A Arte e o Belo em Aristóteles

June 3, 2017 | Autor: Marisa Colaço | Categoria: Art Theory, Aristotle, Philosophy of Art
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A ARTE E O BELO EM ARISTÓTELES

Durante a Antiguidade Clássica, o conceito de Arte estava intimamente ligado à techné. Tudo aquilo que necessitasse de conhecimento técnico para ser efectuado era considerado arte mesmo que, à partida, não tivesse qualquer ligação com a Beleza.

Aristóteles, embora não tendo pensado a Arte tal como a conhecemos e concebemos hoje, considerou-a uma virtude intelectual. Para ele a Arte é sempre mimética e não se desvincula do "saber-fazer" mas, ao contrário de Platão que achava que a imitação era um afastamento da realidade e da verdade, a mimesis Aristotélica caracteriza-se por ser um lugar de semelhança e verosimilhança, resgatando assim o valor da verdade. Resgata também a poesia, para a juntar às outras artes, classificando-as como diferentes formas de mimesis.

Para este pensador a Arte, e os diferentes processos artísticos que a compõem, recria racionalmente o modo de funcionamento da natureza, copiando-a na sua força criadora. Na sua perspectiva a natureza é indispensável à criação artística na medida em que a Arte utiliza diretamente a atividade da natureza fazendo, por exemplo, uma estátua de uma pedra ou um barco de um tronco de madeira. No entanto Aristóteles também considera que a Arte difere da natureza por não possuir em si mesma o impulso criador, dependendo sempre do artista – que tem em si próprio a forma antes de a passar para a matéria - para ser posta em prática.

O artista (que, como Homem, tende naturalmente para a imitação) pode modificar o real se isso for mais conveniente para o que pretende criar. Para Aristóteles a Arte reveste-se também de um carácter orgânico, que faz com que o Belo se constitua de várias partes, cada uma delas bela, que não podem sobreviver sozinhas nem sobressair no todo tendo o Belo de ser, por isso, Uno na sua variedade.

Aristóteles considera que um dos objectivos da Arte é o de proporcionar prazer. Assim, explorando a sua configuração estrutural considera que é o Belo, através das representações artísticas, que comporta tal função cognitiva. No entanto, se a obra for mal realizada, a katharsis - objectivo final da mimesis - não consegue ser atingida pelo receptor. A Arte possui, desta forma, o poder de ajudar o receptor a alcançar a paz interior através do contacto com a obra, sendo que as representações artísticas podem e devem suscitar emoção e comoção em quem as contempla.

No pensamento Aristotélico, os planos físico e metafísico coexistem no plano do real, sendo que a Arte (que é técnica) se encaixa no plano físico e o Belo no plano metafísico. É na obra que ambos se encontram. O Belo tem de ter, no entanto, algumas características para que assim possa ser considerado: ordem, simetria e finitude, sendo que a Aristóteles lhe interessa o Belo concreto e harmónico e não o abstrato. Assim, até a sua divisão das Artes é feita de modo hierárquico refletindo a harmonia do Universo.

Aristóteles considera, em termos de importância, que a poesia é a arte suprema logo seguida da música e da retórica. Distingue, em Ética para Nicómaco, duas espécies de atividades: práxis (que lida com o uso prático do conhecimento) e poiésis (que lida com o uso criativo da mente a um nível abstrato). Nesta última podemos incluir as artes, já que a poiésis se define por ser aquilo que traz à existência coisas com origem no artista mas cujo produto final lhe é exterior tal como um oleiro que produz um vaso ou um escultor que produz uma escultura. Na Poética podemos distinguir uma divisão entre artes miméticas e artes catárticas, sendo que na primeira se incluem a narração, a dramatização, a dança e a música. Estes dois últimos tipos de Arte são consideradas miméticas por imitarem a natureza com o seu ritmo e harmonia, por exemplo.

Como diz Francisco Moraes, "talvez não seja nenhum exagero dizer que Aristóteles foi o filósofo que inaugurou a reflexão propriamente estética acerca da Arte", sendo que aquilo que escreveu foi "decisivo ao longo da história da Estética Ocidental, sobretudo após o Renascimento".





BIBLIOGRAFIA

BESNIER, Bernard – A distinção entre Praxis e Poiésis em Aristóteles. Analytica, Volume 1, nº3, 1996

FARRÉ, Luis – Los Valores Estéticos en la Filosofia Aristotelica. Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia, Mendonza, Argentina, marzo-abril 1949, Tomo 3

FURLEY, David (ed.) – From Aristotle to Augustine. Routledge History of Philosophy Volume 2, New York, 1999

KIRCHOF, Edgar Roberto – A Estética antes da Estética de Platão, Aristóteles, Agostinho, Aquino e Locke a Baumgarten. Editora da ULBRA

MORAES, Francisco – Teoria e Estética em Aristóteles. Viso Cadernos de Estética Aplicada, nº2 mai-ago/2007

OLIVEIRA, João Vicente Ganzarolli de – Estética em Aristóteles. Revista Phoînix, Rio de Janeiro 15-1: 91-113, 2009

SANTORO, Fernando – Sobre a Estética em Aristóteles. Viso Cadernos de Estética Aplicada, nº2 mai-ago/2007




Cf. Routledge History of Philosophy, Volume 2, New York, 1999
Moraes, Francisco – Teoria e Estética em Aristóteles, Viso Cadernos de Estética Aplicada, Nº2, mai-ago/2007
Santoro, Fernando – Sobre a Estética de Aristóteles, Viso Cadernos de Estética Aplicada, Nº2, mai-ago/2007




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