A arquitectura da peste branca em Portugal no princípio do século XX: deambulações pelos sanatórios da Serra da Estrela, Guarda a Portalegre

June 4, 2017 | Autor: J. Avelãs Nunes | Categoria: Architecture, Tuberculosis (History), History of architecture, Tuberculosis, Sanatoria, Sanatorium
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A arquitectura da peste branca em Portugal no princípio do século XX: deambulações pelos sanatórios da Serra da Estrela, Guarda a Portalegre

José Carlos D. R. Avelãs Nunes
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[comunicação apresentada a]

I CONGRESSO ANUAL DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA, Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, 18-19.05.2012



[referência]
Avelãs Nunes, José Carlos Duarte Rodrigues. A arquitectura da peste branca em Portugal no princípio do século XX: deambulações pelos sanatórios da Serra da Estrela, Guarda a Portalegre. In: I CONGRESSO ANUAL DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA , 2012. Lisboa. Actas do I Congresso Anual de História Contemporânea . Lisboa: 2012.




Resumo

A tuberculose é o epítome, desde o dealbar do século XIX ao século XX, da hecatombe de óbitos em Portugal e Mundo. A constante experimentação de profilaxias e tratamentos é o rastilho da criação de uma arquitectura de sistema sanatorial evolutiva e metamórfica, perante o programa médico e social vigente.
A estereotomia e a morfologia funcional do sistema tipológico sanatorial assume-se com um possível carácter hoteleiro e de repouso, com o Hospício Princesa D. Amélia, no Funchal, mas apenas assume uma posição de charneira com os primeiros sanatórios de tuberculose respiratória com os dois grandes pólos sanatoriais na Serra da Estrela (Covilhã e Manteigas, c. 1890-1904).
As construções em blocos isolados, de carácter pavilionar, com base em princípios higiénicos que ainda aguardavam a sua prova científica, transformam-se de adaptações habitacionais a espaços com ventilação, orientação e espacialização muito própria, contrastando com os congéneres edifícios hospitalares já existentes.
O contexto histórico de experimentalismo e de exploração climatérica, geográfica e médica permitiu a Sousa Martins, entre outras importantes personalidades, fundamentar o desenvolvimento de uma "estância de tratamento e cura" capaz de suprimir as crescentes e preocupantes necessidades de solucionar o problema do isolamento e do tratamento dos tuberculosos, que assolavam – em catadupa – a população portuguesa. A partir da notícia, amplamente divulgada, que um antigo doente de Sousa Martins, que passara a habitar a Serra da Estrela, tinha sido comprovadamente curado e liberto de tal doença, e a impotência perante a medicina originam uma confluência para esta parte da montanha, onde foram criados os primeiros bairros para tratamento num suposto regime sanatorial empírico, aberto e onde as medidas de "estrangulamento social" que viriam a ser impostas pela peste branca não são ainda ratificadas.













Com os princípios altimétricos e climatéricos, e com o crescente tráfico e confluência de informação médica, a Guarda apresenta-se como uma solução mais completa, no que diz respeito às infra-estruturas existentes e no apoio de "metrópole" local, e cujas condições sanitárias são manifestamente superiores às da congénere Serra da Estrela.
É nesta cidade que arquitectos de renome nacional, e que vão marcar a historiografia da arquitectura portuguesa, como Raul Lino, e onde é erigido o Sanatório Sousa Martins (1905), e onde se experimenta afincadamente os falhados "milagres" médicos na pandemia sem cura. Por outro lado, assiste-se ao completo falecimento da Serra da Estrela, deixando cair a tão procurada cidade sanatorial.
O Sanatório Sousa Martins é a marca indelével de como a arquitectura poderá, então, ser concorrente desafiada do conhecimento e aplicação dos campos da medicina e da farmacologia. Por outro lado, é um conjunto de pavilhões isolados, quer do ponto de vista de estratificação social – ponto de vista que foi modificado pela recorrente mudança de princípios beneméritos, de sustentabilidade e, mais tarde, por uma eminente ocupação das classes abastadas – apresenta uma arquitectura claramente diferenciada, com galerias de cura completamente pensadas para o efeito (e também com as primeiras observações da medicina voltada para a helioterapia), com princípios higiénicos muito claros e modernos, baseados em literatura internacional, e onde Portugal perde o fôlego inicial de pioneirismo internacional. A arquitectura mostra já a sua disposição para mudar de plano, enquanto exterioriza fortemente uma futura controversa arquitectura nacional.
O sanatório de Portalegre (1907), dá origem a sanatórios de planície, preconizando a desvalorização do clima e da altitude, e impulsionando os primeiros dispositivos médicos e quimio-terapêuticos que, à revelia da grande importância publicitada pela imprensa médica e noticiosa da época, se mostra ineficaz a e até contraproducente. Os edifícios pavilionares, depois ligados, segregam a unicidade arquitectónica.
A profilaxia e terapêutica da tuberculose, no princípio do século XX, tem como grande (e único) pilar a arquitectura. para o controlo, por um lado, e para a possível condução assistida da doença e resquícios de cura, que podem ser estudados por estes primeiros sanatórios. Os equipamentos sanatoriais da Serra da Estrela, até agora desconhecidos, serão analisados neste artigo, tal como os posteriores e contrastantes sanatórios da Guarda e de Portalegre, nas principais confrontações da história da medicina, devidamente incorporadas no seu tempo e no seu contexto, para que esta abordagem multidisciplinar permita a descodificação da importância que a Arquitectura e Medicina, em conjunto, tiveram perante a doença, e como estes exercícios são marcantes e icónicos no plano da história e teoria da arquitectura em Portugal.









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