A. A. Carvalho Monteiro: imaginário e legado

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Descrição do Produto

Manuel J. Gandra

António Augusto Carvalho Monteiro

Imaginário e Legado

Rio de Janeiro – Mafra, 2014

Editores: Instituto Mukharajj Brasilan & Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica-Cesdies Est. da Grota Funda, 2440 – Guaratiba Rio de Janeiro/RJ – CEP 22785-330 Tel.: +5521 9399-0997 Email: [email protected] Site: www.brasilan.org.br Título: A.A. CARVALHO MONTEIRO: IMAGINÁRIO E LEGADO Autor: Manuel J. Gandra Coordenação Editorial: Loryel Rocha [[email protected]] Projeto Gráfico: Diogo Gandra Design da Capa: Diogo Gandra (sobre maqueta – aguarela sobre papel - de Pano de boca de Luigi Manini, 1880 [MCCC-FLM, inv. 0362G]) Copyright: ©Manuel J. Gandra/Instituto Mukharajj Edições Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada por escrito, do autor ou do Instituto Mukharajj Brasilan, no todo ou em parte, por quaisquer que sejam os meios, constitui violação das leis em vigor. Fale com o Autor: [email protected] 1ª Edição Luso-Brasileira: Abril de 2014 – 102 exemplares, todos numerados e assinados pelo autor; e-book.- impresso a pedido.

In memoriam António Augusto Carvalho Monteiro

ÍNDICE 7 Laudas em anticipação a outras que se hão-de apurar... A Serra de Sintra 19 Cronologia 63 As Divisas Simbólicas e Emblemáticas da A. A. Carvalho Monteiro 125 O Leroy 01, o Relógio mais complicado do Mundo 135 Uma Bengala neomanuelina de A. A. Carvalho Monteiro 141 A Cama das Metamorfoses de A. A. Carvalho Monteiro 159 A Quinta da Regaleira, legado Sebástico-Templarista de A. A. Carvalho Monteiro 237 O Jazigo de A. A. Carvalho Monteiro no cemitério dos Prazeres 255 A Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: contributos para a sua história 283 Sebástica manuscrita na Biblioteca do Congresso (Washington) 315 Sebástica impressa oriunda da Biblioteca de A.A. Carvalho Monteiro, na DCL (Catálogo) 337 Templarismo manuscrito na Biblioteca do Congresso (Washington) 371 Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso – livros Maçónicos 395 Manuscritos e Iconografia com interesse para a biografia e actividade mecenática, editorial e literária de A. A. Carvalho Monteiro 417 Bibliografia

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Agradecimentos Cheryl Fox (DCL, Manuscript Division) Everette E. Larson (DCL, Hispanic Division) Marquês de Pombal Fernando Vaz Santos Carvalho Thomas Charenton (Musée du Temps, Besançon) Fundação CulturSintra District of Columbia Library (Washington) British Museum (Londres) Musée des Confluences (Lyon) Arquivo Histórico de Sintra Musée du Temps (Besançon) Museo Civico di Crema e del Cremasco (Crema, Itália)

Acrónimos e Siglas AACM = António Augusto Carvalho Monteiro ACL = Academia das Ciências de Lisboa ADB = Arquivo Distrital de Braga AGSimancas = Arquivo Geral de Simancas AHS = Arquivo Histórico de Sintra ANTT = Arquivo Nacional da Torre do Tombo BA = Biblioteca da Ajuda BN =Biblioteca Nacional de Portugal BPE = Biblioteca Pública de Évora BPMP = Biblioteca Pública Municipal do Porto BPVV = Biblioteca do Paço de Vila Viçosa DCL = District of Columbia Library (Biblioteca do Congresso, Washington) MCCC = Museo Civico di Crema e del Cremasco OPL = Biblioteca Olivais Penha Longa (Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** Collection through Maggs Bros. 1928), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58]) Panfleto = Panfletos Portugueses (The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL: DP517.P67 1610]) 477 = Fichas bibliográficas - 477 volumes

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LAUDAS EM ANTICIPAÇÃO A OUTRAS QUE SE HÃO-DE APURAR... A Serra de Sintra

A serra de Sintra é uma montanha sagrada, em qualquer das acepções correntes: um mons sacer, segundo Varrão e Columela; um locus amoenus, seja ele o Paraíso terreal ou a Arcádia, consoante a sensibilidade de místicos e poetas de todos os tempos; ou um dos principais centros jinas do planeta, na abalizada opinião do polígrafo e hermetista espanhol Mário Roso de Luna. Ora, um lugar é sagrado apenas na medida em que se assuma como manifestação de uma trifuncionalidade: 1. supramundana; 2. mundana (i. e., à face da terra); 3. submundana. E, com efeito, a serra de Sintra é, consabidamente uma expressão lídima do afirmado. Desde, pelo menos a 1ª metade do III milénio a. C. (Vera Jane Gilbert sustentava que desde data anterior), a região de Sintra e, designadamente, a sua serra foram palco de cultos siderais e mistéricos. Cenário privilegiado do mito da fecundação das éguas pelo vento ocidental (Zephyrus ou Favonius), clara referência, para os nossos antepassados, à sua localização sob o signo de Ganimedes (Aquarius), topos ao qual alude igualmente o mito da fundação de Lisboa por Ulisses, ambos remetendo para a predestinação quintoimperial da nação lusíada.

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A mais antiga referência escrita a astrolatrias lunares em Sintra (Mons Lunae) remonta a Avieno (séc. VII a. C.). Por seu turno, Ptolomeu (III, 5, 3), chama Selenes Oros ákron (Promontorium Lunae) ao Cabo da Roca.

A representação dos Três Mundos, na Quinta da Regaleira: o Castelo do Espírito, o Nevoeiro Mundano que obscurece a vista e a Boca do Inferno. 8

É, contudo, grande a possibilidade de Sintra ter, igualmente, abrigado cultos helíacos, o que a própria etimologia do topónimo parece subentender (Sintra = Suntria = radical indo-europeu, Sun = sol) e o templo dedicado ao Sol e à Lua, identificado na foz da ribeira de Colares (decerto uma espécie de cromeleque, como os outros de Odrinhas) corrobora. Alguns antiquários humanistas, tais André de Resende, João de Barros, D. João de Castro ou Francisco de Holanda, e até barrocos, caso, entre outros, de D. Francisco Xavier de Meneses (Cynthia, in Henriqueida, 1741), dedicaram uma atenção muito especial ao assunto, que já havia inspirado a Gil Vicente o argumento do Auto da Lusitânia (1532). Uma das protagonistas dessa Farsa é a ninfa Lisibeia, filha de uma Rainha da Berbéria e de um príncipe marinho, a qual reside nas vizinhanças de Solércia (Sintra). Dos seus amores com o Sol nasceria Lusitânia. Portugal, famoso cavaleiro da Grécia, vindo para caçar na serra, apaixonar-se-ia por ela e desposá-la-ia: “Naquela cova Sibilária, muito sábio e prudentíssimo Senhor, o autor foi ensinado que há três mil anos que uma generosa ninfa chamada Lisibeia, filha de uma Rainha da Berbéria, e de um Príncipe marinho que a esta Lisibeia os fados deram por morada naquelas medonhas barrocas que estão da parte do Sol, ao pé da serra de Sintra, que naquele tempo se chamava Solércia, E como por vezes o Sol passasse pelo aposento da lustrante Lisibeia, e a visse nua, sem nenhuma cobertura, tão perfeita em suas corporais proporções, como formosa em todos os lugares de sua gentileza, houve dela uma filha tão ornada de sua luz, que lhe puseram nome Lusitânia, que foi dona e senhora desta província. Neste mesmo tempo, havia na Grécia um famoso cavaleiro e mui namorado em extremo, e grandíssimo caçador, que se chamava Portugal, o qual, estando em Hungria, ouviu dizer das diversas e famosas caças da serra Solércia, e veio-a buscar. E como este Portugal, todo fundado em amores, visse a formosura sobrenatural de Lusitânia, filha do Sol, improviso se achou perdido por ela”. Ou, por outras palavras: os povos do Mediterrâneo (o famoso cavaleiro da Grécia), chegam à Serra do Sol em busca da sua presa 9

(metais), mas acabam rendidos aos encantos do apolinismo do ocidente hispânico (Lusitânia), gerado a partir da união de uma continental (Princesa da Berbéria = Grande Deusa) com um marinho ou atlante. O mesmo Gil Vicente reincidiria no tema, ensaiando a identificação da serra de Sintra com o Paraíso terreal, em o Triunfo do Inverno: “Um filho de um Rei passado Dos gentios portugueses Tenho eu muito guardado, Há mil anos e três meses Por um mágico encantado. E este jardim Do paraíso terreal, Que Salomão mandou aqui A um Rei de Portugal, E tem-no seu filho ali”. Outros preferiram transformá-la em palco de hierofanias proféticas e milenaristas. Recordo Luísa Sigea, cujo poema latino Sintra (1545), dedicado à infanta D. Maria, por ocasião do seu hipotético casamento com Filipe II, descreve o encontro com uma ninfa a quem pede uma previsão do futuro da infanta. Introduzida por Neptuno no Concílio dos Deuses, a ninfa descobre que D. Maria, apoiada por Minerva, Apolo e Calíope junto de Júpiter, casará quando o Sol passar entre Câncer e Capricórnio e chegará a governar o mundo: “Junto às praias do ocidente, onde o Sol, ao aproximar-se a noite, já demanda o oceano, e levado no seu carro ebúrneo, quase toca o imenso mar, com os seus cavalos cansados pela longa carreira, fica um lugar onde um vale ameno, por entre rochedos que se elevam até aos céus, se recurva em graciosos outeiros por entre os quais se sente o murmurar das águas [...]” 1.

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Tradução livre in O Paço de Cintra do Conde de Sabugosa.

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Ou, ainda, a Crónica do Imperador Clarimundo de João de Barros: “Clarimundo, depois que agradeceu a vontade que os moradores de Sintra mostravam de seu serviço, despediu-os com muito gasalhado, fazendo-lhes outros tantos oferecimentos enquanto ali estivesse. E partidos eles, falou com Fanimor, dizendo que ele desejava muito, pelo amor que tinha àquela terra, ir ao castelo de Torres Vedras ver-se com o irmão de Morbanfo, por lhe dizerem aqueles moradores de Sintra ser homem mui cruel, e destruidor da terra, e que não, o achando ali, era necessário chegar a uma cidade, que chamam Coimbra, porque soubera também deles, que era ido lá a fazer uma presa de donzelas em umas bodas. - Senhor Clarimundo, disse Fanimor [anagrama de Fin’ Amor = Amor casto dos trovadores], não sem causa tendes amor a esta terra, pois tanta parte [tanto poder] as vossas coisas nela hão-de ter. E posto que para vós seja pequena glória vencer esse irmão de Morbanfo, não se pode tão facilmente como cuidais, outra honra vos está nela guardada de maior louvor. Tomai o que vos Deus quer dar, e o mais deixai para quem ele na vontade tem criado, contentai-vos em vos escolher para princípio de tão grande coisa. E por saberdes quanta mercê vos faz, além das que tendes vistas, é necessário encomendar-vos a Ele, dando-lhe graças por tamanhos benefícios; porque com sua ajuda eu vos direi hoje alguma parte de quantas coisas serão feitas nesta terra, entre todas a de maior perfeição, assim na vontade de Deus, como no uso dos homens. E para coisas tão altas, como vos são prometidas, e que do consistório da Sacra Trindade vêm forjadas, cumpre despedirdes de vós todas as lembranças, e cuidado, que vos podem turvar o juízo, e terdes uma consciência mui casta e limpa para as ouvir. E começarei a cantar das obras de vosso neto até onde Deus quiser; porque da maior parte das de vossos filhos, antes que deste mundo partais, sereis testemunha delas; e por este lugar não ser conveniente para o que quero dizer, vamos a outro mais contemplativo. Com estas palavras tomando-o pela mão subiram ao eirado da mais alta torre, donde se via grande parte do mar e terra. E porque a este tempo a Lua estava na força de sua claridade, fazia uma noite tão serena e graciosa, que todas as estrelas pareciam assim como no oitavo céu estão pintadas. E com as ondas do rio que a maré fazia bater ao pé da torre, tremia a Lua debaixo delas, saltando de uma parte a outra, como quem se alegrava 11

com o cantar dos rouxinóis, que por aqueles pomares andavam namorados, Fanimor, por ficar no hábito que aquele acto pedia, ficou somente em umas roupas de linho largas a maneira de alva que debaixo trazia, e apertada uma touca na cabeça, pondo-se de joelhos, e as mãos levantadas, começou a invocar, dizendo: Ó tu Imensa e Sacra Verdade, Verdade da suma e clara Potência, Que mandas, que reges com tal Providência As coisas que obraste na mente, e vontade; Ó trina em pessoas e só divindade, Infunde em mim graça para dizer As obras tão grandes que hão-de fazer Os reis Portugueses com sua bondade. Não teria estas palavras ditas, quando foi arrebatado de um espírito divino, que o acendeu em tanto furor, que às vezes parecia um gigante, outras de muito menos corpo do que era; tudo tão maravilhoso, que Clarimundo se espantava dos meneios que lhe via fazer, porque ora olhava contra o Oriente, ora ao Ocidente, fazendo para todas as partes o sinal da cruz, e com o fervor daquele espírito profético, pondo os olhos na Lua disse: No tempo que, Afonso o imperador Der a seu sangue, por dar galardão A aqueles que dor nunca sentirão Em o derramar por seu Redentor Dará também, por mais seu louvor, A Henrique em dote matrimonial As terras da terra do grã Portugal Para as possuir como justo senhor. Aqueste com ferro mui vitorioso Rompendo as carnes de contos de mouros, Deixara de obras de tão grandes tesouros, Quanto no céu estará triunfoso; Sucedendo a ele o mui generoso El-Rei D. Afonso Henriques primeiro, Primeiro em nome, e em verdadeiro 12

Rei enviado Por Deus glorioso. O campo de Ourique já agora é contente Da grande vitória que nele será, Onde Cristo em carne aparecerá Mostrando as chagas publicamente. Ao qual este rei santo e prudente Dirá: Ó meu Deus, a mim para quê? Lá aos hereges imigos da Fé, Da Fé, em que eu ardo de amor mui ardente. E favorecido com este divino adjutório, que lhe prometerá grande eternidade a estes reinos, vencerá cinco reis mouros com tanta vitória, que bem mostrará neste princípio de seu reinar o grande amor que sempre aos seus sucessores há-de ter. E para confirmação de sua dignidade, lhe dará suas sacratíssimas chagas nos escudos dos cinco reis que há-de vencer. Ó armas divinas, que aqui sereis dadas, Dadas por Cristo por mais perfeição, Ter-vos-ão todos tal veneração, Quanto com obras sereis exalçadas. Porque pelas terras ireis espalhadas, Banhadas em sangue de vossa vitória, Cobrando de imigos tão grande memória, Que sobre todas sereis colocadas. E com fim tão glorioso, dando-o a estas cousas, vir-se-á ao longo do Tejo, e como a Vitória se vir favorecido na tomada de Cabelicrasto (que depois por causa da Virgem Santa se chamará Santarém), virá correndo, pela água abaixo mui ufana até parar nas ondas do grande mar oceano, tomando a populosa Lisboa. E do que eu sou mais contente, é que da minha geração virá armada, ao porto de Cascais, que será na destruição dos Mouros, que à espada hão-de perecer, no espelho do Sol que depois será chamado os Martes por causa dos estrangeiros que o ali serão. E como a Vitória estiver bem banhada no sangue dos Mouros, vir-se-á esgotar dele àquele alto castelo de Sintra, e ali receberá outro novo dos moradores dele, aos quais pesará grandemente por acharem 13

desfeito este castelo de Colir, que então lhe será amparo das vidas. E este nome de Colir, com a nova linguagem dos Portugueses será corrompido chamando-lhe Colares. A Vitória vendo-se posta em tão alto pináculo, olhando para todas as partes da terra, para a que lhe melhor parecer se deixará dali cair, com tanto ímpeto, que quanto achar diante tudo ficará dos Portugueses” 2.

Lima de Freitas, Montanha da Lua (1987-1988)

Porém, de entre todos os exemplos disponíveis, avulta a célebre Profecia de Sintra, alegadamente descoberta em plena serra, vaticinando a encarnação dos portentos mágicos associados ao Indo e ao Ganges, rios sagrados da Índia, pelo Tejo:

Livro 3, cap. IV: Como partidos os moradores de Sintra, quisera Clarimundo ir ao castelo de Torres Vedras, mas foi desviado por Fanimor. E das grandes profecias que profetizou acerca das cousas de Portugal. 2

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“Patente me farei aos do Ocidente. Quando a porta se abrir lá no Oriente. Será coisa pasmosa (de ver) Quando o Indo com o Ganges trocar Segundo vejo, os efeitos com o Tejo” 3. Embebida na ambiência mítica e imperial do período de D. Manuel tal antigualha, divulgada por Duarte Nunes de Lião, suscitou um vivo interesse entre antiquários de cujas páginas migrou, contaminando a literatura, a saber, meramente a título exemplificativo: Jorge Buchanan (no "elegante carme em louvor dos portugueses"), Camões (consagra ao assunto todo o episódio do sonho profético de D. Manuel, em Os Lusíadas), Gabriel Pereira de Castro (Ulysseia), Diogo Bernardes (Écloga Adonis, dedicada a D. Sebastião), Frei Heitor Pinto (In Ezechielem Prophetam Commentaria, Salamanca, 1568), Cervantes (na Galatea e numa das Novelas Exemplares), o Padre António Vieira (em diversos lugares da sua prosa parenética), ou Bocage (A Virtude Laureada): “[...] Acompanhar-te quis ao vasto empório, De Lysia, do universo, à grã cidade, Que espelha os torreões no vítreo Tejo, D'onde sagradas leis despede ao Ganges O globo é puro aqui, e aqui parece Estar inda na infância a Natureza, Bella, serena, cândida, inocente [...]”. As alusões suceder-se-ão, contando-se Fernando Pessoa no número daqueles que seria imperdoável deixar de citar, porquanto, segundo a sua corografia simbólica, "o Ganges também passa pela Rua dos Douradores".

A Profecia de Sintra foi consignada nas Inscriptiones Sacrosanctae Vetustates (Ingolstadt, 1534) de Petrus Apianus e B. Amantius, precedida por uma carta de Valentim Fernandes (de Morávia) anunciando a sua descoberta a Jerónimo Münzer. 3

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Nunca tal tradição havia de ser interrompida, nem renegado o apelo exercido pelo genius loci de Sintra sobre todos quantos alguma vez acederam à montanha com os sentidos da alma despertos. Atestam-no Leonarda Gil da Gama (pseudónimo de Madalena da Glória, 1672-ca. 1760), professa no Convento da Esperança (Lisboa), a qual sempre afirmava ser natural da serra de Sintra ou D. Francisco de Melo e Castro, este na sua Fábula do Rio das Maçãs, poema em que descreve o percurso espiritual, iniciático, por si realizado na serra, onde encontrou uma gruta, morada de um velho sábio que havia de lhe desvendar o caminho da luz: “I Livre de tanto tráfego, e negócio Vim outra vez da Lua ao Promontório, Onde por não passar crevejo em ócio Rotos papéis, do meu velho escritório Cluros [?] do Solstício, e equinócio Tão sórdidos achei, que um lavatório Lhe fiz de água de Lethes, onde metidos Antes de lidos, os achei delidos. [...] XII E despindo os vestidos, porque via Que o velho estava nú d'água banhado Que o subterrâneo sítio humedecia Descendo impetuosa ao verde prado: Pela parte que mal descobre o dia O secreto lugar do velho honrado Que por estar o alto, estava enxuta Fiz o sinal da cruz e entrei na gruta” 4. Coube, todavia, ao romantismo o papel decisivo na tradução, quer literária, quer plástica, da sacralidade primordial de Sintra. Não admira, pois, que, quer Lord Byron, quer Richard Strauss, tenham confessado o seu espanto à vista de Sintra. Cf. João Rodil, Fábula do Rio das Maçãs, um poema perdido, in Vária Escrita, n. 5 (1998), p. 213-244. 4

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O poeta inglês afirmando: “Eis que em maior labirinto de montes e vales surge o glorioso Éden de Sintra. [...]” 5. O músico austríaco, por seu turno: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida: conheço Itália, Sicília, Grécia, Egipto e nunca vi nada que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto [...]. Este é o verdadeiro Jardim de Klingsor; e lá no alto está o Castelo do Santo Graal” 6. Feitas Monte Abiegno, sob a inspiração clarividente de D. Fernando Saxe-Coburgo Gotha, as ruínas do Mosteiro da Pena passariam a encerrar, num dos picos da serra de Sintra, expectantes arcanos tendentes à “regeneração da pátria dos seus patrícios”, i. e., de Portugal e dos Portugueses, na expressão enigmática do próprio monarca consorte de D. Maria II. António Augusto Carvalho Monteiro (doravante AACM) não lograria expressão mais feliz.

Cf. Child Harold Pilgrimage, canto I, 18, trad. Alberto Teles, in Lord Byron em Portugal, Lisboa, 1879, p. 58. 6 Cit. por António Arroio, O Povo Português, in Notas de Portugal, Lisboa, 1908, p. 53. 5

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CRONOLOGIA 1697 Parte da área que se tornará a Quinta da Regaleira, é propriedade de José Leite. 1715 Francisco Alberto Guimarães de Castro canaliza água da serra, para uma fonte dos jardins da sua propriedade denominada Quinta da Torre ou do Crasto (mais tarde a Regaleira). 1717 Pelo menos desde este ano encontram-se referências a uma via-sacra existente no que virá a ser a Quinta da Regaleira.

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1787 – 1817 A então denominada Quinta da Torre é progressivamente ampliada, em virtude da aquisição de novas parcelas por parte de João António Fernandes e, após o falecimento deste, por seu filho e herdeiro, Manuel Bernardes Lopes Fernandes.

D. Ermelinda Allen Monteiro de Almeida (1768-18??), 1ª Baronesa da Regaleira (Porto, col. particular) 1840 A Quinta é adquirida por D. Ermelinda Allen Monteiro de Almeida (1768-18??), 1ª Baronesa da Regaleira. 1848 Março 8 – Luigi Manini nasce em Crema, na Lombardia (Itália). Novembro 27 – Nascimento de António Augusto de Carvalho Monteiro, no Rio de Janeiro (Brasil), filho de emigrantes portugueses.

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Rio de Janeiro, ao tempo do nascimento de AACM 1849 Maio 17 - Baptizado de António Augusto de Carvalho Monteiro, na Igreja Parochial de São Francisco Xavier (freguesia do Engenho Velho, Rio de Janeiro), sendo padrinhos seus avós maternos, José António Alves de Carvalho e D. Joana Thereza de Carvalho. 1850 Março 19 - Nascimento de Perpétua Augusta Pereira de Melo, em Braga.

3º Barão da Regaleira (c. 1850) 21

1858 Com dez anos de idade, AACM vem estudar para Portugal na companhia dos seus dois irmãos.

Francisco Augusto, José Augusto e António Augusto Carvalho Monteiro, filhos do Comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro e sua esposa, Teresa Russell Alves de Carvalho Monteiro, nascidos no Rio de Janeiro

1871 AACM conclui a licenciatura em Direito, na Universidade de Coimbra. A Quinta da Regaleira pertence a João Carlos Morais Palmeiro, Barão da Regaleira (o mais antigo averbamento constante da 1ª Conservatória do Registo Predial de Sintra).

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AACM no Luso (1870), equipado para uma das suas expedições entomológicas, e fotografado em Coimbra (c. 1871)

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1873 Fevereiro 5 - AACM casa com Perpétua Augusta Carvalho Monteiro († 25.12.1913). Junho - Regressa ao Brasil com a esposa, de relações cortadas com o pai. Neste ano cursa taxidermia.

AACM e sua esposa, Perpétua Augusta Pereira de Melo (1855-1913), fotografados em Petrópolis (27.10.1873) 24

Petrópolis (17 de Abril de 1874)

AACM durante a sua estada em Petrópolis 25

1874 Em consequência do longo processo judicial, que dura três décadas e dita a derrocada do império da casa Quintela-Farrobo, o palácio da Calçada do Alecrim é vendido em hasta pública, tendo sido adquirido pelo capitalista e comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro (1825-1890), cognominado o "Monteiro Milhões".

Comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro e sua esposa, Teresa Russell Alves de Carvalho Monteiro

1876 Julho 17 – Passaporte da Delegacia da Policia de Petrópolis concedido a AACM, mulher e filho Pedro de 3 anos. Julho 21 – É emitido visto da delegacia da Corte. Agosto 8 – Visto para desembarcar em Lisboa. Agosto 22 - Visto do consulado Geral do Império do Brasil

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Agosto 23 – Visto para residência de 1 ano com morada na R. do Ferragial de Cima. Outubro - Carvalho Monteiro e a família (esposa e os filhos Pedro Augusto e Maria de Melo) regressam a Portugal, aqui se radicando definitivamente. 1877 Setembro 23 – renovação do visto por mais 1 ano com a mesma morada. 1878 Outubro 15 – renovação do visto por mais 1 ano com a mesma morada. Novembro 18 - Por morte da mãe, AACM herda 14 imóveis no Rio de Janeiro (escritura de partilhas), além de outras propriedades em Portugal. Novembro 25 - AACM é admitido como sócio (n. 277) da Sociedade de Geografia de Lisboa, por proposta do então Secretário, Luciano Cordeiro (cf. O Occidente, v. 3, 1880). 1879 A renovação anual do visto de residência de AACM dá-o como residente no seu Palácio da Rua do Alecrim, n. 72. Neste ano adopta a nacionalidade portuguesa. Luigi Manini chega a Portugal para trabalhar como cenógrafo no Teatro de São Carlos. 1881 A revista O Occidente destaca a actividade filantrópica de AACM, designadamente enquanto colaborador dos Albergues Nocturnos de Lisboa, fundados por D. Luís em 13 de Novembro (a. 4, v. 4, n. 107, p. 275-276). 1882 Maio - Outorga do título de Moço-Fidalgo a AACM. 1883 AACM integra a 1ª direcção do Jardim Zoológico e de Aclimatação de Portugal (Out. 1883 a Abril 1884), na qualidade de Vogal. 1884 – Staudinger e Bang-Haas interrompem uma viagem a Espanha, dirigindo-se à “linda Lisboa”, para, expressamente conhecerem a colecção entomológica de AACM. 1885 – Retribuindo o envio por AACM de espécimes de uma borboleta procedente de S. Tomé da espécie Charaxes, Staudinger dedica-a ao ofertante, sob a designação de Charaxes monteroi Staudinger & Schatz. 27

1886 O Comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro e AACM subscrevem o documento que institui a Associação Promotora dos Interesses da Classe Operária, constituída por iniciativa de D. Luís, no dia 5 de Junho (DCL). 1887 Maio 4 - AACM torna-se sócio (n. 775) da Cruz Vermelha Portuguesa. 1889 – Ignacio Bolivar dedica a AACM uma espécie de gafanhoto oriundo de Lourenço Marques (actual Maputo) que este lhe ofertara (Oedaleus carvalhoi Bolivar), “em agradecimento das muitas espécies africanas que em diversas ocasiões me ofereceu”.

Do seu casamento (5.2.1873) com Perpétua Augusta Pereira de Melo (18551905), nascem dois filhos: Pedro Augusto de Melo de Carvalho Monteiro (10.11.1873) e Maria de Melo Carvalho Monteiro (7.8.1877).

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Fólio da Acta de constituição da Associação Promotora dos Interesses da Classe Operária (5.6.1886), subscrita por AACM e pelo progenitor [DCL: P-291]

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1890 - A Quinta da Regaleira é herdada por Paulo Carlos Allen e Morais Palmeiro. Por morte do progenitor, em Novembro, António Augusto Carvalho Monteiro herda o Palácio Quintela. AACM reúne aí a sua biblioteca e valiosas colecções de Arte (pintura, escultura, iconografia, ourivesaria, relojoaria, etc.), de Ciências Naturais (entomologia, malacologia, ornitologia, herbário, etc.), etc.

Rosto e duas páginas do livro de Carl de Geer, Genere et species insectorum (Leipzig, 1783), estas com anotações e correcções marginais de AACM [DCL: QL 468. D4 1783 (2ª aquisição: 367270’29)]. A colecção de lepidópteros (borboletas) de AACM é, à data, a 2ª mais extensa do mundo, constituída por muitos milhares de espécies, algumas colectadas pelo próprio coleccionador, outras adquiridas por compra directa a outros coleccionadores (Jean Étienne Berce, Adolphe Boucard, etc.), ou a negociantes de espécimes entomológicos, a saber, designadamente: Émile Deyrolle, Charles Donckier de Donceele, Henri Donckier de Donceele, Frutshorfer, Staudinger e Bang-Haas. Sabe-se que AACM se correspondia com Karl Jordan, entomologista ao serviço de Walter Rothschild, detentor da mais vasta colecção de lepidópteros então existente.

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Índice manuscrito das espécies entomológicas descritas no livro de Carl de Geer, organizado por AACM e colado no final do exemplar que lhe pertenceu.

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Retrato de Camões, do pintor Fernão Gomes e duas peças iconográficas da Camoniana de AACM, actualmente na Biblioteca do Congresso [DCL]

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Contrato entre AACM e Domingos Nunes Godinho para a realização de uma cópia caligráfica do Canto II de Os Lusíadas [DCL: P-339]

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Dois fólios da edição caligrafada a 9 cores de Os Lusíadas, contratada entre AACM e Manuel Nunes Godinho e o filho deste, Domingos Nunes Godinho [DCL: PQ9198 A15], composta por 4 volumes, num total de 2210 fólios.

1893 – AACM adquire a Quinta da Regaleira em leilão público. AACM é Vogal da Comissão de Contas da Sociedade de Geografia de Lisboa, tornando-se sócio da Sociedade Protectora das Cozinhas Económicas de Lisboa, fundadas pela Duquesa de Palmela. 1895 – AACM encomenda um primeiro projecto destinado à Quinta da Regaleira, ao arquitecto francês Henry Lusseau, que não chega a utilizar. Luigi Manini abandona o Teatro de São Carlos, continuando, todavia a pintar cenários para o Teatro de D. Maria II, até 1905. 1896 – Carvalho Monteiro amplia a Quinta da Regaleira, pela aquisição de novas parcelas de terreno. Encomenda o Leroy 1, só concluído em 1900, à firma relojoeira homónima de Besançon (França). 34

Projectos do arquitecto Henry Lusseau destinados à Regaleira (Paris, 27.6.1895) [AHS-QR, inv n. 11, n. 3]

1898 – F. Seebold visita AACM para observar a sua colecção entomológica. Elaborado novo projecto para a Quinta da Regaleira por Luigi Manini.

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Comissão Fundadora da Cruz Vermelha (1 de Dezembro de 1899), no passeio da Estrela Central. AACM é o terceiro a contar da direita, sentado na fila dianteira

O empedrado dos passeios que acompanham os imóveis de que AACM era proprietário, na cidade de Lisboa (de resto, tal como na Quinta da Regaleira), apresenta-se revestido, em toda a sua extensão, por uma teoria de hexalfas, em calcário branco, sobre fundo de basalto, com função profiláctica. 36

Alçados e plantas do 2º projecto proposto por Manini (c. 1904) [MCCC-FLM, inv. 0133G e inv. 0102G]

1899 – A família começa a utilizar a Quinta da Regaleira para seu alojamento, em Sintra. As obras iniciam-se neste ano ou no seguinte.

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AACM torna-se sócio fundador e titular da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada pela Rainha D. Amélia. Abril 15 - Maria de Melo de Carvalho Monteiro (nascida a 7.8.1877) casa com Francisco Assis Nazaré Almeida.

Maria de Melo de Carvalho Monteiro no dia do consórcio com Francisco Assis Nazaré Almeida. Deste casamento nasceram dois filhos: Maria da Nazaré Monteiro de Almeida (1905-1999) e Francisco de Carvalho de Almeida (19091924), o qual havia de falecer com 15 anos, de paralisia infantil.

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AACM (c. 1900)

Família Carvalho Monteiro reunida junto da “Fonte da Regaleira” (c. 1900).

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Vistas da Quinta da Regaleira, obtidas por Manini (c. 1903) e insertas em Cintra Pinturesca (1905)

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Trabalhadores empregados na construção da Regaleira, posam para Luigi Manini (?), junto da obra das cocheiras (c. 1903-1904) [MCCC-FLM: inv 7337F]

1904 Os novos edifícios e os arranjos naturalísticos em curso na Regaleira começam a ter eco público, nomeadamente na imprensa. O edifício das Cocheiras fica concluído.

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As cocheiras da Regaleira, concluídas em 1904 (Ilustração Portuguesa)

As cocheiras da Regaleira após a conclusão da obra. Fotografia atribuída a Luigi Manini, c. 1904 [MCCC-FLM: inv 7335F]

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1905 A 24 de Outubro nasce no Palácio Quintela Maria da Nazaré Monteiro de Almeida, filha da Maria de Melo de Carvalho Monteiro e de Francisco Assis Nazaré Almeida. Início da construção da capela da Quinta da Regaleira, dedicada à Santíssima Trindade. AACM torna-se sócio da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses (Ilustração Portuguesa, 21 Ago.) e Mesário da Santa Casa da Misericórdia de Sintra. 1906 Segundo factura datada deste ano, o Leroy 1 importa em 21130 francos (15000 para o mecanismo e 6130 para a decoração). 1907 Conclusão das obras da capela da Regaleira, dedicada à Santíssima Trindade.

Convívio na Regaleira (Primavera, 1908)

1908 No Verão, Luigi Manini viaja para Milão e Veneza, a fim de encomendar e acompanhar o acabamento das peças, designadamente, 43

os mosaicos, destinados ao pavimento e paramentos de parede da capela, os vitrais e parte das alfaias litúrgicas. 1909 O relógio LeRoy 01 (encomendado em 1896), durante várias décadas, o mais complicado do mundo (24 complicações), chega, finalmente, às mãos de Carvalho Monteiro, trazido de França por D. Manuel II.

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Domus Aedificata Anno Domini MCMX (Casa Edificada, ano do Senhor 1910) Cartela na fachada Nordeste do Palácio

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1910 Conclusão das obras na Quinta da Regaleira, não obstante prossigam arranjos ornamentais no interior da mansão. Em homenagem ao “nosso melhor lepidopterólogo português”, o entomólogo Cândido Mendes de Azevedo dedica a AACM uma variedade de uma borboleta característica da Serra da Estrela (Satyrus actaea ssp. monteiroi 46

Mendes), também por ter sido ele quem “melhor a descreveu”. A República é proclamada no dia 5 de Outubro. AACM, monárquico convicto, é detido na Boa Hora (Lisboa).

AACM (1910), a sua assinatura e os seus quatro netos (c. 1911) Teresa Carolina Potier de Carvalho Monteiro (nascida a 15.11.1895); António Augusto Potier de Carvalho Monteiro (nascido a 26.10.1906); Maria da Nazaré Monteiro de Almeida (nascida a 24.10.1905) e Francisco de Carvalho Almeida (nascido a 24.7.1909)

1913 AACM é indiciado como cúmplice de um atentado contra Afonso Costa. Falece a esposa, Perpétua, no dia 25 de Dezembro. Alguns arranjos em curso na Regaleira são abandonados. Luigi Manini regressa a Itália.

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1915 No Palácio Quintela é instalado o Museu Instrumental Português, cujo acervo é constituído por cerca de cinco centenas de instrumentos musicais. Os colectados por Alfredo Keil e os procedentes da colecção Lambertini (adquiridos por Carvalho Monteiro), aumentam significativamente o acervo já pertencente ao dono da casa, bem assim como a diversos doadores e depositários. Caberia a Michel’Angelo Lambertini (1862-1920) a direcção da colecção, cuja aquisição pelo Conservatório Nacional, se havia de concretizar em 1931.

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AACM abordado por pedintes no Largo Barão de Quintela (c. 1917)

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Macho de Thereus ortalus, colhido por AACM, em Petrópolis, no dia 10 de Fevereiro de 1876 [MNHN] Inúmeras borboletas da colecção AACM resultaram de colheitas efectuadas pelo próprio (Benfica - Lisboa, Santa Clara - Coimbra e Petrópolis - Brasil, etc.), comprovadas por exemplares do Museu Zoológico da Universidade de Coimbra e do Muséum Nationale de Histoire Naturelle [MNHN] de Paris. AACM assinalava tais lepidópteros com etiquetas triangulares, consignando o local e a data da respectiva colheita. As persistentes e aturadas investigações empreendidas por Fernando Vaz Santos Carvalho, revelaram alguns dos destinos da colecção entomológica de AACM: a colecção Fournier de Horrack está depositada no; após o falecimento de Eugène le Moult, em 1967, os lepidópteros da sua imensa colecção foram dispersos em cerca de 1100 lotes numa hasta pública realizada no Hotel Drouot de Paris, perdendo-se o rasto aos exemplares procedentes da colecção Carvalho Monteiro; os quatro armários oferecidos a Paulo Ferreira, depois da morte deste (1949), foram doados pela sua viúva ao Museu Zoológico da Universidade de Coimbra, onde ainda se encontram; no Centro de Zoologia do Instituto de Investigação Científica Tropical (Lisboa), conserva-se uma colecção de “Lepidópteros da Europa” (“Colecção Paleárctica”?), outrora pertencente a AACM, adquirida em hasta pública por Fernando Carneiro Mendes († 1976). As demais colecções que se sabe terem existido em Portugal, uma (Museu Bocage) foi destruída por um incêndio, em 1968, da outra (Colégio Henrique de Sagres) desconhece-se o paradeiro actual.

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A colecção malacológica de AACM reunia mais de 10000 espécies. Desconhece-se a razão por que, depois de aceite a doação pela Faculdade de Ciências de Lisboa, a colecção terminou integrada no acervo do Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra, onde permanece encaixotada.

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Õbra de Camões e... obra Milhões Caricatura ce F. Valença (in Varões Assignalados)

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AACM e o seu Palácio, da Rua do Alecrim n. 70 (c. 1919)

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Retrato a óleo de AACM

Alegoria, alusiva a AACC [aguarela, DCL: PR 06, CN 969 – A size – container 2, folder 2] 55

1920 Outubro 24 - AACM morre na Quinta da Regaleira (Sintra).

O funeral de AACM saindo da Estação do Rossio e durante o trajecto até ao cemitério dos Prazeres (Ilustração Portuguesa)

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1923 Consoante as partilhas do património de AACM, a Quinta da Regaleira passa a pertencer a seu filho, Pedro Augusto de Carvalho Monteiro, e o Palácio do Barão de Quintela, cujo valor matricial é de 630 contos, a sua filha, Maria de Melo de Carvalho Monteiro. 1925 – Pedro Carvalho Monteiro faz diligências no sentido de oferecer a colecção malacológica de seu pai ao Museu da Faculdade de Ciências de Lisboa, cujo Director oficia (5 de Maio) informando-o quanto à decisão do Conselho da Faculdade [PT-MCUL-FCUL-CE-02-01438m0072] de aceitar a doação. 1926 - Pedro Carvalho Monteiro, filho e um dos herdeiros de AACM, decide vender a colecção de lepidópteros de seu pai, constituída por várias dezenas de milhares de espécimes, conservados em muitas dezenas de armários distribuídos pelo rés-do-chão do Palácio Quintela (cada armário possuindo 30 caixas com tampo envidraçado, da firma Émile Deyrolle de Paris, construídas em madeira de cedro, tendo a face dianteira de carvalho e puxadores de ébano). Com o objectivo de inventariar e organizar a colecção, é contratado Henri Donckier de Donceele (especialista em coleópteros e negociante de colecções entomológicas), o qual permanece durante dois meses em Lisboa até dar por concluída a missão de que fora incumbido, por sugestão de Paulo Ferreira, o qual também colabora nessa autêntica empreitada. Uma importante parte da colecção de “Borboletas do Mundo” de AACM vai à praça em Paris, sendo adquirida pelos coleccionadores franceses Aimée Fournier de Horrack († 1952) e Eugène le Moult († 1967). Parte da restante colecção de “Borboletas do Mundo”, conservada em quatro armários (dois dos quais ostentando o monograma do proprietário) são oferecidos a Paulo Ferreira, pelos herdeiros de Carvalho Monteiro, como contrapartida pela sua colaboração. 1927 - Maria da Nazaré Monteiro de Almeida casa com D. Sebastião José de Carvalho Daun e Lorena – 8º Marquês de Pombal (19031965), 18 de Abril. Deste casamento nascem dois filhos, Francisco de Carvalho Daun e Lorena (1928-1929) e Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena (1930). A colecção de colibris de Carvalho Monteiro está na posse de Arthur L. Butler, ornitologista que a ela se reporta em artigos de 1927 e 1932.

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Colibri da colecção AACM, colhido no Alto de Sucupira (Rio de Janeiro), em 25 de Abril de 1874 [Musée des Confluences, Lyon] Após ter pertencido a Arthur Butler, e a, pelo menos, mais dois coleccionadores, Jacques Berlioz († 1975) e Christian Jouanin, a colecção acha-se depositada no Musée des Confluences (anteriormente Musée d’Histoire Naturelle), em Lyon (França).

1929 - Morre Maria de Melo Carvalho Monteiro, passando a propriedade do palácio para sua filha, Maria da Nazaré Monteiro de Almeida, então casada com o 8.º Marquês de Pombal. 1930 - Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena, bisneto de António Carvalho Monteiro e futuro 9.º Marquês de Pombal, nasce e é baptizado no Palácio. O Museu Britânico (British Museum, Londres) adquire 4500 exemplares do herbário de AACM, o

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qual contém “muitos espécimes colecionados por botânicos que escreveram sobre a flora portuguesa”.

A Quinta da Regaleira cerca de 1930 (autor desconhecido)

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1934 - Maria da Nazaré Monteiro de Almeida e Sebastião José de Carvalho Daun e Lorena, 8.º Marquês de Pombal, mudam-se para o Brasil, onde vivem no Hotel Copacabana Palace, até 1938.

Prunus lusitanica L (Flora lusitanica exsiccata, n. 3539) [Bottany collec. database: Nhm-meu-media-irn-15985] AACM reuniu um enorme herbário constituído por espécies colectadas em Portugal por botânicos da craveira de Johann Centurius, conde de Hoffmannsegg (1766-1849), Friedrich Welwitsh (1806-1872), Jules Daveau (1852-1919), José Francisco Valorado (1765-1850), etc. Além disso, possuía na sua biblioteca uma vasta bibliografia sobre história natural, botânica e horticultura, bem como autógrafos, manuscritos e folhetos de Avelar Brotero (1744-1828), do abade Correia da Serra (1744-1828) e de José Francisco Valorado, discípulo de Brotero. Uma espécie constante do herbário de AACM (Flora lusitanica exsiccata, n. 2662) permitiu classificar um neótipo da planta Pinguicula lusitanica L, na falta do espécime tipo original de Lineu.

1936 Luigi Manini morre em Bréscia, na Lombardia (Itália). 60

1949 Waldemar José Jara D’Orey adquire a Regaleira a Pedro Carvalho Monteiro, procedendo a obras no palácio.

1956 Waldemar D’Orey procede a obras nas cocheiras da Regaleira, que são adaptadas para habitação. A venda do LeRoy01 à cidade de Besançon, para integrar o Museu do Tempo, rende 2 milhões de francos. 1988 Após duas gerações na posse da família D’Orey, a Regaleira é adquirida pela sociedade Shumdo Sanko, Co., do grupo japonês Aoki Corporation. 1993 A Quinta da Regaleira é classificada pela Câmara Municipal de Sintra como Imóvel de Interesse Concelhio. 1997 A quinta é adquirida pela Câmara Municipal de Sintra. 1998 Junho – Com a sua gestão confiada à Fundação Cultursintra (instituída pela Câmara Municipal de Sintra), a Quinta da Regaleira é aberta ao público. 61

Agosto - A Regaleira é classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Ministério da Cultura.

A Regaleira, cerca de 1971 (autor desconhecido)

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AS DIVISAS SIMBÓLICAS E EMBLEMÁTICAS DE ANTÓNIO AUGUSTO CARVALHO MONTEIRO

AACM era um homem de princípios que vivia em consonância estricta com eles. A sua índole, educação, formação e ideais todos confluíram no sentido de o tornar um cidadão atento aos sinais dos Tempos e empenhado no aprimoramento anímico e moral da humanidade e, particularmente, no dos Portugueses, dando, sem embargo, prioridade ao seu próprio aprimoramento e dos seus mais próximos. Patenteia-se isso em várias dimensões da sua vida, a saber: A adesão a agremiações e instituições, filantrópicas, cívicas, culturais e científicas 7;

assistenciais,

O coleccionismo no que concerne, designadamente, aos lepidópteros (borboletas), os quais, como se infere do seu jazigo, entendia enquanto alegoria, ou Imagem da Vida Humana e da respectiva teleologia; A sua biblioteca com especial enfâse para a Camoniana, cujo acervo foi o mais vasto alguma vez reunido, e para o Templarismo e, notadamente, para a matéria Sebástica, certamente, uma das mais representativas colectâneas de fontes, seja históricas, seja proféticas, organizada durante o século XX; Sem prejuízo de outras: Sociedade Protectora das Cozinhas Económicas de Lisboa; Albergues Nocturnos de Lisboa; Assistência Nacional aos Tuberculosos; Cruz Vermelha Portuguesa (sócio 775 e seu Presidente Honorário); Santa Casa da Misericórdia de Sintra; Sociedade de Protecção ao Operariado; Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses; Sociedade Promotora das Raças Cavalares e Turf Club; Sociedade de Geografia de Lisboa; Sociedade Broteriana de Coimbra; Sociedade de Instrução do Porto; Academia Real das Ciências de Lisboa; Associação dos Advogados de Lisboa; Jardim Zoológico e de Aclimatação em Portugal (vogal da 1ª Direcção, 18831884); Société Portugaise des Sciences Naturelles. No estrangeiro afiliou-se nas principais sociedades entomológicas da Europa e da América, nomeadamente de Espanha, França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Rússia e Estados Unidos. 7

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Catavento com Cruz de Cristo (Ordem Templária de Portugal), na Torrinha e efígies de Camões, cavaleiro templário e dama Beatriz, “nortes” de AACM, no pináculo Norte do mirante da Sala Octogonal.

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Regrar a sua vida por máximas morais e divisas emblemáticas estrategicamente posicionadas no piso térreo (público) da Regaleira 8, ou transportadas consigo, sob a forma de medalhas, ou do Leroy 01, o “relógio mais complicado do mundo”;

A saudação latina SALVE e o pelicano debicando o seu próprio corpo para alimentar os filhotes. A saudação repete-se no mosaico do pavimento do vestíbulo. Sondar o mais profundo da sua Alma, mediante a atenção que dedicava aos sonhos. A familiaridade com a tradição clássica que o curso de Direito, a ópera e, mais determinantemente, a intimidade com Camões e a Uma das netas de AACM, D. Nazaré Pombal, recordava-se delas como se fossem parte integrante do espírito do lugar”. 8

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cosmovisão templária e sebástica deste, de resto partilhada pelos editores e comentadores quinhentistas e seiscentistas da obra do vate, que AACM tão bem conhecia, facultou-lhe os motes fundadores da sua própria mundividência, susceptíveis de integrar harmoniosamente a poética do mistério e o correlato imaginário. Revelam-se tais motes nos frontispícios de algumas edições de Luís de Camões constantes da biblioteca Monteiriana (cf. Camoniana – lista dactilografada na posse de um descendente de AACM). A título de exemplo, recordo apenas os quatro casos seguintes, todos eles reportando à tradição emblemática inaugurada por André Alciato:

Os Lusiadas de Luis de Camões, Manuel de Lira, 1584 Orfeu, aquele que visitou o Hades (Mundo subterrâneo) para resgatar Eurídice, a sua Dama, tocando uma viola antiga, cuja música amansa animais (veado e leão), com o mote NON VI, SED INGENIO ET ARTE (Não a Força, mas o Engenho e a Arte). 68

Os Lusiadas de Luis de Camões, Manuel de Lira, 1591 Variante da empresa, ou divisa anterior: Orfeu tocando uma lira (viola antiga), com o mote NON VI (no manto) SED INGENIO ET ART[E] (Não a Força, mas o Engenho e a Arte).

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Rimas de Luís de Camões, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1598 (2ª ed.) Genios alados com archote / ramo de oliveira e espelho / folha de palma, alegorias da Paz e da Verdade, em torno de uma arcada no interior da qual se acha a empresa ou divisa de D. Gonçalo Coutinho, uma oliveira e o mote MIHI TAXUS (Para mim teixo = oliveira), árvore de Palas que “mistura com as armas todas as boas ciências e disciplinas, com tal concerto que reciprocamente se comunicam admirável lustre”. O conjunto expressa a ideia de “paz e brandura cortesã” (Fernão Rodrigues Lobo Soropita). 70

Lusíadas de Luís de Camões, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1635 Uma pena e uma espada postas em aspa e reunidas por coroa de louro, com o mote SIMUL IN UNUM (O mesmo num), inspirado no Salmo XLVIII, 3 (Vulgata)

*** O Emblematum Liber (Augsburgo, 1531), o livro de André Alciato (1492-1550) que inaugurou o género emblemático, Alciato teve a Ilíada e a Odisseia, os fabulários latinos (de Fedro e Esopo), a cerâmica e numismáticas clássicas, os epigramas gregos

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(nomeadamente os da Antologia Planudea 9, do período alexandrino), as obras de Ovídio, Aulo Gélio, Plínio, Ateneu, Eliano, Pausanias, etc., as colecções de provérbios e máximas que sistematizavam a ética greco-latina (Dísticos Morais de Catão e a Antologia de Estobeu), a Bíblia, os bestiários, a heráldica, a literatura alegórica medievais, etc., e, designadamente, as invenções hieroglíficas de Horapollo e Colonna, bem assim como os elencos de apólogos e provérbios em circulação nos meios humanistas, compendiados em diversas obras, com destaque para os Adagia 10 do mestre de Roterdão, Erasmo (1466-1536). Foi amplíssima em Portugal a aceitação da obra deste jurisconsulto milanês e muito popular até aos finais da centúria de setecentos. Leite de Vasconcelos referenciou, em 1917, para cima de cinco dezenas de exemplares em bibliotecas públicas e privadas nacionais 11. É conhecido o quanto D. João de Meneses Sotomaior, encarecia os Emblemata 12, a ponto de, correspondendo a uma sua solicitação, Sebastião Stockhamer ter composto, em 1552, os sucintos comentários, posteriormente impressos em Lião (1556), Antuérpia (1565, 1566 e 1567) e Genebra (1614). O entusiasmo do 7º Senhor de Também denominada Antologia Grega. Trata-se de uma colectânea de epigramas gregos de várias épocas, recolhidos pelo erudito grego Máximo Planudes (1255-1305), cuja edição princeps data de 1494 (Florença), sob a direcção de outro erudito grego, Janus Lascaris. Outras edições quinhentistas: Veneza, Aldo Manucio, 1503, 1521 e 1551; Florença, Giuntina, 1519; Paris, Badius Ascensius, 1531; Basileia, 1549; Veneza, P. e J. Nicolini, 1550; Paris, Estienne, 1566; Francoforte, Herdeiros de Wechel, 1600. Existe reedição contemporânea: Anthologie Grecque, deuxième partie, Anthologie de Planude, Paris, Les Belles Lettres, 1980. O médico Brás Luís de Abreu, reproduz uns versos latinos de Alciati, vertidos do grego, in Portugal Médico, Lisboa, 1726, p. 732, §§ 70 e 71, alusivos à barba, acrescentando que esta “devia ser o ornamento mais precioso de um varão sábio, visto que é judicioso emblema de um homem douto”. 10 Edição princeps: Paris, 1500. Reeditados em 1508 (Veneza) e 1515 (Basileia), consideravelmente ampliados. Ver também Primera parte de las Sentencias que hasta nuestros tiempos, para edificacion de Buenos costumbres, estan por diversos Autores escriptas […], Lisboa, Germão Galhardo, 1554, fl. 102v-106 [BN: Res 2613 V] e Coimbra, João Álvares, 1555, p. 212s. [BPÉ: Res 760]. Cf. Artur Moreira de Sá, De Re Erasmiana, Lisboa, 1977, p. 282-289. 11 Joaquim Leite de Vasconcelos, Emblemas de Alciati explicados em Português: manuscrito do séc. XVI-XVII ora trazido a lume, Porto, 1917. Cf. Manuel J. Gandra, Os Emblemas de Alciato (ed. Christian Wechel, Paris, 1540), comentados em Português, Mafra, 2012. 12 Cf. Maria Helena de Teves Costa, A Emblemática de Alciato em Portugal no século XVI, in O Humanismo Português (1500-1600) Primeiro Simpósio Nacional, Lisboa, 1988, p. 435-461. 9

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Cantanhede pelo livro seria de tal ordem “que não só o tinha à mão em casa, como até em viagem o levava consigo”. Eventualmente, aquele aristocrata terá levado os Emblemata consigo para a Índia, em 1605, onde, de resto, terão circulado outros livros congéneres, chegados na bagagem de fidalgos empenhados em alguma campanha militar ou comercial, e de missionários, maioritariamente jesuítas, decerto. Com efeito, em 1602, contava o inquisidor António de Barros que no cárcere do Santo Ofício de Goa aparecera “a ocultas um exemplar do Livro dos Emblemas de Alciato” que para lá fora enviado pela mãe do judeu João Nunes, para este se desenfadar, livro “assaz prejudicial”, no entender do referido inquisidor 13. Convém, ainda, registar a ocorrência de motivos inspirados (Fortuna foi um dos favoritos) em Alciato (e em Achile Bocchi) em colchas bordadas indo-portuguesas e sino-portuguesas 14. Nas letras profanas os Emblemata inspiraram notoriamente Luís de Camões. Em abono da verdade, a influência exercida pela literatura emblemática (Alciato, Camerarius, Bartolomeus Anulus, Joannes Sambucus, etc.) em Camões foi imediatamente constatada por alguns dos seus editores seiscentistas 15.

Cf. António Baião, A Inquisição de Goa – Correspondência dos Inquisidores da Índia (1569-1630), v. 1, Lisboa. 1930, p. 343. 14 Cf. Maria João Ferreira, Ganimedes e a Fortuna. Exemplos de temáticas mitológicas clássicas em peças têxteis bordadas sinoportuguesas, in Oriente, n. 12 (Ago. 2005), p. 90-114. Ver também João Nuno Alçada, A Tempestade do Triunfo de Inverno como “topos” da “Fortuna” Marítima na Corte de D. João III, in Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, v. 37 (1998), p. 53-66. 15 Cf. Manuel Correia, Os Lusíadas do grande Luís de Camoens […] comentados pelo licenciado […], Lisboa, 1613, fl. 251r; Bartolomeu Pachão, Fábula dos planetas moralizada […], Lisboa, 1633, fl. 88v; Faria e Sousa, Rimas Várias de Luís de Camoens, Lisboa, 1689, 2ª parte, p. 166; etc. Ver Marion Ehrardt, Repercussões Emblemáticas na obra de Camões, in Arquivos do Centro Cultural Português, v. 8 (1974), p. 553-566; Yara Frateschi Vieira, A Tradição emblemática em Camões: presença e função discursiva, in Estudos Portugueses e Africanos, n. 5 (1985), p. 123-135 e Emblema, alegoria e história no episódio da Ilha dos Amores, in Revista Camoniana, s. 2, v. 4 (1981), p. 93-109; Maria Helena de Teves C. Ureña Prieto, Tópicos da iconologia Renascentista na Poesia Camoniana, in Actas da I Reunião Internacional de Camonistas, S. Paulo, 1987, p. 669702; Martim de Albuquerque, Emblematismo e Camões, in A Expressão do poder em Luís de Camões, Lisboa, 1988, p. 265-290. 13

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Diversos apontaram a origem emblemática de uma série de versos que descrevem a Ilha dos Amores, designamente aqueles que se reportam à cidreira 16, ao pêssego 17, ou ao olmeiro 18. Por seu turno, os versos 43-39 da Ode VII do vate parecem concitar a convicção da generalidade dos exegetas, desde Faria e Sousa 19, quanto a traduzirem o sentido do emblema 120 de Alciato (Paupertatem summis ingeniis obesse ne provehantur), por sua vez inspirado num hieróglifo da Hipnerotomachia Poliphili de Colonna 20:

“Sempre foram engenhos peregrinos Da Fortuna envejados; Que, quando levantados Por um braço nas asa são da Fama, Tanto por outro a sorte, que os desama, E o peso da gravidade Os oprime da vil necessidade”. Essa constatação, pode conduzir a considerar francamente consistente a probabilidade da origem emblemática de outras imagens Cf. Os Lusíadas, IX, 56. Idem, IX, 58. 18 Ibidem, Ix, 59. 19 Ver Vida del Poeta, VI, col. 22. 20 Cf. Ludwig Volkmann, Bilderschriften der Renaissance, Hieroglyphic und Emblematik in ihren Beziehungen und Fortwirkungen, Nieuwkoop, 1969, p. 43. 16 17

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constantes da mesma Ode, caso dos versos 4-6, similares no sentido aos do epigrama do emblema 36 de Alciato (Obdurandum adversus urgentia):

“da gloriosa palma, que não perde A presunção sublime Nem por força do peso algum se oprime” 21. Convém, não obstante, adoptar redobradas cautelas no que concerne às atribuições genéticas no emblematismo literário e não confundir estruturas ou funções emblemáticas com meros motivos emblemáticos, i. e., distinguir, tanto quanto possível, as influências directas das indirectas. No caso em apreço, por exemplo, a imagem poética da palmeira, como emblema da constância, pode ter sido inspirada a Camões por Gélio, Plutarco, Aristóteles, Xenofonte, Teofrasto, Estrabão, Plínio ou Erasmo. Tal cautela deve subjazer à exegese de inúmeros outros textos literários, pese embora a influência maior ou menor creditável a Alciato, sofrida por André Rodrigues Eborense 22, António Ferreira 23, Glosa o tema na Ode Querendo escrever, um dia […], v. 111 e em Os Lusíadas, VIII, 76. Cf. Sententiae, Lisboa, 1554; Lião, 1557; Coimbra, 1569; Paris, 1569; Veneza, 1572; Colónia, 1593. 21

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Francisco Leitão Ferreira 24, António Delicado 25, António de Sousa de Macedo 26, bem como inúmeros outros de entre os quais se destacam Manuel Faria e Sousa, Manuel Severim de Faria e Bocage.

O interior da cúpula do zimbório da igreja de São Pedro de Elvas, reproduz oito emblemas de Alciato

Carta para António de Castilho (Coimbra, 30 de Junho de 1557): “os alciatos em que me V. m. falou, se todavia os escusa me fará mercê mui grande mandarmos”. Ver Poemas Lusitanos, v. 2, Lisboa, Clássicos Sá da Costa, p. 154-155. Cf. Brito Rebelo, Cartas de António Ferreira e Diogo Bernardes a António de Castilho, in Archivo Histórico Português, v. 1 (1903), p. 138, 148, 185 e 187. 24 Nova Arte de Conceitos, Lisboa, 1718-1721. 25 Adágios Portugueses reduzidos a lugares comuns, Lisboa, 1651. 26 Eva e Ave, ou Maria Triunfante, Lisboa, 1716 [BPNM: 2-13-18-8]. 23

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Nas artes são tributários de Alciato: João de Ruão 27, Francisco de Holanda, bem assim como os autores de muitos dos programas iconográficos dos espaços emblemáticos, destinados às entradas régias e aos jardins de muitas quintas de recreio e palácios, desse modo transformados em autênticas Moradas Filosofais, de que são paradigmáticas a Quinta da Bacalhoa (Azeitão) e o Palácio Fronteira (Lisboa).

Mas até as Apólices do Real Erário, instituídas por Alvará de 1797, testemunham a glosa dos repertórios emblemáticos de Alciato, mediante a transposição de algumas das suas alegorias, como, meramente a título de exemplo: o leão acossado por uma matilha de cães (figurando a Ira e a Cólera dos seres em estado selvagem, que o homem avisado deve evitar) e a vanidade dos maldizentes ou ímpetos vãos, exposta no emblema 164 (o cão julga ver na Lua a imagem de um outro da sua espécie, ladrando-lhe incessantemente e exaurindo, desse modo vão, todas as suas energias) 28.

Alegado autor de um medalhão com a figura da Ocasião, datável de ca. 1540, destinado a uma casa do Largo da Sé Velha de Coimbra, actualmente no Museu Nacional Machado de Castro. Erroneamente descrita como Fortuna por Pedro Dias e, antes dele, por Guido Battelli, Um Medalhão da Renascença Italiana no Museu Machado de Castro, in Ilustração Moderna, a. 6, n. 52 (Jul.-Ago. 1931), p. 326. 28 Cf. Arte e Imagem nas notas do Banco de Lisboa (1846-1996), Lisboa, 196, p. 112-114. 27

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Já no século XIX, também o pintor António Manuel da Fonseca utilizaria os Emblemata para compôr diversas das suas obras, designadamente um painel transparente de pintura expressamente encomendado pelo barão de Quintela para a iluminação do seu Palácio das Laranjeiras, na noite do dia 22 de Outubro de 1820 29: “[…] o objecto principal é o Retrato do nosso Amável Soberano, e da Sua Augusta Esposa, levantados em baixo relevo em uma medalha de ouro, a qual vão colocar sobre um Pedestal de uma Coluna Egípcia duas Figuras, uma o Amor da Pátria, que é caracterizado em um Mancebo guerreiro, que tem ao peito uma das Quinas Portuguesas; o mesmo pega com a mão direita nos Retratos, e com a esquerda mostra quanto avalia, e estima a Justiça, que se vê à esquerda do Quadro, pegando com a direita na dita medalha, e com a esquerda impunha as varas Consulares. Junto ao Amor da Pátria se vê a Fidelidade figurada em um Menino, e um Cão, tendo na direita duas chaves; e em o meio das duas figuras ditas a Felicidade Pública coroada de flores, entornando a Cornucópia da abundância. Na parte superior do Quadro, junto à mesma Medalha, se vê o Amor da Virtude, que com a mão direita ampara os ditos Retratos, e com a esquerda segura o símbolo da Memória perdurável, figurada em uma Cobra, que morde a cauda. a qual é sustida tambem pela Gratidão simbolizada por um Menino que abraça uma Cegonha. À esquerda do dito Quadro se vê o Tempo curvado, sustendo sobre as asas um Livro, em que se lê a História ditada pela Verdade, que está à sua direita, caracterizada com hum Sol, que lhe alumia o peito, e na mão esquerda tem uma Palma. Finalmente ao lado direito do dito Quadro se vê a Generosidade, junto a ela um Leão, e com mãos liberais distribui ricas medalhas, e preciosas jóias, mostrando o quanto estima as Artes, e olhando benigna para o Génio da Pintura, caracterizada por um Menino, que tem na mão esquerda umas asas, e na direita lhe pesa uma grande pedra. Este Emblema é de Alciato” 30. Cf. Henrique de Campos Ferreira de Lima, António Manuel da Fonseca, Litógrafo, in Museu, v. 3, n. 6 (Jun. 1944), p. 25-26. 30 A Analise do Painel transparente que mandou fazer o Barão de Quintella, pelo pintor António Manoel da Fonseca, Filho, para a illuminação do seu Palácio das Larangeiras, para a noute do dia 22 de Outubro de 1820, circulou impressa numa folha volante, 29

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A influência de Alciato e de seus mais notórios discípulos não foi menor entre teólogos e moralistas, que empregaram emblemas e empresa, ou divisas, para interpretações ao divino, como sucedeu com Frei Heitor Pinto 31 e Manuel Bernardes, em particular, e com os jesuítas, em geral, seus mais estrénuos adeptos e divulgadores, bem como com os respectivos discípulos 32. Outro exemplo é o oratório da duquesa de Bragança D. Catarina (Paço de Vila Viçosa), concebido pelo pintor Tomás Luís 33. O êxito retumbante e a popularidade alcançados pela obra de Alciato 34, autêntica vulgarização da doutrina antes apenas acessível nos Espelhos e Regimentos de Príncipes (os denominados livros ad usum delphini), testemunham o interesse generalizado que suscitou não só no velho Continente como também nas colónias (nomeadamente as americanas), o qual se havia de consubstanciar na adesão ao género de um número crescente de autores. Paradoxalmente, o alinhamento de muitos deles, por campos ideológica e idiossincraticamente distintos, como eram o dos reformados e o dos contra-reformistas, não os impediria de, reiteradamente, partilharem as mesmas fontes. Num ápice, o emblematismo havia de transformar-se numa espécie de linguagem universal e influenciar outros géneros e disciplinas, tornando-se a literatura (Camões), o teatro (Shakespeare e impressa de um só lado, profusamente distribuída (Lisboa, Na Impressão Régia. Com Licença da Comissão da Censura). A Mnemosine Constitucional transcreve quase na íntegra, o mesmo texto. 31 Imagem da Vida Christam, Lisboa, 1681 [BPNM: 2-13-8-12] e Segunda Parte dos Diálogos da Vida Christam, Lisboa, 1593 [BPNM: 2-13-3-16]. 32 A título meramente exemplificativo, anoto de Pedro José Supico de Morais, Collecção Moral de Apothegmas, ou ditos agudos, e sentenciosos, Parte I, Lisboa Oriental, Oficina Augustiniana, 1732 e Parte II, Coimbra, Francisco de Oliveira, 1761, obra na qual se acham inúmeras remissões para os Emblemata de Alciato. Apenas na Parte II, registo, sem pretender ser exaustivo: p. 75, 76, 117, 125, 145, 149, 308, 354, 365, 373, 383, 401, 406. 33 Cf. Vítor Serrão, O pintor maneirista Tomás Luís e o antigo retábulo da igreja da Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo (1591-1597), in Artis, n. 1 (2002), p. 211-235, especialmente, p. 229-231. 34 A única tradução portuguesa conhecida (Declaração Magistral sobre os Emblemas de Alciato com todas as Historias, Antiguidades, Moralidades, e Doctrina tocante aos bons costumes [BN: cod. 9221 = F 268 e F 1476]) foi realizada, em 1695, por Teotónio Cerqueira de Barros, cavaleiro da Ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício natural da Vila de Barca Província do Minho, a partir da edição de Diego Lopez (1615) Rubem Amaral Júnior, promoveu a edição do códice em apreço, antepondo uma “breve apresentação” à respectiva transcrição diplomática, s. l., s. d. [2006] [BN: L 94402 V].

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Cervantes) e as artes plásticas campos preferenciais para a sua expressão. Não obstante, convém distinguir a empresa 35 do emblema, género afim deste (patente em registos heráldicos, vinhetas, marcas de impressores, ex-libris, nas medalhas de AACM, etc.), com o qual, de resto, foi, frequentemente, confundido aquém-Pirinéus. Com efeito, a empresa é uma figura ou composição engenhosa de uso estritamente pessoal, invariavelmente, enigmática e indissociável de mote curto (redigido em latim, grego ou francês) que expõe veladamente uma intenção, aspiração, desejo ou conduta particular, ao invés do emblema que expressa uma intenção geral. Rafael Bluteau esclarece na perfeição as acepções adequadas a cada um dos conceitos: “Entre Humanistas, Emblema é termo metafórico, porque da significação de ornamentos materiais, passou a significar algum documento moral, que aberto em estampas, ou pintado em quadros, se põe para ornamento das salas, galerias, academias, arcos triunfais, etc. O Emblema tem, como a Divisa, ou Empresa, corpo e alma, a saber figura visível e letra inteligível, porém em muitas coisas difere Emblema de Empresa. 1. Tanto mais perfeita é a Empresa ou Divisa quanto mais simples e composta de menos figuras. Mas o Emblema admite várias figuras históricas ou fabulosas, materiais ou artificiosas, verdadeiras ou quiméricas; nem exclui, como a Empresa, corpos humanos; mas antes com erudita moralidade às vezes representa um Ganimedes, que sobe, um Dédalo que voa, um Faetonte que cai, etc. 2. O objecto da Empresa (segundo o seu uso primitivo) é Heróico e Particular. O objectivo do Emblema é um documento geral, concernente ao instituto da vida humana. 3. A Empresa como subtil, engenhosa e rebuçada, usa de letra ambígua e lacónica, que declarando encubra, e encobrindo declare, o que significa. Pelo contrário, o Emblema, como familiar, popular, liso e sincero, clara e difusamente expõe o que ensina. Finalmente, podem a Empresa e o Emblema ter o mesmo corpo ou figura, mas não a mesma alma ou letra, porque a letra da Empresa 35

Do latim imprendere, empreender. Sinónimo de divisa, na língua portuguesa.

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há-de ser própria e particular, e a letra do Emblema há-de ser geral e dogmática; e com esta advertência, arrolando a alma, e não o corpo, quero dizer mudando a letra sem mudar a figura poderás fazer da Empresa Emblema e do Emblema Empresa” 36. Os livros de empresas são, em regra, e à semelhança dos bestiários e lapidários medievais, autênticos repositórios de portentos e curiosidades pitorescas, bebidas tanto nos clássicos, quanto em eventos coetâneos dos respectivos autores. A vasta literatura sobre empresas, difundida pelas cortes dos monarcas franceses Carlos VIII e Luís XII, designadamente a partir da invasão francesa da Itália, tornando-a uma verdadeira filosofia do cortesão, testemunha o triunfo do conceito e do engenho na escrita. Diversas foram as explicações avançadas quanto à origem da empresa: Menestrier considerou-a italiana, Juan de Horozco (1589) dila originada nos signa dos estandartes romanos, distinguindo-a da divisa e alegando que esta foi originalmente distintivo pessoal, posteriormente convertido nos brasões hereditários, enquanto a empresa, sendo igualmente pessoal, manifesta algum propósito que, por constituir o objecto de um empreendimento, adquiriu a designação que usa. Paolo Giovio (1483-1552) e Pierre Le Moyne são apontados como os responsáveis pela definição e consagração das regras compositivas da empresa. O referido mestre italiano expôs, no Dialogo delle Impresi Militari et Amorose (1551), os cinco critérios indispensáveis à divisa bem sucedida 37, a saber: 1. correspondência exacta entre corpo e alma (figura e motto); 2. nem obscura, nem demasiado óbvia; 3. de aparência agradável; 4. não antropomórfica;

Cf. Vocabulário Portuguez Latino, v. 3, Lisboa, 1713, p. 43-44. Nunca houve unanimidade quanto a estes critérios. Cerca de um século volvido, Emanuel Tesauro havia de apontar os 32 elementos essenciais à empresa, no Il Cannochiale Aristotelico (1672). O gosto renascentista pela elaboração de empresas, como exercício de agudeza, seria reiteradamente preconizado pela teoria barroca da metáfora, tornando-se parte indissociável das opções estéticas do conceptismo. 36 37

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5. o motto escolhido não podendo adoptar a língua do destinatário da empresa, convém que seja breve e isento de ambiguidades.

A Empresa, ou Divisa, de Camões (um dragão saindo das entranhas da terra), segundo Manuel Faria e Sousa (1639) e a edição de Os Lusíadas, patrocinada pelo Morgado de Mateus (Paris, 1817)

Em Portugal as empresas começaram a ser difundidas a partir do século quatorze, coincidindo com o advento da dinastia de Avis. A esse propósito, evoco uma muito esclarecedora passagem de Rodrigues Lobo: “- As armas (respondeu ele) é a insígnia que cada um tem de sua nobreza, conforme ao apelido com que se nomeia, e com o sinete delas sela as cartas de importância, ou com elmo, e folhagens sobre o paquife do escudo, ou com ele em tarja, como tenção; que estas como são pensamento, e desenho particular, se abrem às vezes em redondo, ovado, ou quadrângulo, e outras figuras, sem respeitar a do escudo. Em Portugal é coisa muito antiga aos príncipes trazem tenções, e empresas com letras, e ainda as usavam misturadas nas Armas Reais, 82

que posto que naquele tempo não estavam tão apuradas como agora, nem eram sujeitas à arte, que delas e para elas fizeram os modernos, não lhes faltava entendimento, e galanteria. El-rei D. João o I trazia na orla das Armas uma letra, que dizia: Por bem. E a rainha D. Filipa de Alancastre sua mulher, outra que respondia a esta em Inglês que dizia: Me contenta. O infante D. Fernando seu filho, o Santo, trazia uma capela de hera com seus cachinhos, e no meio dela a Cruz de Avis, de cuja cavalaria era Mestre. O infante D. Pedro uma capela de carvalho com suas bolotas, e no meio umas balanças, e nas armas Reais, no banco de pinchar, em cada pé de alto a baixo mãos, e por cima umas letras escritas muitas vezes, que diziam: Dizer, e entre cada palavra destas um ramo de carvalho com bolotas. O infante D. João, que foi mestre de S. Tiago, casado com a neta do condestável D. Nuno Alvares Pereira, trazia uma capela de ramos de silva com cachos de amoras, com as bolsas de S. Tiago no meio, e três conchelas em cada uma com uma letra em Inglês, que dizia: Com muita razão. O infante D. Henrique, Mestre na Ordem de Cristo, trazia as armas do Mestrado, e de antigas de Portugal, e ao redor um cinto largo de correia, que abroxava no cabo de baixo, e uma fivela que fazia volta com ao correia, e em Inglês a letra dos cavaleiros de Garrotea, que ele também era, e dizia: Contra si faz quem mal cuida. E uma capela de carrasco, e no banco de pinchar três flores de lírio em cada pé. El-rei D. Afonso o V trazia pintado um mundo com esta letra: Conheço que não te conheci. El-rei D. João II seu filho, trazia um rodízio, com esta letra: Setere: e na outra trazia um Pelicano ferindo o peito, e dizia a letra: Pela lei e pela grei. A rainha D. Leonor sua mulher, trazia uma rede de pescar, a que chamam rastro. El-rei D. Manuel, uma esfera com uma Cruz. A excelente senhora, uns alforges, e nas cevadeiras pintadas as Armas de Castela com esta letra: Memória de mi derecho. O marquês de Valença, neto do conde D. Nuno Álvares, trazia dois guindastes, que levantavam um título de pedra, com quatro letras, cada uma por parte. E além destas há memória de outras muitas, que dão testemunho do uso que delas havia neste reino. - Por certo, disse D. Júlio, que estou assaz contente do fruto que colhi da minha pergunta, por saber curiosidade tão notável dos nossos príncipes antigos, que para a minha natural inclinação é a coisa de maior gosto, e interesse: e não fora menor; pois falamos de Armas, e Tenções, e vós sois visto nela fazer que saibamos mais alguma coisa

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traz desta matéria, principalmente donde nasceu, e teve principio o uso dos Escudos de Armas, e das Tenções. - Quanto à minha opinião (respondeu Leonardo é que armas, e empresas, ou tenções não tiveram no seu princípio a diferença, que agora lhes assignam os que delas escrevem de letras, e corpos sem letras, com limitações, e regras mui apertadas. Antes me parece, que as armas eram as insígnias que os reis, e imperadores davam aos seus para ser conhecida sua nobreza, conformando-se na figura delas com a qualidade dos sucessos por onde as mereceram, ou com a antiguidade do sangue de onde descendiam a quem as davam, e as que os mesmos reis tomavam para si em memoria de semelhantes feitos, ou derivadas por seus antecessores. Empresas, ou tenções são as que os mesmos reis, príncipes, ou particulares tomam, conformando as figuras, e letras com o desenho, e pensamento que cada um tem, para empreender coisas altas, E daqui adiante entram as regras, que depois lhe aconteceram; que, por ser um discurso mui comprido, não tem lugar em noite tão breve” 38. Dom Francisco Manuel de Melo testemunha o declínio a que haviam chegado no século XVII, no seguinte trecho da sua Carta de Guia de Casados: “Pedia uma dama a um seu irmão, discreto, que lhe desse uma letra para certa empresa sua, que queria mandar abrir em um sinete; respondeu-lhe: Minha irmã, deixai as empresas para as adargas dos cavaleiros andantes, as empresas que haveis de mandar abrir, sejam chavões para fazerdes bolos a vosso marido quando o tiverdes” 39. *** O escrutínio do acervo bibliográfico disponível na biblioteca de AACM, mediante a consulta sistemática dos catálogos da DCL e das listas na posse de descendentes, apenas permitiu assinalar duas obras integráveis na tradição emblemática a que tenho vindo a reportar-me, (uma de Boccacio, outra de Jacob Cats), porém, nenhuma delas deu entrada na Biblioteca do Congresso. 38 39

Cf. A Corte da Aldeia, diálogo II. Cf. cap. XII.

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Seja como for, AACM teve, decerto, oportunidade de compulsar tratados emblemáticos que não chegou a adquirir, eventualmente na posse de Luigi Manini, ou de outros bibliófilos e bibliotecas. Justamente, porque todas as sete medalhas de AACM foram decalcadas de um mesmo livro, uma colectânea de Empresas, ou Divisas, organizada por Nicolas Verrien (Recueil d’Emblemes, Paris, 1696), ausente quer da DCL, quer das listas familiares... 40

Jacob Cats (1577-1660), Silenus Alcibiadis, sive Proteus, Vitae humanae ideam Trifariam Varietate Oculi [...], Amesterdão, Villem Blaeu, s. d. AACM contava com um exemplar desta edição na sua biblioteca, achando-se encadernada no mesmo volume, com frontispício especial, a obra Manita Amoris Virginei sive Officium Puellarum […]. O autor foi adepto da "agudeza recondita", buscando inspiração nos provérbios do quotidiano holandês, como antes fizera Pieter Brueghel num óleo de 1559, actualmente no Museu de Berlim. As 7 medalhas em ouro que AACM usava ao pescoço foram presentes ao público, pela primeira vez (mediante projecção), no decurso da derradeira comunicação, a cargo do Arq. João Cruz Alves (31 de Outubro de 2011), no Colóquio Carvalho Monteiro – Vida, Imaginário e Legado. Por carta (21.5.2012), o detentor delas, trineto do evocado, proibiu-me, não só de publicá-las, como também, pasme-se, de abordar o tema! 40

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A mitologia clássica não esteve completamente ausente da cultura medieval, tendo, no entanto, sido relegada para o plano da fábula. Ficaria a dever-se a Boccacio a sistematização, na sua Genealogiae deorum, da maior parte da informação até então dispersa acerca dos deuses pagãos da antiguidade. O seu livro, a par das Metamorfoses de Ovídio, constituiu, até à publicação das Imagini de i Dei (1566) de Vincenzo Cartari, a fonte primacial, não só para explicar em termos simbólicos as acções dos deuses, mas também a respectiva aparência e atributos, de molde a esclarecer a metáfora hagiográfica que haviam passado a personificar. António Augusto Carvalho Monteiro possuia a edição incunábula, de 1481, da Genealogiae deorum.

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Festina lente Oxímoro latino atribuído ao Imperador Octávio (27 a. C. – 14 d. C.), com o sentido: Apressa-te devagar; Devagar se vai ao longe; Faz lentamente o urgente; Devagar que tenho pressa. Condenação da pressa excessiva. Fazer as coisas sem tardança, mas não sem ponderação e cautela. Ocorre num trecho da Vida de Augusto de Suetónio (12 Césares, 25, 4), o qual advertia os comandantes impetuosos com uma expressão grega com o exacto sentido desta. Depois em Polieno (Strategemata, 8, 24) e Aulo Gélio (Noites Áticas, 12, 5), em Esopo (Fábulas A Tartaruga e a Lebre e O Caranguejo e a Borboleta).

Tartaruga com vela aplicada à carapaça e delfim (aliás, rémora) entrelaçado numa âncora.

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Alciato, Elias Ashmole e Cardeal D. Henrique

Variantes: tartaruga com vela aplicada à carapaça (Cosimo I de Medici; impressores florentinos Bartolomeo e Michelangelo Sermartelli); delfim (ou rémora) entrelaçado numa seta (Melchior de Neuss de Colónia, c. 1529; Alciato, sv maturandum, in Comentário por Claude Mignault; Elias Ashmole, Theatrum Chemicum); delfim

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(aliás, rémora) entrelaçado numa âncora (Aldus Manucio; Cardeal D. Henrique; etc.); etc. 41

Sala do Bilhar, ou dos Reis, na Regaleira

Cf. Edgar Wind, Los Misterios del Renascimiento, Barcelona, 1971, p. 104. Ver também: José V. de Pina Martins, Descobertas Filológicas e Descobrimentos Portugueses numa carta de Aldo Manuzio a Leão X (1513), in Humanismo Português na época dos Descobrimentos (Coimbra, 1991), Coimbra, 1993, p. p. 425-437; G. ZAPELLA, Le marche dei tipografi e degli editori Italiani del cinquecento, Milão, 1986, s. v. Tartaruga, parte 1, p. 368-369 e parte 2, fig. 1151-1155. 41

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Foi divisa, ou mote, de Augusto, Tito, Vespasiano (medalha), Domiciano (medalha), Medici, Aldo Manúcio (1494-1515), Paulo Manúcio (1533-1573), Aldo Jovem (1574-1598), Cardeal-rei D. Henrique, família Onslows (on slow), etc., tendo sido interpretada por Erasmo (Adagia, Cumprimentos ao editor) e por Gabrieli Simeoni (Le Empresi Heroiche et Morali). Na Regaleira, via-se pintada nas paredes da Sala do Bilhar, ou dos Reis, alternada com o mote Macte Animo, no enxaquetado vegetalista em forma de losango que cobria as paredes. Desapareceu por iniciativa da família d’Orey.

Macte animo Jovem, ânimo! (Estácio, Silvae, 5.97); Ânimo! Coragem! Ocorre em Virgílio (Eneida, 9, 641): “Macte nova virtute, puer; sic itur ad Astra” (Bravo rapaz, pela tua coragem, assim se chega às Estrelas). Lema do 2º Esquadrão de Carros de Combate da Brigada Mecanizada (Portugal). Provérbio latino, vocativo do adjectivo mactus, macta, mactum, sinónimo de honrado (Macte animi = honrado pela tua alma). Cf. Sílio Itálico (17, 275), Estácio (Tebaida, 2, 495), etc. Na Regaleira, via-se pintada na Sala dos Reis, alternada com o mote Festina Lente, no enxaquetado vegetalista, em forma de losango que cobria as paredes. Desapareceu por iniciativa da família d’Orey.

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De coloribus et gustibus non est disputandum De cores e gostos não se discute; Sobre os gostos e as cores não vale a pena discutir; Gostos não se discutem. Na Regaleira, via-se pintado na Sala de Caça, na parede sobre a passagem para a copa.

Materiam superabat opus O Engenho supera a Matéria. Ocorre em Ovídio (Metamorfoses, 2, 5) Na Regaleira, via-se no átrio de entrada, sobre o pórtico de transição para a escadaria nobre, a qual os d’Orey suprimiram quando adquiriram a mansão.

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Parcialmente encoberta pelo candeeiro, a máxima Materiam superabat opus vislumbra-se sobre o pórtico de entrada na mansão.

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Tarde venientibus ossa […] nulla Para os retardatários apenas os ossos; Quem vem tarde come os ossos e quem mais tarde vier nada come. Provérbio dos mercadores romanos. Na Regaleira, via-se em duas paredes da Sala de Caça, sobre a porta de entrada e sobre a janela dupla 42.

Sobre a janela dupla, lê-se a derradeira palavra do provérbio.

Cf. N. COLARES, Palácio do Ex.mo Senhor Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, in A Architectura Portuguesa, a. 10, n. 8 (Ago. 1917), p. 30. 42

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A máxima vislumbra-se na parede ao fundo, ladeando a porta de acesso a esta dependência da casa.

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Deorsum nunquam Corpo da divisa: Chama flutuando no espaço Alma da divisa: Deorsum nunquam = Não desço nunca. “Tal como a chama se eleva e não pode jazer, nem inclinar-se para baixo, nem descansar, assim o nosso ânimo ergue-se e fica mais activo, quanto mais veemente é” (Séneca, Os quatro Elementos, liv. 2, Ep. 39). Ocorre em: Lactâncio (De Divinis Instututionibus, liv. 7); Girolamo Ruscelli (Impresi Illustri, Veneza, 1584, p. 121) 43; Caspar Augustin (Der newen Cornet und Fahnen, Augsburgo, 1633, p. 42); Dominique Bouhours (Les Entretiens d’Ariste [...], entretien VI, Paris, 1671, p. 298 e 304 e Paris, 1741, p. 381); Picinelli (Il Mondo Simbolico [os 4 elementos: o fogo = O ânimo nobre], Milão, 1680, 2, 48 e 1687, II, 2, 56); Daniel la Feuille (Devises et Emblemes), Amesterdão, 1693, prancha LXI, n. 4 e 1712; Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha LXI, n. 4); François Noel (Opuscula Poetica in quatuor partes distributa, Francoforte, 1717, parte 3, cap. 4, p. 196 [Vita S. Ignatii Virtutes]); Gabriel François Le Jay (Bibliotheca Rhetorum, v. 4, Paris, 1725, p. 419); Graham (The British Herald or cabinet of armorial banings of the nobility and gentry of Great Britain and Ireland, v. 3, Sunderland, 1830). Empresa adoptada pelas famílias Orsini, Olympia e TargioniTozzetti (Livorno), por Claudia Rangona (filha de Claudio Rangoni e Lucrezia Pico della Mirandola) e também por Richard Goodsicke of Ribaton Yorkshire (1560-1601) e por Cornelis Ketel (1548-1616) que se fez retratar acompanhado por esta empresa (Art Gallery of South Australia, Adelaide), 156º Regimento (21-23 Out. 1915), numa medalha em ouro de AACM, etc.

Cf. Monica Calabritto, Women’s Impresa in Girolamo Ruscelli’s Le Imprese Illustri (1566), in Donato Mansuelo, The Italian Emblem: a collection of Essays, Glasgow Emblem Studies, v. 12, p. 75-76. 43

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Frontispício da obra de Nicolas Verrien (Recueil d’Emblemes […], Paris, 1696) da qual AACM decalcou as suas sete medalhas.

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A divisa em Caspar Augustin e Girolamo Ruscelli

A medalha de AACM é decalcada da empresa publicada por Nicolas Verrien (prancha LXI, n. 4). No verso a tradução:

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Cornelis Ketel

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Nicolas Verrien (prancha LXI)

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Dum placeam peream Corpo da divisa: Queimador de incenso Alma da divisa: Dum placeam peream = Que todo eu me consuma contanto que agrade; Que seja a meu favor, enquanto viva (Pierre Le Moyne) Ocorre em: Pierre Le Moyne (Devises Heroiques et Morales, 1649); Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha IV, n. 3); Daniel La Feuille (Devises et Emblemes, Amesterdão, 1691; Symbola et Emblemata, Amesterdão, 1705, p. 10, n. 30); Dominique Bouhours (Entretiens d’Ariste [...], entretien VI, Paris, 1671, p. 363); Louis Claude Menestrier (Devises des Princes, Cavaliers, Dames, Scavans et autres personnages illustres de l’Europe - La Philosophie des Images, v. 2, Amesterdão, 1683, p. 212); Verrien (Recueil d’Emblemes); Meling van Zinspreuken (Verzameling [...], Amesterdão, 1741, p. 10-11, n. 30); Jacob Bosch (Symbolographia, Augsburgo, 1701, e 1702, n. DCLXX, p. 231 e 233), numa medalha em ouro de AACM, etc.

A divisa em Daniel La Feuille (1691) e Pierre Le Moyne

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Empresa iconografada na igreja de S. Miguel de Bamberg (cf. Anja Hofmann, Sakrale Emblematik in St. Michael zu Bamberg, Bamberg, 1997/2001, p. 68)

A divisa em Meling van Zinspreuken e Jacob Bosch

Medalha de ouro de AACM, decalcada de Nicolas Verrien (prancha IV, n. 3). No verso ostenta a tradução: Que todo eu me consuma contanto que agrade.

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Nicolas Verrien (prancha IV)

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Claude Menestrier

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Mitte non promitte Corpo da divisa: Uma figueira carregada de figos Alma da divisa: Mitte non promitte = Dá o teu fruto sem o prometer; Dá frutos sem os prometer A figueira produz frutos sem antes se apresentar florida (cf. Deuteronómio), caso singular no mundo vegetal. Ocorre em: Joachim Camerarius (Symbolorum et emblematum, ex re herbaria [...], Mogúncia, 1677, centuria I, colecta IX, p. 18-19: “Gratior est fructu ficus quem flore salicta missa ego promissis ante ferenda reor”; Nuremberga, 1590, p. 10v-11r; Francoforte, 1654, p. 10v-11r); Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha II, n. 8); Heinrich Offelen (Symbola et emblemata, n. 391, p. 132); Daniel la Feuille (Divises et Emblemes, Amesterdão, 1691, X, 399, p. 29, n. 8 e prancha 2, n. 8); Heinrich Kitoch (Symbologia heroica hexaglottos, 1608, p. 105); Johann Heinrich Ursinus (Arboretum Biblicum, 1663, p. cap. 21, p. 303), numa medalha em ouro de AACM, etc.

A divisa em Camerarius e Daniel La Feuille 106

Divisa do conde de Monsanto (9.12.1864).

A medalha em ouro de AACM é decalcada de Nicolas Verrien (prancha II, n. 8). No verso a tradução: Dá o teu fruto sem o prometer.

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Nicolas Verrien (prancha II)

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Obliquus, non devius Corpo da divisa: Rio serpenteante Alma da divisa: Serpenteio mas não me desvio Ocorre em: Dominique Bohours (Entretiens d’Ariste [...], entretien VI, Paris, 1671, p. 374); Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha XXXIII, n. 7); Jacob Bosch (Symbolographia sive de arte symbolica, Augsburgo, 1701 e 1702, n. CMLIII, p. 634 e 637, respectivamente); Picinelli (Mundus Symbolicus, 1715, Flumen, 2, 435); Gabriel François Le Jay (Bibliotheca Rhetorum, Veneza, 1747, p. 725; Daniel la Feuille (Emblemes et Devises, prancha XXXIII, n. 7), numa medalha em ouro de AACM, etc.

Divisa em Jacob Bosch e Medalha em ouro de AACM, decalcada de Niolas Verrien (no verso ostenta a tradução: Serpenteio mas não me desvio).

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Nicolas Verrien (prancha XXXIII, n. 7)

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Privo di te moriro Corpo da divisa: Caixa ou vaso com planta (laranjeira), iluminada pelo sol resplandescente Alma da divisa: Privo di te moriro = Sem ti perecerei Ocorre em: Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha IV, n. 14); Von den Ketten (Apelles Symbolicum, Amesterdão, 1699, CLIII, p. 834); Daniel la Feuille (Devises et Emblemes, Amesterdão, 1691, prancha IV, n. 4, n. 14; tb, ed. 1705), numa medalha em ouro de AACM, etc. Mote de Luís XIV (cf, moedas de ouro e cobre, Ø 28 mm) Medalha de Maria de Rubentel (1555-1612), cobre, 1570

Moeda de ouro de Luís XIV

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A divisa em Nicolas Verrien (prancha IV, n. 14) e Daniel la Feuille (1705)

Medalha em ouro de AACM, decalcada de Nicolas Verrien, sem tradução no verso

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In me mea spes omnis Corpo da divisa: Elefante Alma da divisa: In me mea spes omnis = Nada espero senão de mim mesmo; A minha esperança reside em mim Ocorre em: Daniel la Feuille (Devises et Emblemes, Amesterdão, 1685, n. 5); Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha I, n. 3); Meling van Zinspreuken (Verzameling [...], Amesterdão, 1741, p. 2-3, n. 1), numa medalha em ouro de AACM, etc. Brasão de armas da família Post (jazigo de família no Hillwood State Museum, Washington, DC) e também de Virginia e Richard Poultney (1730) (cf. Charles Knowles Bolton, Bolton’s American Armory, 1927 e 1989, p. 133)

A divisa em Meling van Zinspreuken e Medalha em ouro de AACM, decalcada de Nicolas Verrien. No verso ostenta a tradução: Nada espero senão de mim mesmo.

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Nicolas Verrien (prancha I, n. 3)

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Meling van Zinspreuken

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Meling van Zinspreuken

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Quis audet? Corpo da divisa: Leão num circo Alma da divisa: Quis audet? = Quem ousará? Aquele que não ousa não vencerá (quis audet vincit = provérbio latino, correspondente a outro: vincit quis audet = o vencedor é aquele que ousa). Juvenal (Sátiras, XII, 48-49): “Mas onde encontrar ainda um mortal que deseje comprar a sua salvação em troca de todos os seus bens?” Divisa inspirada em 2 Corintios XI, 21 (Vulgata) e Genesis XLIX, 9 (todo o versículo se reporta ao Messias = Judá é como um leão ainda novo. Tu te levantaste meu filho, para roubares a presa. E quando descansavas, estiveste deitado como um leão em sua casa. Quem se atreverá a despertá-lo?) Leitura de Domingo de Sexagésima (Domingo Magro, 8º domingo, ou 56º dia antes da Páscoa) Ocorre em: Nicolas Verrien (Recueil d’Emblémes, devises, medailles et figures Hieroglyphiques, Paris, 1696, prancha L, n. 8), numa medalha em ouro de AACM, etc.

Vinheta alusiva a Genesis XLIX, do frontispício do tomo I da Bibliotheque des Philosophes Chymiques (Paris, 1672) [BPNM] 121

Medalha em ouro de AACM. A única das 7 medalhas cuja divisa se reporta a alguém distinto do seu proprietário (3ª pessoa do singular). No verso ostenta a tradução: Quem ousará atacá-lo?

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Nicolas Verrien (prancha L, n. 8)

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O Leroy 01,

O RELÓGIO MAIS COMPLICADO DO MUNDO

O Leroy 01, durante mais de 8 décadas o “Relógio mais complicado do mundo” 44, foi fabricado, entre Janeiro de 1897 e 1900 45, pelo relojoeiro Charles Piquet, da firma de Relógios de Precisão Leroy, de Besançon (França), sob encomenda de António Augusto Carvalho Monteiro e conforme as minuciosas instruções por ele fornecidas.

Ao invés do mostrador dianteiro, sempre visível, o mostrador posterior do Leroy 01 está dissimulado sob uma tampa, constituindo o reverso da cápsula, a qual se mantém fechada mediante um fecho secreto. O relógio mais complexo de sempre, até ao surgimento, em 1989, do Calibre 89 de Patek Philippe, actualmente o mais complicado, reunindo 33 complicações. 45 O Leroy 01 foi exposto na Exposição Universal de Paris, realizada neste ano, tendo arrecadado o Grande Prémio do certame. 44

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A ideia de construí-lo ocorreu a AACM quando, em 1896, adquiriu um relógio expressamente concebido para o conde russo, Nicolas Nostitz, o qual fora posto à venda em Paris após a morte do seu proprietário. Ficava, de acordo com a carta que AACM remeteu à empresa Leroy, muito aquém, do que “a ciência tinha para oferecer ao homem do final do século XIX”. Consoante uma factura com data de 1906, AACM dispendeu 21130 francos com o Leroy 01 (15000 para o mecanismo e 6130 para a decoração). Actualmente, acha-se exposto no Museu do Tempo, em Besançon, depois de adquirido, em 26 de Março de 1956, pelos habitantes da cidade, que lograram reunir os dois milhões de francos necessários para cobrir o valor pedido por um relojoeiro português, então detentor da peça 46.

O Leroy 01 em exposição no Museu do Tempo (Besançon, França) Os herdeiros de AACM ponderarm alienar o Leroy 01, em 1953, tendo a peça sido adquirida por um relojoeiro português. 46

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Cofre em ébano, destinado a conservar o Leroy 01, bem como todas as peças e mecanismos que o compõem [foto: Museu do Tempo]

Além das funções convencionais (horas, minutos e segundos), este espantoso artefacto, constituído por 4 níveis de mecanismos e contando um total de 975 peças, comporta as seguintes 24 complicações: No mostrador anterior: os dias da semana e do mês; os meses e os anos, incluindo um calendário perpétuo; faculta dados sobre as estações do ano, solstícios, equinócios, equação do tempo e fases e idade da Lua; dispõe de um cronógrafo com retorno a zeros, contador de minutos e horas e um indicador de reserva de marcha; os toques, às horas, aos quartos e aos minutos, são reguláveis em três timbres (forte, médio, silêncio), tocando como um carrilhão; No mostrador posterior: representa o céu no hemisfério boreal no momento do dia indicado pela data, incluindo a representação do céu e do horizonte de

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Reverso da cápsula, desenhado por Luigi Manini [foto: Museu do Tempo, Besançon] A argola de pendurar, um pequeno tronco dobrado de árvore seca, apoia-se em ambos os lados de um elmo coroado. Esta coroa contém 16 pérolas e uma pequena bússola no interior.

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Lisboa, ilustrado com 560 estrelas, o de Paris com 236 estrelas e o do Rio de Janeiro, com 611 estrelas; mostra a hora exacta em 125 cidades capitais do mundo e a hora do nascer e do pôr-do-sol em Lisboa; inclui um termómetro metálico (regulado em graus centígrados), um higrómetro de cabelo, um barómetro, um altímetro, até 5000 metros, um mecanismo que permite acertar o relógio sem o abrir, e ainda uma bússola. O reverso da cápsula em ouro, projectada por Luigi Manini, esculpida e cinzelada por V. Burdin, mede 71 mm de diâmetro e pesa 228 g (sem molas e pulseira), merecendo uma análise iconográficoiconológica detalhada. Com efeito, creio que a presença do monograma AM (António, ou Augusto, Monteiro) torna esta tampa uma espécie de oitava medalha ou divisa emblemática do seu comitente e proprietário.

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Na moldura, quatro figuras assinalam os pontos cardeais, indicando, concomitantemente, os eixos solsticiais (N - S) e os equinociais (L – O), respectivamente. São elas, uma esfera armilar (a Norte, indicando a Porta dos Deuses) e as quinas de Portugal (a Sul, indicando a Porta dos Homens), a nascente a cruz de Santiago e a poente a de Cristo, envoltas por cordas e laçadas. Servindo de cenário fundeiro ao conjunto, um portal geminado (as portas dos Deuses e dos Homens, tendo aposto o já referido monograma AM, no centro da composição).

Sobre as quinas de Portugal assenta a figura de Cronos (ou Saturno, personificação do Tempo), associado a uma ampulheta e à gadanha, seus atributos. Cronos segura com a sinistra o Fio da Vida tecido pela figura feminina à sua esquerda, a Parca Cloto, para quem orienta o seu olhar, a qual segura uma roca de onde o dito Fio brota, significando o nascimento. 132

As três Parcas (correspondentes às moirai, gregas), divindades clássicas que presidem ao destino humano e regulam a vida de todos os seres, acham-se distribuídas pelos mainéis do pórtico geminado. Cloto (a fiandeira) do lado direito dele (esquerda do observador), custodiando a Porta dos Deuses (Norte), enquanto Laquesis (a fatídica) que enrola o Fio da Vida no fuso, fazendo-o girar com o movimento uniforme, se arrima ao mainel esquerdo (direita do observador), custodiando, desse modo, a Porta dos Homens (Sul).

As Parcas Cloto e Laquesis A terceira Parca, Átropos (a inflexível), aquela que corta o Fio da Vida com a tesoura que constitui o seu atributo, ocupa o mainel central, achando-se como que coroada pela esfera armilar, para significar a universalidade da Morte. De resto, as quatro alegorias saídas da mitologia que fazem e desfazem a vida, aqui figurada por um fio, todas estão, de algum modo, em contacto com ele.

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A Parca Atropos O carácter transitório e fugaz do destino microcósmico do proprietário do Leroy 01, aqui humildemente expresso, contrasta com o Tempo universal, revelado pelos doze signos zodiacais, cinzelados na moldura do mostrador dianteiro.

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UMA BENGALA NEOMANUELINA de António Augusto Carvalho Monteiro

A 20 de Setembro de 2013, a responsável pela Divisão dos Manuscritos da Biblioteca do Congresso, Cheryl Fox, surpreendia-me com duas fotografias, anexadas a um e-mail. Haviam ambas sido encontradas na Divisão de Gravura e Fotografia da instituição, sem qualquer registo de proveniência, e reproduziam uma bengala (cane ou walking stick), supostamente pertencente a AACM 47. Constava-me que AACM também coleccionara bengalas, mas deste particular objecto, usado “como adjutório para andar ou por elegância”, jamais ouvira falar, ou tivera notícia documental. As características formais, assim como o fotógrafo (Fotografia Alemã) e a localização do seu estúdio (Chiado - Lisboa) abonavam assertivamente a favor da suposição de Cheryl Fox. De imediato partilhei da suposição-convicção de que esta bengala terá pertencido a AACM. Aliás, o bastão metálico (prata?) hexagonal com ornatos neomanuelinos (lembrando as colunas da nave dos Jerónimos) e o castão (parte superior de uma bengala) sextavado, e coroado por Cruz de Cristo aposta sobre as nervuras de uma abóbada, pouca margem deixavam para outras inferências. O castão da bengala possui ainda a particulariedade de abrir, revelando outra Cruz de Cristo em filigrana (?), para permitir o acesso a uma bússola (?).

Transcrevo o e-mail para se entender o seu exacto teor: “Hi Manuel, I wonder if you have any thoughts about the iconography on this (presumably Carvalho Monteiro's) cane. There are two photos of it in the Prints & Photos division here at the Library. I notice the cross and fleur-de-lis pattern, but I'm probably missing the larger significance. Also, the handle opens, but the inside is not shown. I was thinking there might have been a compass inside. Do you have any ideas? Hope you and your family are doing well”. 47

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Bangala neomanuelina de AACM [foto DCL] 138

Bangala neomanuelina de AACM com o castão aberto [foto DCL]

Fotografia Alemã – Chiado Lisboa 139

A CAMA DAS METAMORFOSES

de António Augusto Carvalho Monteiro

De acordo com informação facultada pelo director do Museu Nacional de Arte Antiga, Dr. João Couto, na década de 1930, esta cama terá sido oferecida por um Papa aos Condes de Sabugal. Em 1880 foi vendida pelo último Conde de Sabugal a Júlio Cordeiro que a cedeu, em 1882, ao Museu das Janelas Verdes [MNAA], onde ficou em depósito até 1885, ano em que foi retirada por AACM, seu novo proprietário, passando a integrar o recheio da Quinta da Regaleira. Após a morte deste, os herdeiros propuseram, em 1934, a venda da cama, ao museu, porém o valor requerido inviabilizou a transacção. O leito seria adquirido num leilão por Santos Pinto, o qual o não pôde transaccionar no estrangeiro por notificação do Museu. Tais circunstâncias favoreceram a sua aquisição pelo MNAA, tendo transitado daí para o Palácio Nacional de Sintra, em 1938. Esta peça foi proposta para classificação como Bem de Interesse Público, no âmbito da lei nº 107/2001 de 8 de Setembro. Trata-se de um leito de aparato, setecentista, em madeira de castanho (estrutura) e de ébano, com docel, sustentado por quatro colunas hexagonais e espaldar. Este é constituído por dois painéis colados: o primeiro em talha vazada com decoração vegetalista; o segundo em madeira forrada a placas de cobre prateado, repuxado com flores e folhas, intervalados com pinturas a óleo sobre cobre, protegidas com vidro, representando cenas mitológicas inspiradas nas Metamorfoses de Ovídio. O espaldar está dividido em três corpos rematados por outros tantos painéis amovíveis de encaixe, que formam molduras quadrangulares com frontões com frente em pescoço de cisne, sendo o central um pouco mais elevado que os dois laterais. As colunas que sustentam o docel apresentam também pequenas molduras rectangulares com pinturas a óleo (motivos florais) protegidas com vidro; a restante decoração é à base de pequenas placas de cobre prateado com motivos vegetalistas. As colunas terminam sobre o dossel com quatro pináculos. Os pés são circulares. 143

O leito de aparato, quando em exposição no MNAA (Ilustração Portuguesa)

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O leito de aparato na actualidade, no Quarto de D. Sebastião [Palácio Nacional de Sintra]

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No topo da cabeceira, sobre a moldura central, o brasão dos Condes de Sabugal, em cobre prateado

No medalhão octogonal do frontão central observa-se a primeira cena inspirada nas Metamorfoses de Ovídio.

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No corpo central, sob o medalhão octogonal do frontão, vê-se um medalhão circular representando Apolo rodeado pelas nove Musas, cada uma com seu instrumento musical. Pégaso cruza o céu nas costas de Apolo.

De cada lado do corpo central existem quatro medalhões octogonais rematados, superiormente, por frontões idênticos ao central.

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No frontão direito (esquerda do observador), Afrodite numa concha puxada por dois golfinhos, ladeada por várias figuras mitológicas relacionadas com o elemento aquático. Do lado direito uma figura feminina, possivelmente Antíope acompanhada por uma figura masculina e por Eros, sentado no chão, de costas para o observador rodeados por um sátiro e por algumas figuras femininas.

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Do lado esquerdo encontra-se um primeiro medalhão onde se vê Eneias a ser abraçado por Afrodite, sua mãe; ao fundo, Eros, adormecido.

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Ao lado, um segundo medalhão apresenta Eneias armado e rodeado por duas figuras femininas semi-nuas.

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Por baixo do primeiro medalhão encontra-se a cena em que Afrodite devolve a lança a Eneias, vendo-se em primeiro plano um rio sentado e apoiado numa vasilha da qual jorra água.

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O quarto medalhão mostra a forja de Hefesto e o fabrico da lança de Eneias.

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No frontão da esquerda (direita do observador) Leda com o cisne (Júpiter metamorfoseado). Esta e as seguintes pinturas iconografam três das doze aventuras Amorosas de Júpiter, justamente com Leda, Antíope e Europa.

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À direita, Antíope, acompanhada por Júpiter e por Eros, este sentado no chão, de costas para o observador.

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Antíope rodeada por um sátiro e diversas figuras femininas.

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Por baixo, Europa no dorso de Júpiter, disfarçado de Touro.

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No quarto painel, Júpiter, disfarçado de Touro, rapta Europa.

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No quarto de AACM, na Regaleira, esta cama, achava-se em conexão com duas pinturas parietais: uma, situada à cabeceira e, outra, colocada aos pés: a primeira figurava um anjinho, anotando os sonhos sonhados pelo seu companheiro, iconografado do lado oposto. Torna-se, assim, evidente a atenção dedicada por AACM aos (seus) próprios sonhos.

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A QUINTA DA REGALEIRA LEGADO SEBÁSTICO-TEMPLARISTA de António Augusto Carvalho Monteiro

Escreve pois em um livro todas as coisas que viste e conserva-as em um lugar oculto. Donde as mostrarás aos Sábios do teu Povo, cujos corações entendes que são hábeis para ver, compreender e guardar estes Mistérios. IV ESDRAS, XII, 37-38

Tábua de Cebes por Matthaus Merian e Monte Carmelo de São João da Cruz por Diego Astor

Tendo em consideração o carácter eminentemente plástico da Regaleira e o libreto que a sua cenografia pressupõe (Divina Comédia, Os Lusíadas, etc.), é minha convicção, também face aos referenciais 161

poéticos (Dante, Camões, etc.) e metafísicos (Templarismo, Cavalaria do Amor e Sebastianismo) de AACM, que dessa sua casa e autêntico refúgio (castelo) existencial (destinado ao usufruto privado, portanto encerrado ao público), qual diamante puro, minuciosamente lapidado, dimana o Teatro da Vida Humana (de todos quantos, heróis ou santos, aspiram à “libertação da Lei da Morte”), figurado numa peregrinação alegórica, do género das expressas pelo episódio da Ilha dos Amores, ou pela Tábua de Cebes 48, ambas consabidamente inspiradas na ascensão do Monte da Perfeição, arquétipo de todos os Sacro-Montes (Carmelo de São João da Cruz, por exemplo).

Manuscrito autógrafo de AACM [DCL: P-427], transcrevendo uma estrofe do episódio da Ilha dos Amores, constituindo a sua colaboração na edição autógrafa de Os Lusíadas, na qual participariam a família real [DCL: P-364], entre outras personalidades Ver Quadro da Vida Humana ou Tábua de Cebes Tebano, em a qual se nos ensina o verdadeiro modo de nos conduzirmos nesta vida sábia e prudentemente (trad. António Teixeira de Magalhães), Lisboa, 1819. Cf. Sagrario Lopez Poza, Expressiones Alegóricas del Hombre como Peregrino en la Tierra, in De Oca a Oca… pelo Camiño de Santiago, Santiago de Compostela, 2004, p. 49-71. 48

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Herança transcendente e indelével, fora do alcance da vã cobiça dos mortais, quaisquer que sejam, nem tão pouco da própria família do testamenteiro. Esta, tão desatenta ao essencial quanto convinha (Deus escreve direito por linhas tortas!), inibiu, sem se dar conta, soluções de continuidade subversivas, veiculando ou impondo revisionismos normativos ou corporativos, o que só viria a acontecer após a aquisição da propriedade pelo município sintrense, em consequência das movimentações orquestradas por um lobby maçónico 49. *** A Tábua de Cebes é um diálogo ético-filosófico, à semelhança dos do fundador da Academia ateniense, entre Cebes e Gerôndio, tendo por cenário o pronaos do templo de Cronos (Saturno), em Atenas ou Éfeso. Os interlocutores ocupam-se do significado de um painel alegórico, o emblema, ou imagem mnemotécnica, mais complexo de todos os tempos, justamente aquele que figura a Vida Humana, enquanto Monte escarpado e labiríntico, cujo cume, dificilmente acessível e situado para além das nuvens, é a meta derradeira que todos os Bem-Aventurados visam alcançar 50. Um sábio ancião expõe o sentido deste autêntico Teatro da Memória, desenvolvendo, como pictor philosophus, a doutrina platónica da metempsicose e dissertando sobre a verdadeira educação, enquanto formadora do carácter por oposição ao mero cultivo da erudição.

Dando de barato os reiterados anacronismos produzidos pelos proponentes da tese maçónica, nenhuma das fontes alegadamente apontadas como determinantes na concepção e desenho da propriedade (caso, por exemplo, do Sonho de Polifilo) constou da tão bem apetrechada biblioteca de António Augusto Carvalho Monteiro, o que não deixa de ser, concomitantemente, paradoxal e sintomático. De resto, nenhuma obra sobre Hermetismo, (Alquimia, Astrologia, Magia, etc.), a Rosa-Cruz, bem assim como outras que se afiançou deverem existir, constam do acervo da DCL, nem tão pouco das listagens familiares que subsistem. Convém recordar que também não existe documentação que sustente qualquer filiação iniciática de AACM. 50 Pilar Pedraza, La Tabla de Cebes: un juguete filosófico, in Boletín del Museo e Instituto Camón Aznar, v. 14 (1983), p. 93-110. 49

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Em virtude do carácter emblemático do argumento, cada uma das personagens que habita esta ekphrasis transforma-se numa alegoria. A Tábua de Cebes sintetiza todos os elementos simbólicos, característicos de uma peregrinação, como bem recorda Sagrario Lopez Poza: “[...] o homem como estrangeiro e perdido, o caminho ou a eleição dos caminhos, as dificuldades e contínuos assaltos à virtude, a difícil ascensão na escala espiritual, simbolizada por distintas muralhas concêntricas, franqueadas por portas bem guardadas, os castigos, dores, desespero no caminho, a penitência e purificação e, finalmente, a montanha sagrada na qual se acha a suma virtude, recompensa da sabedoria e da tenacidade que o peregrino vá demonstrando durante a árdua ascensão, elegendo correctamente os caminhos mais árduos […]” 51. O cenário em apreço é constituído por três muros, ou cercas, concêntricas, rodeando uma montanha. Na porta da primeira cerca, a multidão de infantes que deseja entrar na vida, é encaminhada por um ancião barbado em traje monacal, o Génio, encarnação da Sabedoria. Todos, sem excepção, se detêm junto da Impostura, ou Mau Conselho, uma figura feminina sedente, ricamente vestida, com um felino no regaço, que dá de beber o erro, ou a ignorância, aos meninos por um aquamanil. O ancião adverte-os contra a Fortuna, que não hão-de ter por adquirida, insistindo que não lhes convém caminhar apressadamente, nem deixar-se ludibriar pelas Opiniões. Aconselha-os a não se deterem até chegarem à Falsa Erudição, junto da qual podem obter o que entendam que possa aproveitar-lhes no caminho: Letras ou Artes, incapazes de, por si sós, tornarem alguém virtuoso, porém, susceptíveis de auxiliar a sê-lo. Uma vez transposto o primeiro umbral, os caminheiros encontram um grupo de meretrizes que são as Opiniões, a Concupiscência e as Delícias que os assaltam, seduzindo-os e afastando-os do caminho que levavam. A uns salvam-nos, a outros Cf. Expressiones alegóricas del hombre como peregrino en la tierra, in De Oca a Oca… polo Camino de Santiago, Santiago de Compostela, 2004, p. 58. 51

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matam-nos com o embuste. Os caminheiros atordoados, não logram atinar com o caminho verdadeiro, errando perdidos, às voltas. Equilibrada sobre uma esfera em pedra, surge-lhes, então, uma mulher cega, surda e louca, a caprichosa Fortuna, a qual favorece com riquezas, fama, poder e descendência os que não merecem, retirando aos demais aquilo que possuem. Logo deparam com quatro mulheres vestidas como prostitutas: a Gula, a Luxúria, a Avareza e a Lisonja. Aqueles que receberam bens da Fortuna, ficam à mercê destas que os enganam com promessas de Delícias. Quando se derem conta, os caminhantes terão exaurido a sua fortuna, vendo-se compelidos a cometer furtos, sacrilégios, falsos juramentos, traições, etc. Quando nada mais lhes restar, serão conduzidos a um lugar onde os submetem a penosos castigos. Acedem a esse lugar escuro e apertado por uma pequena porta. No interior encontram duas mulheres impuras, a Pena, com um azorrague, e a Tristeza, que apoia cabeça nos joelhos. Achamse aí, igualmente, a Dor, arrepelando os cabelos, o Pranto, fraco e desnudo, e a Desesperação. Todos atormentam o peregrino miserável antes de o trasladar a outro lugar, onde viverá em suma desventura, a não ser que lhe acuda a Contrição, a única capaz de o pôr a salvo destes males e conduzi-lo à Verdadeira ou Falsa Erudição, onde lhe será concedida uma nova oportunidade. A Falsa Erudição, que a maioria dos homens considera a Verdadeira Erudição e bom governo da vida, acha-se junto ao pórtico pelo qual se acede ao segundo recinto. Muitos (poetas, oradores, músicos, astrólogos, geómetras, filósofos, etc.) seguem-na cegamente ao encontro das Opiniões, as quais tudo farão para que aqueles que beberam a bebida do engano persistam no erro. Assim será, até que enveredem pelo caminho da Verdadeira Erudição e bebam a poção virtuosa mercê da qual serão purgados dos vícios que os desfeiam e expulsarão de si as opiniões e a ignorância. A senda que leva à Verdadeira Erudição é escarpada e estreita, com precipícios, todavia, os peregrinos que, em virtude do auxílio da Continência e da Tolerância, logrem superar as dificuldades, atingirão um locus amoenus onde reina a serenidade, a partir do qual poderão aceder a uma porta que comunica com a morada dos BemAventurados. Ali residem todas as virtudes. À porta, uma mulher de meia-idade, vestida de forma singela, em equilíbrio não sobre uma esfera (como a Fortuna), mas sobre um cubo, encarna a Verdadeira Erudição. Ladeiam-na a Verdade e a 165

Persuasão, duas das suas filhas. Dela os peregrinos recebem confiança e ânimo livre de todo o temor. Acha-se no exterior do recinto para dar a beber, aos que ali vão chegando, uma medicina purgativa da ignorância e do erro que a Impostura lhes serviu. Precisam ainda de expulsar a Arrogância, a Gula, a Arrogância, a Ira e a Avareza. Uma vez purificado, o viandante é convidado a entrar e a conviver com as Virtudes (as irmãs Fortaleza, Justiça, Bondade, Temperança, Modéstia, Liberdade, Continência e Clemência), as quais o conduzem ante a Felicidade ou Bem- Aventurança, que ele encontra no cume, sentada num trono. Aquele que alcança esse lugar, tornandose senhor de si mesmo e nada temendo, será coroado como vencedor, permanecendo próspero e bem-aventurado, podendo ir onde bem entender. *** Durante séculos foi quase consensual a atribuição do Pinax (designação do original grego), ou Tabula Cebetis (título consagrado pelas traduções latinas), a Cebes de Tebas (séc. V a. C.), que se supunha discípulo de Sócrates e de Filolau e interlocutor no diálogo Fédon de Platão 52. Creram outros, contudo, poder creditá-la ao estóico Cebes de Cyzicus, filósofo contemporâneo de Marco Aurélio, mencionado no Athenaeus (IV, 156D) 53. Porém, a obra é helenística, remontando, provavelmente, ao século II d. C., ou, quando muito, à centúria anterior. É inquestionável que foi concebida e difundida durante a Antiguidade tardia (final da época imperial romana 54), tendo-se tornado muito popular no final de

É apontado por Suídas e por Diógenes Laércio como autor de três diálogos, dos quais apenas o Pinax remanesce (consideram-se perdidos o Septima, intitulado Simmia, na opinião de outros, e o Phrynicus). Cf. Vida, Doutrinas e Sentenças dos Filósofos Ilustres. Alguns críticos recusam-lhe a autoria da Tábua, em virtude de alegados anacronismos materiais e filológicos. 53 Esta circunstância não abona a favor de tal creditação, porquanto a Tábua já era conhecida no tempo de Luciano, devendo, portanto, ser-lhe anterior. 54 Ver C. S. Jerram, Cebetis Tabula, Oxford, 1878, p. IX-XIII e XXXVII e Robert Joly, Le Tableau de Cebes et la Philosophie religieuse, in Collection Latomus, v. 61 (1963), p. 89. 52

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quatrocentos, quando começou a circular impressa 55, atingindo a sua mais ampla difusão durante os séculos XVII e XVIII. De resto, a Tábua de Cebes e o Enchiridion de Epicteto (50-138 d. C.) tornaram-se os textos mais estimados pelos moralistas do Renascimento e do Barroco, ou não fosse a alegoria da Vida Humana o tema favorito e mais recorrente nas letras e nas artes desses períodos 56, fazendo jus, de resto, às opções doutrinais quer reformistas, quer da Contra-Reforma 57. Lugar de múltiplas confluências, o interesse filosófico (não excluindo o estético, nem o literário) desta obrinha, que se inscreve no âmbito da denominada literatura de imagens, objecto dos tão justamente celebrados estudos de E. H. Gombrich, é indissociável do interesse prático inerente ao seu propósito didáctico e pedagógico 58. O carácter sucinto e singelo da Tabula Cebetis, propício à aprendizagem do grego pelos jovens, favorecendo a memorização, e incutindo-lhes, concomitantemente, o conhecimento dos preceitos axiomáticos do comportamento virtuoso, foram motivos mais que suficientes para a respectiva inclusão na Ratio Studiorum (1599) dos Colégios jesuíticos 59. De facto, este diálogo didáctico-moral, aliando as supracitadas qualidades à vantagem adicional de acomodar plenamente a fórmula horaciana prodesse et delectare (Picta Philosophia), havia de transformar-se num dos mais traduzidos e impressos monumentos da tradição literária greco-latina, podendo ser elencadas, até ao termo de A primeira edição impressa foi realizada em Florença, no ano de 1496, achando-se rasto dela no Hypnerotomachia Poliphili (Veneza, 1499). 56 Milton, por exemplo, no seu Ensaio sobre a Educação, coloca a Tábua de Cebes no lote “dos livros fáceis e agradáveis para a educação”. Ver M. David, Leibniz et le Tableau de Cebes ou le Problème du langage par images, in Revue Philosophique, 1961, p. 3950. 57 Assim se explica a inclusão de ambos em apêndice ao Theatro Moral de la Vida Humana (Bruxelas, Francisco Foppens, 1672) de Otto Vaenius. Cf. Eurico Gama, O “Theatro Moral da Vida Humana”, em gravuras de Oto Vénio, Separata do Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, a. 12, n. 39-41, Braga, 1967. 58 Cf. Jesús M. Ruiz Gito, La Tabla de Cebes – Historia de un texto griego en el Humanismo y la Educación europea, Madrid, 1997. 59 Durante o segundo semestre da Classe Intermédia de Gramática, depois de estudadas as Cartas Ad Familiares de Cicero e os poemas mais simples de Ovídio, objecto da primeira parte do curso. Cf. Ratio Studiorum, cap. XIX, H29. Ver Eusebio Gil (ed.), El sistema educativo de la Compañía de Jesus, La “Ratio Studiorum”, edición bilingue, estúdio histórico-pedagógico, bibliografia, Madrid, 1992. 55

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setecentos, mais de uma centena de edições bilingues, ou em línguas vernáculas 60, significativo número das quais ilustradas 61. No que concerne às edições em português, seria necessário esperar até 1787, ano em que saiu dos prelos de um impressor radicado no Porto, uma tradução directa da língua grega por António Teixeira de Magalhães, professor régio da mesma língua na cidade de Braga 62. Poderá concluir-se do afirmado que a Tábua de Cebes não circulou em Portugal? De modo nenhum. Na realidade, a falta de uma tradução em língua portuguesa, foi suprida por alguma das disponíveis, que iam sendo recebidas em Portugal 63. Da sua efectiva recepção são testemunhas João de Barros 64 e Francisco de Holanda 65, entre inúmeros outros.

*** Ver Sandra Dider, Cebes’ Tablet Facsimiles of the Greek Text, and Selected Latin, French, English, Spanish, Italian, German, Dutch and Polish Translations, Nova Iorque, 1979. 61 O primeiro exemplo registado é uma xilogravura usada como portada na edição que reproduz a tradução latina de Aesticampianus, impressa em Francoforte, em 1507. Sobre a recepção da obra e da abundante iconografia conexa, cf. Reinhart Schleier, Tabula Cebetis: Studien zur Rezeption einer antiken Bildbeschreibung im 16 und 17 Jahrhundert, Berlim, 1974; Cora E. Lutz, PS Cebes, in Catalogus Translationum and Commentaries, v. 6, Washington, 1986, p. 1-14 e Sandra Sider, Addendum to Ps Cebes, idem, v. 7, Washington, 1990, p. 85s. 62 Quadro da Vida Humana ou Tábua de Cebes, filósofo platónico, em a qual se nos ensina o verdadeiro modo de nos conduzirmos nesta vida, sábia e prudentemente. O opúsculo seria reimpresso pela Tipografia Rolandiana, em Lisboa, no ano de 1819. Reproduzi este opúsculo em Tábua ou Quadro da Vida humana (tradução de António Teixeira de Magalhães, introdução e notas de Manuel J. Gandra), Mafra, 2012. 63 A título meramente exemplificativo, referirei que a Biblioteca Nacional possui no seu acervo exemplares dos incunábulos de 1496 (Florença, Francisco de Alopa [BN: Inc 1305]), pertença da Cartuxa Scala Coeli (Évora), e de 1497 (Bolonha, Benedetto Faelli [BN: Inc 85]), bem como a tradução castelhana de Juan de Jávara, editada em apêndice à obra de Erasmo, intitulada Libro de las vidas y dichos graciosos, agudos y sentenciosos de muchos notables varones griegos y romanos (Antuérpia, 1549) 63, volume que pertenceu à Botica da Enfermaria de um convento não identificado [BN: Res 5445 P], ou ainda as edições de Pierre Lagnier (Colónia, 1609 [BN: Res 6622 P]), de Otto Vaenius (Bruxelas, 1672 [BN: SA 4464 A]), etc. 64 Cf. Década III, Prólogo e Diálogo com Dous Filhos sobre Preceitos Moraes em modo de Jogo. 65 Cf. Diálogos de Roma, diálogo 2. 60

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Creio, ora, reunidos todos os pressupostos indispensáveis para proceder ao desvelamento sistemático do roteiro ritual (iniciático) da Regaleira, fornecendo dele uma leitura contextualizada. O seguinte plano cartográfico, em dez passos, reputo-o de guião consentâneo com uma visitação sustentável, quer iconográfica, quer iconologicamente (leia-se iniciaticamente) 66: 1. Primeiro muro, ou cerca Envolve a periferia da mansão e seu jardim. Franqueia a entrada para o recinto externo (moradia).

2. Moradia – Escadaria de acesso - Sala de Jantar ou da Caça Trânsito pelo guardião do limiar. Saudação preliminar (SALVE). Recepção pelo genius loci (topo do portal da Sala da Caça). Preparação do candidato, mediante o seu confronto com máximas e legendas emblemáticas (desaparecidas) e imagens alusivas à demanda interior (Dama Beatriz), de molde a suscitar nele o reconhecimento da via de acesso e a adesão ao propósito: transmutação do caçador em

Note-se que qualquer outro percurso distinto deste, nomeadamente o que advoga a subida do Poço iniciático (sugerido pela Fundação CulturSintra aos visitantes), gera uma incongruência inultrapassável: o cenário está montado para quem sobe a colina e não para quem a desce, o que a acontecer, daria proeminência aos bastidores (retaguarda da cena) em detrimento do cenário voltado para a plateia… 66

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monteiro. O íbis (Hermes) assistirá e acompanhará o candidato durante todo o seu itinerário iniciático.

Quarto de vestir (Sala Lusíada) – Biblioteca Aposentos privativos de AACM. A tese vigente segundo a qual as cenas galantes pintadas ao longo do topo das paredes desta dependência figuram o episódio da Ilha dos Amores não se coaduna nem com a iconografia, nem com a letra de Os Lusíadas (não se vislumbra nenhuma das cenas vitais do episódio: Visão da Máquina do Mundo e Banquete oferecido por Tétis ao Gama). Seria preferível chamar-lhes Cenas galantes nas ribeiras do Tejo! No pórtico pelo qual se realiza o percurso ascensional da Torrinha, observa-se Adão e Eva no Jardim do Éden, ladeando a árvore da Ciência do Bem e do Mal, na qual se enrosca a serpente. A mesma árvore parece irromper no pórtico da Biblioteca, situada no piso acima. Empoleirados nos troncos que culminam numa palmeira,

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2 putti escrevem, anotando os saberes do Mundo do Bem, do Belo e do Bom. Estúdio e Terraço da Sala Octogonal Estúdio (não Laboratório e, muito menos, alquímico!) o designo, porque não reúne nenhuma das condições exigíveis a um laboratório alquímico. Seria um local de estudo e reflexão sobre os Arcanos da Natureza, ali transmutada em formas grotescas, logo alheias aos planos da realidade convencional.

No Terraço da Sala Octogonal, o pináculo axial situa-se a Norte. Chamo-lhe axial porque reúne as efígies de Camões, de um cavaleiro templário, de um mouro e da Dama Beatriz, eixos norteadores da demanda de AACM. 3. Capela da Santíssima Trindade O candidato faz a velada de armas que antecede toda a autêntica demanda, sob os auspícios do Templo (mosaico do pavimento e D. Fuas Roupinho, simultaneamente monteiro e templário), Santo 171

António (despojamento franciscano) e Santa Teresa (a visão do Castelo da Alma).

Imagens na torre da capela: S. Francisco de Assis, Santa Isabel, S. Pedro e S. João. Sobre o pórtico da sacristia: Nossa Senhora da Assunção. Na parede exterior da capela, voltada a Leste: a figuração dos três Mundos. 4. Segundo muro, ou cerca - Demeter (Estufa) - Gruta de Leda – Torre da Regaleira Estão representados os três mundos: subterrâneo (Gruta de Leda, hexagonal = união do céu e da terra), terrestre (Culto a Demeter no azulejo da Estufa) e celeste (Torre com três níveis) É proposto ao candidato que estabeleça um nexo semântico entre o Maravilhoso Cristão (Anunciação a Maria: Lucas, I, 35 e João, I, 32) e o Maravilhoso Pagão (Leda e o Cisne), apontado à Unidade Transcendental de todas as formas de Religião.

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Retábulo azulejar da Estufa realizado por Ângela Samarani, segundo desenho de Manini = sacerdotisas oferecendo as primícias da terra, acompanhadas por galgos, pombas e um cervo.

5. Terceiro muro, ou cerca - Portal denominado dos Guardiães [do Umbral] Estão representados os três Mundos: inferior (acesso ao 4º nível do poço, passando para além da cortina das águas nebulizadas = ilusões dos sentidos e emoções), terrestre (répteis) e celeste (abóbada celeste luni-solar: 12 delfins – 12 meses solares; 13 conchas – 13 meses lunares).

Umbral entre dois mundos. Pela primeira vez, o candidato é confrontado com uma inevitabilidade iniciática: morrer para o Mundo, para renascer para a Vida, em outro plano (carácter anfíbio 173

dos répteis, búzio dentro do búzio, ou útero, sob a abóbada celeste luni-solar dos delfins e das conchas), ou optar por conservar e amplificar o seu estatuto mundano, tornando-o ostensivo (Torre fronteira).

6. Poço iniciático No cume do Monte Parnaso, o candidato acede por uma porta secreta, virada a Norte (sol espiritual), a um poço. Aí, no ponto mais elevado do seu itinerário iniciático (onde a Máquina do Mundo lhe é revelada = Os Lusíadas, X, 80-89), nova prova de desapego lhe é exigida: a definitiva renúncia à máscara do Eu (si-mesmo), mediante a queda no seu Ser mais profundo e autêntico (si-próprio = Dama Beatriz). Um desenho do arquitecto Henri Lusseau já contemplava um cenário idêntico ao actual. Lê-se em legenda nesse desenho, datado de 31 de Agosto de 1875: “Roche surprise – Ouvre pour descendre” [AHS-QR: inv. n. 11; n. 3], o que revela a intenção de AACM já subjacente ao projecto primitivo e inviabiliza liminarmente a tese ora vigente, segundo a qual é ascendente o trânsito pelo poço. No 8º patamar, uma porta secreta permite abandonar o poço, desistindo da demanda. 174

De acordo com o preterido projecto primitivo do arquitecto Henri Lusseau (1895), neste local estava prevista “Uma rocha surpresa – abrir para descer”.

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Fundo do Poço Iniciático – Rosa-dos-ventos Após o trânsito por 10 patamares (esferas, ou círculos concêntricos) e 22 nichos, alcança-se o fundo do Poço iniciático, cuja altura e número de degraus são múltiplos de nove (9 lances de escada com 15 degraus cada um = 135 = 9 = 0 = nada = o Vazio absoluto). O candidato perdeu a noção do tempo e do espaço, achando-se inexoravelmente desorientado (sem Oriente = sol físico), ou desnorteado (sem Norte = sol espiritual). A rosa-dos-ventos figurada no revestimento marmóreo do fundo do Poço iniciático reconduz o candidato ao seu itinerário.

Mundo Inferior A etapa seguinte, em busca da Luz, é percorrida na mais tenebrosa das escuridões. Uma claridade que surge no fundo de um túnel pode ser entendida como uma miragem da autêntica Luz que é mister buscar com discernimento. Se a lucidez interior prevalecer a Luz autêntica revelar-se-á (antigamente, escamoteada por uma cascata, hoje desactivada). 176

Para aquele que intente sair do poço iniciático, há três opções: 1. cair no poço imperfeito (5 níveis e 55 degraus), do qual não existe saída; 2. sair directamente para o exterior pela Gruta do Oriente (orientada Poente-Nascente); 3. seguir pelo caminho das 15 poldras, oculto no Lago da Cascata.

Caminho das poldras – Saída para a Luz O candidato superou a prova crucial do seu itinerário iniciático, tendo adquirido um domínio absoluto sobre as leis que regem o mundo físico. Para testemunhá-lo, caminhará miraculosamente sobre as águas. 7. Fonte de embrechados da Regaleira – Trono para o “Augusto” (Carvalho Monteiro) – Banco do leão adormecido O Augusto pode, finalmente, dessedentar-se. Um ágape será servido em sua honra (idêntico ao oferecido por Tétis em honra de Vasco da Gama). As ânforas que delimitam o recinto do ágape apresentam-se ornadas com mascarões de Sátiros, cachos de uvas, parras e cabeças de carneiro). A mesa não sendo um altar é susceptível de assumir essa qualidade.

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Daqui avista-se um azulejo assinalando a 14ª estação da Via Sacra: deposição de Jesus no túmulo por José de Arimateia (guardião do Graal).

O banco denominado 515 que, afinal, é 616 (!), porquanto apresenta não 5 ameias mas 6, ladeando a figura central, supostamente Beatriz (?).

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8. Fonte do Balneário - Casa de fresco Coroada com 5 urnas. Um íbis aprisiona uma serpente no bico. A protecção do íbis (Hermes) termina aqui. A ave levanta voo, partindo.

9. Alameda ou Tapada dos Deuses – Olimpo Integração definitiva dos quatro elementos (tartaruga, rã, caracol e salamandra) no Quinto Elemento, o próprio Iniciado (o Leão que sai do Bosque). O Iniciado, transcendida a “Lei da Morte”, convive com os Deuses, no Olimpo: Fortuna (cornucópia), Orfeu (lira de 9 cordas), Vénus, ou Afrodite (véu), Flora (rosas), Demeter (feixe de trigo), Pã (flauta), Baco, ou Dionísio (carneiro / uvas), Vulcano, ou Hefesto (fogo) e Mercúrio (caduceu).

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10. Loggia dos Pisões O caçador (candidato à iniciação), depois de adestrado e bem sucedido nas provas a que foi submetido, torna-se monteiro (ofício daquele que dada a sua especial sensibilidade e saber, organiza e lidera a montaria, ou caçada Real). A sua responsabilidade é agora suprema.

Saída do Rei D. Manuel do Paço Real de Sintra, desenho de Manini para um dos retábulos azulejares da Loggia dos Pisões

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Foi o carisma de D. Sebastião, acrescido do desejo de sonegar a nação ao usurpador espanhol, que suscitou o advento dos falsos D. Sebastião. Se, todavia, nos casos protagonizados pelo rei de Penamacor (1584), por Mateus Álvares, rei da Ericeira (1585), e Gabriel de Espinosa, pasteleiro de Madrigal (1594), impostores instigados por terceiros, tudo culminou na execução sumária e inequívoca dos implicados, já não se poderá rotular com idêntico labéu aquele, surgido espontaneamente e encarnado pelo denominado Cavaleiro da Cruz (1598), cujo processo, apesar das numerosas e precipitadas opiniões em contrário, nunca teve um desfecho satisfatoriamente dilucidado. Às suas andanças e tribulações entre Veneza e Sanlucar de Barrameda (Cádis), passando por Florença e Nápoles, à sua substituição por um sósia, o (esse sim) calabrês Marco Túlio Catizone, ao seu exílio em França, no convento agostinho de Limoges, cujo saque, na sequência da Revolução francesa, deu a conhecer uma arca tumular contendo as suas ossadas, identificadas por uma medalha em ouro. A tudo isso prestei a atenção devida em anteriores ocasiões 67. A circunstanciada exploração já empreendida, não obstante, muito longe de concluída, no que concerne à biblioteca sebástica (manuscrita e impressa) que pertenceu a António Augusto Carvalho Monteiro permite-me garantir, sem hesitações, que, à excepção do epílogo de Limoges (sobre o qual nada consta no acervo), o coleccionador possuía as peças-chave susceptíveis de traçar o percurso Encoberto do Desejado. De resto, estou convicto que não só as tinha, como as integrou no seu imaginário, legando-nas no registo plástico da Regaleira, a qual constitui, concomitantemente, um tributo à tradição templarista portuguesa e o testamento-legado espiritual, sebástico e quintoimperial do seu proprietário. Onde então se vislumbram na Quinta da Regaleira os sinais a que me reporto? Ao invés das demais hipóteses hermenêuticas já ensaiadas, as quais são compelidas a ajustar a realidade material às respectivas Cf. Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica, Lisboa, 1999; idem, Hubert Texier, Pesquisas Históricas sobre Sebastião I. de Portugal (Paris, 1903), ou de como o Desejado morreu no exílio, em Limoges, Mafra, 2010; idem, Hagiografia de Dom Sebastião: de desejado a encoberto, Mafra, 2014. 67

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paralaxes ideológicas 68, a assunção do destino profético de Portugal é inequívoco na obra-prima de Carvalho Monteiro, emergindo do argumento subjacente ao plano-director da Quinta, em dez etapas, ou “Cantos”. Proponho-me, por ora, revisitar três dos mais paradigmáticos dos aludidos sinais.

Cf. Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso – Livros Maçónicos, Mafra, 2012. 68

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“O CALABRÊS”, ATRIBUÍDO A SANCHEZ COELLO E DATADO ENTRE 1580 E 1582. Não é de excluir que o retrato tenha sido pintado em 1602 ou 1603, quando D. Sebastião contava 58 anos. Esta tela consta do Inventario da Colecção Real, onde surge descrita entre quadros mitológicos.

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I O “Lema da Tripeça” na Capela da Santíssima Trindade

Nos preceitos compendiados na tratadística joaquimita radica o denominado "lema da tripeça", com o qual se prova a autenticidade de um texto sibilino. Segundo ele “todas as profecias têm três realizações diferentes em três tempos distintos”.

Pormenor do estudo de Luigi Manini para o “Lema da Tripeça”: IIIV

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Fernando Pessoa, que, neste particular, terá bebido nas mesmíssimas fontes de António Augusto Carvalho Monteiro, trataria de esclarecer que: “[...] Todas as profecias têm três realizações, e isto é simbolizado pela tripeça, que tem três pés. Não é por isso tão fácil como se julga dar a interpretação de uma profecia, pois que uma só interpretação (sempre fácil de conseguir, dado certo engenho) nada vale se não for acompanhada de mais duas, que com ela devem ter certa relação. Essa relação pode ser de três ordens: espacial, temporal, intelectual. Se um evento profetizado cai sob a ordem espacial, então dá-se no mesmo lugar ou país em três tempos diferentes, e tem de haver concordância perfeita (a história repete-se) entre os três eventos. Se um evento profetizado cai sob a ordem temporal, então dáse ao mesmo tempo (ou, pelo menos, no mesmo ano) em três países. Se o evento cai sob a ordem intelectual, então dá-se de três maneiras iguais (idênticas) no material, no intelectual e no espiritual. Império é domínio, e pode ser domínio material, domínio intelectual e domínio espiritual. A fórmula profética do Quinto Império é pois aplicável a estes três planos, e em cada plano se revelará da mesma maneira. No plano material, que é o que se tem suposto até agora ser o único, os quatro Impérios que precedem o Quinto são os de [Babilónia], de [Pérsia], de Grécia, de Roma; o Quinto será o europeu, de sorte que nesta interpretação a profecia está consumada. Estamos já, segundo ela, no Quinto Império. No plano intelectual, como o reino da Inteligência começa só com a Grécia, onde nasceu o espírito crítico, que é o em que a inteligência se define, os quatro impérios são o grego, o romano, o cristão ou medieval, o europeu, e ainda falta o quinto, que deverá ser o Universal. Na ordem espiritual, como o domínio do espírito verdadeiramente começou com os egípcios, os três primeiros são o de Osiris, o de Baco e o de Cristo, em que estamos, devendo notar-se que, entendidos em certo modo, estes três Deuses são três formas do mesmo Deus. Faltam-nos ainda dois magnos impérios até à consumação dos tempos e cessação de ser necessário o mundo. O sentido em que tomaremos particularmente as profecias aqui expressas é o segundo, pois o primeiro está extinto, o terceiro muito longe na sua consumação” 69. 69

Esp. 125 - 4, in Sobre Portugal, p. 234-235.

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A tripeça, como instrumento divinatório, é referida em diversos passos das Trovas do Bandarra: Corpo II, trova I Levantei-me muito cedo. Puz-me na minha tripeça, E lá do longe começa Um bramido, que põe medo. Corpo 5, trova VIII A minha tripeça tem Três pés mui bem seguros, Vejo fabricar uns muros Mas eu não sei para quem. Corpo 5, trova XXXII Os pés da minha tripeça Conta três vezes areio, Ajunta-lhe dois e meio Dize-lhe que apareça. Trovas avulsas Para que o leão não grunha E o galo perca a sua m[an]eira Vejo a águia por peneira E ponho na tripeça uma cunha 70. Trovas avulsas Pus a tripeça a um canto Duas tesouras e um fio Quem rir deste desvario Venha fazer outro tanto 71.

Miscelânea sebástica que pertenceu a Camilo Castelo Branco (colecção Manuel J. Gandra), p. 88. 71 Idem. 70

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Fernando Pessoa apontou um exemplo cabal da aplicação da chave da tripeça na 1ª quadra do Corpo III das Trovas do Bandarra: Em vós que haveis de ser Quinto Depois de morto o Segundo, Minhas profecias fundo Nestas letras que VOS pinto. Em 1934, no prefácio ao livro de poemas de Augusto Ferreira Gomes, intitulado Quinto Império e ideado sob a mesma luz (o seu

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autor é-o também do curioso manual sebastianista, No claro Escuro das Profecias), deu à estampa o resultado da sua hermenêutica 72: “[...] A palavra VOS, no quarto verso, tem a variante AQUI em alguns textos. Mas, de qualquer dos modos, a interpretação vem a ser igual [...]. Se as letras são as da palavra VOS, indicam, como se mandou que se soubesse, Vis, Otium, Scientia. E se as letras são as da palavra AQUI, indicam, segundo a mesma ordem, Arma, Quies, Intellectus, que logo se vê serem termos sinónimos dos outros. Temos pois que a Nação Portuguesa percorre, em seu caminho imperial, três tempos - o primeiro caracterizado pela Força (Vis) ou as Armas (Arma), o segundo pelo ócio (Otium) ou o sossego (Quies) e o terceiro pela Ciência (Scientia) ou a Inteligência (Intellectus). E os tempos e os modos estão indicados nos primeiros dois versos da quadra: Em vós que haveis de ser Quinto / Depois de morto o Segundo... No primeiro tempo -- a Força ou Armas -- trata-se de el-rei D. Manuel o Primeiro, que é o quinto rei da dinastia de Avis e sucede a D. João o Segundo, depois de este morto. Foi então o auge do nosso período de Força ou Armas, isto é, de poder temporal. No segundo tempo - Ócio ou Sossego - trata-se de el-rei D. João o Quinto, que sucede a D. Pedro o Segundo, depois de este morto. Foi então o auge do nosso período de esterilidade rica, do nosso repouso do poder - o ócio ou sossego da profecia. No terceiro tempo - Ciência ou Inteligência - trata-se do Quinto Império, que sucederá ao Segundo, que é o de Roma, depois de este morto [...]”. Ora, consoante o aludido preceituado de Joaquim de Fiore, a obra da Trindade vai-se definindo progressivamente no decurso de cinco Idades determinantes de cinco situações diversas do género humano: antes da Lei (ante legem), da Lei (sub lege), do Evangelho O sistema adoptado em Mensagem é, justamente, o da tripeça. Vislumbra-se ela implícita na tripartição do poema em Brasão, Mar Português e Encoberto, aliás em consonância com o postulado tradicional que afirma ter a nação portuguesa de percorrer no seu caminho imperial, três tempos, falhando por duas vezes as tentativas efectuadas, muito embora estas deixem de si, de cada vez, como recorda Pessoa, "qualquer coisa para ser continuada pela tentativa seguinte sendo a última a que se realiza". Mas a tripeça também se patenteia nos Três Avisos de Mensagem, a saber: Bandarra, António Vieira e o próprio poeta (poema sem título, redigido na primeira pessoa). 72

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(sub Evangelio), da inteligência espiritual (sub spirituali intellectu) e na Pátria (in Patria).

Esquema das Cinco Idades [V] surgidas dos Três Tempos [III] da Trindade, consoante Joaquim de Fiore (Tratado sobre o Apocalipse)

As quatro primeiras Idades são, na realidade, Tempos; a última, ou quinta Idade, sucederá ao Fim dos Tempos e, por esse motivo, escapa ao nosso entendimento. As duas primeiras podem fundir-se numa única e, com efeito, Joaquim referir-se-á exclusivamente a três Idades, status ou Tempos: o Tempo ante gratiam, o Tempo sub gratiam e o Tempo quod e vicino expectamus, sub ampliori gratia. Ao Tempo da Lei natural sucede o Tempo da Lei evangélica que, por sua vez, deverá dar lugar ao Tempo da inteligência espiritual. O primeiro foi na Ciência, ou na Luz; o segundo na Sageza, ou na Beleza; o terceiro será na plenitude do Espírito, ou no Amor. O primeiro foi o Tempo dos Velhos, o segundo o Tempo dos Homens maduros, o terceiro será o Tempo dos Meninos. A fortuna deste vaticínio do abade Joaquim foi extraordinária, em Portugal, designadamente quando combinado com as profecias do Pseudo-Metódio e dos Oráculos Sibilinos, tendo dado consistência à 189

tradição profética nacional, empenhada no escrutínio do Encoberto, cristão peninsular, o Leão Desperto, predestinado Imperador dos Últimos Dias e reconstrutor de Jerusalém e do Monte Sião. *** A Revelatio S. Methodii De Temporibus Novissimus, também denominada Apocalipse de Pseudo-Metódio, ou, simplesmente, Pseudo-Metódio, é uma obra de indiscutível origem bizantina originalmente redigida em siríaco, durante a segunda metade do século VII d. C. (644-691 d. C.), no contexto da queda de Jerusalém em poder, primeiro, dos persas (614 d. C.) e, imediatamente depois, dos muçulmanos (638 d. C.). Dois momentos distintos a constituem: os capítulos 1-9, de índole histórica (descrevendo a expulsão de Adão do Paraíso, etc.), teológica e lendária; e os capítulos 10-14, eminentemente apocalípticos. Esta segunda parte espelha um clima de medo e de terror face aos filhos de Ismael (Islão), considerados “cruéis bárbaros que não são progénie do género humano senão da desolação”, os quais “profanarão os lugares santos dos cristãos”, enfatizando a necessidade de estes recuperarem Jerusalém. Pseudo-Metódio atribui à história um âmbito de seis mil anos e poucos séculos, dando grande destaque à sucessão dos quatro impérios: 1º Babilónia, 2º Média, 3º Pérsia, 4º Grego-romanobizantino. Alexandre Magno foi o fundador deste 4º império, assumindose como Primus Rex Gregorum. O Pseudo-Metodio confia no próximo advento do último Imperador que recuperará Jerusalém para a Cristandade, feito a que se seguirá o Anticristo e, finalmente, a assunção do poder por parte de Deus, ele próprio, desde a sua Cidade Santa. O Rei dos gregos e dos romanos, ou Imperador dos Últimos Dias 73, será descendente de Alexandre e da Casa Real da Etiópia 74,

Em Daniel 7: 27, o quarto império é o Macedónio, tal qual como na tradição portuguesa, anterior a António Vieira. 74 Khuset, princesa etíope, mãe de Alexandre, após a morte deste casou com Byzas, fundador lendário de Bizâncio. Desse casamento nasceu Bizântia que foi dada em casamento a Rómulo (também denominado Armaleu pelo Pseudo-Metódio), rei de 73

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cuja superlativa importância se deduz das duas citações do Salmo 67: 32: “A Etiópia se adiantará a estender as suas mãos para Deus” (cap. 9 e 14). O Pseudo-Metódio elenca uma sequência de oito acontecimentos ou sinais precursores do advento do Anticristo (cap. 10-13) 75, a saber: 1) Apostasia, de que se ocupa Paulo em 2 Tessalonicenses [2: 3]; 2) Levantamento dos filhos de Israel contra os romanos; 3) Conquista da terra da promissão pelos filhos de Ismael, em consequência dos pecados de seus habitantes (principalmente a sodomia); 4) Diminuição do espírito dos santos e negação por muitos da verdadeira fé; 5) Irrupção desde o mar da Etiópia do rei dos gregos ou dos romanos que logrará vencer os sarracenos blasfemos que pensavam os cristãos incapazes de recuperar os territórios perdidos; 6) Indignação do rei dos romanos contra os que renegaram Cristo [1 Tessalonicenses 5: 3]; 7) Depois da paz, abrir-se-ão as portas do Aquilão e delas sairão as 23 raças imundas, lideradas por Gog e Magog, ali encerradas por Alexandre, mas volvida uma semana, o Senhor enviará um exército que as derrubará; 8) O rei dos romanos residirá durante uma semana e meia (isto é, dez anos) em Jerusalém, finda a qual surgirá o filho da perdição. Em suma: no 4º Império (Daniel 7: 27), macedónios, gregos, romanos e bizantinos achar-se-ão unidos sob a hegemonia do Império Bizantino, o qual ligado ao reino cristão da Etiópia terá o Imperador dos Últimos Dias como único rei. Entretanto, uma invasão dos filhos de Ismael provocará muitas desgraças e destruição durante “dez semanas de anos”. Também os 23 povos imundos (liderados por Gog e Magog), livres da reclusão a que Alexandre Magno os confinara, causarão muita destruição. Para os deter, Deus enviará um Roma. Ambos tiveram 3 filhos, Armaleo que herdou Roma, Urbano que herdou Bizâncio e Cláudio que herdou Alexandria. 75 Colón assinalou com o desenho de uma mão apontando o texto dos oito preâmbulos e anotou na margem esquerda, citando o Liber de Viris Illustribus: “Jerónimo diz que Metódio, o Mártir, escreve muitas coisas sobre o fim dos tempos”.

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comandante do céu, “príncipe da milícia divina” (Jesus Cristo), que sem o auxílio do Imperador os vencerá. No momento em que os invasores disserem “os cristãos não têm salvador” surgirá o rei que os aniquilará. O advento deste será súbito e inesperado, em pleno caos e desespero, destruindo os muçulmanos e reinando sobre a terra 76. O Imperador residirá em Jerusalém durante 10 anos e meio até que seja revelado o filho da perdição (Anticristo). Então o Imperador subirá ao Gólgota, colocará a sua coroa sobre a cruz, erguerá as mãos aos céus e entregará o seu reino Cristão a Deus, cumprindo assim a palavra de David 77. Uma vez concretizada a profecia, o espírito do Rei abandonará o seu corpo e este morrerá. O Pseudo-Metódio, chegou à península Ibérica nos finais do séc. VII, ainda na sua versão língua siríaca ou grega, tendo sido traduzido para latim no início da centúria seguinte. A sua presença aqui pressupõe contactos entre o Oriente e a Hispânia, igualmente evidentes no comércio, nas artes e nas letras, desde períodos muito anteriores à invasão muçulmana, e cujo fluxo não seria interrompido por ela 78. A influência que exerceu é patente em diversos escritos moçárabes, designadamente na denominada Crónica Profética também consignada no Códice de Roda e que aponta o fim do mundo para o dia de S. Martinho do ano de 883 (170º aniversário da invasão muçulmana) 79, alimentando a polémica antimaometana, cujo auge na

Colón advoga o “fim de Mafoma” e a vitória sobre o Anticristo na Carta ao Rei e à Rainha (1501), in LP, transcrevendo com o mesmo propósito Daniel 2: 18 (LP: fl. 42v) e Isaías 2: 2,3 (LP: fl. 54v). 77 Salmo 68: 32: “Reinos da terra, cantai a Deus, cantai louvores ao Senhor”. 78 Ver a este propósito: Paul J. Alexander, Byzantium and the migration of Literary Works and Motifs: the legend of the Last Roman Emperor, in Medievalia et Humanistica, nova série, n. 2 (1971), p. 47-82 e The Medieval Legend of the Last Roman Emperor and its Messianic Origin, in Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, v. 41 (1978), p. 1-15; Andrew Palmer, Sebastian Brock e Robert Hoyland, The Seventh Century in the West-Syrian Chronicles: including two seventh-century Syriac apocalyptic texts, Liverpool, 1993. É indiscutível a presença de sírios, conhecidos como transmarini negotiatores, na Hispânia, os quais traziam consigo pessoas, ideias religiosas e científicas e bens, incluindo elementos irânianos pré-islâmicos que haviam de influir fortemente na vida religiosa (nestorianismo em Córdova, etc.), literária e artística da Península Ibérica. Cf. Sefarad, n. 5 (1954), p. 83s. 79 Antes da Crónica Profética, já Álvaro e Eulógio haviam anunciado o fim do domínio muçulmano na Hispânia. José Eduardo Lopez, Ob. cit., p. 253-261. 76

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Hispânia ocorreria durante o séc. IX, simultaneamente com o crescimento exponencial da apostasia entre os cristãos 80. Apesar de tudo, o mais provável é que Colón tenha tomado conhecimento do Pseudo-Metódio por intermédio da Imago mundi (1410) de Pierre d’Ailly, que o inseriu no opúsculo Tractatus elucidarious astronomice concordia cum theologia et cum histórica narratione 81, citado no Libro de las Profecías (fl. 26v-27v), apesar de, confundido com um Padre da Igreja homónimo, o que, de resto, era comum acontecer 82. Transcrevo agora, para geral conhecimento, uma versão portuguesa do Pseudo-Metódio (São Metódio em um seu livro, falando dos tempos futuros diz), a partir de trecho consignado numa miscelânea sebástica da minha colecção 83: “E passadas as tribulações destes dias, que serão feitas pelos filhos de Ismael e desolada por eles toda a terra, serão eles mui ricamente vestidos de ouro e de prata e de púrpura, assim como as esposas, quando estão no tálamo, e dirão não cuidem os Cristãos que hão-de ser livres de nossas mãos e gloriar-se-ão em o vencimento que deles houveram e dirão ai que vencimento houvemos na terra! Entonces o Senhor acordar-se-á da sua grande Misericórdia, a qual prometeu aos que o amam e ele livrará a todos aqueles verdadeiros Cristãos em ele crentes, das mãos dos sarracenos.

M. C. Diaz y Diaz, Textos antimahometanos mas antigos en códices españoles, in Archives d’Histoire Doctrinale et littéraire du Moyen Âge, v. 37 (1970), p. 163-164 81 Os derradeiros 9 capítulos intitulam-se: De aliis decem revolutionibus saturnalibus et postea gestis; De his que ante complementum decem aliarum revolutionum gesta sunt; De scismaticus ecclesia; De magnis ecclesiae antichristi et eius secta; De sex sectis principalibus secundum astronomos; De octo preambulis adventus antichristi secundum methodium; De antichristi ortu et fine et de consummatione seculi secundum eundem. Colón poderia ainda ter tido acesso ao Pseudo-Metódio por intermédio de duas edições incunábulas: a primeira de Colónia, 1474 e a segunda de Basileia, 1498. 82 Praticamente nada se conhece a respeito de Metódio de Patara. Durante muito tempo aceitou-se que fora bispo em Olimpia. Foi um dos grandes adversários de Orígenes. Das suas inúmeras obras apenas se conserva O Banquete, ou sobre a Virgindade e uma versão eslava de um Tratado sobre o livre alvedrío. Morreu mártir, em 311 d. C. Foi enorme a influência que exerceu no Ocidente e, particularmente em Portugal. Para o que concerne o pensamento de António Vieira, ver José van den Besselaar, A Profecia Apocalíptica do Pseudo-Metódio, in Luso-Brazilian Review, v. 28, n. (1991), p. 5-22. 83 Fl. 264-265. 80

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Entonces, levantar-se-á um Rei dos Cristãos sobre eles e pelejará contra os infiéis e matá-los-á com cutelo e as suas mulheres levará cativas e os filhos deles serão degolados. E assim os filhos de Ismael viverão em grande tribulação e aflição e dar-lhes-á o Senhor deus todos os males que eles fizeram aos Cristãos. E virão sete batalhas de cavalos súbito sobre eles e serão degolados muitos e assim serão trazidos em as mãos e poderio do Rei dos Romanos. E serão cativos e perecerão muitos por fome. As mulheres e filhos deles serão também cativos e todos os males que eles fizeram aos Cristãos em sete tanto grado os haverão eles e dobrados. Entonces, o Reis dos Cristãos será exaltado sobre todos os Reinos e terá grande domínio sobre todos os infiéis, em tanto que eles e as mulheres que ficarem cativas serão servidoras dos Cristãos, os quais pelo contrário irão até ali, e isto em sete grados mais. Entonces, serão pacíficas as terras, as quais por eles serão destruídas e os moradores Cristãos serão tornados às suas próprias terras com própria liberdade. E assim serão multiplicadas as gentes sobre as terras que deles eram destruídas. Entonces, o Rei dos Romanos será indignado muito contra aqueles que negaram a Jesus Cristo. E porquanto os moradores das terras do Egipto e da Ásia negaram a Jesus Cristo todos serão queimados e destruídos do Rei dos Romanos. A terra das areias, que é assim chamada, será despovoada e será grande paz e grande tranquilidade, a qual não foi antes, nem depois e juntamente não será depois que vier a postimeira dos fins dos segres e será a alegria e paz sobre a terra. E folgarão todos os homens dos males e tribulações dos infiéis e aquesta será a segurança e paz da qual diz o Apóstolo S. Paulo, etc. E será em seus dias a vinda de God [sic] e de Magod [sic], quando forem em aquesta paz e abrir-se-ão as portas de Cáspio, que estão ao lado do Aguião e todas as gentes que ali estão saírão de God [sic] e Magod [sic], e conquistarão a terra. E logo todos os moradores sobre a face da terra com grande temor se espantarão e se esconderão sobre as alturas dos montes e em as covas por fugir do acatamento deles. E aquelas gentes são linhagem e geração de Jafé [sic] e trespassará além da Província que é além do Aguião, a qual tem por nome Tubea. E estas gentes são tanto sujas que comerão carnes de homens, de serpentes e de bestas, e as mulheres deles comerão os partos que lançarem ao nascimento das criaturas. E não haverá nenhum que possa ser contra eles. E depois de sete anos que isto durará, tomarão a cidade de Jopsoem e enviará Deus um de seus 194

Príncipes, a saber um Anjo do Céu, e feri-lo-á e com pedra, enxofre e fogo em espaço de um momento serão queimados. E depois disto virá o Imperador dos Gregos e assentar-se-á em a Cidade de Jerusalém e estará em ela por espaço de oito anos e depois disto virá o filho de perdição, que se chama Anticristo, e nascerá em Chorozain e será criado em Bethzaida e reinará em Capharnaum. Portanto diz Cristo no Evangelho, etc. E depois de aparecer o filho de perdição, que é dito Anticristo, levantar-se-á o Rei dos Romanos e dos Gregos em Gólgota, em aquele lugar onde Cristo Senhor Nosso teve por bem de ser crucificado e morto por nós outros e o Rei dos Romanos tomará a Coroa de sua cabeça e pô-la-á sobre uma Cruz e levantará suas mãos ao Céu e dará seu espírito em as mãos de Nosso Senhor. E entonces aparecerá um sinal de Cruz em o Céu. E depois disto o filho de perdição, que é o Anticristo, pensando que ele é assim como Deus, fará muitos sinais e maravilhas sobre a terra, etc. Depois disto Senhor enviará a seus servidores limpos, convém a saber, Henoc e Elias, que para aquesto foram guardados e reservados, etc. Salvar-se-á aquele que for achado no livro da Vida”. *** Os Oráculos Sibilinos foram redigidos no Egipto, no seio das comunidades judaicas de Alexandria, antes do séc. VIII. De facto, foram os judeus alexandrinos os primeiros a utilizar a literatura sibilina, anunciando a devastação do mundo pagão e o advento do Messias, para expressarem os seus sentimentos de indignação contra os gentios. Os cristãos assenhorear-se-iam dela com o mesmo intuito. No Ocidente, o Pseudo-Metódio e as profecias dos Oráculos Sibilinos 84, circularam associados, pelo menos, desde o séc. VIII 85, Cf. Ernst Sackur, Sibyllinische Texte und Forschungen: Pseudometodius, Adso und die Tiburtinische Sibbyle, Halle, 1898, p. 73-93; Eric Gruen, Jews, Greeks and Romans in the Third Sibylline Oracle, in Martin Goodman (ed.), Jews in a Graeco-Roman World, Oxford, 1998. 85 Em Portugal, o Pseudo-Metódio e a Sibila Eritreia alcançaram notável difusão entre os joaquimitas quinhentistas e seiscentistas, graças à Expositio magni propheta Joachim in librum beati Cyrilli ou Libellus de magnis tribulationibus ... compilatus a Theolosphoro de Cusentia (Veneza, 1516 e Lião, 1663). Ver Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore […], p. 20-22. 84

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sempre que foi sentida a urgência de uma figura soteriológica susceptível de combater com êxito os muçulmanos que se haviam apoderado de Jerusalém 86. O título de Imperador dos Últimos Dias do Pseudo-Metódio é substituído nos Oráculos Sibilinos pelos equivalentes de “Rei vindo do Sol” e de “Homem abençoado vindo do Céu”, nos livros 3 e 5, respectivamente. No livro 3, o Salvador é denominado “Rei vindo do Sol”, e surgirá súbita e inesperadamente, impondo a paz pela força das armas: “E então Deus enviará um Rei vindo do Sol que dará fim a toda a guerra maligna na terra, matando alguns, impondo juramentos de lealdade a outros; e ele não fará todas as ditas coisas por sua própria vontade, mas em obediência aos nobres ensinamentos do maravilhoso Deus” [3: 652-656]. No livro 5, é apelidado de “Homem abençoado vindo do Céu”, surgindo, também, súbita e inesperadamente, após a destruição do Templo: “[…] Ele [o “Homem abençoado vindo do Céu”] destruiu todas as cidades desde os seus fundamentos com muito fogo e queimou as nações de mortais que eram claramente más […]” [5: 418-419]. De todos os Oráculos Sibilinos, a profecia da Sibila Eritreia 87 seria a mais difundida no âmbito nacional. Originalmente, aplicada ao Imperador bizantino lsaac Angelos, "cujus nomen quinque apicibus scriptum est" (cujo nome se escreve com cinco ápices) 88, estou convicto que Colón leu sílaba por ápice e

Após a morte de Carlos Magno, coroado Imperador romano no ano de 800, a expectativa do advento do Carolus Redivivus teve significativa expressão, constando que seria ele o grande Imperador que consumaria as profecias. 87 Vaticinium Sybillae Erythrea ou Prophetia Sibyllae Herithreae, Veneza, 1515 e 1525 88 Ed. O. Holder-Egger, in Neue Archiv für ältere Deutsche Geschichtskunde, v. 15 (1889), p. 155-173. Ver Bernard McGinn, Joachim and the Sibyl: an early work of Joachim of Fiore from Ms 322 of the Biblioteca Antoniana in Padua, in Citeaux, n. 24 (1973), p. 97-138. 86

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aplicou o vaticínio a si próprio, na justa medida das cinco sílabas do seu pseudónimo: Cris-tó-bal-Co-lón 89.

Profecia da Sibila Eritreia, no Tesouro Descoberto do pintor Félix da Costa Também os sebastianistas haviam de ler sílaba por ápice e destinar o vaticínio a D. Sebastião, cujo nome conta, em latim (Sebastianus), as mesmas cinco sílabas. Vieira leu pontos nos ii por ápice e aplicou-a a D. João IV (ioannes iiii) [DCL: P-83]

em inúmeras miscelâneas BN: cod. 7693, fl. 63; BA: 51-VI-2, fl. 437-443; etc.. Também incluída no livro de Rusticano (Veneza, 1516, fl. 52r-54v). Nos escritos de um apoiante do Cavaleiro da Cruz, Frei Fernandes de S. Paulo, surge citada, entre outras profecias, a da Sibila Eritreia AGSimancas: Estado França, K 1677, G. 6. Cf. Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore, […], p. 26-27. 89 Ocorre

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Iluminura do Segundo Cerco de Diu (canto XXI) D. Sebastião, enquanto Imperador do Quinto Império (rodeado de 12 cavaleiros, qual Novo Artur) recebe o testemunho e a vassalagem do Imperador do 4º Império, o Magno Alexandre, velho e andrajoso.

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*** Outro vatícinio joaquimita 90, também denominado Oraculum Turcisco (Oráculo Turquesco), e inspirado no Salmo 141, foi reiteradamente mencionado por Cristobal Colón 91, decerto porque identificava a missão desse predestinado com aquela de que ele próprio se cria investido. O paradigma equivale na perfeição ao Encoberto peninsular, título que Lúcio de Azevedo supôs suscitado pelas Coplas de Frei Pedro de Frias 92, não obstante já anteriormente aplicado a um monarca de Avis, cujas aspirações ao Império Universal foram registadas pelo terceiro duque de Bragança, D. Fernando 93, e por Cristóbal Colón e parecem indiciar as tábuas que compõem o denominado Políptico das Janelas Verdes, atribuído a Nuno Gonçalves, exposto no Museu Nacional de Arte Antiga. Com efeito, uma crónica anónima do séc. XV declara que D. Afonso V de Portugal 94 havia de cumprir as profecias de Santo Isidoro, no ano de 1475, entrando Encoberto em Castela montado num cavalo de madeira, para instaurar um reinado de ordem e virtude 95: Cf. Prophetia de Summis Pontificibus et Anselmi Episcopi Marsicani Vaticinia sive Prophetiae Abbatis Joachim et Anselmi Episcopi Marsicani cum imaginibus (diversas edições dos séculos XVI e XVII: Bolonha, Lião, Pádua e Veneza). Para a difusão e repercussão deste apócrifo, em Portugal, cf. Manuel J. Gandra, Ob. cit, p. 23-25. 91 Cf. Carta ao Rei e à Rainha (1501), in Consuelo Varela, Ob. cit., p. 252-256 e PL: fl. 46; Relação da 4ª Viagem (1503), in Consuelo Varela, idem, p. 302; LP: fl. 67v (Carta dos delegados genoveses aos Reis de Espanha, Barcelona, 1492). 92 “Acontecerá no mês de Outubro / esta escritura não se engana / obterá a vitória, guerreando, / um rei que não se mostra”. As Coplas foram impressas em Valença, no ano de 1520. 93 Carta de 19 de Outubro de 1468: “[...] Se Deus tem al ordenado, não somente havereis o reino de Castela, mas conquistareis o de Granada e tirareis a espada de Fez e com ela conquistareis todo o mundo, e uma ou outra não deveis de errar. [...]”. 94 Casado em segundas núpcias com D. Joana, a Excelente Senhora, herdeira de Henrique IV de Castela, que competiu pelo trono de Espanha com Isabel, a Católica. 95 O vaticínio 27 da Profecia dos Papas, apócrifo do abade Joaquim, sintetiza as qualidades do Encoberto e as circunstâncias do respectivo advento, aqui na versão do Jardim Ameno [ANTT: cod. 774, fl. 13-13v]: “Morto e esquecido, o seu rosto conhecerão muitos, ainda que nenhum o veja. Pela divindade será manifestado este justo, terá os ceptros do Império. Justamente será descoberto e declarado. No céu bradará três vezes muito, o invisível pregoeiro, dizendo: ide com muita pressa à parte ocidental que tem 90

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“Chegada a hora e cumprindo-se as profecias das desventuras de Espanha, o rei D. Afonso de Portugal entrou pela Codosera nos Reinos de Castela, o qual para que as gentes tivessem motivo de crer que ele fosse o Encoberto, segundo uma profecia que de Santo Isidoro se publicava, que o Encoberto havia de entrar em Castela em cavalo de madeira, este rei, fingindo vir doente, ou porventura sendo certo, entrou em andas, cuidando muito que aos olhos das gentes as cerimónias se conformassem o mais possível às profecias; e como a gente castelhana, habituada à tirânica liberdade, era inimiga de se ver senhoreada por algum rei, aos inocentes que daquelas encobertas profecias não tinham conhecimento faziam-lhes crer que pelos sinais aparecidos, este rei D. Afonso era o Encoberto, trazendo muito em prática as suas virtudes e grandezas, e louvando-o de muitas coisas excelentes, que ele, na verdade, tinha” 96. Convém, todavia, recordar que as expectativas quanto à origem peninsular do predestinado restaurador de Jerusalém remontam ao paganismo, tendo sido retomadas, a partir de finais do séc. XIII, por Arnaldo de Vilanueva (c. 1250-1312), no seu De cymbalis ecclesiae 97, obra na qual , este diplomata joaquimita ao serviço de Jaime II de Aragão e Frederico III de Sicília, prognostica o início do Armageddon no ano de 1378 98.

sete montes e acharás um homem ali morador amigo meu, este levai e metei-o de posse do Trono Real. Os sinais que tem e por onde o haveis de conhecer são estes: é calmo, manso e brando, de grande entendimento, agudíssimo de engenho para ver principalmente as coisas futuras. Em ti terás e possuirás o Império e Monarquia dos sete montes”. 96 Cronica Incompleta de los Reis Católicos, ed. Julio Puyol, 1934, citada Fidelino de Figueiredo, Sebastianismo, in Civilização, n. 80 (Ago. 1935), p. 12. 97 Jose Pou y Marti, Visionarios, beguinos y fraticelos catalanes (siglos XIII-XIV), Vich, 1930. 98 Ver El Enlogium, in Arnaldo de Vilanova, Escritos condenados por la Inquisición, Madrid, 1976, p. 65-87 e Magister Arnaldus de Vilanova super facto Adventud Antechristi, in Ana Martínez Arancón, La Profecia, Madrid, 1975, p. 115-136. Cf. Joaquín Carreras Artau, La Polémica Gerundense sobre el Anticristo entre Arnau de Vilanova y los domínicos, in Anales del Instituto de Estudios Gerundenses del Patronato “José Mª Quadrado”, (1950).

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II O mistério dos Reis sem coroa

Não é conhecido o teor exacto do documento pelo qual Dom João IV determinou, em 6 de Dezembro de 1644, que Nossa Senhora da Conceição fosse entronizada como padroeira de Portugal 99. É, portanto, compreensível a especulação que o acto tem motivado. Acrescendo ainda a circunstância de o monarca Restaurador lhe haver doado a coroa Real Portuguesa na sequência da sua aclamação, em 1 de Dezembro de 1640, inaugurando desse modo uma dinastia de Reis sem Coroa. Que arcano maior da História pátria poderá ter suscitado tal procedimento, nomeadamente porque havia de lhe ser imputada uma maldição lançada pelo próprio D. João IV sobre os primogénitos (varonis) da dinastia que fundou? *** Desde os primórdios do ducado de Bragança, em 1442, os seus titulares aspiraram a guindar-se de forma inequívoca, às superiores esferas do poder, autoproclamando-se detentores de um indefectível carisma providencial. Exemplos paradigmáticos do afirmado são, entre outros:

A isenção de pecado original em Maria foi comemorada a 9 de Dezembro pela Igreja Oriental (séc. IX), a 3 de Maio (séc. IX) na Irlanda, a 8 de Dezembro (séc. XI) na Inglaterra. Em Portugal o culto remonta aos primórdios da nacionalidade. O documento mais antigo a registá-lo é a Constituição do Bispo de Coimbra, D. Raimundo (17 de Outubro de 1320). Dom João IV proclamou-a Padroeira do Reino, em Vila Viçosa (25 de Março de 1646), o que veio a ser confirmado pelo Papa Clemente X, a 8 de Dezembro de 1671. O Dogma da Imaculada Conceição havia de ser institucionalizado por Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854. 99

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Empresa privativa do 1º duque de Bragança, D. Afonso, no seu mausoléu, na cripta da Colegiada de Ourém.

1.a empresa privativa do 1º duque, D. Afonso: dois guindastes afrontados sustentando no ar uma filactéria, na qual se lêem as letras NEIS, abreviatura do mote Neminis = Ninguém [mais alto]; 2. o mote implícito nas emblemáticas Portas dos Nós, em Vila Viçosa e Évora: Depois de Vós, Nós. Porém, um episódio protagonizado pelo Infante Dom Duarte, irmão do duque Dom João II, futuro Dom João IV, ocorrido no convento de Cristo, em Tomar, tornar-se-ia a confissão iniludível das aspirações providencialistas da Casa de Bragança. Cita-o uma crónica conventual composta por Frei Bernardo da Costa. Após considerar que a igreja manuelina de Tomar, toda ela, está lavrada com particular ideia, o cronista remata: “[...] No ínfimo desta fábrica [janela da Casa do Capítulo, aliás Sacristia] está uma estátua [...]. A estátua [busto suspenso das raízes de uma árvore seca que, uma vez florescida, havia de tornar-se, 202

consoante crença muito difundida, ceptro do Império Universal 100] querem dizer que é representação da Real Casa de Bragança. Sucedeu quando veio tomar o hábito [...] o Infante Dom Duarte ao passar pelo sítio desta Janela e demorando-se a vê-la um dos freires que o cortejavam lhe disse como intrometido e com pouca reflexão o pensamento que dissemos da ideia que se faz daquela fábrica. Se é assim, senhor, muito seco está aquele tronco para as esperanças pelo que representa ao que logo respondeu o Senhor Dom Duarte: Não está tão seco que não possa reverdecer e brotar com mais força” 101. O aludido carisma alcançaria o seu clímax em 1 de Dezembro de 1640, quando o monarca Restaurador, depois de vencida a repugnância em aceitar “o árduo negócio” que a sua aclamação representaria, admitiu, finalmente, assumi-lo. Foi então tido por alguns como o “Remédio da Lusitânia”, o Leão Encoberto saído do bosque, consoante 4 Esdras, porém, por outros, apenas (não desmerecendo) como um mero Baptista, regente até ao regresso de Dom Sebastião (conforme o chanceler-mor Fernão Cabral havia de afirmar no dia da aclamação do monarca). Com efeito, conta Gregório de Almeida na sua Restauração de Portugal Prodigiosa 102 que, no dia do juramento de Dom João IV, o chanceler-mor, Fernão Cabral, teria declarado " […] para alguns presentes que o devia fazer Sua Majestade com cláusula: até à vinda de El-Rei Dom Sebastião. Todos festejaram o dito. Depois o referiu o monteiro-mor a El-Rei, estando à missa, e Sua Majestade lhe fez muita festa, dizendo que não era necessário explicar esta condição, porque claro estava que, em ele vindo, lhe largaria tudo, de boa vontade, justificando-se: «Porque eu não sou tirano que lhe tome o Reino que é seu [...]”, não sem acrescentar: “pedindo-lhe perdão do mal que o tinha governado”.

Cf. Manuel J. Gandra, O Projecto Templário e o Evangelho Português, Lisboa, 2006, p. 109-154. 101 Frei Bernardo da Costa, Historia da Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo dedicada e Offerecida a ElRey Nosso Senhor D. Joseph I escripta segunda vez e dada a luz novamente (ca. 1773), ms. [Biblioteca Municipal de Tomar]. 102 Cf. parte III, p. 139. 100

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Porta dos Nós de Vila Viçosa (1654) Inspirado na profecia do Pseudo-Metódio, Dom João IV procurou na emulação de Alexandre a legitimação dinástica, conforme as duas lápides apostas na Porta dos Nós, actualmente incorporada no muro da Tapada na continuidade da cerca do convento dos Agostinhos de Vila Viçosa, oriunda das muralhas onde outrora funcionou como entrada da vila. Nas duas epígrafes colocadas lateralmente às esferas armilares lê-se: “Haec est fatalis / Nodorum Porta / Joannes / ME NODO HESPERIAR / Liberat Ense Potens / ANNO 1654” (Esta é a fatal Porta dos Nós. João com o poder da espada livra-me do nó da Espanha, ano 1654); “Solvit Alexander / NODUM UT REX IM / Peret ORBI / Rex Meus ut Regis / Sceptra Latentis Agat” (Desfaz Alexandre um nó para imperar como rei na redondeza da Terra. Rei meu desata-o para empunhar os ceptros do Rei encoberto).

O duque de Bragança considerava, de facto, improvável a morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir, e mantinha intacta a expectativa do seu regresso para reassumir o trono de Portugal que por direito pertencia ao Desejado 103, não obstante os dois anos de A duquesa de Bragança, D. Luísa de Gusmão, sendo uma Medina Sidónia, supõe-se possa ter tido um papel determinante no assunto, uma vez que a sua família abrigara o 103

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usurpação ilegítima do Cardeal D. Henrique e os sessenta da intrusão dos Filipes 104. Isso mesmo demonstrou por ocasião da entrada de Filipe II, em Portugal. A galeota em que o foi esperar “toda era ornada de misteriosos enigmas”: “No mastro principal se via gravado esta epígrafe Secretum meum mihi. Nos remos se lia escrito este lema Manus Domini non est abreviata. Na proa se viam várias figuras: a primeira de um homem saindo do Mar e de um Anjo que lhe cingia na cabeça uma Coroa a que servia de alma uma inscrição tirada de [IV] Esdras, Virum quem vidisti ascendentem de Corde Maris; a segunda era a de Jonas saindo do ventre da Baleia com esta letra, Non est Mortuus; a terceira era de Andrómeda restituída ao seu reino por seu parente Perseu com estas palavras Restituetur in tempore. Enfim, toda a galeota vinha cheia de Misteriosos Emblemas que inculcavam muito bem a certeza que a Casa de Bragança tinha de que o Rei D. Sebastião não era morto e havia [de] ser restituído ao seu Reino”. Não escasseavam, aliás, as testemunhas credíveis que asseveravam ter reconhecido Dom Sebastião disfarçado no Reino, após Alcácer Quibir. Um episódio autêntico, narrado pelos frades da Ordem de Cristo, segundo os quais o Peregrino de Tomar recebido no seu convento, em 1632, outro não seria senão o próprio D. Sebastião, é mesmo capaz de constituir um argumento em prol da necessidade de reavaliação de um imbróglio histórico longe de se achar condigna e satisfatoriamente encerrado: “.... Tinha ... o cabelo que mostrava haver sido louro, faces vermelhas e bem disposto, só em um cavalo castanho-escuro. Foi pousar na estalagem de Francisco Lourenço, era pela manhã e já não monarca português nos seus domínios, conhecendo minuciosamente as peças da complexa operação montada por Filipe II para encobrir o paradeiro de D. Sebastião e mantê-lo fora de cena, após Alcácer Quibir. Cf. Luísa Isabel Alvarez de Toledo y Maura, Alcazar Quivir, Madrid, [1993] e El fantasma de D. Sebastián, in Alonso Pérez de Gusmán, general de la Invencible, Cádis, Universidade de Cádis, 1994, p. 213-250. Ver do subscritor, Dicionário do Milénio Lusíada, v. 1, Lisboa, 2003. 104 A Casa de Bragança precedia D. António, Prior do Crato, na ordem de acesso ao trono português.

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achou missa; pôs-se logo a rezar, visitou o convento e nele ao Superior Frei Roque de Soveral a quem mostrou trazer o Bentinho da Ordem de Cristo, de que era cavaleiro, e lhe deu dois registos, um de Cristo com a Cruz às Costas, para que o desse ao D. Prior Frei Custódio Falcão como visse que era fora. O outro de Santa Helena com a Cruz, para ele Frei Roque e ambos muito bem iluminados e em pergaminho respançado; e lhe disse sempre por muitas vezes o encomendasse a Deus e esta era a resposta que dava quando lhe perguntava Frei Roque quem ele era. E lhe respondeu que como era da Ordem de Cristo, não quisera passar por ali, sem dar obediência a seus Prelados. Pediu-lhe Frei Roque ficasse lá no Convento e nunca o pôde acabar com ele. Falava pouco e nunca deu mercê, nem paternidade a pessoa alguma. Ali se confessou com o Padre Frei Manuel de Aveiro e ouviu a missa, isto no dia seguinte quarta-feira a que lhe disse o Padre Frei Matias de Aguiar, e lhe deu comunhão; e afirmou este Padre que aquele era El-Rei D. Sebastião porque o Padre era muito velho e o havia muito bem visto, quando El-Rei era moço. Foi-se logo para a estalagem e nela ajustou contas, pagando o que devia, e se partiu e foi jantar naquela quarta-feira ..., duas léguas de Tomar [...]. Dali... onde havia dois para três meses andava um navio ao pairo e ali se ajuntaram onze homens a cavalo, que com ele e com os cavalos se embarcaram no dito navio e não se soube mais deles. Disse o Padre Frei Roque de Soveral, que vinha de Jerusalém e lhe mostrou em um braço, um sinal que lá costumam por aos peregrinos ..., o tal peregrino dera em Tomar algumas esmolas e que se parecia tanto com o Padre Frei Pedro Ramalho, Religioso muito velho da Ordem de Cristo, que se dizia, é Frei Pedro com barbas e pelo Frade diziam, era o peregrino com elas; e ambos se pareciam muito com os retratos que há de El-Rei D. Sebastião em velho ...” 105. Porém, até Dom João IV foi a tal respeito peremptório, confessando a muitas pessoas que ele vira, com seus próprios olhos, D. Sebastião em Vila Viçosa, no dia 6 de Agosto do ano de 1626, pelas três horas da tarde. Seu pai, Dom Teodósio, preparava-se para se deslocar à Tapada quando lhe deram o recado de que lhe queria falar Miscelânea curiosa de sucessos vários [BN, cod. 863], in Feiticeiros Profetas e Visionários, Lisboa, 1981, p. 218-219. O autor deste escrito considera tratar-se de mais um "Sebastião fingido", o sexto e último de quantos lhe mereceram referência. No BN: cod. 10563 (70º) achar-se-ão pormenores adicionais. 105

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um forasteiro de aspecto venerando (Dom Sebastião contaria então 72 anos). Mandando-o entrar para a Casa do Docel, o 7.º duque de Bragança convidara todos os presentes a deixarem-nos a sós. Então o futuro monarca Restaurador, espreitando pelo buraco da fechadura, viu o visitante sentado numa cadeira e o duque, seu pai, de joelhos, falando com ele. Terminada a dilatada entrevista, e partindo, o forasteiro sairia sem se voltar para trás, nem fazer qualquer vénia… Tratar-se-ia, porventura, do mesmo desconhecido que se encontrou com D. João uma noite, em Vila Viçosa, e cuja visita terá anulado definitivamente a resistência à aclamação que os conjurados lhe destinavam, consentindo nela. De tal graduação seria o visitante que o duque de Bragança o conduziu para a Casa do Docel e “debaixo dele lhe dera assento e que depois o viera acompanhar até o fim da escada, onde o dito homem lhe dissera: ora basta, basta até aqui!” *** Em suma: o duque de Bragança, que não se revia detentor dos sinais apontados pelas profecias, jamais parece ter-se creditado, nem como a 16ª geração atenuada 106 de Afonso Henriques. Para os círculos sebásticos, que propuseram a primeira interpretação integral do vaticínio que perduraria até ao século XX, o ermitão vaticinara a Afonso Henriques a crise aberta pelo desaparecimento de D. Sebastião sem descendentes. Os hermeneutas não-sebastianistas entenderam O Desejado ora como décimo sexto rei de Portugal, ora como décima sexta geração: Frei João de S. Bernardino, Sermão da Immaculada Conceição, Lisboa, 1641, p. 8; Francisco de Meneses, Sermão que pregou […] na felice aclamação […], Lisboa, 1641, p. 19; Lucindo Lusitano, [Luís Marinho de Azevedo], El Principe Encubierto, Lisboa, 1642, fl. 22-22v; Pantaleão Rodrigues Pacheco, Manifesto do Reyno de Portugal presentado a Urbano VIII, Lisboa, 1643, p. 26-27; Manuel Fernandes de Vila Real, Anticaramuel, Paris, 1643, p. 227; Jerónimo Freire Serrão, Discurso Político […] da verdade, Lisboa, 1647, p. 498-499; Juan Baptista Moreli [Frei Fulgêncio Leitão], Reducción y Restituyción del Reyno de Portugal, Turim, 1648, p. 23; Pedro Sousa Pereira, Mayor Triumpho da Monarchia Lusitana […], Lisboa, 1649, p. 74; Francisco Velasco de Gouveia, Perfidia de Alemania y de Castilla, Lisboa, 1652, p. 241-242. Além de D. Sebastião, o cardeal Dom Henrique (Pantaleão Rodrigues Pacheco, ob. cit.; Gregório de Almeida [Padre João de Vasconcelos], Restauração de Portugal Prodigiosa, Lisboa, v. 1, 1643, p. 35-38; António de Sousa de Macedo, Lusitania liberata ab injusto Castellanorum dominio, Londres, 1645, p. 727-728; Padre Nicolau Monteiro, Vox Turturis, Lisboa, 1649, p. 74; 1649, p. 74; Francisco Velasco de Gouveia, ob. cit.), Filipe II (Juan Adam de la Parra, adversário da Restauração, argumentava que a duquesa de Bragança não insistira na sua pretensão ao trono em 1580 por reconhecer que a profecia da 16ª geração se aplicava a Filipe II. Cf. Apologetico contra el Tirano y Rebelde Verganza, Saragoça, 1642, fl. 13), Filipe IV 106

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Nem, tão pouco, como o Capitão e Supremo Imperador alegado por elas 107, apenas aceitou ser aclamado (consoante ditava a tradição nacional), na condição de Libertador dos portugueses do seu cativeiro, suposto exórdio ou acto precursor do regresso de D. Sebastião e prelúdio da ventura que o seu advento representaria para Portugal. Para promover tal advento maravilhoso (ou, com maior probabilidade, para sagrar a morte do Desejado, c. 1646), e face ao exposto, tornam-se compreensíveis os motivos pelos quais D. João IV abdicaria em favor de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa!

(Frei Luís de Sá, Serman encomeastico e demonstrativo […], Coimbra, 1641, fl. 10v) e D. João IV foram algumas das individualidades mais directamente envolvidas nos cômputos da décima sexta geração, os quais autenticaram também a investidura de outros membros da Casa de Bragança, designadamente a do duque D. Teodósio, pai do Restaurador ([Frei Cristóvão de Lisboa], Manifesto da injustiça […], Lisboa, 1647, p. 36), ou a do Príncipe homónimo, filho deste e de D. Luísa de Gusmão. Gregório de Almeida menciona três modos diversos de formar a série com D. João IV como 16.ª geração. Considerava o terceiro modo de contar, no qual passa do Rei D. João I aos duques de Bragança, o melhor (Cf. Restauração de Portugal Prodigiosa, Lisboa, 1643, cap. VII; ver também Nicolau Monteiro, Luís Marinho de Azevedo, Frei Francisco de Santo Agostinho, Panegyrico Apologetico por la desagraviada Lusitania, Lisboa, 1641, fl. 4, e António Vieira). O teatino Ardizone Spinola, adopta a genealogia de Jesus Cristo, exposta em três árvores propiciando seis modos de contar, para calcular a décima sexta geração portuguesa (Cordel Triplicado de Amor a Christo Jesu Sacramentado, Lisboa, 1680, liv. I, sermão IV, p. 168-224, 15 de Setembro de 1641). Sobre o sentido da Visão de Ourique no tocante às gerações dos Reis de Portugal e ao Encoberto, ver Papéis Vários – História [BA: 51-VI-1, fl. 286-299]. 107 Um Encoberto justamente à medida dos desígnios dos conjurados. Sintomaticamente, Ardizone Spínola chamou a D. João IV Encoberto de Portugal, reservando para outro “que Deus sabe” o título de Encoberto do Mundo…

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Milagre de Ourique de D. João IV, i. e., D. João IV orante perante Cristo Crucificado, pelo gravador inglês Thomas Dudley (ca. 1634-1700), com a subsc.: D. Ant. Ard. Spin. D. D. / T.D.F. Estampa que ocorre no Cordel Triplicado de Amor a Christo Jesu Sacramentado, ao Encuberto de Portugal nacido, a seu Reyno restaurado, lançado em tres livros de sermoens […] (Lisboa, António Craesbeeck de Melo, 1680 [DCL: o exemplar que possui pertenceu a AACM]). Trata-se de uma óbvia associação (muito propalada pela parenética coeva do autor) entre o papel providencial do duque de Bragança e a sua sobrenatural legitimação ocorrida no decurso de uma procissão pelas ruas de Lisboa, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, durante a qual o braço direito de um Cristo crucificado se desprendera da cruz: como que a recordar “que este reino era obra de suas mãos” (João Pinto Ribeiro). Dom João IV voltado três quartos para a direita, olhando para o alto, é abençoado por Cristo na cruz. Inferiormente, a inscrição: "IOANNES IV. / Alphonso I. Regi / in decima sexta generatione attenuata / promissus, / felici Procerum acclamatione / Portugaliae Imperio / restitutus / anno 1640. / quaterno encomio celebratur".

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A Maldição de D. João IV que se abateu sobre os primogénitos masculinos da Dinastia fundada em 1 de Dezembro de 1640, e notadamente, sobre os primogénitos da Monarquia Constitucional D. AFONSO VI (1643-1675) 6º na ordem de sucessão D. PEDRO II (1646-1709) irmão do anterior, 7º na ordem de sucessão D. JOÃO V (1686-1750) 3º na ordem de sucessão D. JOSÉ I (1714-1777) 3º na ordem de sucessão D. MARIA FRANCISCA (1734–1816) primogénita D. JOÃO VI (1767-1826) 4º na ordem de sucessão D. PEDRO IV (1798-1834) 4º na ordem de sucessão D. MIGUEL (1802-1866) irmão do anterior, 7º na ordem de sucessão D. MARIA DA GLÓRIA (1819-1853) primogénita D. PEDRO V (1837-1861) primogénito, falecido prematuramente em consequência da peste D. LUÍS I (1838-1889) irmão do anterior, 2º na ordem de sucessão D. CARLOS I (1863-1908) primogénito, assassinado D. MANUEL II (1889-1932) 3º na ordem de sucessão

Assumir-se-ia, doravante, como um mero regente de Portugal, inaugurando o Interregno identitário nacional (que interrompeu Portugal), prognosticado em Ourique 108, do qual a nação portuguesa tarda em desgarrar! ANTT: Livro IV de Leis, fl. 181v-182v. Cf. Manuel J. Gandra, A Cristofânia de Ourique: Mito e Profecia, Lisboa, 2002 e O Providencialismo da Casa de Bragança e o Mistério dos Reis sem Coroa, Mafra, 2010. 108

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Na galeria dos Reis da Quinta da Regaleira, D. Sebastião é o único monarca que ostenta coroa Imperial (fechada). Sucede-lhe D. João IV, sem coroa, à semelhança dos demais reis da dinastia brigantina. O programa adoptado por AACM omite, intencionalmente, o cardeal-Rei D. Henrique, bem assim como os 3 Filipes, usurpadores do trono português, uma vez que D. Sebastião não morreu em Alcácer Quibir.

Os 4 Reis sem Coroa da dinastia Bragantina, na galeria dos Reis da Quinta da Regaleira: D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II e D. João V Programa delineado por Carvalho Monteiro e Luigi Manini e concretizado pelo pintor Baeta Dias, nas primeiras décadas do século XX.

Concomitantemente, lançou um anátema ou maldição sobre herdeiros e sucessores (bem como sobre os respectivos primogénitos masculinos) daqueles, incluso monarcas, que violassem o compromisso de vassalagem 109. D. Pedro II terá sido muito afeiçoado a esta ideia, jamais tendo aceite ser coroado. Já D. João V fez-se coroar. No entanto, talvez em desagravo, havia de receber do Papa Clemente XII, em 1732, o título de [João] Baptista. Cf. Manuel J. Gandra, Da Face Oculta do Rosto da Europa, Lisboa, 1997, p. 118-121. Na convicção de que tal pudesse 109

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Atento à mensagem implícita no acto joanino 110, António Augusto Carvalho Monteiro dar-lhe-ia corpo na denominada Galeria dos Reis que se observa na Sala do Bilhar da mansão 111. Aí, além de 4 rainhas (Santa Isabel, D. Inês de Castro, D. Filipa de Lencastre e D. Luísa de Gusmão), são figurados 16 monarcas (acham-se ausentes o Cardeal D. Henrique, bem como os Filipes, reis, ilegítimo, o primeiro, e intrusos, os espanhóis), o derradeiro dos quais, D. Sebastião (ostentando Coroa Imperial), encerra o ciclo monárquico português. Os quatro Braganças que lhe sucedem (D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II e D. João V), destituídos de Coroa, não passaram, por conseguinte, de regentes do Reino. Se dúvidas subsistirem, atente-se nos termos inequívocos que consubstanciam o denominado Juramento da Imaculada Conceição da Virgem Nossa Senhora, celebrado no Domingo de Ramos, 25 de Março de 1646 (neste ano coincidente com a festa da Anunciação), cerca das três horas da tarde, num autêntico Parlamento expressamente reunido para o efeito na Capela Real, do Paço de Lisboa, no qual participaram e ao qual ficaram indissoluvelmente vinculados (decerto, até aos nossos dias!) os três Estados da Nação. A Capela Real seria para o efeito preparada consentaneamente com o protocolo adoptado, claramente distinto do estipulado quando da reunião de Cortes, conforme se infere do teor do seguinte pródromo para o Juramento da Imaculada (Provisão de 25 de Março de 1646): “Estarão os altares de branco, ornados na melhor forma que possa ser, e o tabuleiro do Altar-mor, degraus e pavimento, onde está a cortina de S. Majestade, que Deus guarde, até as grades, estará alcatifado e posta a cortina de Sua Majestade em seu lugar, aberta pelas três partes,com cadeiras e sitial na forma costumada para el-rei nosso Senhor, e Príncipe, e se porá o banco dos Prelados em seu lugar, e as cadeiras dos Marqueses, e banco dos Condes, junto à porta ter ocorrido radicam os insistentes, quase obsessivos, votos formulados por sucessivos monarcas brigantinos no sentido de obterem descendência. 110 A Biblioteca do Congresso (DCL) tornou-se proprietária da bibliografia manuscrita e impressa, que lhe pertenceu, concernente à questão. 111 De resto, na mesma linha do programa da Galeria Régia doantigo Paço Episcopal de Castelo Branco, por exemplo.

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da grade, direito abaixo, e logo afastado, se houver lugar, e quando não, por detrás do banco dos Condes se porão, sem espaldeira, os que forem necessários para se sentarem os 30 eleitos do estado da Nobreza, que não forem títulos, e da outra parte da Epístola se irão pondo os bsncod em que se hão-de sentar os Definidores do estado dos Povos. Mas uns e outros ficarão de maneira que fique lugar largo de se poder passar não só decentemente, mas com distãncia considerável, e não bastando o primeiro banco, se porão os bancos necessários, uns atrás dos outros. Serão chamados para este acto os 30 eleitos da Nobreza e os Definidores dos Povos, que aqui se acharem e os Prelados, e as mais pessoas do estado da Nobreza, e povos, que têm voto em Cortes. Não terão assento, nem jurarão neste dia, por que o poder de todos será transferido nos Definidores, e eles sós, passado o 1º dia até o fim, continuam as Cortes. Mas se os Títulos, ainda que sejam definidores, quiserem vir ao mesmo Acto, dar-se-lhe-á o seu lugar, mas não irão jurar. Uma das portas da Capela estará fechada, e a outra assistirá o Porteiro-mor, fazendo o seu ofício da maneira que o faz no dia da proposiçãodas Cortes, e os reis de armas irão levando aos lugares as pessoas, que vierem como costumam no dia referido. Não entrarão na Capela mais pessoas, que as nela têm lugar, para esta Acto, e alguns fidalgos e pessoas de respeito. Mas estes não sendo títulos, estarão em pé, e em parte onde não possam causar perturbação. Estando tudo preparado na forma referida, virão Sua Majestade e Sua Alteza, vestidos de gala, e acompanhados sómente dos Oficiais da Casa e Reis de armas, Arautos, e Passavantes, e os Porteiros da Cana, com maças de prata, que o acompanharão no dia da proposição das Cortes. E entrando na igreja, tocarão so Menestréis, a que se há-de mandar recado, e sentados Sua Majestade e Sua Alteza nos seus lugares, se porão nos seus, que será junto da gradinha em fileira, o Porteiro-mor e Reposteiro-mor, Vedor e Mestre-Sala, eos reis de Armas e Porteiros da Maça se porão no meio do vão que fica entre o banco dos Condes e o dos Definidores dos Povos, e os dois Escrivãos da Câmara, que são notários destas Cortes, hão-de estar junto do último degrau do altar, encostado à parede, e o outro no mesmo lugar da outra parte, e o Secretário junto ao canto da cortina de Sua Majestade da parte de baixo, e o Guarda-mor, e Sumilher nos lugares que lhes tocam, e os Moços fidalgos que se nomearem. E não hão-de estar mais pessoas da gradinha para dentro. 213

Virá logo o Reposteiro-mor e porá junto ao último degrau do altar (mas no pavimento e debaixo) uma cadeira rasa coberta, com um pano de brocado, e com uma almofada em cima e duas mais do mesmo aos pés para Sua Majestade e Sua Alteza porem os joelhos. E logo virá o bispo Capelão-mor pôr em cima da Cadeira, em Almofada, um missal aberto com uma cruz nele. E o Secretário irá para junto ao canto da cadeira que fica para a parte da Epístola, e lerá em voz alta a provisão de Sua Majestade, acompanhado dos Oficiais que o trouxeram, sem os Reis de Armas, que hão-de ficar em seus lugares. E em companhia de Sua Alteza se irão pôr de joelhos junto ao Missal. E logo, para serem presentes a este Acto, se levantarão de seus lugares os três Prelados mais antigos, e se porão de joelhos, junto à parte donde estiver Sua Majestade, ficando o mais antigo no meio dos três. Logo porá Sua Majestade as mãos sobre o Missal, e Cruz, e o Secretário irá dizendo a forma do juramento, que Sua Majestade irá repetindo em voz que bem o entendam os Prelados, Secretário, e Notários que assistem. Feito o dito juramento por Sua Majestade, fará Sua Alteza na mesma forma. E feito isto se tornarão a seus lugares. E desde que Sua Majestade se levantar até que que se torne a sentar,estarão todos em pé. E logo virá o Reposteiro-mor afastar a cadeira para baixo, e ficará no meio do pavimento defronte do altar, e da cortina de Sua Majestade.E o Capelão-mor mudará o Missal e Cruz. E então,posto o Secretário de joelhos, à ilharga da Cadeira que fica à parte da Epístola, virão jurar os eleitos do Estado da Nobreza, começando os Títulos por suas antiguidades, e lhe irá lendo a forma o Secretário. E acabado de jurar o Estado da Nobreza, irá fazer o mesmo o Estado dos Povos, cada um no lugar que lhe toca, e logo os Prelados por suas antiguidades. E, enquanto durarem os juramentos, tirando o de Sua Majestade,se poderão cantar algumas cançonetas da conceição de Nossa Senhora. E acabado de todo o juramento, se cantará um Te Deum laudamus, no fim do qual se recolherá Sua Majestade, acompanhado das mesmas pessoas com que foi. E de tudo farão auto os Escrivães da Câmara, Notários das Cortes, com as declarações e circunstâncias costumadas em semelhantes actos” 112

Livraria da Casa Cadaval: cod. Cadaval 1027, fl. 51. Cf. Domingos Maurício, Iniciativa da Consagração de Portugal a N. Srª da Conceição, in Brotéria, v. 43, n. 6 (1956), p. 632-634. 112

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JURAMENTO DA IMACULADA “Dom João, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves de Aquém e de Além-mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc. Faço saber aos que esta minha provisão virem que sendo eu ora ora [sic] restituído por mercê muito particular de Deus Nosso Senhor à coroa destes meus reinos e senhorios de Portugal, considerando que o Senhor Rei Dom Afonso Henriques meu, progenitor e primeiro Rei deste reino, sendo aclamado e levantado por Rei, em reconhecimento desta grande merçê, de consentimento de seus vassalos, tomou por especial advogada sua a Virgem Mãe de Deus e Senhora nossa, e debaixo de sua sagrada protecção e amparo lhe ofereceu a todos seus sucessores, reino e vassalos com particular tributo, em sinal de feudo e vassalagem, desejando eu imitar seu santo zelo e a singular piedade dos senhores reis meus predecessores, reconhecendo ainda em mim avantajadas e contínuas mercês e benefícios da liberal e poderosa mão de Deus nosso senhor por intercessão da Virgem nossa Senhora da Conceição. Estando ora junto em Cortes com os Três Estados do reino lhes fiz propor a obrigação que tinhamos de renovar e continuar esta promessa e venerar com muito particular afecto e solenidade a festa de sua Imaculada Conceição e nelas com parecer de todos assentámos de tomar por padroeira de nossos reinos e senhorios a santíssima Virgem nossa senhora da Conceição, na forma dos breves do Santo Padre Urbano oitavo, obrigando-me haver confirmação da Santa Sé apostólica. E lhe ofereço de novo em meu nome e do príncipe Dom Teodósio, meu sobre todos muito amado e prezado filho, e de todos meus decendentes, succesores, Reinos, senhorios e vassalos, a sua santa casa da Conceição, sita em Vila Viçosa, por ser a primeira que houve em Espanha desta invocação, cincoenta cruzados de ouro em cada um ano em sinal de tributo e vassalagem. E da mesma maneira prometemos e juramos com o príncipe e estados de confessar e defender sempre, [a]té dar a vida, sendo necessário, que a Virgem Senhora Mãe de Deus foi concebida sem pecado or[i]ginal, tendo respeito a que a santa madre Igreja de Roma, a quem somos obrigados seguir e obedecer, celebrar com particular ofício e festa sua santíssima e Imaculada Conceição, salvando porém 215

este juramento, no caso em que a mesma santa Igreja resolva o contrário. Esperando com grande confiança na infinita misericórdia de Deus nosso Senhor que por meio desta Senhora, padroeira e protectora de nossos reinos e senhorios, de quem por honra nossa nos confessamos e reconhecemos vassalos e tributários, nos ampare e defenda de nossos inimigos com grandes acrescentamentos destes reinos para glória de Cristo nosso Deus, exaltação de nossa santa fé Católica Romana, conversão das gentes e redução dos hereges. E, se alguma pessoa intentar causa alguma contra esta nossa promessa, juramento e vassalagem, por este mesmo efeito, sendo vasallo, o havemos por não natural e queremos que seja logo lançado fora do Reino, e se for Rei, o que Deus não permita, haja a sua e nossa maldição e não se conte entre nossos descendentes, esperando que pelo mesmo Deus, que nos deu o reino e subia a dignidade real, seja dela abatido e despojado. E para que em todo o tempo haja certeza desta nossa eleição, promessa e juramento, firmada, estebelecida em cortes, mandamos fazer dela três autos públicos, um que será logo levado à corte de Roma para se expedir a confirmação da Santa Sé apostólica e outros dois que juntos à dita confirmação e esta minha provisão se guardem no Cartório da casa de nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e na nossa Torre do Tombo. Dada, nesta nossa cidade de Lisboa, aos 25 dias do mês de Março. Luis Teixeira de Carvalho a fez, ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de 1646. Pero Vieira da Silva a fez escrever. El-Rei” 113.

ANTT: Livro IV de Leis, fl. 181v-182v. Cf. Andrade e Silva, Colecção Cronológica da Legislação Portuguesa (1640-1647), p. 314 e Idem, ibidem, p. 636-637. 113

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III O Leão saído do Bosque

O tema do Leão saído do Bosque radica numa fonte contemporânea dos derradeiros escritos do Novo Testamento, considerada um dos pontos altos da literatura messiânica hebraica pós-exílio, originada pela destruição de Jerusalém por Tito, no ano 70. Consagrada pelos títulos de 4 Esdras e Apocalipse de Esdras, a Igreja Católica chama-lhe deuterocanónica, por outras palavras, não lhe reconhece o carácter de livro autenticamente revelado. A redacção original realizada numa língua semita, o hebraico ou o aramaico, data do séc. I da era cristã 114. Tendo por base esse texto, um judeu alexandrino comporia, cerca do ano 97, uma versão grega de que não subsistem senão fragmentos insignificantes 115, apesar de ser ela a fonte de onde derivam, directa ou indirectamente, todas as restantes: a latina 116, a síriaca 117 e a etíope 118, estreitamente A opinião de Vence (Migne, Dictionnaire des Apocryphes, Paris, 1856, col. 569-570), segundo a qual o texto teria sido redigido em hebraico por um cristão e, posteriormente, traduzido para grego, foi completamente abandonada. Do mesmo modo as de W. Whiston (Fabricius, Codex Pseudoepigraphus Veteris Testamenti, Hamburgo, 17131723, II, p. 174), de Morin (Lawrence, Primi Ezrae libri versio Aethiopica, Oxford, 1820, p. 280) e de D. Calmet (Migne, ob. cit., col. 579) que sustentaram opiniões idênticas. Edições críticas: M. R. James, The fourth book of Ezra, Cambridge, 1895; B. Violet, Die Esra Apokalypse, Leipzig, 1910. 115 Hilgenfeld tentou a reconstituição do texto grego perdido, in Messias Judaeorum, Leipzig, 1809, p. 36-113. Tischendorf publicou um texto grego aparentado, também denominado Apocalipse de Esdras, in Apocalypsus Apocryphae, Leipzig, 1866, p. 2433. Cf. Van der Vlis, Disputatio critica de Ezrae libro Apocrypho, Amesterdão, 1839, p. 5-9. 116 A sua tradução (cap. III-XIV) crê-se posterior ao ano 266, porém anterior a Santo Ambrósio, que a cita como autoridade incontestável. Os capítulos I-II (também conhecidos como 5 Esdras) foram compostos em data que se se ignora, os XV-XVI (também conhecidos como 6 Esdras) cerca do ano 266. L. Pirot, Le 5ème Livre d' Esdras e Le 6ème Livre d' Esdras, in Dict. Bs, v. 3, col. 1104-1107 e col. 1107-1109, respectivamente, e H. J. Labouret, Le cinquième livre d' Esdras, in Révue Biblique, 114

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aparentadas entre si, as duas versões árabes 119, as duas arménias 120 e uma georgiana 121. A partir do século V passaria a ser considerado apócrifo. No entanto, ao contrário de inúmeros outros apócrifos de pendor geralmente apocalíptico que haviam representado idêntico papel no misticismo hebraico (e que foram alvo de sistemática censura por parte da Igreja Romana), a versão latina, não obstante ter sido

nova série, v. 6 (1909), p. 412-434. Segundo René Basset, é possível falar de dois grupos desta versão: o espanhol e o francês. Na opinião de Bensly y James (The Fourth Book of Ezra, Cambridge, 1893, p. XLIV) o texto mais antigo pertence ao grupo espanhol. Os manuscritos mais completos arquivam-se em León, tendo sido estudados por S. Berger (Notice sur quelques textes latins inédits de l' Ancien Testament: Notices et extraits des manuscrits, XXXIV, 2ª parte, p. 30). O latim é incorrecto, lembrando o estilo de Comódio ou Potâmio, acrescentando quatro capítulos, dois no início (I e II) e dois no final (XV e XVI), de origem desconhecida. Editado por Fabricius, ob. cit., p. 193-307; R. L. Bensly, The missing Fragment of the fourth Book of Ezra, Cambridge, 1875. O texto do grupo francês apresentou durante muito tempo uma lacuna entre os versículos 35-36 do cap. VII, em resultado da supressão de um fólio hostil às Orações dos Defuntos do códice da Biblioteca Nacional (Paris, fundo latino, 11505), protótipo de todos os restantes conhecidos. A tradução francesa, editada por Migne (ob. cit., I, p. 579-648), é muito defeituosa. 117 É provavelmente contemporânea dos Esdras canónicos e guarda-se na Biblioteca Ambrosiana de Milão. Ceriani, Monumenta Sacra e Profana, v. 5, fasc. 1, Milão, 1868. 118 Coetânea do período inicial da literatura Gheez. A primeira menção que se lhe conhece na literatura etíope remonta ao Organon Dengel (oração de 2ª feira), composto cerca de 1440 por Abba Georges, O Arménio (Georges de Sadamant). Foi Lawrence (ob. cit.) o seu editor princeps. O texto definitivo, obtido a partir de 10 dos 20 manuscritos existentes na Europa, foi publicado por M. Dillmann, Veteris Testamenti Aethiopici tomus quintus quo continentur libri apocryphi, Berlim, 1894, p. 152-193. Edição castelhana, cotejada pelas restantes, com excepção das arménias, El Apocalipsis de Esdras (IV Esdras), Barcelona, 1980. 119 Distintas, apesar de derivadas do mesmo grupo: de Oxford e do Vaticano. A primeira serviu de base à tradução inglesa de Ockley, inserta no tomo IV do Primitive Christianity Reviv'd de W. Whiston (Londres, 1711); a segunda foi publicada na íntegra, juntamente com uma tradução latina, por Gildemeister (Esdras libri quartus arabice, Bona, 1877). Sobre a influência de IV Esdras em Suratas do Alcorão ver R. Basset, Les Apocryphes Ethiopiens, v. 9 , Paris, 1899, p. 12. 120 Uma saíu impressa na Biblia Arménia de Veneza (1805), enquanto a outra foi incluída na Biblia Arménia de Uskan (Amesterdão, 1656), reimpressa em S. Petersburgo (1815). 121 B. Violet, Die griechischen christlichen Schriftseller der drei ersten Jahrhunderte, Leipzig, 1910 e L. Gry, Les dires prophétiques d' Esdras (Esdras IV), Paris, 1938.

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parcialmente expurgada, teve uma extraordinária difusão durante a Idade Média 122. Apesar de tudo, e no que lhe respeita, a questão mais debatida tem sido o seu carácter singular. Uma distância significativa o separa dos três primeiros livros atribuídos a Esdras. Dos dois que a Bíblia considera canónicos, 1 Esdras e Nehemias (o 2 Esdras da Vulgata), chamados livros históricos, uma vez que narram episódios da história do povo hebraico e constituem a sequência lógica dos Paralipómenos ou Crónicas, que os precedem no contexto vetero-testamentário. Mas também de 3 Esdras, colocado no grupo dos apócrifos pela Igreja romana desde a constituição da Vulgata, o qual não passa (salvo o cap. I, inspirado no cap. XXXVI do II Livro das Crónicas) de uma repetição dos eventos relatados por 1 Esdras. 4 Esdras pertence a uma outra classe de textos. Com efeito, centra-se na problemática da Restauração Messiânica e do papel escatológico e ético do Messias no Juízo Final. Os protagonistas são personagens bíblicas que acedem a uma revelação ou epifânia mediada por um Anjo e completada pela contemplação da Mercabah (Carro ou Trono) de Deus, ou pelo arrebatamento e ascensão ao Empíreo. Esdras (Ezra = Socorro), assistido pelo enviado do Senhor, o Arcanjo Uriel (Oura El = Luz de Deus, ou Deus é a minha Luz) tornase, ao longo dos doze capítulos originais do livro (III a XIV), depositário da Revelação dos Mistérios do Fim do Mundo e do Mundo Vindouro, a qual lhe é manifestada, tal como sucede no Livro de Henoch, no decurso de sete visões. O Leão saído do Bosque, Augusto e Supremo Monarca, Magnânimo, Invicto, Reservado, Transplantador da Fé Católica e Rei Encoberto, o Leão sem temor, “despedaçando inobedientes”, a quem Felix da Costa dedica o seu Tratado (Liber Unicus) protagoniza os versículos 36 a 46 do cap. XI 1 a 38 do capítulo XII de Esdras IV: Capítulo XI: “[…] 36. Ouvi então uma voz, que me disse: Olha para diante de ti e considera o que vires. 37. E olhando eu, vi a semelhança de um Leão À parte o neotestamentário Apocalipse de S. João, todos os restantes Apocalipses Livro de Henoch, Apocalipse de Abraham, Apocalipse de Elias, Testamento dos Doze Patriarcas, Ascensão de Isaías, etc. - são considerados apócrifos. 122

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que saia do bosque furioso e vi que lançava uma voz de homem, dizendo à Águia. 38. Ouve o que te diz o Altíssimo: 39. Não és tu um dos quatro animais que ficaram, aos quais ordenei que reinassem neste meu Mundo, segundo o pedissem os tempos de cada um deles? 40. E vindo o quarto animal, venceu todos os outros animais que passaram e dominou o Mundo com terrível império e a todo o Orbe com vexação grandíssima e habitou tanto tempo com dolo sobre as terras. 41. Porque tu não foste justo Juiz da Terra, 42. Afligindo aos mansos, tratando mal os pacíficos, amando aos mentirosos, destruindo as moradas dos homens úteis e derribando os muros dos que nunca te fizeram mal. 43. As tuas injúrias subiram até ao Altíssimo e a tua soberba até ao Forte. 44. O Altíssimo olhou sobre os tempos soberbos e agora estão acabados e as suas iniquidades completas. 45. Portanto, ó Águia, desaparece também com as tuas asas horríveis, com as tuas penas malignas, com as tuas maliciosas cabeças, com as tuas péssimas unhas e com a vaidade de todo o teu corpo. 46. Para que toda a terra tenha refrigério e livre da tua tirania se recolha e ponha a sua esperança na justiça e clemência daquele que a criou.” Capítulo XII: “1. E aconteceu que dizendo o Leão estas palavras à Águia. 2. Vi que a cabeça, que havia ficado, subitamente desapareceu, com as quatro asas que a ela se tinham unido para reinar; cujo Reino foi fraco e cheio de motins. 3. E no mesmo tempo todo o corpo da Águia foi queimado, o que causou na terra grande assombro. E despertando eu daquela perturbação e extremo temor, eu mesmo repreendia ao meu espírito dizendo: 4. Tu isto te causaste por esquadrinhares os caminhos do Altíssimo. 5. Mas ainda que tenho o ânimo tão debilitado, que apenas me resta um pouco de alento, pelo grande espanto que tive nesta noite. 6. Ainda assim orarei ao Altíssimo, para que me conforte até ao fim. 7. E assim disse: Senhor Dominador, se achei graça diante de Vós e me tendes por mais justo que a outros muitos, e se é certo que as minhas súplicas podem subir à vossa presença. 8. Confortai-me e declarai ao vosso Servo distintamente a significação desta Visão horrível, para se consolar completamente a minha alma. 9. Pois que Vós me reputaste digno para mostrar-me os últimos tempos. 10. Então, pois, me disse Ele: Eis aqui o sentido desta Visão. 11. A Águia que viste sair do Mar é o Reino que apareceu a Daniel teu irmão. 12. E 220

não lhe foi declarado. O que faço agora. 13. Assim pois, virão tempos em que um Reino se levantará sobre a Terra, cujo temor será mais terrível que o de todos os Reinos antecedentes. 14. E será governado por doze Reis sucessivamente. 15. E o segundo destes reinará mais tempo do que os demais. 16. Eis aqui a declaração das doze asas, que viste. 17. E a voz que ouviste falar do meio do corpo e não das cabeças, 18. Significa que, passado o tempo daquele Reino, nascerão grandes contendas: e ela estará em perigo, se bem que não cairá por então, antes será restaurada de todo. 19. E das oito penas, que viste debaixo das asas pegadas com elas, 20. Esta é a declaração: Ali se levantarão oito Reis, cujos tempos serão breves, e dois deles perecerão. 21. Mas chegado o meio tempo, os quatro se conservarão até que o tempo de cada um vá chegando ao seu fim. E os dois restantes até ao fim serão conservados. 22. E as três Cabeças que viste ocupadas no sono. 23. Significam que nos últimos tempos daquele Reino o Altíssimo levantará três Reinos, em que restituirá muitas coisas. 24. E eles subjugarão a Terra com muito maior tirania que todos os seus Antecessores, por cuja causa são denominados Cabeças da Águia. 25. Que chegarão ao maior auge os seus ímpios dolos. 26. E a maior Cabeça que viste desaparecer significa que um daqueles Reis morrerá na sua cama, mas com tormentos. 27. E aos dois que ficarão, a espada os consumirá, porque a espada de um devorará o seu sócio. 28. E este por fim cairá também debaixo do cutelo. 29. E as duas penas debaixo das asas que viste passar para a Cabeça da parte direita. 30. Denotam aos que o Altíssimo conservou para o seu fim, cujo Reino é pequeno e cheio de alterações, como viste. 31. Finalmente, o Leão que viste sair do bosque, furioso e rugindo, falando à Águia e arguindo-a pelos seus fastos injustos, como ouviste, 32. Denota o vento que o Altíssimo reservou por fim contra eles e suas ímpias fraudes. Ele os arguirá e arrojará sobre eles os seus roubos. 33. Porque os fará conduzir vivos a Juízo e, convencidos dos seus erros, lhes dará os competentes castigos. 34. Porque ele livrará o resto do meu Povo, que escapar dos trabalhos, até os meus fins. E os alegrará até que venha o último dia do Juízo, do qual te falei no princípio. 35. Este é o sonho que viste e suas declarações. 36. Porque só tu foste reputado por digno de conhecer estes Mistérios do Altíssimo. 37. Escreve pois em um livro todas as coisas que viste e conserva-as em um lugar oculto. 38. Donde as mostrarás aos Sábios

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do teu Povo, cujos corações entendes que são hábeis para ver, compreender e guardar estes Mistérios”.

A Grifa Parideira vencida pelo Leão saído do Bosque, desenho à pena de Felix da Costa, constante do códice consignando o Liber Unicus [DCL: P-7] que pertenceu a Carvalho Monteiro. A Grifa, bem como a Grifa parideira são, em Bandarra (trovas 87, 100 e 145), alusões à Águia de Esdras, como sublinha D. João de Castro (Paraphrase e Concordância, Paris, 1603, fl. 72v), que nela identifica a “seita maometana […] pelas más partes dela e incredível multiplicação que teve no mundo, gozando e logrando tantos milhares de almas enganadas”. Por seu turno, António Vieira sustentaria no Discurso Apologético oferecido secretamente à Rainha Nossa Senhora para alívio das suas saudades, depois do falecimento do príncipe D. João, primogénito de Ss. Majestades (in Sermões, v. 15, p. 66-67) e na Defesa perante o Santo Ofício, de 1665 (v. 1, p. 207) que "O corpo desta Águia é o antigo Império Romano", acrescentando que possui três cabeças: 1ª cabeça = Roma; 2ª cabeça = Constantinopla (Turcos); 3ª cabeça = Viena de Áustria (Alemanha).

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*** As iniciativas que empreendi, com vista a determinar a amplitude da difusão e o âmbito da influência exercida por 4 Esdras em Portugal, só constataram elos significativos a partir da centúria de quatrocentos 123. Não é crível fosse completamente desconhecido, apesar de não constar da lista daqueles cuja leitura os Cânones de S. Martinho de Braga proibiam 124, porquanto Santo Isidoro de Sevilha o considerava livro apócrifo 125. Um dos terrenos em que a pesquisa pode vir a revelar-se frutuosa é o da Kabbalah, ou explicação esotérica da Torah, tanto a judaica quanto a cristã, conhecido o interesse que alguns dos seus expositores cristãos, entre outros Pico della Mirandola e Blaise de Vigerère (1523-1596), tão influenciados por correntes hermenêuticas oriundas da Península Ibérica, demonstraram pelo capítulo XIV de 4 Esdras. Adoptaram mesmo o versículo 6 do aludido capítulo para demonstrar que além da Lei Escrita existe uma ciência, a Kabbalah, destinada a explicar os mistérios contidos na Torah 126. Esta assunção teve uma repercussão ainda não totalmente rastreada em Portugal. Frei Nicolau Coelho do Amaral considera, "conforme se lê em Esdras", que os Livros do Antigo Testamento são para os dignos e indignos, enquanto os setenta livros da Kabbalah são estritamente reservados aos Sábios 127. Por seu turno, Francisco de Holanda aplica

Cf. Manuel J. Gandra, Apocalipse de Esdras: ecos nas Letras e na Arte Portuguesas, Mafra, 1994. 124 Canon LXVII (Sobre não ser permitido na Igreja recitar Salmos poéticos; ou ler livros Apócrifos), correspondente ao Canon LIX do Concílio de Laodiceia, o qual contempla apócrifos priscilianistas, tais como as Actas de Santo André, S. João e S. Tomé. António Caetano do Amaral, Colecção de Cânones ordenada por S. Martinho Bracarense, Lisboa, 1803, p. 318-327. 125 Etimologias, Livro VI, cap. II, 28. 126 Pico ocupa-se da questão na Apologia, onde explica o sentido da expressão "Dirás publicamente estas coisas e estas outras encobrirás" (XIV, 6). Ver ainda 4 Esdras, XIV, 26. 127 Cronologia, seu ratio Temporum, maximè in Theologorum, atque bonarum literarum studiosorum gratiam: "Exactis quadraginta diebus loquutus est Altissimus dicens. Priona quae scripsisti in palam posse, legant digni et indigni. Novissimus autem septuaginta libros conservabis ut tradas eos sapientib. de populo. In his enim est vena intellectus, et sapientiae fons, et scientiae flumen. Et sic feci. Hoc Esdras". 123

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uma paráfrase de 4 Esdras à Pintura, como "pego e rio e fonte", citação textual 128 que Pico usa para definir a Kabbalah na sua Oratio. Outro domínio que, se explorado sem preconceito, se revelará muito frutuoso é o da literatura de viagens e também a cartografia, quer a teórica quer a prática. Cristóbal Colón, por exemplo, colheu em 4 Esdras argumentos para convencer os seus adversários da existência do Novo Mundo, escudando-se na autoridade de Rogério Bacon 129 e do Cardeal Pedro d'Ailly 130. Os versículos 6 e 7 do cap. IV interpretou-os Colón, aliás à semelhança do que faria com o coro da Medeia 131 de Séneca, como o vaticínio da descoberta de terras ignoradas. Com efeito, argumentos como os aludidos eram muito mais compreensíveis para o vulgo do que as teorias científicas de Toscanelli, além de que permitiam refutar as doutrinas de Santo Agostinho ou de Lactâncio contra a existência dos antípodas, sem arriscar ser arguido de heresiarca. Duarte Pacheco Pereira seguiria idêntico raciocínio ao escrever: "Ainda nos fica por dizer em quanta parte a terra é maior que a água; como somente a água ocupa a sétima parte dela segundo se mostra no quarto livro do Profeta Esdras, no capítulo sexto, que diz assim: «e no terceiro dia mandastes as águas ajuntar na sétima parte da terra, verdadeiramente as seis partes secastes»" 132. Durante o século XVI o incremento a que se assiste na sua divulgação de 4 Esdras terá ficado a dever-se, como conjecturo, à citação nas Trovas do Bandarra em circulação desde 1531, aproximadamente:

Da Pintura Antiga, I, 2. Silvie Deswarte interroga-se sobre se não será indispensável considerar a Kabbalah e 4 Esdras para um perfeito entendimento do conteúdo desta obra de Holanda. 129 Opus Majus, p. 138: "Et hoc per auctoritatem Esdrae probatur qui dicit libro quarto quod sex partes terrae sunt habitatae et septima est cooperta acquis. Et ne aliquis impediat hanc auctoritatem, dicens, quod liber ille est apocryphus: dicendum est quod sancti habuerunt illum in usu et eo in officio divino utuntur". Citado por A. de Humboldt, Histoire de la géographie du Nouveau Continent, Paris, v. 2, p. 66. 130 De Imagine Mundi, cap. VIII, fl. 136: "Accedit ad hoc auctoritas Esdrae libro suo quarto, dicens quod sex partes sunt habitatae et septima est cooperta aquis, cujus libri auctoritatem sancti habuerunt in reverentia". Citado idem, v. 1, p. 67. 131 "Venient annis / Saecula seris / Quibus oceanus / Vincula rerum / Laxet et ingens / Patrat tellus, / Thetisque novos / Detegat orbes / Nec sit terris / Ultima Thule". 132 Esmeraldo de Situ Orbis, livro 1, cap. 2, Lisboa, 1975, p. 24. 128

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Muitos podem responder, E dizer: Com que prova o sapateiro Fazer isto verdadeiro, Ou como isto pode ser? Logo quero responder, Sem me deter. Se lerdes as Profecias De Daniel e Jeremias Por Esdras o podeis ver. [...] Em Esdras o vi [o sonho] pintado E também vi Isaias Que nos mostra nestes dias sair o povo cerrado 133. Diversas passagens das Trovas terão, de resto, sido inspiradas em 4 Esdras, justamente fazendo jus a uma tradição profética joaquimita tão antiga quanto, pelo menos, o Poema da Batalha do Salado, no qual o seu autor, o averroísta Afonso Giraldes de Montemor, utiliza expressões como Leão dormente, Porco selvagem e outras consabidamente adoptadas por Bandarra. Avalizado pelo Sapateiro de Trancoso, o Apocalipse de Esdras passaria então a constituir um motivo de glosa frequente, ora servindo de suporte hermenêutico complementar, ora como fonte exclusiva para o apuramento das circunstâncias de concretização do Quinto Império 134. Trovas do Bandarra, apuradas e impressas por ordem de um grande Senhor de Portugal. Oferecidas aos verdadeiros portugueses, devotos do Encuberto, Nantes, 1644, estrofes 108 e 127. Não me é possível asseverar, senão sob reserva (por haver desaparecido a cópia que andava anexa ao processo inquisitorial e a Paraphrase de D. João de Castro, não as editar nem comentar) que fizessem parte do corpus original do bandarrismo. Ver António Vieira, Defesa perante o Santo Ofício, v. 1, p. 127-128. 134 Os Index Librorum Prohibitorum de 1564, 1581 e 1597 (fl. 33v e 41v; 34v; 47v) incluem um Liber inscriptus, de fatis Monarchiae Romanae, somnium, vaticiniû Esdrae, etc., que talvez seja 4 Esdras. Na Secção de Teologia da Biblioteca Estadual de Hamburgo (Bibliothek der Freien und Hansestadt Hamburg) arquiva-se uma Bíblia Portuguesa manuscrita, tradução de Pedro Rahmeyer, em 1751, em cujo volume 2 se inclui 4 Esdras (p. 43), conforme Luís Silveira, Manuscritos Portugueses da Biblioteca da Livre Cidade Hanseática de Hamburgo, in Anais das Bibliotecas e Arquivos, v. 13, n. 51-54 (1938), Lisboa, 1941, p. 14. António Vieira escreve, em 1665, a D. Rodrigo de 133

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As únicas obras de autor português que nos chegaram, de um rol que inclui algumas inexoravelmente perdidas, são as três seguintes, todas elas constantes da livraria de Carvalho Monteiro, ora propriedade da Biblioteca do Congresso (DCL), a saber: → Tratado da Quinta Monarquia (1641) 135 [DCL: P-26] O Incuberto: Dialogo Portugues de Anonymo Utopiense dedicado ao senhor Portugues (1659) [DCL: P-47 e P-48] → [Liber Unicus] Exposição do XI, XII e XIII Capítulos do IV livro do Propheta Esdras. Sobre os acçidentes passados, presentes e futuros da resulção do grande, e tremendo Imperio Othomano significado em visão a Esdras, em hua Aguia, que viu sobia do mar.- Igualada a visão e suas particularidades com os successos que tem havido em o mesmo Imperio, E mostrando o fim delle, em o presente Mahometh quarto que hoje Regna. Por Felix da Costa, Pintor Theorico, e Pratico. Didicado ao Augusto Varão Rey Encuberto, que hade destruir esta Aguia, Othomana, Como Leão. Em Lix.ª an' 1687 [DCL: P-7]

Meneses que "sobre Esdras tenho eu algum pensamento que terei por verdadeiro enquanto não vir outro que melhor acertasse", in Cartas, v. 2, n. 73 (p. 144); cf. igualmente: Carta a Jácome Iquazafigo (idem, v. 2, p. 781) e Carta a Duarte Ribeiro de Macedo, de 1 de Maio de 1679 (ibidem, p. 393); Defesa perante o Santo Ofício, v. 1, p. 16, etc. A conferência 47 da Academia dos Humildes e Ignorantes (v. 1) refere-o como uma das profecias canónicas cujo "sagrado" foi violentado pelos sebastianistas, opinião partilhada por Frei Francisco de Jesus Maria Sarmento, editor da primeira tradução impressa em vernáculo (a par da versão latina): Livro III e IV de Esdras, Sacerdote da Lei Antiga, em que se referem a sagrada historia do livramento e vinda do Povo Judaico do captiveiro da Babylonia, e por ultimo se expressão varias doutrinas, revelações e propheticas figuras, Lisboa, 1787, p. 97-243. 135 BN, cod. 810. Ver Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica, Lisboa, 1999 e Frei Sebastião de Paiva, Tratado da Quinta Monarquia (ed. José Eduardo Franco, Bruno Cardoso Reis, Manuel J. Gandra), Lisboa, 2006.

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É conhecida a influência que apócrifos e deuterocanónicos exerceram na literatura e, nomeadamente, na arte 136. De entre tal género de escritos, os Apocalipses são aqueles que mais se salientam pela unidade e sublimidade doutrinais. O investigador galego Rafael Silva demonstrou já quais os elementos apocalípticos que se encontram iconografados no pórtico da Catedral de Santiago de Compostela, atribuído a Mestre Mateo 137. Em Portugal, em nenhuma outra parte, como na Igreja manuelina do Convento de Cristo, em Tomar, se cristalizaram tão declaradamente e, ao mesmo tempo, tão subtilmente, os sinais evocadores da doutrina esotérica de que a Ordem, que uma tradição ininterrupta tornou herdeira universal dos templários, foi a fiel depositária 138. Quererei com isto sustentar que o programa da Quinta da Regaleira se inspira em 4 Esdras? De modo algum! Viso apenas mostrar que um elemento, regra geral, inócuo e desvalorizado, porque pré-existente, nas abordagens hermenêuticas vigentes foi reintegrado de forma subtil por Carvalho Monteiro na cenografia do lugar, encerrando o percurso da peregrinação alegórica exposto na Regaleira. Refiro-me, é óbvio ao Leão em bronze que, literalmente, sai do bosque, o qual serve de guia aos visitantes-viandantes, apontando-lhes o sentido da marcha em direcção ao Olimpo, por outras palavras, ao Quinto Reino ou Império. Desafio os mais reticentes daqueles que me acompanham nesta demanda a proporem uma explanação convincente para a presença dos quatro animais iconografados (caracol, sapo, salamandra e tartaruga) na balaustrada que defronta o felino, que desdenhe deles enquanto figura dos quatro elementos, ou quatro Impérios… Enfim, aqui chegados, o leitor poderá legitimamente suspeitar ser minha convicção firme a adesão de António Augusto Carvalho Monteiro ao ideário Sebástico.

Emile Mâle, L'Art Religieux du XIIe siècle en France, Paris, 1928, p. 73 e 102. El Portico da Gloria, Santiago de Compostela, 1978, cap. II, p. 68-94. 138 Cf. Manuel J. Gandra, O Projecto Templário e o Evangelho Português, Lisboa, 2006. 136 137

231

O Leão que sai do Bosque num desenho, de 1885 (grafite sobre papel: 132x112 mm), de D. Carlos (então junto ao gradeamento) [MC-MNAC, inv. 1615 (99)]

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O Leão que sai do Bosque, bronze do escultor francês Pierre Rouillard, na actualidade, deslocalizado (integrado na Alameda dos Deuses), para aparentar proceder daí.

233

Sim, de facto, além de coleccionador das fontes do Sebastianismo (Luís de Camões e camoniana, incluídos), Carvalho Monteiro foi convicto adepto Sebástico.

Brasão de armas de Carvalho Monteiro, cujo campo é ocupado por lança de torneio e pelo monograma S de Sebastião.

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Trono Sebástico (?) de Carvalho Monteiro, concebido por Luigi Manini e realizado pelo marceneiro Rodrigo de Castro, em madeira de carvalho 235

A profissão de fé na Tradição Profética Lusíada foi-nos legada pelo próprio em dois impressivos monumentos, um destinado a ser exibido, outro absolutamente do foro íntimo: um brasão de armas e uma medalha emblemática, respectivamente. O campo do brasão de armas, concebido para acompanhar a Galeria dos Reis, é ocupado pela letra S, de Sebastião… A medalha em ouro que trazia ao pescoço juntamente com outras seis, todas emblemáticas do seu desígnio de vida, apresenta um leão numa arena, acompanhado pela divisa Quem ousará atacá-lo, decerto alusiva ao carácter universal e insuplantável do Encoberto… 139

Trata-se da única medalha, de entre as sete que usava ao pescoço, que não se lhe reporta pessoalmente (3ª pessoa do singular). 139

236

O JAZIGO de António Augusto Carvalho Monteiro no Cemitério dos Prazeres

O jazigo de AACM, no cemitério dos Prazeres (Lisboa), foi a sua terceira e derradeira mansão, depois do Palácio Quintela 140 e da Quinta da Regaleira. Nesse túmulo-capela (com cripta), que destinou ao seu sono eterno, sente-se a ambiência das outras, nomeadamente da de Sintra. Trata-se, efectivamente, de uma outra habitação de AACM, como se comprovará por um certo número de pormenores, não sendo despicienda a circunstância de a chave em ouro 141, de uso exclusivo do proprietário, que abria a porta do mausoléu dos Prazeres, ser a mesma que abria as portas principais do Palácio da Rua do Alecrim e da Quinta da Regaleira... O projecto do jazigo de AACM foi encomendado a Luigi Manini, cuja assinatura se observa à direita (esquerda do observador), na fachada do monumento, diametralmente oposta à do construtor, José Almeida Rodrigues, mestre canteiro com oficina na Calçada Marquês de Abrantes n° 48-60, em Lisboa.

Cf. Manuel J. Gandra, Palácio Quintela: Iconologia do Programa Pictórico, Rio de Janeiro-Mafra, 2014. 141 Esta chave era conservada em estojo próprio, profusamente decorado com inúmeras minúsculas cruzes da Ordem de Cristo, inspiradora maior da missão espiritual que AACM se atribuía a si-próprio (ver catavento da Torrinha, Capela, Biblioteca, etc.). 140

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Jazigo da Família Carvalho Monteiro, no cemitério dos Prazeres

240

Quando da sua fundação, a planta do cemitério dos Prazeres era um pentágono regular.

O jazigo da família Carvalho Monteiro encontra-se numa zona privilegiada do cemitério dos Prazeres, precisamente no gaveto formado pela alameda que forma o eixo de entrada no recinto e o largo onde se situa a respectiva Capela. A parte fronteira do jazigo orientase para a rua n° 11, e a fachada posterior, onde se abre a porta de serviço do edifício, para a rua E. Construído em pedra de lioz (salvo as portas e a grade na janela, do alçado posterior, que são de bronze), ocupa uma área de 24.405 m2 e mede cerca de 15 m de altura, tendo resultado da reutilização do espaço do anterior jazigo de família (lote nº 1382), ampliado por anexação do lote nº 1442 adjacente, bem como de todo o terreno disponível 142. Carvalho Monteiro requereu à Câmara Municipal de Lisboa autorização para a construção ou ampliação, conforme projecto que anexou, a 10 de Fevereiro de 1908. O jazigo 1442 pertencia a D. Maria Emília da Conceição Enes, cujo corpo foi transladado para o jazigo n° 5065, construído a expensas de AACM que pagou (19 de Junho do mesmo ano) 585$095 reis à Câmara Municipal de Lisboa pela aquisição do lote, realizando-se a respectiva escritura a 20 de Junho nos Paços do Concelho. 142

241

A forma final da planta do jazigo, identifica-se com a configuração do lote que AACM adquiriu, a qual não é muito comum, no cemitério em apreço, porquanto este tem um plano ortogonal, constituído por talhões geralmente rectangulares.

Luigi Manini, Planta do jazigo de AACM [MCCC-FLM 0805G] 242

A planta triangular do jazigo é constituída por dois triângulos isósceles, de base comum, gerados a partir do duplo quadrado, forma recorrente em projectos de Manini, porquanto também ocorre na arquitectura da Regaleira (na mansão, na capela, etc.), segundo duas modalidades: dois quadrados contíguos, ou sobrepostos e rodados 45º, formando um octógono.

Demonstração da aplicação do duplo quadrado ao jazigo de AACM, segundo o arquitecto Pedro Lorena. O alçado foi concebido a partir do desenho em planta sendo evidente o eixo vertical articulando os três mundos inferior, terrestre e celestial. 243

Desenho de Luigi Manini da planta baixa do palácio da Regaleira, com base num rectângulo raiz de três [MCCC-FLM].

O mesmo rectângulo raiz de três, com dimensões especificadas a lápis, em outro desenho de Manini [MCCC-FLM]

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Os objectos desenhados por Manini (da arquitectura, ao simples puxador de porta) brotam sempre de uma geometria muito depurada, expressa na escala do desenho, em percentagem e não em relação [MCCC-FLM]

O jazigo é constituído por três planos: Celestial: O corpo principal do jazigo é encimado por um templete de planta quadrangular, sustentado por quatro colunas, sob o qual se abriga uma urna contendo as ossadas de Francisco Mendes Monteiro. Sobre este templete está sentado o Anjo da Morte, com as asas distendidas, vestido com uma túnica, tendo na mão direita uma espada e na esquerda um molho de chaves (para abrir as portas do Além). Está ladeado por quatro fogaréus que estão na prumada das colunas, decorados na sua base por folhas de carvalho. Da cobertura, elevam-se dois castiçais de grandes proporções. Na base do templete existem epitáfios redigidos por Carvalho Monteiro em honra de seu pai, de sua mãe e de seu irmão José Augusto: 245

Ao lado dos restos mortais da esposa e do filho, descansam também aqui os de seu desvelado marido e pai Francisco Augusto Mendes Monteiro, nascido em Lagos da Beira Concelho de Oliveira do Hospital, em 9 de Março de 1816, e falecido em sua casa de Lisboa na rua do Alecrim n° 70 Freguesia da Encarnação, a 13 de Novembro de 1890, tendo de idade de 74 anos, 8 meses e 4 dias. Foi um portuguez modelar e um exemplar chefe de família, marido dedicado e pai extremoso praticando o bem e amando a sua Pátria. Para aqui foram os seus restos mandados transladar pelo seu saudoso filho António Augusto Carvalho Monteiro. Que a sua alma descanse em paz junto às dos entes queridos que na vida teve. Ao lado dos restos mortais do filho descansam também aqui os da sua extremosa mãe D. Theresa Carolina de Carvalho Monteiro, nascida no Rio de Janeiro a 4 de Outubro de 1810 e falecida em Coimbra a 2 de Abril de 1971 com 60 anos 5 meses e 29 dias de idade. Foi na vida filha querida a esposa mais dedicada, mãe extremosíssima e protectora dos pobres. A sua Alma gozará decerto da bem-aventurança celeste assim crêem o seu desolado esposo Francisco Augusto Mendes Monteiro e os seus consternados filhos, António Augusto Carvalho Monteiro, e José Augusto de Carvalho Monteiro que à memória da finada tributam uma eterna saudade. Terrestre O acesso ao piso nobre do jazigo faz-se pelo lado Norte, orientado para a rua principal do cemitério, transpondo dois degraus circulares. Entra-se nele por uma porta em bronze, estreita (Porta do Céu, conforme a parábola bíblica, em Mateus, VII, 13-23). A entrada principal do jazigo é ladeada por duas figuras alegóricas femininas sentadas, de costas uma para a outra: A Esperança, no lado direito (esquerda do observador), sem véu, com um cálice na mão, e a Fé, no lado esquerdo (direita do observador), coberta por um véu, segurando uma cruz. Ambas estão sentadas em pedestais que têm a mesma altura do soco que circunda o monumento. Por cima das duas figuras femininas junto ao friso, ocorrem, como nos alçados laterais, conchas de grande dimensão. 246

A Esperança e a Fé

A porta principal do mausoléu, em bronze, é formada por três almofadas, todas elas mostrando os cantos cortados por um quarto de círculo, cujo centro é ocupado por rosetas. A almofada grande serve de moldura a um batente circular, dividido ortogonalmente em quatro quadrantes. No vertical, o ponto superior está fixo, e é composto por uma coroa de três anéis, de onde sai o batente propriamente dito, que é interrompido no eixo horizontal também por duas coroas de flores. Do anel superior brotam três folhas de carvalho enroladas, e destas muitas rosas de Santa Teresinha, constituindo uma mísula que sustenta uma ampulheta, confinada no interior de três colunas que, por sua vez, estão apoiadas numa base triangular e sustentam um triângulo. Da ampulheta, figura do tempo que voa e se esgotou, liberta-se, como se de um casulo, uma borboleta da espécie Sphingidae, Acherontia átropos, cujo dorso tem a particularidade de ostentar uma caveira.

247

Concluído o tempo de vida a alma-borboleta (Sphingidae, Acherontia átropos) liberta-se do casulo corporal

Neste alçado, ladeando a porta, existem duas quase colunas simétricas, lisas e de base quadrangular, que se erguem até ao nível da cobertura, a qual por eles é sustentada. Ambas sustentam um frontão onde se abre um arco perfeito, apoiado em dois cachorros encimados por ramos de três papoilas dormideiras, e coroado por um anjo com as asas fechadas, no qual está preso um pano distendido onde se lê "Família Carvalho Monteiro". Entre o tímpano e a porta há uma cruz, em cujos braços se entrelaça uma coroa. Essa Rosa-Cruz coroada, exprime toda a história da Paixão de Cristo, e da sua ressurreição e vitória sobre a morte. 248

A Rosa-Cruz coroada sobre a porta estreita do mausoléu de AACM

249

No interior, de planta triangular, há, ao fundo, um altar, em pedra, encimado por uma janela redonda com uma grade cruciforme, conferindo ao mausoléu o aspecto de uma igreja. Para chegar ao altar é necessário subir um degrau. O tecto, em abóbada de volta perfeita, afunila para acompanhar a planimetria do lote. Nos catetos do triângulo, em quatro prateleiras sobrepostas e de dimensões idênticas, estão depositados os caixões do dono do jazigo e de seus familiares.

Inferior Pela fachada posterior acede-se à cripta do jazigo. Lateralmente encontram-se dois frades de pedra e, pousadas neles, duas corujas, aves nocturnas por esse motivo associadas à morte. Destes dois frades parte o gradeamento que protege as escadas pelas quais se acede à cave do jazigo. Estas grades, que desenham um espaço trapezoidal, têm duas partes laterais fixas, sendo a dianteira um portão duplo.

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Em cada vértice do trapézio, existe um círio apagado. Cada grade, tem seis balaústres divididos ao meio por um medalhão ocupado por rostos infantis, figura concomitante da alma e da inocência desta. Apresentam, na metade superior, um coração inflamado, despedindo dois raios de luz, associado a uma cruz de Cristo e, na inferior, videiras, uvas e espigas de trigo. Descendo onze degraus, e transposta uma dupla porta em ferro forjado e vidro, onde se observa uma coroa envolvendo uma ampulheta alada, entra-se no subterrâneo, que dispõe de quatro prateleiras de cada lado, destinadas a oito caixões, e mais quatro ao fundo e ao centro, situadas sob a entrada. Aí eram depositados os restos mortais dos serviçais de AACM. O tímpano que encima a porta, é ocupado por um ramo de três papoilas dormideiras. Superiormente, suspenso num frontão ondulado, vê-se um crânio entre duas tíbias cruzadas em aspa. Associado, acha-se um ramo de flores e uma borboleta tudo atado por um laço. Tanto o soco como o seu lambril de papoilas dormideiras, agrupadas em ramos de três, como o friso e os cachorros que suportam a cobertura são iguais aos dos alçados anterior e laterais.

251

O edifício do jazigo é todo ele embasado num soco de pedra com 60 cm de altura. A transição deste soco para o resto dos alçados, que são ligeiramente inclinados com excepção do posterior, e acabam na cobertura, cuja platibanda saliente está na mesma prumada do soco, é assinalada por uma fiada de papoilas dormideiras agrupadas três a três. Assinalando a transição para cada um dos lados do triângulo, uns cachorros ao nível da cobertura, simulam estar a suportá-la. Assim sendo, nos dois frontões laterais à porta de entrada, podemos vê-los emparelhados (dois por frontão), em forma de voluta em S, i. e., com enrolamentos em baixo e em cima, em sentidos opostos. Estes cachorros ostentam na parte inferior e central uma folha de carvalho, decerto conotável com o nome da família. O enrolamento superior, é ornamentado com escamas encimadas por flores. Na base destas volutas, suportado por uma concha, está suspenso por folhas um tecido arqueado a meio que cai num par de pontas simétricas. Sob este pano, centrado pelos dois cachorros, existem, ladeando o frontão, dois archotes invertidos, iguais, ornamentados na base e no capitel por folhas de carvalho.

252

No topo, reaparece, simplificada, a janela redonda, já observada no alçado anterior, com uma cruz metálica no seu interior, eventual referência ao monograma de Cristo. Em torno da janela há um frontão em forma de Ómega, encimado por uma concha que, na sua parte inferior se transforma em archote invertido. Este arco, está assente sobre seis lágrimas piramidais, três de cada lado. Perto destas lágrimas, e na base do arco da circunferência, flutuam dois bustos de querubim, o da esquerda (direita do observador) sério e, sorridente, o da direita (esquerda do observador).

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A COLECÇÃO PORTUGUESA I e II da BIBLIOTECA do CONGRESSO contributos para a sua história

Ao longo da sua vida, António Augusto Carvalho Monteiro reuniu uma biblioteca que se estima constituída por mais de 32000 espécies bibliográficas, entre impressos, manuscritos e iconografia. Mesmo descontando a circunstância de não possuirmos, ainda, uma imagem exacta de cerca de metade do acervo que a constituía, aquilo que dele se conhece é susceptível de considerá-la notável. Tal carácter adveio-lhe também da incorporação, decerto inesperada, de cerca de três milhares de volumes impressos e manuscritos, reunidos pelo 2º conde de Penha Longa, José de Araújo Pinto Leite. É imperativo deter-mo-nos neste ponto, para benefício do leitor. Quase se pode afirmar que a biografia de Carvalho Monteiro é do domínio público. Já o mesmo não sucede no que concerne à do aludido titular, o qual está para a Sebástica como António Augusto Carvalho Monteiro para a Camoniana. De facto, ambos foram, cada qual na respectiva esfera de interesses, coleccionadores proficientes e meticulosos. José de Araújo Pinto Leite (1871-1950), foi filho de Júlio Pinto Leite (1836-1926) 143 e de Clotilde da Veiga Araújo, obteve o grau de Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo herdado o título, assim como a fortuna, de seu tio, Sebastião Pinto Leite, a quem aquele fora atribuído por Decreto de D. Luís, de 4 de Março de 1886 144. Tendo-se radicado em Paris, onde viveu durante muitos anos, aí manteve florescentes os negócios herdados do 1º conde de Penha Longa (assim como do progenitor), logrando reunir uma biblioteca

Fidalgo cavaleiro da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo, 1º Conde e 2º Visconde dos Olivais. Cf. Albano da Silveira Pinto / Visconde Sanches Baena, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, t. 2, 1890, p. 14-17 e 181-186. Primogénito de José Pinto Leite, natural do lugar da Gandarinha (freguesia do couto de Cucujães) e de sua mulher Carlota Bárbara Leite. 144 Capitalista, proprietário e negociante de grosso trato nas praças comerciais de Lisboa, Londres e Manchester, havia de tornar-se Par do Reino (Carta Régia de 8 de Janeiro de 1881), 1º Visconde da Gandarinha, cavaleiro da Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa. Cf. Ob. cit., p. 14 e 249. 143

257

considerável e tornando-se detentor de significativa colecção de documentos e artefactos sebásticos. Deve-se-lhe, por exemplo, a oferta, em 1909 145, ao Museu Nacional de Arte Antiga do óleo retratando D. Sebastião como Cavaleiro do Graal, do pintor régio Cristóvão de Morais, o qual terá adquirido num antiquário da cidade de Roma, onde permanecia perdido desde o século XVI, uma vez que o Sumo Pontífice a quem se destinara, recusara aceitá-lo, alegadamente em virtude da mensagem gibelina, i. e., anti-papista, que lhe subjaz 146. Cerca do mesmo ano, em circunstâncias que ainda não foi possível esclarecer com o detalhe desejável, conquanto eventualmente relacionadas com a necessidade de saldar um montante significativo de dívidas contraídas, terá alienado por venda a António Augusto Carvalho Monteiro parte considerável da sua Sebástica 147, com a condição expressa de, em circunstância alguma, ser divulgada a respectiva proveniência. Após a morte de Carvalho Monteiro, em 25 de Outubro de 1920, os seus herdeiros (sendo cabeça de casal o primogénito Pedro Carvalho Monteiro) ponderaram alienar a biblioteca paterna, tendo para o efeito contactado Maurice Ettinghausen, comerciante de livros antigos, conhecedor do real valor da colecção, porquanto ele próprio havia contribuído para o seu enriquecimento. Cf. João Loureiro Figueiredo, A Armadura de el-rei D. Sebastião no retrato atribuído a Cristóvão de Morais, in Belas Artes, n. 4-6 (1984), p. 147-148 e XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura – Casa dos Bicos, Lisboa, 1983, n. 141, p. 175. 146 Cf. Fernando António Baptista Pereira, O Retrato de D. Sebastião do Museu Nacional de Arte Antiga. Uma leitura iconológica, in Prelo, n. 11 (Abr.-Jun. 1986), p. 53-66; Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica, Lisboa, 1999, p. 125-128; idem, O Projecto Templário e o Evangelho Português, Lisboa, 2006, p. 160-168; idem, Hagiografia de Dom Sebastião: de desejado a encoberto, Mafra, 2014. 147 Apenas parte considerável e não a totalidade dela, porque, ocasionalmente, têm surgido no mercado (designadamente, em leilões), outros volumes (não vendidos a Carvalho Monteiro) procedentes do mesmo acervo sebástico, caso, por exemplo, dos exemplares da Historia de Bello Africano in quo Sebastianus, Serenissimus Portugalliae Rex perit ad diem 4 Aug. Anno 1578 e da respectiva tradução alemã, Africanischen Kriegs Beschreibung […] (Nuremberga, 1851) editados por Johan Thomas Freig, o primeiro dos quais foi adquirido pela Comissão Nacional das Comemorações dos Descobrimentos Portugueses num leilão realizado em 15 de Março de 1991 (Catálogo, n. 296 e 297) e ofertado à Biblioteca Nacional. Cf. Maria Leonor Machado de Sousa, Em torno de D. Sebastião, in Oceanos, n. 9 (Jan. 1992), p. 121-123. 145

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Por intermédio de Ettinghausen, D. Manuel II, no exílio em Inglaterra, havia de tornar-se o destinatário do primeiro lote transaccionado, em 1926, o qual lhe foi remetido em quatro contentores, o conteúdo de um dos quais, roubado no porto de desembarque, na sequência de uma greve dos estivadores, acabaria por ser recuperado após a oferta de uma recompensa de 100 libras 148. O mesmo Ettinghausen terá dado conhecimento à Biblioteca do Congresso, em Washington (doravante DCL), da superlativa qualidade da colecção, bem como da oportunidade da transacção. Entretanto, a leiloeira Maggs Brothers, de Londres, agente na Europa e fornecedora habitual da DCL, contactada pelos herdeiros, tornou-se a intermediária privilegiada, mas discreta, entre eles e a instituição norte-americana. Sendo recíproca a conveniência do sigilo, com vista ao desfecho favorável da transacção, respeitava igualmente o pedido do Penha Longa, ainda vivo. Atente-se no teor de duas seguintes missivas trocadas, em 1926 (25 de Fevereiro e 4 de Março, respectivamente), por Maggs Brothers e António Carvalho Monteiro, filho de Pedro Carvalho Monteiro 149. O negócio concretizar-se-ia, graças à mediação de Maggs Brothers, em dois momentos distintos: Em 17 de Outubro de 1927, a DCL adquiriu 1533 volumes, 344 panfletos, 117 volumes compósitos de manuscritos e 5 cartazes (broadsides), destacando-se, principalmente, os códices manuscritos sobre Sebastianismo, crónicas régias e religiosas e ordens de cavalaria 150. A este lote, que chegou a Washington no final de Novembro de 1927, em 17 contentores, foram atribuídos os códigos de aquisição: 366768’27 e 366768’28 151. Cf. Maurice L. Ettinghausen, Rare Books and Royal Collectors: memoirs of an Antiquarian Bookseller, Nova Iorque, 1966, p. 92-98. O Inventário da Biblioteca de D. Manuel II: manuscritos e impressos, organizado por Gualdino Borrões (Lisboa, 1982) não regista, infelizmente, qualquer referência a esta aquisição, não assinalando, por conseguinte, os volumes que a constituíam. 149 Cf. Carta de Maggs Brothers para António Carvalho Monteiro (filho de Pedro Carvalho Monteiro), remetida a 25 de Fevereiro de 1926 e resposta do destinatário de 4 de Março de 1926. 150 Librarian of the Congress, Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1928, Washington, 1928, p. 35 [DCL: Z733 .U57A]. 151 Deveu-se isto às normas fiscais em vigor nos Estados Unidos. 148

259

Carta de 25 de Fevereiro de 1926

260

Carta de 4 de Março de 1926

O lote em apreço importou em 465 libras (acrescidas do preço dos 17 contentores no valor de 7,7 libras) 152. O acervo que constituía a encomenda pertencera, na sua maior parte, ao 2º conde de Olivais Penha Longa (O.P.L.) e fora vendido a António Augusto Carvalho Monteiro, cerca de 1909. A cláusula sigilosa que havia sido zelosamente atendida pelo novo proprietário, sê-lo-ia, igualmente, por seu filho, Pedro Carvalho Monteiro (cf., supra, derradeiro parágrafo da carta de 4 de Março de 1926). Conforme o Public Voucher for purchases, and for services other than personal, datado de 17 de Outubro de 1927. 152

261

Códigos da 1ª aquisição: 366768’27 e 366768’28

Porém, a 3 de Outubro de 1927, antes de fechado o negócio e violando o acordado com a família Carvalho Monteiro, Maggs Brothers remeteu ao então director da DCL, Herbert Putnam, uma carta “Privada e Confidencial” (doc. 1), na qual, não só revelava o nome, como asseverava ter adquirido o acervo ao próprio “coleccionador português”, reivindicação ulteriormente desmentida quer pela documentação oficial da DCL (doc. 2, 3 e 5), quer pela circunstância de o segundo lote (1929) também incluir livros da mesma procedência. Aliás, é minha convicção, fruto da pesquisa realizada, corroborada pela Drª Cheryl Fox, técnica superior da DCL, que as encadernações típicas do acervo Penha Longa desaparecem da Colecção Portuguesa (adquirida a Pedro Carvalho Monteiro) justamente a partir de 1909, desconhecendo-se na DCL qualquer obra que ostente uma, impressa em data posterior. Ainda assim, convém sublinhá-lo, a instituição adquirente, manteve sob reserva a informação, omitindo dos descritores 262

compulsáveis pelo público qualquer referência à procedência do acervo Penha Longa não obstante conhecesse ser essa a exacta origem de grande parte da colecção. Com efeito, a única excepção a tal reserva crê-se ter ocorrido num dos dois exemplares de uma espécie de catálogo dactilografado, organizado, em 1929, por Miss Campbell, destinado a uso interno, no qual consta de uma nota manuscrita, eventualmente de data posterior, aposta na folha de guarda 153.

Nota manuscrita no primeiro fólio do catálogo da Colecção Penha Longa, dactilografado por Miss Campbell [DCL: Z2739.U58 xcopy (Hispanic Division)].

Não obstante atendível, a cláusula em questão era, todavia, destituída de qualquer utilidade prática, porquanto a maioria, aliás, a Portuguese Collection: Accessions list of the Portuguese Collection acquired from Maggs bros. 1928 (Coll. of Olivaes e Penha Longa), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58 (Rare Book Coll.); Z2739.U58 xcopy (Hispanic Division)]. 153

263

quase totalidade, dos volumes oriundos da biblioteca Penha Longa, sejam manuscritos, ou impressos, se apresenta encadernada de forma inconfundível e nada discreta.

Encadernações características das obras procedentes da Colecção Penha Longa.

(impressas

e

manuscritas)

Com efeito, além de as encadernações características da biblioteca Penha Longa, serem inteiras de marroquim do Levante, assinadas Chambolle-Duru 154, com trabalho a ouro nas lombadas e seixas 155, ostentam, todas, ao centro de ambos os planos, o superlibro armoriado de José Araújo Pinto Leite:

154 155

Oficina parisiense activa entre 1841 e 1914. Alguns volumes têm o corte das folhas dourado.

264

Viscondes e Condes dos Olivais Escudo partido em pala: I –Araújo: de prata, com aspa de azul, carregada com cinco besantes de ouro; II – Partido em faxa: 1 - Pinto: de prata, com cinco crescentes de vermelho postos em sautor; 2 - Leite: contraesquartelado: i e iv - de verde, com três flores-de-lis de ouro em roquete; ii e iii - de vermelho, com uma cruz florenciada de prata e vazia do campo; como diferença: brica de prata, carregada com farpão de negro (?); Elmo de prata a 3/4 tauxeado de ouro e forrado de vermelho; virol e paquifes de prata e azul; Timbre: coronel de Conde; correias de azul, perfiladas de prata. Tachões de ouro.

Conquanto, no decurso das pesquisas empreendidas na DCL (2011), jamais tenha tido o ensejo de observar qualquer dos três exlibris que se sabe terem sido usados pelo 2º conde de Penha Longa, consigno-os aqui porque todos eles, apesar de distintos formalmente, reproduzem as armas do possuidor, à semelhança das do super-libro, quase correctas 156. No 1º ex-libris: nas armas dos Araújos, o campo devia ser de prata e está de vermelho, a aspa de azul e está de ouro e os besantes de ouro e estão de prata; nas armas dos Pintos, o campo devia ser de prata e está de vermelho e os crescentes de vermelho e estão de prata; nas armas dos Leites, o campo devia ser de verde e está de azul e as flores de lis de ouro e estão de prata; o mouro do timbre dos Araújos, está vestido de púrpura, devendo estar de azul e foteado de ouro. No 2º ex-libris: Os crescentes deviam 156

265

estar de vermelho e não de púrpura. Cf. Revista de Ex-Libris Portugueses, CLXXVII, p. 47-49.

266

Em 1929, o núcleo central da Biblioteca de Carvalho Monteiro, transacionado por 1000 libras (doc. 4) 157, era expedido de Lisboa, por via marítima, com destino à DCL, onde lhe havia de ser atribuído o código de aquisição 387270’29.

Códigos da 2ª aquisição

A encomenda pesava quinze toneladas e ascendia ao astronómico número de 28480 livros, 14000 dos quais em língua portuguesa, 6000 em francês, 900 em inglês, 450 em italiano, 400 em espanhol, 500 em alemão, 150 em latim, 40 jornais, 650 revistas, 920 almanaques, 70 livros de música, 4400 panfletos (doc. 6) 158, não

Consoante informação constante de um Memorandum do Bibliotecário da DCL, datado de 21 de Março de 1929. 158 Carta de Maurice Ettinghausen remetida, em 19 de Março de 1929, a Herbert Putnam, 8º bibliotecário da DCL (1899-1939). 157

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incluindo nem os 767 volumes manuscritos, nem um número indeterminado de peças iconográficas, ofertados pelo vendedor 159. A Colecção Portuguesa I e II, como haviam de ser internamente denominados os dois lotes adquiridos, respectivamente em 1927 e 1929, foi sujeita a uma experiência de catalogação (Project B 160), no âmbito da constituição do denominado Catálogo da União (i. e., de todas as bibliotecas americanas) 161.

Librarian of the Congress, Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1930, Washington, 1930, p. 54-55 [DCL: Z733 .U57A]. Desta aquisição a estatística anual apenas consigna 12000 volumes entrados na DCL. Uma nota manuscrita apensa à correspondência trocada entre a DCL e a Maggs Brothers, bem assim como o Annual Report – Division of Accessions 1928-29, registam a oferta. 160 Cf. [Ernest Kletsch], An Historical Record Illustrating the work of Project B, s. d. [1932] [DCL: Z881.A1 U51932h]. 161 Cf. Ernst Kletsch, Union Catalog of the Library of Congress – Extension of the Union Catalog of the Library of Congress, s. d. [DCL: Z881.A1 U5U]; Jane Aikin Rosenberg, The Nations’s Great Library – Herbert Putnam and the Library of Congress, 18991939, Urbana e Chicago, 1993, p. 105-108. 159

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Algumas das obras objecto de tal procedimento (cujos contornos e finalidade se tornou um caso de estudo) acham-se assinaladas com um marcador onde foi aposta uma cota iniciada pelas letras YA seguidas de um número de ordem.

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Em parte incerta, algures num dos 37 decks onde se conservam os descritores manuais da DCL, o paradeiro do catálogo resultante desse processo biblioteconómico, entretanto abandonado 162, é, actualmente, desconhecido. Tal inviabiliza, de momento, o apuramento de quais as espécies bibliográficas que constituíam cerca de metade da segunda aquisição (1929), as quais foram, entretanto, dispersas pelos diferentes Departamentos e Divisões da DCL, distribuídos por três distintos edifícios (Jefferson, Madison e Adams) e alguns depósitos exteriores a eles.

Cf. Américo da Costa Ramalho, Portuguese publications in the Library of Congress, in Portuguese Essays, Lisboa, 1968, p. 85-98 [DCL: DP518 .R35 1968]. Faz a primeira descrição de cerca de 4000 espécies, manuscritos e panfletos, procedentes da Biblioteca de Carvalho Monteiro. Adianta que o restante espólio adquirido aguardava tratamento biblioteconómico. Presta particular atenção aos panfletos relativos à Camoniana e às comemorações centenárias de Camões, Vasco da Gama e Marquês de Pombal. 162

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A parte restante é conhecida por intermédio de descritores disponibilizados pela DCL 163 e por listas de inventário manuscritas na posse de um descendente de Carvalho Monteiro, a saber:

PORTUGUESE COLLECTION Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** [OPL] Collection through Maggs Bros. 1928), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58] Lista dactilografada por Miss Campbell do lote de livros impressos (e uma meia dúzia de manuscritos), procedentes, na sua maioria, da colecção Olivais Penha Longa, sucessivamente integrados (cerca de 1909?) no acervo de António Augusto Carvalho Monteiro e adquiridos Esporadicamente, também o catálogo digital contém informação útil, tendo em vista a concretização desse desiderato. 163

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pela DCL (1927). Tenho concluída uma versão anotada, com as respectivas cotas (call number), mais desenvolvida do que aquela entregue à Fundação CulturSintra, que aguarda publicação.

PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets 1610-1921 [microform]: a collection of Pamphlets published primarily in the 19th century, which was assembled for the most part by António Augusto de Carvalho Monteiro, Washington, 1983 [DCL: Microfilm 82/5800 (D) (Microform Reading Room: 75 bobinas de microfilme)] PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL: DP517.P67 1610 Suppl.]

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O inventário, dos 3602 items, é precedido (p. 11-16) por uma parte (simplificada) do relatório realizado em 1961 por Américo da Costa Ramalho, acerca do núcleo bibliográfico e documental adquirido pela Biblioteca do Congresso, em 1927 e 1929 [The Portuguese Pamphlets, in The Library of Congress Quarterly Journal of current Acquisitions, v. 20, n. 3 (Jun. 1963)]. PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets: pamphlets, speeches, almanacs, offprints and broadsides in various languages, chiefly Portuguese, relating to Portugal or Portuguese affairs [1610-ca. 1925] [DCL: DP517.P67 1610 (Rare Book Coll.: 62 caixas, ca. 3100 espécies)] Christopher C. Lund / Mary Ellis Kahler The Portuguese Manuscripts Collection of the Library of Congress – A Guide, Washington, 1980 [DCL: Z6621.U582 P68] Consigna 537 manuscritos, maioritariamente relativos a matérias como História de Portugal, Sebastianismo, Ordens Militares Portuguesas, etc. Uma análise mais atenta deste Guia revela algumas imprecisões factuais e, designadamente, denota que os manuscritos constantes do acervo da DCL são em maior número do que os efectivamente catalogados, muitos não tendo sido alvo de qualquer descrição, ainda que sumária. Os investigadores proficientes que dediquem alguma atenção a esta colecção serão recompensados com gratas surpresas. CAMONIANA Lista dactilografada (13 fls.) na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. Apenas elenca espécies impressas, omitindo qualquer referência, quer a manuscritos, quer a iconografia. FICHAS BIBLIOGRÁFICAS - 477 VOLUMES Lista dactilografada (69 fls.), consignando obras impressas até ao século XIX, na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. LIVROS FRANCESES Lista manuscrita de edições impressas em língua francesa. Na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. 273

FICHAS CATÁLOGOS LEILÕES (NUMISMÁTICA) Lista dactilografada, elencando obras impressas sobre Numismática, na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. TIRAGENS ESPECIAIS Lista dactilografada, na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. LIVROS DE CIÊNCIAS NATURAIS, AGRICULTURA, BOTÂNICA e HERBÁRIO Lista dactilografada, na posse de um descendente de Carvalho Monteiro. Manuel J. Gandra Sebástica manuscrita na Biblioteca do Congresso (Washington) Catálogo Manuel J. Gandra Sebástica Impressa da Biblioteca de António Augusto Carvalho Monteiro - Catálogo Manuel J. Gandra Templarismo manuscrito na Biblioteca do Congresso (Washington) Catálogo Manuel J. Gandra Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: Livros Maçónicos - Catálogo Manuel J. Gandra Manuscritos com interesse para a biografia e actividade mecenática, editorial e literária de António Augusto Carvalho Monteiro Catálogo Manuel J. Gandra Catálogo da Colecção Portuguesa I (Miss Campbell, 1928), revisto e anotado

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Doc. 1

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Doc. 2

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Doc. 3

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Doc. 4

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Doc. 5

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SEBÁSTICA MANUSCRITA na BIBLIOTECA DO CONGRESSO

Acerca do presente Catálogo e das normas adoptadas para a sua organização O presente catálogo não visa a descrição biblioteconómica e codicológica das espécies elencadas, mas tão-somente referenciar a sua existência, registando todos os detalhes considerados relevantes no que lhes concerne. Às cotas dos manuscritos, ou Call Number de cada documento - PXXX - foi acrescentado o número de ordem [YYY] constante do Guia da Colecção organizado por Christopher Lund (Washington, 1980): P-XXX [YYY].

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SEBÁSTICA MANUSCRITA (Catálogo)

P-1 [435] Profecias. 94 folhas. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea sebástica que começa: "O povo luzitano, conserva natural lembrança [...]". Consigna autores como S. Rozendo, 1350; S. Cezario, 1542, ex Liber Mirabilis; Santo Isidoro, arcebispo de Sevilha; o eremita de Monserrate; Santo Anselmo, 1278; S. Francisco Xavier; S. Teotónio, 1150; etc. Alegadamente, o convento de Tibães possuía a miscelânea original.

P-2 [433] Pregação feita por hu Religioso zelador da Repca Portuguesa, dirigida aos tres estados do Reyno, sendo El-Rey D. Sebastião minino. 209 folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea sebástica constituída por profecias em prosa e verso, registos de torneios e celebrações (séc. XVI e XVII), diversas cartas, poemas em português e espanhol de Camões, Gongora, Bernardo de Brito, Frei Tomás Aranha, Simão Torresão Coelho, etc. Segue-se-lhe a "Taboada das cousas contheudas neste livro".

P-3 [469] Revelaçoenz da Veneravel Madre Leonor [sic] da Conceição. 8 folhas. Na lombada: M. R. L. da Conceiçõ. Revelaçõens. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Consigna outras visões e profecias, além das da Madre Leocádia da Conceição do convento de Monchique do Porto (cf. DCL: P-66-189 e P-163-40).

P-6 [140] Copia das profecias q. se poderão tirar do livro intitulado Biografia do Veneravel Servo de Deos Bartholomeu Holgouzer, com huns Commentarios admiraveis, impresso em Bamberg no Tirol, anno 1784.

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5 folhas. Na lombada: Profecias. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Encadernado junto: "Copia dos Breves ou Sentenças de trez Pontifeces contra os Reis de Portugal, e Hespanha Filippes 3º e 4º para que largaré o Reino a D Sebastião. Copiado da Prova nº. 27 (pag. 53) a Parte 1ª da Deducção Chronologica Imprenta [sic] em 1768. Cujos traslados se guardão na Torre do Tombo no Armario Jesuitico, no Livro intitulado Jardim Ameno Monarchia Lusitana [...] anno 1635" [cf. DCL: P-40-342].

P-7 [148] Felix da Costa (1639-1722) Liber unicus. Esdra 4º capº 11, 12, e 13. Exposição do XI, XII e XIII capitulos do IV. libro do Propheta Esdras [...] por Felix da Costa, Pintor Theorico, e Pratico. Dedicado ao Augusto varão Rey Encuberto que ha de destruir esta Aguia Othomana, como Leão. Em Lixª an’ 1687. 237 folhas. Na lombada: Felix da Costa. Esdras capº XI, XII, XIII, Liv. IV. Lisboa, 1687. Ms.

Inclui diversas ilustrações (à pena, com aguadas), explanatórias do sentido do Apocalipse de Esdras, interpretado na tradição sebástica como profecia da 287

vitória final do cristianismo sobre o Império otomano. Foi Sousa Viterbo o editor de todos os dados, durante quase um século, disponíveis acerca deste códice (Notícia de Alguns pintores Portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal, 3ª série, Coimbra, 1911, p. 72-74). Segundo afirma, recebeu-os do general Brito Rebelo que tivera conhecimento de visu do manuscrito dela. A Biblioteca Nacional de Lisboa entendeu não o adquirir ao seu proprietário, possuindo, em contrapartida, a Resposta ao Tratado de Félix José da Costa (sobre o Sonho de Esdras) incluída no cod. 8611 e atribuível a Francisco Xavier de Oliveira.

Félix José da Costa (1639-1722) foi pintor de profissão e, escreve Viterbo, "como tantos outros seus contemporâneos, aliás pessoa de merecimento, era um sonhador messiânico do Rei Encoberto e da fundação da monarquia Universal, ou quinto império, sob o ceptro da Lusitânia". Vale a pena consignar a descrição que o erudito investigador faz do autógrafo de boa letra e ilustrado: "4º. de 235 fl. numeradas até a 72 e sem numeração daí em diante. Com uma árvore genealógica dos reis e imperadores turcos desde Sulyman que deu princípio à conquista em 1230, até Maomé 4º. a p. 39 e 40. Encerra seis figuras da águia da visão de Esdras, com diversas modificações das fases do império otomano, até aparecer com uma só cabeça, e à distância o 288

Encoberto em forma de leão, desenhadas a sepia, e nas folhas 113, 132, 139, 141, 143, 145 e 146. E mais uma a fólio 117 da quarta besta da visão de Daniel; e a fólio 129 uma grosseira carta geográfica desde o meridiano 39º a 91º, isto é da Itália à Pérsia.

A dedicatória é como segue: "Augusto é Sebastianon, Supremo Monarcha, Magnanimo, Invicto, Reservado, Transplantador da fee catholica e Rey Encuberto, Leão sem temor, vento velox, homem prudente, varão singular e filho amado. Como Rey, logrando o titulo de unico Emperador; como Leão, despedaçando inobedientes; como vento, submergindo no abysmo incredulos; como homem, convertendo pertinazes; como varão, logrando aplauzos de soberania; e como filho amado, e querido do seu creador. A vos Augusto dedico este cansaço de tantos dias, e a narração de vossa conquista; destruindo o Othomano Imperio; restaurando a Santa cidade, e unido tudo em hua geral paz: para q vendo o Mundo vossa presença vos obedeça todo; e manifestadas aos incredulos vossas maravilhas, fiquem crentes, no que 289

duvidavão: porque destruidos tantos soberbos, fiquem postrados a vossos pés; e convertidos tantos pagãos, fiquem livres da pena eterna. Logrando vos Soberano Monarcha os os aplausos de todo o oniuerso e senhorio de toda a terra: Conçervando em socego (adjunto com o Pastor da Igreja) o rebanho de Jesus Christo; e por fim pesuindo o Trono que vos está aparelhado na gloria admetindo a oferta, e afecto deste vosso esperante e desejoso de vos ver E beijar vossas plantas, ainda q indigno, Felix da Costa." No verso da fl. 18 começa a Historia geral dos Turcos Reynos que houve delles Imperio Othomano e Reys delle, acabando a fl. 113; começa então a paráfrase da visão de Esdras e sua concordncia com os sucessos do Império Otomano, até fl. 206; onde principiam várias profecias. Termina a obra com estas palavras: "Em muito grande falta tenho cahido para com o leitor por que prometendo em o princípio desta obra ser breve por não ser molesto fui tão perlongado, que considero causaria enfado, porem tenho a desculpa em meu fauor que me liure desta censura. Aquilo que se ama com afecto causa aliuio ainda que penoso. Principiei com tanto amor este volume que todo o trabalho delle me pareceo descanço, e sendo a materia a que muito amo me fuy engolfando em sua narraçam, que mais dissera se mo não atalhará o tempo considerando ser tão breue o que falta para o comprimento desta uizão que poderia narrar o perterito, e não o futuro desta marauilha da omnipotençia diuina; a quem, Soli Deo honor et gloria Matrique suae".

P-8 [348] Narração das couzas mais notaveis que tenho lido e ouvido, e são fundamentos pª se affirmarem a Vida, e Vinda d'El Rey D. Sebastião outra vez a Portugal. 50 folhas, incompleto. Na lombada: Nova vida e vinda de D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.].

P-10 [343] Monumento viridico das cosas q passaraõ em Africa quando El Rey D. Sebastião de Portugal a ella veo, Escriptas por hum homem Africano desejoso de se não perder a fama dos acontecimentos q nesta batalha se obrarão pelos nobres Capitaêns, Fidalgos, e Almocades. Copia fiel de hum antigo Mss apparecido no Alg ve na Biblioteca de Damião Antonio de Faria e Lemos Castro, Natural de Villa Nova de Portimão. 171 folhas. Na lombada: D. Sebastião, MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.].

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P-17 [436] Profecias do Preto Japom escravo do Cap m Baltezar de Souza Godinho q se acharaõ por morte dele debaxo de sua cama em hua folha de lata em 13 de 8trº de 1439 na Vila de Certão [aliás, Sertã]. 144 p. Na lombada: Prophecias. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea (cf. Manuel J. Gandra, Pretinho do Japão: trovas ou disparates).

P-20 [297] Memorias Historicas pertencentes ao Cardeal Rey D. Henrrique. Pratica que fes o Cardial Infante D. Henrrique, a El Rey D. Sebastião quando lhe entregou o governo. [115] folhas. Na lombada: Memorias Historicas. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui também: 1. Cortes que se fizeram na Cidade de Lisboa e tiveram principio em o primeiro de Dezembro de 1697. Em que se refere tudo o que se passou no congreço da Nobreza. Sendo Secretario delle o Conde de Alvor Francisco de Tavora, do Concelho de Estado, e Prezidente do Concelho Ultramarino. 2. Artigo de J. J. P. L., na Gazeta de Lisboa, 29 Julho, 1824, sobre as cortes de Portugal, (p. 835-840). O nome de Júlio Firmino Júdice Biker acha-se carimbado ou colado em diversas folhas.

P-23 [183] D. Sebastião. Protestação do Autor. [...] 157 folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea do início do século XIX.

P-24 [513] Varias Profecias. 11 folhas. Na lombada: Varias Profecias. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea das mais proeminentes fontes sebásticas.

P-26 [393] Frei Sebastião de Paiva (†1659) Tractado da Quinta Monarchia, e Felicidades de Portugal profetizadas. Composto pello Rdo. Padre Fr. Sebastião de Paiva,

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Lector da Sagrada Theologia da Sanctissima Trindade, natural de Lisboa, Escripto anno de 1641. 224 folhas. Na lombada: Tratado da Quinta Monarchia. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. A redacção desta obra reporta-se a um período assaz preciso: 1641. Todos os catálogos e três das versões (A, B e E) que conheço fazem questão em sublinhá-lo, como se esse dado fosse um elemento indissociável do título. O comentário de João Franco Barreto é peremptório: "obra larga de muito engenho, erudição e curiosidade"; e o informe que se lhe segue, útil: "e se conserva na livraria Arcebispal". Na hipótese de se tratar do manuscrito autógrafo, esta terá sido, seguramente, a única vez que o seu paradeiro foi comunicado. Barbosa Machado fornece o itinerário temático da obra, descrevendo-a a partir dos títulos dos quinze capítulos que a compõem. Porém, não se sabe, porque ele o não diz, se a consultou pessoalmente e onde o fez, ou se obteve de alguém a sinopse que publica. Inocêncio, equivocado, endossa a Barbosa Machado a localização deste tratado, tal como a do anterior, no mosteiro da Trindade, concluindo, por conseguinte, que o fogo os teria consumido quando um incêndio, anterior ao originado pelo terramoto de 1755, "reduziu a cinzas este convento, com as suas oficinas e livraria". Já no Suplemento do seu Dicionário acrescenta que afinal o Tratado da Quinta Monarquia se salvara e "deve existir nas miscellaneas da Bibliotheca Nacional de Lisboa". É, todavia, pouco crível que o apógrafo da BN, que pertenceu a Dionísio Bernardes de Morais, possa ter sido, como o bibliógrafo sugere, o exemplar poupado pelas chamas que consumiram o convento da Trindade. Aliás, a opinião de Inocêncio nem sequer considera plausível terem existido em circulação, para além dessa, outras cópias do texto em causa. Conheço quatro (duas integrais e duas truncadas e adaptadas) que para efeitos de identificação designarei, doravante, por Versão B, Versão C, Versão D e Versão E, respectivamente, atendendo ao facto de, por mera convenção, o texto BN: cod. 810 constituir a Versão A. A Versão B foi adquirida por compra por Vítor Amaral de Oliveira; a Versão C encontra-se na posse de um particular que, supostamente, a obteve em Mafra e vem integrada numa miscelânea, onde entre outras, se descobre, também truncada, a obra de Frei João da Cruz que partilha o cod. 810 da BN com o Tratado da Quinta Monarquia; a Versão D consta do cod. 10740 da BN (fl. 1-152); a Versão E é esta pertencente à Biblioteca do Congresso. Trata-se de um apógrafo integral composto por 224 fólios, incluindo os índices dos capítulos e outro dos autores citados, constituindo, indubitavelmente, uma das fontes sebásticas, na posteridade de D. João de Castro, mais imbuídas e inspiradas pelo joaquimismo. A Versão B foi, entretanto, publicada por iniciativa de José Eduardo Franco (Lisboa, 2006), contando com estudos de Arnaldo do Espírito Santo, Bruno

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Cardoso Reis e Manuel J. Gandra. Em apêndice (p. 391-392), reproduz o Índice do códice da Biblioteca do Congresso. Sebastião de Paiva nasceu na cidade de Lisboa, em data indeterminada. Professou no Convento da Trindade de Lisboa, a 24 de Março de 1621. Durante o noviciado teve por mestre ao "venerável padre Frei António da Conceição de quem participou muita parte do seu espírito". Reconhecido erudito tanto na História Sagrada como na profana, tal como na exegese dos profetas. Foi Lente de Teologia no convento da sua profissão. Teve o cargo de pregador geral da sua Ordem, a partir de 1654. "Cheio de exercícios santos, e monásticas virtudes, completou o prazo da vida, em que recebidos os sacramentos da Igreja, rodeado de religiosos, chorando a sua ausência, entre suspiros, e doces colóquios, cortou Deus os fios da vida", tendo falecido no convento da Trindade, em Lisboa, a 9 de Setembro de 1659 e sido sepultado na campa n. 2, do cemitério conventual. Nem todos os trabalhos deste autor chegaram até aos nossos dias ou, então, é ignorado o seu actual paradeiro. De entre as manuscritas é considerada perdida o Tratado dos Prodigios que acontecerão neste Reyno do anno de 1554, athe o de 640, cuja redacção deve ter sido anterior a 1641, pois Sebastião de Paiva já remete para ela no Tratado da Quinta Monarquia, datado desse ano. Fá-lo por duas vezes: no cap. 7, 5, onde, a propósito do menino de Santarém, que afirmava haver de vir o Bastião, diz ter transcrito na íntegra o relatório do caso autenticado pelo notário; e no cap. 21, 26, onde, no passo que concerne ao incêndio ocorrido no hospital de Todos os Santos, a 27 de Outubro de 1601, narra o episódio do salvamento de um retrato de D. Sebastião e das Armas de Portugal, em madeira, que existiam no Cruzeiro. A ajuizar pela última referência, este tratado devia ser obra extensa, constituída por grande número de capítulos, porquanto, pelo menos, de vinte e um constaria!

P-32 [118] D. João de Castro (1551?-1623?) Discurso da vida do sempre bem vindo et apparecido Rey Dom Sebastião nosso Snr. O Encuberto desde seu nacimº té o prezente feyto e deregido por D. João de Castro aos tres estados do Reyno de Portugal, com vem a saber ao da Nobreza, do Clerezia, e ao do Povo. Em Paris, Por Martim Verac, Morador na rua de Judas - M.D.C. II [1602] e com privilegio de El Rey. 165 folhas. Na lombada: D. João de Castro. Discurso da vida de D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Transcrição manuscrita da obra impressa em Paris, no ano de 1602, também constante do acervo O.P.L. [DCL: DP61.C3]. O frontispício apresenta-se adornado com o retrato e as armas coloridas de D. Sebastião. Lisboa, ca. 1720.

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O autor foi filho natural de D. Álvaro de Castro e sobrinho do Vice-Rei da Índia D. João de Castro. Acompanhou D. Sebastião a África, tendo ficado cativo após a derrota de Alcácer Quibir, em 4 de Agosto de 1578. Tornar-se-ia um dos mais estrénuos adeptos da sobrevivência de D. Sebastião, sendo sua convicção, exposta em diversas obras que redigiu e publicou, que o Cavaleiro da Cruz, aprisionado em Veneza e depois em San Lucar de Barrameda, a mando da coroa espanhola, era o próprio Desejado. 294

P-33 [116] D. João de Castro (1551?-1623?), et alii. Discurso da vida do sempre bem vindo e aparecido Rey D. Sebastião N. Snr. O Encuberto Desde o seu nascimº até o Prezente tempo, offerecido por Dom João de Castro aos Tres Estados do Reyno do Portugal em Paris. Por Mattheu Verac Mor na Rua de Judas, Anno de 1602. 187 folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Na folha de guarda lê-se: "He de Diogo José de Mello." Encadernado junto tem: 1. Rellação do q succedeo, em Evora Cidade a hum menino de onze anns o q' por parecer não ser certo, se fez toda aquella prova q. pª se averiguar hua verdade he necessª. 2. Trovas de Gonçalo Annes Bandarra q. se acharaõ na parede da Igrª de S. P[edr]º da V[il]ª de Trancozo. 3. Noticia da Ilha Encuberta dada pello pe Fr. Andre de Jesus, e Fr. Francisco dos Martires, Religiosos Capuchos que a ella forraõ [sic] no anno de 1668. 4. Juizo ou pronostico do Dor Domingos de Araujo Auditor Geral da fronteira de Elvas sobre a conjunção maxima q' houve neste Rnº em 2 de Março de 1643 às 8 horas e 36 minutos da manhã; cuja sustancia concorda com as profecias de Bandarra, e de Sto lzidro [...] (cf. Manuel J. Gandra, Astrologia em Portugal: dicionário histórico-filosófico).

P-35 [217] Ignacio de Guevara. Monarchia Luzitana de Ignacio de Guevara. [37] folhas. Na lombada: Monarchia Lusitana. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Cópia setecentista do poema apologético em XVI cantos (e não XII como referem alguns autores) em louvor de D. Sebastião, o qual começa com a dedicatória "Ao maior monarca soberano / Escolhido Varão, por justo, e digno".

P-36 [179] D. Sebastião. 16 p. numeradas 309-324. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Manuscrito remontando ao século XVII (ao ano de 1658, segundo o Catálogo de Christopher Lund), que inclui capítulo sobre numerologia aplicada a D. Sebastião.

295

P-37 [361] Oraculo dos oráculos sebasticos 29 p. Na lombada: Oráculo dos Oráculos Sebasticos. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea de meados do séc. XVIII, incluindo versos, escritos e profecias do Padre Cristóvão dos Mártires, de D. Pedro Pires (um dos emissários de D. Dinis junto da Santa Sé para tratar da criação da Ordem de Cristo a partir da do Templo), Confúcio, Frei Jerónimo Basílio, Francisco de Quevedo e Villegas, Padre Bartolomeu Salutivo, etc.

P-40 [342] Monarquia Lusitana: Imperio de Christo. Profecias, revellaçõens, vatecinios, e pronosticos [...] Emcorporada e ilustrada pello Licenciado Pedro Anes de A[l]velos natural da villa de Abiul, Lente de Philosophia na Universidade de Coimbra [...] Anno de 1635. [204] folhas. Na lombada: Monarquia Lusitana Ms. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.].

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Colectânea setecentista, cujo frontispício impresso ostenta a data de 1139 (batalha de Ourique), e que reproduz quase integralmente o famoso códice seiscentista intitulado Jardim Ameno, ora na Torre do Tombo, o qual serviu ao marquês de Pombal de prova contra alegadas maquinações dos jesuítas [cf. DCL: P-6-140].

P-42 [39] Gonçalo Annes, Bandarra (ca. 1500-ca.1556) Sexta parte das Trovas de Gonçalo Annes Bandarra, natural da Villa de Troncozo, ainda não impressas. 54 p. Na lombada: G. A. Bandarra. Trovas. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Consoante o prefácio, as Trovas do Bandarra, bem como as perguntas que lhe endereçou Pacheco, são reproduzidas a partir do folheto intitulado Trovas do Bandarra, natural da villa de Trancoso, apuradas e impressas por ordem de um grande senhor de Portugal, oferecidas aos verdadeiros portuguezes, devotos do Encuberto. Nova edição, a que se ajuntam mais algumas, nunca até ao presente impressas (Barcelona, 1809).

P-43 [173] Discurços politicos morais e estoricos sobre a bem fundada esperança da vida, e vinda do muito alto e poderozo Senhor Rey D. Sebastião para fundar em Portugal o Quinto, e universal Imperio. Divididos em sette discurços. 281 p. Na lombada: Discurços Políticos MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Os sete discursos que compõem este manuscrito (séc. XVIII?) expõem a visão do futuro de Portugal, enquanto cabeça do Quinto Império. Inclui algumas ilustrações alegóricas, à pena, tais como as que figuram a alvorada do sol numa planície, o galo cantando, empoleirado numa árvore, ou um leão (símbolo do Encoberto). O códice 890 da BN de Lisboa (131 fls.) reproduz a mesma obra (ca. 1750?), achando-se subscrito no fl. 131v: “Finis L.D.A.V.M.”.

P- 44 [180] D. Sebastião. 262 folhas e índice. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Colectânea de poesia e profecia, alguma de teor sebástico. Entre outros autores contam-se: António Serrão e Crasto e António Barbosa Bacelar.

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P-45 [152] Manuel Baptista [Homem] [?] Credo duvidozo (Quanto à gloza) Relativo às bem e mal fundadas esperanças dos prudentes, e imprudentes Sebastianistas: porem dedicado, e oferecido a todas elles sejão prudentes ou imprudentes. Impreço primeiramente na pobrissima e mecanissima Oficina talentual de Manoel Baptista Homem, e Segundariamente pela Oficina da penna neste papel, a custa do seu mesmo autor. Lixboa, aos 8 de Fevereiro do Anno 1815. [15] folhas. Na lombada: Credo Duvidozo MS. 1815. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Frontispício colorido. A eventual autoria deduz-se da dedicatória e dos comentários breves.

P-46 [117] D. João de Castro (1551?-1623?), et alii Discurso da Vida do sempre bem vindo e aparessido Rey D. Sebastiam Nosso Senhor o Incoberto, desde o seu nascimento thé a era de 1602. Feito, e dirigido por D. João de Castro, aos Tres Estados do Reyno de Portugal que vem a sêr, ao Estado da Nobreza, Clero, e Povo. Dado ao Prello em Pariz, Na Dª era, e manuscrito por hum coriozo, na de 1730. Com mais algumas profecias pertencentes a boa vinda do mesmo senhor. Santarem, Na Officina de Coriozidade. 103 folhas. Na lombada: Joas [sic] de Castro. Discurso, etc. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Encadernado junto: 1. Facsimile de uma Carta por El-Rei D. Sebastião ao Padre Geral e Convento do mosteiro de Sta Cruz de Coimbra pedindo emprestado o escudo e espada d'El-Rei D. Affonso Henriques em 14 de Março de 1578. 2. Relação do Socesso que teve o pathacho chamado N. Srª da Candelaria da Ilha da Madeira; o qual vindo da Costa de Guiné no anno de 1693 huma rigorosa tempestade o fez varar na Ilha incognita, que deixou escrita Franco Correya, Mestre do mesmo patacho, e se achou no anno de 1699, depois da sua morte [...], Lxª Occidental, na Offecina de Bernardo da Costa de Carvalho Impressor da Relligião de Malta, anno de 1734 [cf. DCL: P-101-144]. 3. Anacefaleoses da Monarquia Luzitana pello Doutor Manoel Bocarro Francez, Medico Philosofo, etc., Mathematico Luzitano. Diridigos [sic] ao Snr. della El Rey Nosso Snr. [...] 1624 [...], em Lisboa, por Antonio Alvarez [DCL: PQ9191.B6A7 Rare Bk].

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P-47 [170] Dialogo Portuguez de Anonimo Utopiense que trata da Filosofia do Encuberto com a historia do Pasteleyro de Sevilla. Dedicada e offerecida ao Exmo Señor Conde de Cantanhede [...]. 163 folhas. Na lombada: Dialogo Portuguez. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Diálogo sebástico, protagonizado por Aurélio, Cláudio e Leonardo, os quais abordam a figura de Gabriel Espinosa, padeiro toledano, também crismado Pasteleiro de Madrigal, um dos falsos D. Sebastião de que reza a história, condenado à forca, em 1595, acusado de conjura contra Filipe II, de resto, arquitectada pelo agostinho português, Frei Miguel dos Santos. Cópia de O Incuberto, Dialogo Portugues de Anonimo Utopiense que trata da Filosofia do Encuberto com a historia do Pasteleyro de Sevilla, dedicado ao Senhor Portugues [BA: 51-III-19], manuscrito (172 fl.) datado de 13 de Dezembro de 1659, dedicado ao conde de Cantanhede e, outrora, pertencente à biblioteca do conde de Redondo. A portada, emoldurada a cores, ostenta o título cercado com desenhos de fitas serpenteadas e uma legenda extraída de 4 Esdras, XIII, 23: "Quia vidisti virum ascendentem de corde maris ipse est quem conservat altissimus multis temporibus". É citado pelo académico Pedro José de Figueiredo (1762-1826), a p. 63 da Carta em Resposta de certo amigo da Cidade de Lisboa a outro da villa de Santarém, em que se lançam os fundamentos sobre a verdade, ou incerteza da morte d’el-Rei D. Sebastião, XVI Rei de Portugal, na batalha de Alcacer Quibir em África (Lisboa, 1808 [BN: HG 6753 (4º) V; DCL: 4DP Port 278 FT MEADE; DP612.F5]). Outro manuscrito com 183 fl., existente na biblioteca da Universidade de Coimbra, adopta o título dos da Biblioteca do Congresso (cf. DCL: P-48-169).

P-48 [169] Dialogo Portugues de Anonimo Utopiense que tracta de Filosofia do incoberto, com a historia do Pastelleiro de Sevilha. Dedicada e offerecida Ao Exmo Sr. Conde de Cantanhede. 154 folhas. Na lombada: Dialogo Portugues. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. É a mesma fonte já descrita em P-47-170, porém de mão distinta.

P-49 [341] Inácio de Guevara Monarchia Lusitana ou o Quinto Imperio universal do mundo. Onde se trata da glorioza e felecissima vinda do Augustissimo Senhor Rei D. Sebastiao athe a destruição do Sepulchro de Mafoma, exaltação da Santa Fé de Christo Snr. Nosso em todo o mundo, Recuperação da caza Santa de Jeruzalem, e a total ruina do Imperio Mahometano. 299

Dedicada a Jezu Christo Senhor Nosso a quem só pertence este grande Imperio Lusitano segundo a promessa que o mesmo Senhor fez ao Primeiro Rei D. Affonsso Henriques no Campo de Ouriqui [sic], no dia memoravel da Batalha, em que venceo os Cinco Reis Mouros. [100] folhas. Na lombada: Monarchia Lusitana. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui os XVI cantos do poema com anotações exegéticas.

P-50 [129] Collecção Curioza de Revelaçoens, Vizoens, Profecias, e Vatecinios, sobre a vinda d'El Rey D. Sebastião 32 folhas. Na lombada: Revelaçoens, Vizoens, profecias e vatecinios MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Colectânea de diversas obras sebásticas do período compreendido entre 1502 e 1770, algumas das quais são cópia de fontes impressas (uma, pelo menos, traduzida do italiano).

P-51 [41] Gonçalo Annes, Bandarra (ca. 1500-ca.1556) Trovas do Bandarra oferecidas a Dom João de Portugal, Bispo da Cide da Guarda. 33 folhas. Na lombada: Bandarra Trovas MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui fragmentos de outros prognósticos e textos.

P-53 [506] Tragica vida e desastrada Morte de El Rey D. Sebastião de Portugal apanhada de diversos Authores, assim Nacionaes como estrangeiros. Obra innedita em lingoagem antiga. Tomo Segundo [riscado]. Por A. A. [?] C.ª [192] folhas. Na lombada: Tragica vida e morte dei Rey D. Sebastião MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. O manuscrito principia: Nasceu ElRey D. Sebastião a hum Sabado 20 de Janeiro do Anno de 1554, dia do gloriozo Martir S. Sebastião por cujo motivo [...]".

300

P-54 [442] Ramalhete Copiozissimo, Deleitozissimo, e Fragrantissimo; de Flores de profecias, revelaçoens e prognosticos [...] com a suspirada vinda do seu bom Rey encuberto. Lxª, anno 1808 518 p. Ilustrações à pena, coloridas. O manuscrito principia: "Os tempos mais esfaimados prometem grandes farturas."

P-55 [443] Ramalhete de Flores de Profecias, Revelaçoens, Ilustraçoens, e Prognosticos [...], Lisboa, 1809

Vizoens,

441 p. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui ilustrações à pena, coloridas. Variante do número anterior.

P-56 [164] Desbarates do Preto Gapaõ Escravo do Cappm0r Balthezar Godinho de Souza escritos em 1433 [...] achados por sua morte debacho do traveceiro de sua Cama [...] dos 14 de outubro de 1439 [17] folhas. Na lombada: Preto Gaspar. Desbarates. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. 301

Colectânea de fontes sebásticas (cf. DCL: P-17-436).

P-65 [138] Conversação Sebastica entre Hum peregrino e hum Irmitão em huma Jornadas [sic]. Anno 1850 100 p. Na lombada: D. Sebastião, MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui outras fontes sebásticas.

P-66 [189] Erros emmendados dos Senhores Sebastianistas & Breve Tratado sobre a Vinda de ElRey D. Sebastiam Regulada Naõ pelo tempo, que elles a apontaô, e sempre faltaõ, senao pelo em q aponta a Escriptura Sagrada. A Ruina do Imperio Othomano 30 folhas. Na lombada: Erros emmendados. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui ainda: 1. Breve Relaçaõ, que me obriga a fazer a obediencia de meus Confessores em q declare aquillo q com toda a verdade sey da muyto Rda Me Leocadia da Conceyçam, Religioza do mto recoleto convento de Monchique da Cid[ad]e do Porto (folhas 18-29: 14 visões [cf. DCL: P-3-469 e P-163-40]). 2. Prophecia de S. Malachias.

P-67 [167] Dialigo [sic] o converçação de dois Perigrinos, ou Romeiros. 132 p. Na lombada: Dialigo de Dois Perigrinos. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Diálogo sebástico protagonizado por Jacinto e Narcizo, aos quais se junta Rozendo, na segunda parte. É mencionada a conquista francesa de Itália (p. 77). Datado na última página: 15 Dezembro 1806.

P-68 [48] Dionísio Bernardes de Morais (ca. 1680-?) Apologia do Monsieur Bernardes. […] Prelado da Stª Igrª Patriarchal no Tempo em que era lente de Vespora na Universidade de Coimbra na Faculdade dos Sagrados Canones, Em resposta de hum papel, ou Satyra que sahio contra El Rey D. Sebastiam, e os Sebastianistas, intitulado Practica Suasoria. 634 p. Na lombada: Monsieur Bernardes, Apologia. MS. Folha de rosto decorada com moldura floral contendo o título. Ostenta carimbo de Pedro A. Ferreira, Abade de Miragaia (Porto). 302

Christopher Lund equivoca-se quando aponta o Padre Manuel Bernardes como autor do manuscrito em apreço. De facto, trata-se de obra de um sobrinho deste, pelo lado paterno (cf. Inocêncio, Dicionário Bibliográfico), de seu nome Dionísio Bernardes de Morais, o qual não foi propriamente um ilustre desconhecido. Segundo Barbosa Machado, era "natural de Lisboa, filho do Doutor João Bernardes de Morais, Físico-mor, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, Cavaleiro da Ordem de Cristo, e de D. Inês Rufina da Estrela, filha de Henrique Aique e de Jerónima Rufina. Instruído nos rudimentos da Latinidade, e nos preceitos da Retórica ouviu Filosofia em o ano de 1696, em que tive a glória de ser seu condiscípulo, do Padre Sebastião Ribeiro, imortal crédito da Congregação do Oratório, e logo mostrou a viveza do engenho, e perspicácia do talento, com que havia fazer agigantados progressos em outra maior faculdade, qual foi a dos Sagrados Cânones, recebendo nela as insígnias doutorais na Universidade de Coimbra. Admitido ao Colégio das Ordens Militares indefesso estudo unido com a facilidade da compreensão o habilitaram para tomar posse em 13 de Janeiro de 1730 de uma Catedrilha de Cânones até chegar à Cadeira de Véspera donde foi assumpto a Prelado da 303

Santa Igreja Patriarcal, em 16 de Maio de 1739. Na controvérsia que se altercou entre a Universidade se os Doutores Legistas podiam obter as Conezias Doutorais das Catedrais do Reino, escreveu sem declarar o nome […] obras em que com argumentos concludentes autorizados por todo o género de erudição defende serem os canonistas, e não os legistas hábeis para os Canonicatos Doutorais [...]". O códice manuscrito autógrafo da Apologia de Dionísio Bernardes de Morais, pertence-me, tendo sido adquirido num alfarrabista de Lisboa.

P-69 [439] Provisão concedida por El Rei D. Sebastião ao S. Off. em 26 de Fevº de 1571. [5] folhas. Na lombada: Provisões, Alvaras. M. Inclui cópias de alvarás régios de D. Sebastião, D. João IV e do Cardeal Rei, o mais antigo dos quais remonta ao ano de 1562.

P-71 [516] Vaticinios vulgarmte tidos por Profecias. Tirados de varios Authores. Cuja collecção faço sem q lhes de mais fe q aq se pode permitir, pois conheço q so com a Authoride da Igrª se lhe pode dar fe de profecia. 90 p. Na lombada: Varios Authores. Vaticinios. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea sebástica.

P-73-77 [483] Sebastianismo; colleção de varios escriptos apologéticos e confirmativos da Vinda de D. Sebastião, Rei de Portugal, compilada e escripta por João Gonçalves d'Araujo, Mestre latoeiro de folha branca da Fundição em 1826-1827 5 vols. 172, 170, 150, 429 p., e [58] folhas. Na lombada: Jo Gonçalves d'Araujo. Sebastianismo, 1826-1827. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui escritos dos mais notáveis apologistas sebásticos. Os volumes 1-4 possuem índices.

P-83 [485] Félix da Costa Sebastianus; Thesouro Descuberto 133 folhas. Na lombada: Thesor Descobert. Encadernação em pele.

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O autor, pintor de profissão, pretendeu adaptar a D. Sebastião uma profecia sibilina antes aplicada ao Imperador bizantino Isaac Angelos (séc. XIII), “cujo nome se escreve com cinco ápices”. António Vieira lera pontos nos ii por ápice, no nome de D. João IV (ioannes iiii), enquanto os sebastianistas tradicionais, caso de Félix da Costa, liam sílaba por ápice, no nome de D. Sebastião (Sebas-ti-a-nus). No manuscrito consta o nome do seu possuidor: "De Fran co Antunez Portugal". Na folha 1 lê-se o título completo: Descurso. Em q se mostra por razões claras, e evidentes quem hé o Rey Encuberto. Que hade Restaurar HYERVZALEM do poder dos Infieis com hua semelhança do tempo em que será manifesto conforme apontão alguas Profecias. Por Félix da Costa Pintor, Theorico e Pratico. Acabado em 3 de Mayo, 1685. Em Lixboa. De dois outros manuscritos, em tudo semelhantes, excepto na ausência da ilustração à pena que acompanha este, tenho notícia, na BA [52VIII-52 (107 fl.)] e na BN [cod. 12987 (170 fl.)], este ostentando marca de posse do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e adquirido no leilão da

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biblioteca do comandante Ernesto Vilhena, realizado na Alemanha por Reiss und Auvermann, em 1989 (cf. Leilão 40, n. 27).

P-84 [178] D. Sebastião. [9] folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui profecias e fontes sebásticas até 1818.

P-88 [128] Coleção de algumas Profecias, Vatecinios, e Pornosticos e alguns cazos Notaveis socedidos A vida e asois de S. Rey D. Sebastião, desimo xexto [sic] Rey de Portugal de Saudoza Memª, Esprado pellos Portuguezes, e outras Nassois que dezejão o Tempo Feliz do Seu Emperio, Para quietação e Tranquilidade Geral, aumento da Religião Catolica. Copiadas Fielme de Papeis antigos em o anno de 1809. 410 p. Na lombada: Coleção de Profecias, Vatecinios e Pornosticos MS. 1809. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. A p. 3-4, é facultado o Índice ou "Declaração de tudo q. contem este volume, de Profecias, Vatecinios; Copiadas de alguns papeis antigos” Encadernado junto: "Profecias de El Rei D. Manoel q se lhe axarão Por sua morte fixadas e seladas com o selo rial no anno de 1521”. 2 p. [incompleto?].

P-89 [446] Padre Amador Rebelo (1539?-1622) Rellação da Vida de El Rey D. Sebastião nosso Senhor primeiro deste nome em Portugal, e XVI delle, na qual se trata, do Nascimento, Criação, Governo, e das Idas q fez a Africa, e da batalha q deu a Muley Maluco, do fim, e successo della, escripta pelo pe Amador Rebello da Companhia de Jesus, Companheiro q foi de seu Mestre Luiz Gonçalves da Camera, e q o ensinou tambem a ler, e escrever, e lhe reppetia as liçõens. Deste author faz menção a Biblioteca de Barbosa Tomo prº pagina 225. Copiada fielmte do seu antigo original por A. L. C. Lisboa, anno de 1793. 210 folhas. Na lombada: Vida del Rey D. Sebastiao. MS. 1793. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. A miscelânea, que de acordo com Barbosa Machado, remontará a 1613 (Bibliotheca Lusitana, v. 1, p. 225), principia: "Pelo discurso deste livro, se verá como o criou Ds pera por Elle obrar." O Índice vem a folha 209.

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P-91 [508] Tratado do futuro [a lápis]. 409 p. e [4] folhas. Na lombada: D. Sabastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Miscelânea.

P-92 [507] Tratado do futuro 842 p. [p. 772-831 em branco]. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. O frontispício desta miscelânea sebástica é preenchido por uma gravura de Vieira Lusitano, figurando D. Sebastião (1737). O índice ocupa as p. 832-836.

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P-99 [16] Analysis Prudencial e Judicioza em q. se mostra a justificadissima probabilidade com que procedem os que doutamente afirmaõ a vinda do Serenissimo e Augustissimo Senhor Rey D. Sebastião. 35 folhas. Na lombada: Analysis da vinda de D. Sebastião. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.].

P-100 [190] Frei José do Espírito Santo (1608-1674). Extracto do P. Fr. Ioseph do Espto Sto Carmelita Descalço. 12 folhas. Na lombada: P. Fr Joseph do Espt. Sto. Extracto. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Colectânea de passagens da obra de Frei José do Espírito Santo (ca. 16501680?), sobre a criação do mundo, o dilúvio, o Juízo Final, o tormento de Jonas, a Fénix, etc.

P-101 [144] Francisco Correa (séc. XVII) Relação do successo que teve o pataxo chamado Nossa Snrª da Candelaria da Ilha da Madeira, o qual vindo da Costa de Guiné no anno de 1693 huma rigurosa tempestade o fez varar na Ilha incognita, que deixou escripta Francisco Correa Mestre do Mesmo 308

Patacho e se achou no anno de 1699 depois de sua morte, trasladada fielmente do proprio original; e foi impreça em Lixboa no d to anno, com todas as licenças necessarias. Lisboa, na Officina de Bernardo da Costa de Carvalho, Impressor da Religião de Malta. Anno de 1734 [...] Foi copiado no anno de 1772. 122 folhas. Na lombada: Profecias, etc. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. A Relação do sucesso ocupa apenas as 5 folhas iniciais, Numa nota, no final do volume lê-se: “He de Bento Xavier de Magalhaens Correa de Olivrª”. O relato, encontrado em 1699, após a morte do Mestre do Patacho, seria impresso em Lisboa Ocidental, no ano de 1734 [BPNM: BibVolante 2-55-7-21 (31º); BA: 55-IV-23 (7º)]. Diogo Barbosa Machado e Inocêncio atribuem ao padre Victoriano José da Costa a respectiva autoria, por outros creditada ao capitão José Tavares [BN: cod. 627, fl. 74-79v; Sobre o Sebastianismo: um curioso documento do começo do século XVIII, Coimbra, 1959, p. 142-149]. Bernardo Gomes de Brito, organizador da História Trágico-Marítima, incluíla-ia no v. 9 (Lisboa, 1908, p. 5-15).

P-103 [125] Chronica do nacimento, vida e morte del Rey Dom Sebastião com a origem dos xarifes e coroação do Cardeal Dom Anrriqe, e alteraçoens deste Reino: Capitollo Primeiro, Da p[ro]speridade dos Reinos de Portugal em têpo del Rei dom Joam o terceiro. [96] folhas. Na lombada: Chronica dei Rey D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Apógrafo seiscentista.

P-129 [498] Relação de quem foi D. Aleixo de Meneses Ayo del Rei D. Sebastião e de algumas cousas que com o dto Rey lhe acontecerão, e de outros acontecimentos daquelles tempos 197 folhas. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Único manuscrito da Colecção DCL integralmente microfilmado.

P-156 [37] Gonçalo Annes, Bandarra (ca. 1500-ca.1556) Colectânea 17 folhas. Na lombada: G. A. Bandarra. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui: 309

1. Commentário e notas sobre Bandarra. 2. Juizo Astrologico das Doenças. 3. Vertudes de D. Sebastião. 4. Carta para Sigr Giacomo Albirtajji di Pietro, Porto, Outubro 1796 (em italiano). 5. Trovas de Gonçalianes Bandarra.

P-160 [391] D. Jerónimo Osório, bispo de Silves (1506-1580) Cartas do Bispo de Algarve, D. Jeronimo Ozorio para El Rey. D. Sebastiam. Primeira sobre o juiz dos feitos da Coroa, lhe escrever em nome delRey não procedesse contra Maximo Diz Feytor das Marinhas, e o não evitasse dos Officios Divinos. Segunda sobre a jornada de Africa. Terceira sobre o casamento delRey em França. 111 folhas. Na lombada: Cartas de D. Jeronimo Ozorio. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui: 1. Carta de D. Sebastião sobre o pagamento de dívidas à igreja pelo Estado, 13 Dezembro 1557 [aliás, 1575]. 2. Carta de D. Sebastião sobre os seus planos de ida a África, 20 Dezembro 1557 [aliás, 1575]. Em vão, o bispo aconselharia o monarca a desistir de tais planos. 3. Carta de D. Sebastião sobre a conveniência de um casamento francês e sobre o seu eventual matrimónio com Margarida de Valois, 12 Outubro 1557 [aliás, 1575]. 4. Carta ao Padre Luís Gonçalves da Câmara, confessor de D. Sebastião, sobre a condução dos negócios públicos, a influência exercida pelo irmão do confessor, utilizando a expressão "um rey captivo de dois irmaõs," não datada. 5. Carta do marquês de Alorna, Vice-rei da Índia, remetida ao Rei D. João V "da gloriosa memoria sobre o arbitrio de diminuir a despeza e augmentar as rendas daquelle Estado, com hum novo sistema do governo," Goa, 27 Dezembro 1745. A carta fornece uma panorâmica sobre os portos e o comércio da Índia. As cartas 2, 3 e 4 foram publicadas in Cartas Portuguezas de D. Hieronymo Osorio (Paris, Na oficina de P. N. Rougeron, 1819).

P-163 [40] Bandarra, Gonçalo Annes (ca. 1500-ca. 1556) Trovas de Gonsalo Annes Bandarra. Apuradas e impressas por ordem de hum grande senhor do Reyno de Portugal. Offerecidas aos Verdadeyros Portuguezes devotos do Encubertto. Em Nantes, por

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Guilhelmo de Monnier impressor de ElRey, anno de MDCXLIV [1644]. 125 folhas. Na lombada: G. A. Bandarra. Trovas. MS. 1644. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Na página de rosto lê-se: "He de Bento Xavier de Magalhaens Correa de Oliveira". Inclui: 1. Monarchia Luzitana [de Inácio de Guevara] Dedicatoria a Cristo Senhor Nosso a quem só Pertence esta Monarchia, Conforme a promessa, que Deos fez a ElRey D. Affonço Henrriques. 15 cantos. 2. Diversas profecias dos séculos XV-XVII. 3. Breve Rellação que me obriga a fazer a obediencia de meos Confessores em que declare aquillo, que com toda a verdade sey, da Muyto Veneravel Madre Leocadia da Conceypção Religioza do Muyto Reccoleto convento de Monchique da Cidade do Porto (cf. DCL: P-3-469 e P-66-189). 4. Prophecias de hum Ermitam. 5. Noticia Previa [aponta certas particularidades das distintas versões sobre a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir]. 6. Nascimento do Snr. Rey D. Sebastião [...] traduzido de Italiano, em Portuguez o qual foy feyto por Joam Carco [aliás, Carion] famozo mathematico em Roma no Anno de 1598.

P-208 [181] D. Sebastião. Carta na qual se dá a razão sem nenhúa das Prophecias por que se deve ser Sebastianista para ver as difficuldades que punha quem pedio a razão, composta por hum curiozo 46 folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui ainda: 1. Discurso astronomico sobre o estupendo e fatal cometa, ou anuncio pela Divina Providª visto a primeyra ves a 6. de Novembro de 1689, ao romper da aurora, neste horizonte de Pernambuco, altura de 8. graos, no signo de Escorpião, autor o Pe Estancel da Companhia de Iesus (cf. Manuel J. Gandra, Astrologia e Portugal: dicionário histórico-filosófico). 2. Vaticinio de Uramnia. 3. Carta do Dor Bocarro Medico, Mathematico, e Astrologo, a q chamão os Aforismos. 4. Juizo do anno de 1640 tam afamado dos antigos, interp[r]etado por Rabi Celo. 5. Copia de huas Prophecias q se acharão em Mayo de [1]628. 6. Relaçam que certo mathematico formou sobre o juizo e figura q levantou em razam do aparecimento dos gafanhotos, q o anno de [1]639, aparecerão

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sobre a Cidade de Lixa e de 2 Cometas que tambem forão vistos (cf. Manuel J. Gandra, Astrologia em Portugal: dicionário histórico-filosófico).

P-209 [182] D. Sebastião. Profecias de S. Fr. Gil que servem de sinaes ao tempo em q se espera a reforma do mundo com a vinda do Incuberto. E as refere Fr. Sebastião de Payva na Sua 5ª Monarquia Portugueza e parte dellas o Pe Antº Vieyra no Sermão de 8. de janro de 1658 pregado na Capella Real. 65 folhas. Na lombada: D. Sebastião. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Inclui ainda: 1. Juizos astronomicos pelo pe Estancel da Companhia de jesu Assistente no Brazil [sobre o cometa avistado em Pernambuco no dia 6 de Maio de 1684 (cf. Manuel J. Gandra, Astrologia e Portugal: dicionário histórico-filosófico)]. 2. Vos de Deos ao Mundo, a Portugal e a Bahia, Iuizo do Cometa que nella foy visto em 27. de outubro de 1695, e continua the hoje 9 de novembro do mesmo ano, pelo padre Antonio Vieyra (cf. Manuel J. Gandra, Astrologia e Portugal: dicionário histórico-filosófico). 3. Carta do Pe Antonio Vieyra da Companhia de Iesu, q escreveu à Srª. Rayña da Gran Branha [sic] estando na Bahia ano de 1697. 4. Carta do mesmo Pe Antonio Vieyra ao Conde do Castel Melhor, Baía, 31 Julho 1694. 5. Das prodigiozas e maravilhozas virtudes naturaes de muytas Pedras preciozas Tirado do Lº Historias Prodigiozas do p e Bovistau, Claudio Tesierant y Franco Beleforest, Francez e traduizido em Castelhano por Andrea Pescioni, an. 1585 [...]. 6. Compendio Triunfal da Real Fabrica e Pompa Luzitana que a Nobilissima Cidade de Lisboa erigio a feliz Entrada, e Reaes Despozorios del Rey D. Pedro II. de Portugal com a Serenª Rª Maria Sofia Isabel Princeza Palatina, anno 1687.

P-210 [524] António Vieira (1608 -1697) Esperanças de Portugal, 5º Imperio do Mundo. Primeira, e segunda vida de ElRey D. João o 4º Escritas por Gonçalo Annes Bandarra, e comentadas pello Pde Antonio Vieira da Companhia de Jesus; e remitadas ao Bispo do Japão o Pde Antonio Fernandes. Camuta do Rio das Amasonas, 29 Abril 1659. [58] folhas. Na lombada: G. A. Bandarra. Esperanças de Portugal. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. 312

Transcrição da célebre missiva de António Vieira.

P-211 [38] Bandarra, Gonçalo Annes (ca. 1500-ca. 1556) Professias ou collecçaõ de MSS rarissimos, pertencentes as Professias de Gonçalo lanes Bandarra Official de Capateiro, natural da Villa de Trancoso, ano de 1809. 153 folhas. Na lombada: Bandarra. Ms. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Além do "Indez das principaes cousas, de que se compoem este vollume", esta colectânea, subscrita pelo acrónimo A.L.C., inclui as seguintes estampas: 1. Bandarra. Numa nota datada (2/5/[18]90) e subscrita (J[osé] Ma[ria?] Nepomuceno) aposta sob o retrato colado no frontispício, assevera-se não se tratar da vera efígie de Bandarra. 2. Dom Henrique de Castro (†1580) "por cujo mando sahio Bandarra no Acto Publico da Fé."

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3. Dom João IV, rey de Portugal "cuja aclamação, quer Vieira vaticinara Bandarra." 4. Antonio Vieyra.

P-212 [437] As profecias propriamte taes são infaliveis por serem luzes e testemunhas do Espirito Santo. 34 folhas. Na lombada: Profecias. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Entre outras profecias, inclui o "Papel em q se prova a vinda de El Rei D. Sebastião pelo Pe Antº Vieira da Companhia de Jezus", de facto um apócrifo do jesuíta.

P-242 [484] Drama Sebastianista. [40] folhas. Na lombada: D. Sebastião: Theatro. Ms. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Peça em três actos, com inúmeras rasuras e emendas. Numa nota no final do 3º acto lê-se: "Podese reprezentar. Lxª 20 de Novembro 184[?] S [...] H [...] Botelho."

P-243 [12] Nuno Álvares Pereira Pato Moniz (1781-1826) O Anti-Sebastianista Desmascarado Drama em 3 actos autógrafo, composto por 27 folhas. Na lombada: O AntiSebastianista Desmascarado. Theatro. MS. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Apresenta inúmeras correcções no texto. A obra foi composta para satirizar José Agostinho de Macedo, tendo precedido a "comedia O Sebastianista desenganado à sua custa, representada em 1810 ou 1811 nos theatros publicos" (Inocêncio, Dicionário Bibliográfico, v. 6, p. 304).

P-345 [499] Teixtos [sic] de Isaias, e Geremias, e Daniel. [15] folhas. Não encadernado. Miscelânea consignando vaticínios sobre o futuro de Portugal, transcrevendo trechos da Bíblia e de Bandarra até aos eventos de 1830 e a revolução de Paris. São mencionadas as vicissitudes do reinado de D. João VI (cujo nome surge na capa) e, nomeadamente, as que se seguiram ao seu falecimento, em 1826.

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SEBÁSTICA IMPRESSA oriunda da Biblioteca de AACM, na DCL

(Catálogo) AAVV Appréciations de l'Ouvrage intitulé Les Faux don Sebastien. Étude sur l’Histoire du Portugal, Bruxelas, E. Guyot, 1873 [O.P.L. / DCL: DP612.A55] Acclamação do encuberto, pela Sociedade Patriotica, em Londres. Comedia em Trez Actos, Lisboa, Imprensa Nacional, [s. d.] [O.P.L. / ?] ADLERHOLD, Germanus Die Macht des Portugiesischen Scepters oder Umständliche Beschreibung des Königreichs Portugall […], Francforte e Leipzig, J. L. Buggel, 1703 [O.P.L. / DCL: DP517.A63 Pre-1801 Coll.] AGUIAR, Manuel Caetano Pimenta de D. Sebastião em África. Tragédia, Lisboa, na Impressão Regia, 1817 (2 exemplares) [O.P.L. / 477 / DCL: PQ9261.P46 D3] ALBUQUERQUE, A. M. Seabra d' As Armas do Senhor D. Affonso Henriques e a Jornada d'Africa, apontamentos históricos, Coimbra, Imprensa Independencia, 1886 [O.P.L. / DCL: DP614.S4] ALVAREZ, Eduardo Memória acerca da Batalha de Alcácer-Quibir, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892 [O.P.L. / DCL: DT388.A5] ALVES, F. Horas no Cárcere - Caso Extraordinário! Apparição d'El-Rei Dom Sebastião a dois pescadores, Lisboa, Tipografia da Empreza da Evolução, 1879 [O.P.L. / DCL: DP612.A4] ANTAS, Miguel d' Les faux Don Sebastien. Étude sur l’histoire du Portugal, Paris, Auguste Durand, 1866 [O.P.L. / DCL: DP612.A5] Applausos da Universidade de Coimbra a El-Rei Nosso Senhor D. João IV Coimbra, Didaci Gomes de Loureiro, 1641 [O.P.L. / 477 / DCL: PA8125.P6 158 1641] 315

ARAGÃO, A. C. Teixeira de Diabruras, Santidades e Prophecias, Lisboa, Academia Real das Sciencias, 1894 [O.P.L. / DCL: BF1415.T4] [AZEVEDO, Luiz Marinho de] El Príncipe encubierto, manifestado en quatro discursos politicos, exclamados al Rey Don Phelippe III de Castilla por un vassallo que lo fue hasta las nuebe de la mañana del siempre memorable dia sabbado primero de diciembre del año de 164o, Lisboa, Oficina de Moninigos Lopes Rosa, 1642 [O.P.L. / DCL: 4DP 96 Pre-1801 Coll.] BAENA PARADA, Juan de Epitome de la Vida, y Hechos de Don Sebastian dezimo sexto, rey de Portugal, y Unico deste Nombre […], Madrid, Antonio Goncalez de Reyes, 1692 [O.P.L. / DCL: DP612.B25 (Office)] BANDARRA, Gonçalo Anes Trovas do Bandarra, Natural da Villa de Trancoso: apuradas e impressas por ordem de hum grande Senhor de Portugal […], Barcelona, 1809 [O.P.L. / DCL: MLCS 83/3356 (P) FT MEADE] BANDARRA, Gonçalo Anes Trovas ineditas de Bandarra […] que exestião em poder de Pacheco contemporaneo de Bandarra e que se lhe acharão depois de sua morte, Londres, 1815 (4 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP540.T7] BANDARRA, Gonçalo Anes Trovas Profeticas de […] acompanhadas de alguns comentos e precedidas de hum preambulo em que se dá noticia da vida, e com authoridades se prova a existência do author, Lisboa, Oficina de Desidério Marques Leão, 1822 [O.P.L. / DCL: DP540.B3 1822 FT MEADE SpecMat /Mini] BANDARRA, Gonçalo Anes Verdade e Complemento das Profecias do Servo de Deos, Gonçalo Annes Bandarra, achadas em 1729, na Igreja de S. Pedro de Trancozo , desfazendose a parede da capella mor da dita igreja, as quaes foraõ escriptas em 1527, Lisboa, Tipografia Rolandiana, 1823 [O.P.L. / DCL: 4BR 1243 FT MEADE] BARBOSA, António do Carmo Velho Explicação do Terceiro Corpo das Prophecias de Bandarra, Porto, José Pereira, 1852 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP540.V4; Panfleto 1465]

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BERTHÉ, F. L. Dom Sebastien: plan de drame lyrique en 3 actes, 1829, in Douze Libretti, v. 2, Paris, chez Denain et Delamarre, 1834 [O.P.L. / DCL: ML50.Z99 D667] BIRAGO, Giovanno Battista Historia Africana della Divisione dell’ Imperio degli Arabi, Veneza, Gio. Battista Cester, 1651 [O.P.L. / DCL: DT199 .B61. 1651] BIRAGO, Giovanno Battista Historia delle Rivolvtioni del Regno di Portogallo, Génova, Stef. Gamoneto, 1646 [O.P.L. / DCL: DP628.B5 1646 Pre-1801 Coll.] BIRAGO, Giovanno Battista Historia della disunione del Regno di Portogall0 dalla Corona di Castiglia, Amesterdão, Nicolau van Ravesteyn, 1647 [O.P.L. / DCL: DP628.B5 1647 Pre1801 Coll.] BOCARRO FRANCÊS, Manuel Anacephaleoses da Monarchia. Lvzitana, Lisboa, Antonio Aluarez, 1624 [O.P.L. / 477 / DCL: PQ9191.B6 A7 (Rare Book Coll.)] BORDIGNÉ, comte de Legitimité portugaise, Paris, Imprimerie de Pihan Delaforest, 1830 [O.P.L. / DCL: DP655.B6] BRACAMONTE, Domingos Pereira Banquete que polo hizo a los embaixadores del Rey de Portugal Don Juan Quarto en cuyos platos hallaran los Señores conbinados mesclada com lo dulce de alguna poezia y politica la conservacion de la salud humana, Lisboa, Lourenço de Ambers, 1642 [477 / DCL: PQ9231.P37 B3] BRANDÃO, Frei Francisco Discurso Gratulatorio sobre o dia da felice Restituição & Acclamação da Magestade d’El-Rei Dom Joam IV, Lisboa, Lourenço de Anvers, 1642 [O.P.L. / DCL: DP634.B7] BRITO, Frei Bernardo de Elogios dos Reys de Portugal com os mais verdadeyros Retratos… agora novamente addicionados pelo P. D. Joseph Barbosa, Lisboa, Oriental, na Officina Ferreyriana, 1726 [O.P.L. / DCL: DP536.1 .B7 1726 Pre-1801 Coll] BRITO, Frei Bernardo de Chronica de Cister onde se Contam as Cousas Principaes desta Ordem e muitas antiguidades do reyno de Portugal, Primeira Parte, composta pelo 317

doutor fr. […], Lisboa Occidental, na Officina de Pascoal da Sylva, 1720 (2 volumes) [O.P.L. / DCL: BX3402.A2 B7 Pre-1801 Coll] CARVALHO, António Joaquim de Bomba de Apollo apagando o fogo Sebastico: Satyra, Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: PQ9261.C2894 B6] CARVALHO, Gonçalo Dias Carta dirigida a El-Rei Dom Sebastiam Nosso Senhor, Lisboa, 1557 [O.P.L. /adq. D. Manuel II, 1926] CASTELO BRANCO, Camilo As Virtudes Antigas ou a Freira que fazia chagas, e o frade que fazia reis, Lisboa, Campos Junior, [1868] [O.P.L. / DCL: PQ9261.C3 V5] CASTRO, D. João de Discurso da Vida do sempre bemvindo et apparecido Rey Dom Sebastiam nosso senhor, Paris, Martin Verac, 1602 [O.P.L. / DCL: DP612.C3] CASTRO, D. João de Paraphrase et concordancia de Algvas Propheçias de Bandarra, çapateiro de Trancoso, Porto, A. F. Vasconcellos, 1901 [facsimile da edição de 1603] [O.P.L. / DCL: DP612.C33 1603a] [CLÁUDIO, Mário] O Egregio Encuberto, ou demonstração dos principaes fundamentos em que se Estribam os Sebastianistas, por um Sebastianista, Lisboa, Tipografia de Martins, 1849 [O.P.L. / DCL: DP612.E3] COITO, Manuel de Vida de Simão Gomes, Sapateiro. escrita nesta Relação para mais utilidade, [Lisboa, Manuel Soares, 1754] [O.P.L. / DCL: DP616.G6 C6 (Rare Book Coll.)] CONESTAGGIO, Jeronimo Dell’Unione del regno di Portogallo alla Corona di Castiglia. Istoria del Sig. Ieronimo de Franchi Conestaggio, Genova, Girolamo Bartoli, 1585 [O.P.L. / DCL: DP622.C65 1585] CONESTAGGIO, Jeronimo Historien der Königreich Hispannien, Portugal und Aphrica, darauss dann zusehen, in welcher Zeit sonderlich Portugal seinen Anfang genommen […], [Munique], 1589 [DCL: 4DP 85 Pre-1801 Coll. (por lapso, o catálogo da DCL data esta obra de 1639)]

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CONESTAGGIO, Jeronimo Dell'Unione del Regno di Portogallo alla Corona di Castiglia […], Veneza, Amadore Massi e Lorenzo Landi, 1642 [O.P.L. / DCL: DP622.C65 1642] CONESTAGGIO, Jeronimo Dell'Unione del Regno di Portogallo alla Corona di Castiglia […], Florença, Amadore Massi e Lorenzo Landi, 1642 [O.P.L. / DCL: DP622.C65 1642a Pre1801 Coll.] Copia dos Privilegios concedidos a Religiao da Santissima Trinidade destes Reinos pelo Senhor Rei D. Sebastiao…, Lisboa, na Regia Officina Typographica, 1778 [O.P.L. / DCL: BX4160.T4 A3 (Rare Bk. Coll.)] [COSTA, Félix José da] O ano augusto de quarenta o Quinto Império poema em aplauso dos anos do muito Alto e Poderoso Rei de Portugal D. José I, fazendo o ano quadragésimo, Lisboa, Pedro Ferreira, 1754 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1.A6 (Rare Book Coll.)] CRUZ, Bernardo da Chronica de El-Rei D. Sebastião, Lisboa, Impressão de Galhardo e Irmãos, 1837 [O.P.L. / DCL: DP612.C7 1837] Desparates do Pretinho do Japão, Escravo do Capitão Balthasar de Sousa Godinho, escritos no anno de 1429 […] na Villa da Certan. Fielmente copiadas do seu Original, Lisboa, José Teodoro d'Oliveira, 1850 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1 D4 (Rare Book Coll.)] O diabo e o Sebastianista; ou conversação Familiar, que co o Diabo Asmodeo teve Luiz Lourenco Lopez, o Sebastianista, Lisboa, Tipografia de Filippe Neri, 1836 [O.P.L. / DCL: DP615.D5] Doaçao com Pacto Reversivo, que o Senhor Rey D. Sebastiao da Glorioza Memoria faz a Congregaçao dos Monges Negros do Patriarca S. Bento, Lisboa, na Offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, 1782 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: BX3042.A1 B4 (Rare Bk. Coll.)] Dom Sebastien, Roy de Portugal. Nouvelle Historique. Première Partie, Paris, Claude Barbin, 1679 [O.P.L. / 477 / DCL: PQ1710.A1 D6 1679 (Office)] Dom Sebastien, Roy de Portugal. Nouvelle Historique, Paris, Claude Barbin, 1680 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: PA1710.A1 D6 1680]

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Dom Sebastião. Romance Historico em seis Cantos […] por hum anonymo […], Porto, Tipografia Comercial, 1847 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: 4PQ Port 2367 FT MEADE] DONIZETTI, Gaetano / SCRIBE, M. Dom Sebastião, rei de Portugal, Drama Lyrico em 5 Actos para se representar no Real Teatro de S. Carlos, Lisboa, Tipografia. de P. A. Borges, 1845 [O.P.L. / DCL: ML50.D683 D528 1845] DONIZETTI, Gaetano / SCRIBE, M. Dom Sebastien, roi de Portugal, in L'Illustration, Journal Universel [O.P.L. / DCL: AP20.13] Duas lendas pátrias: a apparição de Ourique e as Cortes de Lamego, Braga, [1878] [DCL: Panfleto 1526] Epitaphia Lvsitanica. Del Rey Dom Sebastiano…, s.l, s. d. [O.P.L. / DCL: ?] Estes ditos intitulados Disparates, dizem serem feitos em Malaca, parte da Índia por hum moço mestiço de 12 annos no de 1576, estando Aires de Saldanha por capitão daquella fortaleza, [Lisboa], [1643] [DCL: Panfleto 1200] FIGUEIREDO, Pedro José de Carta em Resposta de Certo Amigo da Cidade de Lisboa a outro da villa de Santarém, em que se lançam os fundamentos sobre a verdade, ou incerteza da morte d’El-Rei D. Sebastião XVI Rei de Portugal, na batalha de Alcácer Quibir em África, Lisboa, Oficina de João Evangelista Garcez, 1806 [O.P.L. / DCL: ?] FIGUEIREDO, Pedro José de Carta em Resposta de Certo Amigo da Cidade de Lisboa a outro da villa de Santarém, em que se lançam os fundamentos sobre a verdade, ou incerteza da morte d’El-Rei D. Sebastião XVI Rei de Portugal, na batalha de Alcácer Quibir em África, Lisboa, Oficina de João Evangelista Garcez, 1808 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: 4DP Port 278 FT MEADE; DP612.F5] FIGUEIREDO, Manuel Joaquim Pereira de [D. Francisco da Soledade] Cartas sobre o Verdadeiro Espírito do Sebastianismo, escritas a hum fidalgo […], Lisboa, Impressão Régia, 1810 (4 volumes; 3 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP612.S57]

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FIGUEIREDO, Gomes Vasconcelos de Histoire Secrète de Dom Antoine, Roy de Portugal. Tirée des memoires de […], Paris au Palais, chez Guignard, 1696 [O.P.L. / DCL: DP629.A6 S3 1696 Pre-1801 Coll.] [FONSECA, Manuel António da] Sebastianista furioso contra o livro intitulado Os Sebastianistas por J. A. M. Dado á luz por hum remendão Litterario que o apartou á bulha Sebástica […], L1sboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: DP612.F6] A forja dos periodicos ou o Exame de aprendiz de periodiqueiro, Lisboa, 1821 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1 N6] FOUCHER, Paul Don Sebastien de Portugal. Tragédie en 5 actes, Paris, J. R. Barba, 1838 (La France dramatique au dix-neuvième siècle) [DCL: ML50.D683 D5 1843 Case] FOURNIER, Edouard Un Pretendant portugais au XVI siècle. Lettre à. M. M. d'Antas secrétaire à. la Légation […] sur Don Antonio […], Paris, Maulde et Renon, 1851 [O.P.L. / DCL: 4DP Port 340 FT MEADE] FREIGIUS Historia de Bello Africano [...], Nuremberga, 1581 [O.P.L. /adq. D. Manuel II, 1926] FREIGIUS Africanischen Kriegs Beschreibung sampt, Basileia, 1581 [O.P.L. /adq. D. Manuel II, 1926 (apareceram mais dois exemplares num leilão realizado pelo Correio Velho em 1991)] FREITAS, Joaquim Agostinho de Resposta ás proposições incluidas no folheto intitulado os Sebastianistas por José Agostinho de Macedo, Lisboa, Oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1811 [O.P.L. / DCL: DP612.M35 F7] GUZMAN SOARES, Vicente de Lusitania Restaurada dirigida a Seu Restaurador El Rey Dom Ioão o quarto, Lisboa, Lourenço de Anveres, 1641 [O.P.L. / DCL: PQ9231.G9 L8 1641] Historia de Gabriel de Espinosa, Pastelero en Madrigal que fingio ser El-Rey D. Sebastian de Portugal y assimismo de Fray Miguel de los Santos en el ano

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de 1595, Xerez, Juan Antonio de Tarazona, 1683 [O.P.L. / 477 / DCL: DP629.E8 H5 1683 Pre-1801 Coll.] HOGAN, Alfredo P. Marco Tullio ou o agente dos Jesuitas. Romance historico (1568-1600), Lisboa, Tipographia L. C. da Cunha, 1860-1861 (2 volumes) [O.P.L. / DCL: PQ9261.P6 M3] HOMEM, Frei Manuel Resorreiçam de Portugal e morte fatal de Castella. Dividida em duas partes […], Nantes, Guillelmo du Monnier, [1642] [O.P.L. / 477 / DCL: DP634.H6 Pre-1801 Coll.] HOMEM, Frei Manuel Memoria da disposiçam das armas Castelhanas, Lisboa, Craesbeekiana, 1655 [O.P.L. / DCL: DP622.H6 Pre-1801 Coll.]

Oficina

JACO, Pero Resposta a D. Benevenuto: ou analize das incoherencias contradicoens […] que proferio contra os redactores da Peninsula, e contra os Sebastianistas, e contra o Author do Exame Critico, Coruña, Imprenta de Juan Felix, 1810 [O.P.L. / DCL: DP642.J3 (Rare Book Coll.)] JAKU, Francisco de Paula Carta de hum Guarda-Roupa d'el Rei D. Sebastião a hum amigo seu nesta corte, Dada a luz e vendida aos curiosos por F. de P. J., Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: DP612.J3] JESUS, José Maria de Impugnação imparcial do Folheto intitulado os Sebastianistas. Por hum Amador da Verdade, Lisboa, Impressão Régia, 1810 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP612.M35 J6] JESUS, José Maria de O Sylogismo Refutado, Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: DP615.M4 J6] JOSÉ, João Carta Civil e attencioza, que hum habitante das provincias do Reino escreveo ao R. P. José Agostinho sobre a sua obra intitulada os Sebastianistas, Lisboa, João Rodrigues Neves, 1810 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP612.M35 C3]

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LACERDA, António Augusto Correia de Dom Sebastião o Encuberto. Romance – Poema, Lisboa, Tipografia de J. F. Sampaio, 1839 (4 exemplares) [O.P.L. / DCL: PQ9261.C64 D3] LA CLEDE, de Histoire generale de Portugal, Paris, chez Guillaume Cavelier, 1735 (8 volumes) [O.P.L. / DCL: DP537.L14 1735a Pre-1801 Coll.] LEITÃO, Francisco da Silva Cardoso Sebastianismo, ou o Macedo desafiado pela mascarada corja dos Sebastianistas, Lisboa, Tipografia Lacerdina, 1810 [O.P.L. / DCL: 4PQ Port 1226 FT MEADE] LEITÃO, Fulgencio Reduccion, y Restituycion del Reyno de Portugal a la serenissima casa de Bragança en la real Persona de D. Iuan IV, rey de dicho reyno […], Turim, Iuannetin Pennoto, 1648 [O.P.L. / DCL: DP634.L4 Pre-1801 Coll.] LIMA, Luís de Torres de Compendio das mais Notáveis Cousas que no Reyno de Portugal acontecerão, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1630 [O.P.L. / 477 / DCL: DP622 T6 1630 (Rare Book Coll.)] LIMA, Luís de Torres de Compendio das mais Notáveis cousas que no Reyno de Portugal […], Coimbra, Oficina de Manuel Dias, 1654 [O.P.L. / DCL: DP622.T6 1654 (Rare Book Coll.)] LIMA, Luís de Torres de Compendio das mais Notáveis Causas que no Reyno de Portugal aconteceram […], Lisboa Ocidental, Oficina de Pascoal de Silva, 1722 [O.P.L. / DCL: DP622.T6 1722 Pre-1801 Coll.] LIMA, Luís de Torres de Avizos do Ceo, Successos de Portugal […] Novamente correctos, emmendados […] por Manuel António Monteiro de Campos [..] Tomo 1, Lisboa, Oficina de Manuel António Monteiro, 1761 [O.P.L. / DCL: DP622.T6 1761 Pre-1801 Coll.] LIRA, António Veloso de Espelho de Lusitanos em o cristal do psalmo quarenta e três […], Lisboa, Oficina de Domingos Rodrigues, 1643 [477 / DCL: DP537.V4 E 1643]

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LIRA, António Veloso de Espelho de Lusitanos Em O Cristal do Psalmo quarenta e três, Lisboa, Domingos Rodrigues, 1753 [O.P.L. / 477 / DCL: DP537.V45 1753] LOUREIRO, João Bernardo Rocha /MONIZ, Nuno Álvares Pereira Pato Refutação analytica do folheto que escreveo o Reverendo Padre José Agostinho de Macedo e intitulou os Sebastianistas […] pelos redactores do Correio da Peninsula, João Bernardo da Rocha, Bacharel […] e Nuno Álvares Pereira Pato Moniz, Lisboa, 1810 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP615.M4 R6 1810; DP615.M4 R6 1810a] LUCINDO LUSITANO Pseudónimo de Luís Marinho de Azevedo (ver) MACEDO, António de Sousa Flores de España Excellencias de Portugal, en que brevemente se trata de lo mejor de sus historias […], Coimbra, António Simões, 1737 [477 / DCL: DP537.S6 1737 Pre-1801 Coll.] MACEDO, António de Sousa Armonia Politica dos Documentos Divinos com as Conveniencias de Estado Exemplar de Principes no Governo dos Gloriossimos Reys de Portugal, Coimbra, António Simões Ferreira, 1737 [477 / DCL: DP537.S6 1737 Pre-1801 Coll. (encadernado com Flores de España…)] MACEDO, António de Sousa Lusitania Liberata ab injusto Castellanorum dominio Resituta, Legitimo Principi Serenissimo Joanni IV. Lusitaniae […], Londres, Richardi Heron, 1645 (2 exemplares) [O.P.L. / 477 / DCL: DP634.S7 fol. FT MEADE] MACEDO, José Agostinho de Justa defensa do livro intitulado Os Sebastianistas, e resposta previa a todas as satyras, e invectivas, Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: PQ9261.M2 S4] MACEDO, José Agostinho de Mais Logica ou nova apologia da justa defensa do livro os Sebastianistas, Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: DP612.M35 M3] MACHADO, Diogo Barbosa Memórias para a Historia de Portugal, que comprehendem o Governo del Rey D. Sebastião […], Lisboa Ocidental, Josá António da Silva, 1736-1751 (4 volumes) [O.P.L. / DCL: DP612.B3 Pre-1801 Coll.]

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MACSWINEY DE MASHANAGLASS, Marquis Le Portugal et le Saint-Siege. Les Epees d'Honneur envoyees par les Papes aux Rois de Portugal au XVI siècle, Paris, Alphonse Picard, 1898 [O.P.L. / DCL: Microfilm 9519 DP] MACSWINEY DE MASHANAGLASS, Marquis Le Portugal et la Saint-Siege. III: Les Roses d’Or envoyées par Papes aux rois de Portugal au XVI siècle, Paris, Alphonse Picard, 1904 [O.P.L./ DCL: Microfilm 9519 DP] MADRE DE DEUS, António da Ao Muito Alto e Muito Poderoso Rey e Senhor Nosso Dom João o IV de Nome entre os Reys de Portugal O Senado da Villa de Santarem dedica este sermão, em o primeiro dia de Dezembro de 1641, etc., Lisboa, Domingos Lopes Rosa, 1641 [477 / DCL: ?] MAGALHÃES, Luís de D. Sebastião, Coimbra, França Amado, 1898 [O.P.L. / DCL: PQ9261.M3 D6] [MAIA, Frei Manuel de S. Joaquim] A Besta de Sete Cabeças e Dez Cornos, ou Napoleão imperador dos francezes. Visão do Evangelista e Apostolo S. João exposta no Capitulo XIII do seu Apocalipse, com hum commentario litteral, e applicação ás scenas do mundo presente. Dado á luz por hum Presbytero Andaluz, visinho da cidade de Malaga, Lisboa, Impressão Régia, 1809 [O.P.L. / DCL: 4DP Port 330 FT MEADE] Manifesto do Reino de Portugal ao qual se declara o direito, as causas & o modo que teve para exemir-se da obediencia del Rey de Castilla e tomar a voz XVIII entre os Reys verdadeiros deste Reyno, Lisboa, Paulo Crasbeeck, 1641 [477 / DCL: ?] MARIZ, Pedro de Dialogos de Varia Historia, em que se referem as Vidas dos Senhores Reys de Portugal […], Lisboa, Oficina de José Filipe, 1758 (2 volumes) [O.P.L. / DCL: DP537.M3 1758 Pre-1801 Coll.] MARIZ, Pedro de Dialogos de Varia Historia, em que se referem as Vidas dos Senhores Reis de Portugal [...], Lisboa, Impressão Régia, 1806 (2 volumes) [O.P.L. / DCL: DP537.M34]

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MENDONÇA, Jerónimo de Iornada de Africa. Composta por Hieronymo de Mendonça, natural da cidade do Porto […], Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1607 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP614.M4 1607] MENDONÇA, Jerónimo de Jornada de Africa, composta por […] Copiado fielmente da Edição de Lisboa de 1607 por Bento José de Sousa Farinha […], Lisboa, Officina de José da Silva Nazaré, 1785 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP614.M4 1785] MENDONÇA, Jerónimo de A Jornada d'Africa, resposta a Jeronim0 Franqui e a outros […] Copia da edição de 1607. Editado por F. Maria Rodrigues, Porto, Imprensa Recreativa do Instituto Escholar de S. Domingos, 1878 [O.P.L. / DCL: DP614.M4 1878] MENEZES, Manuel de [pseud. Padre José Pereira Baião] Chronica do muito alto e muito esclarecido Principe D. Sebastião, decimosexto rey de Portugal […], Lisboa Ocidental, Oficina Ferreiriana, 1730 (3 exemplares) [O.P.L. / 477 / DCL: DP614.M4 1878] MESQUITA, Augusto de Dom Sebastião. Drama histórico em 5 actos em verso […], Porto, Tipografia Gutenberg, 1891 [O.P.L. / DCL: Microfilme 82/7204 (PQ)] Novella Historica de D. Sebastião, Rei de Portugal, traduzida de hum antigo Author Francez, por D. A. d’A. A. C. R. T. Parte I, Lisboa, Impressão de Alcobia, 1837 [O.P.L. / DCL: 4DP Port 291 FT MEADE] Novo Mestre Periodiqueiro ou dialogo de hum Sebastianista, hum Doutor, e hum Hermitao, Lisboa, Imprensa Nacional, 1821 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1 N6] Novo mestre Periodiqueiro, ou dialogo de hum Sebastianista, hum Doutor, e hum Hermitao, Lisboa, Impressão de Galhardo, 1821 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1 N6 1821a (Rare Book Coll.)] PARADA, António Carvalho de Iustificaçam dos Portugueses sobre a Acçam de Libertarem […], Lisboa, Paulo Craesbeeck, 1643 [O.P.L. / DCL: 4DP Port 319] PEREIRA, Pero de Sousa Mayor Triumpho da Monarchia Luzitana em que se prova a Visão do Campo de Ourique que teve & jurou o Pio Rey D. Affonso Henriques com os Trez

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Estados em Cortes, etc., Lisboa, Manuel da Silva, 1649 [477 / DCL: DP570.P4 Pre-1801 Coll.] Promontorio Sebastiastico, ou o Cabo da Boa Esperança dos Sebastianistas, arriscado e tormentoso na longa navegação de suas descobertas, naufrágio que padecerão na viagem para a ilha Encuberta, do seu fim […], Lisboa, Impressão de Alcobia, 1810 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP615.P76; Panfleto 1389] QUEIROZ, Fernão de Historia da Vida do Venerável Irmão Pedro de Basto, coadjutor temporal da Companhia de Iesus, e da variedade de successos que Deus lhe manifestou, Lisboa, Oficina de Miguel Deslandes, 1689 [O.P.L. / DCL: 4BX 1018] RAMIRO, José Gonçalves Os Sebastianistas Satisfeitos, ou discurso apologético […], Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: DP615.R3 (Rare Book Coll.)] Representação de El-Rei D. Sebastião pelo seu Embaixador a El-Rei de França, Lisboa, Impressão Régia, 1811 [O.P.L. / DCL: DP612.A3 (Rare Book Coll.)] Resposta ao Novo Mestre Periodiqueiro: ou Abjuração do Sebastianista e do Hermitão, confundindo o Doutor Periodiqueiro, Lisboa, Oficina de J. F. M. de Campos, s. d. [1821] [O.P.L. / DCL: DP615.R4 (Rare Book Coll.)] RIBEIRO, João Pinto Anatomia delli Regni di Spagna, nella quale si dimostra l'Origine del Domínio, la dilatatione delli stati, la sucessione delle linee de suoi re, Lisboa, Sancio Beltrando, 1646 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP537.P55 Pre-1801 Coll.] RIBEIRO, João Pinto Discorso dell' Usurpatione retentione e Ristoratione del Regno di Portugallo, Lisboa, Sancio Beltrando, 1641 [O.P.L. / DCL: DP537.P55 Pre-1801 Coll. (encadernado com o anterior)] RIBEIRO, João Pinto A acção de acclamar a elrey Dom Ioão o IV […], Lisboa, Paulo Craesbeeck, [1644] [O.P.L. / 477/ DCL: DP634.P5] RIBEIRO, João Pinto Injustas Sucessoens dos Reys de Leão e de Castella e Isenção de Portugal, Lisboa, Paulo de Craesbeeck, 1642 [477 / DCL: 4 Rare Books] 327

ROCOLES, Jean Baptiste de Las Imposteurs Insignes ou Histoires de plusieurs hommes de néant […], Amesterdão, Abraham Wolfgang, 1683 (3 exemplares) [O.P.L. / DCL: D107.6.R6 1683] ROYAUMONT, N. de Visões de Daniel, e o Apocalypse de S. João, extrahido da historia sagrada do Velho e Novo Testamento, Lisboa, Impressão Imperial e Real, 1808 [O.P.L. / DCL: 4DP Port 330 (encadernado junto com Victoriosas promessas…] SALGUEIRO, A. J. Petit Bouquet ou Preliminar do Livro Prophetico e maravilhosa Vinda d'el Rei Dom Sebastião, Lisboa, Tipografia de A. da Costa Braga, 1887 [O.P.L. / DCL: 4PQ Port 755 FT MEADE] SANTOS, Manuel dos Historia Sebastica, contem a vida do Augusto Principe o Senhor D. Sebastião, Rey de Portugal, Lisboa Ocidental, Oficina de António Pedroso Galram, 1735 (2 exemplares) [O.P.L. / 477 / DCL: DP614.S3 1735 Pre-1801 Coll.] SÃO MAMEDE, Conde de [José Pereira Ferreira Felício] Don Sebastien et Phillippe II, exposé des negociations entamées en vue du mariage du Roi de Portugal avec Marguerite de Valois, Paris, 1884 [O.P.L. / DCL: DP612.S3] SCRIBE, M. Dom Sebastien, Roi de Portugal, Opera en cinq actes, Paroles de M. Scribe […]. Musique de G. Donizetti, Paris, C. Tresse, 1843 [O.P.L. / DCL: ML48 [S2658] FT MEADE] SCRIBE, M. Don Sebastiano Ré di Portogallo - Dramma-Lirico in cinque atti 1578. Le Musica e del Maestro Gaetano Donizetti Trasportate in Italiano da Cesare Perine da Lucca, Lisboa, A. Guiseppe da Rocha, 1844 [O.P.L. / DCL: ML50.D683 D526 1844] SCRIBE, M. Don Sebastiano, re di Portogallo. Dramma serio de Eugenio Scribe […], Milão, Gio Ricordi, 1869 [O.P.L. / DCL: ML50.D683 D526 1869?] SCRIBE, M. Don Sebastiano, re di Portogallo Dramma serio di Eugenio Scribe […], Milão, Gio. Ricordi, s. d. [1855?] [O.P.L. / DCL: M1503.D683 D782] 328

[SEBASTIÃO, Dom] Decreto Real de 12 de Novembro de 1566 (Lisboa) [O.P.L. / DCL: ?] [SEBASTIÃO, Dom] Leys e Provisoes que Elrey Don Sebastião Nosso Senhor fez depois que começou a governar, Lisboa Francisco Correa, 1570 [477 / DCL: ?] Sebastianistas combatidos o eggregio encoberto apparecido o caso raro e maravilhoso acontecido. Portugal regenerado. Dialogo Portuguez interlocutores. Aurélio, Claudio, e Leonardo […], Lisboa, 1823 (3 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP612.S4 (Office)] SILVA, Carlos Vieira da Tratado de Paz entre os Sebastianistas, o seu Critico […], Lisboa, Impressão Régia, 1810 [O.P.L. / DCL: PQ9261.S473 T7 (Rare Book Coll.); Panfleto 1390] [SILVA, Carlos Vieira da] Os Antisebastianistas, que consagra ao Illustrissimo Senhor J. J. C. P. F. B. seu Author hum certo Rapaz, Lisboa, na Typografia Lacerdina, 1810 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: DP615.S5 (Rare Book Coll.)] SILVA, José Leonardo da O Feitiço voltado contra a Feiticeiro ou o Autor do Folheto intitulados os Sebastianistas convencido de mao Christao, mao Vassallo, mao Cidadao, e o maior de todos os tolos, Londres, W. Lewis, 1810 [O.P.L. / DCL: DP615.M4 S5b] SILVA, Tomás António dos Santos e El-Rei D. Sebastiao em Africa…, Lisboa, Tipografia Rolandiana, 1817 [O.P.L. / DCL: ?] SILVA, Tomás António dos Santos e El-Rei D. Sebastião em África. Tragédia em cinco Actos, Lisboa, Tipografia Rolandiana, 1827 [O.P.L. / DCL: PQ9261.S2 R4 (Office)] SOARES, Pedro Ignácio Ribeiro Defeza dos Sebastianistas, primeira audiencia, e Despacho que nella obtem […], Lisboa, Nova Oficina de João Rodrigues Neves, 1810 [O.P.L. / DCL: PQ9261.S587 D4 (Rare Book Coll.)] SOLEDADE, Frei Francisco da Vide Manuel Joaquim de Figueiredo

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SOUSA, Manuel de Faria e Europa Portugueza, Lisboa, António Craesbeeck, 1678 [477 / DCL: ?] SPINOLA, Antonio Ardizone Cordel Triplicado de Amor a Christo Jesu Sacramentado […], Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1680 [O.P.L. / DCL: BX1756.A75 C6 (Office)] Stabilimento fatto nelle corti dalli tre stati delli regni di portogallo sopra l’acclamatione, restitutione, e giuramento delli medesimi regni al potentissimo Re Don Giovanni il quarto di questo nome, Lisboa, Paol0 Craesbeeck, 23 di Marzo 1641 [O.P.L. / DCL: DP634.A3 1641 (Rare Book Coll.)] Sumarischer Eurzer begrif vnd inhalt/ deren Ceremonien/ so zu Lisbona im konigReich Portugall gehalten worden/ als der Durchleuchtig/ Crossmechtig König Sebastianus/ löblicher gedechtnuss/ betrawert und beweynet worden…, s.l., 1578 [O.P.L. / DCL: 4 Rare Bks] TEIVE, Diogo de Endecasílabo dirigido a El-Rei D. Sebastião, a quem o Autor oferece a sua obra, in Epódos que contém sentenças úteis a todos os homens, ás quaes se accrescentão Regras para a boa educaçaõ de hum Principe... Traduzido na vulgar por Francisco de Andrade, copiado fielmente da edição de Lisboa de 1565, Lisboa, na Offic. Patr. de Francisco Luiz Ameno, 1786, p. 6-7 [O.P.L. / DCL: PA8585.T4 A56] TEIXEIRA, José De Portugalliae Ortu, Regni Initiis Et Denique de Rebus a Regibus, etc., Paris, Joannem Mettayer, in Mathematicis, etc., 1582 [477 / DCL: DP558.T4 1582 (Office)] TEIXEIRA, José Speculum Tyrannidis Philippi Regis Castellae in Usurpanda Portugallia verique Portugallensium juris in elegendis suis Regibus ac Princibus […] Nunc Tertio in Lucem editum, Paris, 1595 [O.P.L. / DCL: DP624.T45 1595 (Rare Book Coll.)] TEIXEIRA, José Histoire veritable, des dernieres et piteuses adventures de Dom Sebastian Roy de Portugal, depuis sa prison de Naples, iusques aujourd’huy qu’il est en Espagne, à San Lucar de Barrameda, [s. l.], 1602 [O.P.L. / DCL: DP612.T4 (Rare Book Coll.)]

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Testamento d’el Rei D. Sebastião, Lisboa, Impressão Régia, 1813 [O.P.L. / DCL: DP612.A32 (Rare Book Coll.)] THEVET, André Vies des Hommes Illustres. Sebastien I. du nom, Roy de Portugal. Chapitre 8, [s. l.], [s. d.] [O.P.L. / DCL: ?] TOSCANO, Francisco Soares Parallelos de Principes e Varões illustres antigos, a que muitos da Nossa naçam portuguesa […], Évora, Manuel Carvalho, 1623 [O.P.L. / DCL: CT1366.S6 1623] TOSCANO, Francisco Soares Parallelos de Principes e varoens Illustres […], Lisboa, Ocidental, Oficina Ferreiriana, 1733 [O.P.L. / DCL: CT1366.S6] O Ultimo Desengano dos Sebastianistas dado e recebido nas Trovas do Pretinho do Japão, Lisboa, António Rodrigues Galhardo, 1821 [O.P.L. / DCL: PQ9261.A1 U5 (Rare Book Coll.)] VEIGA, Manuel da Tratado da Vida, Virtudes & doutrina admiravel de Simão Gomez Portugves, vulgarmente chamado o çapateiro Santo […], Lisboa, Francisco Vilela, 1673 [O.P.L. / DCL: DP616.G6 V4 1673] VERTOT, abbé de Histoire de la Conjuration de Portugal, Paris, chez la veuve d'Edme Martin etc., 1689 [O.P.L. / DCL: DP537.V56 1689 Pre-1801 Coll.] VERTOT, abbé de Histoire des Revolutions de Portugal, Paris, M. Brunet, 1711 [O.P.L. / DCL: DP537.V56 11711 Pre-1801 Coll.] Victoriosas promessas de Christo a Portugal, na gloriosa apparição ao venerável D. Affonso Henriques em o Campo de Ourique, Lisboa, Oficina de João Evangelista Garcez, 1808 (2 exemplares) [O.P.L. / DCL: 4DP Port 330; 4DP Port 293 FT MEADE] VIEGAS, António Pais Principios del Reyno de Portugal com la vida y hechos de Don Affonso Henriques su primero Rey y com los principios de los outros Estados Christianos de España, Lisboa, Paulo Craesbeeck, 1641 [477 / DCL: DP570.P12 Pre-1801 Coll.]

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VIEIRA, Conceição O Spiritismo ilha Encoberta e Sebastianismo, Lisboa, Typ. da Casa Minerva, 1884 [O.P.L. / DCL: BF 1042.C68]

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Bibliografia ANÓNIMO Sobre o Sebastianismo: um curioso documento do começo do século XVIII, Coimbra, 1959 CAMPBELL, Miss Portuguese Collection: Accessions list of the Portuguese Collection acquired from Maggs bros. 1928 (Coll. Of Olivaes e Penha Longa), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58 (Rare Book Coll.); Z2739.U58 xcopy (Hispanic Division)] CASTRO, D. João de A Aurora da Quinta Monarquia (1604-1605), Porto, 2011 [COSTA, Padre Victoriano José da?] Relação do Sucesso que teve o Patacho chamado N. Sra. da Candelária, da ilha da Madeira, o qual vindo da Costa da Guiné, no anno de 1693, uma rigorosa tempestade o fez varar na Ilha incógnita, Lisboa, 1734 GANDRA, Manuel J. Apocalipse de Esdras: ecos nas Letras e na Arte Portuguesas, Mafra, 1994 O Milénio Português: itinerários, iconografia e notas bio-bibliográficas SebásticoSebastianistas, in O Falso D. Sebastião da Ericeira e o Sebastianismo, Mafra, 1998, p. 137-298 Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica, Lisboa, Fundação Lusíada, 1999 A Cristofania de Ourique: mito e profecia, Lisboa, Fundação Lusíada, 2002 Dicionário do Milénio Lusíada: Impérios do Divino, Sebastianismo e Quinto Império, v. 1, Lisboa, Hugin, 2003 Para um elenco das edições impressas das Trovas do Bandarra, in Newsletter do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 17 (Mar. 2004) Para um elenco dos comentários impressos das Trovas do Bandarra, in Newsletter do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 18 (Mar. 2004) O Monumento de Mafra no Quinto Império, Mafra, Cesdies, 2004 Ditirambos quinto-imperiais dedicados a Dom José I, Mafra, Cesdies, 2004 Processo Inquisitorial de Gonçalo Anes Bandarra, sapateiro da Vila de Trancoso (ano de 1541), Mafra, Cesdies, 2004 Do Desejado ao Encoberto: roteiro de uma exposição virtual, Mafra, Cesdies, 2006 Mestiço de Malaca: disparates sentenciosos, Mafra, Cesdies, 2006 Pretinho do Japão: trovas ou disparates, Mafra, Cesdies, 2006 O Providencialismo da Casa de Bragança e o mistério dos Reis sem Coroa, Mafra, Cesdies, 2008 António Vieira e o Quinto Império: subsídio para uma bibliografia da obra e dos estudos concernentes ao tema, in Newsletter do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 26 (Set. 2008) António Vieira e o Quinto Império: plano da História do Futuro [cópia do Ms. da Biblioteca Nacional, Maquinações de António Vieira jesuíta, t. 2, p. 89], in Newsletter do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 27 (26 Set. 2008) António Vieira na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra com um paralelo da sua Vida e Obra com o providencialismo, o milenarismo e o messianismo coetâneos, in Boletim Cultural da Câmara Municipal de Mafra, 2007, Mafra, 2008, p. 9-108

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Padre António Vieira: paralelo da sua vida e obra com o providencialismo, o milenarismo e o messianismo coetâneos, in Entre a Selva e a Corte: novos olhares sobre Vieira, Lisboa, 2009, p. 251-306 Subsídio para uma Bibliografia de Estudos sobre António Vieira e o Quinto Império, in Entre a Selva e a Corte: novos olhares sobre Vieira, Lisboa, 2009, p. 307-315 O Sebastianismo no Feminino: esquissos para o dicionário das mulheres sebastianistas, in Actas do Colóquio Profetismo: de Bandarra a Vieira (Trancoso, 2008), Trancoso, 2010, p. 72-97 O Apocalipse de Esdras e a Profética Sebástica, Mafra, Cesdies, 2010 Messianismo e alegados Messias (quadros sinópticos), Mafra, Cesdies, 2010 Astrologia em Portugal: dicionário histórico-filosófico, Lisboa, Arcano Zero, 2010 Hubert Texier, Pesquisas Históricas sobre Sebastião I, Rei de Portugal (Paris, 1904), ou de como o Desejado morreu no exílio, em Limoges, Mafra, Cesdies, 2011 Os Retratos duplos (mancebo e velho) de D. Sebastião: subsídio para o seu catálogo e variantes, Mafra, Cesdies, 2011 Guia Sebástico do Porto, Mafra, Cesdies, 2011 Os Horóscopos de Dom Sebastião (1554-1578?): o Desejado à luz da Astrologia judiciária, Mafra, Cesdies, 2012 A Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: contributos para a sua história, Mafra, Cesdies, 2012 Hagiografia de D. Sebastião: de desejado a encoberto, Mafra, Cesdies, 2014 GANDRA, Manuel J. / et alii O Falso D. Sebastião da Ericeira e o Sebastianismo, Mafra, CMMafra, 1998 HORTA, Ana Amália Pimenta Guerra e Reelaborações Sebastianistas anteriores à Restauração (Para um estudo do seu Corpus Profético), Dissertação de Mestrado em História da Cultura Portuguesa (Época Moderna), FLUP, Porto, 1997 LUND, Christopher A Colecção de Manuscritos Portugueses na Divisão dos Manuscritos da Biblioteca do Congresso, in Boletim de Filologia, n. 25 (1979), p. 167-172 LUND, Christopher C. / KALHER, Mary Ellis The Portuguese Manuscripts Collection of the Library of Congress – A Guide, Washington, 1980 MAURÍCIO, Carlos Coelho O Sebastianismo de D. João de Castro. Uma proposta de avaliação sociopolítica, in História e Crítica, v. 6 (1980), p. 33-39 PORTUGUESE COLLECTION Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** [OPL] Collection through Maggs Bros. 1928), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58] PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets 1610-1921 [microform]: a collection of Pamphlets published primarily in the 19th century, which was assembled for the most part by António Augusto de Carvalho Monteiro, Washington, 1983 [DCL: Microfilm 82/5800 (D) (Microform Reading Room: 75 bobinas de microfilme)] PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL: DP517.P67 1610 Suppl.]

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PORTUGUESE PAMPHLETS The Portuguese Pamphlets: pamphlets, speeches, almanacs, offprints and broadsides in various languages, chiefly Portuguese, relating to Portugal or Portuguese affairs [1610-ca. 1925] [DCL: DP517.P67 1610 (Rare Book Coll.: 62 caixas, ca. 3100 espécies)] RAMALHO, Américo da Costa The Portuguese Pamphlets, in The Library of Congress Quarterly Journal of current Acquisitions, v. 20, n. 3 (Jun. 1963) Portuguese publications in the Library of Congress, in Portuguese Essays, Lisboa, 1968, p. 85-98 [DCL: DP518 .R35 1968] SEQUEIRA, Gustavo de Matos A Ilha Encoberta, in Relação de vários Casos Notáveis e Curiosos sucedidos em tempo na cidade de Lisboa e em outras terras de Portugal, agora reunidos, comentados e dados à luz, Coimbra, 1925, p. 111-138 SERAFIM, João C. Gonçalves D. João de Castro (1550?-1628?) – um resistente que se tornou profeta, in Via Spiritus, v. 6 (1999), p. 121-140 VAN DEN BESSELAAR, José O Sebastianismo – História Sumária, Lisboa, 1987 O Quarto Livro de Esdras na literatura messiânica de Portugal, in Biblos, v. 64 (1988), p. 183-207 A Monarquia Lusitana – Poema Sebástico, in Anais da Academia Portuguesa de História, s. 2, v. 35 (1995), p. 31-60 VITERBO, Sousa Notícia de Alguns pintores Portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal, 3ª série, Coimbra, 1911, p. 72-74

335

TEMPLARISMO MANUSCRITO na Biblioteca do Congresso (Washington)

Nota preliminar – Às cotas dos manuscritos, ou Call Number de cada documento - P-XXX - foi acrescentado o número de ordem [YYY] constante do Guia da Colecção organizado por Christopher Lund (Washington, 1980): PXXX [YYY].

P-22 [310] [Colectânea de alvarás e outros documentos relativos ao Convento de Cristo] 257 p. e [10] folhas. Rosto removido. Compilação organizada ou copiada ca. 1770-1815. Inclui documentos remontando a 1565. Diversas cartas, cópias na sua maioria, acham-se associadas ao códice.

P-25 [379] Ordem de N. S. Jesus Christo. Procuração q[ue] os Cavaleiros fizerã no Cap[itul]o geral, q[ue] se celebrou em Santarem ao Gram Mestre El Rey Dom Sebastião 4 folhas. Encadernação em pele com as armas do conde de Olivais Penha Longa [O.P.L.]. Na lombada: Ordem de N. S. Jesus Christo. Procuração. Datada de 11 de Dezembro de 1573 e subscrita por Frei Jerónimo e Frei Gaspar [?].

P-85 [409] Frei Sebastião Pereira de Castro (séc. XVIII) Resposta q[ue] deo o Procor Geral das Ordens Fr. Sebastião Per[eir]ª de Castro sobre hum recurso, q[ue] da Meza de Consciência, e Ordens interpoz o Marquêz de Alegrete ao [ano] de 1741 mandando a Meza continuar lhe vª da Carta de Coroa 467 folhas. Encadernação em pele. Texto em latim e português. Na lombada: Castro Allegações das Ordem [sic] Militares. Consigna pareceres e regulamentos acerca dos direitos do clero regular, bem como dos professos nas Ordens militares. Pereira de Castro foi funcionário do Colégio das Ordens Militares na Universidade de Coimbra.

P-121 [373] [Compilação documental sobre assuntos conventuais da Ordem de Cristo] 339

32, 12, e 32 folhas. Lombada e cantos em pele. Colado no interior da capa: "Do Principal Castro". Inclui, entre outras cópias, sempre reportadas aos documentos originais: 1. Cartas e ordens datadas de 1558 sobre a extinção e adjudicação dos mosteiros de Ceiça e de S. João de Tarouca. 2. Regimento dado a Henrique de Almeida, em 1488, quando foi enviado visitar as igrejas da Ordem. Maço nº 6. 3. Documentos sobre a extinção do convento pelo Cardeal Infante, datado de 1566-67. Maço nº 18.

P-171 [380] Tombo da medição e extremas das casas e propriedades da comenda do Doutor Cristóvão José de Frias Soares Sarmento, feito em 1781 em São Pedro de Veiga [de Lila], por ordem da Rainha D. Maria [94] folhas. Lombada em pele. Mogadouro, 30 de Março de 1782. Cópia subscrita por João de Albuquerque. A comenda de S. Pedro de Veiga de Lila (Valpaços, Vila Real) foi da apresentação do Duque de Bragança.

P-176 [313] [Compilação de regulamentos, contabilidade e notas históricas sobre Ordens Militares] 223 folhas. Lombada em pele. Texto de diversas mãos. Reúne documentos desde o século XII até ao XVII. Elenca oficiais e benefícios (ca. 1630) das Ordens Militares, bem assim como breves e decretos que lhes respeitam.

P-177 [324] [Cartas, consultas, e outros documentos dos arquivos da Mesa da Consciência e Ordens e dos cartórios dos conventos administrados pelas Ordens militares, ca. 1600-1815] Aprox. 400 folhas. Na lombada em pele: Ordens Militares. Cópia de inícios do séc. XIX.

P-179 [374] Instrucções e Titulos Primordiaes das Cõmendas, e Bens do Mestrado da Ordem de Christo 125 folhas. Encadernação em pele. Na lombada: Titul[os] das C[omendas] e Bens da Ord[em] de Chr[isto]. A parte inferior do rosto foi cortada. Inclui bulas papais e outros documentos em latim e português. Alguns documentos são provenientes do Archivo do Real Convento de Thomar. No último fólio lê-se: "Os tombos das Comendas, e mais Livros, que se achaõ 340

neste Cartorio conthem as clarezas, que sucintam[ent]e se extrahiraõ, e se achaõ incertas neste Rezumo; e nelle senão trata das que pertencem ás mais Commendas, por se não acharem no mesmo Cartorio os seus respeitivos Tombos, nem delle constar, q[ue] fossem tombadas em algum tempo. Convento de Thomar 10 de Junho de 1775, Fr. José de Mello, Guardamor do Cartório".

P-180 [368] Constituiçõens da Ordem de N. S. Jesu Cristo 474 p. e 12 folhas, numeradas 475-486. Lombada e cantos em pele. Na lombada: Constituiçõens da Ordem de Christo. Compilação realizada no séc. XVIII. Inclui documentos até 14 de Setembro de 1784: Taboa dos cappitulos destas nossas constituições (p. 365-373); Index

341

Alphabetico (p. 379-428); Rezumo dos preceitos e censuras; que se contem nas leys (p. 429-472).

P-186 [378] Collecção de Memorias Historicas da Ordem extincta dos Templarios Aprox. 400 folhas. Lombada e cantos em pele. Na lombada: Memorias historicas. Texto em latim e português. Cópia concluída em 1800. Inclui: 1. Collecção de Memorias Historicas da Ordem extincta dos Templarios. 2. Cathalogo dos Mestres Provinciaes da Ordem extincta dos Templarios. 3. Provas da Collecção de Memorias Historicas da Ordem extincta dos Templarios.

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4. Collecção de Memorias Historicas da Ordem de Nosso Senhor Jezus Christo. 5. Provas da Collecção de Memorias Historicas da Ordem Nosso Senhor Jezus Christo (inclui Constituçõens da Jurisdição Eccleziastica da Villa de Thomar e dos Mais Lugares que pleno jure pertencem a Ordem de Nosso Senhor Jezus Christo).

P-187 [375] Jurisdição da Ordem de Christo Paginado I-CCCVIII; 1-303 (começa no cap. 16). Encadernação em pele. O Índice é de mão posterior.

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Inclui documentos desde 1194 a 1750, a maioria organizada toponimicamente. Numa nota na folha de guarda lê-se: "É igual a um volume que há na Torre do Tombo, e que hoje se guarda num dos armários da Casa da Aula de Diplomática, contendo toda a parte ultramarina dos papéis da Mesa das Tres Ordens Militares (com respeito à Ordem de Cristo). O Índice foi feito e oferecido a D. João V pelo Deputado da mesma mesa, D. Lázaro Leitão Aranha, que diz ter examinado todas as Bulas, Decretos Resoluções e Assentos desde a criação daquele Tribunal até o ano de 1731. Foi por uma casualidade que descobri isto, depois de muitas tentativas infructuosas para sabê-lo; e o mesmo sucedera ao antigo possuidor, o Visconde de Paiva Manso, o que não foi possível achar por enquanto, nem rasto sequer disso, é o paradeiro dos papéis aqui citados. Alcobaça [?] Maio de 1883. Me [...] Barreto [?)]".

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P-191 [320] Mesa das tres Ordens Millitares de Christo, S. Thiago e Avis. Tomo 2° Bullas, Decretos Resoluçõens, e acentos desde a sua creação the o anno de 1731. Recopillados, e reduzidos a matêrias distintas e separadas, em quatro tomos. Offerecidos Ao muito alto e poderozo Rey e Senhor nosso Dom João 5° por Dom Lazaro Leytão Aranha do Conselho do mesmo senhor, Principal da Santa Igreja Patriarchal, Deputado da Consciensia e Ordens Aprox. 150 folhas. Lombada e cantos em pele. Na lombada: As tres ordens militare[s]. Fornece sumários cronológicos sobre 34 distintos tópicos, citando datas, fontes e regulamentos.

P-201 [326] Provisão a resp[eit]o do sitio em que se ha de fundar o collegio das Ordens em Coimbra, e varios art[igo]s pertencentes no mesmo Collegio, ca. 1560-1815 92 p. e aprox. 90 folhas. Lombada e cantos em pele. Cópias e sinopses. Consigna alvarás, provisões, resoluções e consultas.

P-203 a 207 [323] Legislação sobre Ordens Militares 5 vols.: 600, 588, 612, 697, e 649 folhas. Na lombada em pele: Legislação. Anno de [...]. Tomo 1, consigna documentos de 1248 a 1827; tomo 2, de 1625 a 1825; tomo 3, de 1533 a 1827; tomo 4, de 1801 a 1826; tomo 5, de 1130 a 1827. Índice no final de cada volume.

P-245 [23] Apontamentos para se formar o Curso de Sciencias Ecclesiasticas que deverá ler-se no Real Convento de Thomar, Cabeça da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesu Christo; a os Freires Conventuaes da mesma Ordem, q[ue] haõ de ser empregados nos Beneficios e Cargos d'ella 197 p. Sem capa. Introdução datada de 12 de Dezembro de 1795. Esboço geral sobre um curso com a duração de seis anos.

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346

P-355 [369] Constituyções da jurisdiçam ecclesiastica da Villa de Tomar, e dos Mais lugares que (pleno iure) pertencem aa Ordem d'nosso Senhor Jesu Christo [47] folhas. Cópia das Constituições impressas em 18 de Junho de 1554. Estipula normas sobre baptismo, confirmação, comunhão, extrema-unção, matrimónio, festas religiosas, penitência, etc.

P-356 [121] Regimento da Chancellaria das Ordens Militares, e do Chan[cel]er, Casa, e officiaes [75] folhas, não encadernadas. Inclui: 1. Regimento organizado em sete capítulos. 2. Carta subscrita por Ant[óni]o Marques Gir[aldes de And[rad]e, Lisboa, 12 de Julho de 1786. 3. Carta remetida À Rainha com recomendações de José Ricalde P[erei]ra de Castro e de outro signatário, Lisboa, 30 de Junho de 1787. 4. Regimento [da] Rainha [Maria I]. Junto há cartas datadas de 18 de Dezembro de 1777, até 23 de Março de 1778, relativas às memórias e papéis da Chancelaria das Ordens Militares e das então extintas contadorias. Há ainda um fragmento de uma carta "sobre as dúvidas do Guarda Mor e Prov[ed]or da Casa da India", Lisboa, 28 de Março de 168[?].

P-379 [301] Mesa da Consciência e Ordens - Consultas, petições, decretos, e cartas, 1606-1697 11 documentos. Assinaturas ilegíveis e documentos avulsos. A maioria é cópia, alguns são originais. Tratam do rendimento e administração das comendas, manutenção dos respectivos edifícios e outras propriedades das Ordens, bem como de assuntos relativos ao uso dos hábitos pelos professos quando participem em procissões religiosas.

P-380 [302] Mesa da Consciência e Ordens - Consultas, petições, decretos, e cartas, 1706-1797 29 documentos avulsos, originais e cópias. Assinaturas ilegíveis. Merece destaque a Demonstração Analytica, e Chronologica sobre a existência, origem, alteração, progresso e fim da terceira classe de 347

Indivíduos das Ordens Militares denominados Sargentos, Armígeros, Clientes, Famulos, Leigos e Freires Conversos.

P-381 [303] Mesa de Consciência e Ordens - Consultas, petições, decretos, e cartas, 1800 - 1821 33 documentos avulsos, originais e cópias. De entre estes papéis avulta um Mapa demonstrativo do expediente de que unicamente se recebe salario na Secretaria do Despacho da Meza da Consciencia, e do Comum das Ordens, sua taxa, e importância em cada hum dos 10 annos findos em 1807, e nos seguintes ate 1817.

P-382 [304] Mesa da Consciência e Ordens - Consultas, petições, decretos, e cartas, 1820-1831 84 documentos avulsos, originais e cópias. Assinaturas ilegíveis. Abordam temas concernentes às três Ordens Militares, comendas, bem como a assuntos relacionados com a administração interna da Mesa. Um alvará impresso, de 1825, determina o registo formal dos agraciados com comendas, excepto no caso de se tratar de menores de idade e de mulheres.

P-391 [481] José Seabra da Silva (1732-1813) Cartas 10 documentos. Inclui: 1. Carta e instruções para o Snr. Principal Mascarenhas, 2 de Janeiro de 1790, Paço e Palácio de Nossa Senhora de Ajuda, 22 de Dezembro de 1790. 2. Nove cartas para o Principal Castro, 21 de Julho de 1792, a 23 de Março de 1798, redigidas no Palácio de Queluz e no Paço [Lisboa]. A maioria das cartas é relativa ao pagamento de licenças e à atribuição de benefícios.

P-392 [503] Mostrasse que o din[heir]o dos tres quartos não se pode gastar senão na fabrica do Conv[ent]o de Thomar 20 folhas. Ensaio histórico e teológico sobre a colecta e aplicação dos três quartos pagos pelos professos nas Ordens Militares.

348

349

P-393 [371] Da origem dos tres quartos q[ue] os Cavaleiros da Ordem de Christo são obrigados a pagar 25 folhas. Três assinaturas.

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P-394 [502] Index do Tombo dos bens, Rendas, direitos, e Escrituras do Con[ven]to de Christo em Thomar 10 folhas. Subscrição Pedralves no topo da primeira folha. Tem junto três certidões assinadas por Frei Manuel de São Francisco de Assis (6 e 9 de Outubro de 1818), autenticadas com o selo do Arquivo da Ordem Militar de Cristo.

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P-395 [381] Relação das Rendas tanto em especie, como em dinheiro q[ue] tem o Convento extincto de N. Snrª da Lus da Ordem de Christo mandada fazer pelo Illmo Dou[to]r Juiz Geral das Ordens, como Administrador do mesmo Convento 3 folhas. Duas cópias de diferentes mãos, porém ambas subscritas por Frei António de Lemos.

P-396 [501] Balanços financeiros do Convento de Cristo, 1790-1798 9 documentos. Inclui: 1. Mapas de Receitas do Real Convento de Tomar para Maio-Dezembro e Julho-Dezembro 1790 (mappa de recibo); Maio 1792-Abril 1793 (Recibo e despeza); Maio 1793-Abril 1794 (Balanço do Recibo); Maio 1797-Abril 1798 (Balanço do Recibo). 2. Mappa do total Rendimento q[ue] tem annualm[en]te o Conv[ent]o de Tomar, 24 de Maio de 1798. 3. Relação exacta das Pessoas que se empregão no Serviço do Conv[ent]o de Tomar, 16 de Fevereiro de 1793. 4. Mapa das Comendas da Ordem de Cristo, apontando a respectiva localização, padroeiro e bispo, os nomes dos comendadores, seus predecessores, benefícios em vias de vagarem e o rendimento de cada comenda. 352

353

P-397 [400] Pastoral que o Illmo e Exmo Snr. Prior Mor da Ordem de Christo, Prelado de Thomar, manda publicar na sua Prelazia [s. d.] [14] folhas. Instruções pastorais destinadas aos clérigos e párocos.

P-398 [504] No dia de Junho de 1792 foi solemnemente publicada no Convento de Thomar e legitimamente intimada aos Freires da Ordem Militar de N. S. J. C. ali existentes, sentença executorial de breve de sua ultima, e actual Reforma […], Lisboa, Maio 1802 8 folhas. Estatutos reformados da Ordem de Cristo, subscritos por D. P[rincip]al Castro.

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P-399 [370] Copia da Consulta de 23 de Julho de 1816 sobre o requerimento de varios Denunciantes dos Dizimos de certas Igrejas, que por serem Commendas da Ordem de Cristo pertendião Alvaras de Mercê para 355

os tirarem por Demanda a sua Custa dos seus illegitimos possuidores a qual subio para o Governo no dia 23 de Julho de 1816 [9] folhas. Exposição sobre o Padroado Real.

P-400 [377] Mapa demonstrativo dos Emolumentos dos officiaes da Secretaria da Ordem de Christo pertencentes aos annos de 1798 até 1817 inclusive declarando-se tão bem os ordenados e gratificaçoens 3 folhas de gráficos, dobradas. O Mapa consigna os honorários e as taxas aplicáveis à preparação e registo de cartas e respectiva documentação. Tem junto: uma carta de José Joaquim Oldemberg, escrivão da Real Câmara na Repartição da Ordem de Cristo, datada de 18 de Dezembro de 1818; uma Certidão do Doutor Procurador-Geral das Ordens (Mesa, 23 de Dezembro de 1818).

P-402 [531] Requerimento dos Parochos Beneficiados Collados na Igreja de Vouzella, Elleitos, e mais habitantes da dita Freguezia, mandem fazer as obras, e paramentos necessarios na dita Parochia. MaioOutubro 1830 [7] folhas Cópia do documento paroquial solicitando autorização para a utilização do fundo da comenda com o objectivo de reparar a respectiva igreja. O requerimento recebeu a aprovação da Mesa da Consciência e Ordens e do Procurador da Real Fazenda e tem junto uma resolução régia ordenando o início imediato dos trabalhos. A igreja de Nossa Senhora da Assunção de Vouzela (Viseu) foi vigararia dos Tavares e comenda nova da Ordem de Cristo da Casa dos Sanches Baena. Em 1607, rendia 102 332 réis. É um templo de granito, provavelmente remontando ao séc. XIII. O pórtico, ogival, é sobrepujado por uma rosácea quadrilobada. Sob o beirado Norte, ao longo da cornija, possui alguns modilhões historiados.

P-403 [395] Frei João de Melo Palhares Carta solicitando a intercessão do Rei de molde a impedir a sua expulsão Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo, 10 de Agosto de 1830 [2] folhas. Cópia. O processo com vista à sua expulsão devera-se, alegadamente, ao incumprimento dos deveres conventuais, acusação que visa contraditar. 356

P-404 [376] Carta ao Dezembargador Procurador General das Ordens remetida pelo Dr. Fr. Dionysio Miguel Leitão Coutinho, Freire Conventual da Ordem de Christo, 5 Nov. 1806, queixando-se dos conflitos na jurisdição dos juízes da Ordem na localidade de Alvaiázere 2 folhas. Além da carta original, consigna cópias de cartas e decretos, datados de 1797-1798. Em 1306, Dom Dinis doou o padroado da matriz de Alvaiázere (Leiria) aos templários. Tendo passado à Ordem de Cristo, esta, além dos rendimentos eventuais, recolhia 450 mil réis certos do priorado. A igreja, dedicada a Santa Maria Madalena, é quinhentista, tal como o trono de graça e a Santa Bárbara venerados na capela-mor.

P-405 [127] Auto da diligencia feita pelo Ouvidor da Universid[ad]e no Collegio dos Thomaristas [da Ordem de Cristo] em Coimbra; conta q[ue] o

357

que o mes[m]o Ouvidor deo da Diligencia; e alguns outros papeis, que respeitão aquelle Coll[egi]o [53] folhas, não encadernadas. Inclui um relatório financeiro, decretos régios e recomendações relativas à Universidade, 1780-1791. Preparado pelo Desembargador Tomás Joaquim da Rocha e pelo prior-mor do Colégio, Frei Luís Sarmento, ou a eles destinado.

P-413 [315] Doutrinas sobre ordens militares 49 e 21 p. Encadernação em papel. Estabelece os direitos da Coroa e das Ordens Militares, designadamente nos assuntos ultramarinos, jurisdicionais, direitos de propriedade, uso de hábitos, etc.

358

P-414 [327] Relação das commendas das Tres Ordens Militares, que no Tribunal da Mesa da Consciencia e Ordens se hão de por em Praça no dia cinco do corrente mez de Maio, e nos seguintes até 31 do sobredito mez, a fim de se arrematarem por tempo de tres annos, na forma de Reaes Ordens, e Com as condições do estilo. Lisboa, Na Impressão Regia, anno 1831, com licença 1 folha impressa.

P-415 [461] Relação das Commendas, e Alcaidarias Móres das Tres Ordens Militares, que se arrematarão no Tribunal da Mesa da Consciencia e Ordens, em o corrente anno de 1832, com a declaração dos preços 359

dos respectivos Contratos, tempo da sua duração, e vantagem resultante para Real Fazenda, pelo accrescimo do rendimento das mesmas Commendas, e Alcaidorias Móres, em comparação com o termo medio dos seus ultimos rendimentos 4 folhas impressas. Publicadas pelo Visconde de Manique do Intendente, Lisboa, Impressão Régia, 1832

P-419 [311] Breves apontamentos em que se indicaõ os principaes fundam[en]tos da Exempção da Jurisdicção Ordinaria de que gozão as Ordens Militares de Portugal. 7 folhas. Assinaturas ilegíveis. Organizados do seguinte modo: 1. Algu[m]as [5] premissas. 2. Primeira Parte Da Exempção das Ordens ate o tempo Do Concilio de Terento [sic]. 3. Segunda Parte de Estado em q[ue] as ordens ficaraõ depois do Concilio Tridentino.

P-420 [314] Decretos, consultas, ordens régias e papéis da Mesa da Consciência e Ordens, fornecendo uma cronologia sucinta da história das Ordens militares [ca. 1630-1658] 360

56 p., numeradas 1-98, mas faltando p. 45-72; 82-91 e 94-97. Assinaturas ilegíveis.

P-421 [318] Ensaio acerca das Ordens militares 75 folhas. Assinaturas ilegíveis. Séc. XVII. Trata da distinção entre autoridade eclesiástica e temporal investida no rei e reflectida nas Ordens. No Reportorio Historico faltam alguns capítulos.

P-425 [330] Sendo hum dos principaes deveres do meu Officio promover a boa arrecadação dos rendimentos das Commendas vagas [ca. 1775] [17] folhas. Assinaturas. Documentos relativos à administração de comendas. O nome Campos ocorre na última folha.

P-482 [325] Cópias de cartas de Reis portugueses, relativas a direitos e privilégios das Ordens Militares 7 documentos. Inclui: 1. Cartas de D. Afonso II, em latim, 1215 e 1217. 2. Carta de D. Filipe, 5 de Abril de 1604. 3. Cartas de D. Catarina, 3 e 6 de Dezembro de 1558. 4. Carta de D. Sebastião, 9 de Julho de 1574. 5. Carta de D. Filipe, Fevereiro de 1601.

P-483 [329] Decretos e Consultas Régias respeitantes às Ordens Militares [ca. 1442-1803] 5 documentos, 10 folhas, 1 dobrada. Cópias.

P-487 [372] Certidões de profissão como cavaleiros 2 folhas dobradas, em mau estado. Certidão da profissão como cavaleiro de Luís da Gama Lobo, na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Lisboa, 18 de Novembro de 1691. Inclui atestado de bom carácter, uma carta régia e um atestado de Frei João Lourenço Chaves, que realizou a ordenação, subscrita por si e por outras testemunhas. Inclui ainda certidão da profissão de Manuel José de Távora Pimentel Castro e Lemos Zagalo Saltão, em Lisboa, 1752.

361

P-495 [328] Decreto Real, 30 de Setembro de 1616 [2] folhas. Cópia. O decreto determina que as comendas adjudicadas aos descendentes em vida do comendador original devem ser registadas na Mesa da Consciência no prazo de dois meses, sob pena de serem consideradas nulas e vagas.

P-540 [335] Bispo de Miranda Carta para Diogo [de] Mendo[n]ço [sic] Corte Real, Miranda, 1 de Agosto de 1720 1 folha. Diogo de Mendonça Corte Real foi Secretário de Estado de João V. A carta versa assuntos paroquiais relativos à comenda velha de Santa Maria de Castelo Branco, bem como às comendas de Vinhais e Chacim (Bragança).

362

P-557 [467] Resposta do Presid[ent]e in Capita.

363

62 folhas, não encadernadas. Sumários e cópias de cartas, provisões, etc., sobre assuntos jurisdicionais e administrativos do Convento de Tomar, 13441820.

P-558 [321] Notas miscelâneas copiadas das memórias das Ordens Militares, incluindo alvarás, requerimentos, provisões, etc., ca. 1602-1821 39 documentos.

P-559 [317] Escrivaõ das Arrematações e Tombos das Commendas Vagas [7] folhas, numa pasta com o título "Sobre o officio dos Arremataçoens de Commendas". Cópias de cartas e decretos régios sobre arrematações de comendas vagas e o emprego de deputados no ofício, datadas de 20 de Dezembro de 1776 a 4 de Junho de 1825.

P-569 [172] Dom Dinis, rei de Portugal (1261-1325) Carta do Snr. Rey D. Diniz, porq mandou fazer entrega dos bens rendas e direitos q[ue] foraõ da Ordem do Templo a D. Gil Martins 364

primeiro Mestre da Ordem de Christo no anno do Nascim.to de Christo de 1319, da era de Cezar de 1357 1 folha. Cópia.

P-586 [305] Documentos, notas e fragmentos de documentos relacionados com a Mesa da Consciência e Ordens, ca. 1796-1828 37 documentos, muitos não datados. Miscelânea consignando documentos pagamento de títulos e notas históricas.

relativos

às

Ordens

militares,

P-590 [137] [Publica-forma estipulando o pagamento de uma mesada aos freires egressos a partir das rendas do Convento de Cristo, Lisboa, 12 de Maio 1812] 2 folhas, subscritas por Manuel Joaquim Ribeiro Freire e Fr. D. Silvério de Alarcão Velasques Sarmento, "guarda-mor do arquivo".

365

NOVELAS DE CAVALARIA MANUSCRITAS

P-58 [220] Segunda parte da História da Grécia. Na qual se da conta dos valerozos feytos do Principe Belifloro, e de D. Belindo Principe de Portugal, e de outros que concorrerão naquelles tempos 2 livros em 1 v.; 129-160 folhas. Encadernação em pele. Na lombada: Historia da Grecia. Tomo II, cópia de finais do século XVIII. É constituído por 48 capítulos. O manuscrito oitocentista da BN [cod. 6037] consigna os capítulos 26 a 48 da novela, servindo de continuação ao manuscrito setecentista da Biblioteca da Universidade de Utreque, o qual reproduz os primeiros 25.

366

P-59 [221] Terceira parte da chronica do Emperador Beliandro de Grecia e dos heroicos procedimentos de todos os Principes q[ue] na sua corte se criarão. 223 folhas. Encadernação em pele. Na lombada: Historia da Grecia. Trata-se do tomo III, cópia de finais do século XVIII.

367

P-152 [124] Chronica do emperador Beliandro. 1ª parte em que se dá conta das obras e valerosos feitos de seu Filho o Principe Belifloro e do Principe Dom Belindo Filho do muito alto e poderozo Rey de Portugal, e de outros esforçados cavalleiros. Dedicado ao excelentissimo senhor Dom Antonio Estevaõ da Costa e Souza 284 folhas. Encadernação em pele. Na lombada: Chronica do Imperador. Marca de posse: "Este Libro he do Marquez de Niza". Esta primeira parte é constituída por 48 capítulos e o volume dedicado por Manuel de Madureira Lobo a "Dom António Estevão da Costa e Souza, Armador-Mor de S. Magestade, P. de Peroasu e Gigoaripe no Estado do Brazil, Comendador da Comenda de S. Vicente da Beira, Póvoa e Tinalhas, 15 de Junho de 1692”. Novela conhecida por qualquer dos seguintes três títulos: Crónica do Imperador Beliandro, História Grega ou Crónica de D. Belindo. Continuação directa do ciclo do Palmeirim, em quatro partes (cf. Aurelio Vargas DiazToledo). A sua suposta atribuição a D. Leonor Coutinho funda-se em Barbosa Machado, D. António Caetano de Sousa e D. Vasco Luís da Gama (Carta, 12 Set. 1649), sendo, no entanto, infirmada por passagem do Hospital das Letras de D. Francisco Manuel de Melo, o qual a atribui a D. Francisco de Portugal, 3º Conde de Vimioso. Inocêncio (v. 5, p. 178-179), informado da existência em Setúbal, na posse de um particular, de um manuscrito in folio, intitulado Chronica do Imperador Beliandro, em que se dá conta das obras maravilhosas e das gloriosas façanhas que no seu tempo obrou o príncipe Bélifloro seu filho, e de Belindo, príncipe de Portugal, e outros muitos cavalleiros, ficou convicto de que se tratava da obra em apreço, questão que, todavia, nunca logrou esclarecer cabalmente. Na década de 1960, a Biblioteca da Universidade de Utreque adquiriu dois manuscritos reproduzindo a primeira e a segunda partes do que se crê constituir a continuação do ciclo. A Biblioteca del Cigarral del Cármen, de Toledo, possui também um manuscrito consignando esta novela [TO BI. 2-U3 NR 608]. Manuscritos conhecidos em Portugal: ACL: ms. 24 (série vermelha): BN: cod. 6482; cod. 8385; cod. 8871; cod. 9269; cod. 9807; cod. 343; cod. 344; cod. 345; cod. 346; cod. 11010; Tarouca: AT 275; ANTT: manuscritos da Livraria, cod. 875; cod. 877; cod. 1200; cod. 1761; cod. 1763; cod. 1918; BA: 46-VIII-45; BPMP: cod. 23; cod. 42; cod. 548; cod. 1336; ADB: ms. 102; ms. 103; ms 104; BPE: Gab. E 5-C 2 d. Nº 11 (104), 73-8 (fragmento); BPVV: LXXIV; LXXV; LXXVI; LXXVII.

368

369

370

COLECÇÃO PORTUGUESA I e II da BIBLIOTECA DO CONGRESSO Livros Maçónicos

Desde sempre a Franco-Maçonaria se tem autoproclamado como uma sociedade fraternal, filantrópica, ecuménica e transnacional, promotora de um elevado padrão moral entre os seus membros, da caridade, da tolerância e do respeito pela generalidade dos cultos e das crenças religiosas. De facto, a Franco-Maçonaria encarna todos esses valores, mas, decerto, não se esgota neles. É indiscutível que a demanda da palavra perdida, que constitui o cerne da actividade maçónica, é uma preocupação partilhada quer por outras sociedades com motivações metafísicas, quer até por escolas de pendor racionalista. A resposta às perguntas radicais, Quem Sou? - De onde venho? - Para onde vou?, que todas, de um modo ou de outro, procuram, estão na origem de uma vasta panóplia de disciplinas, as quais, alegadamente, hão-de dotar os respectivos adeptos de uma capacidade acrescida para penetrar mais intimamente no imo da natureza humana. O que então, supostamente, tornará sui generis a FrancoMaçonaria relativamente às suas émulas? Consabidamente não serão os antecedentes que ela própria para si ou terceiros a seu favor têm reivindicado. Com efeito, para a legitimar têm sido invocadas as mais díspares origens. Sempre houve maçons, e também antimaçons, dispostos a arvorar teses a tal propósito. Seja como for, os primórdios da Franco-Maçonaria continuam obscuros, porventura intencionalmente obscuros. É que, apesar dos esforços da generalidade dos intervenientes nessa interminável discussão, nunca foi possível encontrar um único elo credível capaz de fundamentar seriamente qualquer das filiações propostas. Uma das mais glosadas sustenta a ascendência nas guildas mecânicas dos construtores medievais, alegando a similitude das práticas consagradas por ambas as sociedades e a aparente correspondência do sentido metafísico delas, ainda assim descontada 373

a circunstância de numa, a Franco-maçonaria tradicional, profissional e operativa, a progressão de aprendiz a mestre se realizar mediante efectivas provas prestadas de competência profissional, enquanto na outra, a moderna, composta por livre-pensadores e especulativa, se preferir a mera cooptação para angariar novos prosélitos. Porém, também esta filiação enferma das dificuldades fundamentais sentidas pelas outras. Existe, no entanto, uma hipótese pouco divulgada, trazida à ribalta e explorada por Frances Yates em várias das suas obras, que creio merecer uma atenção especial, porquanto é, até à data, a única instância interpretativa que, consistente e concomitantemente, oferece resposta para duas questões cruciais, a saber: de quem, efectivamente, terá herdado a Franco-Maçonaria, o sistema filosófico-metafísico que adoptou e por que razão foi a Inglaterra o seu berço institucional, em 1717? De acordo com a supracitada investigadora britânica, o contexto ideológico no seio do qual a Franco-Maçonaria se originou enxerta no neoplatonismo humanista do Renascimento e na consequente valorização da tradição hermético-cabalística que em nenhuma outra parte da Europa se mantivera tão viva e actuante, quanto em Inglaterra, durante a segunda metade de quinhentos (Giordano Bruno visita Oxford, em 1583) e toda a centúria de seiscentos, bastando citar, a título de exemplo, como seus expoentes destacados John Dee, Francis Bacon e Robert Fludd. Na perspectiva do Hermetismo, o cosmos, para além do limiar dos fenómenos físicos e do mundo material, comporta outras esferas não acessíveis à percepção ordinária, mas igualmente parte integrante do mesmo cosmos. Ora, tais pensadores, preocupando-se mais com o quid sit Deus (a essência do Divino) do que com o an sit Deus (a existência de Deus), participavam do corpo doutrinário hermético-cabalístico, o qual, tendo subjacente uma cosmogonia, uma cosmologia e uma escatologia, pretenderam elucidar, tanto por via da sua própria reflexão, quanto por intermédio de uma iluminação interior, inevitável fonte de regeneração individual. Justifica-se-à, nesta conformidade, a ênfase posta pela FrancoMaçonaria na iniciação, na busca da Verdade para além dos dogmas oficiais e na insistência no tema do Reino vindouro da Igreja invisível,

374

suplantando a material (por razões óbvias tão comprometida na condenação do maçonismo). Na senda dessa visão, e à imagem das escolas mistéricas tradicionais, a Franco-Maçonaria providencia a instrução sobre as aludidas esferas, bem como acerca das leis pelas quais se regem, mediante a participação do candidato em dramas rituais, escalonados em sucessivos graus de aprofundamento. Um tal método de transmissão do conhecimento, envolve, necessariamente, uma forte componente simbólica, estruturada e codificada de molde a preparar os praticantes para a consonância com princípios metafísicos de índole universal, permitindo-lhes, pelo menos em teoria, vivenciar globalmente o cosmos. Para alcançar um tal desiderato, e não obstante a FrancoMaçonaria constituir hoje uma fonte de curiosidade desmedida por parte dos profanos (mercê, designadamente, dos escândalos e atitudes censuráveis não apenas do ponto de vista maçónico, por parte de alguns dos seus membros destacados ou não), só lhe granjeará vantagens a circunstância de as suas actividades continuarem a ser conduzidas de forma discreta. O texto supra foi transcrito de A Maçonaria exposta, introdução ao catálogo Colecção Maçónica Pisani Burnay 164, cuja elaboração me foi cometida por Eduardo Geada, na sua qualidade de Administrador Delegado da Quinta da Regaleira (Fundação CulturSintra). A realização concomitante de uma Exposição de grande número de artefactos e bibliografia maçónicos (e anti-maçónicos!), reunidos por Pisani Burnay, distinto maçon e coleccionador 165, deu aso a que o argumento de que a Regaleira era uma Mansão Maçónica, mais se divulgasse, adquirindo foros de dogma. Convém salientar, no entanto, que tal dogma não se impôs tacitamente, na sequência da (para alguns) providencial aquisição da propriedade pelo município sintrense. Na realidade, esse dogma emergiu de uma campanha de marketing, gizada magistralmente e orquestrada, dentro e fora das fronteiras nacionais, por um lobby

164 165

Sintra, 2000. Manuel J. Gandra, Colecção Maçónica Pisani Burnay, Sintra, 2000.

375

maçónico em ascensão 166, não dispondo de uma sede condigna, mas perseguindo activamente esse desiderato. É evidente que a impreparação da autarquia no que concerne ao enquadramento histórico e iconológico da Regaleira, bem como a atitude de desdém, seria mais adequado chamar-lhe menosprezo, por parte da historiografia de arte, ambas não garantindo, atempadamente, um discurso consentâneo com a índole não convencional do conjunto, fez o resto. E, não obstante, a Quinta da Regaleira, hoje tão celebrada enquanto alegada Mansão Maçónica, não contempla no seu programa iconográfico nenhum dos símbolos consabidamente creditáveis à maçonaria.

Delta-radiante da capela da Santíssima Trindade da Quinta da Regaleira, aposto sobre resplendor e Cruz de Cristo Dando de barato os reiterados anacronismos produzidos pelos proponentes da tese maçónica, nenhuma das fontes alegadamente apontadas como determinantes na concepção e desenho da propriedade constou da tão bem apetrechada biblioteca de António Augusto Carvalho Monteiro, o que não deixa de ser, concomitantemente, paradoxal e sintomático. 166

376

Deltas-radiantes na igreja matriz de Nisa e na catedral de Santiago de Compostela Simbolismo maçónico em templos católicos? Não, de todo. Os símbolos migram, surgindo em contextos distintos, eventualmente com o mesmo sentido (Trindade dos princípios divinos).

377

São distintas as suas fontes de inspiração, de facto 167, porém, o grau de intoxicação atingiu tais proporções que não é frequente encontrar-se alguém com capacidade para discernir entre o que é catequese e o que releva do bom senso. No caso vertente, o bom senso mandaria que se escrutinassem minuciosamente as opções ideológicas do proprietário e do arquitecto que aquele elegeu para seu cúmplice. Que se revolvessem até à exaustão todas as fontes de informação credíveis, incluindo as bibliotecas e objectos pessoais dos protagonistas deste intrigante, mas igualmente fascinante, caso de estudo. E o que se tem feito, salvo em circunstâncias excepcionais? Uma vez preparado o argumento à exacta medida das paralaxes propagandísticas, tem-se conservado em lume brando, adicionando, de quando em vez, algum condimento susceptível de prolongar o mais possível a cozedura, sem a preocupação de averiguar previamente se a receita final é digerível…, ou intragável. E tudo isso à custa da curiosidade e da boa-fé de uma multidão de famintos, carentes de alimento espiritual, os quais, sentindo-se órfãos de um Evangelho caduco, creem ter descoberto outro, contraponto daquele incapaz de responder aos seus anseios mais profundos e desígnios mais nobres. Convém recordar que António Augusto Carvalho Monteiro, católico confesso, professou um cristianismo gnóstico, nos antípodas dos ideais maçónicos, sendo de descartar, liminarmente, qualquer hipótese de uma filiação na Franco-Maçonaria 168. A sua biblioteca pessoal é um testemunho insofismável do desinteresse que votava ao tema.

Cf. Manuel J. Gandra, A Quinta da Regaleira, legado Sebástico-Templarista de António Augusto Carvalho Monteiro, Mafra, 2012; Cebes de Tebas, Tábua ou Quadro da Vida Humana (tradução de António Teixeira de Magalhães, Introdução e notas de Manuel J. Gandra), Mafra, 2012. 168 O nome de António Augusto Carvalho Monteiro não consta (nem tão pouco o de Giuseppe Manini) de nenhum dos ficheiros de quaisquer das obediências maçónicas portuguesas ou brasileiras activas durante o período correspondente ao da sua vida (1848-1920). Cf. M. Borges Grainha, História da Franco-Maçonaria em Portugal (1733-1912), Lisboa, 1913; Oliveira Marques, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, Lisboa, 1986, 2 vols.; Joaquim Gervásio de Figueiredo, Dicionário de Maçonaria, S. Paulo, 1978. 167

378

O catálogo que apresento, relativo ao insignificante núcleo bibliográfico (13 obras), saído de um acervo que ultrapassava os 33 mil títulos, exige duas clarificações: Não poderá dar-se o caso de existirem mais obras de índole maçónica, ainda não referenciadas, no acervo de Carvalho Monteiro adquirido pela Biblioteca do Congresso, uma vez que se desconhece o teor de uma parte significativa da segunda aquisição (1929)? 169 A resposta é negativa, porquanto os livros sobre Maçonaria e afins (bem assim como outros temas não relevantes neste momento) têm, consoante as normas biblioteconómicas vigentes na Biblioteca do Congresso, tratamento privilegiado e prioritário, não aguardando catalogação durante muito tempo. Ora desde a aquisição, em 1929, decorreram 83 anos... A colecção em apreço inclui uma obra impressa em 1924, a qual só poderia ter sido ali inserida por Pedro Carvalho Monteiro, uma vez que seu pai falecera em 1920. Poderá inferir-se daí que todos os demais títulos (à excepção dos dois anti-maçónicos, transitados da biblioteca O.P.L.) 170 procedem da mesma origem? 171

Cf. Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história, Mafra, 2012. 170 Cf. Ob. cit. e Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história e catalogação, Mafra 2011. Trata-se do Relatório realizado para a Fundação CulturSintra. Consigna, além de umas quantas rectificações, o cotejo das espécies bibliográficas elencadas na Lista dactilografada por Miss Campbell com o respectivo estado e classificação actuais (incluindo cotas / call numbers). Aguarda publicação. 171 No lote da 2ª aquisição (1927) seguiram alguns livros impressos em datas posteriores a 1920. Do período compreendido entre 1921 e 1925, apurei cerca de uma dezena, sem o intuito de ser exaustivo. 169

379

Acerca do presente Catálogo e das normas adoptadas para a sua organização O presente catálogo não visa a descrição biblioteconómica e codicológica das espécies elencadas, mas tão-somente referenciar a sua existência, registando todos os detalhes considerados relevantes no que lhes concerne.

380

Catálogo dos Panfletos Portugueses da DCL: os nº 1669 a 1673 são brochuras de índole maçónica.

381

Boletim Official do Grande Oriente Lusitano Unido, s. 3, n. 4 (Jul. 1880) [DCL: Panfleto 1672]

382

BOTTO-MACHADO, Fernão A Maçonaria e a Sociedade das Nações (Tese apresentada ao Congresso Maçónico de 1924), Lisboa, Tipografia do Grémio Lusitano, 1924 [DCL: Panfleto 1673]

383

Constituição e regulamentos geraes da Ord. Mac. No Brasil. Promulgados pelo Gr. O. Do Brasil, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, 1842 [DCL: 4HS 162 FT MEADE]

384

[COUTO, António Maria do] Palmatoria contra Pedreiros-Livres, refutação á Herética Pravidade de seus Modernos escriptos e á Introducção do Manifesto do Grande Oriente Lusitano por o Censor Profano, Lisboa, Impressão de Alcobia, 1821 [O.P.L. / DCL: HS639.A5 C6]

385

[DIAS, Miguel António] Historia da Franc-Maçonaria ou dos Pedreiros Livres pelo author da Bibliotheca Maçónica […], Lisboa, Tipografia de F. A. da Rocha, 1843 [O.P.L. / DCL: HS403.D5]

386

GAYOZO, Ignacio Xavier Divertimento em forma de Analysi, sobre a Analysi dos Cathecismos dos Pedreiros Livres […], Lisboa, J. B. Morando, 1823 [O.P.L. / DCL: BX1751.G35]

387

G. O. de France – Solstice d’hiver 5839 – Procès Verbal de la Fête de l’Ordre, célébrée par le G. O. De France le 22 Jº du 10e mois lunaire (Thebet), l’an de la V. L. 5839 (27 Decembre 1839, ère vulg[ai]re), O. De Paris, Veuve Dondey-Duprè, 1840 [DCL: Panfleto 1670]

388

Guide des maçons ecossais, ou Cahiers des trois grades symboliques du rit ancien et accepté, Edimburgo, [s. d.] [DCL: 4HS 111 FT MEADE]

389

Mitglieder-Verzeichniss der unter Constitution der Hochwürdigsten Grossen Landes-Loge der Freimaurer von Deutchland in Berlin arbeitenden ger. verb. und vollk St, Joahnnes-Loge gennant Glück zur Brudetreuer zu Waldenburg gestiftet den 31. Mai 1847, [s. l.], 5850 [1847] [DCL: Panfleto 1671]

390

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Primeiro Grão Aprendiz, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6F74.1837 (encadernado com os dois seguintes)]

391

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Segundo Grão Companheiro, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6F74.1837 (encadernado com o anterior e com o seguinte)]

392

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Terceiro Grão Mestre, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6 F74.1837 (encadernado com os anteriores)]

393

ROSÁRIO, J. M. do Instrucções para os Sublimes Capítulos dos Sublimes Principes de Heredom e de Kilwinning, Cavalleiros da Águia e Perfeitos Maçons Livres com o titulo de Rosa-Cruz do Rito Escocez Antigo e Acceito para o Império do Brazil, recopiladas dos melhores Authores e offerecidas ao I. Cav. R+, F. de Paula Brito, pelo seu amigo […], Grau 30, Rio de Janeiro, Tipografia Imparcial do Ir. F. de P. Brito, 1838 [DCL: Panfleto 1669]

394

MANUSCRITOS e ICONOGRAFIA

com interesse para a biografia e actividade mecenática, editorial e literária de António Augusto Carvalho Monteiro

Nota preliminar – Às cotas dos manuscritos, ou Call Number de cada documento - P-XXX - foi acrescentado o número de ordem [YYY] constante do Guia da Colecção organizado por Christopher Lund (Washington, 1980): PXXX [YYY].

P-130 [108] Luís António Alves de Carvalho Júnior Memorias, 1839-1875. [165] folhas. Na lombada: Manuscriptos. Memorias 1. Diário e caderno de anotações de Luís António Alves de Carvalho, primo de AACM e também ele entomólogo amador. A maioria das entradas foi redigida no Rio de Janeiro e Petrópolis no período compreendido entre 1874 e 1875. A entrada final acha-se datada do dia 26 Março 1875. Há referências avulsas a eventos anteriores a 1873. Tem junto diversos recortes de jornais brasileiros.

P-181 [80] Luís de Camões (1524?-1580) Les Lusiades de Camoens. 156 folhas. Na lombada: Les Lusiades de Camoens. Traduction par H. Garin Na folha de guarda lê-se: "Este manuscripto autographo q serviu em 1889 para a composição typographica da versão franceza d'Os Lusíadas, publicada por Jacintho Garin fica desde hoje pertencendo ao Dr. Antonio Augusto de Carvalho Monteiro em comemoração do dia d'amanhã 329º do ingresso de Luís de Camões nas glorias da immortalidade. Lisboa, 9 de Junho de 1909, Xavier da Cunha". A tradução iniciada ainda o tradutor era adolescente, só havia de ser dada por concluída volvidas cerca de cinco décadas.

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P-217 [9] João Baptista de Silva Leitão de Almeida Garrett, 1º visconde de Almeida Garrett (1799-1854) Cópia de carta remetida ao Sr. Chevalier de St. Robert, representante diplomático francês, Lisboa, 19 Agosto 1852. 10 folhas. Caderno de anotações. A carta reporta-se à negociação do Tratado Comercial entre Portugal e a França e ao papel desempenhado por Garrett no processo, na sua qualidade de Ministro dos Negócios Estrangeiros. O autor confessa que tais negociações "motivaram a minha sahida do ministro". Acompanha a carta, uma notícia em francês a propósito do centenário do "Grande poete portugais J. B. d'Almeida Garrett," remetida a AACM, solicitando-lhe que anuísse à subscrição da tradução francesa de La Jeune Fille aux rossignols, de Garrett.

P-259 [410] Maria Perpetua Pereira de Mello e Perpetua Augusta Pereira de Mello Recordações de Viagem Album de flores secas com anotações sobre lugares e eventos onde as flores foram colhidas, durante os meses de Junho e Julho de 1871. Dedicado ao pai de ambas. [8] folhas. [8] folhas. Encadernado em cetim e papel rendilhado. Possui caixa com fechos na qual se lê: Recordações de Viagem. [Fotografia integral].

398

399

P-339 [75] Luís de Camões (1524?-1580) Papéis relacionados com a venda de uma edição especial de Os Lusíadas com comentários castelhanos de Manuel Nunes Godinho, datados de Outubro de 1883 a Fevereiro de 1886 19 documentos (cartas, contrato e recibos). Manuel Nunes Godinho foi calígrafo, tendo seu filho, Domingo Nunes Godinho, contratado com AACM a realização de uma cópia única do trabalho do pai. Além disso, Domingos Nunes Godinho copiou ilustrações e desenhos destinados a uma edição especial da Obra de Camões, patrocinada por Carvalho Monteiro.

P-353 [413] Manuel Pereira Peixoto de Almeida Carvalhais As annotações [...] de um catalogo [...] referentes especialmente a "librettos" de "operas" e de "bailes" camonianos [...]. 30 de Abril de 1903. 11 folhas, com capa em papel. Elenca 171 documentos. Dedicado "ao sábio e incansável Camonianista [...] Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro".

400

P-363 [90] Luís de Camões (1524?-1580) [Os Lusíadas. Canto V, 37-60] Adamastor. Tradução italiana de Próspero Peragallo, 17 Agosto 1897. 1 folha dobrada, 28 folhas. Dedicado a António Augusto de Carvalho Monteiro e acompanhado por um hológrafo. Comentários subscritos por Xavier da Cunha, o qual compara o feito de Vasco da Gama, (navegando além do Cabo da Boa Esperança) à descida ao Inferno de Dante. Acrescenta: “[…] estas breves linhas preliminares com que o Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, editor da presente publicação, permitiu e me ordenou que eu tivesse a honra de acompanhá-la”. Próspero Peragallo viveu alguns anos em Lisboa “paroquiando a italiana igreja do Loreto”. Xavier da Cunha, médico, poeta e bibliógrafo, notabilizou-se pelo seu interesse pela obra de Camões.

P-364 [69] Luís de Camões (1524?-1580) [Os Lusíadas] 401

Autographos-originaes da familia Real Portuguesa pª a edição manuscripta dos Lusíadas. 6 documentos. Inclui autógrafos de: 1. D. Carlos, rei. 2. D. Amélia, rainha. 3. D. Maria Pia, rainha viúva. 4. D. Luís, príncipe. 5. D. Manuel, infante. 6. D. Afonso, infante. O pacote contendo os autógrafos está dirigido a A. A. de Carvalho Monteiro.

P-427 [77] Luís de Camões (1524?-1580) [Os Lusíadas] Estância de Os Lusíadas 1 folha. 402

Hológrafo de Carvalho Monteiro. Destinado à "Grande edição manuscripta [de Os Lusíadas]”· O manuscrito começa: "Vês aqui a grande machina do mundo”.

P-427 [113] António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920) Versos de Os Lusíadas com a sua assinatura. 1 folha. Destinados à Grande edição manuscrita dos Lusíadas.

P-429 [212] Branca de Gonta Colaço (1880-1945) Poetas d'Hontem (Conferencia realisada na Sede da Liga Naval, na tarde de 22 de Maio de 1914). 45 folhas e p. 2-14 de uma lista alfabética de poetas, fornecendo dados biográficos sobre cada um deles. Manuscrito dedicado "Ao Illmo e Exmo. Snr. Dr. Carvalho Monteiro, que tão amavelmente se quiz incumbir da edição d'esta pequena obra [...]". Seria impresso em 1915.

P-463 [93] Luís de Camões (1524?-1580) [Rhythmas] Pretidão de Amor. 594 p. Contém muitas páginas adicionais. A obra foi editada por Xavier da Cunha, em Lisboa, na Imprensa Nacional (1895), com o título: Pretidão de amor; endechas de Camões a Barbara escrava, seguidas da respectiva traducção em várias línguas e antecedidas de um preâmbulo [DCL: PQ9196.Z8E6 1895]. Dedicado a Vicente Rodrigues Monteiro, filho de Gaspar José Monteiro e "amigo intimo do Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro".

P-464 [155] Xavier da Cunha (1840-1920) Um soneto de Camões imitado por um poeta castelhano. [26] folhas [reprodução do rosto]. Carta datada 29 Maio 1889, assevera que Xavier da Cunha oferece a AACM um manuscrito único em vez de uma obra impressa rara. O autor discorda da opinião exposta por Teófilo Braga segundo a qual o soneto espanhol, imitando os de Camões, poderia ter sido escrito por Filipe III. Junto, acham-se duas cartas remetidas a Carvalho Monteiro sobre a impressão da "Segunda brochura Camoniana" (30 Julho 1886), e as traduções para língua inglesa de Camões pelo Reverendo Canon Pope e por Roberto French Duff (7 Março 403

1895). A carta de Canon Pope tem junto uma página com correcções tipográficas.

P-465 [109] António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920) Dedicatórias que lhe foram endereçadas. 3 documentos. [24] folhas [Reprodução integral]. Inclui: 1. Ao Illmo & Exmo Sr. Dr. Antonio Augusto de Carvalho Monteiro offerece o traductor, J[osé] Benoliel. Lisboa, 29 Março 1897 (9 folhas). 2. Au Mecenas Lusitanian. 1 p. Texto em francês e catalão ou provençal. Porcheres, 17 Julho 1897, em honra de Xavier da Cunha e Carvalho Monteiro.

3. Poema a Carvalho Monteiro por J. Benoliel e notas num manuscrito (2 folhas dobradas) previamente enviado ao destinatário.

404

P-466 [280] Abílio Maia Documentos para a história do folheto Três Centenários de Abílio Maia, publicado no Porto em Abril de 1883. 8 documentos. Facturas, telegramas e cartas relativas à edição desta obra sob o patrocínio de AACM. Foram impressas duas edições, ambas constantes do acervo da Biblioteca do Congresso [DCL: PQ9261.M346 T7 1883 e PQ9261.M346 T7 1883a].

P-467 [112] António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920) Papéis e correspondência. 8 documentos. Inclui: 1. Carta de Luís Alberto Corte Real remetida a um agente imobiliário a propósito das reparações necessárias no número 97 de São João da Mota, imóvel propriedade de Carvalho Monteiro, 16 Janeiro 1905. 2. Carta de seu primo, Luís Carvalho, sem data. 3. Carta de Higgenbach Stehlin, Basileia, 19 Janeiro 1883; destinatário não nomeado. 4. Nota de AACM, eventualmente destinada a Pareto, Petrópolis, 25 Maio 1874.

5. Carta dirigida a "Minha Tia e Sr.ª” remetida por familiar de Carvalho Monteiro, não datada; junto tem uma página com anotações procedentes da Mesa da Consciência. 405

6. Carta em espanhol, subscrita "Carlos", remetida ao conde de Atalaia, 1883. 7. Escritura e outros documentos nos quais António Augusto de Carvalho Monteiro é procurador dos compradores de uma propriedade na Praia de Flamengo, no Rio de Janeiro, 1916.

[DCL: P-467 [112] 7] 8. Cartões de visita de Augusto Pigarra, De Seyn-Verhougstraete, e do visconde de Souza Prego (com moldura preta, em sinal de luto).

P-468 [111] António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920) Correspondência literária, 1881-1918. 21 documentos. Inclui: 1. Carta de Eduardo Lemos, presidente do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, 30 Agosto 1881. 2. Carta de Francisco de Paulo Santa Clara, Elvas, 29 Junho 1882. 3. Carta de J. T. de Sousa Martins, 29 Janeiro 1884. 4. Carta para o “Cavalheiro A. J. Viale,” remetida por Fran. co de Paz, Rio de Janeiro, 3 Maio 1888. 5. Quatro cartas e um cartão de Francisco Gomes de Amorim, Abril e Maio 1890. 6. Cartas de José António Alves Viana, Porto, 20 e 23 Março 1890. 7. Carta de João Bonança, Lisboa, 1 Maio 1890. 8. Carta de Manoel Duarte, 11 Junho 1898, incluindo um exemplar impresso da sua Resposta ao Suplemento do Snr. Affonso Costa, defendendo Pascoal José de Mello Freire, e um exemplar de Sophismas, contradicções, e vaidades.

406

[DCL: P-467 [112] 7] 407

[P-468 [111] 1]

9. Carta de A. Mascaro, “Medico-Oculista,” Lisboa, 18 Setembro 1899, relativa a matéria camoniana e sobre a sua invenção de uma máquina de escrever 408

também destinada a invisuais e que, além da grafia convencional, podia escrever música.

10. Carta de J. Francisco Grith, 7 Novembro 1907.

409

11. Três comunicações da Società Luigi Camoens em Nápoles, 21 Abril, 20 Novembro 1907 e 18 Março 1909.

410

12. Nota de Carolina Michaëlis de Vasconcellos, Porto, 5 Janeiro 1909. 13. Carta de José António Bentes, 30 Julho 1910. 14. Carta relativa a um número da Illustração e duas outras publicações, sem data e subscrita por assinatura indecifrável. 15. Carta de Branca de Gonta Colaço, Lisboa, 26 Novembro 1918.

411

Diversas missivas referem-se a edições camonianas patrocinadas por AACM, algumas consignando as datas de recepção e de resposta.

P-469 [278] Teixeira Machado Lyra intima. “Ao talentoso protector das letras, Senhor Doutor António Augusto de Carvalho Monteiro, off. e dedica estes ineditos o autor. Lisboa, 1 Setembro 1915”. 9 folhas. Sonetos.

P-470 [55] Floriano de Brito A Cadeirinha de Floriano [de Brito] (Copiado do Braz Cubas, Revista no Rio de Janeiro [...] de 25 de Abril de 1918). 1 folha [Reprodução]. Numa nota lê-se: “Offerecido ao Illmo Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro”.

412

P-471 [408] Padre Próspero Luís Peragallo (1823-1916) Congratulazione dei Cani Al excmo Signore Dott[ore] Antonio Augusto de Carvalho Monteiro. Omaggio Sincero dell'amico traductore Peragallo. Lisboa, 6 Julho 1893. 10 folhas. Junto tem a "Colleção de versos ineditos de poesia portugueza", a qual integra poesias de Bernardim Ribeiro, Bocage, Tolentino, João de Lemos, Júlio de Castilho, José de Sousa Monteiro, João de Deus, Camilo Castelo Branco, Luís Guimarães, Maria Amália Vaz de Carvalho, Fernandes Costa e Alfredo Avelar, em Italiano. 20 folhas. Oferecido a Carvalho Monteiro "em testemunho de gratidão e de respeito profundo [...] como demonstração modesta do muito que quere [sic] a Portugal". Lisboa, 24 Dezembro 1890.

P-476 [110] António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920) Correspondência recebida. 6 documentos. Cartas datadas de Janeiro e Fevereiro 1883, remetidas por José Monteiro Pinto Ramos, Tito de Noronha, Augusto Rocha, Joaquim de Vasconcelos, Augusto Mendes Simões de Castro, e J. J. Pereira Caldas, acusando a recepção de exemplares de Estancias e lições desprezadas e omittidas por Camões, por José Augusto Nazareth, as quais Carvalho Monteiro fez imprimir após a morte de Nazareth, em 1883, numa edição de trinta exemplares. O exemplar com o número 21 (Luís de Camões, Estancias e lições desprezadas e omittidas [Coimbra: Casa Minerva, 1881-i.e., 1882]) integra o acervo da Biblioteca do Congresso [DCL: PQ 9198.A5 1882].

413

P-479 [479] Francisco d'Azevedo Teixeira d'Aguilar, conde de Samodães (18281918), Presidente da Sociedade Nacional Camoniana. Carta para António Augusto de Carvalho Monteiro, Porto, 22 Agosto 1903. 1 folha. O conde de Samodães oferece a Carvalho Monteiro um livro recentemente publicado pela Sociedade a que presidia.

414

P-591 [337] Miscelânea. Fragmentos, notas e papéis não identificados. 16 documentos. Inclui: 1. Instrucções com diagrama para a reparação e limpeza de um candelabro. 2. Recibo da Imprensa Académica de Coimbra passado a Eduardo de Abreu, 10 Junho 1881. 3. Notas, possivelmente autografas, de Teófilo Braga. 4. Informação destinada aos subscritores da Galeria das Ordens Militares. 5. Notas escritas a Carvalho Monteiro. 6. Carta para o Sr. Maria da Madre de Deus. 7. Notas sobre a poesia publicada e inédita de António Barbosa Bacelar e Jerónimo Baía.

P-595 [86] Luís de Camões (1524?-1580) [Os Lusíadas. Canto III, 118-136.] Episódio de Ignez de Castro extrahido do Canto Terceiro (estâncias CXVIII a CXXXVI) dos Lusíadas de Luís de Camões. Trabalho caligráfico de Domingos Nunes Godinho, “Calligrapho de sua Magestade feito expressamente para António Augusto de Carvalho Monteiro. Lisboa, 1882”. 8 grandes folhas, não encadernadas. Manuscrito a tinta azul, decorado a ouro e folha de rosto iluminada. O nome de AACM acha-se disfarçado nas letras iniciais.

P-596 [89] Luís de Camões (1524?-1580) [Os Lusíadas. Canto V, 37-60.] Episodio de Adamastor extrahido do Canto Quinto, Estancias XXXVII a LX dos Lusíadas de Luís de Camões. Trabalho caligráfico de Domingos Nunes Godinho, “Calligrapho de Sua Magestade feito espressamente para António Augusto de Carvalho Monteiro. Lisboa, 1882”. 10 folhas in-folio, não encadernadas. Manuscrito a tinta preta, com iniciais azuis, vermelhas e douradas, e folha de rosto iluminada. O nome de AACM acha-se disfarçado nas letras iniciais.

415

Bibliografia 1. Sintra e a Quinta da Regaleira AAVV *Sintra Património da Humanidade, Sintra, 1998, p. 179-185 ADRIÃO, Vitor Manuel *Sintra, Serra Sagrada, Sintra, Comunidade Teúrgica Portuguesa, 1990 e 1994 (edição revista) *Prolepse Epitomática Sintriana (Regaleira de Sintra, uma Comenda Lusignan), in Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria, Lisboa, 2002, p. 209-234 *Quinta da Regaleira: a Mansão Filosofal de Sintra, Lisboa, 2006 *Quinta da Regaleira (Sintra, História e Tradição), Lisboa, 2013 ALVES, João Cruz *A Quinta da Regaleira e o Arquétipo da Ilha dos Amores, in Jardins do Mundo: discursos e práticas, Lisboa, 2008, p. 259-280 ALVES, João Cruz (coord.) *Luigi Manini: Quinta da Regaleira – imaginário e método – Arquitecturas e Cenografia (Catálogo), Sintra, Fundação CulturSintra, 2006 ANACLETO, Maria Regina Dias Baptista Teixeira *História da Arte em Portugal, v. 10, Lisboa, Publicações Alfa, 1986 Arquitectura Neomedieval Portuguesa, Coimbra, Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1997 (2 vols.: v. 1, p. 327-728; v 2: p. 819-824) ANES, José Manuel Morais *Digressão Hermética por uma Mansão Filosofal portuguesa, o “Palácio Milhões” em Sintra, in Vária Escrita, nº 1 (Jan.-Jun. 1994) *Re-criações herméticas - ensaios diversos sob o signo de Hermes, Lisboa, 1996 *O simbolismo iniciático e esotérico da Regaleira, in Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito – terceira parte, Sintra, Fundação Cultursintra, 1998 *O esoterismo da Quinta da Regaleira (entrevista de Victor Mendanha), seguido de A linguagem dos pássaros, Lisboa, 1998 *Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira, Lisboa, Ésquilo, 2005 e 2007 (ed. revista) *A Mansão Filosofal de Sintra [um artigo histórico], in Lugares Mágicos de Portugal e Espanha, Lisboa, Ésquilo, 2007, p. 109-121 ANES, José Manuel Morais / PEREIRA, Paulo *Quinta da Regaleira - a estranha mansão, in Quinta da Regaleira e Quinta do Relógio, Lisboa, Centro Nacional de Cultura, 1991 417

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CARVALHO DAUN e LORENA, Pedro *Vida e Obra de Carvalho Monteiro na métrica e Simbólica: Jazigo da Família Carvalho Monteiro (Dissertação de Metrado), Lisboa, Faculdade de Arquitectura, 2004 VELLOSO, Rodrigo *Galeria de Bibliofilos II. Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, Lisboa, 1913 [Trata-se de uma brochura inventariada com o n. 440 no The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983] 3. Biblioteca de AACM AMZALAK, M. B. (ed.) *Correspondência de El-Rei D. Manuel II com o Dr. Maurice L. Ettinghausen sobre os “os Livros Antigos Portugueses”, Lisboa, 1957 ANÓNIMO [?] *Uma preciosa colecção camoniana adquirida pelo município em 1980, in Revista Municipal de Lisboa, s. 2, n. 2 (1982) BORRÕES, Gualdino *Inventário da Biblioteca de D. Manuel II: manuscritos e impressos, Lisboa, 1982 CAMPBELL, Miss *Portuguese Collection: Accessions list of the portuguese Collection acquired from Maggs bros. 1928 (Coll. Od Olivaes e Penha Longa), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58 (Rare Book Coll.); Z2739.U58 xcopy (Hispanic Division)] CARVALHO, Joaquim de (selecção e apresentação) *Livros de D. Manuel II - Manuscritos, incunábulos, edições quinhentistas, camoniana e estudos de consulta bibliográfica, Coimbra, 1950 ETTINGHAUSEN, Maurice L. *Rare Books and Royal Collectores, Nova Iorque, 1966, p. 95-99 [DCL: Z989.E88 A3] Além da descrição da Quinta da Regaleira, cuja aquisição teria sido proposta a Mr. Hearst (?), refere a sua participação, em 1926-1927, na aquisição da biblioteca de Carvalho Monteiro. O destinatário primitivo dela terá sido D. Manuel II, exilado em Inglaterra, em 1926, tendo andado extraviado no porto de Southampton, um dos quatro contentores da encomenda, cujo conteúdo havia de ser recuperado mediante o pagamento de uma recompensa no valor de 100 libras. Aponta ainda Bernardino Domingos Madeira como bibliotecário e secretário particular de Carvalho Monteiro.

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GANDRA, Manuel J. *António Augusto Carvalho Monteiro – Vida, Imaginário e Legado: Sebástica na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *António Augusto Carvalho Monteiro – Vida, Imaginário e Legado: Templarismo na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *Manuscritos da Biblioteca do Congresso com interesse para a biografia e actividade mecenática editorial e literária de António Augusto Carvalho Monteiro, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *A Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história, Mafra, Cesdies, 2012 *Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: livros maçónicos, Mafra, Cesdies, 2012 *Sebástica manuscrita na Biblioteca do Congresso, Mafra, Cesdies, 2012 *Templarismo manuscrito na Biblioteca do Congresso, Mafra, Cesdies, 2012 *Formulário de todo o Cerimonial e Etiqueta que se deve praticar dentro da Varanda, no Acto da Aclamação [de Dom João VI] – DCL: P-502, (apresentação e transcrição de Manuel J. Gandra), Mafra, Cesdies, 2012 *O Santuário de Nossa Senhora da Luz da Ordem de Cristo, em Carnide, incluindo um manuscrito inédito da Biblioteca do Congresso (Washington), Mafra, Cesdies, 2013 *Templários e Templarismo na Literatura de língua Portuguesa, Mafra, Cesdies, 2013 *António Augusto Carvalho Monteiro: documentos da Biblioteca do Congresso com interesse para a sua biografia e actividade mecenática editorial e literária, Mafra, Cesdies, 2013 *Cometas em Portugal, Mafra, Cesdies, 2013 *Os Horóscopos de Dom Sebastião (1554-1578?): o Desejado à luz da Astrologia judiciária, Mafra, Cesdies, 2013 KLETSCH, Ernest (Curator Project B) Annual Report, July 1 to June 30, 1930, in Library of Congress – Annual Report 1929-1930, p. 1-2 LIBRARIAN OF THE CONGRESS *Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1928, Washington, 1928, p. 35 [DCL: Z733 .U57A] Refere que a colecção é constituída por 1555 volumes, 334 panfletos, 117 volumes compósitos de manuscritos e 5 “broadsides”, destacando, principalmente, os livros sobre Sebastianismo, crónicas régias e religiosas e ordens de cavalaria. *Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1930, Washington, 1930, p. 54-55 [DCL: Z733 .U57A]

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Regozija-se pela aquisição do núcleo principal da biblioteca de Carvalho Monteiro, constituído por um número de espécies, estimado em aproximadamente 28500 items, 14000 dos quais em língua portuguesa, 6000 na francesa e os demais em latim, espanhol, alemão, italiano e inglês. Destes a estatística anual apenas consigna 12000 volumes. *Annual report of the Librarian of Congress exhibiting the progress of the Library during the year ending June 30, 1962, Washington, 1963, p. 32 [DCL: Z733 .U57A] Em 1962, a maioria das espécies adquiridas, procedentes da biblioteca de Carvalho Monteiro aguardavam tratamento biblioteconómico. LIBRARY OF CONGRESS *Division of Accessions - Annual Report, July 1 to June 30, 1928, p. 14-15 (Portuguese Collection) *Division of Accessions 1928-1929 - Annual Report – Fiscal Year ending June 30, 1929, p. 12 (Maggs Brothers) *Report of the Division of Accessions - Fiscal Year ending June 30, 1930, p. 31-32 (Portuguese Collection) LUND, Christopher C. *A Colecção de Manuscritos Portugueses na Divisão dos Manuscritos da Biblioteca do Congresso, in Boletim de Filologia, n. 25 (1979), p. 167-172 *O Manuscrito Caligráfico único, de Os Lusíadas, feito por Manuel Nunes Godinho para o seu patrão António Augusto de Carvalho Monteiro, in Leituras de Camões, São Paulo, 1982 Conforme o guia dos Manuscritos Portugueses organizado por Christopher Lund, o calígrafo em apreço terá sido Domingos Nunes Godinho, filho de Manuel Nunes Godinho, e não este professor de Caligrafia e calígrafo real (ver DCL: P-338-354). Reporta-se ao ms. P-339-75 da Biblioteca do Congresso. LUND, Christopher C. / KAHLER, Mary Ellis *The Portuguese Manuscripts Collection of the Library of Congress – A Guide, Washington, Library of Congress, 1980 Descreve, com algumas imprecisões, 537 manuscritos portugueses do acervo da Biblioteca do Congresso, em Washington [DCL]. Um número ainda indeterminado pertenceu a António Augusto Carvalho Monteiro, tendo sido adquirido nos anos de 1927 e 1929, por intermédio de Maggs Brothers (Londres). Consigna manuscritos, maioritariamente relativos a matérias como História de Portugal, Sebastianismo, Ordens Militares Portuguesas, etc. PALÁCIO DO CORREO VELHO *Biblioteca de Suas Majestades El-Rei D. Carlos I e El-Rei D. Manuel II de Portugal, Lisboa, 12 a 16 de Junho [1989], Lisboa, [1989] PORTUGUESE COLLECTION *Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** [OPL] Collection through Maggs Bros. 1928, Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58]

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Manuel J. Gandra

Licenciado em Filosofia (Faculdade de Letras – Universidade Clássica de Lisboa). Enquanto Investigador, tem-se consagrado à investigação da História e da Geografia Míticas de Portugal (nomeadamente no que concerne às Ordens do Templo e de Cristo, ao Culto do Império do Divino Espírito Santo, ao Sebastianismo e ao Hermetismo), da iconologia da Arte portuguesa e da Circunstância Mafrense, temas sobre os quais se tem debruçado em publicações, colóquios, seminários, encontros, conferências, palestras, visitas guiadas e programas televisivos. Foi professor dos ensinos preparatório e secundário, tendo lecionado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e no IADE. Entre 1990 e 31 de Agosto de 1999, foi Coordenador dos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Mafra. Actualmente, é Professor Associado na Escola Superior de Design do IADE-U. Coordenador Científico da Biblioteca António Quadros (IADE-U). Investigador do CLEPUL (Faculdade de Letras de Lisboa), Colaborador da UNIDCOM (IADEU) e das Revistas Nova-Águia e Identidades Oceânicas. Membro do Conselho Consultivo do MIL e da Associação Identidades Oceânicas (IDEO, Brasil) e Director do Centro Ernesto Soares de Iconografia e 427

Simbólica [www.cesdies.net] que fundou em 19 de Abril de 1997, com sede em Mafra e actuando no Rio de Janeiro-Brasil, mediante uma parceria institucional com o Instituto Mukharajj Brasilan. Autor de artigos, opúsculos e obras versando a História e a Geografia Míticas de Portugal, nomeadamente: Portugal: Terra lúcida, Porto do Graal (1986); Bibliografia crítica das fontes e estudos respeitantes ao Hermetismo em Portugal: Alquimia (1993); Carrilhões de Mafra (1993); Apocalipse de Esdras: ecos nas letras e na arte portuguesas (1994); Cheiros, Sabores e Comeres regionais de Mafra: tradição e modernidade (1998); Regra Primitiva da Ordem do Templo (1998); A Cerâmica Tradicional de Mafra (1999); Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica (1999); Os Templários na Literatura (2000); O Império do Espírito Santo na Região de Tomar e dos Templários (2000); Colecção Maçónica Pisani Burnay: catálogo (2000); O Monumento de Mafra de A a Z, v. 1 (2002); A Cristofania de Ourique: mito e profecia (2002); Dicionário do Milénio Lusíada (2003); A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (2004); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2006); Portugal Sobrenatural (2007); Da Face Oculta do rosto da Europa (2009), 2ª ed.; Astrologia em Portugal – Dicionário Histórico-Filosófico (2010); Iconografia e Iconologia: estudos, notas e fontes de cultura visionária (2012); Livro das Profecias de Cristóbal Colón (2013); Amuletos da Tradição Luso-Afro-Brasileira (2013); Florilégio de Tradições do Concelho de Mafra (2013); O Anjo da Saudade: da Hierarquia Celeste e do Custódio de Portugal (2013); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2013), 2ª ed. revista e ampliada; Fernando Pessoa: Hermetismo, Iniciação, Heteronímia (2013); Mafra, do ocaso da Monarquia, ao advento da República (2013); Itinerários da Monarquia Constitucional em Mafra (2013); Hagiografia de D. Sebastião: de desejado a encoberto (2014); Cátaros para um Languedoque Português (2014); António Augusto Carvalho Monteiro: imaginário e legado (2014); Palácio Quintela: Iconologia do Programa Pictórico (2014); As Ilhas Míticas do Imaginário Luso: fontes e iconografia (2014); etc. Contactos: Site: www.cesdies.net Email: [email protected]

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