A arte futurista, fenômeno modernista no contexto da modernidade

May 23, 2017 | Autor: Pedro Paiva | Categoria: Artes, Modernidade, História da arte, Futurismo
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Pedro Paiva é graduando no curso de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
CURSO DE ARTES VISUAIS – LICENCIATURA












História da Arte III








Pedro de Freitas Pereira Paiva





Pelotas, 2014
Pedro de Freitas Pereira Paiva



Artigo: A arte futurista, fenômeno modernista no contexto da modernidade



Trabalho apresentado ao curso de Graduação em Artes Visuais - licenciatura, da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Artes Visuais.





Orientador(a): Prof.ª Carmen Regina Bauer Diniz






Pelotas, 2014


A arte futurista, fenômeno modernista no contexto da modernidade.
Pedro Paiva






Resumo: O presente artigo buscará elucidar os principais aspectos que fazem do futurismo um fenômeno modernista e da modernidade. Para elucidar os conceitos contidos nos termos moderno, modernismo e modernidade serão utilizados como bibliografia básica os livros Moderno Pós Moderno do autor Teixeira Coelho e A Modernidade, do escritor Charles Baudelaire
Para apresentação e discussão do movimento futurista serão usados os livros Teorias da Arte Moderna, de H.B. Chipp, Tudo Sobre Arte, de Stephen Farthin, Estilos, Escolas & Movimentos da autora Amy Dempsey e Conceitos da Arte Moderna, de Nikos Stangos.










Palavras Chave: Futurismo; Modernismo; Modernidade; Moderno.


Para que melhor se compreenda este artigo faz-se necessário que primeiro defina-se o significado dos termos moderno, modernidade, modernismo e futurismo.
O conceito de moderno, segundo o autor José Teixeira Coelho Neto (1986), não possui uma definição em si, é "um nome oco, quer dizer, um nome que pode ser recheado com variados conteúdos" (COELHO, Teixeira, 1986, p.8). Depende sempre do contexto no qual é empregado, uma vez que é capaz de situar algo, porém não de conceitua-lo.
Tendo sua origem no baixo latim, hodierno (atual, recente), derivado da palavra hodie (hoje, presente), o termo moderno designa, segundo o Dicionário Michaelis "adj (lat modernu) 1 Dos tempos mais próximos de nós; recente. 2 Dos nossos dias; atual, hodierno, presente. 3 Que está em moda. 4 Que existe há pouco tempo. Antôn: antigo. sm 1 O que é moderno, ou no gosto moderno. 2Evolucionista, progressista. sm pl Os que vivem na época atual". Isto é, moderno, na língua portuguesa, pode designar justamente aquilo que se consolida a partir do que está a ocorrer; aquilo que se consolida a partir de algo cujo fim tenha se dado a pouco tempo; aquilo que está em vias de se consolidar por meio das correntes genuinamente contemporâneas. Dessa forma, o adjetivo "moderno" se mostra dependente de qualquer outro termo que o situe em um determinado tempo ou local. Moderno é o produto de uma determinada cultura situada em um tempo e espaço, de caráter estritamente ativo.
Dentro da historiografia ocidental, moderno é o termo que designa o período entre 29 de maio de 1453 (data na qual ocorreu a conquista turca da cidade de Constantinopla) e 14 de julho de 1789 (data em que se comemora o aniversário da Revolução Francesa). Designa o momento histórico no qual surge o capitalismo, a monarquia, o período das grandes navegações e a formação dos Estados tais quais os conhecemos hoje. É o período no qual o Renascimento ganha seu corpo e os seus músculos. A Idade Moderna revolucionou a cultura ocidental de tal maneira que, dentro de sua contemporaneidade, foi e é moderna.
Logo, moderno é um adjetivo que designa a revolução dos aspectos socioculturais em um determinado local situado em um determinado momento. Entretanto, pouco significa se junto ao termo não estiver atrelado um contexto, do qual locutor e interlocutor estejam cientes.
O termo "Modernismo", por sua vez, é a junção de "moderno" com o sufixo "-ismo" o qual deriva do grego "ismós (formador de nome de ação de verbos)" (HOUAISS, 2001). É o exercício de construção do moderno.
Tal termo implicará outra leitura. Segundo Teixeira Coelho, Henri Lefebvre o definirá como a imagem projetada de si própria por cada uma das gerações que se sucederam. Tal leitura, por demais abstrata, nos apresenta uma síntese não suficiente do ser modernista.
"O modernismo parece ser, assim, um signo produzido por um indivíduo ou grupo de indivíduos, signo de toda uma geração ou apenas de um recorte dela. Se adotada a tese de que a obra cultural é produto de toda uma sociedade tal como ela se expressa através de um indivíduo, o criador, e não o produto de uma personalidade singular e isolada, o modernismo poderia ser o signo de uma época. De todo modo, não é a consciência que uma época tem de si mesma. Mesmo porque, não é incomum que uma época deixe de reconhecer seus modernismos ou parte deles". (COELHO, Teixeira, 1986, p.11)
Para o autor, está ligado à fabricação. Isto é, representa um determinado grupo em atividade (sempre atrelado a seu contexto histórico e geográfico, como produto de uma cultura) que tem a consciência de sua finalidade (o modernismo), que fabrica o trajeto para que se chegue ao fim. Entretanto, ainda que assuma tal colocação, o autor reitera que de certa forma os modernismos mais expressivos estão, em verdade, ligados à ação, ou seja, tenham chegado a este fim sem pretende-lo, espontaneamente.
Tomemos como exemplo a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi um modernismo arquitetado, fabricado, desde seu início. Não surgiu espontaneamente, foi antes produto de um grupo de artistas empenhados em fazer chegar o fenômeno moderno ao Brasil.
Desta forma, tomemos então o termo "modernismo" como um fenômeno sociocultural responsável pela atividade resultante no que se tem por moderno.
A modernidade, por fim, é um substantivo feminino composto pela junção de moderno + í+ dade, é o estado ou qualidade de moderno, referindo-se aos tempos modernos. Refere-se ao período no qual o moderno se apresenta. Está relacionado a ciência que um núcleo tem de seu modernismo.
"Por ser um processo de descoberta, a modernidade é uma ação. Tem um ponto de partida e um programa de trabalho; seu ponto de chegada, porém, é incerto e não sabido e o percurso não resulta do projeto individual de uma única personalidade mas da somatória ocasional, por acaso & escolha, de variados projetos" (COELHO, Teixeira, 1986, p.12)
Isto é, a modernidade, para o autor, é ação, é a forma como um núcleo se enxerga a partir de suas práticas. Entretanto, para que haja modernidade deve haver distanciamento histórico. Para o autor, a consciência que uma sociedade tem de si tende a se tornar falaciosa, uma vez que, em primeiro lugar, o presente está sujeito à um infinito número de possibilidades que podem alterar categoricamente a qualidade deste; em segundo lugar, tende a partir da visão de um contemporâneo ao modernismo, o qual não raro possui uma versão alienada dos fatos, "gerando uma consciência de si neurotizada".
Segundo Baudelaire (1996), haverá uma modernidade para qualquer artista antigo, uma vez toda e qualquer obra do passado possui relação intrínseca com os costumes de sua época. Dessa forma, embora de fato se refira a um dado período, o termo "modernidade" pode ainda se sujeitar as mesmas regras que o termo "moderno", necessitando de um conector que o situe no espaço e no tempo para que melhor signifique.
Logo, a modernidade é o mesmo que saber haver, é a consciência do fenômeno modernista e de seus atributos, ainda que este ocorre de maneira homogênea ou não.

Baudelaire, em "Sobre a Modernidade" (1996), discorre a respeito do homem do modernismo. Para Baudelaire, o indivíduo modernista será justamente aquele que, ciente do tempo ao qual pertence, busca dentro de sua própria esfera o material que servirá como a fonte de suas ideias. Nunca será o homem que se entedia ao travar contato com o seu redor, mas justamente aquele que experimenta o êxtase de viver ao se relacionar com o seu entorno.
É em Baudelaire que um novo termo surge: a moda. Esta será justamente a responsável por tornar óbvio os novos hábitos de um meio, sem no entanto apresentar substância em si. Para o autor, existirá o artista da modernidade e será justamente ele o responsável por "buscar esse algo, ao qual se permitirá chamar de Modernidade (...) Trata-se, para ele, de tirar da moda o que nela pode haver de poético no histórico, de extrair o eterno do transitório".
O último termo a prestar esclarecimento é o termo futurismo. Este apresenta a junção da palavra futuro + -ismo. Significa o exercício de construção do futuro.
Em arte, futurismo significará a vanguarda artística criada em 1909, a partir do Manifesto Futurista de Filippo Tommaso Marinetti. O movimento tinha como alguns de seus ideais norteadores o progresso, o avanço tecnológico, a guerra como higiene do mundo, a misoginia e a morte da tradição.
Findada a definição destas terminologias, busquemos agora o desenvolvimento da proposição do presente artigo. Traçarei agora um breve histórico do movimento.








Breve História do Futurismo
"Nós estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente." MARINETTI, Filippo Tommaso, 1909. Manifesto Futurista
O futurismo teve sua estreia com a publicação do Manifesto Futurista, de Filippo Tommaso Marinetti, em 20 de fevereiro de 1909 na primeira página do jornal parisiense Le Figaro. Surgiu do imaginário de um poeta italiano que, desgostoso com inatividade vanguardista italiana e com o apego de seu país a arte do passado renascentista, propôs a união da arte em prol do desenvolvimento não só de um estilo, mas de uma cultura do futuro.
O manifesto se embasava em onze tópicos a partir dos quais cantava o amor ao perigo, a energia e ao movimento, o desprezo a covardia, as mulheres e a tradição dos museus e bibliotecas, lutando contra as academias e "toda covardia oportunista e utilitária".
Teve tamanha repercussão que, ainda em 1909, um grupo de pintores se juntou ao círculo do poeta com a intenção de definir um programa futurista que se aplicasse às artes visuais. Assim, em fevereiro de 1910, surgiu o Manifesto dos Pintores Futuristas, sendo complementado em março do mesmo ano por outro documento mais específico: Manifesto Técnico da Pintura Futurista, assinado por Carlo Carrà (1881-1966), Umberto Boccioni (1882 -1916), Luigi Russolo (1885-1947), Aroldo Bozagni (1887-1918) e Romolo Romani (1884-1916), os quais logo se afastariam do grupo, além de Gino Severini (1883-1950) e Giacomo Balla (1871-1958).
Tudo se move, tudo corre, tudo gira. Um rosto nunca está passivamente parado diante de nós, mas aparece e desaparece incessantemente. Graças à persistência das imagens na retina, as formas em movimento se multiplicam, deformam-se, sucedem-se uma à outra como vibrações no espaço em que se deslocam. Por isso, um cavalo correndo não tem quatro pernas: tem vinte e seus movimentos são triangulares...
As dezesseis pessoas que estão à sua volta num bonde em movimento são uma, dez, quatro, três: elas estão paradas e se movem. vão e vêm, ressoam ao longo da rua, são devoradas num jato de luz solar, detêm-se de novo — símbolos persistentes da vibração universal. E às vezes na maçã do rosto da pessoa com quem conversamos na rua vemos um cavalo que passa distante. Nossos corpos penetram o divã em que nos sentamos e o divã penetra-nos os corpos, do mesmo modo que o bonde deslocando-se entre as casas precipita-se sobre elas que, por sua vez, caem em cima dele e a ele se fundem.
...Os pintores nos têm sempre mostrado figuras e objetos arrumados à nossa frente. Nós colocamos o espectador no centro do quadro.
Proclamamos... que o dinamismo universal será interpretado como sensação dinâmica; que o movimento e a luz destroem a substância dos objetos. (Carrà et al, Manifesto Técnico da Pintura Futurista, 1910).
Este manifesto, entretanto, não muito apresentava de soluções para esses problemas. Quando, em julho de 1910, Boccioni expôs 42 trabalhos em Veneza, houve uma boa recepção por parte da crítica, entretanto ninguém sairia impressionado, dizendo alguns que havia "um profundo abismo nas palavras audaciosas de Boccioni e suas tela sóbrias e comedidas" (LYNTON; STANGOS, 1988, p.73), o que levaria, mais tarde, Boccioni, Russolo e Carrá a acompanharem Severini à Paris, para familiarizar-se com os movimentos culturais que lá se manifestavam. Foi assim que esses pintores, ao travarem contato com o cubismo, passaram a empregar a fragmentação formal como parte integrante da estética da pintura futurista.
Entretanto, cai em erro quem entende o futurismo como produto do cubismo. Embora as relações entre os dois movimentos, na pintura, sejam explícitas, "tanto o objetivo como o efeito de suas pinturas eram diferentes" (CHIPP, H.B., 1988, p.286). De fato uma troca entre o futurismo e o cubismo ocorrera quando da primeira viagem dos artistas italianos a Paris, mas o emprego desta da técnica na produção plástica não ocorreria sem que esta estivesse integralmente adequada as exigências futuristas.
Foi logo em 1911, após o intercâmbio com os cubistas, que o futurismo finalmente conseguiu causar a impressão desejada no público. Dessa exposição na cidade de Milão, logo as obras passaram a circular a Europa e ganhar fama.
Assim como os pintores, os poetas também buscaram uma nova aplicação das palavras. Não mais elas seriam aplicadas segundo as regras gramaticais. Palavras empresas em tipos e tamanhos diferentes, símbolos matemáticos no lugar de conectivos eram empregados espalhados pelas páginas. O objetivo era evocar a dinamicidade, o movimento e a força de sua época. Tal uso foi empregado também, pelos pintores, não no ímpeto formal dos cubistas, mas sim no desejo de "evocar ações extrapictóricas" (CHIPP, H.B., 1988, p.286).
A música, assim como pintura e a poesia, buscou novos sons para suas composições. Em 1912, Balila e Patella publicaram um manifesto, o qual seria seguido pelo manifesto de Russolo "A Arte dos Barulhos", de 1913. Essa música futurista era composta basicamente por máquinas, como o intonarumore, que emitiam os sons das fábricas, dos carros, da cidade.
A fotografia, o cinema e a arquitetura também buscaram novas formas de expressão. Anton Giulio Bragaglia, em 1912, lançou seu manifesto da "Fotodinâmica Futurista", seguido pelo "Manifesto do Cinema Futurista", de 1916, sobre o qual se embasaria para filmar um longa-metragem, Perfido Incanto. Sant'Elia foi o representante do futurismo na arquitetura. Empenhava-se no projeto de edifícios faraônicos e auto sustentáveis, fabricados do ferro, do concreto e do vidro. Seu maior projeto foi o da Cittá Nuova.
A Primeira Guerra Mundial, entretanto, marcou o final da primeira fase futurista. Já abalado por um crescente desentendimento entre seus artistas, o movimento começou a ruir a partir das críticas direcionadas a Marinetti, a cabeça por trás de tudo. Com a adesão da Itália a guerra, profundamente defendida pelo poeta, os artistas cada vez mais ficaram descontentes com os rumos do futurismo. Não houve tempo para soluções, Boccioni e Sant'Elia morreram em combate, Russolo foi seriamente ferido. O grupo futurista que se juntou em torno de Marinetti, depois da guerra, pouco tinha em comum com o movimento original. Entretanto, esse novo futurismo alcançaria o apoio da nova liderança política Italiana, aliando o movimento ao fascismo.

O MODERNISMO E O MANIFESTO FUTURISTA DE 1909
Dados os principais elementos que compõem o presente artigo, buscar-se-á esclarecer as características que fazem do movimento um fenômeno do modernismo.
Ao analisarmos o manifesto de Marinetti, publicado em 1909, nos deparamos com elementos que definirão a estética futurista até o seu fim e que serão responsáveis por torna-lo moderno e modernista.
É verdade que, por um lado, o poeta prega o ódio as mulheres e ao feminismo. Logo no começo do século pode-se notar um aumento da atividade feminina, bem como da atividade feminista. Negar, então, este crescente movimento contemporâneo não seria, então, negar o princípio do homem moderno, definido por Baudelaire? Sim. Entretanto, como explicado por Teixeirca Coelho, uma sociedade por vezes não reconhece os seus modernismos.
Não esqueçamos que, se por um lado o Manifesto Futurista prega a misoginia, por outro prega o amor ao anarquismo (no qual se contradirá ao se aliar ao fascismo anos mais tarde), um fenômeno que só ganhou corpo formal na modernidade.
Dentro deste manifesto, além dos já citados aspectos, o que prevalece é justamente o que melhor definirá o movimento: o amor a máquina, a velocidade, "o homem que segura o volante", ao progresso tecnológico, ao individualismo e a guerra, desprezando completamente o passado e suas manifestações.


O MODERNISMO E PINTURA FUTURISTA.
A pintura futurista, por sua vez, é a que mais ilustrará o caráter moderno do movimento. Esta, embora em um primeiro momento apresente caráter expressionista, logo adquirirá maior corpo formal, advindo da relação com o cubismo.
Duas características ressaltam na pintura futurista madura: o divisionismo cromático, inspirado pelo Neo-Impressionismo, e a fragmentação formal, inspirada pelo cubismo. Entretanto, apesar de inspiradas por esses dois movimentos, aqui tomarão um novo aspecto. Tais métodos serão regidos pelo princípio do movimento.
Para que melhor se exemplifique, será feita a leitura da obra Dinamismo de um Ciclista (Umberto Boccioni, 1913), tendo como referência o livro Tudo Sobre Arte, de Stephen Farthing, edição de 2010.

Esta obra nos apresenta os principais aspectos da arte futurista. Apresenta um ciclista no ápice de sua velocidade, em direção ao canto inferior esquerdo do quadro. O cenário sugere uma paisagem montanhosa.
Nele vemos concepções antigas de cor aliadas aos preceitos modernos discutidos amplamente a partir do impressionismo. Nota-se a forma como os tons amarelos, azuis, vermelhos e brancos se repetem na tela, dando a noção de ritmo. Entretanto, essa noção de ritmo é potencializada justamente pelo divisionismo cromático neo-impressionista e pela fragmentação formal do assunto apresentado. O ciclista não é apresentado tal qual se mostra na realidade, mas sintetizado em uma forma em movimento. Para que tal movimento se assumisse em seu apogeu, Boccioni fez uso da justaposição de cores complementares. Conforme estudado por Newton e mais tarde de maneira mais profunda por kandinsky, a justaposição de cores complementares faz com que ambas as cores se realcem. Ao justapô-las de maneira repetida, o pintor cria uma linha de realce que se desloca pelo quadro, dando a sensação de movimento. Ainda para complementar esta sensação, Boccioni, ao fragmentar as formas, também as funde (técnica derivada das teorias de Henri Bergson).
A cabeça do ciclista, o centro negro na parte esquerda do quadro, age como epicentro energético do quadro. Todas as formas, todas as linhas, apontam para ela. O dinamismo aqui se mostra profundamente reforçado pelas diagonais que se repetem no quadro, as quais se movimentam da direita para a esquerda, criando um campo de movimento.
Pode-se notar, aqui, grande influência de Cézanne. O quadro é composto por esferas, cones e cilindros, através de uma pincelada que constrói.

CONCLUSÃO
O futurismo, nascido do ímpeto de um poeta, é um fenômeno modernista. Seu contexto se compreende justamente dentro do contexto modernista e das vanguardas artísticas do século XX. Representou inovações tanto na sua apresentação (a partir de manifestos), quanto nas soluções plásticas adotadas, seja na pintura, na escultura ou na arquitetura.
O futurismo, desde seu nascimento, se mostrou como um produto que só poderia ter surgido da modernidade.
Foi o primeiro movimento a adotar manifestos como forma de apresentação. Seja na poesia, na pintura ou no cinema, os paradigmas a serem seguidos foram primeiramente expressos em manifestos.
Ao adotar a temática da velocidade e da dinamicidade, adota uma ideologia que só poderia ter sua gênese na modernidade, a era dos automóveis e da eletricidade, da tecnologia. É a exaltação do movimento do homem moderno (homem moderno o qual pode ou não ser compreendido a partir de Baudelaire), o qual se desloca a todo instante, fazendo usos de aparelhos que em seu possuem a dinamicidade e o movimento como inerentes a sua natureza.
As soluções plásticas adotadas nas obras, por sua vez, só poderiam nascer desse contexto. Se em um primeiro momento as obras futuristas tinha um caráter mais expressionista, não podemos esquecer que a poiese empregada é um fenômeno que descende diretamente do romantismo, o qual lançará uma das principais bases da arte moderna: a autonomia do artista na criação. Se em um segundo momento a pintura adere a soluções do campo da forma e da cor, ora, isso também é resultado da modernidade. O divisionismo cromático deriva diretamente do Neo-Impressionismo e do pontilhismo, movimentos que representaram uma verdadeira revolução na história da arte. A fragmentação formal, adorada após o contato com o cubismo, descende diretamente de Cézanne, um dos maiores pesquisadores da forma na pintura.
Assim sendo, constate-se que o futurismo é um fenômeno inerente ao seu tempo. É uma vanguarda artística compreendida no modernismo, com aspectos modernos (no sentido apresentado por Baudelaire) e de grande caráter modernista.


Bibliografia Impressa:

DEMPSEY, Amy, Estilos, escolas & movimentos, São Paulo, SP, Cosac & Naify: 2003.
CHIPP, H.B., Teorias da arte moderna, São Paulo, SP, Martins Fontes: 1988.
FARTHING, Stephen, Tudo sobre arte, Rio de Janeiro, RJ, Sextante: 2010.
STANGOS, Nikos, Conceitos da arte moderna, Rio de Janeiro, RJ, Jorge Zahar Esitor Ltda.: 1991.
FÈVRE, Fermin, Modernidad y postmodernidad em el arte, Buenos Aires, Editorial Fundación de Arte Ana Torre, 1994.
COELHO, Teixeira, Moderno pós-moderno, Porto Alegre, RS, L&PM Editores S.A.: 1986
BAUDELAIRE, Charles, Sobre a modernidade, Rio de Janeiro, RJ, Editora Paz e Terra, 1996.

Bibliografia Digital:
Sobre a Idade Moderna:
http://www.brasilescola.com/historiag/idade-moderna.htm
Acessado em 1º de julho de 2010 às 00:15hs.

Sobre o renascimento na Idade Moderna: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3637
Acessado em 1º de julho de 2014 às 00:23hs.

Fonte das definições gramaticais do Houaiss:
http://www.usp.br/gmhp/publ/GiaA1.pdf
Acessado em 1º de julho as 00:40hs.






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