7 ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS E GESTÃO DAS ÁGUAS

June 1, 2017 | Autor: Marcos NobregaII | Categoria: Hydrology
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7 ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS E GESTÃO DAS ÁGUAS Cláudio César de Aguiar Cajazeiras ([email protected]) Luiz Antonio da Costa Pereira ([email protected]) Marcos Nóbrega II ([email protected]) Amilcar Adamy ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Introdução .........................................................................................................107 Hidrogeologia .....................................................................................................107 Sistemas Aquíferos..............................................................................................107 Sistema Aquífero Cristalino.................................................................................108 Sistema Aquífero Divisor (SAD) ...........................................................................108 Sistema Aquífero Solimões (SAS) ........................................................................109 Sistema Aquífero Içá ........................................................................................... 110 Sistema Aquífero Rio Branco (SARB) ................................................................... 113 Sistema Aquífero Aluvionar ................................................................................ 114 Gestão das Águas Subterrâneas.......................................................................... 115 Considerações Finais ........................................................................................... 115 Referências ......................................................................................................... 116

ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS E GESTÃO DAS ÁGUAS

INTRODUÇÃO O conhecimento hidrogeológico do estado do Acre, até há pouco tempo, era bastante restrito, pois a pouca literatura específica existente permitia, apenas, uma compreensão pontual sobre o assunto. Entretanto, paulatinamente, contribuições importantes vêm sendo incorporadas ao acervo preexistente, aumentando o nível de informação sobre a capacidade hidrogeológica do substrato geológico. Dentre esses estudos, ressaltam-se os trabalhos de Melo Júnior e Marmos (2007), Melo Júnior et al. (2010), CPRM (2007), Pereira e Cajazeiras (2012) e Acre (2012).

HIDROGEOLOGIA As águas subterrâneas são parte integrante do ciclo hidrológico, perfazendo algo em torno de 98% das águas doces e líquidas do planeta. São responsáveis, ainda, pela alimentação e regularização (perenização) de rios, córregos, lagos etc., possibilitando que estes continuem fluindo em épocas de estiagem/seca. As águas subterrâneas ficam armazenadas em um “reservatório de água” denominado aquífero, sendo estocado (recarga natural) pelas chuvas através da infiltração (processo de penetração da água na superfície do terreno sob ação da gravidade). O aquífero é constituído por formações geológicas (rochas e/ou sedimentos) capazes de armazenar/ reter (porosidade) e transmitir (permeabilidade) água em quantidade economicamente aproveitável. A captação dessas águas se dá por meio de fontes de abastecimento

(poços tubulares, amazonas e artesianos e fontes naturais). Essas águas detêm importância estratégica, pois, normalmente, apresentam: elevado padrão de qualidade físico-química e bacteriológica. Além disso, não são afetadas por períodos de estiagem prolongada e evaporação e a sua obra de captação (poço) pode ser locada próxima ao local da demanda, com custos e prazos geralmente inferiores aos das obras de captação de água superficial. É importante, para a recarga dos aquíferos, o cuidado com o manejo das bacias hidrográficas, de sua vegetação e de seus solos. A vegetação, por meio das raízes de suas árvores, absorve água, mantendo as bacias hidrográficas. No entanto, o desmatamento e o pastoreio excessivo podem provocar a compactação do solo, tornando-o “seco”. O solo compactado impede a infiltração e, consequentemente, faz com que o aquífero deixe de receber a recarga/ alimentação (contribuição da água potável proveniente das chuvas), gerando o escoamento superficial dessa água para os rios. Ou seja, ao invés de formar reservas de águas subterrâneas, essa água é “desperdiçada” e acumulada nos oceanos. Todavia, deve-se atentar para o fato de que, muitas vezes, o próprio substrato geológico torna-se fator inibidor da recarga, a exemplo dos solos argilosos da Formação Solimões, presentes em boa parte do estado do Acre.

SISTEMAS AQUÍFEROS A Base Simplificada dos Sistemas Hidrogeológicos do Acre (Figura 7.1), elaborada a partir do mapa

Figura 7.1 - Base simplificada dos sistemas hidrogeológicos do Acre. Fonte: Elaborado pelos autores, 2013. 107

GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO ACRE

geológico, mostra a distribuição espacial e as áreas de ocorrência dos diversos aquíferos no estado. Ocupando 87,2% da área estadual, destaca-se o Sistema Aquífero Solimões, seguido pelos sistemas aquíferos Aluvionar (10%), Içá (2%) e Divisor (1%). Apesar de individualizados na área, os sistemas aquíferos Cristalino e Rio Branco não têm dimensões gráficas, devido à escala de trabalho adotada. O esquema de cores do mapa hidrogeológico obedece a padrões internacionais (STRUCKMEYER; MARGAT, 1995 apud MACHADO, 2011). Por exemplo: aquíferos sedimentares são representados pela cor azul; aquíferos ígneos e metamórficos pouco produtivos, pela cor verde; aquitardos, cor marrom-claro; não aquíferos, cor marrom-escuro.

Sistema Aquífero Divisor (SAD) Constitui um aquífero transfronteiriço, ocorrendo no extremo oeste do Acre e adentrando na República Federativa do Peru. Aflora restritamente no Brasil (Figura 7.3), onde ocupa uma área de 1.505 km2 com formato alongado, comprimento de 117 km e largura máxima de 25 km. Seu eixo estende-se na direção noroeste-sudeste, ao longo da serra do Divisor. Apresenta as maiores altitudes do estado do Acre, variando de 350 a 630 m.

Sistema Aquífero Cristalino O comportamento hidráulico das rochas fraturadas é diferente do comportamento dos aquíferos porosos, já que nestes a vazão tende a crescer proporcionalmente à espessura do aquífero. No Sistema Aquífero Cristalino a vazão é função unicamente das características de cada zona fraturada e o parâmetro “profundidade do poço” não exerce influência direta na produção dos poços. É fundamental, no entanto, a identificação da entrada de água no poço, pois é ela que definirá a sua profundidade útil. O Sistema Aquífero Cristalino é constituído pelo Sienito República (quartzo-sienito e quartzo-traquito), que representa as rochas mais antigas do Acre, formadas entre 100 a 300 milhões de anos atrás (BARROS et al., 1977), localizadas no limite oeste do estado do Acre (Figura 7.2). Apresenta a menor distribuição dentre os sistemas estudados, ocupando apenas 10 km2 (0,05% da área do estado). Não existem informações de poços com produção determinada que permitam melhor avaliação, por estar situado em região de difícil acesso.

Figura 7.3 - Distribuição espacial do sistema aquífero Divisor no estado do Acre. Fonte: Elaborado pelos autores, 2013.

Figura 7.2 - Distribuição espacial do sistema aquífero Cristalino no estado do Acre (à esquerda); vista em detalhe do sienito República (à direita) (Mâncio Lima). Fonte: Elaborado pelos autores, 2013. 108

Trata-se de uma área cuja principal via de acesso é o rio Moa, a partir da cidade de Mâncio Lima. No período de estiagem, a travessia de 105 km é realizada por pequenos barcos (rabetas), com duração aproximada de 12 horas de viagem até o acampamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). O Sistema Aquífero Divisor (SAD) é formado por sedimentos predominantemente arenosos, depositados em ambiente continental e com alguma contribuição marinha, representados pelo Grupo Acre e suas formações Moa, Rio Azul e Divisor (BARROS et al., 1977). Esse sistema aquífero possui alta favorabilidade para armazenamento de água subterrânea por ser formado, fundamentalmente, por arenitos. No

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entanto, por estar situado na Unidade de Conservação de Proteção Integral Parque Nacional da Serra do Divisor, pouco povoada, não há poços suficientes de onde se possam extrair informações necessárias para sua avaliação. Na área, há apenas um poço (SIAGAS nº 1100002342), denominado “Buraco da Central” (Figura 7.4), construído pela Petrobras durante os trabalhos de prospecção de petróleo na região serrana, com as seguintes características: poço jorrante, diâmetro da boca do poço 0,9 m, com temperatura da água um pouco maior do que a do rio Moa (29,74ºC), pH 7,43; condutividade elétrica 249 µS/cm2 e TDS 114 mg/L.

Figura 7.4 - Poço “Buraco da Central” (sistema aquífero Divisor; Mâncio Lima). Fotografia: Cláudio C. de A. Cajazeiras, 2012.

Sistema Aquífero Solimões (SAS) É o sistema de maior expressão territorial (145.150 km2), correspondendo a 87,2% do total do estado do Acre (Figura 7.5). É constituído por argilitos e areias argilosas. Essa situação confere, localmente, ao domínio do Sistema Aquífero Solimões, características de um aquitardo, ou seja, uma formação geológica que possui baixa permeabilidade e transmite água lentamente, não tendo muita expressividade como aquífero. O Sistema Aquífero Solimões caracteriza-se por ser poroso, mas de baixa permeabilidade e transmissividade, portanto, de baixa potencialidade hidrogeológica. Por vezes, contém camadas pouco espessas de areia fina, com acumulação de água subterrânea; porém, sua recarga é dificultada pela espessa cobertura argilosa. O potencial hidrogeológico é fraco, caracterizado por vazões baixas (
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