A arte e a ideologia durante o reinado de Assur-nar-apli II

July 6, 2017 | Autor: António Almeida | Categoria: Arte contemporáneo
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A ARTE E A IDEOLOGIA DURANTE O REINADO DE ASSUR-NAR-SIR-PAL II














Seminário em História de Arte

Aluno: António Carlos Manuel Almeida nº2310/95
Ano Lectivo 2000/01
Orientação Prof. Dr. Luís Morais de Teixeira














«(...)Gosto de padrões », disse eu . »Sempre gostei de descobrir os
padrões subliminares que estão escondidos dentro dos padrões que são
imediatamente perceptíveis . Os mensageiros secundários , estás a ver?
Gosto de imaginar o que será o que eles estão a tentar dizer-nos . Gosto
de pensar que , enquanto humanos , viemos todos da mesma fonte ; e em
consequência , somos todos iguais nos nossos instintos mais profundos .
Durante as nossas vidas , deixamos mensagens atrás de nós . Podemos tentar
identificar os padrões comuns que se distinguem dentro de uma massa
amorfa de mensagens cifradas . Podemos tentar ouvir o código . (...)Desde
que consigamos ouvir o silêncio », disse ela(...) Portanto,(...) se queres
procurar padrões escondidos , que matéria –prima poderá ser melhor que a
arte ? Especialmente se puseres a arte em contexto social e temporal e
portanto te transformares (...) num historiador de arte ? (...)»



Clara Pinto Correia , Os Mensageiros Secundários , 1ª ed , 2000, Relógio d´
Água Editores,p.38





































Índice......................................................................
...............3

Abreviaturas
...........................................................................4

Agradecimentos
......................................................................6

Introdução..................................................................
............8

O Estado da Questão
..............................................................9
Enquadramento Histórico: O Período neo-assírio......................14
1 O reinado de Assur-nar-sir-pal
II..........................................16
1.1Política interna e
externa...................................................22
2.Assur-nar-sir-pal II e
arte...................................................25
2.1 O Palácio de
Kalah.......................................................... 27
2.2 O baixo
relevo.................................................................33
2.3 A estatuária
....................................................................40
2.4 O Baixo relevo da Fundação Calouste Gulbenkian ..............41
2.5 O estilo mesopotâmico
....................................................51
2.6 Temas plasticamente abordados ......................................54
3 A ideologia expressa na arte assíria
....................................60
3.1 Função político-religiosa
..................................................62
3.2 A «arte enquanto propaganda ».......................................69
3.3.A concepção do rei na
arte...............................................73
3.4 Simbologia e
significado...................................................76
Conclusões
...........................................................................8
3
Glossário...................................................................
............88
Bibliografia
...........................................................................9
1



SIGLAS E ABREVIATURAS


Art. Cit = Artigo citado


ANET = Ancient Near Extern Texts



ANEP= Ancient Near Extern Pictures



ARAB = Assyrian Records of Assyria and Babilonian



ARI= Arqueological Royal Inscrptions


BM=British Museum

BL=British Library

Coord = Coordenação

Col= Colibri

CL= Círculo de Leitores

CF = Confronto


Ed= Edição


Ex= Exemplar


FCG = Fundação Calouste Gulbenkian


FL = Faculdade de Letras

FCSH =Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

IO = Instituto Oriental


JNES= Journal Nearn Estern Studies


Nº =Número

P= Página


PP= Páginas


PDQ= Publicações Dom Quixote

PEA = Publicações Europa América


UNL= Universidade Nova de Lisboa











Agradecimentos


Tendo em conta o escasso desenvolvimento da Assiriologia em Portugal , foi
indispensável recorrer a bibliotecas e museus situados fora do país . Por
esse motivo , a procura de fontes e de bibliografia específica foi
possibilitada pela ajuda de diversas pessoas .

Porém , obter tal acervo documental foi uma tarefa difícil , dirigindo-nos
por escrito a investigadores , pedindo alguns livros que se encontravam
esgotados através do processo inter bibliotecas e inevitavelmente
deslocando-nos a alguns locais de depósito bibliográfico . Durante a nossa
estada em Londres , onde nos deslocamos quer ao British Museum , quer à
British Library .

A realização deste trabalho só foi possível mediante os preciosos apoio e
auxílio de diversas pessoas a quem expressamos a nossa gratidão .
Nos Estados Unidos :
Ao Instituto Oriental da Universidade de Chicago à pessoa do Doutor Daniel
Nevez .

Na Universidade da Pensilvânia , à Professora Doutora Irene Winter que teve
a amabilidade de nos enviar alguns dos seus artigos relativos à temática
dos baixos relevos .

Em Londres , ao pessoal da British Library que nos enviou alguma da
documentação necessária para os dois primeiros capítulos .


Mas não só foram os investigadores fora do país a que nos deslocamos
pessoalmente ou via e-mail, que merecem a nossa gratidão , também em
Portugal encontrei preciosas ajudas .

Em Portugal , na Universidade Lusíada , onde fizemos os nossos estudos
encontramos o apoio e ajuda da sua orientação do Seminário de História de
Arte ao senhor Professor Doutor Luís Teixeira .



Nas Bibliotecas da Faculdade de Letras e da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas do Instituto Oriental .





Ao Senhor Professor Doutor Francisco José Gomes Caramelo da Universidade

Nova de Lisboa , com quem tomamos contacto e abordamos a questão da arte
neo-assíria e nos facultou artigos e obras de referência que conduziram ao
bom termo da realização deste trabalho.

Ao Senhor Doutor José das Candeias Sales assistente da Universidade Aberta
, com quem falamos a propósito da temática da ideologia real.


Sem nos esquecermos de outras instituições, o apoio incontornável da
Fundação Calouste Gulbenian , na pessoa do seu conservador , o Senhor
Doutor Mário de Castro Hipólito , sempre tão amável e atencioso a todas as
solicitações a que foram feitas durante a realização deste trabalho.


Não nos podíamos esquecer também do Senhor Professor António Joaquim Ramos
dos Santos da Faculdade de Letras, docente da Faculdade de Letras de
Lisboa, bem como da Doutora Maria João de Sousa Machado, assistente da
Universidade Autónoma de Lisboa , não sendo a sua área de especialização
nos deu o seu pequeno contributo .

Às Senhoras do Serviço Inter-Bibliotecas da Biblioteca Nacional .

Aos colegas ,aos amigos e que pacientemente nos apoiaram nos nossos
passos da investigação.
















INTRODUÇÃO




Na exposição permanente do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian , encontra-
se um exemplar mesopotâmico . Este estilo de arte caracteriza o período neo-
assírio .

Motivo este suficiente a estudar : A arte e a Ideologia durante o reinado
de Assur-nar-sir-pal II (883-859 ac ).

É neste sentido que nasce o nosso trabalho relacionar a civilização assíria
, colocando em primeiro lugar a política interna e externa de Assur-nar-
sir-pal II.
Só neste sentido podemos compreender toda a arte e ideologia vocacionada
ao terror, se enquadra a figura do génio alado , figura humana, de aspecto
viril , austero , acentuando ao mesmo tempo uma fórmula sobrenatural que
lhe permita fazer uma ligação entre o mundo natural (Rei )e o mundo
sobrenatural (Deus Assur ).

O homem é visto como um ser subalterno ao seu Deus , segundo a análise
feita a partir das imagens dos baixos relevos analisadas ao longo deste
trabalho.


São imagens em que evocam uma forte presença política , de um sinal bélico
, de carácter nacionalista , ao mesmo tempo "enquanto espelhos de uma mesma
sociedade ", toda ela moldada pela insegurança e a força da guerra.

Para compreendermos toda esta civilização teremos que fazer agora uma
viagem de muitos milhares de anos , em que o homem e o sagrado se fundem
na busca do seu ser e do seu poder . Procurando não cair na falta e na
desobediência o rei assírio torna-se uma figura implacável , e até
mesmo cruel , é desta forma que iremos encontrar Assur-nar-sir-pal II,
nosso monarca detentor de um enorme poder e a que todos a dele se aproximem
causa terror.

Só assim poderemos analisar a força do baixo relevo no seu tempo, diante
do seu encomendador , e em que moldes estes ainda hoje se projectam nas
nossas vidas .



O Estado da Questão


Einstein disse um dia que um trabalho científico tinha muitas semelhanças
com o trabalho de um detective de um romance policial. Saber as razões
porque foram movidas determinada actividade num determinado período era a
nossa razão principal .
Por isso , qual Hercule Poirot , através das nossas celulazinhas observando
todas as provas e testemunhas fomos construindo o fio condutor desta trama
.

Apesar de não encontrarmos muitos estudos sobre o baixo relevo patente no
Museu Gullbenkian ,apenas podemos afirmar aqueles que o enquadram no país e
a instituição a que pertencem.[1]

Os assírios são conhecidos pelas atrocidades efectuadas aos seus vizinhos ,
aos seus inimigos. A maioria das pessoas não prestam qualquer tipo de
simpatia por este povo .

Mas se num romance policial todas as evidências se põem contra
determinada personagem , também neste trabalho a maior parte das obras
nos davam indicações da crueldade assíria .

Mas seria verdade? Seriam os Assírios os maus da fita ? Conseguiriam eles
alimentar a sede de sangue ?

Aprendemos desde o primeiro ano , ou por indicação de diversos autores , ou
por vivência, de que nem sempre aquilo é de determinada forma .

Os deslizes a que a história nos foi habituando através da sua maior
invenção , levou-nos à conclusão de que os registos no tempo são
intemporais . Mas , mais do que esse motivo, sabemos que nesta época os
relatos históricos são duvidosos . Não existe uma capacidade de análise
distante sobre os acontecimentos .

Em qualquer época histórica é necessário entrar na mentalidade do povo , e
no espírito da época .


A maior parte dos estudos relativa à arte neo-assíria , ao relevo da
Gulbenkian encontram-se dispersos na Europa e nos Estados Unidos .

O nosso relevo esteve durante muito tempo fora dos circuitos da
investigação perdido , até que um dia alguém o encontrou nos moldes de
inscrição estandardizada como aquelas que Julian Read[2], Luch Bacheloc[3]
, Pierre Villard [4]ou Daniela Morandi [5]nos falam nos seus artigos .

Andre Conradie na sua tese de doutouramento « The inscriptions of
Ashurnarsirpal II : A reprisal of available » descreve-nos todas as
inscrições deste período [6], inserindo-nos a inscrição de Lisboa no mesmo
período e ao mesmo tempo com algumas características a que hoje não podem
ser ignoradas[7] .

Infelizmente , Portugal não contém qualquer estudo nesta área (relativa à
Arte Neo-Assíria ) , apesar de nos caírem timidamente algumas obras sobre
ideologia real [8] , ou sobre a historiografia dos heróis como Naram –
Sin (Akad )e Saul (Israel ) . [9]

Aliás , a maioria das pessoas não morre de amores por estes senhores que
faziam da guerra a sua imagem de marca e cunho pessoal através do Deus
Assur .

Seria necessário ir mais longe ,entrar na mente do presumível inocente
quando todas as provas mostravam contrárias às nossas opiniões .

Que provas seriam essas que nos conduziriam à salvação do povo assírio ?

A nossa visita à Fundação Calouste Gulbenkian , deixou-nos frente a frente
à obra de arte : o baixo relevo neo-assírio .

Havia uma luz que se fazia no túnel , mas decifrar a sua mensagem , o seu
sinal , também não seria uma tarefa fácil. Pensamos que deveríamos tomar o
aspecto artístico, enquanto elemento de posição de poder enquanto factor
de grandeza .

Como havíamos de seguir a nossa investigação ?

A nossa investigação centrar-se-ia então nos moldes clássicos dos
policiais . Seria então necessário procurarmos todas as testemunhas que
estivessem escondidas pelos vários cantos do mundo, onde seria mais fácil
reconstituir os possíveis passos da vítima no seu último dia de vida .

Georges Contenau aborda a questão da apresentação das personagens , são
apresentadas consoante a sua hierarquia social, descrevendo-nos ainda que
sumariamente as técnicas utilizadas neste tipo de arte . [10]

Joseph Wiesner em Oriente Antigo fala-nos da representação monumental no
baixo relevo em Kalah alcança uma enorme sensibilidade como até então
ninguém tinha visto[11] .

A representação real insere-se como fenómeno paradigmático das cenas
cultuais , da vida quotidiana (guerra, caça ) ou ainda através da imagem da
árvore sagrada [12].

Sabatino Moscati dá-nos uma breve análise da arte mesopotâmica , através
das imagens inseridas pela afirmação da artimanha neo-assíria[13] . Seria
aquele que após algumas descrições de massacres de inscrições , nos
desvendava algo , que se desenhava por entre as nuvens .

Esse desenho não seria de certo a famosa Torre de Babel , mais tarde
designada por Zigurate , mas a certeza com que Siegfried Gidion nos levava
recriava a forma dos padrões [14].



Ainda não sabíamos a que conclusões iríamos chegar ,mas estavamos
prestes a apanhar a ponta do fio que nos levaria a correr por entre as
salas do nosso palácio imaginário , correndo, pasmando-nos de quando em vez
, delirando com as colossais figuras dos génios , touros e leões alados
[15].

A única certeza que tínhamos era a de que a arte assíria obedecia a um
padrão , ligado pela relação texto e imagem como afirmara Pierre Villard ,
a que a imagem não podia sobreviver sem o texto , e vice-versa , não podia
ter um texto demasiado longo.

Mas isto não nos leva a algum lado ? Aonde nos queriam levar estes autores
? Estariam eles a confundir-nos ? Seriam cúmplices deste povo cruel ?

Que provas ainda nos tinham para dar ? A quem nos podíamos entregar? Quem
poderemos nós confiar ?
Estas questões até foram respondidas pelos Senhores Professores Luc
Bacheloc , António Augusto Tavares e pela Senhora Daniela Morandi nos seus
trabalhos a que passamos agora a registar .

A resposta de António Augusto Tavares enquadra-se na mitologia assíria
face à sua ligação à imagem do baixo relevo, quer através de
agradecimentos aos deuses ,como à absorção de regras e meios utilizados
ainda hoje[16].

A observação da assirióloga Daniela Morandi atravessa imagem do rei , quer
através da sua força , e a sua capacidade ao chegar a todo e qualquer
lugar não é estranha para ninguém , nem para o homem mesopotâmico, porque é
através desse tipo de grupos correspondentes que as mensagens se oferecem
[17].

A verdadeira capacidade de registar os acontecimentos tal como gostaríamos
, é o registo fulcral dado por Luc Bachelot . O hábito faz o artista neste
caso, e nesta época ainda mais as fórmulas que o relevo neo-assírio nos
quer dizer , o que as suas imagens nos querem mostrar .[18]

Tomando como registo a afirmação anterior , só um modelo de uma inscrição
estandardizada nos poderia dar algumas pistas . Decididos a analisar
detalhadamente a mensagem dessa inscrição , tivemos que procurar em Bugead
Assyrians Sculptures.[19]


Mauryce Viera fala não só das características da inscrição estandardizada,
como também das técnicas que a caracterizam : placas esculpidas . A
inscrição estandardizada resume-se por descrever toda a família do rei
terrestre e celeste em questão, descreve ainda as suas campanhas
facilitadas na sua maior parte pelo Deus Assur .[20]

Nos romances policiais o criminoso ou a vítima jogam conforme forem os
casos , através das palavras e dos símbolos dando ao detective ou ao
inspector provas ou sinais de algo .

Essas provas são dadas por meias palavras, captaram a nossa atenção . E.
Cassin associa o leão ao prestígio do rei assírio , através das mensagens
, hinos , orações dedicadas ao Deus Assur[21]

Irene Winter descreve as fórmulas de imagens que correspondem à imagem
de Assur-nar-sir –pal II [22].

Barbara Porter no artigo « Sacred Trees, Date Palms and Royal Persona of
Ashurnarsirpal II » relaciona a árvore com a pessoa do rei nas festas
rituais da Festa do Ano Novo [23].

Bottavia analisa ainda as flores usadas neste tipo de arte como fazendo
parte integrante da flora da Mesopotâmia [24]

Na maioria dos romances policiais os crimes ficam por resolver, os
criminosos são tão hábeis , tão astutos que penetrar na sua mente é
demasiado perigoso . Num trabalho como o nosso em que visa apenas analisar
uma pequena gota do oceano, analisá-la partícula a partícula seria
demasiado penoso.

Seguidamente tentaremos reconstituir a história da arte ,tal como as
testemunhas deste caso nos contaram .


Enquadramento histórico: O Período neo-assírio

Nos começos do milénio , os arameus dominam o palco geográfico do Próximo
Oriente ; muito pouco é o que sabemos da Assíria , para além dos nomes que
sabemos dos seus reis . A partir da Segunda metade do século X ac , porém
, assiste-se a uma revitalização do poder assírio com uma série de
monarcas enérgicos empreendedores , que conduzirão numerosas campanhas
militares para Oeste contra os Arameus , conseguindo recuperar os
territórios perdidos . Estes reis são Assur-dan II (934-912 ac ); Ada-ne(i)-
rari(911-891ac)Tukulti-Ninurta (890-884ac) e Assur-nar-sir-pal II(883-859
ac ).

Na sua progressão para Ocidente , as tropas assírias ocupam o Habur ,
Balish, o Eufrates e, finalmente , chegam até ao Mediterrâneo. Todas as
campanhas são idênticas . Os exércitos reais avançam ainda mais para Oeste
, conquistando as terras e subjugando as tribos dos Arameus . Em cada uma
das campanhas atravessam primeiro regiões já submetidas , cobrando
tributo aos povos que nelas vivem , sob a forma de alimentos e animais
para os soldados e de objectos de luxo , tais como utensílios e adornos
de ouro e prata, para o rei .

De vez em quando , o soberano comanda a expedição através de um território
já conquistado , arrecadando o tributo fazendo com que a presença assíria
se torne evidente em toda a região em causa. No reinado de Assur-nar-sir-
pal II , as conquistas são de tal modo importantes que os Assírios começam
a construir armazéns onde guardam os cereais obtidos nas zonas
circundantes , erguendo fortalezas de vigilância .

Estas últimas convertem-se em etapas no itinerário de futuras operações
bélicas . A partir destes armazéns e fortificações do século IX ,
desenvolvem-se as capitais provinciais e da administração provincial
assíria, conhecendo o seu apogeu no decurso dos séculos VIII e VII ac .

Embora no século IX o objectivo fundamental dos assírios estejam nas
terras situadas a Oeste , eles também realizarão campanhas noutras
direcções . Assur-nar-sir –pal II leva a cabo várias incursões a Leste,
numa zona dos montes Zagros chamada Zamua .
Avançará também para Sul , acompanhando o curso do Eufratres, até atingir
as fronteiras do território babilónico , ainda sem chegar a invadi-lo .

De facto, é possível prever um tratado entre a Assíria e a Babilónia ,
através do qual , cada um dos monarcas afirmam respeito mútuo prometendo
oferecer auxílio em caso de necessidade .

Assur-nar-sir-pal II será um dos maiores construtores da história assíria .
Conquista Calah , pondo em marcha um programa de larga escala ,
transformando totalmente essa cidade , ao ponto desta se transformar na
metrópole mais relevante da Assíria[25].

























Fig 1 – Representa o império no período neo-assírio ( Reinado de Assur-nar-
sir-pal II) onde vislumbramos um imenso território ao qual este período
dominou até à sua queda.
(Fonte: Mario Liverani, Antico Oriente, Editorial Laterza, pp750-785)









1. O reinado de Assur-nar-sir-pal II[26]






































Fig 2 Assur-nar-sir-pal II , rei da Assíria , entre 883-859 ac . A sua
fama é de longe a mais conhecida pelos anais da época , correspondendo a
massacres, imolações (equivalendo aos dilúvios ) Assur-nar-sir-pal II tem
uma fama de déspota , mas também é a ele que se conhecem muitos dos relevos
que figuram os palácios deste mesmo período.
(Fonte: Nota de rodapé 27)




O filho de Tukulti-ninuurta é o primeiro dos grandes monarcas do período
neo- assírio(911-609).
Ambição, energia, coragem , crueldade, magnificiência , Assur-nar-sir-pal
II(883-859 )reunia em si mesmo, de forma algo peculiar, todas as qualidades
e todos os defeitos dos infatigáveis e implicáveis «edificadores» de um
império , seus sucessores .

Não se denotam , nem um sorriso, nem piedade, ou até mesmo humanidade , na
sua conhecida estátua , pertencente ao British Museum [27], pelo contrário
, essa imagem de um vulto redondo de nariz aquilino de um predador , o
olhar duro de um soberano que exige do seus súbditos uma obediência
absoluta e incondicional ; nas suas mãos ostenta a maça de armas e uma
espada de lâmina curva , a «harpé», isto é, a chamada foice ritual.

Mal havia decorrido um ano desde que ascendera ao trono, e sem qualquer
espécie de pretexto ou justificativa , ele parte à cabeça de uma expedição
militar , e logra devastar as zonas montanhosas do extremo norte
mesopotâmica .Assur-nar-sir-pal II chega ao país de Khadmuhu , no alto
vale do Trigo , e aí recebe o tributo dos príncipes locais e dos Muskuli
(os Frígios ), cujos postos avançados ocupam o flanco meridional do
Taurus.
Contudo, o rei assírio fica a saber que os Arameus de uma cidade
vassala , situada no baixo vale do Khabur ,haviam assassinado o seu
governador , arranjando, para a sua substituição, um outro chefe da sua
preferência .
Quase de imediato ,Assur-nar-sir-pal II dá meia volta e percorre com as
suas tropas , cerca de trezentos quilómetros de estepes e outras regiões
desérticas , possivelmente em pleno Verão:
« Eu aproximei-me da cidade Suru , que faz parte do Bit Halupê.
O terror (que inspira ) o esplendor de Assur, meu senhor, arrojou-os por
terra. Os nobres e anciãos da cidade vieram até mim para salvar as suas
vidas . Eles abraçaram-se aos pés e disseram : «Se é da tua vontade, mata!
Se é da tua vontade, deixa viver !Se é da tua vontade , faz o que
queres!(...)Capturei , Ahi-iababa (...), que eles tinham feito vir do Bit
Adiri . Com a minha coragem e as minhas terríveis armas, assediei a cidade.
Eles apanharam todos os soldados culpados e entregaram – mos.(...)»[28]
Tomada a urbe , os rebeldes são massacrados ; o seu líder , conduzido até
Assur é esfolado vivo ; Suru paga um enorme tributo. Numa segunda campanha
no mesmo ano, os sublevados não são arameus mas assírios que se haviam
estabelecido numa localidade do norte denominada Halzilua . A repressão
afigura-se igualmente brutal :600 soldados passados a fio da espada, 3000
prisioneiros, e o chefe da guarnição esfolado[29].

Na primeira parte do seu reinado , são conduzidos para os quatro cantos do
horizonte ; no maciço de Kashiari , na região de Zamua (em redor de
Sulaimaniah ), no médio Eufrates .

De seguida , dá-se o primeiro passo em direcção à Síria . Entre o Balikh e
o grande nó (?)do Eufrates, interpõe-se o reino aramaico do Bit Adini ,
paga o tributo e deixa reféns nas mãos dos Assírios . O caminho fica
desimpedido para a Primavera seguinte.

Os anais régios descrevem pormenorizadamente esta memorável expedição ,
que teve lugar entre 878 e 866 a.c.[30]; com efeito, conseguimos seguir o
itinerário do rei assírio e do seu exército passo a passo, através das
etapas de cerca de 30 kms cada uma , de Karkemish à planura de Amuq
(Pattina ), depois do Oronte e, por fim, «(...)nas encostas do monte
Líbano , até ao Grande Mar (Mediterrâneo) do país de Amarru (...)», onde
Assur-nar-sir-pal II leva a cabo o tradicional rito dos soberanos das
terras áridas quando se encontravam diante das ondas azuis : «Eu lavei as
minhas armas no Grande mar e ofereci sacrifícios aos deuses . Recebi o
tributo dos deuses . Recebi o tributo dos reis da costa , das regiões
das gentes de Tiro, de Sídon , de Biblos , de Mahallatu, de Maizu, de Kaizu
, de Amarru e da cidade de Arad, que é (uma ilha) no mar : prata , ouro,
estanho, bronze, um recipiente de bronze, vestes de linho com adornos
multicolores , uma grande macaca , uma pequena macaca, ébano, marfim , e
nahiru, criaturas domar. Eles abraçaram os meus pés.[31]»

Os assírios regressam pelo Amanus . Aí cortam árvores e o monarca faz
erigir a sua estela . Apanhados completamente de surpresa , os neo-hititas
e os arameus da Síria setentrional não tentavam sequer resistir . Chegaram
mesmo a cumular o invasor com presentes , o que torna esta marcha triunfal
, não uma conquista como pretende Assur-nar-sir-pal II , mas uma completa
razia . Por outro lado , ela servia para sondar o terreno e mostrar ao seu
sucessor qual o caminho a seguir .

Na Mesopotâmia , este soberano não aumentou de forma significativa o
domínio do Deus Asssur; protege-o ao mandar construir em Tushan no Alto
Tigre ,em Kar – Assur-nar-sir-pal e Nebarti- Assur no Médio Eufrates [32]
-fortalezas providas de guarnições , que também devem desempenhar o papel
de entrepostos comerciais.
Além disso ,o rei consolida a presença assíria naquilo que é hoje o Norte
do Iraque e transforma em vassalos os pequenos estados situados nas zonas
serranas do Curdistão . Doravante, todas as populações do próximo oriente
ao saberem da iminência de uma expedição militar assíria , ficam tomados
por um medo aterrador , uma reacção plenamente lógica , visto que Assur-nar-
sir-pal II possui uma assustadora reputação de inexorável crueldade[33].

Convirá recordar , todavia , que esta época se revelará dura e cruel
noutros cenários geográficos, daí que os assírios não sejam os únicos
praticantes de massacres e outros actos horrendos ; na realidade trata-se
de uma atrocidade «calculada»(na expressão de A.T. Olmstead [34]), que foi
objecto de grande discussão mediante os textos e imagens (haja em vista os
baixos relevos deste período ) e de uma transmissão por via oral . Tudo
isto se afirmará para que Assur-nar-sir-pal Ii obtenha respeito (em muitos
casos temor) junto dos seus súbditos e imponha a mais restrita e
incondicional obediência de povos que até aí foram hostis e insubmissos .

Em suma, os Assírios são inegavelmente singulares no desenvolvimento de uma
«propaganda »(segundo Julien Read [35]) intimidatória , exaltando-se a
força e a ferocidade das suas tropas .

Quase todos os conquistadores e tiranos da antiguidade (e vários nos tempos
mais recentes e hodiernos )fomentaram uma política de terror, mas Assur-nar-
sir-pal II dela parece ter-se vangloriado em demasia .

Não só os caudilhos rebeldes são vítimas de torturas dotadas de um requinte
sádico , mas também números indeterminados de cativos desarmados , mulheres
e crianças perecem nestas repressões sistemáticas [36].
Eis um excerto dos anais deste rei , onde ad-nauseum[37] –se torna difícil
afirmar o que é mais revoltante –se os actos de uma violência inaudita com
o horrendo cortejo de carnificinas e de mutilações e de cativos , a forma
metódica ou a detalhada das descrições textuais analíticas:

«Passei duzentos e sessenta dos seus soldados a fio da espada e cortei-
lhes
as cabeças que empilhei . Ergui uma coluna diante da porta da cidade e
esfolei todos os chefes que se haviam sublevado contra mim ; cobria coluna
com as suas peles . Alguns emparedei-os dentro deste pilar , outros mandei-
os empalar em vaias (...)Entreguei três mil prisioneiros às chamas , todas
as suas virgens e todos os seus rapazes (...)»[38]

Convirá ressalvar aqui que os assírios nem sempre se comportavam desta
maneira selvática . Os seus métodos de guerra traduzem-se numa dicotomia
linear : se o inimigo se rende sem combater , raramente é vítima de
castigos corporais ; tem contudo, como garantia da sua sujeição que dobrar
a cerviz e pagar um pesado tributo ; se pelo contrário , oferece
resistência , então as hostes assírias perpetram uma enorme chacina , de
modo a que sirva de exemplo a outros antagonistas – a isto chama-se
convencionalmente guerra psicológica, como aliás referiu H. W. Saggs[39].

Numa análise isenta , G. Roux , considera que Assur-nar-sir-pal II«não fez
mais que proclamar muito altivamente , o que outros praticaram em silêncio
(...)»[40]
2. Política interna e externa


Após dois séculos de penosa defensiva em fase das incursões arameias , a
Assíria conhece um forte movimento nacional que a torna rapidamente como a
primeira potência do Oriente .

Desde então, as mesmas cidades serão consideradas rebeldes aos olhos do
Deus Assur e ao rei da Assíria , sendo tudo permitido contra elas . Com
efeito, o temperamento nacional , face à inquietação de um povo sem
fronteiras naturais e o desejo de vingar as crueldades cometidas pelos
pastores arameus darão às operações militares um carácter de atrocidades
até então desconhecidas [41].

Mas, por outro lado , os reis assírios do século IX ac raramente se
lembram de anexar as cidades vencidas . No princípio deste período ,
empreendem campanhas contra os arameus citadinos da alta mesopotâmia e
nómadas do Eufrates Médio alternando com incursões em Ur-ar-tu(actual
Arménia) e no Zagros .


Com a subida do rei Assur-nar-sir-pal II (883.859 ac ) o império não
obedece a qualquer espécie de plano , acalentado por vários soberanos. Mas
tudo isto não será mais do que uma consequência , de uma série de guerras ,
algumas delas de conquista, outras de expansão territorial , mas todas elas
inevitáveis ao desenvolvimento da Assíria[42].

Deve-se a Assur-nar-sir-pal II a reorganização da táctica militar assíria .
Nesta época adquirem grande importância , o carro de combate do inimigo ,
que tem sido a principal força choque. Mas não nos podemos esquecer também
do extraordinário desenvolvimento da engenharia militar[43].

A economia da Assíria baseia-se nos férteis campos cerealíferos do reino,
mas a sua posição numa das mais importantes vias de comunicação do
próximo oriente (o rio Tigre) bem cedo a envolve no comércio
internacional .
A partir do segundo milénio ac , os reis assírios enviaram expedições
comerciais aos países limítrofes à procura de bens que na pátria não
dispunham[44].

A razão destas expedições ao estrangeiro tratam de uma longa história de
incursões nas planícies assírias pelos povos das montanhas do leste e do
nordeste , bem como um período de ocupação estrangeira após meados do
segundo milénio ac, conseguindo os Assírios sobre a necessidade de
fronteiras seguras. A consequente política de expansão será interpretada em
termos religiosos , de modo que, no século IX , Assur-nar-sir-pal II
(883.859 ac ), fundador do império do primeiro milénio, exprime claramente
a sua política externa em termos de dever religioso de subjugar os
inimigos do Deus nacional Assur e de impor tributos e taxas aos povos
dominados [45].

Na busca deste fim ,Assur-nar-sir-pal II segue um plano estratégico claro.
Começa por assegurar o domínio dos territórios montanhosos a Leste e Norte
da Assíria e continuará com esta acção ao longo do rio Khabur e do
Eufrates , desde as margens da Babilónia até Karkemish . Nas regiões de
Khabur e do Eufrates subjuga os Arameus , povo de origem nómada que
controla a estrada das caravanas da Síria. Tudo isto abrirá caminho ao
avanço assírio para o Mediterrâneo, alcançando a primeira vez em dois
séculos .
De norte para Sul , todas as cidades litorais até Tiro pagarão tributo .
Será a expedição de Assur-nar-sir-pal (875 a c )restabelecendo o contacto
directo com o Mediterrâneo após um intervalo directo de dois séculos [46].

As migrações arameias , do fim do século milénio a.c em diante, dão ao
Médio Eufrates e ao Khabur uma população predominantemente arameia que
controla muitas das rotas comerciais[47].

Após Assur-nar-sir-pal II restabelecer o poder assírio com as suas
primeiras campanhas nas áreas de Khabur e do Médio Eufrates conseguindo
partir de Karkemish , perto de sua base ocidental de Tilbarsip, para o
interior do Norte da Síria , seguindo um percurso que irá ladear o poderoso
estado de Hamat . Progressivamente irá reforçar o exército com o
alistamento de tropas dos soberanos das terras por onde passa , fazendo
reféns , para se prevenir das traições [48]. Após ter vencido o estado o
estado da Patina no Amqi, desce o Orontes , quase sem achar resistência ,
ao longo da fronteira , com as terras de Hamat, até à cordilheira do
Líbano. Não será difícil encontrar oposição , e os estados fenícios do Sul
até Tiro enviam tributos[49].

As cidades fenícias acolhem bem a Assíria como contrapeso aos arameus que ,
tentam obter vantagens económicas da Palestina e que provavelmente agem do
mesmo modo com os Fenícios. À distância , porém a campanha de Assur-nar-sir-
pal II é o primeiro passo do processo pelo qual , no século VIII a c, o
qual se dá a integração da Síria , Palestina e Fenícia no império
assírio[50] .




2. Assur-nar-sir-pal II e arte : O Palácio, os relevos e a estatuária




Fig 3 Reconstituição do palácio posterior ao período de Assur-nar-sir-pal
II (decorrendo dois séculos depois ) , mas as salas , os corredores mantêm-
se tal como no período de Assur-nar-sir-pal II.
(Fonte : Mario Liverani, op.cit.)

O soberano consegue saciar a sua aparente sede por sangue nas proezas
cinegéticas que os seus escultores imortalizarão na pedra[51] , amante da
natureza (por estranho que pareça )ele manda vir «dos países para onde
viajara e das montanhas que atravessa» toda a espécie de animais
selvagens , assim como árvores e plantas exóticas para distrair e
maravilhar os seus súbditos . Cumpre acrescentar que ele está igualmente
tomado de autêntica «paixão pelo tijolo (de argila )», isto se ativermos
ao parecer da conceituada assirióloga Sílvie Lackenbaker[52] , facto que
caracteriza todos os grandes monarcas mesopotâmicos[53].

Sem negligenciar as tradicionais obras de restauração e embelezamento dos
templos de Assur e de Nínive , o soberano decide mandar edificar uma
«residência real », longe da capital . A invasão dos arameus demonstra que
Assur e de , situada na margem direita do Tigre , constitui um alvo
vulnerável face aos ataques desferidos a partir do Oeste.



Fig 4 –Planta do palácio de Kalah onde estão representados os vários baixos
relevos deste período.
(Fonte: Luch Bacheloch, 'La fontion politique des reliefs néo-assyriens
Pag 123, fig1)





2.1 – O Palácio de Kalah


Assur-nar-sir-pal II compreende que a capital está mal localizada . Situada
a Sul, perto da fronteira com a Babilónia jusante do centro de produção do
milho do país , não é a base adequada às suas campanhas , resolve então
mudar a sua governação para Khalah.[54]

O local escolhido para a residência _Khalu (A Calah Bíblica , actualmente
Nimrud , a 35 kms de Mossul ) acha-se notavelmente bem localizada num
triângulo de terras férteis protegido pelo Tigre a Oeste e pelo Zab
superior, ao Sul.

George Roux afirma que esta mudança demonstra imaginação e intuição .
Kalah(actual Nimrud ) ganha importância na época neo-assíria , onde Assur é
invocado como Deus da guerra e Deus da caça em vários mitos sumérios[55] .

Manter Assur como capital religiosa da Assíria , transforma Khalu na
capital secular, beneficiando-a de todas as comodidades desejáveis . Manda
plantar toda a espécie de frutos e vinhedos , estabelecendo ofertas
regulares ao seu
Deus Assur[56].

Para o efeito mobilizam-se milhares de prisioneiros e deportados ,
oriundos de regiões já subjugadas pelos assírios . Para irrigar a planície
, abre-se um canal derivado do Zab que se nomeou Babilat Nushi «portador da
abundância».

Acto contínuo , nivelou-se o montão de ruínas , o tell e rodeou-se a zona
urbana (de 360 has ) através de uma imponente e maciça muralha com 7,7m de
comprimento e 15 ms de altura.

Num ângulo deste local, uma Segunda muralha é construída delimitando assim
um espaço rectangular de 20has , a «cidadela », dominando o Tigre ,
caracterizada por uma enorme cintura amuralhada de pedra com 8ms de
altura. É aí que se ergue o principal edifício da urbe : o santuário de
Ninurta , a sua divindade protectora , senhor da guerra, ligado a uma
Zigurate, outros templos , algumas habitações privadas e, por fim , o
palácio de Assur-nar-sir-pal II , designado convencionalmente pelo «palácio
de NW»pelos arqueólogos :

«No interior (da cidade ) , fundei um palácio de cedro , de resistência
rela e para meu supremo prazer eternamente . Fiz cópias de animais das
montanhas e do mar das suas portas . Decorei-o de uma maneira
magnificiente . Rodeei-os de pregos de bronze com grandes cabeças . Eu
provi as entradas de batentes em cedro cipreste , zimbro de pranu e de
madeira de meskannu. Reuni e lá depositei grandes quantidades de prata ,
ouro , estanho , bronze e de ferro , despojos de guerra sobre os quais
eu estendi a minha dominação[57].»

Este palácio é um dos primeiros monumentos escavados no Iraque . Entre 1845
e 1851, Layard trabalhou várias vezes e enxumou , para grande assombro
dos seus operários , enormes touros alados androcéfalos , além de outras
estátuas impressionantes , baixos relevos e lajes cobertas de
inscrições[58] .

Algumas destas magnificas peças foram para o British Museum , enquanto que
se inumaram outras no local , as quais , cerca de um século volvido ,
outros arqueólogos britânicos têm vindo a redescobrir[59].

O edifício , abrangendo mais de 2 has ,é dividido em três partes :
Os elementos de aparato (o grande vestíbulo de recepção de dignitários e
plenipotenciários estrangeiros , e a sala do trono ), a ala reservada aos
aposentos régios , com o seu harém e as salas de abluções e, por fim , a
secção administrativa agrupa múltiplos compartimentos em torno de um
vasto pátio .

Na parcela consagrada às cerimónias oficiais , as entradas principais são
flanqueadas por enormes lamassu, ou génios protectores com superfícies
murais , de tijolos de adobe não cozido , ornadas com afrescos
estampilhados com o nome do rei.

Assinala-se um pormenor digno de interesse : em muitos dos compartimentos
rasgam-se vários tipos de chaminés ("portas de vento "), escavadas nas
paredes permitindo a entrada de ar fresco dos tectos[60] .

Não chegou até nós qualquer das portas em madeira preciosa do palácio ;
sobrevive , todavia , à voragem do tempo e dos homens , um apreciável
número de objectos , nomeadamente de marfim refinadamente cinzelados
decorando o mobiliário real , armas e utensílios de bronze e de ferro ,
jarros em terracota e várias tabuinhas de argila[61] .

De entre as valiosas relíquias descobertas no palácio de Assur-nar-sir-pal
II em Nimrud , figura pétrica de tonalidade amarelada na qual se contempla
a figura do soberano rodeado por símbolos divinos e uma longa inscrição
relatando as festividades que acompanham a cerimónia de inauguração , perto
do final do seu reinado .

Um gigantesco banquete , cujos os ingredientes surgem minuciosamente
numerados é então oferecido pelo rei «ao Deus Assur » e a 69574 pessoas ,
dos quais 47074 pessoas , são convidados provenientes de diferentes regiões
do reino , 5000 representantes de países estrangeiros , 1500 funcionários
e 16000 habitantes de Khalhu .

Ressalve-se que o dito banquete durou 10 dias . A bela frase que remata
esta inscrição merece ser transcrita , uma vez que nos faz olvidar os
aspectos mais repugnantes e sombrios deste grande monarca :

« Os felizes povos de todos os países , bem como a gente de Kalhu , a todos
ofereci um banquete ao longo de 10 dias , dei-lhes a beber vinho , dei-
lhes banho, ungi-os e reverencie-os e reenviei-os para as suas terras ,
num ambiente de paz e júbilo .[62]


O palácio , sendo o reflexo das ambições do rei , é simultaneamente o
centro da administração da propaganda , cujas salas , acessíveis ao
público , são decoradas de maneira a inculcar no espírito do visitante
uma impressão esmagadora do poder assírio nas cenas que decoram as
paredes , o rei aparece representado como insuperável na arte da caça ou
na arte da guerra.

As portas da cidade são especialmente cuidadas . Segundo, uma tradição de
origem hitita , os umbrais monólitos compunham-se por«monstros» guardiões
esculpidos em baixo relevo, mas com a cabeça projectada em alto relevo ; a
seu lado , as paredes reveste-se de placas esculpidas [63]




































Fig 5- Representação do poder à entrada do palácio do rei . Esta
configuração também é vista pelos aspectos de movimento , descanso , dado
pelo número de pernas , face à agilidade com que estes animais são
representados. O touro alado dá-nos também a força e o vigor do rei
assírio .
(Fonte : British Museum)

Estes génios heteróclitos , com cabeça humana coroada por uma tiara divina
, orelhas e corpo de touro [64] , ou leão [65], e asas de águia[66] ,
reunam assim quatro figuras observadas num velho tema mitológico sumério
e na «visão de Ezequiel»[67].
























Fig 6 Aspecto da arte ao serviço do poder , e não menos importante do rei «
enquanto » rei do Universo das quatro partes do mundo , agregando assim o
título de Sargão I.
(Fonte : British Museum)

A estes associam-se outros génios alados , que aspergem o visitante de
água lustral, contida num pequeno vaso , e heróis domadores , cada um dos
quais estrangula um minúsculo leão [68]

Estas últimas personagens , herdeiras dos «mestres dos animais » podem
perfeitamente identificar-se , quer com antigos reis como Gilgamesh [69],
quer neste caso preciso , com os Apkallu , «os sábios» protectores oficiais
da realeza assíria entre os quais se distinguem Adapa de Eridu .

Esta personagem é o herói de um mito que relata a maneira como devoto do
Deus Ea , senhor do abismo e da prudência , quebrou as asas do vento do
Sueste.

O Deus do céu e o rei dos deuses , Anu oferece-lhe a água e o pão da vida
, recusa perdendo assim a imortalidade[70] .

Toda esta decoração das portas é, consequência , de inspiração religiosa
tradicional . Mas no interior do palácio é a pessoa do rei que é exaltada
sobre toda a extensão das paredes : várias centenas de metros ou ainda
mais.

2.2 – O baixo relevo



O mesmo tratamento esmerado na construção de pormenores que observamos no
tratamento das figuras guardiãs dos palácios [71], também serve de
característica definitiva dos relevos propriamente ditos , que constituem
inequivocamente , as imagens originais da produção artística assíria .


A própria definição através da composição narrativa , em termos não
sinónimos. A história evoca-o , narrativa . O género determina a
caracterização do mundo de então , oral ou escrito , ficcional ou
documental . Quando narrativa identifica as representações específicas ,
envolvendo personagens , quando a acção destas são histórias.

A utilização de "episódios " abreviados de segmentos das sequências de
selecção de cenas – típicas na antiga arte mesopotâmica , e na frequente
escolha de um momento do seu auge , ou grandioso momento a que a história
toma a primazia , absorvendo o estatuto de obra-prima .

As histórias narrativas são representadas através da representação da
arquitectura dos relevos de alabastro, seleccionando os quartos do palácio
neo-assírio.[72]


Com efeito, a história da arte assíria consiste fundamentalmente na
história do detalhe dos relevos . Nas épocas anteriores , o relevo era
utilizado apenas nas estelas , daí que as suas possibilidades plásticas
se encontrassem limitadas.

No período assírio tardio erguem-se igualmente estelas (a conhecida estela
de Assardão , de Zindirili , pertencente ao Museu de Berlim ).

O seu estilo traduz-se num desenho simples , quase rudimentar , monótono ;
onde o esquema em geral , assemelhando-se ao painel superior pintado na
sala de K (Habitação 12 , Korsabad , a antiga cidadela de Dur-Sharrukin ,
fundada por Sargão II ). [73]






































Fig .7 – Palácio de Assur-nar-sir-pal II , sequência de relevos numerados
11 –3 de cenas de guerra , (Kalah , actual , Nimrud –reconstituição de Luc
Bacheloc )
(Fonte , Luc Bachelot , Fonction politique des reliefs néo-assyriens
,p.125)





Uma variante da estela é o chamado «obelisco », uma pedra vertical , de
estilo mais ou menos rectangular , patenteando imagens e textos gravados
em todas as faces em todas as suas faces[74].

Assur-nar-sir-pal II manda erguer um monumento deste género [75],
infelizmente , o mesmo obelisco está demasiado danificado , o que obsta a
sua reprodução gráfica ; é , contudo , de grande interesse .

Os seus relevos estão ordenados em bandas estreitas , uma sobre a outra
, mas cada uma delas contínua , acompanhando o contorno da pedra ; por
exemplo , num dos lados do obelisco , aparece um carro de combate , mas só
se vislumbra a parte detrás do mesmo , detectando-se a sua frente a seguir
à esquina , na fase seguinte.

Sugeriu-se[76] que tal se devia à preferência mesopotâmica pelas formas
cilíndricas; a forma quadrangular do obelisco afigura-se incómodo: assim
evita-se o seu uso.

Pode-se também explanar de outra maneira a raridade deste tipo de
composição : os assírios ficam incomodados pelas restrições especiais que
lhes são impostas por uma superfície alta e estreita ; o que eles desejam
sobretudo desenvolver uma narração das proezas mavóricas ou cinegéticas ,
detalhada , obedecendo a uma sobreposição de cenas compostas « de blocos
temáticos » expostos na horizontal.

No Período Médio Assírio , as guerras são evocadas em painéis de
ladrilhos vidrados . Esta prática não será inteiramente abandonada em
épocas ulteriores , mas, em regra , no século IX ,as placas pétreas que
cobrem as paredes inferiores das paredes das habitações e dos corredores
do palácio de Assur-nar-sir-pal II[77] , utilizam-nas para este fim.

Estas pedras têm cerca de dois metros de altura , e por vezes toda a
superfície é preenchida por uma cena .Mais frequentemente ,como já
dissemos, encontram-se divididas em bandas horizontais . Para separar os
registos dos relevos com cerca de 90cms cada um , «encaixam-se» nas
inscrições.



































Fig 8 - Palácio de Assur-nar-sir -pal II (Kalah ) Muro Sul da Sala do trono
. Aqui vislumbramos sequências de cenas de guerra , de cerimónias
religiosas , contendo a intervenção do Deus Alado , génios alados de
aspecto humano , touros alados , os chamados os lamassu. (Cena 11 - 20)
(Fonte : Luc Bacheloct , Fontion politique des reliefs néo-assyriens ,
p.124)





As habitações estão pois rodeadas por duas faixas contínuas , especialmente
adequadas para discorrer o moroso relato das campanhas do rei [78] , as
quais
representam a principal temática dos artistas assírios , significando um
novo género inventado pelos assírios. [79]

No mundo mesopotâmico , o relevo sobre pedra tem um desenvolvimento vasto.
Ele concretiza as funções narrativas que faltam completamente nas
estátuas de corpo inteiro, permitindo a combinação das figuras em cenas
e, desse modo, a evocação dos grandes acontecimentos da sociedade, desde os
políticos aos religiosos .

O relevo tem uma extensa variedade de elementos próprios , aos quais
correspondem diversas formas iconográficas . Antes de os examinarmos ,
devemos, no entanto, considerar os numerosos problemas gerais que estão
desta forma ligados a esta forma de escultura , em particular aqueles que
derivam da necessidade de reproduzir a duas dimensões as figuras que as
compõem.

A ausência de perspectiva tal como se entende hoje em dia , é um traço
comum da arte mesopotâmica . Não existem , escorço, chamado «linear »,
diminuindo as figuras à distância , nem o «axonométrico », dispondo as
figuras obliquamente em relação ao espaço .

Na realidade , este tipo de escultura tem como objectivo representar os
corpos (como eles são ), mas nunca os representam enquadrados no espaço em
que estão localizados .

Sabatino Moscatti fala de «arte cerebral », onde o pensamento prevalece
sobre a visão [80],enquanto outros falam de racionalismo abstracto [81].

Como são representados os corpos ?
Em primeiro lugar, o tamanho corresponde à importância que cada um deles
tem aos olhos da sociedade assíria : o Deus é maior que o rei , o rei é
maior que o súbdito , e este por sua vez é maior que o inimigo[82] .

Em segundo lugar, a aparência é considerada insuficiente , se não mesmo
enganadora , apontando para uma realidade em que se crê nesta altura, a
representação é elemento mágico e religioso[83]
Em terceiro e último lugar, a existência do problema da representação
propriamente dita[84] .

Milhares de figuras documentam esta «construção de imagens », acabando por
representar uma verdadeira «montagem »de componentes homogéneos . No
entanto , não podemos falar de representação ilusória , quando no fundo se
tratam de representações ideológicas , através das várias partes do
corpo[85].

Os baixos relevos encontrados nas paredes dos palácios assírios são fontes
preciosas para o estudo da vida dos soberanos . Audiências reais , cenas de
caça são representadas de forma a produzir uma impressão viva e completam o
relato das inscrições[86].


Grande parte desses baixos relevos decoram as antigas residências dos
soberanos assírios. Ao longo dos corredores vislumbramos imagens da guerra
e caça [87].

Toda a convenção desaparece quando o escultor assírio se encontra em frente
ao animal . Hirto, imóveis ou arrebatados num carro de guerra ,
transportando geralmente arqueiros.

As cenas mais belas destes relevos tratam-se nas cenas finais da vida dos
animais , que encontramos em muitos dos museus europeus . São modelos
comuns que lhes dão maior grandeza.

Nas cenas que obtemos para este trabalho[88] , onde os animais são
atingidos por flechas , caindo de costas , deixam-nos toda a sua força
registada na sua dor ,no momento em que são atingidos [89].

Mas voltaremos a esta temática brevemente , quando tratarmos dos temas
abordados e da mentalidade real , aí compreenderemos o significado de
toda esta arte mágica aos olhos do homem mesopotâmico.

2.3 – A estatuária



Uma fórmula muito particular do baixo relevo são nos dadas pelas estelas
erguidas em determinadas ocasiões[90].


Inicialmente , estela e estatuária diferem uma da outra , pouco a pouco
irão desaparecer essas diferenças através da presença face à imagem do rei.
O reinado de Assur-nar-sir –pal II conhece uma nova técnica de suporte
através
da inscrição real[91].

O rei assírio chega a todas as partes do império através da representação
da estela , desde as altas montanhas aos confins do mar mediterrâneo .
[92]

A importância da estela ou estatuária neo-assíria exerce uma função
primordial de carácter expansionista . Deste modo, podemos considerar o
problema semântico através da terminação narû, ou seja, a técnica ,
identifica-se na terminação salmu, caracterizam o relevo a estela ou uma
estátua[93].

A campanha militar pode determinar a imposição do soberano , quer através
do seu mandato ,quer através da criação da província do território em
questão , consoante o aumento definitivo da região estruturada no império
assírio .

A conquista militar pode ser considerada como o protagonista do
desenvolvimento histórico posterior. Podemos considerar as campanhas dos
soberanos dos séculos XI ao IX a c , no país de Nari e de Ur-nar-tu
contra a entidade geográfica estatal, controlando de maneira estável a
Assíria .

As imagens expressas na arte edificam toda a estrutura de expansão de
poder , através das suas fórmulas obrigatórias[94].


Seguidamente iremos analisar um exemplo desse tipo num exemplar existente
na Fundação Calouste Gulbenkian.




2.4 O Baixo relevo do Museu Da Fundação Calouste Gulbenkian



A análise iconográfica e simbólica sempre foi apanágio dos homens , mas
foi na mais Alta Antiguidade Oriental que ela nasceu.

O homem mesopotâmico tem um olhar muito próprio do seu rei , transportando
na arte como um indivíduo que recebe as ordens do seu Deus .

Nesta época acredita-se que o rei seja um fantoche nas mãos dos seres
sobrenaturais , mas tudo isto não passa de uma marca ideológica , uma força
necessária à construção de mensagens que intimidem e mostrem toda a força
da nação assíria . Ao justificarem o que está certo e o que está errado ,
procuram nos primórdios universais uma força que trave a chegada dos
inimigos do rei assírio[95].

Ontem , tal como hoje , todo aquele que nos é estranho deve ser destruído .
O equilíbrio do universo está no rei assírio, no vigário do deus da terra
.

A necessidade de criar mensageiros , monstros que possam aterrorizar os
seus inimigos (possam ser eles soldados desertores ou embaixadores ) [96].

Estes monstros têm rosto humano , asas e no seu olhar paira uma ameaça .
Essa ameaça é capaz de hipnotizar todos aqueles que queiram enfrentá-lo
, trata-se de uma divindade menor(o génio alado)[97].

A representação deste ser é feita de perfil , pondo em destaque todos
cânones da arte assíria . A barba encaracolada dá não só a impressão de ser
feita por um amador , mas à medida que comparamos com outros seres
existentes em Museus na Europa e nos Estados Unidos chegamos à conclusão
que se trata de um padrão da arte mesoptâmica[98].

O baixo relevo assírio surge como forma de propaganda assíria e expansão
de poder no período neo-assírio (883.859 ac )corresponde ao período do
reinado de Assur-nar-sir-pal II .

Este mesmo período é caracterizado por uma época de expansão, triunfo ,
audácia , pujança , glória como nos atestam os baixos relevos de
Nimrud[99].


A criação de uma imagem de marca política através da arte , projectando a
imagem ao texto .
É neste sentido que as mensagens dedicadas ao Deus lAssur pedem ou
agradecem , consoante os casos , uma ajuda sobrenatural . Nestes textos
encontramos mensagens poéticas cheias de beleza [100].

Ao celebrarem imagens de poder , de um reino passado , Assur-nar-sir-pal
pretende atingir o mesmo poder através do epíteto « rei das quatro partes
do mundo »[101]

Ao dar a conhecer a arte como elemento das ideias políticas , o artesão
mesopotâmico utiliza a quilo a que hoje chamamos propaganda , como forma de
expansão política e territorial [102].

O poder da arte , como propaganda imperial, é bem caracterizado na sala da
Gulbenkian de arte mesopotâmica [103] , quando encontramos um génio alado
da Fundação .
Iremos agora analisar de perto o exemplar existente na Fundação Calouste
Gulbenkian. Será através deste tipo de arte que poderemos compreender a
linha de força na característica estilística da época .


É pelo conhecimento da religião que melhor poderemos perceber o carácter
cultural dominante na Mesopotâmia e , através dele a sua arte . A
religião mesopotâmica compõe-se por um panteão numeroso de deuses cujas
as características psicológicas são idênticas aos seres humanos criados
por eles[104].

Quer isto dizer que os deuses assírios são criaturas , imortais , mas
violentas e mesquinhas . Para evitar a sua ira e obter a sua protecção ,
os homens prestam-lhes culto e dedicam-lhes oferendas[105].

Cada cidade- estado possui um Deus protector a quem dedicam um templo
principal da sua área urbana e o seu rei é, simultaneamente ,o seu
principal sacerdote , isto é, o seu servidor , o vigário de Deus na
terra[106] .

Daí a proximidade entre o palácio e o templo nas cidades mesopotâmicas .
Contudo, o rei nunca é um Deus e muito menos divino. [107]

A concepção mesopotâmica do mundo para além da morte é também negativa e
pouco ética . Acreditam na sobrevivência da alma depois da morte do corpo,
imaginando-a condenada a errar permanentemente num mundo de trevas e
gemidos , seja qual for o seu comportamento em vida .

A sobrevivência além túmulo não depende da sobrevivência do corpo ou da
existência de um habitat material para a alma . Por isso , os túmulos
são salvo raras excepções , construções negligenciadas por este povo.
A religião mesopotâmica assume sobretudo objectivos práticos e
funcionários : prever a actuação dos deuses sobre a vida dos homens ,
evitar a sua ira aplicando-lhes os desejos , procurar a sua ajuda e
protecção fazendo-lhes oferendas .

Esta característica acentua o carácter pragmático da sua civilização e da
sua arte , uma arte para os vivos que canta aos deuses , mas principalmente
os reis e os seus feitos político-militares.

O relevo da Gulbenkian representa a figura do génio alado. No relevo em
questão presenciamos o génio com a mão direita levantada , a mão esquerda
segura um cesto de metal contendo sementes [108].

Durante a nossa investigação , supomos que este relevo não poderia estar
completo face aos retalhes a que a arqueologia no século XIX nos habitou.
No entanto, apesar dessa nossa suposição inicial, através da comparação de
outros relevos europeus , chegamos à conclusão que se tratava de um padrão
da arte mesopotâmica. [109]

Mas se a arte tem um cânone que a evidencia , é também na inscrição que
encontramos um estilo idêntico , assim todas as inscrições evidenciam nas
suas primeiras quarentas linhas a titulatura do monarca assírio [110].

Centremos agora a nossa atenção na figura do génio alado .
O génio alado tem rosto humano , os traços do rosto são esculpidos de uma
formas nítida e com extremo vigor .

Os seus olhos detém a característica severa da qual pretende tomar aos
visitantes estrangeiros . O olhar imponente , penetrante é feito de frente
, quase traz uma ameaça .


Mas toda esta fórmula monumental de representação de um ser sobrenatural ,
leva-nos a observar não só o carácter viril , guerreiro, de quem está
habituado ao exercício da guerra[111].





























Fig 9- O génio alado dá-nos não só os aspectos temáticos face ao mesmo
período .Estes sinais são identificados através das vestes , das mãos , (a
direita abençoa , ou naturalmente atira pólen de flores , a esquerda
segura num cesto de vime . A invocação ao Rei , sendo representando também
como figura de árvore da vida . Os sinais de riqueza são também vistos
pelos brincos , o número de berloques . Como chefe militar, o tratamento do
corpo , a perfeição das veias e músculos , a espada ainda que se veja
timidamente . O olhar ameaçador e guloso que pretende atingir os povos
vizinhos .
(Fonte : Museu Calouste Gulbenkian , Lisboa , Processo 118 , Alabastro )

Não menos importante são as suas asas , só não nos mostram a sua força
sobrenatural , como também nos revelam todo o seu acto heróico [112],
quem está habituado ao exercício da guerra . Pretende mostrar-se o carácter
guerreiro de todo o exército assírio [113].


A monumentalidade da escultura assíria é reforçada em toda a sua força e
esplendor na enorme capacidade de observação , através da anatomia , onde
vislumbramos os seus músculos decalcados ao mais ínfimo pormenor.

Como podemos saber se este ser mitológico é ou não uma figura real ?
Através das asas , das braceletes , do cesto em metal , a mão direita
levantada abençoando algo . A dúvida está no ar: Mas quem é afinal este
ser que protege o seu rei ?

Irmão gémeo «lamassu »que protege a entrada dos palácios , o génio
representado no relevo da Gulbenkian, assim como de outros museus europeus
ou extra - europeus, representa-se como protector da ideologia real
assíria.

Encontrar-se-á o génio alado em atitude de oração ?

Para podermos compreender esta mesma figura deveremos então centramo-nos na
análise do poema , dado que o processo do mesmo relevo nos diz se
enquadrar no estilo dos profetas do Antigo Testamento .[114]

Confrontando o processo com a inscrição estandardizada , datada do ano de
1945 : The Great King of Assyria , eis o que nos diz a inscrição:

« (...)Palácio de Assur-nar-sir –pal II , sacerdote de Assur, favorito de
Enlil (Bêl ) e Urta , amado de Anu e Dagan , rei forte , rei do Universo ,
rei da Assíria , filho de Adad – Nirâri, herói valoroso , crente em Assur
, Seu Senhor , Quem não tem rival entre os principais dos quatro quartos ?

Maravilhoso pastor !Quem tem medo da batalha , perante a sua presença ?
Poderoso dilúvio ! Quem nos fez conquistar terras ?
Quem não se submete a ele ?
A totalidade dos povos ,
Poderoso herói , Quantos inimigos não esmagas-te , Senhor ?
Quantas gargantas não foram pisadas em teu nome ?
Quem quebrou o poder do mais forte ?

Confiante nos seus Deuses fortes, nos seus senhores ,
Quando Assur , Senhor chamou o meu nome , tornou mais forte o meu reino ,

Arma implacável ,
Eu destruirei todos os meus inimigos nas batalhas , espalhando o exército
,
Com a ajuda de Shamash e Adad, deuses, meus protectores , tornaram-me forte
,

Acabando com o exército de Nair(....)[115], Kirhi , Shubarê e Nirib , com
Adad,
Eu sou o rei do Universo , desde o rio Tigre até ao Monte Líbano e ao
grande Mar Quebrado a submissão (...) »

Esta inscrição denota não só todo o conhecimento do artista assírio ,
através da sua capacidade de mostrar todo o seu poder , levando uma parte
da população , ou uma pequena parte a um acto de obediência .

Neste sentido , surge arte enquanto motor das ideias políticas, utilizando
as técnicas de propaganda , através da forma de expansão política e
territorial .


Podemos ver toda a força de um rei que ajudado por um Deus , conseguiu
feitos até então atingidos . O rei tem todo o poder , ele é o seu Senhor ,
por ele o rei conquista arrasa nações, destroi os inimigos .
Todas estas expressões , combinam a força , o carácter do Deus Assur, de
todas as batalhas ,o qual chegará a todos os pontos do universo .


Mas não só as palavras que nos dão as pistas necessárias da capacidade
guerreira deste monarca , que parece afirmar «Com Assur numa batalha
cairão todos para o lado !» .

Para além das palavras , ficam as imagens, e é nesse sentido que
procuramos centrar o nosso trabalho : analisar o vestuário do Génio alado.


Será ele compatível com alguma figura real ? Como se veste o génio ? Como
um sacerdote ?
É esse aspecto que iremos analisar seguidamente .


O traje típico da civilização assíria caracteriza-se por uma espécie de
túnica de mangas curtas e justas. O seu cumprimento varia , em relação aos
homens e às mulheres .























Fig10, 11, 12 – Trajes sacerdotais usados pelo rei assírio . Avental do
sacerdote assírio. Corte do vestuário sacerdote assírio nas cerimónias
religiosas . Veja-se também os cortes dos reis , bem como o corte da túnica
usada pelo sacerdote .
Fonte : Carl Kholer , História do Vestuário , pp84-86 )


Os homens das classes mais altas usam o mesmo traje de mangas curtas,
embora seja mais longo , chegando até aos pés. Quase todos usam cintos
enfeitados por borlas (de acordo com a condição social da pessoa ).

Os seus trajes são ornamentados e bordados, de forma mais ou menos
elaborados .

O próprio monarca Assur-nar-sir –pal II usa mesma indumentária , à qual
acrescenta , nas ocasiões , uma sobreveste semelhante a uma capa . Com o
passar do tempo , as capas tornar-se-ão mais ricas e elaboradas.

Os bordados passarão a ser guarnecidos por franjas e borlas.
Em relação ao corte, a única modificação introduzida, salienta-se , quanto
ao seu comprimento dos ombros , descendo até metade do braço.
Para permitir essa mudança , o traje passará a ser confeccionado em duas
peças costuradas na parte de cima, onde deixa uma abertura para a cabeça.
[116]


Ambos os lados são totalmente abertos , e as partes , de frente para trás
são unidas por fitas costuradas na parte interna do traje . [117]

A insígnia da distinção normalmente usada por todos os altos funcionários
da corte e do Estado , usada por uma longa estola de franjas .

A quantidade do número de enfeites indica a posição social .
A riqueza do tecido , o comprimento da roupa, a cor das franjas , e um
decote sobre o peito é indicação que se trata do rei assírio (vigário ).

A estola dupla , de franjas longas ,também cruzadas , indicam –nos que se
trata de um mestre de cerimónias .


Os servidores pessoais do rei –pagens de armas , copeiros –usam estolas de
franjas curtas .


Fig 13- Representação do vestuário de um criado real . Tencionamos aqui
chamar a atenção ao corte do vestuário, da indumentária necessária no uso
das funções hieraraquicas do serviço .
Fonte : (José Pijoán , História General del Arte, p.218 )


Os criados de categoria inferior , tais como os que seguram o guarda –sol
real , não usam qualquer espécie de estola .

Fig.14 - Repare-se no relevo em questão as diferenças de vestuário entre o
génio , os sacerdotes , os criados reais e sua indumentária usada nas
cerimónias religiosas.
( Fonte : Henri Frankfort, The art and arquitecture of the ancient Orient
,p.161)



Passemos agora ao traje oficial dos sacerdotes , bem diferente daqueles
usados pelos funcionários da corte .

O mesmo traje é usado pelo rei , enquanto chefe de religião, difere
bastante das vestes que indicam a sua condição de monarca .

O traje pessoal do sacerdote não é menos majestoso ou imponente que o do
cortesão . Segundo as fontes da época , o tecido era usado somente pelos
sacerdotes (linho alvejado ) [118].

Respondendo a estas questões , salientamos que o génio não usa qualquer
barrete real, como aqueles que vislumbramos por outros museus da
Europa(British Musem ) .

O uso de uma tira de cornos ,das braceletes , da espada ,da posição da mão
, cesto de vime , são características essenciais deste tipo de arte.

As figuras feitas perfil ,denunciarão ou não uma fragilidade estilística ?

É precisamente sobre esta questão que iremos debater já de seguida .

2.5 O estilo Mesopotâmico

A única resposta plausível a esta questão reflecte a capacidade de
solucionar muito bem os propósitos da ideologia real assíria. No fundo é a
incapacidade de representar de frente que determina um estilo de arte ,
arte essa que se caracteriza pela noção de Deus /Rei .

Centremo-nos naquilo que foi abordado nos capítulos anteriores (2.2 ; 2.3 ;
), ao iniciarmos o estudo deste relevo , sentimos a sua capacidade de
visão e observação em relação ao corpo , às formas detalhadas que nele se
circunscrevem .

O que nos afirma o catálogo anterior é que esta imagem se refere a um
exemplo de religiosidade , de oração , de preparação à escolha do Deus face
ao soberano , seu representante na terra , Vigário (a que corresponde ao
acádico shippar ).

Devemos olhar melhor aos símbolos , às mãos e àquilo que elas nos dão nas
entrelinhas . Poder , religiosidade , poder de escolha ao rei , as
informações que fornecemos sobre este estilo , já noutros capítulos ,
enquanto as diferenças de estátua e relevo , centra-se obviamente também
agora na capacidade de obter o material necessário à produção deste
material que possa conduzir à produção de inúmeros relevos destinados às
paredes da sala do trono deste monarca .

O relevo da F.C.G fazia parte dele , e mesmo não sabendo algumas das
peripécias que sucedeu a este relevo antes de vir parar a Portugal .
Poderia conduzir-nos a melhores resultados durante a elaboração este
estudo , no entanto, o processo não o identifica .

Limitada pela falta de pedra , a escultura da Mesopotâmia sabe, apesar de
tudo , vencer as dificuldades e afirmar-se pela técnica e formal , pela
variedade dos materiais utilizados e pela diversidade das formas.

Com efeito, para além de vários tipos de pedra , os escultores
mesopotâmicos trabalhando os metais (cobre, ouro, prata e estanho ),
desenvolvendo as técnicas correspondentes , usando argila e terracota ,
bem como o marfim , o alabastro e outros materiais raros .

Atingem um alto nível de execução técnica (que no entanto , não conseguem
ultrapassar certas limitações de representação ) , de qualidade estética
que se caracteriza por uma obediência a um rigoroso cânone formal , cujo
padrão se impõe pela ordem técnica , sem nunca entrarem pela estética ou
pela religião.

O respeito pela lei da frontalidade , pelo convencionalismo dos tamanhos
de representação, de acordo com as posições sociais dos representados
[119].

A tendência para a idealização que visa atribuir respeito e dignidade às
personagens representadas .
A expressão formal denota uma enorme capacidade de síntese , estilo na
representação do corpo humano , com a excepção do rosto , das mãos e
eventualmente dos pés que mostram maior cuidado e pormenor ; as
representações animalistas obedecem , contudo a um maior naturalismo.

A tendência para a estilização manifesta-se também através de um gosto
marcado pela geometrização das formas e da composição , geralmente em
cone ou cilindro .

A construção racional das imagens reproduzem -se de maneira efectiva tal
como elas são, nunca se vêem enquadramentos espaciais .
Por esse motivo , a perspectiva nunca é tida em consideração , e não
existirem escorços [120].

Ao voltarmos à matéria deixada em aberto no capítulo 2.2 observamos agora o
corpo do génio alado , onde o corpo é bem trabalhado . As linhas das veias
são bem desenhadas . Tal como nesse capítulo se referia então a propósito
do tratamento do corpo , podemos chegar à conclusão de uma única coisa ,
este ser ou este tipo de representação perderia toda a sua força se fosse
representado a olhar para nós .

Não seria distante , não teria uma força sobrenatural . Não nos olharia da
forma que seria concebida . Não adquiria a capacidade de relação pública do
rei que estaria presente ao bom funcionamento de toda a instituição militar
da assíria .

As características estão neste ser , na sua imagem , e possivelmente no seu
texto que não tivemos acesso , mas apenas a uma inscrição estandardizada
analisada no capítulo anterior ,quando traduzimos para Português as partes
elucidativas desta inscrição .

O segredo deste tipo de representação não está no amadorismo , mas sim a um
cânone , a um elemento que releva um tratamento de cabelo, de braços , mãos
, pés e vestes a que se dá um rigor sem igual .
Este tipo de imagem , este estilo mesopotâmico vende uma imagem , um ser
que comunica que se constrói através do material usado[121] .







































Fig 15- Génio alado onde vislumbramos os cânones idênticos ao Génio alado
de Lisboa (Fonte : Samuel Paley, King of the World , Sala H , Brookelin
Museum ).
2.6- Temas que são plasticamente abordados


Os temas que são plasticamente abordados podem dividir-se em três
grandes pontos essenciais; guerras, caçadas e cerimónias religiosas .
A primeira série dos três temas que iremos analisar , trata-se pois da
guerra. É quase pois impossível dar uma ideia adequada destas
representações .
Torna-se então necessário proceder a uma selecção de exemplos que
reputamos como mais ilustrativos , de modo a não incorrer em repetições
fastidiosas .
No entanto , a repetição per si , é uma das características que mais
expressa a essência desta arte singular «(...) a ideia de que o poder
assírio se afirma irresistível mediante a exposição , meticulosamente
cuidada , deste poder em acção (...)[122]»

Os escultores ilustram através da imagem as ferozes narrações da vida , dos
feitos régios , redigidas pelos escribas oficiais : o monarca a cavalo, ou
no seu carro de guerra , perseguindo inimigos , sendo recompensado pela
vitória .

Assistimos à marcha dos exércitos , subjogando , incendiando , massacrando
, castigando , «com devastadora monotonia » e um perturbador «ritmo»
sistemático , povos , cidades, regiões e países . O carro aproxima-se do
inimigo que está estendido no chão.[123]

Algumas placas mostram estas máquinas de guerra avançando contra os
antagonistas que batem em retirada , ao passo que a infantaria aniquila
os feridos que jazem no solo.

As cenas mais complexas que reproduzimos , aparecem como ponto culminante
de uma história contínua e imutável : os assírios avançam , os inimigos
fogem .

A resistência concentra-se numa cidade : conquistada , os seus governantes
são empalados ou mortos de outras formas ; então, os implacáveis carros de
combate voltam a fustigar os adversários .

Mas seja qual for o tom da história narrada , os eus pormenores estão
representados com a maior vivacidade e variedade e as ambições do
artista revelam-se insólitas , de uma audácia pasmosa , se tivermos em
conta os meios que dispõem.

Os ortóstatos , divididos em dois ,proporcionam bandas de um metro de
altura , nas quais se pretende acomodar um pouco mais a figura de pé, de
tamanho normal.

Isto verifica-se claramente no baixo relevo em que Assur-nar-sir –pal II
recebe a homenagem dos seus súbditos [124](Nimrud , British Museum ) , a
cena descreve um ataque a uma cidade [125], demonstra o muito que se
pode conseguir mediante a utilização do que convencionalmente se chama o
«fundo».

O assédio que se representa diante do soberano e do seu escudeiro
transmitem-nos um conjunto de motivos , em princípio secundários ; o
ponto de partida encontramo-lo no lado esquerdo do baixo relevo em que
Assur-nar-sir-pal II avança no seu carro de combate , disparando flechas
; o rei acaba de matar um chefe inimigo ; inclinando-se para a frente
(aparece debaixo das cabeças dos cavalos de Assur-nar-sir-pal II ) tenta
prosseguir o seu ataque [126].

A elite dos combatentes , na sua maioria assírios , serve na cavalaria ou
nos carros de combate . Na infantaria , ainda os arqueiros e os lanceiros
, tendo cada grupo o seu armamento especializado .
Fig. 16- Cena de batalha (Fonte Henri Franfort: op.cit, p.158 )



O exército conta ainda com eles que dão apoio logístico de toda a
espécie . Pelos relevos das portas das muralhas e dos palácios assírios
, podemos imaginar os soldados a desfilar , matando , destruindo muralhas
, arrebatando o espólio da guerra.

Vemos também soldados em repouso , outros tratam dos cavalos , outros
abatendo cavalos , podemos ainda vê-los comendo e dançando .

A guerra aparece ainda sobre outros aspectos para além daqueles já
referidos , não só os soldados em campanha , como em campos militares , mas
também através da utilização da sua técnica militar (ataque ,defesa da
cidade , rendição dos vencidos , apresentação dos mesmos ao soberano ,
execução dos prisioneiros , o transporte destes , deportando-os das suas
terras natais ) são temas dominantes utilizados na temática da
guerra.[127]













Fig 17 - Fugitivos nadando no rio (Fonte : Henri Frankfort: op.cit, p.158 )

Mas este tema dá passagem a um outro , geralmente conotado como desporto
, exercício da guerra , através da chacina de leões.

Na Segunda série dos temas tratados salientam-se cenas de caça (aos leões
), deste modo , as caçadas régias aos leões , assemelham-se mais a combates
cerimoniais [128],são também as preferidas dos escultores , porque as
mesmas cenas servem de treino , cruel e violento para as actividades
bélicas.[129]
















Fig 18 - Cena de caça (Henri Frankfort:op.cit p.159 )


Reproduz-se ,então, a vida natural dos animais , através da adopção de
motivos que, sob a forma de cenas de caça têm significado político.[130]

As cenas de caça são compostas do mesmo modo que as cenas de guerra[131].
Nelas revelam-se de uma maneira brilhante , o «sentido da natureza »
própria dos assírios .

A evocação da estepe nua ou das colinas arborizadas de onde escapam os
animais constitui uma excelente ilustração.

Embora vítimas , estes últimos são objecto de uma complacência particular
do artista , que sabe igualmente traduzir as suas atitudes , servido por
um extraordinário sentido de observação ;ónagros e gazelas em fuga ,
leões investindo contra o carro real e, por fim , animais feridos ,
arrastando-se e vomitando sangue.

No final da caçada , o rei não se esquece de render homenagem aos deuses,
vertendo uma libação sobre os leões mortos [132].

Nestes elementos , as feras são soltas das jaulas, sendo inseridas para
dentro de um quadrado onde são mortas pelo rei .[133]

Aqui, o escultor atinge o seu mais alto nível . O leão ataca o carro
real pela retaguarda é, sem dúvida o herói da cena . Da magnífica força e
coragem , o animal ferido parece encarnar toda a emoção dramática que falta
à descrição pictural da guerra.

O leão moribundo , à direita, é igualmente impressionante na sua agonia. Se
o leão atinge a representação máxima na sua força , atingindo um nível
superior ao cavalo que surge na mesma imagem[134].

A terceira e última série dos temas tratados salientam-se nas cenas
religiosas , onde vislumbramos relevos que representam o génio diante da
árvore da «árvore da vida ».[135]

Denotamos uma preocupação decorativa evidente , a composição evidente , a
composição desdobra-se simetricamente de um para outro lado da árvore
fictícia , enfeitada com faixas de bronze.[136]

Esta árvore é mencionada nos rituais assírios do ano Novo e é
provavelmente o símbolo do rei . Por cima da árvore paira um disco alado ,
surgindo o busto do Deus Assur que adopta o símbolo real dos hititas[137].

Muitos baixos relevos dão-nos imagens de rituais mágicos , de fecundidade .
Os génio alados com cabeça de ave de rapina realizam aspersões rituais.
[138]

As praticas rituais são continuadoras efectivas da civilização suméria ,
onde procuram tornar propícias às divindades , condições climatéricas em
períodos diferentes (chuva num período de seca , o fim da chuva num
período de inundações)[139].

Embora , nas regiões da Assíria o regime das águas sejam mais populares do
que na Baixa Mesopotâmia ,surgem por vezes , fortes precipitações em
pleno Verão[140].

Os rituais da fecundidade , não são porém abandonados , porque lhes são
atribuídos papéis decisivos na abundância das colheitas .

O poder mágico destes gestos rituais tomam um sentido mais amplo , onde os
cachos de flores masculinas são utilizadas para abençoar ou dar boa sorte
, assegurando desse modo , força saúde e poder a todos quanto sejam tocados
pela flor divina .

A morfologia destas árvores contribuem para uma maior identificação ao
ritual da fertilidade . As ressonâncias míticas da fertilidade são a pedra
toque das cantigas de amor . Tão preocupados com estas questões de
fertilidade , transformam-nas na acção sagrada mais transcedente . Dela
ficou incumbido um rei ideal e mítico . Dummuzi, parceiro de uma divindade
do amor , assimilada a Innana . Estes heróis míticos são actualizados num
ritual do casamento sagrado , realizado, pois são agentes privilegiados .

O agente masculino é naturalmente o rei; o feminino terá uma personagem
funcional menos definida ou menos destacada [141].

Após esta breve descrição de imagens e temas na arte assíria , cabe-nos
então desvendar a « charada » deste tipo de arte . Os moldes que a
caracterizam edificam uma arte muito especial. Mas isso será desvendado já
a seguir .


3. A ideologia expressa na arte assíria



Ao terminarmos a nossa análise sobre as diversas formas de arte durante o
reinado de Assur-nar-sir-pal II entraremos agora dentro da ideologia.
Como é que se expressa esta ideologia ? Em que moldes é que o rei poderá
atrair sobre si a sua mensagem ?

Esta ideologia é expressa através da sua acção , como construtor da
civilização, ou seja , o rei é que decide a nova capital do reino, a
construção de um novo palácio .

O rei não passa de um humilde servir dos deuses , e as suas obrigações são
absorventes , o que explica a importância do lugar ocupado pelos
santuários neste conjunto arquitectónico : seis templos (três de maiores
dimensões e outros três de dimensões pequenas ), dispostos ao comprido e
precedidos de estátuas cariatídicas dos deuses , portadores de vasos , de
onde saem jactos de água , de árvores fictícias de bronze .

De facto, os reis consideram-se vigários de Assur, mas também são
identificados a Marduk . O rei rende-lhe homenagem , segurando numa das
mãos uma maça de armas que exerce a função de ceptro .

O gesto da outra mão é peculiar dos assírios : um estalar dos dedos , ao
que supõe , para despertar a atenção do deus.

A imagem do rei caracteriza-se conforme o ideal assírio. Aliás , o rei é
apresentado , com igual impassiblidade , nas cenas de caça e guerra; mas o
seu carácter religioso , até o sacerdotal , é neste caso , particularmente
sensível.

Por detrás dele (e na sua ausência , directamente exposto em frente da
árvores sagrada ), dois génio alados aspergem de água , com a ajuda de um
pomo de cedro , a árvore e o rei ao mesmo tempo .

As ilustrações dos anais são tão convencionais como estas últimas .
Todavia, o escultor esforça-se por criar uma certa diversidade que
oferece ao rei o lugar de «vedeta », em primeiro plano.

As outras figuras numerosas , repartem-se à sua volta . O rei combate, de
um modo geral, no seu carro, protegido pela sombra das asas de Assur ,
que o ajuda a esticar o arco – de tal maneira que as flechas se
confundem com as do seu Deus[142].














Fig 19- Cena em que o rei , de pé no seu carro ao lado do auriga , dá
caça a um leão que se ergue nas patas posteriores ; o rei tem na mão o
arco , símbolo do poder real . Na cena domina a imagem o Deus alado Aura
Masda . A nossa escolha por este cilindro selo da época de Dario , está no
facto de que a civilização persa adoptou a cultura da Assíria , assim como
o Deus Aura Masda , adoptou as características do Deus Assur .
(Fonte : Revista Cadmo , nº1, p.227)


Se apostura do rei é rígida , as outras personagens são animadas por um
leque de pormenores pitorescos : cavalos que caem , soldados empenhados
em cortara as árvores e, por fim , fortalezas de dupla muralha , atacadas
pelos carros de assalto.[143]

A ideologia expressou a política no ponto de vista religioso . Mas como
sabemos a sua transformação dentro do mesmo plano ? Como é que se modela a
ideologia política , num palco militar ? Como é que se apelam aos deuses
para que intervenham nas batalhas dos seres humanos ?


È o que iremos descobrir a seguir.



1. – Função político ideológica


A Assíria aparece –nos como uma poderosa máquina de guerra . mas a
política militar , com todos os êxitos obtidos só encontra uma
explicação cabal no princípio da autoridade monárquica , talvez o elemento
mais evidente no Império neo- assírio.

A primeira função do rei, relaciona-se com a triunfal chefia militar da
guerra, procurando a integridade e a riqueza das terras que lhe são
concedidas [144]

Na pessoa do rei concentram-se todos os poderes [145]. É ele a autoridade
suprema capaz de enfrentar toda as dificuldades ; é ele assume todas as
decisões : toma a iniciativa das guerras , decide nas questões da política
externa e nas tarefas de administração do estado[146].

O seu poder é absoluta e mesmo o seu despotismo apoia-se sempre no
argumento teológico da eleição divina e da missão de grande sacerdote ,
executor da vontade do Deus[147] .

De facto, a ideologia imperialista dos assírios , especialmente durante o
Império neo-assírio apoiou sempre no elemento sagrado . Embora de
natureza diferente e propondo-se de finalidade diversa , o religioso foi
sempre reinvidicado pela esfera política . Por isso se falará mais tarde
de «realeza sagrada», de «guerra santa ».

Todos os reis reinvidicaram particulares relações com as divindades que
são na realidade criações humanas , cuja transposição mais ou menos
fantástica na esfera transcendental do que se passa na sociedade .

O rei proclama, como título fundamental para a sua legitimidade e
justificação para asa suas decisões , a ligação com um Deus ou vários
Deuses : é o deus que o escolhe e algumas vezes o predestina dentro do
ventre materno.

A titulatura é empregue num enorme sentido religioso, prevalecendo a ideia
divina para a realeza[148].
Além da predestinação para a realeza que pode vir desde a infância ou
mesmo dentro do ventre materno, a escolha divina pode revelar-se , de
outros modos , designadamente pelo testemunho oracular[149].

Designado pelo Deus nacional Assur , o rei assírio é o seu legítimo
representante , o seu sangu , o seu sacerdote , e o seu administrador .
Pelo ritual de coroação pode entender-se claramente que o verdadeiro rei
da assíria é o Deus Assur.

Ao alargar as fronteiras do império , o rei está a agir em nome do seu
Deus , de quem aliás havia recebido esse mandato explícito na cerimónia
da sua coroação.

Nesse momento solene , o sacerdote , após ter colocado a coroa sobre a
cabeça do rei , na administração final exclamava : «Pela equidade do teu
ceptro alarga o território . Que Assur faça com que as tuas ordens
sejam ouvidas e te concedam justiça e paz . »

Não há dúvida que, segundo as ideias que vigoram são difundidas por
todos os meios , os reis assírios ao dilatarem o império , executam todas
as ordens divinas.

O seu dinamismo nas guerras de conquista encontram aí a sua justificação
.
Por tal motivo , a guerra dos assírios tem já a marca de guerra santa ,
mesmo sem o dizerem expressamente .

Afinal , é por causa desta teoria da escolha divina , o rei é sempre
«legítimo », pois nunca lhe falta a aprovação do deus Assur . Proclamada a
sua legitimidade em termos religiosos desde a coroação , também as suas
guerras , por mais iníquias que sejam , são legítimas , digamos «justas »ou
mesmo «santas ».

Como bem observa Mário Liverani , uma guerra é sempre justa quando é
provocada pela potência em questão, mas é «injusta» quando provocada pelo
inimigo.[150]

Mas , para além desse carácter, subjectivo, próprio de todas as guerras ,
no caso presente são dadas pelo próprio Deus. [151]
Os deuses estão sempre presentes . Deuses das batalhas , deuses tutelares ,
dos soberanos , os quais invocam o seu braço armado ou protector . O
triunfo do rei , significa a vitória dos seus deuses .

A vitória só por si é sinal inequívoco do apoio divino , e tem como papel
fundamental , garantir a ordem no mundo à maneira como pretendem as
potências divinais .

O Deus exige que a sua autoridade seja reconhecida em qualquer parte , e
que os inimigos sejam aniquilados . Consequentemente , a guerra constitui
uma forma do monarca exprimir a sua piedade , ele é instrumento de justiça
divina contra os rebeldes que não aceitam a tutela do seu Deus .[152]

Assim , todas as posições militares , são legitimadas pelas intervenções
divinas mediante os oráculos , que precedem qualquer refrega .
O seu panteão polifacetado comporta basicamente três deuses (o outro é
Ninurta ) cuja a aparência guerreira é manifesta . Além do mais, eles
surgem no tempo deste panteão em diferentes momentos da história da
Assíria [153].

O primeiro Assur –representa o Deus supremo da cidade com o mesmo nome ,
como mais tarde de toda a assíria .Verifica-se , amiúde, o facto de se
exaltar um Deus local , cujas as pertenças universalistas se afiguram mais
políticas do que teológicas [154]

Constata-se em finais do terceiro milénio ac, a existência de uma
inscrição na ponta da lança de Manis-tu-zu, rei de Akad (2275-2260 ac ):

« Quando Assur , o Senhor que me chamou , que tornou grande a minha
realeza e confiou a sua implacável arama ao meu poder . Eu conquistei as
inalteráveis tropas dos mullumé .»[155]

Alguns anos mais tarde , numa inscrição Erishun , «Para Assur, o destino de
Deus , é doravante associada à boa ou má sorte aos respectivos impérios
assírios . »[156]

No século XIIIac , Assur chega a suplantar Enlil, e no século IV ac é
considerado como pai de Anu. Na versão assíria do poema da criação de
«Ennuna Enlish »[157] , Assur ocupa o lugar de Marduk : A festa do Ano Novo
(Akitu )é celebrado emhonra de Assur , que assim absorve em seu proveito ,
o antigo culto de Dumuzi /Tannuz. A esposa é Isthar .
Numerosos são os textos que o colocam à frente do panteão e na primeira
linha de combate.

«Na vanguarda marcha Assur que lança um fogo destruidor sobre o
inimigo(...)Annu brande a arma divina , implacável perante o implicante
e o infractor Sin , o brilhante Deus lunar retira-lhes a força para
combaterem (?).[158]
O Deus do Sol Samash , Senhor da Justiça obscureceu os olhos das tropas
de Sumer e Akad : O guerreiro divinal Ninurta despedaçou as armas destas .
Isthar fez suar os tambores e incentivou os guerreiros (....)»[159]

Assur , nem sempre dominou o panteão assírio , o qual absorveu numerosas
divindades , designadamente as babilónicas , tendo elevado aos píncaros
umas e depois outras . Por outro lado, Assur não é de origem e
exclusivamente um Deus marcial.

No início, foi uma divindade da vegetação, da natureza e do ciclo da
renovação , como aliás se atesta como característica do famoso relevo
cultual de Assur, onde se vê uma figura mascarada com ramos .

Assur, vai progressivamente adquirir outras faculdades ou atributos . Deus
da sabedoria , Deus juiz , como Shamash e Deus Belicoso (da guerra ),
simbolizando na origem pela espada e pela lança .

O segundo dos deuses assírios é precisamente Samash , existe um relevo da
sala do trono B, de Assur-nar-sir –pal II em Kalah , alusivo à batalha de
DUMADMMUSA[160].

Aí, Shamash entrega anel do poder ao rei vitorioso . Este filho do Deus
Lua ó bem feitor da idade do Sol, da Luz e da Justiça .
Os seus principais santuários situam-se em Larsa e em Shipar. Samash é
inseparável do rei assírio e do seu poder , sobre os seus múltiplos
aspectos :Desde o exercício da Justiça até à guerra , a promessa da
Samash com o Deus das batalhas corresponde à fase concreta da política de
conquista [161], da própria ideologia régia da «época mítica ».[162]




Século IX ac

O Sol torna-se no Deus dos combates , acompanhando o monarca . Primeiro,
na sua refrega e depois da vitória . A verdade ; nessa altura triunfal ele
recebe juramento de fidelidade ede obediência , por parte dos povos
derrotados . Constitui o único caso , em que as artes figurativas , se
observa um Deus tomar corpo com intuitos ideológicos bem manifestos aos
reis assírios , é Sin que emerge as asas do Sol sob a forma das suas mãos .



Uma «abençoa» e outra segura no arco que serve de instrumento para a
vitória . O rei que exibe as insígnias do poder , está diante dos
inimigos vencidos .[163]

Do ponto de vista antropológico , é digno de verificar que a sua primeira
manifestação do corpo traduz-se nos gestos e na atitude da consagração.
Mais tarde no século IX ac , o Deus assume integralmente a sua forma , nos
ladrilhos envernizados da época de Assur-nar-sir –pal II (884.850 ac );é
um Deus pássaro , obviamente alado. Sobrepõe-se a um ser irradiado, obtendo
uma imagem luminosa do Sol. Ele ostenta o arco pairando sobre o rei ,
que segue no seu carro de combate . Assur-nar-sir-pal II irá multiplicar
plasticamente e em larga escala , esta divindade no seu palácio em Kallah
.

Samash representa a imagem dominante da decoração da famosa sala do trono
B, onde ele também surge , por cima de uma árvore composita , nas
cerimónias cultuais ligadas à fecundidade do império , como atitude
guerreira patenteada pelo soberano nos ortostatos do muro Sul ,
representando num registo superior narrativo visual , dos diversos
estádios da batalha de Damadmmusa.

O Deus actua em paralelo , conforme os gestos do rei , e vice-versa : Ele
retesa a corda do arco , momento de combate , abençoa e mantém ainda em
seu poder o arco aquando do seu vitorioso regresso.

Dá o anel do poder no decurso da consolidação do triunfo bélico . O anel
flamejante é bem o de Samash , as plumas onduladas das asas e da cauda de
pássaro evocam o «périplo »divino através do céu.

Neste mesmo muro Sul é enquanto Deus das batalhas , figura por cima de uma
árvore estilizada , elemento excepcional , invulgar, neste contexto
cultural, só se justifica pela integração desta laje na ornamentação
revelada na superfície mural meridional.

Assinalar-se-á uma evolução que convirá ressaltar : Primeiro, o Deus é
sobreposto ao anel ; acto contínuo , surge inserido ao anel , que virá a
tornar-se numa fórmula canónica.[164]

Evoluir-se-á para uma anel com um disco alado , mutação concordante face
às tradições orientais , que utilizam a figura das divindades compositas
, nomeadamente antropomórficas .

Samash significa pois a criação dos grandes reis conquistadores , dos
séculos XI a IX ac . Irá desaparecer a arte monumental após o reinado de
Salamansar III(858 –824 ac ). A partir daí, passou a aparecer somente nos
cilindros selos dos altos funcionários régios. [165]

O terceiro Senhor da guerra é o fugoso Deus Ninurta . Não poderíamos deixar
de terminar esta evolução das divindades das batalhas , sem falar de Isthar
, principal deusa do panteão acádico e ulteriormente , do panteão assiro-
babilónico assimilada da Suméria .

A Isthar mesopotâmica constitui o equivalente da Astarte fenícia e de
uma divindade hurrita chamad Shau-Saga , filha de Anu ou de Enlil , filha
e esposa de Assur , parece Ter sido inicialmente feminina e masculina .

É para já uma figura masculina da fecundidade dos elementos da deusa ,
similares a outras deusas mesopotâmicas [166]

A Deusa Isthar é ainda associada ao planeta Vénus , representada como a
deusa das forças que fazem germinar os cereais . Sombra dos animais , ela é
ainda associada às serpentes e aos leões nos baixos relevos[167].





Diante destas revelações , só podemos então questionar : Como é que a arte
produz uma imagem ? Como é que se vende a sua imagem ? Como é que ela
entra dentro da população? Haverá ou não fraude ?


Vamos agora saber como é que se constrói a imagem de um rei , de que forma
é que ele pode seduzir um rei ? Também nós fomos seduzidos pelas suas
imagens ou pelas suas palavras ?




3.2 A arte «enquanto propaganda »

A característica do baixo relevo já analisado num capítulo anterior ,leva-
nos agora a um aspecto importante da arte .

A arte «enquanto propaganda »

Em que moldes nos é revelada essa mesma perspectiva?

O próprio rei esforça-se por ter uma imagem junto do público , quer
internamente , junto da população assíria , na sua maioria analfabeta ,
quer externamente ., dentro do império assírio chega através da anexação de
territórios [168]


A propaganda aproveita-se da palavra através do texto e de um público ,
seja uma página , ou uma parede coberta de signos . Por mais intensa que
seja a descrição , esta não nos permite apreender completamente a
realidade .

No que respeita à imagem , tudo se passa de uma forma diferente , pois não
existe qualquer filtro ou distância . O seu poder incita o público a
reconhecer o indivíduo , que se torna fisicamente presente . De facto, a
arte é muito mais do que uma simples decoração , permitindo transmitir uma
determinada percepção da realidade. [169]

Uma imagem vale mais que mil palavras , não só pelo seu valor estético,
como pelo simbolismo que lhe está subjacente [170] .

A representação artística influenciada na visão que o ser humano tem do
mundo, adquire , assim , a forma de um poderoso instrumento
propagandístico[171].

Durante este período toda a «publicidade » é orientada para mobilização
militar : a motivação expansionista . Como tal, este processo
«publicitário » de manifestação do público levado a cabo pelos assírios .

Os soberanos assírios colocam as suas inscrições monumentais em edifícios
por eles construídos (estelas de fundação ou de construção ),através do
itinerário militar (estelas de intervenção militar ) entre o muro externo
e interno da cidade de Assur (estelas comemorativas ).[172]

Nas estelas de fundação /construção o conteúdo é essencialmente
celebrativo da gesta heróica do monarca e da sua actividade construtora .
As comemorativas são muito breves apresentando um formulário estereotipado
(nome, título , filiação).[173]

A localização das inscrições , prende-se directamente com a política ,
cada monarca através do domínio militar que a Assíria exerce . Deste modo,
não é casual a escolha do lugar onde a estela deve ser depositada . As
implicações ideológicas da erecção das inscrições decorrem , naturalmente
da intencionalmente da política externa [174].

Contudo, a acessibilidade e visibilidade das inscrições apresentam graus
diferenciados. As estelas comemorativas e as de construção são, de facto,
as mais expostas ao público assírio recordando-lhes a existência do
soberano no coração do «império » e dos seus empreendimentos. [175]

O local escolhido à colocação da inscrição obedece a uma intenção política
: os feitos do soberano são registados e ao alcance de todos (os que
sabem ler, obviamente ), no espaço físico mais central ,mais perto do
poder.[176]

As inscrições de intervenção militar encontram-se na periferia , certamente
dirigidas a um público não assírio , inimigo, população integrada na
Assíria após a campanha militar vitoriosa do rei. [177]


A quem se dirigem estas inscrições ?Os seus principais destinatários são
em primeiro lugar, às populações estrangeiras, aos inimigos e aos seus
aliados ; em segundo lugar , à própria população assíria cuja fonte é o
exército.

A inacessiblidade do lugar evita a sua destruição por parte do inimigo .
Estas inscrições marcam uma «fronteira ideal »; ou seja , um limite
simbólico e não uma região controlada de facto pela Assíria . Espelham o
poder de um Sar Kissati (rei do universo ) e uma ambição «imperial ».

O público interno ignora o que se passa dentro do centro político . Assim ,
quer um (público interno ), quer outro (público externo )a verdade
construída tem um significado . Todavia , é à classe política que a
mensagem , fundamentalmente se dirige. É a esta classe política que
importa convencer a manutenção do poder real .

Inscrições reais cujo material de suporte são diversos , através da pedra
e da argila , construindo um lugar privilegiado à narração panegírica dos
feitos bélicos do monarca .

As construções de templos e palácios , construções de canais e diques
também são reveladas através de milhares de «livros » de pedra e argila. Ao
seu lado, crónicas , listas de reis e epopeias também a «saborear » a
grandeza assíria [178].

Toda a composição é uma espécie de«banda desenhada» , onde o rei surge
normalmente só . A construção do novo palácio , considerado já na altura
demasiado pequeno em comparação com aquele que surgirá no reinado de Sargão
II, conhecido como o Palácio sem rival (Dur shar Kin )[179].


Até agora desvendamos aponta do véu . A arte enquanto motor das ideias
políticas e religiosas , como é que é construída a sua imagem : Surgem os
seus emissários . Mas o rei ... Quando é que ele surge? Como é que é
representado ? Será Assur ? Será Homem ? Será o quê ?


Vamos ao seu encontro e ouvir uma resposta definitiva .


3. A concepção do rei assírio na arte




O rei assírio surge «confiado » ao mundo através da sua capacidade de
domínio do seu império . Nas representações surge-nos como herói, inserindo-
se nas cenas de culto, de guerra e de caça . As expedições de conquista
dos reis são empreendidas na crença da sua justiça moral , geralmente
confiadas ao Deus Assur[180].

Passaremos agora a analisar as características fundamentais do rei assírio
na arte . O rei é apresentado como guerreiro, lutando à frente do seu
exército , como um atleta , tal como vislumbramos nas cenas de caça dos
baixos relevos do mesmo período.[181] Neste sentido somos levados a
identificar o rei a um animal , os quais podem ser um touro selvagem , uma
serpente ou um leão . Na opinião da assirióloga E.Cassin os elementos que
nos podem dar a identificação dos nomes próprios para esta época evocando
um significado muito especial[182]

Esse significado traduz-se na nomeação do nome a dar a uma criança.
Dar o nome do rei, trata-se de uma homenagem ao monarca .[183]

Assegurar ao rei –o elo das qualidades do animal que o identifique a si.
Numa ordem geral , quer através da identificação do rei como leão, quer
através dos numerosos hinos reais de Ur, especialmente no terceiro milénio
ac , datados da primeira dinastia de Isin .[184]

A comparação rei /leão não pode ser mais do que perfeita . O leão é o rei
da selva , observa o inimigo, prepara o terreno .
O leão ataca no seu objectivo de caça , como na sua própria defesa . É
nesta comparação que se prepara a arte , bélica , através da representação
da força que o leão exerce .
Esta comparação do leão /rei prepara-nos a um outro objectivo , quer
através do corpo trabalhado de um guerreiro , musculado . O leão evoca a
mesma
função , um guerreiro , da qual nunca prescinde dessa mesma função da
natureza .

As expressões esteriotipadas empregadas nas descrições do rei , como força
de um vigor excepcionais , traduzem-nos a fórmula do Deus Ningirsi «herói ,
um leão que não tem rival ».
A palavra acádica MARTU significa «força de um leão feroz », reforça a
tese da assirióloga E.Cassin .


A relação entre Rei e Leão dá-nos características das palavras sumero-
acádicas , como elementos de construção de análise . Ur-mah é formado por
outros termos relativos a animais , Ur-bar (sempre a partir de Ur).

Neste sentido , os vocabulários e termos correspondentes levam-nos às
designações da lista de sinónimos , estabelecidos entre a equivalência
entre o rei e leão . Todo o artigo versa nesta direcção , entre inscrições
reais que devem indicar outra faceta dos deuses.

Outras são constituídas pelas suas marcas através dos monumentos, mas é
sobretudo na representação das lutas corpo a corpo , que a sua ligação
entre o culto religioso e o desporto real .

Estamos em presença de um rei forte , preparado desde a mais tenra idade
ao ofício da guerra .
O rei assírio dá corpo e voz às ordens emanadas do rei Assur .Não é por
acaso que os seus inimigos são atraídos à armadilha preparada pelo rei ,
designada como terreno de caça .
Mas todo este jogo tem as suas regras , onde o rei espera pacientemente o
adversário .São evocadas os temas clássicos do bem e do mal . O rei
simboliza a ordem e o leão o caos .

Assim , todos os níveis deste jogo são feitos de ordem calculada , paciente
.
Os dados estão lançados , nada deve fazer cair toda a encenação bélica a
que está prevista. Esta encenação não é mais do que uma pequena parte das
manobras dos jogos de poder[185].

Podemos relacionar todo este jogo de cerimónias entre caçador ( o rei ), a
besta ( objecto de caça – o leão ). Sentemo-nos e observemos como são
feitos os vários níveis desta partida ;
1-capturar o animal .
2-Caçador e leão (Hinos e inscrições ) Exaltação do rei , que ruge como um
leão , furioso« mostra as suas garras ».

Toda esta representação é caracterizada por seres fantásticos da época neo
–assíria (griffos e touros alados ), está aqui patente a natureza leonina .


Mais uma vez voltamos ao cerne da questão : a relação Rei /Leão. Durante a
representação do jogo acima referido mostram-nos um leão terrível no
contexto da guerra.

Desmitificaremos agora um dos maiores mitos da história da arte assíria .
A capacidade certeira do rei assírio está na capacidade de criar leões
desde a sua mais tenra idade numa espécie de jardim zoológico. O rei treina
ao mesmo tempo que o leão começa a sentir confiança com o seu futuro
antagonista .
Todo o espectáculo tem o seu fim na representação do combate .
O leão é libertado directamente da jaula ,acabando por sucumbir pela seta
do rei assírio [186].

O rei assírio mostra uma profunda simpatia pelo seu irmão de criação .
Exemplo disso é a recomendação do rei Assur-nar-sir-pal II « Tratem bem das
bestas do jardim zoológico (...)Cacei 50 leões , levei –os em jaulas para
a cidade de Kalah , onde os criaram . Touros selvagens , elefantes ,
panteras , cervos e toda a classe de bestas da montanha . (...)Tu, futuro
príncipe , e vós , meus servos , criados , em nome de Assur , rogo-vos
que não maltrateis os meus animais enjaulados . Foram-me confiados pelos
deuses Urta e Nergal que amam o meu sacerdócio . Ama mais os animais que
as pessoas .(...)[187]»

Este parágrafo explica as cerimónias religiosas após as caçadas . O rei
assírio , no seu desporto acredita cumprir um rito , obedecendo aos deuses
, devendo acabar as expedições cinegéticas com uma libação sobre as
vítimas[188] .


Já ouvimos a resposta do rei , mas no entanto existem algumas sombras que
se escondem atrás dele . As «fórmulas de encantamento », de hipnotismo , se
quisermos transformam este ser humano que traz sobre si o fardo da
governação.

Mas estas «sombras » têm muito que contar .Vamos ouvir as suas versões.




4. Simbologia e o significado na arte


É usual dizer-se que o ser humano tem a capacidade de exprimir suas
emoções, e fá-lo com razão através da arte. Mas é na mais alta antiguidade
que o homem encontra essas emoções .






















Fig 20- Combate ritual (Fonte : Henri Frankfort, op.cit, p.163)


Na procura de um ser supremo capaz de ultrapassar todos os obstáculos ,ele
encontra seres superiores capazes de fazerem ligações com os deuses [189].

A argumentação conceptual manifesta-se nos baixos relevos onde existem
meios para transmitir maior ou menor intensidade ideológica real , como
sustentáculo do reino de Assur [190].

A árvore sagrada é um dos temas mais antigos e difundidos da arte
pictórica semítica ,principalmente na Mesopotâmia . O tema da árvore
sagrada surge pela primeira vez nos cilindros caldaicos , com um talo
dividido na base , contendo por cima um garfo, sendo cortada ao meio por
uma mais barras cruzadas .

O tronco sugere uma coluna ricamente ornamentada , coroada por uma palmeira
, a base é ocultada atrás por um feixe de folhas delgadas.

Nos dois lados os ramos estendem-se simetricamente , ostentando frutos
cónicos , ou folhas em forma de leque nas suas extremidades . Associadas
aos temas religiosos , entre os entalhes dos cilindros , nas esculturas
dos baixos relevos e ornamentos do vestuário real e sacerdotal.

Acima destas imagens , são frequentemente representados o Disco Alado em
suspenso , personificando a divindade suprema Assur em Nínive , Bel ou Ilu
na Babilónia .

Finalmente , a árvore da vida surge dividida entre duas personagens
frente a frente[191].
















Fig 21 - Grifos demónios entre a árvore da vida
(Fonte : Henri Frankfort:op.cit, p.162)

Na maior parte dos relevos são representados sacerdotes ou reis em atitude
de oração , como o relevo de Lisboa .[192]
Noutras imagens vislumbramos criaturas carregadas de uma enorme força
sobrenatural , leões, esfinges, grifos , touros alados (à entrada dos
palácios ). Dentro do palácio vislumbramos dentro das salas do palácio
génios alados[193] .

Estaremos ou não perante um caso de adoração da árvore da vida ?
Quase todas as nações, particularmente as semitas , veneram árvores que os
impressionam pela singularidade das suas formas , a vastidão das suas
proporções , a sua idade avançada e principalmente pela utilidade dos seus
frutos .

M.Bonavia , botânico que submeteu a um exame minucioso a flora dos
monumentos da Mesopotâmia , sustenta que a árvore sagrada da Assíria é
simplesmente uma amálgama de plantas anteriormente veneradas , em virtude
dos seus usos ; a palmeira pelas suas tâmaras , a videira pelo suco , o
pinheiro e o cedro pela sua madeira e lenha . Quanto aos chifres enxertados
do tronco, eles representam chifres de animais –bois , cabras selvagens
[194].

O uso dessas práticas teria certamente levado à crença do poder curativo
das árvores ,levando-as à sua relação como deuses supremos. As árvores da
vida simbolizam o lado feminino da natureza[195].


Isthar , a deusa da fertilidade pode ser igualmente identificada pela
árvore sagrada . O rei , como intermediário da fertilidade expressa essa
concepção através do «casamento sagrado »com uma sacerdotisa que
representa a deusa mãe [196].

Isthar- Dagan alude a um casamento sagrado na festa do Ano Novo , onde
afirma »Eu sou aquele a quem Inanna , Rainha do Céu e da Terra , escolheu
para seu amado esposo» .

Esta concepção do rei como intermediário da fertilidade através da
deusa é expressa na escultura assíria , onde o rei é tocado por um génio
protector ostentando um cone mergulhado numa substância fertilizante ,como
o pólen ou o azeite [197].
A fertilidade é comunicada pelo rei por uma versão estilizada da árvore da
vida[198].
A representação da fertilização da palmeira pela transferência do pólen aos
cachos da árvore fêmea ou de uma tamareira , processo conhecido dos
mesopotâmicos , o que é formalmente comprovado por Heródoto e Teofrasto .
Outros autores sustentam que este objecto é um fruto cónico do pinheiro
ou do cedro , fruto esse conhecido , pela sua reputação profilática entre
os assírios .

Seguindo esta teoria, Bonavia acrescenta que a pinha executava a função
de um aspergium . Os génios usavam a pinha para aspergir a árvore com
água lustral tirada de um recipiente que carrega na outra mão.[199]

A representação da árvore sagrada procuram um significado prático de cenas
extraídas do quotidiano . A intervenção de personagens sobre-humanos numa
operação realizada , amiúde, pela mão do homem[200] .

As representações astrais utilizam temas antigos em novas formas . Assim
, o «o homem escorpião »conhecido como o guardião das portas da epopeia
de Gilgamesh , possui uma relação do mito de Tamuz-Oriente [201].

A representação do homem –escorpião como guardião da porta do além insere-
se neste ciclo , abrangendo todo o mundo cósmico . A este ciclo pertence
também o selo , mostrando o portador do disco –alado [202].

O Sol é o símbolo dominante da energia criadora na maioria das tradições
, amiúde , adorado como Deus supremo ou como uma manifestação do seu poder
omnividente . Alguns dos mais antigos gráficos do Sol mostram-no como
centro simbólico ou como coração do cosmos . Como fonte de calor ,
representa a vitalidade , a paixão , a coragem e a juventude eternamente
renovada . Como fonte de luz nascida da escuridão , simboliza o
conhecimento e a verdade personificada . E, tal como o mais brilhante
dos corpos celestiais , é o emblema da realeza e do esplendor
imperial[203].

Na iconografia assíria , o Sol é representado por uma vasta série de
emblemas . Estes incluem o disco solar, o disco alado , o meio disco com
raios[204] .

O disco é um dos mais velhos emblemas da divindade e do poder solar . Ao
adicionar asas ao disco, os assírios combinam o simbolismo do Sol e da
águia numa imagem cósmica[205] .

O disco surge ainda suspenso sobre reis , sacerdotes , mas também preside
a cenas de adoração e de sacrifício . As formas que assume exibem
múltiplas variações[206].
Na iconografia mesopotâmica , o carro como símbolo dinâmico do governo ,
usado para ilustrar a mestria e a mobilidade dos deuses e heróis. Os
deuses especificamente ligados à roda , são habitualmente solares ou todo-
poderosos: Assur, Shamash no próximo Oriente antigo[207].

Assur – Deus supremo dos assírios , chamavam-no primitivamente Ilú , que
foi o rei de Nínive . Deus da capital da assíria ,foi convertido em Deus
nacional e foi chamado rei entre os deuses . Representa a matéria cósmica
(encerrando todas as formas da existência ) o princípio masculino da
Criação.

Ao Deus Assur ainda eram confiadas o triunfo das armas assírias . O nome
Assur entra na formação de muitos reis assírios , sobre todos os reis ,
nomedamente Assur-nar-sir-pal II (883.859 ac ) e assur-ba-ni-pal II (663-
627 ac ) .
A relação das guerras com o império figura como móbil poderoso que levava
o rei a figurar como vigário do Deus Assur.

A mitologia mesopotâmica caracteriza-se sempre pelo culto dos astros . A
astrologia liga o destino dos homens às decisões inscritas do firmamento
pelos Deuses e que os homens procuram conhecedor meio de horóscopos e
augúrios .

Os nomes ou ideogramas das divindades são, desde as origens , determinados
pelo sinal da estrela , que, só por si , equivalendo à palavra«Deus ».

À frente das divindades astrais estão os três grandes luminares que mais
de perto se associam à vida humana : O Sol , a Lua , e o planeta Vénus .
Samash – O Deus Sol. Tem 26 títulos . O seu valor numérico torna-o inferior
a Sin . O ideograma de Samash era primitivamente a forma de um disco
emergindo das duas montanhas de Leste .


Sin – Deus da Lua , tendo outros nomes , entre os quais Nanna , que se
pode interpretar como «homem do céu » . Ocupa o primeiro lugar na tríade
astral, porque assim como a noite precede o dia , também Sin é
considerado mais antigo que Shamash (O Sol [208]) e Isthar ( o planeta
Vénus[209] ) ambos seus filhos .

Também é representado como um velho de longas barbas cor de lápis lazuli-
com um crescente da Lua , que é símbolo .

O ideograma de Sin é o representado pelo número 30 (10+ 10+10 ) , situando-
o imediatamente após Enki .

O número 30 tem a vantagem de representar um mês completo , que desde
sempre , fez considerar o Deus Lua como « senhor do tempo » .

Nos períodos de Lua – Cheia passa a ser o « Senhor do Diadema » . O seu
epíteto natural , entre os semitas acádios , são «Lumiar » , sendo invocado
como «Lumiar dos céus e da terra ».

Projectando a sua claridade na escuridão das noites , Sin impede que os
maus actuem , porque eles precisam da sombra para praticarem os seus crimes
. Por isso , os espíritos malignos estão em luta contra ele .

O fenómeno mais temido é o eclipse da lua , a que um texto mágico atribui
aos maus espíritos.

Conseguindo uma vez que os filhos de Sin – Samash e Isthar façam causa
comum com eles.

Dá-se então um grave tumulto celeste , mas a ordem é restabelecida ,
graças à intervenção de Marduk . Com Sin para lhe expor as suas decisões e
ouvir o seu conselho .

A sua esposa é a deusa Ningla ; além de Shamash e Isthar tem ainda outro
filho – Nuskusu , o deus do fogo – e duas filhas .


Agora que descortinamos os símbolos na arte assíria durante este período.
Cabe a cada um de nós a nossa sentença final . Vamos ouvir o juízo final
do
«tribunal da história ».

Conclusões


Os Assírios eram essencialmente constituídos por uma tribo semítica de
guerreiros audazes e impiedosos centrada na cidade de Assur , na margem
ocidental do rio Tigre .

Esta situação de preponderância sobre a Mesopotâmia levou-os a combater
contra tribos vizinhas por causa das rotas comerciais face aos escassos
recursos numa época em que todos disputavam os restos do império Babilónico
,outrora poderoso e na altura em declínio .

Os reis assírios eram educados na dureza , combatendo contra leões para
provar a sua masculinidade , recebiam ainda uma formação que visava
transformá-los tanto em guerreiros como em administradores capazes.
Consideravam os Pequenos Estados em redor do seu território com os seus
terrenos de caça privados e enriqueciam à custa das pilhagens efectuadas
.

Os chefes locais tremiam à aproximação dos exércitos poderosos , que se
abatiam sobre eles como tufões , e apressavam-se a pagar os seus tributos
e a jurar lealdade permanente ao rei .

Seriam, porém , os Assírios meros bárbaros sequiosos de sangue , ansiosos
apenas por pilhar e matar em nome de Assur , seu Deus ?

A sua reputação de crueldade para com os povos que dominavam não têm
paralelo na História , uma reputação baseada nos textos bíblicos do Antigo
Testamento – Os profetas hebreus consideravam os temíveis assírios como
castigo de Deus – nos seus próprios relatos e inscrições de guerra . Nos
Estados que conquistaram , os reis assírios erigiam estelas de vitória ,
monumentos esculpidos com relevos e inscrições celebrando as suas
vitórias .

Mesmo descontando um certo exagero propagandístico , estes relatos
permitem-nos imaginar o que foram as tácticas de terror dos assírios .
Mas quem era povo que fundou um império sobre o terror – e seria a sua
fama justificada ?

Uma análise deste império revela as suas notáveis capacidades em muitos
campos . Um eficiente sistema de tributação monetária e humana mantinha
o império rico e em segurança .


A administração estava nas mãos de governadores locais extremamente
competentes , escolhidos a dedo pelo rei . Os assírios erigiram magníficas
cidades –Kalah , que nos fornecem numerosos exemplos da arte assíria .

Assur-nar-sir-pal II (883.859 ac ) , o verdadeiro fundador do império
fundador do império neo –assírio , preocupou-se em criar uma imagem de
poder que fosse intimidatória . Os seus palácios eram guardados por
estátuas colossais de touros alados . As pinturas das paredes glorificavam
as vitórias do rei Sargão , exibindo os corpos mutilados dos seus
inimigos ,relacionando o rei com símbolos sagrados , por forma a criar uma
imagem de divindade real .
Frisos pictóricos em obeliscos apresentavam narrativas de guerras bem
sucedidas . Nos baixos relevos , o rei luta heroicamente com leões ,
comando cercos , vence batalhas ou aceita o tributo dos vencidos .

A organização assíria de propaganda também utilizava os presságios e as
profecias para reforçar as decisões reais .

De uma forma geral, a monarquia assíria demonstrava uma hábil capacidade
de utilizar a intimidação histórica , a organização de eventos e a criação
de lendas poéticas para impor uma imagem excepcionalmente agressiva à
sua população e aos seus vizinhos.

Uma das mais antigas e mais importantes artes visuais foi o talento para
desenhar , produzir obras ou fazer símbolos corporativos reconhecíveis .

A escultura é uma das formas de arte de propaganda que se presta à
idealização de chefes dinásticos . Há três grandes categorias de escultura
descritiva , a primeira das quais é a criação de figuras humanas .

O segundo tipo da escultura de propaganda é símbolo : o leão.
Em terceiro lugar , temos a escultura descritiva , a narração de histórias
de propaganda esculpidas em relevo .

Os Assírios eram peritos em sangrentas cenas de batalha esculpidas ,
destinadas a mostrar o heroísmo militar dos seus chefes e o terrível
destino dos seus inimigos .

No princípio do século IX ac , Assur-nar-sir-pal II, na primeira fase de
expansão , tomou a pequena província de Kalhu , como a nova capital da
cidade. A arte assíria emprega as tradicionais convenções :

- O tratamento da face humana ;
- Distinção do porte individual do colectivo;

Como convenções estilísticas, obtêm o desenvolvimento da arte [210].


Através das descrições bíblicas e noutros testemunhos da época , as cidades
da mesopotâmicas, sobretudo as do império assírio , foram populosas e
ricas , embelezadas por imponentes edifícios de exótica decoração .

A par dos santuários , o complexo arquitectónico constituído pelo palácio
do rei e as suas dependências foi, em cada cidade motivo de orgulho e
símbolo de poder . Situados numa área estratégica em relação ao
conjunto da zona urbana , os palácios eram rodeados de muralhas ,
constituindo assim, uma fortaleza , dentro da fortaleza, isto é, uma
cidadela .

À semelhante dos templos , os palácios erguiam-se , sobre altas
plataformas de argila e pedra que chegavam a ter 18m .

Para garantir a estabilidade do edifício que suportavam , essas plataformas
possuíam , inteiramente , condutas abobadadas de pedra destinadas ao
escoamento das águas e humidades infiltradas.


Por cima da plataforma protectora erguia-se o palácio , de um só piso e
todo em tijolo. A cobertura plana e em terraço que ostentava , escondia ,
sob uma fina camada de tijolos , os tectos abobadadas ou cupuladas das
salas internas .

Abertura exterior não havia e a iluminação fazia-se pelo pátio interior ,ou
por pequenas janelas abertas na base das abóbadas e das cúpulas .

Os relevos foram muito abundantes , constituem muitos dos aspectos mais
distintivos da arte mesopotâmica . A sua individualidade ficou marcada :

Na temática , descritiva e narrativa , que reflectia o universo social ,
político e religioso das nações mesopotâmicas ;

Nas técnicas (alto e baixo relevo )formas de representação onde predomina
a estilização , a geometrização e o hieratismo ;

Utilizados sobretudo com função de decoração a arquitectura dos templos
e dos palácios , os relevos escultóricos exerceram simultaneamente
importantes , funções comemorativas , de carácter político , religioso e
até privado.

Estas funções evidenciaram-se também nos temas representados : rituais
religiosos , episódios da vida dos deuses , cenas de caça e guerra ,
figuras individuais de animais emblemáticas e de génios , estes dois
últimos com acentuado significado religioso e mágico .

As cenas descritivas ou narrativas dispunham-se normalmente em faixas ou
bandas sobrepostas onde, sem perspectiva e em cenários esquemáticos ,os
episódios se sucediam em cortejo .

Dignos de menção foram ao longo deste trabalho , os famosos touros alados
ou leões alados , que flanqueavam as grandes portas dos palácios assiro-
babilónicos . Eram , monumentais figuras híbridas (com o corpo e patas de
touro e leão, cabeça de homem e asas de águia ) esculpidas em alto relevo
, de frente e de perfil , nas esquinas das ombreiras das portas .


Pormenor interessante , numa das ponteiras destas criaturas fantásticas
encontram-se sempre esculpidas duas vezes : uma para ser vista , de frente
, com o animal parado ; outra esculpida lateralmente para dar a sensação de
movimento. Assim, estas representações acabavam por possuir cinco patas .


Para além deste aspecto puramente inovador , a sua capacidade técnica
manifestou , igualmente , um poder expressivo dignos de menção .

A temática dos relevos assírios dominaram os palácios em cenas em que a
guerra e a caça atestavam o carácter bélico da nação assíria . Os seus
protagonistas principais são os reis e os deuses , no esplendor da sua
força e do seu poder . No entanto, as representações animalistas alcançaram
um naturalismo e um movimento invulgares .


Os baixos relevos assírios são notáveis pelo seu realismo –especialmente na
representação da dor de uma animal ferido . No seu mundo de lutas e
querelas , edificaram e mantiveram um império que duraria mais de
trezentos anos , até ser derrubado pelo poderio rival dos seus vizinhos
de Leste, os Medos e os Persas . Os Assírios deram estabilidade ao mundo
antigo , através da arte e tecnologia .Foi através da engenho e arte que
os assírios deram provas das suas capacidades na construção de aquedutos
, na invenção de métodos de fundição de metais não tinham paralelo nessa
época .


Ao longo destes milhares de anos todos nós deixamo-nos enganar quanto ao
significado da propaganda do Império Assírio. Acreditamos na crueldade de
um povo que saía todos anos pela mesma altura dispostos a pilhar nações
vizinhas , que se divertia face ao sofrimento dos outros povos .

Como se explica que este povo que detenha uma enorme sensibilidade ao
nível poético ? Não será a mesma capacidade de intimidar estes possuem a
todos aqueles que tencionem destruir o império assírio ?






Glossário



Árvore da vida – No simbolismo dualista do Próximo Oriente tem um paralelo
com a árvore do conhecimento do bem e do mal , cujo o fruto proibido ,
quando provado por Eva no jardim do Éden , fez cair sobre a humanidade a
maldição da mortalidade . O seu simbolismo cósmico parece ter derivado de
cultos mais simples , em que as árvores constituíam corporizações da
fecunda Terra Mãe de folhagem caduca , cujos os ramos desfolhados de
Inverno e floração da Primavera fornecem símbolos aptos para ciclos
sazonais de morte e regeneração.

Assur- Deus principal da Assíria . Deus da guerra e a sua consorte é Istar.


Casamento Sagrado- Ritual religioso envolvendo relações sexuais, reais
ou simuladas , que representam o casamento entre o céu(Rei ) e a Terra
(Sacerdotisa )na fertlização do solo e crescimento das plantas .

Cilindro –Selo – Os selos são marcas distintivas , elaboradas em vários
materiais , contendo gravações com figuras simbólicas , dísticos ou siglas
. Inicialmente cónicos , evoluíram , depois , para formas figurativas
(cabeças de animais ou animais acocorados ) e posteriormente para a forma
cilíndrica .

Estela – As estelas são blocos longitudinais de pedra lavrados em alto e
baixo relevo , com cenas narrativas de carácter histórico . Extremamente
simbólicas , contam os episódios a que se referem de forma sintética e
surrealista , através daquilo a que se convencionou chamar técnica da
cena culminante , isto é, em vez de narrarem os acontecimentos de forma
contínua , sintetizam a narrativa contando apenas uma cena, aquele que
melhor representa o clímax da acção .

Enuna Elish – História do combate do deus Marduk contra Tiamat . Marduk
corta Tiamat em dois , fazendo o céu e a terra dois bocados . Este mito é
recordado todas as Primaveras .

Enlil- Deus do vento na antiga suméria . Persuadiu os outros deuses a
planearem a destruição da humanidade , num grande dilúvio , recompensando
o único sobrevivente com o Dom da imortalidade .

Gilgamesh – Rei lendário de Uruk , precede de Hércules grego e o Hércules
latino . Tendo partido em demanda da planta da Imortalidade , encarna a
força perene em luta com os monstros inimigos dos homens .

Génio alado – De rosto humano, usam uma tiara ritual são esculpidos com
nitidez e impressionante vigor . Da orelha , a descoberto , pende um longo
brinco, pesada jóia , sinal de riqueza . Metade do corpo está coberta de
uma espécie de espesso véu . Os anéis da cabeleira harmonizam –se com os
da barba regularmente disposta , as asas dão um ar sobrenatural .

Isthar- Deusa da Fecundidade é associada ao planeta Vénus , representada
como a deusa das forças que fazem germinar os cereais . Senhora dos
animais , dominando as serpentes ou os leões .

Kudurru- São estelas utilizáveis destinadas a servirem de marcos às
possessões territoriais . Contêm relevos com os símbolos dos deuses e a
esfinge do monarca reinante , e inscrições cuneiformes que descrevem o
seu possuidor.


Marduk – Considerado o principal Deus , cujo culto perdurou no período neo-
assírio , cujos os dominadores impuseram o Deus nacional Assur , adorado
em Nínive .


Obelisco- Os obeliscos mesopotâmicos contêm uma função narrativa
concretizada de forma diferente : as cenas são dispostas em faixas
sobrepostas e separadas por inscrições cuneiformes que reforçam o sentido
das imagens esculpidas .


Touro alado – Figura colossal vela , como muitas outras , a entrada do
palácio . A sua função é ade vedar o acesso da residência real , às
potências maléficas : homens, animais , inimigos, espíritos temíveis . A
barba e o cabelo , constituídos por anéis regularmente espaçados ,
contribuem para o efeito decorativo , sem prejudicarem a impressionante
imponência . O escultor dotou este animal fantástico de 5 patas, com a
finalidade de se vislumbrarem quatro patas, quer sejam elas vistas de
perfil , quer sejam vistas a 3 /4.


Relevo- Os frisos escultóricos , as figuras e os grupos adquirem lugar
destacado pois são trabalhados quer através da sua verosimilhança , quer
através de forma pormenorizada . Conferindo-lhes uma maior vivacidade e
naturalismo .

Particularmente significativos são também os relevos parietais interiores
que, a par de uma extraordinária capacidade técnica , manifestam
igualmente um poder expressivo e uma criatividade dignas de menção . Os
seus temas dominantes são a guerra e a caça ,mostrando o carácter bélico
da nação assíria. Os seus protagonistas principais são os reis , os deuses
, no esplendor da sua força e do seu poder .

Shamash – Deus do Sol babilónico e senhor da Justiça , que compensa a
honestidade e a lealdade , castigando os maus . É representado a entregar
um anel e um ceptro a Hamurabi.

Vigário – O rei assírio apresenta-se como vigário do Deus Assur –issiak –
Assur – materializando-se , pela via da representação , um poder que
assenta no primado da realeza divina . Eleito pela divindade , o rei
carrega o fardo da governação sempre como uma autoridade e soberania
concedidas do «alto».










Bibliografia



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[1] Janúz Jensynsky« Die reliefs von Assurnarsirapli II : Die Samulgen
Asserhald des Irak » , Deusches Archaologistes Institut , in
Archaologister Anzeiger (1976 ) , Berlin , pp423-480
[2] Cf Julien Read « Art and Propaganda » ; «Twelve ashurnarsirpal Reliefs
»
[3] Cf Luc Bacheloc «La function politique de reliefs neo-assyriens » in
Marchants , Diplamts et empereurs –Études sur la civilization
Mesopotamieneoffertes à Paul Garrelli – Textes Reúnis par D.Charpin et
F.Joannès , Paris , Ed. Recherche sur les Civilizations , 1991,pp109-128
[4] CF Pierre Villard « Le texte et le image »
[5] Cf Daniele Morandi , « Stele e Statue reali assire : Loccalizaccione
, Diffusione e implicazioni , Ideologique » in Mesopotamia , XXIII(1988) ,
Universtà di
[6] Vd Andre Conradie , The inscriptions of Asgurnarsirpal II : A reprisal
of available , ed. Stebleenbosh , Souh Africa University , 1700pp
[7] Veja-se o nosso capítulo referente ao génio alado da Gulbenkian .
[8] Maria de Lurdes Horta da Palma, Poder e Imagem: A idealização do rei
na historiografia assíria (Dissertação de Mestrado em História e Cultura
Pré – Clássica ) , 1997, (Texto Policopiado )

[9] Maria Lina Ferreira da Paz , A sombra dos heróis (Dissertação de
Mestrado em História e Cultura Pré –Clássica ), 1995 , (Texto Policopiado )


[10] Gerges Contenau, A Vida Quotidiana na Babilónia e na Assíria , Ed.
Livros do Brasil, S/d, pp253-254
[11] Joseph Wiesner , Oriente Antigo,ed. Verbo, 1988,p.132
[12] Joseph Wiesner,ibidem
[13] Sabatino Moscatti, A Arte Mesopotâmica , 1987,Ed.70, 63 pp
[14] Siegfried Gidion , El presente eterno : Los comiezos de la
arquitectura , Alianza Editorial , 2ª ed , 1993, p.33: p.69 ss,
[15] R.D. Barnett« Lions and Bulls in Assyrian Palaces » in Le Palais et
la Royaté (Archeologie et Civilization )XIX e Rencontre Assiriologique
Internationale , Paris , P.Genthener , 1974,pp444- 446


[16] António Augusto Tavares, Impérios e Propaganda na Antiguidade ,
Ed.Presença, 1985, pp.28-31
[17] Daniel Morandi«Stele e Satue reali assire : localizzazione ,
diffusione etimplicazione ideologique »in Storia delle concezioni politique
nel vicino Oriente antico , Prof. F.R.Fales (dir.), Padova, pp105-155
[18] Luc Bacheloc ,« La function politique des reliefs néo-assyriens » in
Marchands , Diplomats et Empereurs – Études sur la Civlization
Mesopotamienne –offertes à Paul Garrelli- Textes reùnis par D.Charpin et
F.Joannès , Paris , Ed.Recherhe sur les Civilizations , 1991, pp109-128
19. The Great King of Assyria , Nova Iorque, 1915 ,pp9-13

[19] Maurice Vyera , Les Assyriens , Le temps Qui Court, Ed. Seuil, p.64
[20] E . Cassin , Le semblant et l´different , Paris, pp167-213
[21] I.Winter «The Program of the Trone room of Assurnarsirpal II at
Nimrum » in P.O Harper and Pittman (eds ) Essays on Near Eastern Art and
Arqueology in Honor of Charles Kyrle Wilkinson , N.York (1983 ) ,pp15-31
[22] Barbara N.Porter , « Sacred Tree, Date Palms and Royal Personna of
Ashurarsirpal II » , in JES , 52 (1993 ), pp129-139
[23] Conde Golbet D ' Alviella , A Migração dos Símbolos , Ed.Pensamento,
São Paulo , pp 100-110
[24] Cf Grayson "Assyria "in Acotterell(ed), The Encyclopedia of Ancient
Civilizations, Londres, Rainbird Publishing , 1980, pp214-215
[25] Note-se que nesta civilização o Deus Assur é o guardião do filho mais
velho (primogénito ).
[26] Cfra A.Parrot, Assur, Paris , 1961,p.19, grav.23
[27] Arquelogical Records of Assyria and Babilonian ; Grayson , AK
,Assyrian Royal Inscriptions ,1972-1976; D.D.Luckenbilt, Chicago,1926


[28] ARAB ,vol.I, &444-445; ARI,vol.II, &549; Cf Paul Garelli , «Les
sujects du roi d´Assyrie »in Le voix de l´óposition en Mesopotamie
,Bruxelas ,1973,p.189

[29] Vd A K Grayson ;Bibloteca Orientalis , Lieden , 33(1976),140;
Segundo este autor e já Brikman – A Political History of Post- Kassite
Babylonia , Roma , 1988,pp.390.394, houve duas campanhas na Síria; uma em
direcção a Pattina , e outra em direcção rumo ao Líbano . Texto observável
em J. B. Pritchard , Ancient Nearn Estern Texts , Princenton ,N.J,
1969,pp275-276
[30] ARAB, I, &479, 518, ARII & 586, ANET, p.276
[31] Tushan corresponde a Kursh , a 30 kms de Diarbak, onde se descobriu
um obelisco de Assur-nar-sir –pal II( ARI, II& 629. 643). Kar-Assur-nar-sir-
pal e Nebart- Assur ficavam frente , erguidas nas duas margens do
Eufrates ; talvez se possam identificar respectivamente com as modernas do
Eufrates ; talvez se possam identificar respectivamente com as modernas
povoações de Zalabyah e Halabya , entre Raqqa e Deir ez – Zôr.
[32] Cf Paul Petit , História Antiga , 6ªed, Bertrand, Brasil, 1989, pp64-
69; O autor descreve não só o desenvolvimento da técnica militar durante
este mesmo período , como nos descreve a constituição física do povo
assírio , como a indumentária usada pelos jovens , quer nas suas lides
diárias , quer através das tácticas usadas pelos militares assírios . Nas
páginas seguintes descreve-nos não só os processos utilizados pelos
assírios face às potências vencidas , segundo as quais se tratavam de
suplícios , mutilações , incêndios e pilhagens .

[33] Para uma circunstanciada análise da famosa "crueldade "assíria , Cf
ATOlmstead « The calculeted frigth fulness of Ashur-nar-sir –pal »JAOS ,
38 (1918 ) ,209-263; Idem , History of Assyria , 1923, pp645-655; H. W.
Saggs, «Assyrians prisioners of War and rigth to live », AFO, Beiheft 19,
(1982 ), 85-93
[34] Cf Julien Read , «Ideology and Propaganda in Assyrian Art », Power and
Propaganda ,M. T. Largen (ed)Copenhaga , Akadense Forbag , pp323-343
[35] Os anais deste soberano revelam-nos entre outras coisas, a sua
megalomania e crueldade nas guerras . O primeiro aspecto é manifestado no
início dos seus anais , cujas as primeiras quarenta linhas são dedicadas à
titulatura do monarca. Alguns autores apressaram-se a comparar os assírios
aos nazis , basta não só observar o texto seguinte ,como as próximas notas
que bem o evidenciam .


[36] Os anais deste soberano revelam-nos entre outras coisas , a sua
megalomania e crueldade nas guerras . O primeiro aspecto é manifestado no
início dos seus anais , cujas primeiras quarenta linhas são dedicadas à
titulatura do monarca. Vd ARA , pp.138.199; Cfra Maria de Lurdes Horta da
Palma , Poder e Imagem: A idealização do rei na historiografia assíria ,
(Dissertação de Mestrado em História e Cultura Pré-Clássica em 1997:texto
policopiado ),pp74-220; A violência da guerra é testemunhada através da
destruição do incêndio como forma de instauração da ordem . Essa ordem
tem a haver com uma espécie de repetição do início do universo . Na
mentalidade assíria, o rei encarna a representação do deus , (vigário ) ou
em acádico (shippar ).Eleito pela divindade , o monarca carrega o "fardo
"da governação sempre com uma autoridade e soberania concedidas do "alto ".
A violência , a agressividade ; piedade são formas diferentes do prestígio
do rei , quer através das suas conquistas das cidades das regiões
circundantes . O fogo a que tudo consome , se eleva através da acção de
uma nova construção . Daqui a concepção do dilúvio e do cosmos primordial.
É neste aspecto que as acções bélicas são ordenadas pela divindade .
[37] ARAB, I&43, 445, 472; ARI ,II, &547, 549, 579
[38] Cf H.W:Saggs, «Assirian Warface in the sargonid period »IRAQ, 25,
(1963),145-154
[39] CF G. Roux , La Mesopotamie :Essai d´histoire politique , economique
et culturelle , Paris , p.257;idem , op.cit, pp293-304; Vd António Augusto
Tavares , História das Civilizações Pré .- Clássicas , ed. Un. Ab. ,
p.284
[40] Gilbert La Forge , A alta antiguidade : Das origens a 550 ac, Lisboa ,
1ªed, P.D.Q, 1979,pp289.294 A partir do reinado de Assur-nar-sir-pal II,
todas as campanhas serão diferentes . Os assírios estão de novo a caminho .
Há razão para temê-los : São círculos , pirâmides de cabeças ,populações
queimadas , dirigentes assassinados . Tal crueldade provém de cima , do
alto do Deus Assur, pondo na boca do rei as suas ordens . O êxito, o tremor
, são dirigidos àqueles que se opõem à sua passagem . Começam por olhar os
estados vizinhos com uma certa «gula ». Chegar ao Líbano , à Fenícia, a
cidades como Sídon, Tiro, Biblos , apressam-se aprestar-lhe culto . Esta
experiência revela-se proveitosa através da sua megalomania . A invasão
assíria irá tornar-se proveitosa. O orgulho do rei impõe uma certa
actuação em Kalah, local onde irá mandar construir a nova cidade (qualidade
atribuída ao rei assírio ).
Uma nova série de guerras , de conquista (expansão territorial ),
económicas , indispensáveis , portanto ao desenvolvimento da assíria
,mantendo deste modo as rotas abertas , muitas delas «estranguladas » pelos
arameus . Aquele povo semita , que juntamente com os caldeus , se
espalharam pela Mesopotâmia (A partir dos meados do séc. XIV ac).
Todos as chacinas , todas as submissões de povos em massa , considerados
aos olhos dos Assírios como ímpios , inimigos . Mas todos estes motivos
estão muito além dos motivos políticos , económicos ou até mesmo
religiosos, mas caracterizam-se pelo luxo e glória do rei que projecta a
sua imagem no âmbito do aspecto político ao proteger a sua terra desses
mesmos povos considerados por eles mesmos (inimigos ).
[41] Cfra Georges Roux, op.cit, pp293.304; O estado assírio evoca a vontade
de um grande rei , rei, esse poderoso ,rei da totalidade do país de Assur .
Homem que possui vários títulos que comportam a totalidade do império.



[42] Cf Eduardo Ripoll Perelló, Prehistoria e historia del proximo
oriente,Ed. Nueva Coleción Labor, Barcelona , 1972, pp232-233
[43] Cf V.Ajakobson , The social structure of Neo- Assyrian Empire ,in
Ancient Mesopotamian , URSS, Academy of Sciences , Institute of People of
Asia, 1987,pp 277-295
Os Assírios dominaram o Próximo Oriente durante 600 anos . O centro do seu
mundo situava-se no norte do rio Tigre , entre as cidades de Nínive e
Assur. A expansão assíria começou depois do colapso dos Hititas , em 1200
ac . O império atingiu o seu primeiro na Segunda metade do saéculo X.
Registou-se um declínio no século VII, antes da Segunda fase do seu
império (748-625 ac). Tig-lat-pilesar III(748-727 ac ), um dos maiores
monarcas assírios , fez do seu exército uma força a tempo inteiro de homens
bem treinados , o que lhe permitiu conquistar mais território .
O Império Assírio , aumentando a partir deste reinado , veio a incluir a
maior parte da Síria , Palestina , Fenícia e o Norte do Egipto. A Babilónia
caiu sob domínio assírio em 729 ac ; Chipre e Cilícia também foram tomadas
. Nínive passou a ser a capital da Assíria , em substituição de Assur. Em
664 ac, conquistaram o Elão. O impacto da Assíria durante aqueles séculos
foi profundo . Os Assírios eram excelentes construtores , cobrando pesados
impostos (que empobreciam as províncias ) os quais financiavam os seus
planos de construções. Recorriam às deportações em massa, no intuito de
dominarem toda e qualquer rebelião. Acima de tudo , a Assíria era uma
potência militar. Desenvolveu as forças militares mais bem treinadas e ao
mesmo disciplinadas jamais vistas na antiguidade . Todos os homens estavam
sujeitos ao serviço militar. O exército incluía cavalaria , e o equipamento
que utilizava nos cercos a fortificações , altamente aperfeiçoado.
[44] Cf José Nunes carreira (coord. cient.ed.port.) Atlas Bíblico , ed.
Zairol, pp108-109
As campanhas militares realizam-se deforma sistemática anualmente e o
exército ocupa o primeiro lugar nas atenções do soberano . É necessário
defender as rotas comerciais , consolidar o império e alargá-lo , quanto
possível , consolidar as zonas de importância económica e estratégica.

( 47)Cf Jean Deshayes, Les civilizations de l´ orient ancient , ed.
Artaud , 1970, p.118

(48) Cf Simond Wrigt, História Universal , vol.1, Public.Ed, p.38

(49 )Cf Eduardo Ripoll Perelló, op.cit, pp332, 333
(50) idem
(51)(Cf José Nunes Carreira , op.cit, p.109
[45] Vd Aparrot, Assur Paris , 1961, p.54, grav.54; W. Budge , Assyrian
Sculptures in the British Museum , Londres, 1914, Grav.11-62; S.M.Paley,
King of the World . Ashur-nar-sir-pal II of Assyria , N.Iorque , 1976,pp20-
28
[46] Cf S.Lackenbaker, Le roi bâtisseur . Les récits de construction
assyrienne des origines à Teglaphalazar III, Paris , 1982 ,p.11
[47] Vd Maria de Lurdes Horta da Palma ,op.cit, p.91; O rei é também
construtor de templos , palácios e cidades .A construção de templos é o
maior serviço que os reis prestam aos deuses.
[48] Cf Pierre Amiet, As civilizações antigas do Próximo Oriente , P.E.A,
s/d,p.68; É importante sublinhar que esta mudança representa bem a
mentalidade do monarca assírio . A mudança de uma capital como Nínive para
Kalah , representa o regresso do início da origem do universo.

[49] Cf Georges Roux, op.cit, pp293.304
[50] Cf António Augusto Tavares , Impérios e Propaganda, 1ªed, 1988,ed.
Presença, p.28
[51] Cf ARAB, I &489, ARI, II,&653;
[52] A.H.Layard , Nineveh and its Remains , Londres, 1849; Idem , Nineveh
and Babylon , Londres, 1882;
[53] Escavações britânicas de 1949a 1963. Relatórios preliminares são
observáveis na prestigiada revista Iraq,12, (1963). A este respeito
M.E.Malloman publicou uma obra que ainda hoje é uma referência :Nimrud its
Remains ; Londres , 2vols , 1966.
J Read , Fifty Years of Mesopotamian Discovery , Londres, 1982,pp99-112
Consulte-se igualmente J.E:Postegate, J.E:Reade , o artigo «Kalhu»in
Reallexicon der Assyriologique , Vol.V, Berlim , (1972 ), 303-23
Escavações polacas de 1974 a 1976 publicadas em Iraq ,37, (1975)e 38
(1976). Escavações iraquianas com obras de restauro desde1970, resumidas em
Sumer 26(1970) e Iraq (1972).
[54] Este sistema de «climatização é ainda hoje em alguns povoados do norte
do Iraque sobre o nome de bargilâ ; Vd M.E.Mallowan , Nimurud and its
Remains , vol.I, p.106
[55] Este palácio foi restaurado, a fim de atrair turistas ; o visitante
ao percorrer este labirinto de aposentos e estreitos corredores , desenboca
de súbito num local onde se afirma um magnífico «monstro » de pedra ; fica-
se com uma ideia ainda que pálida , da emoção , admiração e temor que
terão sentido os embaixadores estrangeiros e alguns assírios ,chamados a
comparecer perante o«forte rei, grande rei , rei do Universo, o rei do
país de Assur. »
[56] Cf D. J.Wiseman , « A new stella of Assur-nar-sir-pal II », Iraq
,24,(1952)24-39; ANET,pp558-560
[57] Cf Pierre Amiet, As Civilizações do Próximo Oriente, col.Saber, P.E.A,

[58] Cf Arnoul Hauser , História Social da arte e da Cultura ,Vol.I,
ed.Veja , pp97-99; Em parte alguma , o princípio anti-naturalista da
frontalidade se apresenta mais patente do que nos génios alados da
escultura arquitectónica assíria . Dificilmente se encontrará em qualquer
sector doutra cultura , a estilização total , como a renúncia a qualquer
espécie de ilu sionismo , tenha sido levada a efeito a ausência de
compromisso , como nestas figuras de 5 pernas , apresentam 4 pernas ,
vistas de lado(em movimento ), e vistas de frentes, 2 são dispostas em
repouso , as quais constituem uma mistura de dois animais : o touro e o
leão .

[59] Vd E.Cassin , Le Semblant et le différent- Symbolismes du Povoir dans
la proche orient,Paris , 1987,pp167-213
[60] Cf Pierre Amiet, op.cit, e ainda George Contenu, , La Civilization
d´Assur et Babilonie ,Payot, Paris, 1950, p.276
[61] - Bíblia sagrada (E2 , 1 ; 5-12 )
[62] Cf H.W Janson , História de Arte , F.C.G, 1992 , p.80
[63] Sobre este rei vejam-se as traduções de Emanuel Bouzon , Gilgamesh, ,
ed. Vozes, 1979,; Pedro Tamen (trad. Port.a partir da inglesa de N.Ksanders
, Gilgamesh , ed. Difel, 1ªed.1991, Jean Bottéro , L´Epopée de Gilgames. Le
homme Qui ne voulait pas mourrir , Gallimard , Paris , 1992, ou ainda os
recentes artigos publicados na revista Cadmo , nº4/5(1994.1995), 7-27;
Cadmo nº6/7(1996/1997),31-61; Frederico Lara Peinhado ,« La Conquista del
Pasado – Gilgamesh y Aga de Kish »in Hist16 , 101-4
[64] Verificamos aqui uma certa semelhança com o episódio de Gilgamesh
onde o protagonista na sua demanda pela imortalidade , mas este distrai-se
banhando-se nas águas do rio , e o pão transforma-se em pedra , perdendo
assim a sua última oportunidade de «agarrar » a imortalidade .
[65] Cf RD Barnett«Lions and Bulls in Assyrian Palaces »in Le Palais et
la Royaté (Archeologie et Civilization ) XIX e Recontre Assyriologique
Internationale , Paris , P.Genthener, 1974pp444-446
[66] Cf Irene J.Winter, «Royal Rectoric and Development of Historical
Narrative in Neo-Assyrian Reliefs » in Studies in Visual Comunication ,
Vol.7, nº2, Spring, (1981), Philadelphia , The Annenberg School of
Comunications ,2-38
[67] Vd fig.3,p.24 deste trabalho e cap.2.4,pp39-48 deste trabalho
[68] Veja-se por exemplo «o obelisco quebrado » de Assur-bel-Kallah(1074-
1057 ac )
[69] Cf E.Unger, Der Obelisk des Konigs Assurnarsirpal Iaus Ninive ,
Leipzig, 1923, Landsberger (à mal " Ankara , (1948 )24) data o obelisco do
século IX , enquanto que Unger considera-o pertencente ao século XI ac .
Em face dos argumentos apresentados , perfilhamos o parecer de Landsberger
.
[70] F.Matz , Frukretishe Siegel , Berlim,1928,pp89-94
[71] Cf Maurice Vyeira , Les Assyriens ,Le Temps Qui court,
Ed;Seuil.,187pps; A utilização de uma inscrição estandardizada , tal como
as placas esculpidas as quais designam a genealogia do rei . Resumem as
suas campanhas de Kalah , onde vislumbramos a importância do Deus Assur.
Estas inscrições caracterizam a legitimidade da realeza assíria e a
estabilidade do Estado. Vd neste trabalho o nosso capítulo sobre a
ideologia na arte ("A arte enquanto propaganda" e "A concepção do rei na
arte")
[72] Cf Edith Porada , The great King of Assyria ,p.9
(79)É certo que entre as pinturas murais dos palácios anteriores , há
talvez alguma cena de batalha : alguns fragmento de Mari , representam
soldados feridos , permitindo deste modo , que tal acontecimento supõe .
Mas não existe razão para pensar que estas tenham sido mais do que cenas
isoladas , como aquelas que encontramos na estela de Naram-Sim .

[73] Cf Sabatino Moscatti , A arte Mesopotâmica ,p.32
[74] Arnold Hauser , op.cit, pp97-99
[75] Cf Sabatino Moscatti, op.cit, p.32-45; George Contenu, A Vida
Quotidiana na Babilónia e na Assíria , pp253-254 ;Este autor é unânime a
Sabatino Moscatti
[76]cf Mircea Eliade, «Religiões da Mesopotamia »in Dic. Relig.,Ed Circ.
,p.201; Os grandes complexos dos templos têm ao seu serviço toda uma
burocracia de sacerdotes , escribas , astrólogos e artesãos profissionais
. Sacerdotes especializados ocupam-se dos cuidados diários às imagens
divinas , alimentando-as , lavando-as , vestindo-as e divertindo-as . O
praticante comum pode fazer oferendas de alimento ou estatuetas votivas
diante do altar do deus e podia participar nas festividades e
representações do mito que acompanham as festas divinas .
[77] Cf GeorgesContenu, op.cit, p.253,254; As diferentes partes do corpo
são representadas de forma minuciosa , onde se vislumbram através da
máxima evidência possível : o rosto de perfil , olhos e ombros são
representados de frente , quando os pés e abacia são representados de
perfil.
[78] Cf Sabatino Moscatti, op.cit,p32-45
[79] Cf Pierre Villard « Les strutures du récit et les relations entre le
texte et image dans le bas reliefs neo-assyriens »Word &Image , A Journal
of Verbal /Visual Enquarity 4 (1979), 422-429
[80] Cf Colombier, Histoire de l´art , Arthème Fayard , Paris, s/d ,pp53-54
[81] Vd fig18 ,p.54 deste trabalho (cap.2.6)
[82] Cf Colomber, op.cit,p.53.54
[83] Cf Daniela Morandi « Stele e statue reali assire : difusione e
implicazioni politiche nel vicino oriente », in Mesopotamia 23(1988),
Università de Torino ,pp 105-55
[84] Cf Daniela Morandi, op.cit,105-55; As inscrições reais nas estelas
contêm informações para comemorar batalhas bem sucedidas ou homenagear um
deus ou um soberano.
[85]Cf Idem
[86] Ibidem
[87] CF Daniela Morandi, op.cit ,pp.105-55
[88] Enuma Elish («Quando lá no Alto »), o poema babilónico da criação ,
é associado às festas do ano novo (Akitu)celebradas todas as Primaveras
na cidade da Babilónia . A história exalta Marduk como o maior dos deuses
;
A primeira das sete tabuinhas do poema revelam as condições nos
primórdios do Universo , quando a água doce (Apsu , macho) e a água salgada
(Tiamat, fêmea )existiam . As novas gerações de deuses incomodavam os
antigos com o seu barulho . Apsu desafia-os numa batalha , mas é morto
por Ea, que tem um filho Marduk. Tiamat deseja vingar Apsu entre os deuses
jovens só Marduk ousa desafiar o monstro feminino. Ele obtém a realeza
dos deuses e leva com ele os seus ventos e raios para o combate . Os
ventos precipitam-se na boca aberta de Tiamat e uma flecha mata-a. Os
seus aliados são cercados e capturados , e entre os troféus da vitória
estão as mesas do destino roubadas por Kingu, o marido de Tiamat. Marduk
cortou em duas metades assimétricas o corpo de Tiamat e criou assim o
mundo . Do sangue de Kingu , ele fez os homens para servir os deuses .
Em recompensa , recebeu a soberania divina e consagrou-lhe um grande
templo na Babilónia .
[89] A fórmula deste tipo de arte caracteriza-se não só pelas
representações . A construção de palavras simples acessíveis às populações.
Outras teses (Pierre Amiet)afirmam-nos que estas representações eram uma
espécie de avisos aos soldados e aos embaixadores .

[90] Estes seres intermediários entre a divindade e o rei determinam a
protecção da realeza assíria, garantindo não só a protecção real assíria
como a protecção do império que se pretende assegurar face às turbulências
hegemónicas de então.
[91] Cf John Stearns , Reliefs from the Palace of Ahurnarsirpal II,
Oriental Institut , 1965, p183
Actualmente os baixos relevos de Assur-nar-sir-pal II encontram-se
dispersos entre Paris (Louvre), Londres (British Museum ), Estados Unidos
(Brokelin Museum ), Lisboa (Fundação Calouste Gulbenkian ), entre outros
museus da Europa e nos Estados Unidos da América.
[92] Vd cap.1
[93] Nos baixos relevos assírios encontram-se orações de agradecimento ao
Deus Assur pela sua intervenção nas batalhas , outras vezes descrevem-nos
toda a genealogia familiar durante cerca de quarenta linhas .
[94] CF Andre Conradie , The inscrptions of Ahurnarsirpal II: A reapprisal
of the available , ed. Steblenbosh University , 1989, 2vols ,1200pp
Numa primeira secção (700 pp)Contêm as inscrições estandardizadas os textos
das inscrições , a transliteração do formulário os quais estavam
agrupadas no palácio original , no contexto das salas , as quais estão
gravadas nos baixos relevos do palácio de Nimrud . As seguintes secções (
Segunda e Terceira secção ) contêm outras inscrições e uma terceira e
última vislumbra a caracterização da grandeza militar das campanhas ,
concluindo-se a existência de um providencialismo metedológico como
perspectiva de estandardização : resumo das conquistas do exército
[95] Cf Julien Reade , Assyrian Sculpture
[96] Cf Catálogo da Exposição Fundação Calouste Gulbenkian, espera-se uma
nova publicação após a sua reabertura ao público em Julho deste ano (2001).
[97] Vd nota 74 ; Nesta época os assírios crêem que são seres inferiores
aos deuses , que foram criados para os servir. Face a esta ideia , o rei
assírio representa o Deus Assur . São através dos lábios do rei que o Deus
falava e lhe influência as decisões.
[98] Vd nota 62
[99] Cf Chateple de la Saussaye, História das Religiões , 1ªed, 1982, Ed.
Inquérito,pp180-200; Assur é o Deus da nação assíria. De divindade local da
cidade com o mesmo nome , acompanha a emergência da expansão do poder e
domínios assírios e, paralelamente ascende a Deus suprema religião
assíria.
[100] Vd nota 89
[101] Cfra Barbara N.Porter «Sacred Trees , Date Palms and Royal Persona
of Ashurnarsirpal II » in JNES 52(1993)pp129-139
[102] Cfra Januz Mensagnsky, op.cit
[103] Cfra Andre Conradie ,op.cit pp232-233- Nesta inscrição de
doutouramento oautor compara as inscrições e afirma que a inscrição da
F.C.G tem apenas 22 linhas , menos 18 linhas que as suas congéneres.
[104] Cf Julien Read , Assyrian Sculptures
[105] Cf Jeremy Black , Anthony Green , Demons and Symbolsof Ancient
Mesopotamia
[106] Cf Pierre Villard «L` armée neo-assyrienne »,in Dossiers d´
arqueologie nº160 , mai (1991)42-47; Neste artigo Pierre Villard analisa
a situação do soldado assírio durante este período.
[107] Cf Processo Interno do Relevo neo-assírio da F.C.G ; Vd - Bíblia
Sagrada , Isaías 11
(Versículos 1.9 ),p.962
[108] Palavra que não encontra tradução em português .
[109]vd fig.10,11.
[110] vd fig12
[111] Samuel Paley, King of the World, 1977,The Brokelyn Museum, pp.29,47
[112] Vd cap.2.2,nota 56
[113] Cf Julien Read, op.cit
[114] Luc Bacheloc , op.cit, p.169, Trata-se de um exercício de poder
absoluto , e mesmo a pedra dá-nos a indicação de um novo tipo de situação
política .
[115] Cf Henry Franfort, The art and arquitecture of ancient orient, Yale
University Press, Pelican History of Art, ,4ªed, 1996,p.167
[116] Vd fig.16, 17, 18 ,pp53-54 deste trabalho
[117] Cf H.Frankfurt,op.cit, p.164,grav.189
[118] Cf idem , ibidem ,p.159,grav.184
[119] ibidem ,p.158,grav.182
[120] Cf Pierre Amiet, op.cit,p.255
[121] Cf E.Cassin , Le semblant et le différent- Symbolismes du povoir dans
le proche orient , Paris, 1987, pp180-200
E. Cassin afirma que muitos assírios do 1ºmilénio estavam plenamente
conscientes do significado religioso da caça , havia a crença da ordem
dada do alto através dos deuses . A ordem de caça ao leão era dada por um
funcionário do templo. O rei oferecia o seu desempenho aos deuses, já que
se tratava de um exercício de treino para a guerra, mas ao mesmo
estabelecia a ordem do mundo e do caos , ou seja, as lutas com os leões
continham a representação da luta entre bem e o mal .
[122] Cf E.Cassin , op.cit,p.197
[123] Cf Joseph Wiesner , Oriente antigo, ed. Verbo, 1988, pp128-132; a
noção de terreno de caça advém da prática da guerra(Vd cap.1.1e 1.2)através
da sua política de expansão territorial. Esta noção de terreno de caça
será a sua área geográfica , maior ou menor um tipo de fustigamentos
obrigatório. Recolhendo e despojando todas as nações vizinhas .

[124] Cf Joseph Wiesner, op.cit
[125] CF Pierre Amiet, op. cit
[126] Cf E. Cassin , op.cit, pp167-213
[127] Cf H.W.Janson , História de Arte , F.CG, 1992, pp86-88; É provável
que numa época recuada a caça aos leões tivesse sido uma importante
obrigação dos chefes mesopotâmicos ,«pastores» de rebanhos comunitários .
[128] Vd nossos capítulo de simbologia (3.4) e glossário
[129] Cf Pierre Amiet, op.cit
[130] ibidem
[131] Cf Siegfried Gidion , El presente eterno . Los comiezos de la
arquitectura ,2ªed, 1993, Alianza Editorial , trad. Joaqín Fernandez de
Quiroz ,p.133
[132] Cf Barbara Porter , «Sacred Trees, Date Pams , and Royal Persona of
Ashurnarsirpal II», in JNES nº2 (1993 )pp129-139
[133] Cf Barbara Porter, op.cit, p133
[134] Cf Joné Nunes carreira , Cantigas de amor no Oriente antigo ,
Ed.Cosmos , Lisboa , 1999,pp.14-21
[135] Cf Pierre Amiet, op.cit
[136] Cf Pierre Amiet, op.cit
[137] Cf Paul Garrelli,«La Conception de la Royaté en Assyrie », in
Orientalis Antiquiti Collection , p.17
[138] Cf Maria de Lurdes Horta da Palma , op.cit, Como a autora afirma no
primeiro capítulo ( O rei – herói)« Orei assírio é o vértice da pirâmide
do poder . Todos os poderes convergem dele (...)»
[139] Cf Julien Reade ,«Ideologie and Propaganda in Anssyrian Art »in
Power and Propaganda , M.Tarsen (ed)Copenhaga ,pp329-343
[140] Francisco Caramelo, «Poder e Oposição em Israel e na Mesopotâmia: A
Interpretação Ideológica nos Salmos Bíblicos e nos Hinos Assiro-
Babilónicos » in Estudos Orientais , nº6, Estudos de homenagem ao Prof. Dr.
António Augusto Tavares , UNL(1999),pp114-127
[141] Vd Paul Garrelli, op.cit; A concepção do título dos epítetos reais
, face à adopção dos mesmos títulos dá-lhes uma garantia de prestígio
. A exaltação , a grandeza e a legitimidade do monarca nas suas
qualidades guerreiras .

[142] Cf Paul Garrelli, op.cit,; Os epítetos neo-assírios que
caracterizam um rei são os seguintes ;
Primeiro (Rei legítimo –aplu Kisittu ), Segundo (Qualidades guerreiras .
Chefe : aspecto físico -jovem e de alta estatura ) Terceiro (Qualidades
morais : sabedoria , inteligência , reflexão ); Quarto (Actividades civis :
Desvio de canais , Suprimir as curveias; Restrição de privilégios, manter
as provisões ); Quinto(relação com os deuses ; Respeito , objecto de
eleição ; Sexto (Glória , Desenvolvimento económico ).
[143] Cf M. Liverani , «The ideology of the Assyrian Empire », in
Mesopotamica , (7),p.301
[144] Cf António Augusto Tavares , História das Civilizações Pré-Clássicas
,Ed.Un.Ab, 2ªed,1995, pp294-298; Idem , Impérios e Propaganda da Alta
Antiguidade , Ed.Presença , 1ºed,1985,Lisboa,pp22-31
[145] Cf Maria de Lurdes Horta da Palma , op.cit, p.74; Os deuses escolhem
o rei para punir os rebeldes , os insubmissos , fracos e desobedientes .
[146] Cf Dominique Parayre« Les Dieux de la Guerre »in Les Dossiers
d´arqueologie : La guerre de proche orientdans l´antiquité , nº160,
Mai(1991),p.84
[147] Cf Dominique Parayre, op.cit,84-88
[148] idem
[149] ibidem
[150] A versão da criação assíria que consultamos tratm-se da autoria de
Dominique Parayre, Jean Bottéro, são os mais conhecidos . Deste modo , são
assim as características deste tipo de narrativa são constituídas por três
partes : Cosmogonia, Teogonia e Antropogonia . Assim, o mito do dilúvio é
aquele que se refere a Atrasis . Autores como W.Lambert Dalley, René
Labat , Saux (Dacriação ao Dilúvio ). Também consulçtamos para esta matéria
, documentação da época dos escribas do período de Senaqueribe .
[151] A frase que transcrevemos está sujeita a dúvidas teológicas , como
estão maior parte da grande totalidade da documentação para este período .

[152] Vd Texto citado em Dominique Parayre,op.cit, pp 84-88
[153] Idem
[154] Neste aspecto podemos considerar como aspectoestratégico –militar ,
relevando ao período neo-assírio(Séc IX ac )
[155] Denominamos assim este período , referindo-o ao aspecto em que homens
e deuses estão unidos por laços muito estreitos . As divindades seguem ao
lado do seu lugar tenente.
[156] Esta divindade que acabámos de descrever , exibe ainda outros
elementos passíveis da nossa atenção : o Deus Assur estica a corda do seu
arco , em claro sinal de apoio protegido , pairando sobre o monarca .
Supõe-se que a divindade encontra-se nas alturas , por cima das nuvens .
[157] Caracterizamos canónica para abordar cânone .
[158] Cf Dominique Collon , First Impressions : Cylinders Seals inthe
Ancient Near East ,1ºed, 1993, Londres, British Museum Press ,pp75-89
[159] Cf Shaharakh Husain , Divindades Femininas , 1ªed, 2000, Temas e
Debates , pp114-115 ; veja-se ainda na mesma obra os capítulos referntes às
divindades assiro-babilónicas como sumero-acádicas , passando ainda uma
breve alusão pelas deusas semitas .
[160] Cf E.Cassin, op.cit, p.183. Neste caso a deusa é associada à leoa .
[161] Cf Mário Liverani, Antico Oriente , Storia , Società, Economia ,
Ed.Larterza ,pp830-846. O rei assírio produz uma ampliação da zona cósmica
, reduzindo a periferia , tentando eliminá-la de tudo . O rei também surge
como fundador de uma nova cidade, mas é também aquele que manda construir
templos ou palácios , ou restaurar templos ou palácios que existam.

[162] Cf Pierre Villard , «Les strutures du récit et les relations entre
texte et límage dans les bas-reliefs neo-assyriens »in Word & Images
Procedings : A Journal of Verbe Usual , pp422-429

[163] Cf Pierre Villar, op.cit, pp422-429; A primeira função da imagem na
civilização assíria não tem uma característica estética . A imagem
determina a substituição do objecto ,mas que em certas condições a escrita
detém a mesma função. Desta forma , compreendemos que a imagem jamais
poderá ser uma simples ilustração , como texto jamais poderá sobreviver
sema força da imagem . Podemos associar dois modos de conjunção
complementares , aqueles que são chamados à «presença real », e os
outros que os integram como objectos de representação .
A Segunda função da imagem na civilização assíria evita más
interpretações , mesmo que sejam breves através das legendas . Não se
pretende um texto longo .
O texto deve comentar ao mesmo tempo a imagem em questão.
Na sua forma arcaica , a escrita cuneiforme não se distingue da imagem : o
ideograma sumério primitivo é representado por um desenho , acompanhado
por um som na maior parte das vezes.

[164] Cf Daniela Morandi «Stele e statue reali assire...»op.cit, pp105-55;
O rei assírio chega atodas as partes do império através da representação
da estela . Nestes aspectos podemos enquadra dentro do mesmo grupo vários
tipos de estelas (Vitória, anexação , ideológica, não classificada e
comemorativa – a estela comemorativa é proveniente de Assur , inserida no
muro interno e externo da cidade , caracterizando ao mesmo tempo o
império .
[165] Cf Daniela Morandi, op.cit, pp105-55
[166] idem
[167] ibidem
[168] ibidem
[169] ibidem
[170] ibidem
[171] ibidem
[172] Cfra Julien Read « Ideology and Propaganda in Assyrian Art »in Power
and Propaganda , M.T.Laren, M.T. Largen (ed.)Copenhaga , pp329-343
[173] Cf Joseph Wiesner, Oriente Antigo , 1ª ed, 1988, ed.Verbo, p.132
[174] cf José pijóan , Suma Artis :História General del Arte , Vol.II,p.214

[175] Cf E.Cassin , Le Semblant et différnt – Symbolismes du povoir dans
le proche orient , pp167-213
[176] CF E.Cassin , op.cit
[177] «Eu sou um leão infatigável na sua força juvenil, que tem todo o
seu vigor (...)Eu sou o rei , o boi selvagem de uma força extraordinária
, (...)/Eu sou o leão que ruge (...)vigor de um leão, herói(...)»
[178] E.Casin , op.cit, p167-213; Esta é uma actividade que é inerente ao
príncipe dada a sua condição real a qual há de conduzi-lo ao trono . O
jovem príncipe / futuro rei é abençoado pelo Deus principal do panteão
assírio . Este é um espectáculo representado na altura da subida ao trono
pelo jovem rei.
[179] Cf E.Cassin , op.cit,p.160
[180] Cf José Pijóan , op.cit,pp211-228
[181] ibidem
[182] Cf Siegfred Giedeon , El presente eterno : Los comiezos de la
arquitecura, 2ªed, 1993,Alianza Editorial , Madrid,pp69-88. O homem
acredita na superioridade do animal . A força do animal permite um maior
contacto com os seres invisíveis . Desta forma , há a crença na existência
da mediação entre vários animais e o mundo sobrenatural .;

(190) Cf Luc Lacheloc, op.cit,p.109; Vd M.E.Mallowan , Nimrud at Remains ,
vol.1 , Londres, 1966; Para representar a inteligência e a sabedoria não
poderiam achar melhor do que a cabeça humana ; para a força , o corpo de
um leão ; para a ubiquidade , o voo das aves . Aqueles leões alados não
eram criações inspiradas em puras fantasias :tinham significado ! Eram os
guardiões de portais por onde tinham entrado reis, sacerdotes , guerreiros
levando sacrifícios aos seus altares , muito antes da sabedoria do
Oriente penetrar na Grécia e fornecer à mitologia símbolos que os devotos
assírios conheciam à muito.

[183] Cf Conde Golbet d´Alviella , A migração dos Símbolos , S/d,
ed.Pensamento, S.Paulo, p.100-102
[184] Vd o capítulo 2.4 deste trabalho
[185] Cf Jack Tresider , Os símbolos e o seu significado ,trad . Marisa
Costa , ed. Círculo de Leitores , 1ªed, 2000; p.98; A árvore sagrada é o
tema corrente na simbologia mesopotâmica considerada como árvore da vida
, o rei é representado como sendo o símbolo do «sopro da vida ». A árvore
da vida , a árvore cósmica está enraizada nas águas do submundo ,
atravessa a terra para chegar ao céu . Tornada símbolo quase universal, a
árvore da vida tornar-se-á numa metáfora à totalidade da criação .
[186]Cf Golbetd´Aviellla ,op.cvit,p.118Na opinião de Bonavia esta recolha
de troncos que se assemelham a animais são suspensos aos ramos das árvores
protegendo as pessoas em questão dos maus olhados .
[187] idem
[188] ibidem
[189] ibidem
[190] ibidem
[191] ibidem; As opiniões dos autores são antagónicas , enquanto Bonavia
afirma ser um balde de metal , Tylor afirma ser uma cesta de vime .
[192] ibidem
[193] Todas as manhãs os homens escorpiões que habitam essas montanhas e
que as defendem de qualquer investida , abrem uma larga porta por onde
passa o Deus-Sol , que parte dali para a sua corrida diurna , no carro
guiado pelo seu filho e pelo seu cocheiro Bunene . Vem resplandecente ; os
seus raios parecem sair-lhe dos ombros . Depois de atravessar a abóbada
celeste , enchendo tudo de luz ofuscante , atingindo a montanha de Oeste ,
onde se abre outra porta , por onde ele desaparece .
[194] Cf Joseph Wiesner , Próximo Oriente , pp59-61
[195] Cf Jack Tresider, op.cit, p.100
[196] idem
[197] idem
[198] ibidem
[199] Cf Jack Tresider,op.cit,p.32
[200] Jeremy Black , Gods , Demons and Symbols of Ancient Mesopotamia ,
British Museum Press, 1992
[201] ibidem
[202] Cf Julien Reade « Ideology and Propaganda in Assyrian Art »in Art and
Propaganda . M.T.Largen (ed), Copenhaga ,pp329-343
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