A aplicação do design de maneira sustentável como ferramenta colaborativa em projeto de produtos

June 4, 2017 | Autor: Junior Ferreira | Categoria: Industrial Design, Design Research, Environmental Sustainability, Design e sustentabilidade
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Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri IV Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012

A APLICAÇÃO DO DESIGN DE MANEIRA SUSTENTÁVEL COMO FERRAMENTA COLABORATIVA EM PROJETO DE PRODUTOS. Francisco Neudimar Ferreira Junior1 Iracema Tatiana Ribeiro Leite2 1. Introdução/Desenvolvimento O desenvolvimento de novos produtos sustentáveis ou a melhoria destes é uma tarefa complexa que requer um projeto equilibrado dos diferentes elementos de produção e consumo, que envolvem desde a extração da matéria prima até o descarte final, dentro de um sistema que inclui diversos stakeholders3. Esses stakeholders incluem os usuários finais, a comunidade local, o governo, organismos não governamentais e todos aqueles com interesses relacionados às diferentes fases do ciclo de vida do produto. (MARX & PAULA, 2011). O profissional do design precisa antes de tudo definir seu papel social em relação a sua atuação no mercado de trabalho, buscando melhorias não só para si ou para seus clientes, mas pensando no bem-estar de todo o planeta, e neste contexto, o profissional consciente deve fazer a sua parte, alertando-se para os danos que o seu trabalho pode promover na Terra. (CAMARGO, 2010). A presente reflexão pretende apresentar o design de forma sustentável como ferramenta colaborativa na produção de produtos, visando a sociedade consumista atual, onde cada vez mais o design tem mostrado sua importância. A estética, a funcionalidade, a escolha dos materiais, tudo contribui para a decisão do consumidor frente a tantas opções, mas dentre muitas, o produto para ser bom, é preciso ser funcional, ergonômico, esteticamente agradável, de custo acessível e ambientalmente sustentável.

A consciência do designer e o mundo em que vive. Segundo pesquisas como as de Leal e Oliveira (2002), Moraes (2005), Chaves (2003) e Ramos (2001), bem como consideração de Santos (2005) e Alcântara (2003) apud SILVIA e OLIVEIRA (2008), os designers nos dias atuais vêm mostrando uma grande preocupação em desenvolver produtos que causem menos impacto no meio ambiente. E mesmo que estes profissionais estejam motivados a desenvolver produtos menos impactantes, não sabem como fazê-los e não encontram informações adequadas para tal. Desta forma muitos designers preocupam-se apenas com a reciclagem e a escolha de materiais menos tóxicos, sendo que existe uma grande variedade no que diz respeito à relação dos parâmetros ambientais, como a reciclagem e a reutilização de materiais, com os possíveis produtos, como apontam estudos de Leal e Oliveira (2002). Segundo pesquisa do mesmo autor (ibidem) poucos profissionais de Design estão preparados para atuação em Ecodesign, conceituando o Ecodesign como a atividade que liga o que é 1 Graduando, Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará. [email protected] 2 Mestre, Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará. [email protected] 3 Partes interessadas ou intervenientes.

Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri IV Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012 tecnicamente possível ao ecologicamente necessário, ou seja, seu foco é ambiental, surgindo assim novas propostas social e culturalmente apreciáveis. Portanto, como dito anteriormente, muitos desses profissionais não vêem essa ferramenta como instrumento de mudança e aperfeiçoamento, frequentemente em decorrência do desconhecimento de preceitos de Ecodesign. Fato observado nas pesquisas de Leal e Oliveira (2002) foi que os designers mais experientes no ramo, já atuantes com colocação no mercado, não receberam essas informações sobre ecodesign durante sua graduação e, portanto, não têm condições de apresentar soluções para as demandas atuais por produtos ambientalmente amigáveis. E com isso faz-se necessário que tenhamos mais investimento na formação dos novos profissionais, para que estejam atentos às possibilidades de produção, respeitando o meio ambiente e pensando nas futuras gerações.

O design sustentável na sociedade de consumo. Segundo Enzio Manzini em entrevista a Revista Veja (MORAIS, 2007) os designers pensavam apenas em redesenhar os produtos e adaptá-los sob um ponto de vista ambiental. Embora tenha eficiência, o consumo dos produtos aumentaram, mostrando que nem todos os passos do ecodesign são um passo à frente para sustentabilidade. Porém a noção que temos do design sofreu modificações. Hoje procuramos unir a tecnologia com a cultura em busca de soluções que torne o mundo melhor, considerando o sistema em si e não somente o produto. Na mesma entrevista à Revista Veja Ezio Manzini afirma que: […] as pessoas pensam com boa vontade no uso de produtos que reduzam o impacto ambiental, porém não basta que pensemos somente nesta ação sem que haja uma mudança bem maior, que abrace a todos que vivem numa sociedade, podendo desta maneira achar radical demais para ser feita imediatamente, mas se faz necessário que as nossas ações sejam feitas para mantermos a qualidade de vida na terra. (MORAIS, 2007)

Ezio Manzini (ibidem) também ressaltou que a grande dificuldade de trabalhar com desenvolvimento de produtos sustentáveis é devido aos números de pessoas que querem a mudança pela sustentabilidade ainda serem poucos, e por essa mudança necessitar de um alcance maior, a nível global, acham muito radical para serem executada imediatamente.

As ferramentas do design para o desenvolvimento sustentável A aplicação do princípio de sustentabilidade no design de produtos deu origem a abordagens como o Design para Sustentabilidade e Ecodesign, que teve o impulso no fim da década de 80 e amadureceram no início deste século. Um design inserido em consequência do movimento ambientalista. Há um consenso mundial sobre a urgência em encontrar um modelo econômico sustentável, mas cada país, organização e empresa entendem desenvolvimento sustentável de uma forma, geralmente a adequada aos seus interesses. O design para o desenvolvimento sustentável está sendo sempre embasado em temáticas atuais como, o protocolo de Kyoto, Agenda 21, Metas do Milênio, dentre outros, possibilitando ao conceito de Design para Sustentabilidade estar sempre atualizado. Para Manzini e Vezzoli (1998, p.2), Design para Sustentabilidade é “uma atividade de design com o objetivo de conectar o que é ‘tecnicamente possível’ com o que é ‘ecologicamente necessário’”, levando em consideração que o ecodesign faz parte do design sustentável, por seus conceitos responderem as necessidades quando seu foco é o meio ambiente, não há grande diferença, por isso nas pesquisas, seus conceitos sobre eles se assemelham, e muitas

Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri IV Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012 vezes os termos são usados erroneamente, como se um fosse diferente do outro, por falta dessa informação. Ressaltando o aspecto cultural do problema do consumo, levando em consideração que cultura é tudo aquilo que não é natural, ou seja, um ato ou realização do ser humano no seu mundo (VANNUCCHI, 2008, pag. 21), os autores sugerem que o design pode atuar construindo novos cenários onde irão induzir no comportamento dos consumidores algumas alterações. Segundo ainda Manzini e Vezzoli (1998) dentro da atuação do profissional projetista foram identificados três cenários que são cruciais que podem ser explorados conforme o seu grau de atuação: 1. Ênfase na reciclagem – Em produtos que tem uma vida útil pequena, mas que seu material possa ser reutilizado para projetar outros produtos. 2. Ênfase no estabelecimento de uma relação afetiva duradoura entre usuário e produto – Os produtos têm uma durabilidade para que o usuário não descarte rapidamente e mantenha uma relação maior entre produto-usuário. 3. Ênfase em serviços – Há a desmaterialização de um produto, como a troca de uma secretária eletrônica pelo correio de voz. Os cenários apresentados tendem a fazer com que o designer projete seus produtos de maneira que todo seu processo de criação já seja previamente pensado na forma que o usuário vai utilizar o mesmo, podendo haver a possibilidade de desmaterialização de um produto por um serviço que supra essa necessidade. Segundo Dewulf (2003), o profissional deve ter como objetivo a melhoria do “eco eficiência” do produto e ir além da aplicação do projeto para abranger a estruturação da empresa. O autor ressalta que a busca da melhoria do produto e seu redesign podem reduzir o impacto do mesmo, em média, quatro vezes. Essa redução de impacto do produto deve ser feita de maneira pensada desde sua ideia inicial à concepção do projeto, na construção do produto e no seu descarte final, tudo deve ser ponderado para que todo o impacto que ele causaria ao meio ambiente seja reduzido de forma significante.

2. Metodologia A pesquisa é considerada como um método de pensamento reflexivo no qual requer um tratamento cientifica, construindo um caminho para que seja possível o conhecimento da realidade ou que seja descoberta a verdade. (LAKATOS; MARCONI, 2011) Para tanto neste presente resumo foi realizado uma ampla pesquisa bibliográfica através de livros, revistas, publicações avulsas e na imprensa escrita. Com a finalidade de colocar o pesquisador diretamente em contato com aquilo que já foram publicados. (LAKATOS; MARCONI, 2011) A característica exploratória desse estudo tem como objetivo explorar o campo da sustentabilidade tornando possível sua aplicação em projetos de produtos, logo, alia as vantagens de conseguir os aspectos qualitativo, como também, quantitativos das informações através do levantamento bibliográfico. (MINAYO; SANCHES, 1993)

Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri IV Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012

3. Considerações Finais Quando falamos em desenvolvimento sustentável bem sabemos que é uma das maiores apostas dos últimos tempos por seus diversos benefícios, como a melhoria da qualidade de vida, e ampla área de atuação. O design sustentável é economicamente e socialmente viável e ecologicamente benéfico, se for posto em prática da maneira correta e abrangendo de forma global. E para tanto, os profissionais de design devem pesquisar e atualizar seus conhecimentos às questões ambientais e tecnológicas. Existem várias possibilidades de reduzir o impacto dos produtos, como a destinação dos resíduos para o descarte de forma ambientalmente correta, esses conceitos variam de autor para autor, colocando-os em prática para podermos alcançar um equilíbrio entre o consumo e o bem estar. O designer deve-se pensar desde o inicio do projeto, com possibilidades de substituir a matéria prima, os materiais e seu processo, por requisitos que não sejam nocivos ao meio ambiente, conscientizando também o consumidor de como é possível reduzir o impacto gerado pelo consumo de produtos.

4. Referências CAMARGO, Luciana Nishi Ferreiraet al. O Papel Social do Design Visando a Sustentabilidade. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Facultad de Diseño y Comunicación. Universidad de Palermo. ISSN 1850-2032. Disponível em: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/act as_diseno/articulos_pdf/ADC082.pdf. Acesso em 5 jul 2012. DEWULF, Wim. A Pro-Active Approach To Ecodesign: Framework and Tools. 2003, 208f,. Tese (Doutorado em Design) - Katholieke Universiteit Leuven, Leuven, 2003 LEAL & OLIVEIRA, Lorena; OLIVEIRA, Alfredo Jefferson. Demanda de Informações Sobre Ecodesign por Projetistas de Produto. In: 5° P&D I Congresso Brasileiro de Pesquisa em Design, Brasília: AEnd, 2002. MANZINI, Ezio.; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: requisitos ambientais dos produtos. São Paulo: EdUSP, 1998. MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARX, Ângela Maria; PAULA, Istefani Carísio de. Proposta de uma sistemática de gestão de requisitos para o processo de desenvolvimento de produtos sustentáveis. Prod. vol.21 no. 3 São Paulo July/Sept. 2011 EpubAug 26, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010365132011000300006&lang=pt. Acesso em 5 jul 2012. MINAYO, M. C. de S. & SANCHES, O. Quantitativo-qualitativo: oposição ou complementaridade? Cad. Saúde Pública, 9: 239-62, 1993 MORAES, Patrick. Dez perguntas para Ezio Manzini, especialista em design sustentável. Revista Veja Rio, Rio de Janeiro, 17 set 2007. Disponível em: . Acesso em: 04 ago 2012.

Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri IV Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012 SILVIA, Júlio C. Augusto da; OLIVEIRA, Alfredo Jefferson. Expectativas dos designers brasileiros para ferramentas de Ecodesign. In Anais do 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: 2008. SIENA, Osmar. Método para avaliar progresso em direção ao desenvolvimento Sustentável. 2002, 234 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2002. VANNUCCHI, Aldo; Cultura Brasileira: o que é, como se faz. Sorocaba: UNISO, 4º Edição, 2008.

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