A aprendizagem da leitura e da escrita. Teoria e Prática - Apresentação

July 5, 2017 | Autor: Antonio Roazzi | Categoria: Reading, Writing, Leitura, Escrita, Alfabetização, Alfabetization
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Como se aprende a ler e escrever? Quais habllldadfi dt l • favorecem aprendizagem d.i lin e psicólogos. Mas é direcionado, também, aos alunos dos c ursos de graduação e pós-graduação que se interessam pelo-, tesiil tados de estudos realizados por pesquisadores que lid.im mm estas questões do ato de aprender a ler e escrever em su.r, I.IM iniciais, estabelecendo uma ponte entre a teoria e a prática.

ORGANIZADORES

António Roazzi Maria José dos Santos • Al. 'xandra da S. Moita Minervino Monilly Ramos Araújo Melo Fraulein Vidigal de Paula Natássia da Silva Amaral Jane Corrêa Rubem Muniz Baptista Julie Dockrell Sandra Patrícia Ataíde Ferreira Ludmilla Lima Vilas Boas Sandra R. Kirchner Guimarães Miírcia Maria P E. da Mota Sônia Zyngier !' • Rosário de Fátima de Carvalho Sylvia Domingos Barrera

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EDITORA

PSICOLOGIA

LEITURA ESCRITA A sua Aprendizagem na Teoria e na Prática

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EDITORA AFILIADA

António Roazzi Fraulein Vidigal de Paula Maria José dos Santos Organizadores

Editora da Juruá Psicologia: Ana Carolina Bittencourt

ISBN: 978-85-362-4616-1

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Brasil - Av. Munhoz da Rocha, 143 - Juvevê - Fone: (41) 4009-3900 Fax: (41) 3252-1311 - CEP: 80.030-475 - Curitiba - Paraná - Brasil EDITORA Europa -Rua General Torres, 1.220 - Lojas 15 e 16 - Fone: (351) 223 710 600 Centro Comercial D'Ouro - 4400-096 - Vila Nova de Gaia/Porto - Portugal

LEITURA ESCRITA A sua Aprendizagem na Teoria e na Prática

Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco Colaboradores R628

Roazzi, António. Leitura & escrita: a sua aprendizagem na teoria e na prática./ António Roazzi, Fraulein Vidigal de Paula, Maria José dos Santos./ Curitiba: Juruá, 2014. 200p. l. Leitura. 2. Escrita. 3. Psicologia da aprendizagem. I. Paula, Fraulein Vidigal de. II. Santos, Maria José dos. III. Título.

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António Roazzi Carla Alexandra da S. Moita Minervino Fraulein Vidigal de Paula Jane Corrêa Mie Dockrell Ludrnilla Lima Vilas Boas Márcia Maria P. E. da Mota Maria do Rosário de Fátima de Carvalho

Maria José dos Santos Monilly Ramos Araújo Melo Natássia da Silva Amaral Rubem Muniz Baptista Sandra Patrícia Ataíde Ferreira Sandra R. Kirchner Guimarães Sônia Zyngier Sylvia Domingos Barrera

CDD 372.4 (22.ed.) CDU 372.4

Visite nossos sítes na internet: www.juruapsicolpgia.com.br e www.editorialjurua.com e-ma\\: [email protected]

Curitiba Juruá Editora 2014

Integrantes dos CONSELHOS EDITORIAIS da Wfíltô EDlTORfi nas áreas de PSICOLOGIA e SAÚDE Adriano Furtado Holanda

cias da Saúde. Esp. em Psiquiatria. Graduado em Medicina. Prof. Universitário.

Dr. e Me. em Psicologia. Graduado em Psicologia. Gilberto Gaertner Prof. Universitário. Me. em Engenharia de Produção. Esp. em: ForÁlvaro Roberto Crespo Merlo mação em Psicologia Somática Biossíntese; ForDr. em Sociologia pela Université de Paris VII mação em Integração Estrutural Método Rolf; Denis Diderot em 1996. Prof. e graduado em MeFormação em Bioenergia Raízes; e Psicologia Cordicina. poral - Orgone. Ana Magnólia Mendes Irene Pereira Gaeta Pós-Dra. pelo Conservatoire National dês Arts et Dra. e M.a em Psicologia Clínica. Graduada em Métiers (CNAM), Paris. Dra. em Psicologia - UnB Psicologia. Prof.a Universitária. e Universidade de Bath, Inglaterra. M.3 e graduaJoanneliese de Lucas Freitas da em Psicologia. Prof.a Universitária. Dra. em Psicologia. M.a em Processos de DesenAna Maria Jaca Vilela volvimento Humano e Saúde. Graduada em PsiPós-Dra. em História e Historiografia da Psicolocologia. Prof.3 Universitária. gia. Dra. e M.a em Psicologia. Graduada em PsiJosemar de Campos Maciel cologia. Prof.a Universitária. Dr. em Psicologia. Me. em Psicologia e em TeoloBenno Becker Júnior gia Sistemática pela Pontifícia Universidade GreDr. em Psicologia pela Universidad de Barcelona, goriana de Roma. Graduado em Filosofia e em U.B., Espanha. Me. em Pedagogia. Esp. em MéTeologia. Prof. Universitário. todos e Técnicas de Ensino. Graduado em PsicoJorge Broide logia e em Educação Física. Dr. em Psicologia Social. Me. em Psicologia ClíniCarlos Oiogenes Cortes Tourinho ca. Graduado em Psicologia. Prof. Universitário. Dr. e Me. em Filosofia. Esp. em Filosofia Contemporânea. Graduado em Psicologia e em Filosofia. Júlio César Acosta Navarro Prof. Universitário. Dr. em Cardiologia. Doutorado no Programa de Integração de América Latina. Esp. em Cardiologia Cristina Maria Carvalho Delou Clínica pela Pós-graduação da Universidade Mayor Dra., M.a e Esp. em Educação. Graduada e Lie. de San Marcos, Lima, Peru. Graduado em Mediem Psicologia. cina Humana - Universidad Nacional Federico Villarreal, Lima, Peru. Médico. Prof. Universitário. Djalma Lobo Jr. Psicólogo e Parapsicólogo. Coordena grupos psi- Leda Gonçalves de Freitas coterapêuticos. Dra. em Psicologia Social e do Trabalho. M.a em Educação. Graduada em Psicologia. Prof.a UniverEmilia Estivalet sitária. M.a em Saúde Pública. Graduada em Psicologia. Psicanalista. Prof.a Universitária. Lis Andréa Pereira Soboll Dra. em Medicina Preventiva. M.3 em AdministraElza Maria do Socorro Dutra ção. Graduada em Psicologia. Professora. Dra. em Psicologia Clínica. M.a em Psicologia Escolar. Graduada em Psicologia. Prof.3 Universi- Luiz António Penteado de Carvalho tária. Me. e Graduado em Medicina. Esp. em Ortopedia e Traumatologia. Prof. Universitário. Fátima Lobo M.a em Psicologia pela UFMG. Graduada em Psi- Maria Auxiliadora da Silva Campos Dessen cologia. Prof.3 Universitária. Pós-Dra. pela Universidade de Lancaster, Inglaterra, e pelo Instituto Max Planck para o DesenvolGabriel José Chittó Gauer vimento Humano e Educação. Dra. em Psicologia Pós-Dr. pelo Departamento de Psicologia da UniExperimental pela USP. Graduada em Psicologia. versidade de Maryland. Dr. em Medicina e CiênProf.3 Universitária.

António Roazzi / Fraulein Vidigal de Paula / Maria José dos Santos (Orgs.). Marília Viana Berzins Ora. em Saúde Pública. M.a em Gerontologia Social. Esp. em Gerontologia. Assistente Social. Míriam Debieux Rosa

Rosângela Dutra de Moraes Dra. em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental (NAEA/UFPA), com Doutorado Sandwich na Faculdade de Psicologia da Universidade Autónoma de Madrid, Espanha. Graduada em Psicologia. Professora.

Dra. e M.a em Psicologia (Psicologia Clínica). Graduada em Psicologia. Prof.a na Graduação e na Ruth Gelehrter da Costa Lopes Pós-Graduação. Psicanalista. Dra. em Saúde Pública. M.a em Psicologia Social. Roberto Heloani Graduada em Psicologia. Prof.a Universitária. Pós-Dr. em Comunicação. Dr. em Psicologia. Me. em Administração. LD. em Teoria das Organiza- Sandra Maria Sales Fagundes ções pela Unicamp. Prof. Universitário.

Me. em Educação. Esp. em Saúde Comunitária. Graduada em Psicologia. Tutora-Professora em EAD e psicoterapeuta.

SUMARIO A aprendizagem da leitura e da escrita: teoria e prática - Apresentação

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António Roazzi / Maria José dos Santos / Fraulein Vidigal de Paula

Sessão l Entre o não saber e o saber, o que faz parte do caminho? Capítulo l A aprendizagem da leitura e da escrita: Princípios teóricos, históricos, níveis conceituais e aspectos motivacionais do processo de aprendizagem do código alfabético 19 António Roazzi / Carla Alexandra da S. Moita Minervino / Monilly Ramos Araújo Melo Capítulo 2 A ocorrência de hipersegmentações na escrita e o desenvolvimento do conceito de palavra morfológica 41 Jane Corrêa / Julie Dockrell / Sônia Zyngier Capítulo 3 Processamento morfológico e linguagem escrita - O que as pesquisas brasileiras apontam? 55 Márcia Maria P. E. da Mota / Fraulein Vidigal de Paula / Sandra R. Kirchner Guimarães Capítulo 4 Compreensão em leitura e desempenho escolar. Sylvia Domingos Barrera / Maria José dos Santos

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António Roazzi / Fraulein Vidigal de Paula / Maria José dos Santos (Orgs.).

Capitulo 5 A compreensão textual por estudantes cegos congénitos: O género crónica... 85 Ludmilla Lima Vilas Boas / Sandra Patrícia Ataíde Ferreira Sessão 2

A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA

O que sabemos sobre como encurtar a distância?

ESCRITA: TEORIA E PRÁTICA APRESENTAÇÃO

Capítulo 6 Interação social e leitura: O papel da família no desenvolvimento da língua escrita 111 Márcia Maria P. Elia da Mota / Rubem Muniz Baptista / Natássia da Silva Amaral Capítulo 7 Habilidades cognitivas e suas relações com dificuldades na aquisição da leitura e escrita: Pressupostos para intervenção na sala de aula 127 Monilly Ramos Araújo Melo / António Roazzi / Carla Alexandra da S. Moita Minervino Capítulo 8 A fluência oral de leitura como indício de internalização da cultura letrada 145 Maria do Rosário de Fátima de Carvalho Capítulo 9 Avaliação da leitura e escrita em diversos contextos

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Carla Alexandra da S. Moita Minervino / António Roazzi l Monilly Ramos Araújo Melo Sobre os autores

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índice Alfabético

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DESAFIO: LEVANTANDO QUESTÕES SOBRE A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA

Um dos maiores desafios nacionais contemporâneos é sem dúvida a promoção da aprendizagem da leitura e da escrita, da fase inicial do processo de alfabetização - o que no ensino público brasileiro começa a partir do 1° ano do ensino fundamental, para crianças entre 6 anos e 7 anos de idade completos - ao seu aperfeiçoamento, que se prolonga para além dos anos de escolaridade obrigatória. Parte deste desafio consiste em identificar quais são os fatores implicados no processo de ensino e aprendizagem inicial e no aperfeiçoamento da língua escrita, condição para melhor compreender e intervir com a finalidade de auxiliar o aprendiz de modo mais efetivo. Como se aprende a ler e escrever? Quais habilidades de base favorecem aprendizagem da língua escrita ou, até mesmo, se constituem nas condições necessárias? Quais habilidades podem ser identificadas como preditoras do sucesso no processo de alfabetização? Como detectar e verificar aspectos do desenvolvimento linguístico das crianças que são relevantes em uma perspectiva de continuidade com os objetivos de formação, no âmbito da escola, em suas fases iniciais (pré-escolar e primária)? Como, também, o envolvimento das famílias pode contribuir com o processo de escolarização, auxiliando no desenvolvimento da leitura e da escrita? Como as questões teóricas estão imbricadas intimamente com a prática do ensino no âmbito escolar em diferentes contextos? Estas são algumas das questões teóricas que, respondidas, podem favorecer nossa compreensão do processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Como aprimorar aspectos da competência linguística (consciência fonológica, consciência textual, consciência pragmática, entre outros)

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das crianças nas fases iniciais da alfabetização? Como promover didáticas atentas ao desenvolvimento metalinguístico e metafonológico? Questões como estas são comuns entre professores, pesquisadores e todos os profissionais que lidam com crianças, sobretudo, nas fases iniciais da aprendizagem da leitura e da escrita. As preocupações decorrentes destas questões têm norteado os autores dos capítulos que compõem este livro visando, neste sentido, contribuir em encontrar respostas e esclarecimentos a partir de suas pesquisas na área. De fato, os autores dos capítulos são todos pesquisadores que atuam diretamente e indiretamente nesta área da aprendizagem da leitura e da escrita com relevantes contribuições e implicações na área educacional.

escolaridade média da população, porém os resultados, nas últimas avaliações realizadas pelo MEC, mostram médias de proficiência em língua portuguesa muito abaixo do adequado, sendo que, em alguns estados as crianças terminam o ensino fundamental sem conseguir compreender um texto. Comparativamente com anos anteriores, atualmente existem mais crianças nas escolas, no entanto o crescimento quantitativo infelizmente não fora correspondente ao qualitativo. Diante do cenário educacional brasileiro a contribuição da pesquisa se faz necessária no sentido de compreender o ato de ler e escrever e, assim, oferecer subsídios para práticas pedagógicas que favoreçam a aprendizagem da leitura e escrita. Segundo os autores, as investigações realizadas nos últimos anos por pesquisadores da área cognitiva podem ser resumidas em dois grupos de pesquisas em função dos princípios que as norteiam: linguagem como capacidade cognitiva e linguagem como capacidade social. Neste sentido, os autores se propõem a apresentar os princípios teóricos norteadores da aprendizagem da leitura e da escrita, com destaque para os processos de simbolização e significado da linguagem falada e linguagem escrita, para os níveis conceituais do processo de construção do código alfabético, além de refletir também sobre os métodos de ensino e a relação dos mesmos com estes níveis conceituais. O ambiente, a interação social e o papel do adulto e dos pares neste processo também serão alvos de atenção. No segundo capítulo, as autoras abordam o modo como o aprendiz iniciante da língua escrita segmenta palavras na escrita, demonstrando o quanto esta não é uma habilidade natural e obvia para este. Com o título A ocorrência de hipersegmentações na escrita e o desenvolvimento do conceito de palavra morfológica, informam que a separação das palavras pelo uso de espaços em branco no texto, dispositivo naturalizado para escritores experientes, toma como base um critério gramatical: a noção de classes de palavras. Uma vez que a separação das palavras no texto não pode ser decidida pela criança com base na oralidade, é frequente, na escrita infantil, a ocorrência segmentações não-convencionais como é o caso das hipersegmentações, (segmentação das palavras além daquela prevista pela norma). A ocorrência de hipersegmentações na escrita da criança tem sido explicada por duas hipóteses: a) a criança toma por referência a prosódia, valendo-se, desta forma, da mediação da linguagem oral para o entendimento da linguagem escrita e b) a criança toma como referência seu conhecimento acerca das diferenças entre as várias classes de palavras e o contexto sintático.

DA TEORIA À PRATICA: ENCURTANDO DISTANCIAS Pensando desta maneira, organizamos o livro em duas sessões que compreendem o total de nove capítulos, redigidos por pesquisadores e profissionais das áreas de psicologia e educação, que compartilham os mesmos aportes teóricos da Psicologia Cognitiva, e o mesmo propósito de produzir conhecimento relevante para o aperfeiçoamento da qualidade do processo educativo. A primeira sessão, que chamamos de Entre o não saber e o saber, o que faz parte do caminho?, é composta de cinco capítulos que consistem em uma introdução teórica ao tema e à caracterização do contexto da alfabetização inicial no Brasil. Nos capítulos são abordados diferentes fatores que estão envolvidos na aprendizagem e desempenho em leitura e da escrita no ensino fundamental. Na sessão seguinte, reunimos cinco capítulos quem procuram responder à questão O que sabemos sobre como encurtar a distância? Estes abordam a prática da alfabetização, em termos de intervenções possíveis para avaliar e promover o aprendizado na escola, bem como no contexto familiar da criança. No capítulo que inaugura a primeira sessão do livro, intitulado A aprendizagem da leitura e da escrita: princípios teóricos e níveis conceituais do processo de aprendizagem do código alfabético, os autores argumentam que o perfil da educação brasileira apresentou significativas mudanças nas duas últimas décadas. Houve substancial queda da taxa de analfabetismo, aumento expressivo do número de matrículas em todos os níveis de ensino e crescimento sistemático das taxas de

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Apresentam dados consistentes de pesquisa que permitem afirmar que a ocorrência de hipersegmentações na escrita pode ser compreendida em função da mudança na hipótese infantil de que palavras com um sentido eminentemente gramatical não seriam representadas de forma independente na escrita. As hipersegmentações podem ainda ser explicadas pelo uso de pistas prosódicas, ou seja, da entoação da voz enquanto lemos ou ouvimos um texto, ainda que mentalmente. Porém, somente nos casos em que um dos segmentos coincide com uma palavra funcional. Este estudo mostra ainda que as hipersegmentações tornam-se progressivamente restrita aos advérbios e pronomes. Observa-se, também, que as hiperseg-. mentações na escrita infantil decrescem quando a criança apoia-se menos na linguagem oral e mais em seus conhecimentos acerca da morfologia, ou seja, das unidades e regras de formação do significado das palavras. Prosseguindo no tema do papel da morfologia para este aprendizado, no terceiro capítulo as autoras nos propõem uma reflexão a respeito do Processamento morfológico e linguagem escrita - o que as pesquisas brasileiras apontam? Colocam em evidência o crescente número de estudos brasileiros que tem se dedicado a pesquisar a consciência morfológica e como esta se relaciona ao desenvolvimento de outras habilidades linguísticas, à leitura e à escrita, no processo de alfabetização. Dentre as habilidades metalinguísticas (habilidade de refletir sobre a linguagem como objeto do pensamento), a consciência fonológica e a consciência morfológica aparecem na literatura como importantes para o sucesso na alfabetização. A mais estudada dessas duas habilidades é a consciência fonológica, que diz respeito à habilidade de manipulação deliberada dos sons da língua. A consciência morfológica, bem menos estudada, refere-se à reflexão e manipulação intencional da estrutura morfológica das palavras. Embora a consciência morfológica contribua com uma proporção menor da variância do que a consciência fonológica para leitura e escrita, a contribuição dessa habilidade é significativa e independente da consciência fonológica. Os trabalhos apresentados neste capítulo se enquadram neste perfil de investigação, refletindo sobre as implicações educacionais de achados recentes no âmbito da pesquisa, além de destacar a complexidade das relações entre consciência morfológica, leitura com compreensão e desenvolvimento ortográfico. São sugeridos caminhos para o futuro da pesquisa sobre esta temática. O quarto capítulo aborda o tema da relação entre Compreensão leitora e desempenho escolar. As autoras enfatizam a importância da leitura como elemento fundamental para a aquisição de novos conheci-

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mentos para o sucesso escolar, o desenvolvimento profissional, social e cultural das pessoas. Partem do princípio de que a leitura comporta dois processos distintos e complementares: o reconhecimento de palavras (decodifícação) e a compreensão. Com o objetivo de verificar a relação entre o desempenho em tarefa de compreensão de texto e o rendimento escolar, investigaram alunos do 5° ano do ensino fundamental. A compreensão leitora mostrou-se mais fortemente correlacionada com o rendimento dos alunos nas disciplinas de Português, História e Matemática, do que com o rendimento' dos mesmos nas disciplinas de Ciências e Geografia. As autoras assinalam que uma possível explicação para as diferenças encontradas pode estar na forma como as disciplinas são ensinadas e avaliadas, sendo admissível supor que, quanto mais os conteúdos abordados dizem respeito a conceitos abstratos, que devem ser sistematizados, sobretudo, de forma verbal, maior é a influência das habilidades de leitura/compreensão na sua assimilação e reprodução. As autoras salientam que, para muitos alunos, a compreensão leitora deve ser trabalhada de forma explícita e intencional, a fim de possibilitar uma leitura mais eficiente e o domínio efetivo dos conhecimentos escolares das diversas disciplinas. Segundo as autoras do quinto capítulo, A compreensão textual por estudantes cegos congénitos: o género crónica, o termo deficiência visual refere-se a uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congénitas ou hereditárias. Essa diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda e ausência total da resposta visual, ou seja, a cegueira. No que se refere ao domínio da leitura e escrita no sistema Braille, é imprescindível que o cego utilize bem os movimentos das mãos e que sua coordenação motora fina seja estimulada, precoce e incessantemente, para garantir qualidade na leitura, assumida como uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que envolve o processo inferencial. A inferência é um processo cognitivo gerado a partir da integração de informações textuais e contextuais, favorecendo a construção de sentidos, que é a própria compreensão. Neste contexto, são apresentados e discutidos os resultados de uma investigação sobre a compreensão textual em três alunos cegos com domínio do Braille, frente ao género conto, matriculados no Ensino Médio, de uma escola pública, localizada no centro da cidade do Recife, que atende a pessoas sem e com deficiências. Estes participaram de sessões individuais de compreensão textual, nas quais responderam a perguntas inferenciais sobre o conto esco-

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Ihido, ou seja, perguntas sobre informações que não estão diretamente presentes no texto, mas que podem ser elaboradas a partir da memória do leitor, de seu conhecimento linguístico e de mundo. As autoras analisam os caminhos de produção de sentido pelos três alunos e enfatizam, de modo especial, o processo de elaboração de inferências a partir da consideração das condições de produção: o tipo de texto escolhido; a situação de leitura proposta e a presença de interlocutores (reais e/ou virtuais), no caso dos reais: o pesquisador. De modo geral, verificou-se que os alunos cegos demonstraram dificuldade em integrar os seus conhecimentos prévios às informações textuais para o estabelecimento das inferências. Por outro lado, também produziram inferências esperadas, sendo estas, na maioria, de base textual, pois os participantes se preocuparam em buscar as respostas exclusivamente a partir das informações presentes na superfície textual. No que se refere ao tipo de inferência produzida, constatou-se que a mais frequente foi a de sintetização. As autoras também discutem as implicações educacionais destes resultados. No sexto capítulo, que inaugura a segunda sessão do livro, Interação social e leitura: o papel da família no desenvolvimento da língua escrita, as autoras assinalam que o papel das interações sociais no desenvolvimento e na educação, tem sido discutida desde os primórdios da psicologia. No que diz respeito à educação, as interações sociais são vistas, em geral, pela perspectiva da relação professor-aluno e suas consequências para aprendizagem. Entretanto, pesquisas recentes têm demonstrado que o envolvimento das famílias tem um efeito positivo sobre o processo de escolarização e se sobrepõem ao impacto da escola e da comunidade. Uma das áreas que tem focado no papel das interações sociais entre pais e alunos é chamada de Home Literacy e diz respeito às práticas de leitura realizadas no contexto familiar. Essa é uma área que merece atenção especial, porque a maioria dos estudos sobre alfabetização foca o período em que a instrução formal da língua escrita se estabelece e pouca ênfase é dada às experiências na família e suas consequências para o desempenho escolar. Adicionalmente, os fatores que afetam a aquisição da língua escrita começam a influenciar a alfabetização bem antes da instrução formal se iniciar. Assim, é preciso pensar em como se desenvolvem essas habilidades precursoras da alfabetização e qual o papel da família nesse processo. Este capítulo apresenta uma revisão dos principais textos sobre Home Literacy, ou as práticas de leitura que a criança tem na família, e sua relação com o sucesso na alfabetização. Aponta para necessidade de pesquisas nacionais sobre o tema e para os desafios da intervenção nessa área.

No sétimo capítulo, intitulado Habilidades cognitivas e suas relações com dificuldades na aquisição da leitura e escrita: pressupostos para intervenção na sala de aula, os autores argumentam que a abordagem cognitiva da leitura e da escrita apresenta modelos de organização destes processos baseados na concepção que destaca o papel das habilidades cognitivas como fatores decisivos no desenvolvimento da leitura e da escrita. As evidências apresentadas, defendendo a importância das habilidades cognitivas na explicação das dificuldades da leitura e escrita, não deixaram suficientemente explicada a relação entre as principais habilidades cognitivas subjacentes à aquisição e ao desenvolvimento proficiente destes processos e o desempenho das crianças nas tarefas que avaliam os mesmos. O estudo apresentado tem como objetivo geral, portanto, analisar a relação entre as habilidades cognitivas e o desempenho em leitura e escrita. É uma investigação com delineamento correlacionai numa amostra de crianças com idade variando entre 6 e l O anos, de ambos os sexos, matriculadas de 1a a 4a série do ensino fundamental, que provém de escolas particulares. Para a coleta dos dados foram utilizados três instrumentos: Questionário Sócio-demográfico, Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e o Protocolo de avaliação de habilidades cognitivo - linguísticas - PACL. Os resultados desta investigação e seus desdobramentos para a prática escolar são discutidos na última seção deste capítulo. No oitavo capítulo, com o título A fluência oral de leitura como indício de internalização da cultura letrada, a autora desenvolve reflexões sobre a fluência de leitura oral como indício de compreensão textual e de internalização da estrutura de pensamento da cultura letrada. Isto se daria na tensão entre a escola como espaço (não-lugar) de domínio da língua escrita e as lutas dos indivíduos e grupos, na tecitura de seus lugares de leitor, na sociedade e na escola. Apresenta-se um instrumento de avaliação da fluência de leitura. Possíveis implicações deste instrumento são apontadas, como recurso didático-pedagógico para a formação e a prática docente no ensino fundamental. Implicações também são sugeridas para a metodologia da pesquisa em avaliação de leitura e para a discussão teórica sobre a definição de um ponto entre o domínio e o não-domínio da língua escrita. No nono e último capítulo, sobre o tema da avaliação, intitulado Avaliação da leitura e escrita em diversos contextos: reflexões na prática, os autores afirmam que a literatura sobre avaliação de leitura e escrita é extensa. Muitas são as pesquisas que visam desenvolver proce-

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dimentos para este fim, no entanto, não há consenso sobre o desempenho em leitura e em escrita esperado para cada série escolar, além da diversidade de diferenças apresentadas relacionadas ao contexto. Esta comunicação visa apresentar reflexões sobre pesquisas empíricas decorrentes da avaliação da leitura e escrita realizadas em escolas públicas, rurais, privadas e em abrigos, tendo como público alvo crianças da primeira fase do ensino fundamental. As autoras consideram indispensável organizar um conjunto articulado e objetivo de referências de instrumentos de avaliação de leitura e escrita que possam ser utilizados por professores, com a finalidade de aferir o desenvolvimento dos alunos, controlar e estimular o progresso de cada um, além de auxiliar no processo de planejamento de ações educativas eficazes.

FINALIZANDO Esperamos que os conhecimentos, reflexões e experiências que compartilhamos com você, leitor(a), possam dialogar com suas experiências, questões e desafios no campo da aprendizagem da língua escrita e contribuir para que produza bons frutos em sua prática educativa e também de pesquisa. A interação entre teoria e prática é uma ferramenta básica que todos os profissionais que lidam com questões educacionais relacionadas com a leitura e a escrita precisam ter acesso, com o objetivo de conhecer as fases desenvolvimentais do processo de conceitualização da leitura e da escrita através de referências teóricas e didáticas. Enfim, este livro surgiu da colaboração entre pesquisadores que estudam o ato de ler e escrever na criança do ponto de vista da ciência psicológica. Os vários capítulos que compõem o livro estão dirigidos, sobretudo, a professores, educadores, pedagogos, e psicólogos. Mas é direcionado, também, para alunos dos cursos de graduação e pósgraduação, que se interessam pelos resultados de estudos realizados por pesquisadores que lidam com estas questões do ato de aprender a ler e escrever em suas diferentes fases, estabelecendo uma ponte entre a teoria e a prática.

SESSÃO l

ENTRE O NÃO SABER E O SABER, O QUE FAZ PARTE DO CAMINHO?

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