A ASCENSÃO DOS INIMIGOS DA DEMOCRACIA NA TURQUIA DE ERDOGAN, NOS ESTADOS UNIDOS DE TRUMP E EM ISRAEL DE NETAHYAHU

June 1, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: International Relations, Social Sciences, Political Science, War and Peace
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A ASCENSÃO DOS INIMIGOS DA DEMOCRACIA NA TURQUIA DE ERDOGAN, NOS ESTADOS UNIDOS DE TRUMP E EM ISRAEL DE NETAHYAHU Fernando Alcoforado* Forças antidemocráticas avançaram na Turquia com a tentativa de golpe de estado e o contragolpe em marcha do presidente Erdogan, podem avançar nos Estados Unidos com a possibilidade de ascensão ao poder de Donald Trump e estão avançando em Israel com a política retrógrada de Netanyahu contrária à paz com a Palestina na região. O fato de a Turquia caminhar celeremente para a ditadura de Erdogan, os Estados Unidos adotarem uma política internacional retrógrada sob a liderança de Trump e Israel ter na sua chefia um governante como Netanyahu francamente desfavorável à paz com os palestinos torna extremamente complexa a equação geopolítica do Oriente Médio, sobretudo no momento atual de conflitos políticos, guerras civis e a presença do Estado Islâmico na região. O presidente Erdogan utilizou a tentativa de golpe militar de 15 de Julho para lançar um contragolpe que está mergulhando a Turquia no caos e ao isolá-la internacionalmente. O governo Erdogan demitiu mais de 15.000 funcionários no Ministério da Educação, 257 funcionários no gabinete do primeiro-ministro e 492 clérigos na Direção dos Assuntos religiosos. Além disso, mais de 1.500 reitores universitários foram demitidos. A purga seguiu-se à demissão de 8.800 policiais, e às prisões de 6.000 soldados, 2.700 juízes e promotores, dezenas de governadores, e mais de 100 generais – quase um terço das mais altas patentes militares. 20 websites de notícias também foram bloqueados. O conflito aberto entre as Forças Armadas, que garantem o Estado laico na Turquia, e o governo islâmico do AKP, partido de Erdogan, já vinha de antes. A política de islamização da Turquia parecia estar levando a melhor sob Erdogan, após expurgo maciço nas Forças Armadas. Desde os protestos em massa em 2013 na Praça Taksin em Istambul, a sociedade turca estava dividida. Em política externa, Erdoğan conseguiu deteriorar as relações com os parceiros globais e regionais como a crise na Síria ao apoiar os opositores ao regime de Assad, agudizou as lutas no Curdistão turco, colocando o país em estado de guerra civil. Com o Egito, Erdogamn, apoiou o general islamita Mohamed Morsi que foi deposto. A relação com a União Europeia ficou arruinada após a Alemanha reconhecer o genocídio armênio de 1915. Com a tentativa de golpe militar e o contragolpe de Erdogan, a Turquia está perdendo, também, a oportunidade de aderir à União Europeia num futuro previsível, as tensões com os Estados Unidos cresceram com a questão curda e o abate do bombardeiro russo na Síria provocou uma crise com o governo russo. Na Turquia, a tese de que o golpe militar seria contra o totalitarismo do presidente Erdogan, está funcionando ao contrário, porque ele próprio, agora no contragolpe, reuniu mais forças devido à vitória rápida, à prisão e execução sumária de opositores, que inclui centenas de soldados, dezenas de comandantes do exército turco e até mesmo promotores e juízes, e a censura de dezenas de veículos de mídia ditos “contra o governo”. O golpe de estado mal executado e o contragolpe de Erdogan resultaram no enfraquecimento de seu inimigo político Muhammed Fethullah Gülen, auto-exilado nos Estados Unidos, e proporcionaram a Erdogan grande apoio da população turca. Na prática, o contragolpe de Erdogan, grande articulista e estrategista político, colocou o futuro da Turquia exatamente onde ele mais queria: em suas próprias mãos. O que está 1

se instalando na Turquia é de fato um regime de exceção. É típico de regimes de exceção que as pessoas deixem de ser inocentes até prova em contrário. Nos Estados Unidos, constata-se que o Partido Republicano deverá competir nas próximas eleições presidenciais com um candidato que representa o pior do que existe na política norte-americana. O Partido Republicano é, segundo Thomas Friedman, em artigo publicado no The New York Times sob o título O Partido Republicano acabou (), um partido de conservadores religiosos, homens brancos enraivecidos que temem estar se tornando uma minoria em seu próprio país e odeiam o comércio, adversários do controle de armas, partidários do antiaborto, donos de pequenas empresas contrários à regulamentação e ao livre mercado e empresários a favor e contra o livre comércio. O Partido Republicano já se manteve unido durante a Guerra Fria, mas, no momento atual em seu núcleo não havia um denominador comum, nem uma visão do mundo, nem um esquema conservador real. Donald Trump surgiu como um espécime invasor que acabou dominando o Partido Republicano. Friedman afirma no artigo acima citado que o partido acabou. Em Israel, sob Netanyahu, sua política em relação à Palestina vai de mal a pior, segundo Thomas Friedman, em artigo publicado no The New York Times sob o título Premiê do Estado "Israel-Palestina", Netanyahu contribui para afundar seu país (). Netanyahu acabou de forçar a saída do ministro da Defesa, Moshe Yaalon, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, que é um homem decente, um soldado modelo determinado a preservar o Exército israelense como um exército que paute sua atuação com base nos mais altos padrões de integridade no meio de um ambiente muito perigoso. Netanyahu planeja substituir Yaalon por Avigdor Lieberman, da extrema direita. Lieberman, que está sendo investigado por corrupção, pensa em explodir a Represa de Assuã do Egito e condena como traidores os israelenses que querem que Israel saia da Cisjordânia. Ao descrever a troca de Yaalon por Lieberman, o colunista Nahum Barneam do jornal "Yediot Aharonot", escreveu: "Em vez de apresentar ao mundo um governo mais moderado antes das batalhas diplomáticas que virão no outono, Netanyahu apresenta o governo mais radical que já existiu na história israelense". O próprio Yaalon alertou: "Forças extremistas e perigosas tomaram Israel e o movimento Likud, desestabilizando nosso lar e ameaçando causar mal a seus habitantes". O exministro da Defesa trabalhista, Ehud Barak, disse: "O que aconteceu é uma tomada hostil do governo israelense por elementos perigosos". O ex-ministro da Defesa do Likud, Moshe Arens, escreveu no "Haaretz" que Netanyahu e seus comparsas da extrema direita "insultaram não apenas Yaalon, mas também o Exército israelense”. Todo esse episódio teve início em 24 de março, quando Azaria, um médico, foi gravado em vídeo atirando em palestino ferido. Este era um dos dois palestinos armados com facas que esfaquearam um soldado israelense, o ferindo levemente. Azaria simplesmente decidiu por conta própria matá-lo. Yaalon e o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Gadi Eisenkot, reagiram prontamente, dizendo que essa não é a forma como o Exército israelense deveria se comportar. Azaria foi indiciado por homicídio e conduta militar imprópria. Inicialmente, Netanyahu também disse que o assassinato violava os valores do Exército, mas quando sua base eleitoral de colonos israelenses em terras palestinas saiu em defesa 2

do assassinato, Netanyahu mudou de posição. Tudo isso incomodou profundamente Yaalon e a liderança do Exército, e estourou no Dia da Lembrança do Holocausto em Israel, quando o vice-chefe do Estado-Maior do Exército, o general Yair Golan, falando à nação, disse: "É assustador ver os desdobramentos horríveis que ocorreram na Europa durante o nazismo começarem a se desdobrar aqui". Sim, você leu isso corretamente. O filósofo religioso da Universidade Hebraica, Moshe Halbertal, afirmou que estamos testemunhando "o partido do governo de Israel sendo transformado de um partido nacionalista linha-dura, que costumava ter uma base humanitária e democrática, em um partido ultranacionalista, que agora é definido por se voltar contra os 'inimigos' internos, os tribunais, as ONGs, o sistema educacional, a minoria árabe e, agora, o Exército, qualquer um que esteja no caminho de seu projeto de ocupação permanente da Cisjordânia. Tendo fracassado em apresentar uma solução para os inimigos externos, agora o Likud se concentra nos inimigos internos. Esta é uma grande transformação em Israel e deve ser vista com grande preocupação". A liderança do Exército, acrescentou Halbertal, "está tentando transcender esta guerra de todos contra todos e impor a ordem moral no caos, em vez de inflamá-la". Netanyahu faz exatamente o oposto. Para aqueles de nós que se importam com o futuro de Israel, esta é uma hora sombria, conclui Halbertal. O cenário geopolítico do Oriente Médio é extremamente sombrio com a ditadura Erdogan na Turquia, a possibilidade de vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais norte-americanas e a perspectiva de agravamento da crise palestinoisraelense com Israel sob o comando de Netanyahu. A Turquia exerce um papel estratégico na região onde se localiza por fazer fronteira com a Rússia e o Irã, inimigos declarados dos Estados Unidos, com o Iraque e a Síria onde há cruenta guerra civil e se estabeleceu o Estado Islâmico e ser integrante da organização militar OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a serviço dos Estados Unidos no confronto com a Rússia. Os Estados Unidos exercem papel estratégico em todo o mundo por se constituir na maior potência econômica e militar do planeta cujos interesses na região envolvem o esforço de impedir que a Rússia retome a sua condição de superpotência, além do exercer o domínio da principal área produtora de petróleo do mundo situada no Oriente Médio e assegurar a sobrevivência de seu aliado, Israel, em seu conflito com palestinos, árabes e iranianos. Finalmente, Israel exerce, também, relevante papel na região ao servir aos interesses dos Estados Unidos e buscar sua sobrevivência como nação duramente conquistada após a 1ª Guerra Mundial. Trata-se, portanto, de um xadrez geopolítico que só poderia ser resolvida se a ONU reestruturada exercesse uma efetiva governança mundial e não servir como instrumento atual das grandes potências na cena mundial. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e

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Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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