A análise gramático-sintática na exegese bíblica

May 31, 2017 | Autor: William Lane | Categoria: Exegese Bíblica, Antigo Testamento, Hebraico Bíblico, Análise gramatico sintática
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A análise gramático-sintática na exegese bíblica William Lacy Lane A exegese bíblica, principalmente, desde a reforma protestante do século XVI tem sido influenciada pelos desenvolvimentos dos estudos linguísticos. A ênfase dos reformadores na busca pelas fontes os levaram a fundamentar sua exposição bíblica e teologia nos textos mais primitivos das Escrituras e nessa tarefa foram influenciados pelos humanistas e, consequentemente, romperam definitivamente com a interpretação medieval cujo enfoque era principalmente alegórico. O desenvolvimento de uma exegese gramáticohistórica pretendeu justamente dar valor ao significado das palavras em suas formas e modo de linguagem como um texto que em si comunica algo.1 Através dos últimos séculos o estudo linguístico e literário continuou influenciando o estudo das línguas bíblicas e a exegese bíblica. Nos séculos XVIII e XIX houve enorme avanço no estudo da língua e várias gramáticas hebraicas e gregas foram produzidas baseadas nos conhecimentos linguísticos daquele contexto. Muitas traduções da Bíblia para as línguas ocidentais, que ainda circulam em edições revisadas, foram feitas no final do século XIX e início do século XX. Essas traduções levaram em conta muitos dos conhecimentos linguísticos da época. Em função disso, até hoje parte da tarefa exegética de um texto bíblico envolve uma análise gramatical que tradicionalmente tem sido feita através de uma análise morfológica de cada palavra do texto em estudo. A análise 1

Um breve esboço do interesse pelo estudo do hebraico bíblico é apresentado por B. K. Waltke & M. O´Connor. Biblical Hebrew Syntax. Winona Lake: Eisenbrauns, 1990, pp.34-43.

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morfológica consiste na tarefa de dissecar a palavra hebraica, aramaica ou grega de modo a identificar sua raiz e sua forma gramatical. Então, uma palavra que seja identificada como um verbo é em seguida classificada na sua forma verbal quanto ao tempo, modo, pessoa, gênero e número. No hebraico, em particular, essa análise é importante também para identificar os prefixos e sufixos de uma palavra, pois além de desinências próprias, os prefixos hebraicos podem ser identificados por outros elementos gramaticais. Por exemplo, substantivos e adjetivos hebraicos recebem como prefixos artigo definido, preposições e conjunção. Atualmente, há vasta literatura de referência em outras línguas para auxiliar o estudante nessa tarefa, como os léxicos analíticos e os programas de computador que apresentam a análise morfológica completa. Em português para o NT já há obras bastante úteis, contudo, não se tem ainda algo semelhante para o AT. De todo modo, o estudante que tenha acesso a uma obra analítica em inglês, não terá dificuldades de entender a análise morfológica. A análise morfológica, portanto, ainda que tenha sido numa época uma análise trabalhosa e detalhada do texto, hoje pode ser executada com relativa facilidade. Além disso, é importante observar que a análise morfológica não oferece todos os elementos para uma boa tradução do texto. Dá-se a impressão que essa minuciosa análise garante uma tradução correta e fidedigna do texto. Porém, essa noção é um equivoco. Ou seja, é possível se fazer uma análise morfológica impecável e cometer vários erros na tradução do texto. A isso atribui-se uma ou mais das seguintes causas: a ênfase demasiada na morfologia gerando uma tradução muito literal, a falta de preocupação com a semântica e a desconsideração para com a sintaxe da gramática e das orações. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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Basicamente a questão reflete uma mudança de paradigma no estudo do texto. Enquanto, a análise morfológica se preocupa com etimologia, isto é, origem da palavra e a evolução de seu uso, e se fundamenta nos avanços da filologia, gramáticas e léxicos mais recentes tem sido influenciados pelos avanços da linguística e dado maior ênfase ao significado (semântica) das palavras e seus usos nas combinações (sintagmas) com outras palavras e frases conforme apresentadas nos textos existentes. O texto de Gn 12.4 é um bom exemplo para ilustrar o problema. A segunda parte do versículo é traduzida por "Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã" (NVI) que corresponde à frase hebraica:

    A análise morfológica dessa frase vai identificar as seguintes palavras e sua classificação:

        

conj. + nome próprio = e Abraão subst. masc. sing. no estado construto = filho de adj. numeral fem. sing. = cinco subst. fem. pl. = anos conj. + adj numeral fem. pl. = setenta subst. fem. sing. = ano prep. + inf. cstr de Qal + suf pron. 3 masc. sing. = em + sair + dele prep. + nome próprio = de Harã

Biblia Hebraica Stuttgartensia. Deutsche Bibelgesellschaft Stuttgart, 1990. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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Se a tradução do texto seguir literalmente esta análise, ficaria: "e Abraão filho de cinco anos e setenta ano em seu sair de Harã." Percebe-se aqui pelo menos quatro dificuldades nessa tradução: 1) a expressão "filho de...anos," 2) a discordância "setenta ano", 3) a expressão "em seu sair", e 4) a sintaxe da oração.3 Quanto a primeira questão, a análise semântica da palavra  constatará que este termo hebraico é usado para "designar indivíduos de uma espécie, tipo, grupo, ofício, caráter e idade."4 Neste sentido, a expressão "filho de..." simplesmente significa "tinha tantos anos." Observe que para se fazer a correta tradução não é suficiente apenas a análise morfológica, é preciso também investigar a semântica da palavra. Quanto a discordância da expressão "setenta ano" e também a construção "cinco anos e setenta ano", a sintaxe dos numerais mostra que os substantivos modificados por uma dezena é mantido no singular e os modificados por unidades passam para o plural. Portanto, a expressão deve ser traduzida por "setenta e cinco anos". A expressão "em seu sair", pode ser traduzida por "quando ele saiu". Isso se deve à sintaxe da preposição  que prefixada ao infinitivo construto pode ser traduzida por "quando" e à sintaxe do sufixo pronominal "dele" que no infinitivo construto pode ter o sentido subjetivo, traduzido pelo pronome pessoal (ele) ou objetivo, traduzido pelo pronome oblíquo (o). 3

Ainda um outro problema é a sintaxe da conjunção waw que estabelece a relação com a oração anterior. 4 Schökel, L. A. Dicionário Bíblico Hebreo-Español. Madrid: Editorial Trotta, 1994. v. , 123. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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Finalmente, observa-se que no hebraico não existe um verbo de ligação entre o sujeito "Abraão" e o predicativo "setenta e cinco anos". Contudo, de acordo com a sintaxe das orações hebraicas, descobre-se que um tipo de oração é a oração não verbal onde encontra-se um sujeito e um predicativo que no português precisa ser construída com um verbo de ligação. Neste caso, o verbo "tinha". Observa-se então que entre a análise morfológica e a tradução do texto é preciso investigar a semântica das palavras e fazer a análise sintática de elementos gramaticais e das orações. Essa análise, no entanto, raramente se faz presente nos trabalhos exegéticos apresentados nos seminários e presbitérios.5 Na prática o aluno faz toda a análise morfológica e depois traduz o texto comparando as diferentes versões em língua portuguesa, ou seja, descarta todo o trabalho feito. Muitas vezes, a “exegese” se resume a explorar uma forma verbal específica ou o sentido de uma palavra. Aliás, muitos pregadores que pretendem dar um embasamento exegético ao seu sermão citando palavras no original, geralmente, não conseguem passar de algum comentário morfológico do tipo, “este verbo no hebraico está no piel que denota uma ação intensiva, portanto, uma ação enfática...” Tais comentários podem transparecer um conhecimento dos originais para um público que nunca estudou as línguas originais e não tem menor ideia do que sejam as formas verbais, no entanto, eles refletem um conhecimento superficial da exegese bíblica. O propósito deste artigo é mostrar a importância de se investigar a sintaxe das palavras e orações numa análise 5

Na Igreja Presbiteriana do Brasil um candidato ao ministério pastoral precisa submeter ao seu presbitério além de uma monografia, uma exegese de uma passagem bíblica onde manifeste capacidade de manusear o texto original. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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exegética de Ageu 1.5-8. A implicação disso para o estudo exegético será dar maior ênfase aos aspectos sintáticos do texto do que os morfológicos.6 É como dizer que a análise morfológica representa um primeiro passo para o trabalho de tradução que precisa ser seguido também de uma análise sintática. É verdade que uma exegese envolve outras análises como a semântica, a estrutura da unidade literária, análise retórica e outras as quais não serão objeto de investigação no presente artigo. Para tal tarefa será preciso consultar não apenas dicionários e léxicos, como também obras específicas sobre a sintaxe hebraica. Em português há apenas duas, a obra de Crabtree publicada há vários anos e já esgotada e a obra mais recente de Carlos Oswaldo Pinto que serve de ótimo referencial para essa análise.7 Também não deixa de ser uma referência inigualável para um estudo mais apurado a obra de Gesenius em inglês.8 O presente artigo fará referência a estas duas últimas obras. Análise de Texto O texto de Ageu 1.5-89 é um bom exemplo da complexidade do uso das formas verbais no hebraico. Nestes 6

Para uma discussão da importância da análise sintática cf. B. K. Waltke & M. O´Connor, pp.49-53. 7 Pinto, C. O. C.. Fundamentos para exegese do Antigo Testamento. S. Paulo: Editora Vida Nova, 1998. 8 Gesenius, W. & Kautzsch, E. Gesenius’ Hebrew Grammar. Editado e Ampliado por E. Kautzsch. Trad. A. E. Cowley. 2 a edição, 20a impressão. Oxford: Clarendon Press, 1990. 9 Há opiniões diferentes quanto à correta delimitação da perícope. Meyers define Ag. 1.1-15 como a primeira unidade (C. L. Meyers & E. M. Meyers. Haggai, Zechariah 1-8. The Anchor Bible, vol. 25B. New York: Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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versículos há três aspectos específicos que exige uma análise sintática cuidadosa para a correta tradução: a série de infinitos absolutos seguido do perfeito no v.6, os três particípios do v. 6, e o imperativo seguido do perfeito no v. 8. O primeiro passo na análise sintática é a delimitação das orações hebraicas.10 Isso não apenas facilita a referência das orações mas serve de base para a análise do relacionamento das orações (subordinação e coordenação) e, consequentemente, a correta tradução. O critério usado para essa delimitação é a constituição de uma oração sintática a qual se define pela existência de um predicativo. Na prática isso significa que cada forma verbal finita (perfeito, imperfeito, imperativo) com seus complementos (sujeito, objeto, etc) forma uma oração. Também constitui uma oração os verbos infinitos (infinitivo absoluto, infinitivo construto e particípio) em seu uso verbal e as orações não verbais que possuam um predicativo.11 Deste modo o texto fica assim delimitado:

     

5a b 6a

Doubleday, 1987). Smith já entende que Ag 1.1-11 compõe uma unidade (Smith, R. L. Micah-Malachi. Word Biblical Commentary, vol. 32. ed. D. A. Hubbard. Waco: Word Books, Pub., 1984). Para finalidade deste artigo, basta observar que a unidade aqui analisada consiste do oráculo que é introduzido no v. 5 pela expressão, “Agora, assim diz o SENHOR dos Exércitos...” e encerra com “diz o SENHOR” no v. 8. 10 Esse passo é descrito por Cássio M. Dias da Silva como segmentação (Metodologia de Exegese Bíblica. S. Paulo: Edições Paulinas, 2000, pp. 8494). 11 No hebraico há orações que não usam verbos (pronome + predicativo), mas que constituem uma oração completa e na tradução exigem um verbo de ligação. Por exemplo a expressão   , literalmente, nâo profeta eu, cujo sentido é eu não sou profeta. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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                        

b c d e f g h i j 7a b 8a b c d e f

Esse oráculo é introduzido por uma expressão que é considerada a fórmula de introdução de oráculos  (Assim diz o SENHOR, v. 5a). O v. 5b inicia com um imperativo chamando o povo a uma reflexão sobre suas vidas. A expressão literalmente é Colocai o vosso coração sobre os vossos caminhos, cujo sentido pode ser Considerai os vossos atos.12 O teor dessa reflexão é o que se segue a partir do v. 6. Infinitos absolutos (v. 6) O v. 6 possui doze verbos, três dos quais são particípios que serão tratados mais adiante. O v. 6a é introduzido pelo 12

RC: Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos; RA: Considerai o vosso passado; NVI: Vejam onde os seus caminhos os levaram. Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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verbo no perfeito ( ) seguido de um infinitivo absoluto usado adverbialmente () .13 Em seguida há uma série de infinitivos: v. 6b (), v. 6c (), v. 6d (, construto), v. 6e () , v. 6f (, construto), v. 6g () e v. 6h (, construto). O infinito, tanto o construto como o absoluto, tem uma variedade de usos ou funções no hebraico.14 Como característica própria dos infinitivos, no hebraico eles tem tanto uma função verbal quanto nominal. Quando usados como verbo a noção de tempo é sempre dependente de uma forma finita do verbo que estabelece se a ação tem aspecto perfeito, imperfeito, imperativo, modal etc. Portanto, no caso do v. 6, a análise morfológica, que certamente auxiliará na identificação da forma verbal e da raiz da palavra, não dará, contudo, subsídios suficientes para a correta tradução dos infinitivos. O problema se agrava ainda quando se percebe que nem todos os infinitivos tem a mesma função gramáticosintática. Por exemplo, a simples análise morfológica sem a investigação da sintaxe produziria uma tradução do v. 6abcd puramente literal que é típica de tradução de textos interlineares cuja preocupação é reproduzir o sentido da forma. Seria algo como: Semeastes abundar e vir pouco, comer e não há para saciar. Entretanto, uma análise exegética não se contenta com uma tradução literal. Ela busca resgatar o sentido das palavras no seu contexto tanto sintático como semântico e literário. Assim, é preciso definir a função dos verbos usados. Conforme já mencionado, o infinitivo absoluto no v. 6a tem a função adverbial podendo ser traduzido por muito. A definição da função dos demais depende também de uma observação do 13 14

Pinto, p. 79. Cf. Gesenius-Kautzsch, pp. 339-355.

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relacionamento das orações. Ainda que as orações 6b à 6h sejam coordenadas à 6a, algumas são sindéticas (6b, 6d, 6f e 6h) e outras são assindéticas (6c, 6e e 6g). As orações 6b, 6d, 6f e 6h iniciam-se com a conjunção , e observa-se que, exceto v. 6b, a forma verbal empregada é a do infinitivo construto. A conjunção em todos estes casos pode ser traduzida no sentido adversativo.15 As orações 6c, 6e e 6g não são introduzidas pela conjunção e utiliza o infinitivo absoluto. Baseado nesta observação, pode-se reagrupar as orações sindéticas com as assindéticas e constatar que o verbo perfeito do v. 6a é seguido de três ocorrências do infinitivo absoluto conforme se pode visualizar abaixo:

      

6ab cd ef gh

A coordenação das orações possibilita que se interprete as ocorrências dos infinitivos absolutos no sentido verbal do perfeito do v. 6a. Os infinitivos construtos de 6c, 6f e 6h, com a preposição  denota finalidade. Portanto, a tradução destes verbos devem seguir o sentido do perfeito: 6ab 6cd 6ef 6gh

Semesastes muito, mas colhestes pouco, comestes, mas não para vos saciar, bebestes, mas não para vos satisfazer, vos agasalhastes, mas não para vos aquecerdes

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O v. 6b poderia ser interpretado como o uso consecutivo. Mas não é inteção do presente artigo analisar as funções da conjunção  (cf. Pinto, pp. 137-139). Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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Uma morfológica precisa ser seguida de uma análise mais ampla da relação das palavras na oração e das orações entre si. Particípios (v. 6i, 6j) O outro caso típico é o uso do particípio. No v. 6i e 6j há três ocorrências da forma do particípio sendo que as duas primeiras são da mesma raiz e forma verbal, mas cada uma é usada em um sentido diferente. Se o que o estudante se recorda do particípio é o tipo de ação que este descreve, ação duradoura, e explorar este sentido sem dar atenção à sintaxe, a tradução do v. 6i e 6j será inadequada. O primeiro caso (, v. 6i) é um particípio masculino singular no hithpael que se encontra com dois prefixos, o artigo definido e a conjunção . O fato de ter o artigo definido já aponta para um uso nominal do verbo. Neste caso, ele é usado no sentido substantivo: o assalariado.16 Não apenas isso, mas toda a oração 6i funciona como sujeito da oração 6j. Já o próximo caso (, v. 6j) que é idêntico na forma verbal, tem contudo uma função gramatical diferente. Sua função é verbal e pode ser traduzido por recebe salário. Por fim o último particípio (), que está na forma passiva de qal, tem a função adjetiva modificando o substantivo . Assim a oração   pode ser traduzida por o assalariado recebe salário para guarda numa bolsa furada. A análise morfológica identificaria a existência de três particípios, mas não iria longe o suficiente para analisar a função do particípio na oração. 16

cf. Pinto, p. 85.

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Imperativo (v. 8) O último caso a observar nestes versículos é a sequência do imperativo e o perfeito (v. 8a e 8b) e imperativo e imperfeito (v. 8c e 8de). Em ambos os casos uma análise morfológica que não desenvolvesse para uma análisa da função sintática do verbo no perfeito e no imperfeito e seu relacionamento com os imperativos que os antecededem falha na tradução correta do versículo. O que se constata imediatamente é que as orações 8b, 8c, 8d e 8e são sindéticas. A oração 8f, além de ser assindética, quebra a sequência das formas verbais, sugerindo assim ser uma oração independente. Observa-se também que o perfeito (8b) é seguido do imperativo (8a). Neste caso, o perfeito tem o sentido do imperativo. Assim a RA traduziu o perfeito: Subi ao monte, trazei madeira. Mas esta sequência também pode ser traduzida em um sentido consecutivo.17 A NVI corretamete traduziu essas duas orações como Subam o monte para trazer madeira...

 

8a b

A oração 8c é também sindética, mas muda novamente para a forma do imperativo e tem sido corretamente traduzida por edificai a casa. Mas as orações que seguem (8d e 8e) são orações sindéticas com a forma do imperfeito coortativo.

      17

c d e f

Gesenius-Kautzsch, p. 333.

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A RA traduziu essa parte do versículo como orações independentes: ...e edificai a casa; dela me agradarei e serei glorificado... Essa sequência do imperativo seguido de um imperfeito coortativo possibilita que se traduza o segundo como consequência.18 Deste modo, essas orações podem ser traduzidas como Edificai o templo (a casa) para que eu nela tenha prazer e seja glorificado... Novamente, a NVI corretamente traduz: Construam o templo para que eu me alegre e nele seja glorificado... Conclusão Estes casos são apenas alguns exemplos de como um trabalho exegético que busca extrair das línguas originais o sentido próprio do texto bíblico não pode se resumir a uma análise morfológica que não ofereça subsídios para uma correta tradução e consequentemente uma correta compreensão do texto e da mensagem bíblica. A análise morfológica deve ser entendida como o primeiro passo da análise gramático-sintática Como se pode observar aqui, por mais correta que seja a análise morfológica, esta carece de uma análise sintática para se chegar a correta tradução do texto.

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Gesenius-Kautzsch, p. 320.

Revista Teológica do Seminário Presbiteriano do Sul. Vol. 63, nº 56 (2003) p. 9-20

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