A abstração geométrica das neovanguardas do pós-guerra

June 4, 2017 | Autor: P. Esteves Morgado | Categoria: Art History, Art, Brazilian Studies, Abstract Art, Brazillian Art
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AUH323 – História da Arte no Brasil

Pedro Esteves Morgado 7177758

TIE - Arte abstrata Brasileira



A abstração geométrica das neovanguardas do pós Guerra



O aparecimento de formas abstratas na arte pictórica brasileira
remete à obras e estudos de artistas da vanguarda modernista, como Tarsila
do Amaral, Rêgo Monteiro e Cícero Dias. Em suas produções, o flerte com a
abstração geometrica é um reflexo do próprio pensamento moderno, de superar
processos formais e rever estruturas estéticas e teóricas. Tais obras
porém, mostram o uso de formas abstratas como plano de fundo de
representações figurativas, nas quais a mimesis do real sempre prevalece
como objeto e objetivo da representação, tal fase tem como cerne teórico a
procura de uma identidade nacional e a reflexão sobre a estética e a
produção naional.

Depois da II Guerra mundial, fomentado pela criação de grandes museus
públicos e pela internacionalização da arte brasileira, o quadro da
produção nacional começa a dquirir nova cara, e começa a refletir, nas
produções, a influência das correntes neoplasticas, do cubismo e do
construtivismo europeu, reforçados por palestras e exposições feitas no
Brasil como a de Calder, em 49 e a de Max Bill, em 50. Dentro desse
cenário, alguns artistas se destacaram, devido tanto à sua produção, quanto
à sua filosofia estética, criada a partir de discussões sobre o
figurativismo e a abstração geométrica. É visível dentro do grupo de
artsitas concretos no início da década de 50, a vontade de um rompimento
com as tendências pictóricas até então vigentes, representadas pelo
figurativismo social e a formação de uma identidade pictórica voltada para
a condição histórica e cultural brasileira, representada por Tarsila do
Amaral, Segall, DiCavalcanti e Portinari.

A separação se deu na década de 50 com a formação dos grupos de
Neovanguarda Frente e Ruptura, ambos autoproclamados, no início, como
concretistas, que exerceram uma produção pautada em discussões sobre a
representação da arte, o figurativismo, a semiótica e as limitações físicas
e psicológicas da apreensão e construção da própria obra. E que mais tarde,
divulgariam os movimento Concreto e Neoconcreto.

RUPTURA

Criado no início da década de 50, o grupo, encabeçado pelo teórico e
artista Waldemar Cordeiro, foi o primeiro a legitimar a arte concreta não
figurativista no cenário artístico brasileiro, com a primeira exposição do
grupo, em 1952, no MASP. Cordeiro, tido como um líder rígido do grupo,
formulou as teorias do concretismo paulista a partir de ideias do
construtivismo europeu. Afirmava que "o movimento Ruptura um salto
qualitativo que reinvindica a linguagem real das artes plásticas, que se
exprime com linhas e cores, que são linhas e cores que não desejam ser
peras, nem homens" esse discurso, defende que a obra de arte não deve ser
uma representação, porem uma apresentação, ela deve conter dentro de sí sua
mensagem, deve ser independente de formas, ideias ou pensamentos exteriores
à ela, tornando-se um objeto de contemplação. Sua crítica abrange quase
toda a produção da época, pois via até mesmo em quadros abstratos de Cícero
Dias, a marca cromática e estética das vanguardas nacionalistas.

A produção se destaca pela bidimensionalidade e pelos ritmos e
relações orquestrados pelas cores, formas linhas e limites, explorando o
diálogo das formas no quadro como origem e destino do pensamento artístico.
As experimentações, porem, em certos casos, aparecem limitadas, devido à
rigidez de sua estrutura, Segundo Mario Pedrosa, "A limitação dessa arte é
permanecer amarrada ao campo estritamente sensorial. A satisfação que nos
dá é real, encanta ou atrai, mas não arrebata nem se impõe com impacto."
Portanto o concretismo paulista, criado como manifesto à forma figurativa
subjetiva, se legitimou como um movimento rígido, porém grande explorador
da bidimensionalidade, desenvolvendo uma estrutura que permitia ao público
apreender a obra por inteira, "As formas disponíveis para comunicação,
colocam em igualdade o artista e o destinatário. Evitam a particulariedade
da emoção e do sentimento, elegendo articulações conscientes e racionais…"
(Ana Maria Belluzzo). Dentro desse grupo, além de Cordeiro, se destacaram
Luis Sascilotto, Maurício Nogueira, Lothar Charroux e Geraldo de Barros.

FRENTE

O grupo Frente, também criado no início da década de 50, no Rio de
Janeiro, foi marcado pela separação com o grupo de São Paulo e pela intensa
produção artística de seus membros.

Não possuia traços estéticos ou pictóricos semelhantes entre seus
membros e nem teorias semelhantes, sua formação se deu principalmente à uma
aproximação de seus membros, catalizada pela busca da arte não figurativa
conciliada à novas formas de dialogar com o observador, um descontentamento
com a rigidez do movimento paulista e a necessidade de aproximar a obra de
arte do artista. Até meados da década de 50, os dois grupos, apesar de ja
separados, consideravam-se parte de uma mesma vanguarda, porém com
concepções artísticas diferentes. O grupo, composto por Ferreira Gullar,
Lygia Clarck, Lygia Pape, Aluísio Carvão, Décio Vieira, Ivan Serpa, Amilcar
de Castro e outros, teve sua primeira exposição em 1954, na qual era
evidente a procura de novas formas de expressão e diferentes
expressividades, marcada pelas novas tecnicas e novas dimensões buscadas
pelos artistas, tal espírito fora explicitado por Mario Pedrosa que via a
produção do grupo como "liberdade de expressão(…) atividade autonoma e
vital, ela visa uma altíssima missão social, qual de dar estilo à época e
transformar os homens, educando-os a exercer os sentidos com plenitude e a
modelar as próprias emoções." Tanto Pedrosa quanto Gullar usam o termo
experimentar para definir o grupo, vêem na liberdade de criação dos
membros, uma nova postura diante da produção abstrata geométrica, que porém
não se limita ao campo estético das obras. Foi em 1957 que, depois de uma
discussão em torno da proposta dos paulistas, de produzir uma poesia
exclusivamente matemática, que o grupo Frente decidiu se separar do bloco
paulista, simultaneamente o grupo Frente de dissolveu, para mais tarde dar
origem ao movimento neoconcreto, o que pode-se colocar como uma evolução
das experimentações e indagações dos cariocas.







Refletindo sobre as diferenças entra cariocas e paulistas , a
teorização exacerbada de um contrasta com a liberdade e experimentação do
outro, Segundo Gullar, o movimento neoconcreto visava dar "prevalência às
obras sobre as teorias e à intuição criadora sobre o objetivismo dito
científico ou matemático." Mario Pedrosa também comenta a fixação dos
paulistas para com a formas sobre o quadro e a postura libertária dos
neoconcretos: "A preocupação deles (neoconcretos) é a do jogo espacial,
para que não haja na tela pedaço perdido ou desprezado. Se os paulistas dão
à forma concebida todas as atenções sacrificando tudo o mais, mesmo que a
tenham de isolar na tela, os cariocas ainda a querem integrada numa relação
espacial bem ou equitativamente repartida. Eis por que tanto se atêm aos
espaços negativos e positivos , dando às suas cores função também ativa, de
forma a não permitir que a forma não se distinga sobre o fundo".

Apreende-se de tudo apresentado que, de certa forma, o projeto
concreto-paulista visava uma obra que fosse um objeto independente, cujas
relações entre os elementos definidos dentro do quadro, significassem um
algo à ser compreendido e contemplado, não se articulavam ao exterior de
sua mídia. Os neoconcretos, vendo essa definição como deficiente,
propuseram a experimentação da obra como parte do espaço e da expeiência do
observador, as relações propostas, ainda que abstrato-geométricas, não se
limitavam ao centro bidimensional da peça, buscavam uma interação com o
observador, experimentavam novos materiais, exprimiam as propostas do
artista e rompiam com algumas mídias, como o caso de Lygia Clarck, que, em
certa obra, ultrapassou a própria moldura, que, em tese, define o quadro.
Como disse Ferreir Gullar: "só à experiência direta da percepção entrega à
obra a significação de seus ritmos e suas cores". De certa forma, essa nova
abordagem dos cariocas é uma evolução do pensamento semiótico dos
paulistas, pois incentiva nvas formas de percepção da obra como objeto,
colocando-a como elemento que ajuda na percepção e não apenas é percebido.




É digno falar de certas obras que atravessam, de certa forma, as
concepções formais e teóricas dos movimentos de que fizeram parte. É
possível destacar, em obras de Amilcar de Castro, mesmo no contexto de
formas abstrato-geométricasm o uso deliberado do traço do artista , a ponte
mecânica entre o artista e o observador, negada por ambos movimentos
concretos, por ser vista como uma subjetivisação involuntária da produção,
que porem pode ser encaixada numa experimentação plástica digna do
neoconcreto. Ainda Amilcar de Castro, ficou famoso por uma série de obras
em que recortava e dobrava seções de um circulo de ferro, tornando o
bidimensional em tridimensional, experimento ja feito anteriormente por
Luis Sacilotto. A descaracterização do plano como bidimensional faz parte
de ambos movimentos, porem evidentemente diferentes, vê'se a rigidez
orthogonal e formal de Sacilotto, contrapondo-se às formas abstratas que
tomam os recortes de De Castro.

Outros artistas como Willys de Castro e Aloísio Carvão se aproximam
muito da estrutura concreta, ao manipular as formas num espaço
bidimensional, focando muito na percepção do observador sobre o conjunto
pictórico destacado atravez da centralidade no quadro e dos ritmos e
relações de caráter contemplativo.











Bibliografia



BELLUZZO, Ana Maria, Ruptura e arte concreta, em Arte construtiva no
Brasil, coleção de

Adolpho Lerner. Brasil, Lloyds TSB, 1998

GULLAR, Ferreira, O grupo frente e a reação neoconcreta, em Arte
construtiva no Brasil,

coleção de Adolpho Lerner. Brasil, Lloyds TSB, 1998

CINTRÃO, Rejane,Grupo Ruptura – Revisitando a exposição inaugural. São
Paulo,

Edusp, 2002.

BRITO, Ronaldo, Neoconcretismo. Cosac & Naify, 1999

PEDROSA, Mario,Academicos e Modernos. Edusp, 1998

CORDEIRO, Waldemar, em Waldemar Cordeiro, uma aventura da razão.
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