerca de 130 mil ogivas nucleares foram produzidas entre 1945 e 2013, sendo que mais de 10.000 delas permanecem atualmente nos arsenais de nove países: EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Israel, Índia, Paquistão e Coréia do Norte. Átomos para a Paz precipitou tanto a criação do regime internacional de não-proliferação nuclear assim como muitos dos desafios a esse próprio regime que surgiram posteriormente.
Eisenhower estava ciente de que a cooperação nuclear pacífica apresentava riscos de proliferação. No entanto, como muitos de seus sucessores, o presidente viu os benefícios que o programa traria para o equilíbrio da Guerra Fria com maior prioridade do que quaisquer riscos de proliferação que o acompanhassem. A não-proliferação é apenas um dos muitos, e muitas vezes conflitantes, interesses nacionais dos EUA. Não tem, e não pode ter sempre, a maior prioridade.
Enquanto o programa Átomos para a Paz apressou o surgimento de certos desafios da proliferação regionais, foi também a base do regime de não proliferação moderno. Além disso, permitiu o desenvolvimento e a utilização generalizada das tecnologias nucleares civis para benefício da humanidade. Ainda que a barganha subjacente ao programa permaneça intacta, evoluiu muito em resposta às lições aprendidas e as mudanças na paisagem geopolítica. No balanço, sessenta anos depois, o discurso Átomos para a Paz de Eisenhower merece ser lembrado muito mais pelos benefícios que proporcionou do que pelos problemas que possa ter causado.
Leonam dos Santos Guimarães é membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear da AIEA.

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