A ABORDAGEM EVANGÉLICA DE PAULO NA SINAGOGA DOS JUDEUS EM ANTIOQUIA DA PISÍDIA, CONFORME ATOS 13.16-42 Fabiano Ramos Gomes

June 6, 2017 | Autor: Fabiano Ramos Gomes | Categoria: Apostle Paul and the Pauline Letters
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A ABORDAGEM EVANGÉLICA DE PAULO NA SINAGOGA DOS JUDEUS EM ANTIOQUIA DA PISÍDIA, CONFORME ATOS 13.16-42 Fabiano Ramos Gomes RESUMO O presente artigo procura analisar, a partir da estruturação bíblica, fornecida em Atos 13.16-42, a maneira como o apóstolo Paulo buscou anunciar a Cristo, tendo como ponto de partida a pregação aos judeus, usando estratégias utilizadas pelo próprio Cristo a partir das reuniões ocorridas nos templos conhecidos como Sinagogas. A análise foca-se na pregação apostólica ocorrida na cidade de Antioquia da Pisídia, lugar onde o sermão foi pregado, contendo diversas peculiaridades e singularidades da mensagem paulina a este público, os judeus. É notória a preocupação em fundamentar o argumento messiânico a partir da fonte que é a sagrada Escritura, uma vez que o apóstolo tenta persuadir aqueles que foram confiados “os oráculos de Deus”, logo, naturalmente é a partir desse foco que versa sua argumentação. PALAVRAS CHAVES Paulo; Antioquia da Pisídia; judaísmo; testemunho; Lei Mosaica; Remissão de pecados; Justificação. INTRODUÇÃO A pregação é o recurso da igreja para o alcance dos perdidos. Uma vez que aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação (1 Co. 1.21), essa mensagem é necessária a todo e qualquer grupo etnológico que exista na face da terra. Esse entendimento também consumiu os primeiros cristãos. Eles buscaram conciliar a mensagem do evangelho com os diversos públicos aos quais foram submetidos. O próprio Paulo fala de uma dúplice divisão ao estabelecer toda a humanidade em grupos denominados “judeus e gentios” (Rm.1.16). Nesses dois grupos estão estabelecidas duas diferentes dispensações no que concerne a redenção. O primeiro grupo significando aqueles que foram chamados inicialmente para a aliança revelada escrituristicamente entre Deus e os homens, que receberam as promessas por meio dos patriarcas e que depois foi comunicada pelos profetas a toda à descendência posterior. Tendo uma história marcada de fidelidade e apostasia, dependendo do período. O segundo grupo significa a nova e eterna aliança estabelecida entre Deus e os homens por meio de Cristo. Na presente dispensação que envolve esse grupo não existe mais a parede da separação que praticamente excluía esse grupo (Ef. 2.14), mas um único povo é formado, segundo o propósito de Deus que não faz acepção de pessoas (Rm. 2.11). A pregação direcionada ao povo judeu, conforme pretendida nesse artigo, tem em vista a ratificação de que as promessas direcionadas ao povo judeu se cumprem em Jesus, o Cristo, o Messias escolhido de Deus. Nele os judeus mantinham sua

esperança em promessas que foram feitas desde muito em toda a Escritura. Essa pregação assume nuances que demonstram a particularidade desse povo, tendo em vista a persuasão do mesmo aos efeitos redentores. A tarefa desse artigo é procurar entender a metodologia pretendida pelo apóstolo e verificar a sua necessidade para a igreja em todos os tempos. Buscando um conceito comum entre a mensagem pregada aos judeus e a mensagem pregada aos gentios na nova aliança. 1. ANTIOQUIA DA PISÍDIA (Contexto histórico) Origem – A cidade de Antioquia da Pisídia estava localizada na atual Turquia, numa região de planalto próximo ao rio Anthius e o lago Eğirdir. Rodeada pelas montanhas do Sultão, próximo ao mar Mediterrâneo1. Foi estabelecida em uma propriedade pertencente aos sacerdotes da antiga religião nativa, as outras porções pertenceram, mais tarde aos imperadores Romanos. Na região puderam ser encontradas antigas inscrições do culto aos imperadores romanos. A sua fundação está associada a uma ocupação estratégica promovida pelos reis selêucidas na Ásia Menor, que escolhiam os locais, tendo em vista, fortalecer a influência sobre as tribos nativas. Os judeus em Antioquia da Pisídia – A prova da existência da colônia judaica pode ser provada pelo texto de Atos 13.16-42 e por uma inscrição em Apolônia, cidade vizinha, que menciona uma judia chamada Débora. É provável que a ocupação da colônia tenha ocorrido em meados do ano 189 a.C2. A FUNDAÇÃO DA IGREJA EM ANTIOQUIA DA PISÍDIA Paulo dá início ao trabalho na cidade atendendo uma convocação da igreja de Antioquia da Síria, que escolhe homens qualificados tendo como objetivo levar o Evangelho a outras cidades (Atos 13.1-3). Paulo chega a Antioquia após ter uma desavença com Marcos, que volta para Jerusalém, quando estava em Perge na Panfília (v.13). 2. A ESTRATÉGIA DE PAULO AOS JUDEUS Paulo parece seguir uma estratégia sistemática de pregação aos judeus com algumas características principais. A primeira visa estabelecer o cristianismo como uma espécie de substituição do antigo judaísmo, ou até mesmo uma releitura do judaísmo, apresentando a concretização das promessas messiânicas do Antigo Testamento na pregação de Cristo como Messias. Paulo parece estar afetado com a concepção inicial compreendida pelos apóstolos, de que o evangelho deveria preencher as lacunas principais do messianismo judaico, apresentando Cristo como Messias e conduzindo seu ethos 1 2

http://bibleatlas.org/regional/pisidian_antioch.htm IDEM

a partir dessa perspectiva. Esse entendimento não foi meramente abortado pelo apóstolo a partir da rejeição ocorrida posteriormente, o que houve foi uma reformulação da estratégia, onde se preservou a convicção e aspiração messiânica histórica redentora do apóstolo em sua abordagem cristológica.3 Outra característica era a proclamação da mensagem cristã entre os judeus, justamente nos momentos onde a Lei era lida e explicada nas sinagogas. Esse costume apostólico tem suas raízes no próprio Cristo, que foi denominado Rabi pelo seu ensino conquistado no centro das discussões teológicas do judaísmo, as sinagogas (Mt.4.23; 9.35; Mc. 1.21; 3.1; 6.2; Lc. 4.15-16). Esse procedimento é colado em prática por Paulo em outras ocasiões como em Atos 14.1 (Em Icônio); 17.1 (Tessalônica); 17.10 (Beréia); 18.4 (Corinto). A partir de Corinto, Paulo parece mudar de opinião quanto ao alcance de seus compatriotas e resolve empreender seus esforços evangelísticos tendo como objetivo o alcance dos gentios (Atos 18.6). 3. CARACTERÍSTICAS DA MENSAGEM DE PAULO AOS JUDEUS CONFORME ATOS 13.16-42 O testemunho histórico e escriturístico da messianidade de Cristo (vv.16-15) A partir daqui estaremos demonstrando qual foi a divisão do argumento paulino direcionado ao público judeu, conforme a ordem a apresentada nas Escrituras. Não é possível determinar se era uma prática a permissão de oradores judeus em todas as reuniões sinagogais, dada mesmo aqueles que não pertenciam à comunidade local, como o caso de Paulo. Também não é possível determinar se essa oportunidade foi conferida em razão do histórico do próprio Paulo em outras ocasiões quando ainda pertencia ao judaísmo. A questão é que Paulo tem acesso a faz uso da Palavra e uma das reuniões principais da sinagoga no dia de sábado. O discurso inicia com um breve histórico da condição pactual do povo de Israel, onde Paulo realça a escolha desse povo (v.17), a partir da escolha dos patriarcas e da condução desse mesmo povo pelo deserto, tendo como pano de fundo a fuga do Egito. Paulo enfatiza a maneira portentosa que esse livramento ocorre, bem como, a maneira paciente como Deus suporta os “maus costumes” do povo por quarenta anos (v.18). Ele ainda enfatiza a maneira como o Senhor estabelece a nação, a partir dos juízes até o profeta-juiz Samuel, chegando por fim ao período monárquico, a partir de Saul até o rei Davi (vv.20-22). Nesse ponto ele direciona seu argumento mais precisamente para o fato de que Cristo é descendente de Davi, empreendendo esforços para conduzir seu público ao entendimento de que o Messias tem linhagem real, consequentemente ele não estava trazendo aos judeus um fundamento novo, mas algo antigo, que ratificava aquelas promessas já existente na própria Lei judaica. 3

HIDDERBOS, Herman. A Teologia do apóstolo Paulo. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004, pg.52.

A partir do verso 24 Paulo concentra sua mensagem em fatos contemporâneos seus e de sua audiência, mas ressaltando que possivelmente muitos daqueles que lhe escutavam não tinham perfeito entendimento desses, uma vez que estavam a algum tempo afastados da vida religiosa em Israel, pois habitam em uma colônia e não nos lugares onde ocorreram esses fatos. É possível que alguns dentre aqueles que ouviam Paulo tivessem algum entendimento, pelo menos superficial do ministério de João, por exemplo, uma vez que todo judeu piedoso precisava ir ano a ano a Jerusalém, porém é bem provável que eles pouco sabiam de todas as implicações envolvidas com seu martírio e com seu discurso sobre Cristo. O testemunho dos fatos atuais sobre Cristo e sua ligação escriturística com os eventos relacionados a Cristo (vv.26-37) A pregação do Evangelho a partir de João Batista é realmente uma mudança de paradigma para a condição kerigmática, pois está entrando em uma esfera tátil daqueles que eram ouvintes de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia. O argumento do apóstolo é profundamente prático quando chama seus ouvintes a escutarem, a partir de seu próprio testemunho, sendo ele judeu e também alguém que espera as mesmas promessas, a um posicionamento decisivo (v.26). Paulo amplia a responsabilidade dos ouvintes no verso 27, quando atribui aos homens cultos da lei o dever de conhecer as Escrituras. Assim como sua audiência, eles, uma vez que tinham essa prerrogativa, foram chamados a discernir sobre os fatos que envolviam tais promessas, mas quanto a isso não conseguiram êxito em razão de “não conhecerem Jesus e os ensinos dos profetas que leem todos os sábados”. Cabia aos ouvintes em Antioquia um posicionamento diferente, convocado por Paulo a sua audiência. O apóstolo ainda tece algumas informações sobre o juízo injusto infligindo a Cristo (v.28), mas deixando claro que os judeus ao fazerem isso, estavam eles mesmos estavam cumprindo as Escrituras (v.29), nitidamente utilizando a responsabilidade humana com a soberania de Deus. Posteriormente o apóstolo apresenta a argumentação evangélica da ressurreição de Cristo, fato pouco compreendido até então pelos judeus. A partir das profecias encontradas no próprio Davi, no salmo 16.10. A ressurreição é anunciada como uma obra divina, empreendida pelo próprio Deus (v30), e as provas das mesmas são as testemunhas, muitas ainda vivas, os apóstolos, que testemunharam dessa ressurreição (v.31). A partir do verso 32 Paulo envolve-se na mesma mensagem que prega, anunciando que cabe a ele pregar sobre a concretização da mensagem profética feita pelos pais da nação judaica a aqueles, como os membros da comunidade judaica de Antioquia, também eram judeus. Paulo cita então, textos das Escrituras que se referem a obra de Cristo, discorrendo sobre os fatos conforme os expõe. Nessa argumentação ele enfatiza que a ressurreição anunciada por Davi não ocorre em benefício do antigo rei judeu, mas anuncia algo que teve seu

cumprimento apenas em Cristo, pois é fato conhecido que Davi estava morto e sepultado (v.36). Logo, essa mensagem não tinha como objetivo alcançar Davi e sim a Cristo, sendo Ele “aquele que não viu corrupção”. Aplicação da mensagem central de arrependimento e chamada ao posicionamento de acordo com as verdades expostas (vv.38-42) A aplicação da mensagem apostólica deixa em realce a transição do argumento, previamente apresentado nas Escrituras, para a contextualização doutrinária a partir do ethos cristológico tencionado pelo apóstolo. Observemos como o apóstolo desenvolve esse empreendimento. A Remissão de pecados (v.38) Aqui o apóstolo claramente faz rompimento com as antigas concepções judaicas de justificação e remissões encontradas nas cerimônias levíticas. Paulo ao dizer que a remissão não era mais conseguida por esses meios faz rompimento com o judaísmo tradicional e apesar de sua pregação buscar uma audiência majoritariamente judaica, não faz questão de argumentar a partir dos pressupostos dessa religião, mas sim a partir de Cristo, aquele livra o Seu povo dos pecados deles (Mt.1.21). A justificação (v.39) Outro sinal de rompimento do apóstolo com a concepção mosaica é a maneira como o apóstolo anuncia que não é justificado aquele que simplesmente recebe a aliança por nascimento, conforme pretendido pelos judeus, mas por meio de um decreto divino que inocenta o pecador a partir de sua fé em Cristo. De fato, o apóstolo procura desconsiderar as expectativas judaicas quanto às pretensões fiadas na antiga Lei. Paulo não vê possibilidade de se fazer uma ponte ou mesmo uma absorção das antigas práticas pelo cristianismo, o rompimento era definitivo, a pregação cristã era eminentemente excludente e não poderia subsistir com os antigos conceitos esperados pelos judeus. A obra de Deus desprezada (vv.40-42) Nesse ponto Paulo, como arauto, prevê as consequências de se desprezar o ensino que ele estava expondo e para isso ele cita o texto de Habacuque 1.5. “Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei, porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la contar.” Nenhum dos judeus deveria se enganar quanto a isso, a obra que Deus estava realizando não era apenas para se considerar de maneira leviana, mas exigia dos ouvintes extrema urgência e prontidão. Os desprezadores estariam debaixo dessas terríveis palavras e estavam sendo chamados a um posicionamento, que convocava os mesmos a se desvencilhar de tudo que haviam praticado e crer em Cristo, para terem seus pecados remidos e fossem finalmente justificados perante Deus. A mensagem fez efeito e eles pedem que o apóstolo, juntamente com Barnabé, que retornem no sábado seguinte para pregar da mesma forma que quando

expuseram esse sermão (v.42). Alguns do que ouviram recebem, mas posteriormente, os mesmos judeus são responsáveis por inflamarem as turbas, pois estavam enciumados (v.45). A partir daí, o apóstolo empreende mudar sua audiência, indo pregar apenas aos gentios (v.46).

CONCLUSÃO Não é possível, a partir desse texto único, traçar um perfil da principal mensagem de Paulo aos judeus, uma vez que esse mesmo só nos pode servir de referência para entendermos qual era a sistemática do argumento apostólico, quando empreendia convencer seus compatriotas de que Cristo é o Messias. Conforme observamos ele iniciava sua abordagem pretendendo expor que o povo judeu realmente havia sido alvo do favor divino e que isso lhes condicionava a serem tidos como “povo do pacto”, povo escolhido que seria o embrião da salvação para todo o mundo. Além disso, o apóstolo discorria sobre como Deus havia sido bondoso com esse povo, realizando grandes obras, concedendo governos e homens piedosos na condução da nação. A temática paulina ainda buscava relacionar Cristo com os atos históricos redentores do Senhor, sendo Ele anunciado por toda a Escritura, desde as promessas mais antigas até alcançarem as próprias profecias. Paulo rompeu com o judaísmo em seu escopo redentor. Determinou a anulação da antiga temática judaica da salvação que atribuía ao nascimento e as obras da Lei à justificação. A partir desse conceito destruiu as expectativas tradicionais dos judeus, por esta razão foi tão amplamente perseguido e até mesmo foi ameaçado e sofreu em sua pele toda a ira de um povo que voltou às costas para a mensagem salvadora de Jesus Cristo. Nesse artigo procuramos enfatizar a temática evangelística do apóstolo, bem como buscamos entender quais foram os seus principais argumentos para empreender tão valorosa obra. Concluímos com a certeza que seus argumentos esmagadores romperam com a antiga Lei e estabeleceu para sempre os fundamentos do Evangelho que é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê primeiro do judeu e depois do grego (Rm.1.16). A mesma mensagem pode e deve ser utilizada em nossos dias, visto que ela tem sua utilidade eterna, servindo de expressão daquilo que o pregador cristão deve compreender e anunciar a sua audiência, mesmo que não judaica, mas tão necessitada como os judeus naqueles dias. ABSTRACT Judaism as the dominant religion, in apostolic times, required a completely different approach, since his past revelatory, as announced by the Scriptures, but be convinced of something that was not also disclosed. Therefore this essay seeks to find the bases of Pauline preaching about Christ, having as starting point the biblical text of Acts of the Apostles 13.16-42, in the speech of Paul at Antioch of

Pisidia. Seeks to analyze their proposals and draw a point of contact with the Christian preacher, who preaches his message, not for a Jewish audience, but as much as he needs to truly know Christ. KEYWORDS Paul; Anthioc of Pisidia; Judaism; Testimony; Mosaic Law; Remission of sins; Justification.

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