A Alimentação

June 3, 2017 | Autor: R. Charters-d'Aze... | Categoria: History, Leiria
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A alimentação | A alimentação era quase sempre pouea carne ou peixe, e poucos legumes. “ O peixe era o alimento do baixo povo” com o nos contà Heinrich Friedrich Link no seu livro relatando as suas viagens em Portugal de 1797 a 1799, sobretudo a sardinha, a única espécie abundante e barata, de tal m odo que os portugueses com posses a desprezam: “ pão, vinho e sardinhas fazem o jantar do soldado, do magala e das classes pobres; v i frequentemente pobres esfregarem uma sardinha contra o pão dos seus filhós para lhe dar sabor” escreve Link. Muitas famílias só tinham uma sardinha, pão e batatas para um jantar; a mãe comia a cabeça (que nada tinha para comer e o resto era dividido pelos filhos. “ Os pobres costumavam assar sardinhas na rua, servindo-se de alguns pedaços de carvão que eles acendem, obtida prévia licença, no lume de que certos artistas se servem para os seus ofícios” conta ainda Link. Era enorme a venda de bacalhau; “ Não se pode imaginar a espantosa quantidade de navios ingleses, que só para as necessidades de Lisboa, se ocupam anualmente com o com érfio deste artigo, porque o peixe fresco, pela sua carestia, não está ao alcance da bolsa dos mais pobres e mal chega para o consumo dos conventos e dos habitantes mais ricos” de Lisboa. Isto porque “ além das sete longas semanas da Quaresma e do jejum das quatro estações, cada um dos quais dura três dias, há no calendário mais quinze dias de rigorosa abstinência, em que só é permitida uma refeição diária composta de peixe e legumes” . No entanto, muita gente, não respeita estes mandamentos, “ desculpando-se com a falta de saúde que os impede de comer peixe ou indo

Jornal de Leiria 24 de Março de 2016

comer carne nas estalagens onde a há para os “ heréticos” . Ainda mediante certas quantias, pode-se comprar o direito de consumir manteiga e ovos. A taxa para os trabalhadores é de 60 réis” conforme ainda nos relata Link, Um artigo de 0 Panorama de 7 de novembro de 1870, intitulado A arte de cozinhar em várias nações, chamava a atenção para que a cozinha “ contribui para o bem-estar e honesto e moderado regalo do hom em nesta vida” . E continuava afirmando que “ sendo pois o comer uma coisa diária, é de suma importância fazer agradável o alimento; do contrario de pouco serviria o sentido do gosto e do paladar No; entanto, no manual de civilidade dos finais do século XIX, J. J. Roquette, seu autor, escreve no

Deporta em portaavacaeo vaqueiro andavam juntamentee, chegandoà portado qualquer tratamentoo leiteera servida recebendo-a gorda com olhosde ganhiiaaclaia cheiode natas

capítulo VIII, com o título Dos jantares e banquetes, que “ parece, meús filhos, que nada há mais fácil que sentar-se à mesa, e pôr-se a comer o que nos é apresentado; porém digo-vos que é bem o contrario..^ pois o ato de comer está sujeito.a um conjunto de regras e de rituais, variáveis de acordo com o escalão social a que pertencem os convivas e evitar as “ grosserias que cheiram a miséria e a má criação” . ■ E Roquette recomendava os seguintes preceitos: não engolir os alimentos com sofreguidão; não soprar a sopa quando está muito quente; não encher demasiado a boca; não sorver a sopa nem mastigar ruidosamente de maneira que se ouça duma ponta da mesa a outra; não se agitar na cadeira a ponto de tocar com as pernas e os pés nos das outras pessoas. Recomendava sobriedade na bebida aos homens e aconselhava “ quanto a ti minha filha, desejaria que não bebesses vinho nenhum até à idade de quarenta anos, a não ser que o médico to recomendasse” . Em relação aos palitos poder-se-ia recorrer a eles, com a condição de não se manterem na boca ou colocarem atrás da orelha, no cabelo ou na casaca e de, muitos menos, falar com eles entre os dentes. Ainda me lembro como era vendido o leite em Leiria, nos anos 50 do século passado. De porta em porta a vaca e o vaqueiro andavam juntamente e, chegando à porta do freguês, sem qualquer tratamento o leite era servido, recebendo-o, gordo, com olhos de gordura e, claro, cheio de natas. Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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