A ASSISTÊNCIA HOSPITALAR AOS ESCRAVOS NO FUNCHAL. SÉCULOS XV-XIX Hospital Assistance to Slaves in Funchal. 15th to 19th Centuries

June 6, 2017 | Autor: Alberto Vieira | Categoria: Slavery, History of Medicine and the Body, Islands
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Centro de Estudos de História do Atlântico 2015



TEMA: O CORPO NO PASSADO E NO PRESENTE SUBJECT: THE BODY IN THE PAST AND PRESENT

Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico 2015, N.º 7 ISSN: 1647-3949 Funchal, Madeira

pp. 10 - 472

Região Autónoma da Madeira

Centro de Estudos de História do Atlântico 2015

A ASSISTÊNCIA HOSPITALAR AOS ESCRAVOS NO FUNCHAL. SÉCULOS XV-XIX Hospital Assistance to Slaves in Funchal. 15th to 19th Centuries

ALBERTO VIEIRA

Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico 2015, N.º 7 ISSN: 1647-3949 Funchal, Madeira

pp. 11 - 34

Região Autónoma da Madeira

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7

A Assistência Hospitalar aos Escravos no Funchal. Séculos XV-XIX

ALBERTO VIEIRA, SRETC/CEHA-MADEIRA

ALBERTO VIEIRA. N.1956. S. Vicente Madeira. Títulos Académicos e Situação Profissional: 2016- Coordenador do CEHA e de projetos de investigação; 2013-2015: Diretor de Serviços do CEHA; 2008- Presidente do CEHA, 1999 - Investigador Coordenador do CEHA; 1991-Doutor em História (área de História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa), na Universidade dos Açores; 1980. Licenciatura em História pela Universidade de Lisboa. ATIVIDADE CIENTÍFICA. Pertence a várias academias da especialidade e intervém com consultor científico em publicações periódicas especializadas. É Investigador-convidado do CLEPUL-Lisboa. Membro da Cátedra Infante Dom Henrique/Universidade Aberta. Desenvolveu trabalhos de investigação nos domínios da História do Meio Ambiente e Ecológica, História da Ciência e da Técnica, O Mundo das Ilhas e as Ilhas do Mundo, História da Autonomia, História da Ciência e da Tecnologia, História da Escravatura, História da Vinha e do Vinho, História das Instituições Financeiras, História do Açúcar. Atualmente desenvolveu estudos e coordena projetos sobre Historia Oral /Autobiográfica, com os projetos: MEMORIAS das Gentes que fazem a História; NONA ILHA- as Mobilidades Madeirenses; AUTONOMIA. Memorias e testemunhos. PUBLICAÇÕES. Tem publicado diversos estudos, em livros e artigos de revistas e atas de colóquios, sobre a História da Madeira, dos espaços insulares atlânticos, da Nissologia/Nesologia e sobre os temas de investigação referidos acima. Informação curricular desenvolvida em: https://app.box.com/s/248a0h637wi5llm26o66o9bbw2kd182z

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Anuário do CEHA 2015 • N.º 7

RESUMO Os escravos não são negados cuidados de assistência pelas senhores e instituições, pois merecem tratamento idêntico aos livres. Este é um encargo assumido pelo senhor, que nunca vimos negado, situação que também sucede com os encargos funerários. Com este trabalho esclarece-se um aspeto do quotidiano dos escravos e senhores na ilha, revelador de uma diferente forma de expressão da escravatura. Palavras-Chave: Escravos, Hospital, Mulatos, Negros.

ABSTRACT Slaves were entitled to social care. They were treated the same way as the other workers. The master and the Institutions assumed these responsibilities and in the case of burials it was the master who was in charge of procedures. In this paper we wish to discuss the daily life of slaves and masters on the island of Madeira, thus, trying to bring to light issues and aspects that need a better understanding. Key words: Slaves, Negroes, Mulatos, Hospital

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Anuário do CEHA 2015 • N.º 7

H

á várias questões em torno da escravatura que importa esclarecer. A historiografia tradicional da escravatura insiste nas condições infra-humanas em que viviam os escravos. Para justificar a situação do fenómeno desumano veicula-se ideias erradas sobre o fenómeno ou então releva-se a falta de condições que estes viviam, no continente americano, como na ilha. Assim, toda a atenção incide sobre as difíceis condições de vida: privados da liberdade e dos mais elementares meios de sobrevivência, como de cuidados de saúde. As teses e o movimento abolicionistas do século XIX, que marcaram por muito tempo os rumos da investigação sobre o tema, desviaram a atenção dos historiadores. Mas, hoje as investigações realizadas desde a década de oitenta do século XX, apresentam uma realidade diversificada. Evidenciam-se diversas atitudes e incluso se valoriza, sem que isto seja razão para justificar e perpetuar o fenómeno, a faceta humanista do senhor dos escravos. Em casos documentados, chama-se à atenção para o facto de à violência do ato de posse se sobrepor o trato fácil e familiar, que merece mútua correspondência entre senhor e escravo. A Madeira é um deles. Aqui a escravatura, a partir de meados do século XVI, assumiu-se pelo carácter patriarcal, e o escravo joga um papel diferente como elemento da família. É, muitas vezes, mantido na casa, não como uma força de trabalho, mas como uma forma de ostentação, sendo, por isso mesmo, cumulado de algum afeto familiar. Certamente que a condição deste escravo era diferente. É mais um elemento da família em condição semelhante aos criados, fruindo por isso de todos os privilégios da casa. E este afeto poderia ser e documentado muitas vezes como recíproco: escravos (as) com uma relação privilegiada com os seus proprietários e que reconhecem essa situação, como o provam algumas das doações testamentárias e os encargos de missa por morte1. Os códigos que legitimavam a escravatura definiam os deveres dos proprietários: deviam-lhes proteção até à morte, de comer, vestir e dormir. Nisto incluía-se a situação de doença e velhice. Mas aqui poderá questionar-se o modo do seu cumprimento e das fugas possíveis. O elevado número de libertos em idade avançada, a rara presença de óbitos de adultos em contrapartida com a dos jovens e crianças poderá ser mais um aferidor a testemunhar em favor do seu incumprimento. Mas, o contrário, também sucede. É o caso dos elevados encargos suportados por alguns proprietários com os cuidados de saúde aos seus escravos. Esta situação, pouco estudada até ao momento na historiografia sobre os escravos, é agora o nosso motivo de atenção2. As informações compiladas nos livros de receita e despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816) trazem-nos luz sobre esta situação particular de relacionamento de senhor e escravo, aquando da situação de doença3. Aqui deparamo-nos com duas situações: as esmolas dadas pelos senhores para o enterramento dos seus escravos, a lista dos doentes de ambos os sexos, entrados no hospital, com a indicação do tipo de cura, do tempo de internamento e das consequentes despesas suportadas pelo proprietário. Reunimos, ainda, os libertos que aparecem em idênticas condições. Mais uma vez, se testemunha as difíceis condições em que viviam, sendo poucos os que dispunham de meios para assegurar os encargos com a doença e morte. A designação genérica de pobre é, por demais, elucidativa e daí a solicitação do apoio da instituição. Por outro lado este tipo de fontes poderá ser um aferidor para salientar a sua importância no conjunto dos apoios prestados pelo hospital, como para entendermos da sua dimensão assumida no quotidiano madeirense e a sua evolução nos três séculos 1 2

Confronte-se Vieira, 1991: 209-219. A historiografia norte-americana tem dedicado alguma atenção aos aspetos relacionados com a dieta alimentar e da sua relação com a doença e cuidados de saúde. Veja-se. FOGEL e ENGERMAN, 1974; SUTCH, 1975:12: 335-438; KIPLE, 1981; STECKEL, 1992: 489-507; MARGO e STECKEL, 1992: 508-521. 3 ARM, Misericórdia do Funchal, N.º 342-399, 492-546. Merece a nossa atenção o pioneiro estudo de Russell-Wood, 1968:260-294.

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Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 em causa. Eis mais um complemento para a definição da escravatura na Madeira, que pode lançar nova luz sobre o fenómeno no espaço atlântico. A prestação de cuidados de saúde é indissociável da forma como em cada época a sociedade encarava a doença e o doente, como da situação dos métodos de cura e das instituições existentes para tal. Ainda poderemos entender esta realidade como um meio para poder-se averiguar das condições de sobrevivência das populações e da sua às doenças infeciosas. Por determinação de Inocêncio VIII (1485) foi definida uma nova e adequada estrutura de assistência hospitalar. As mercearias e hospitais menores deram lugar a uma nova estrutura que centralizou todos estes serviços. Na Madeira, criaram-se as Misericórdias do Funchal, Porto Santo, Santa Cruz, Machico e Calheta, mas foram os hospitais da Misericórdia do Funchal que mais se evidenciaram nos cuidados de saúde4. São eles: o dos lázaros, o velho e, depois, o novo. Todavia os cuidados assistenciais pouco evoluíram pela falta ou pouco número de cirurgiões e físicos em oposição ao dos barbeiros e curandeiros, que asseguravam os curativos tradicionais. Até ao século XVIII os métodos de cura das doenças praticados na Madeira, a exemplo da demais regiões5, era, acima de tudo popular, assente mais na mediação dos santos curandeiros e peregrinações do que no recurso à Medicina. Mas a presença e a ligação à Inglaterra, a partir de meados do século XVII levou a que cedo a medicina tradicional fosse suplantada pela científica. Alguns médicos ingleses fixaram-se no Funchal e outros que por cá passavam com destino às colónias garantiram a sua afirmação. A partir do último quartel do século XVII isso era uma realidade. Hans Sloane é um exemplo entre muitos. Em 1687 na sua passagem pelo Funchal refere que “as pessoas têm grande consideração pelos médicos ingleses” e ele não se coibiu a fazer alguns tratamentos6. O mesmo valoriza a competência dos médicos locais. Opinião diferente era a do médico madeirense José Fernandes da Silva. No tratado - Carta critica sobre o método curativo dos médicos funchalenses-, escrito em 1755, como resultado da sua experiência em face da epidemia de sarampo (Julho a Dezembro de 1751), critica severamente os cuidados de saúde usados7. Na verdade, a plena afirmação da medicina científica na ilha só teve lugar a partir da revolução vintista, com o regresso de um grupo de médicos formados nas escolas inglesa e francesa, que, mais tarde, deram origem à Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, que funcionou entre 1837 e 19108. Tenha-se em conta que nas sociedades do antigo regime a proliferação das doenças está indissociavelmente ligada às condições de higiene e à precaridade da dieta alimentar. As doenças infeciosas são resultado disso e responsáveis pelos elevados índices de mortalidade9. A evidente falta de higiene e a má-nutrição são os principais fatores propiciadores do rápido avanço das epidemias. Tal como afirma Massimo Levi-Bacci, “La desnutriçión incrementa la frecuencia, la gravedad y la duración, de las infecciones y deriva en una mortalidade elevada”10. A posição é unânime entre todos os estudiosos da Demografia do Antigo Regime: a alimentação é decisiva na qualidade de vida11. E no caso da Madeira ambas as situações negativas andaram de braço dado, favorecendo a doença e a mortandade. O Funchal, não obstante ser uma cidade arejada, servida de três ribeiras, não pode ser considerado um burgo exemplar quanto às questões da salubridade. Às insistentes reclamações das autoridades municipais12 somam-se os testemunhos dos visitantes em nada abonatórios para os hábitos de higiene dos nossos antepassados e às condições de salubridade do principal núcleo populacional da ilha. A esta ingente falta de higiene adicionava-se outro fator - tão importante para abrir as portas à doença -: a fome, que se afirma como uma constante na história da ilha. A pobreza calórica da dieta alimentar associada às dificuldades no abastecimento 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Confronte-se FIGUEIREDO, 1963; COSTA, 1992. Para uma visão de acervo documental confronte-se AHM, vols. XIII-XIV (1962-66). Confronte-se LEMOS, 1991; LEBRUN, 1983; CRESPO, 1990, pp.53-118; MARQUES e CERLE (eds.), 1991. “A voyage to the islands Madeira...” in Aragão, 1981, pp. 160-161. Publicada em Lisboa em 1761, Vide FIGUEIRE­DO, 1963: 77-78. SILVA, 1945. Cipolla, 1984: 179-188. ROTBERG e RABB (comps), 1990: 103. Os estudos citados na nota 2 referem a mesma situação quanto aos escravos norte-america­nos. BURGUIORE, 1990:47-49; LEBRUN, 1975:185-190; BRAUDEL, 1979:60-69; CRESPO, 242-254. VIEIRA, 1989: 1004-1089; idem, 1990.

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Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 de víveres foi uma permanência nestes três séculos de História Madeirense13. Tendo em conta que a dieta alimentar assentava essencialmente nos cereais mediterrânicos e o facto de a ilha estar sujeita, a partir de princípios do século XVI, ao abastecimento de fora não é difícil encontrar no historial madeirense assíduas referências à escassez crónica de cereal e à fome14. Esta conjuntura resulta de uma multiplicidade de fatores. Ao nível interno, a disponibilidade de culturas mais rentáveis (a cana e a vinha) retirou espaço à cerealicultura, criando uma situação de forte dependência do mercado externo. Fala-se que a produção local dava apenas para 3 a 4 meses do ano, ficando os madeirenses à míngua os restantes meses e a porção da sementeira dependente das importações. Estas faziam-se a partir dos Açores, Canárias e, depois, dos EUA e Europa. O abastecimento estava sujeito às condições do mercado fornecedor e às vulnerabilidades das rotas de canalização do produto. As conjunturas de afrontamento entre os principais estados europeus (nomeadamente Inglaterra e Irlanda), a guerra de independência dos Estados Unidos da América (1776-1773) estiveram na origem dessas dificuldades, na segunda metade da centúria oitocentista. Tenha-se em conta que o mercado norte-americano firmara-se desde finais do século XVII como o principal fornecedor de cereal em grão ou farinha a troco de vinho15. A par disso as insistentes dificuldades com o abastecimento de cereal obrigaram a uma revolução na dieta alimentar, com o aparecimento de produtos, oriundos de África ou América, como o milho, inhame e a batata. De forma que em 1847 a crise de fome, foi provocada por uma doença que assolou a batateira16. Em pouco tempo a batata havia tomado o lugar do cereal e ficara associado à alimentação dos madeirenses, como sucederá depois com o milho. Eis o quadro dos problemas da vida quotidiana no período em estudo: SECA

1627 1672 1676

FOME 1485-86 1520-21 1546 1587 1597 1607

1521-38

1637 1678 1685

1689 1691-96

1694-95

1756

1756-58

1770

1769-70 1777-78

1779

EPIDEMIA 1480

1681 1686 1751 1768

1800

13 Conforme testemunhos dos estrangeiros: John BARROW, A voyage to Conchinchina in the year 1792 and 1793..., London, 1806: “Uma visão da Madeira. A viagem à volta do mundo no navio Resolution sob o comando do Capitão Cook (1722-1775)”, in Atlântico, N.º.5, Funchal, 1986. 14 Confronte- Vieira, 1983: 651-676; Aires dos Passos VIEIRA, Elementos para a História da vida quotidiana da Madeira na governação de João Gonçalves da Câmara Coutinho (1777-1780), Lisboa, 1991, pp. 26-30; BRANCO, 1987:41-47, 189-201. 15 Confronte-se SOUSA, 1989. 16 Esta cultura havia se introduzido desde 1820 e em pouco tempo veio a substituir o trigo, sempre ausente.

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Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 Nos dados avulsos, que conseguimos compilar na documentação madeirense, é evidente a relação entre a seca, fome e as epidemias. As três foram uma constante da sociedade no decurso dos séculos XVII e XVIII. A impotência do homem perante estas situações está manifesta no constante apelo a Nossa Senhora do Monte, o orago da aflição de todos os madeirenses. Ainda, o quadro comparado dos anos de seca e fome testemunha esse panorama pouco favorável do quotidiano e sobrevivência, reforçado pelo facto de a dieta alimentar dos madeirenses ser deficiente em calorias e pouco variada. É de acordo com estes parâmetros cronológicos, definidos no quadro, que deverá entender-se a elevada mortalidade da Madeira17. A partir de 1538 é possível estabelecer esse movimento. E foi isso que fizemos para a cidade do Funchal, pois era aqui que essas dificuldades mais se faziam sentir. As fomes só se sentiram com maior rigor na última década do século XVII, altura em que a mortalidade de livres e escravos aumentou. Na verdade, neste momento junta-se um surto epidémico agravado pela fome que, por sua vez, é resultado de uma estiagem prolongada. O número de doentes assistidos no hospital aumenta na mesma pro­porção. Depois de um período de relativa acalmia os óbitos retornam ao seu movimento ascendente, a partir da década de 20 do século XVIII, atingindo no período de 1741 a 1780 o seu pico. Todavia esta situação não é corroborada pelas entradas no hospital, o que poderá resultar do facto de estes dados estarem incompletos. As fomes e doenças contagiosas (sarampo 1751 e 1768) da segunda metade são as responsáveis pela elevada mortalidade. Visualizando a posição dos escravos conclui-se que o período a partir de finais do século XVII é definido por uma elevada mortalidade, atingindo-se os valores mais elevados nas décadas de 16911700 e 1741 a 50. Já tivemos oportunidade de questionar a fiabilidade dos registos e aqui mais uma vez encontramos testemunhos que corroboram a nossa afirmação. Confrontadas as listas das esmolas dadas pelos proprietários para o enterramento dos escravos a cargo da Misericórdia constata-se isso mesmo. No período de 1630 a 1750 são referenciados 1438 escravos, enquanto nos paroquiais temos apenas 637 óbitos destes. Isto quererá dizer que os dados disponibilizados pelos registos paroquiais, no que concerne aos óbitos deste grupo, não merecem qualquer fiabilidade18. A situação só tem correspondência com o movimento de entrada de escravos no hospital para o período de finais do século XVII. Por exemplo, com a crise do sarampo (1751 e 1768) em que foi elevada a mortalidade dos escravos é pouco significativo o número dos que foram assistidos pelo hospital.

ASSISTÊNCIA NA DOENÇA Os livros de receita e despesa da Misericórdia do Funchal, permitem-nos rastrear o movimento dos hospitais da cidade, que parece centralizar o serviço de todo o arquipélago. A partir dele é possível saber-se das condições de prestação dos cuidados de saúde e os principais beneficiários. Assim, existe um capítulo para o registo das entradas, seguindo-se outros para os diversos tipos de curativo e indicação dos que não tinham “remédio” nem cura possível para a época: os incuráveis. A par disso a Misericórdia mantinha a função assistencial aos pobres (aqui atingindo, de modo especial, os libertos) em vida e na morte. Neste último caso encarregava-se do seu enterro. Os escravos também foram contemplados nesta situação, comprometendo-se o proprietário ao pagamento da respetiva esmola. No que concerne aos cuidados hospitalares não é possível fazer-se o diagnóstico dos doentes e tão pouco uma resenha exaustiva dos curativos. Nos livros disponíveis apenas é referida a entrada, o período de permanência e as consequentes despesas em estadia e curativos. Destes últimos só são referidas as unturas. Acresce, ainda, que os dados compilados estão incompletos, por falta de livros para o período de 1596 a 1800. Daqui resulta a impossibilidade de estabelecer com toda a exaustão o tema que nos propomos tratar. A partir dos dados disponibilizados para os anos de 1596 a 1760 foi possível estabelecer a situação que se segue. 17 São conhecidos apenas dois estudos demográficos: FERRAZ, 1990: 265-284; PINTO e RODRIGUES, 1992). 18 Confronte-se VIEIRA, 1991: 107, nota 47.

17

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 ESCRAVOS E LIBERTOS NO HOSPITAL ESCRAVOS/LIBERTOS TOTAL

ESCRAVOS

LIBERTOS

TOTAL

N.º

%

N.º

%

N.º

%

ENTRADAS (1630-1710)

21 652

59

0,3

250

1,2

309

1,4

UNTURAS (1650-1780)

1 955

177

9,1

61

3,1

238

12,2

CURATIVOS (1730-1780)

536

184

34,3

4

0,7

188

35

INCURÁVEIS (1630-1730)

2 196

4

0,2

25

1,1

29

1,3

ÓBITOS (1700-1750)

3 081

101

3,3

40

1,3

151

5

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

De acordo com este quadro19 poderá afirmar-se que a maioria dos escravos e libertos assistidos pelo hospital não se apresentava em condições de alto risco, pois é reduzido o número daqueles com doenças incuráveis e dos que aí faleceram. Além disso poucos dão entrada no hospital, a maioria vem apenas para fazer unturas ou outros curativos, o que quererá dizer que o seu estado não inspirava especiais cuidados. A situação não é uniforme, nem se adequa ao movimento dos cidadãos livres e tão pouco aos surtos epidémicos que tiveram lugar nos séculos XVII e XVIII. Uma exceção apenas: o final do século XVII, definido por uma constante de fomes e epidemia, foi o momento mais alto da assistência hospitalar aos escravos e libertos, e também o de maior número de mortos, a ter-se como certos os enterramentos feitos pela Misericórdia. O mesmo já não poderá dizer-se dos surtos epidémicos de 1751 e 1768: mantém-se o número elevado de mortos, sem consonância com o registo de assistência hospitalar. Será esta ausência do escravo resultado de uma secundarização em favor dos livres a quem deveria ser dada prioridade? Eis uma questão a que só os próprios. Registe-se, ainda, que a presença de escravos é mais evidente em condições normais do que nas conjunturas epidémicas. É o caso, por exemplo, das décadas de 20 e 40 do século XVIII. Além disso a reduzida dimensão do número de escravos assistidos no hospital não é indicativo de que eles tenham permanecido imunes, pois a mortalidade é elevada, como se pode comprovar pelos valores das décadas de 1691-1700, 1741-70. Os escravos não são assíduos na frequência ao hospital, sendo reduzido o número dos internados no hospital por mais de uma vez: TOTAL DE ESCRAVOS DOENTES

ESTADIAS DUAS

420

TRÊS

N.º

%

N.º

%

32

7,6

7

2

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

E a situação repete-se com os que se submeteram ao tratamento com unturas: TOTAL UNTURAS 177

2ª CAMADA

3ª CAMADA

N.º

%

N.º

%

3

1,6

5

2,8

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816). 19 Atente-se na falta de sincronia da maior parte desta informação, o que não nos permite cruzar os diversos aspetos. Chama-se ainda a atenção para o facto de estes valores serem resultados dos registos de entrada, havendo alguns escravos que se repetem em qualquer das situações.

18

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 Visto o quadro dos doentes, à luz do sexo, constata-se um certo equilíbrio. A diferença é notória apenas na relação de cada grupo com os livres. O mesmo já não poderá dizer-se quanto à cor da pele. No grupo dos negros e mulatos dominam os homens. Se encararmos a situação, após as correções dos escravos que surgem referidos por mais de que uma vez, constata-se algo de diferente: no caso dos pretos e mulatos o sexo masculino ultrapassa os 60%; no global os doentes do sexo masculino assumem uma posição igual, apenas se invertendo quanto aos enterros. MOVIMENTO NO HOSPITAL. ESCRAVOS ENTRADAS %

UNTURAS %

INCURÁVEIS %

ÓBITOS %

HOMENS

0,2

8,4

0,2

3,4

MULHERES

0,4

9,8

0,3

2,4

TOTAL

0,3

9,1

0,2

2,9

Observação: a % é em relação ao total em questão FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

No grupo dos libertos a situação inverte-se: aqui é maior a percentagem de mulheres. E isto repete-se quando encaramos o movimento global e a situação corrigida. Apenas com os mulatos e os não identificados o sexo masculino surge numa posição maioritária. MOVIMENTO NO HOSPITAL. LIBERTOS ENTRADAS

UNTURAS

INCURÁVEIS

ÓBITOS

HOMENS

0,7

2,1

0,3

0,9

MULHERES

14,6

4,2

1,8

1,8

TOTAL

7,7

3,2

1,1

1,4

Observação: a % é em relação ao total FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

Tudo isto quererá testemunhar que dentro do grupo das mulheres as escravas são mais propícias às infeções, do que os congéneres do sexo masculino. Além disso pode-se afirmar que as maleitas que sofrem são de carácter prolongado e inspiradoras de extremos cuidados, o que provocava maior número de internamentos. Tudo isto é mais evidente com o grupo dos libertos.

ASSISTÊNCIA NA MORTE Outro campo de intervenção da Misericórdia era o serviço de enterramento dos mortos, assegurado aos irmãos, pobres e todos os mais que o solicitavam por testamento20. Este serviço era gratuito aos pobres, sendo aos demais, onde se incluíam os escravos, feito mediante uma esmola, que no caso era do proprietário. Esta não era fixa, dependendo das exigências do ato fúnebre e das posses de cada um. No caso dos escravos o seu valor oscilava entre 200 e 600 réis21, sendo o mais comum 320 e 400 réis. Nos forros, tirando uma maioria que surge na situação de pobres, o padrão era mais elevado era de 1000 a 2000 réis. Ainda queremos afirmar que o confronto destes dados com os dos registos paroquiais permite-nos 20 Esta parece ter sido uma opção comum a escravos e libertos. Confronte-se VIEIRA, 1991: 217 21 Há casos em que isto é contrariado. Assim em 1657, António Borges entregou 3 220 réis de esmola para o enterro do seu escravo João.

19

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 aferir a fiabilidade dos paroquiais e ao mesmo tempo testemunhar que o resultado final da mortalidade era a junção dos dois, uma vez que só eram registados nos paroquiais aqueles que usavam a cova da fábrica. Caso fossem para a capela da Misericórdia o registo fazia-se aí. Por isso esta nova situação permite-nos corrigir os dados já avançados sobre os óbitos de escravos, estando encontrada a resposta para as dúvidas que em outra altura colocamos22. ÓBITOS DE ESCRAVOS E LIVRES. OS REGISTOS PAROQUIAIS E MISERICÓDIA TOTAL GERAL

ESCRAVOS/LIBERTOS ESCRAVOS

LIBERTOS

TOTAL

N.º

%

N.º

%

N.º

%

ESMOLAS A MISERICÓRDIA POR ENTERRO.1596-1750 (1)

11 380

1 474

12,9

76

0,7

1 550

13,6

ÓBITOS NO FUNCHAL. PAROQUIAIS (2)

12 079

1040

8,6

146

1,2

1 186

9,8

1) Faltam anos 1600-1629 2) mesmos anos dos enterros FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

Tendo em conta o facto de os registos paroquiais disponíveis não estarem completos pode-se afirmar que na segunda metade do século dezassete os escravos assumem, por aqui, uma importância desmesurada no movimento da mortalidade. Todavia a partir de 1681-90 esse valor entra numa curva ascendente, que deverá resultar da diminuição da sua presença na sociedade madeirense, situação por demais evidente a partir de 1721-30. ÓBITOS DE LIVRES E ESCRAVOS DÉCADA

TOTAL

ESCRAVOS (1) N.º

%

1631-40

631

61

9,7

1641-50

274

169

61,7

1651-60

479

163

34

1661-70

484

134

27,7

1671-80

612

268

43,7

1681-90

614

170

27,7

1691-1700

975

280

16,6

1701-10

812

132

16,3

1711-20

638

126

19,7

1721-30

1089

144

13,2

1731-40

2395

169

7,1

1741-50

2679

280

10,1

1751-60

3034

217

7,2

TOTAL

14716

2160

14,7

1) Dados dos registos paroquiais e Misericórdia FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816). 22 Confronte-se VIEIRA, 1991: 105-112.

20

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 AS DESPESAS COM A SAÚDE Os livros em análise são de receita e despesa é, por isso, neste aspeto particular que eles devem merecer a nossa atenção. Aqui apenas foi possível reunir dados no período de 1598-1674 para os enterramentos e de 1694 a 1778 para despesas de saúde. DESPESAS COM OS CUIDADOS E ENTERRO NA MISERICÓRDIA DO FUNCHAL DÉCADA

SAÚDE TOTAL

1591-1600

244 300

ENTERRO

ESCRAVOS N.º

%

186 000

76,1

TOTAL

ESCRAVOS ESCRAVOS LIBERTOS

1621-30

TOTAL N.º

10 400

2 200

12 600

16 960

200

17 160

%

1631-40

114 510

11 820

2 970

14 790

12,9

1641-50

477 914

47 010

3 160

50 170

10,5

1651-60

896 950

144 030

5 300

149 330

16,6

1661-70

372 140

59 740

4 100

63 840

17,2

1671-80

250 495

39 400

850

40 250

16,1

2 112 009

302 000

16 380

318 580

15,1

1721-30

553 082

282 220

51

1731-40

607 500

233 750

38,4

1741-50

632 510

197 925

31,3

1751-60

429 300

196 350

45,7

1761-70

240 760

112 000

46,5

1771-80

377 150

195 180

51,7

TOTAL

3 328 902 1 217 425

36,6

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

Por aqui se confirma que, quer ao nível dos cuidados de saúde, quer nos atos fúnebres, a Misericórdia tinha uma função fundamental junto dos escravos. Isto atesta do total cumprimento da sua missão humanitária. Esta situação era reconhecida pelos próprios, que quando libertos e ao estabelecerem os seus encargos por morte não escondiam a sua preferência pela Misericórdia. Ainda, quanto à prestação dos cuidados de saúde é de salientar a importância assumida por estes no conjunto das receitas - ultrapassando situando-se em alguns casos acima dos cinquenta por cento. Aqui há a considerar o facto de muitos cidadãos livres aparecerem sob a condição de pobres (o mesmo sucedendo aos libertos), sem meios para assegurar tal despesa, enquanto o escravo, através do seu senhor, como é óbvio, não poderia entrar nesse grupo. Os escravos foram responsáveis por 37% das receitas arrecadadas pelo hospital da Misericórdia, cabendo a cada um a média de 5363 réis, e por 15% das esmolas arrecadadas com os enterramentos, com a média de 486 réis. Isto prova o inestimável apoio dado pelos senhores aos seus escravos, quer na doença, quer na morte. A análise da despesa de cada um dos proprietários é ainda mais elucidativa. Assim, para um total de 976 proprietários de escravos, que aceitaram enterrá-los na capela da Misericórdia, corresponde a despesa média de 326 réis, enquanto para 576 proprietários que deram assistência aos escravos na doença a

21

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 despesa média foi de 2$113 réis. As despesas hospitalares eram estabelecidas de acordo com o período de permanência e os tipos de curativos: uma diária custava 100 réis e as unturas não se faziam por menos de 6$000 réis. De um modo geral o proprietário desembolsava entre 6$000 e 9$000 por isso. Mas há casos de custos mais elevados: Francisco Lira em 1723 pagou 24$300 réis pelos curativos de um escravo preto; Francisco Ornelas, em 1759, 19$200 réis por um escravo; António João Correia, em 1762, 23$600 pelo seu mulato; Manuel Fernandez em 1776 desembolsou pela sua escrava Antónia 18$800 réis. Se tivermos em conta que o valor médio de venda de um escravo nesta época andava pelos 50$000 réis teremos definida a importância desta despesa23. A estes encargos deverá somar-se a inutilização dos seus serviços, no período da doença. Alguns proprietários tiveram de entregar ao hospital quantias elevadas pelos seus escravos assistidos no hospital: Nuno de Freitas por 12 escravos pagou 83$050, enquanto António João Correia, por oito escravos, deu 76$500 réis. Este empenho e despesa não poderá ser justificado apenas pela importância económica do escravo.

ESCRAVOS E LIBERTOS. NOVO PONTO DA SITUAÇÃO Os dados retirados da documentação da Misericórdia do Funchal permitem-nos aclarar alguns aspetos da situação da escravatura na Madeira para os séculos XVII e XVIII. No global temos1270 proprietários para 1623 escravos. Note-se que o maior número de proprietários situa-se no século dezassete, sendo de realçar o grupo daqueles que provêm dos registos pelo enterro, com cerca de 70%.

NUMERO DE ESCRAVOS

DOENTES

ENTERROS

TOTAL

N.º

%

N.º

%

N.º

%

1

491

82

681

73

1172

77

2

63

11

137

15

200

13

3

23

4

56

6

79

5

4

9

1,5

25

3

34

2

+4

10

1,5

30

3

40

3

TOTAL

596

-

929

1525

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

Isto poderá ser o indício da paulatina redução do número de escravos e, por consequência, de proprietários dos mesmos. Acresce ainda que o número de escravos de cada proprietário é em geral reduzido, surgindo mais de 70% com apenas um. Daqui é fácil concluir que o escravo deixou de assumir a importância que teve na estrutura sócio-económica madeirense e que a sua persistência fez-se apenas por uma questão de prestígio pessoal. Todos ou quase todos encontram-se numa situação semelhante aos pajens e criados, dando corpo a uma escravatura patriarcal. Esta última realidade sai reforçada quando atendemos a situação socioprofissional destes proprietários. Aqui o grupo de oficiais mecânicos é muito reduzido e os poucos estão ligados à atividade urbana, o que poderá ser indício da sua vinculação às suas oficinas. A ligação ao mundo rural far-se-á apenas pelo grupo dos oficiais das ordenanças e do clero.

23 Cf. João José Abreu de SOUSA, O movimento do Porto do Funchal..., Funchal, 1989, p. 174.

22

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7

GRUPOS PROFISSIONAIS

N.º

%

CLERO

117

9

MILITARES

PERMANENTE

8

ORDENANÇAS

48

4

OFQCIOS MECÂNICOS

18

1

COMIRCIO

9

FUNCIONÁRIOS

42

3

1028

83

OFQCIO NÃO DETERMINADO TOTAL

1270

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

Com podemos verificar a importância dos escravos na sociedade madeirense é reduzida. No global, os escravos presentes nesta documentação, fica-se por apenas 1623, que adicionado aos 531 libertos dá uma população de pouco mais de dois milhares, valor pouco significativo para uma média de mais de 50.000 habitantes. Quanto ao sexo há uma diferença evidente entre os ESCRAVOS

DOENTES

ENTERROS

TOTAL

MAS.

FEM.

TOTAL

MASC.

FEM.

TOTAL

MASC.

FEM.

TOTAL

PRETO

154

67

221

76

64

140

230

131

361

MULATO

20

9

29

15

23

38

49

24

73

OUTROS

231

184

415

339

451

790

570

635

1205

TOTAL

395

260

655

430

538

968

825

798

1623

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

escravos e os libertos. No primeiro caso domina o masculino, enquanto no segundo é dominado pelo feminino. Isto quererá dizer que havia uma maior possibilidade das escravas alcançarem a liberdade que os escravos. Todavia, esta situação evidencia para o século dezassete, já o não é para a centúria seguinte – o sexo feminino representa 65% –, onde pontua o equilíbrio entre ambos os sexos. LIBERTOS

DOENTES

ENTERROS

TOTAL

MAS.

FEM.

TOTAL

MASC.

FEM.

TOTAL

MASC.

FEM.

TOTAL

PRETO

82

138

220

41

103

144

185

241

426

MULATO

17

21

38

17

10

27

55

31

86

OUTROS

9

7

16

3

3

12

7

19

TOTAL

108

166

274

61

174

252

279

531

113

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

A conclusão mais evidente de tudo isto é de que a escravatura assume-se na Madeira como um fenómeno particular muito aquém da realidade americana. A vida económica da Madeira, a forma de organização da sociedade e da estrutura fundiária não permitiram que o fenómeno atingisse a sua plenitude e retiraram rapida-

23

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 mente a ilha do mundo escravista colonial atlântico. O escravo continuou a existir até à abolição da escravatura no século dezanove, mas a sua situação confunde-se com a dos criados e serviçais, sendo difícil, por vezes, destrinçar uns dos outros. Daqui resulta o facto de podermos definir esta como uma escravatura patriarcal, que não pode ser associada, desde a sua origem, aos demais fenómenos insulares e continentais do espaço atlântico.

FONTES Para o presente estudo partimos da informação referente ao Hospital da Misericórdia do Funchal para o período de 1598-1909. Livros consultados e partir dos quais foram feitos os quadros ao longo do texto e em anexo. Livro de Contas, N.º .163-164, 1688-1691, 1810-1813; Livro de Contas de António Vieira de Afonseca, n.º 165-171, 1847-1752; Livro de Contas de Francisco Homem de Abreu, n.º 172-174, 1735-1743; Livro de Contas de João Baptista, n.º 175, 1687-1690; Livro de Contas de Luís de Atouguia, n.º 176, 1667; Livro de Contas do padre Agostinho Cordeiro Bernardes, n.º 177, 1708-1723; Livro de Contas do Senhor Jesus, n.º 178, 1733-34; Livro de Contas de Simão Nóbrega, n.º 179-183, 1715-1746; Livro de Contas Correntes, n.º 185-191, 1804-1910; Livro de entradas e saída de doentes e contas da gaveta, n.º 230-296. 708, 1739-1812; Livro do Borrador da Gaveta, n.º 319-341, 1762-1812; Livro de Gastos da Gaveta, n.º 342-407, 1689-1816; Livro de Receita e Despesa, N.º.492-664, 1598-1909.

BIBLIOGRAFIA ARAGÃO, António, A Madeira vista por Estrangeiros, Funchal: DRAC, 1981; BARROW, “Uma Visão da Madeira. A Viagem à Volta do Mundo no Navio Resolution sob o Comando do Capitão Cook (1722-1775)”, in Atlântico, n.º 5, Funchal, 1986; BRANCO, Jorge Freitas, Camponeses da Madeira, Lisboa, 1987; BRAUDEL, Fernand, Civilisation Matérielle, Économie et Capitalisme. XVe-XVIIIe Siècle. Les Structures du Quotidien, Paris, 1979; BURGUIORE, André, “Antropologia Histórica”, in: A Nova História, Coimbra, 1990; CIPOLLA, C.M., História Económica da Europa Pré-industrial, Lisboa, 1984, pp. 179-18; COSTA, José Pereira da, Assistência Médico-Cirúrgica do Funchal, Funchal, 1992; CRESPO, Jorge, A História do Corpo, Lisboa, 1990, pp.53-118; FERRAZ, Maria L. F., “A cidade do Funchal na segunda metade do século XVIII, freguesias urbanas” in II CIHM, Funchal, 1990, pp. 265-284;

24

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 FIGUEIREDO, A. Bandeira, Introdução à História Médica da Madeira, Porto, 1963; FOGEL, Robert W., ENGERMAN, Stanley T., Time on the cross: the economics of american slavery, 2 vols, Boston, 1974; KIPLE, Kenneth F., Another Dimension in the Black Diaspora: Diet, Disease and Racism, Cambridge, 1981; LEBRUN, François, Les Hommes et la Mort en Anjou aux XVIIe et XVIIIe Siècles, Paris, 1975; LEBRUN, François, Se soigner autrefois. Médicins saints et sorciers aux 17e et 18e siècles, Paris 1983; LEMOS, Maximiano, História da Medicina em Portugal. Doutrinas e Instituições, 2 vols, Lisboa, 1991; MARGO, Robert A e STECKEL, R. H., “The nutrition and health of slaves and antebellum southern whites”, in Robert W. FOGEL e Stanley L. ENGERMAN, Without consent or contract. Conditions of slave life and the tansition to freedom. Technical papers, vol. 2, Nova York, 1992, pp. 508-521; MARQUES, Mário Gomes e John CERLE (eds.), The Great Maritime Discoveries and World Health, Lisboa, 1991; PINTO, Maria L. R. e Teresa RODRIGUES “Aspectos do Povoamento das Ilhas da Madeira e Porto Santo nos Séculos XV e XVI”, in: III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal: CEHA, 1992; ROTBERG, Robert et e Th. K. RABB (comps), El Hambre en la Historia, Madrid, 1990 RUSSELL-WOOD, A.J.R., Fidalgos and Philanthropists. The Santa Casa da Misericórdia of Bahia, 15501755, London, 1968; SILVA, Fernando A., A Antiga Escola Médico-cirúrgica do Funchal: Breve Monografia Histórica, Funchal, 1945; SOUSA, João José Abreu de, O Movimento do Porto do Funchal e a Conjuntura da Madeira de 1727 a 1810. Alguns Aspectos, Funchal: DRAC, 1989; STECKEL, Richard H., “Work, Disease, and Diet in the Health and Mortality of American Slaves”, in: Robert W. FOGEL e Stanley L. ENGERMAN, Without Consent or Contract. Conditions of Slave Life and the Transition to Freedom. Technical Papers, vol. 2, Nova York, 1992, pp. 489-507. SUTCH, Richard, “The Treatment Received by American Slaves: a Critical Review of the Cross Explorations in: Economic History, 1975, 12: 335-438; VIEIRA Aires dos Passos, Elementos para a História da Vida Quotidiana da Madeira na Governação de João Gonçalves da Câmara Coutinho (1777-1780), Lisboa, 1991; VIEIRA, Alberto et alia “O Município do Funchal (1550-1650)” in: I Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal: CEHA, 1989, pp. 1004-1089; VIEIRA, Alberto, “A Administração do Município do Funchal (1470-1489)”, in: II Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal: CEHA, 1990; VIEIRA, Alberto, “O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira no Século XVII” in: Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol XLI, 1983, 651-676; VIEIRA, Alberto, Os Escravos no Arquipélago da Madeira Séculos XV-XVIII, Funchal: CEHA,1991.

25

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 ANEXO DE QUADROS OS ESCRAVOS NO HOSPITAL DA MISERICÓRDIA DO FUNCHAL. HOMENS DÉCADA

ENTRADAS TOTAL

UNTURAS

ESCRAVOS N.º

%

2

0,2

TOTAL

INCURÁVEIS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

ÓBITOS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

ESCRAVOS N.º

%

1596-99 1630-40

886

1640-50

1698

1650-60

1601

1

-

1660-70

971

2

0,2

154

7

4,5

107

1670-80

1233

2

0,1

196

12

6,1

108

1680-90

1378

1

-

217

17

7,8

150

1690-1700

3291

10

0,5

307

32

10,4

189

1700-10

1773

10

0,6

155

18

11,6

1 115 1

0,9

146

72

3

4,1

1710-20

103

348

12

3,4

1720-30

107

432

21

4,8

1730-40

367

11

2,9

1740-50

468

10

2,1

1687

57

TOTAL

12831

28

1029

86

1082

2

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

OS ESCRAVOS NA MISERICÓRDIA DO FUNCHAL. MULHERES DÉCADA

ENTRADAS TOTAL

UNTURAS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

INCURÁVEIS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

ÓBITOS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

ESCRAVOS N.º

%

1596-99 1630-40

542

11

2

27

2

1640-50

966

2

0,2

18

-

1650-60

1015

2

0,1

108

-

1660-70

728

7

0,9

122

10

8,1

92

1

1670-80

964

1

0,1

217

9

4,1

126

1680-90

1033

1

-

236

17

7,2

159

1690-1700

2717

6

0,2

273

39

14,2

194

856

1

0,1

78

6

7,6

164

17

1710-20

150

277

8

2,9

1720-30

133

401

14

3,5

1730-40

280

9

3,2

1740-50

419

3

0,7

1394

34

1700-10

TOTAL

8821

31

10

926

91

1171

3

7

1

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

26

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 OS LIBERTOS NA MISERICÓRDIA DO FUNCHAL. HOMENS DÉCADA

ENTRADAS TOTAL

UNTURAS

ESCRAVOS N.º

INCURÁVEIS

TOTAL ESCRAVOS

%

N.º

TOTAL

%

ÓBITOS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

ESCRAVOS

%

N.º

%

1596-99 1630-40

886

15

1,7

1640-50

1698

11

0,6

1650-60

1601

6

0,4

1660-70

971

5

1670-80

1233

3

1680-90

1378

1690-1700 1700-10

1 115 154

6

3,8

107

1

0,9

0,2

196

2

1

108

17

1,2

217

8

3,7

150

3291

15

0,5

307

4

1,3

189

1

0,5

1773

13

0,7

155

2

1,3

146

72

2

0,3

1710-20

103

348

2

0,6

1720-30

107

432

3

0,7

1730-40

367

7

1,9

1740-50

468

1

0,2

1687

15

TOTAL

12831

85

1029

22

1082

3

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

OS LIBERTOS NA MISERICÓRDIA DO FUNCHAL. MULHERES DÉCADA

ENTRADAS TOTAL

UNTURAS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

INCURÁVEIS

ÓBITOS

ESCRAVOS TOTAL ESCRAVOS TOTAL ESCRAVOS N.º

%

N.º

%

N.º

%

1596-99 1630-40

542

24

4,4

1640-50

966

24

2,5

1650-60

1015

26

2,6

1660-70

728

13

1,8

122

12

9,8

92

1670-80

964

17

1,7

217

9

4,1

126

1680-90

1033

16

1,5

236

12

5

1690-1700

2717

40

1,5

273

3

856

50

0,6

278

1

1700-10

27

5

18,5

18

3

16,6

108

7

6,5

159

3

1,8

0,12

194

1

0,5

0,3

164

1

0,6

2

1

5,8

277

6

2,1

401

11

2,7

1730-40

280

4

1,4

1740-50

419

3

0,7

1394

25

1710-20

150

-

1720-30

133

1

TOTAL

8821

129

926

39

1171

21

0,7

17

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

27

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 CUIDADOS DE SAÚDE NO HOSPITAL. LIBERTOS DÉCADA

ENTRADAS TOTAL

UNTURAS

ESCRAVOS N.º

%

TOTAL

CURATIVOS

ESCRAVOS N.º

TOTAL

%

INCURÁVEIS

ESCRAVOS N.º

TOTAL ESCRAVOS

%

N.º

%

1596-99 1630-40

1428

39

3

27

6

1640-50

2664

35

1,3

18

5

1650-60

2616

32

1,2

223

7

1660-70

1699

18

1

276

18

9

199

1

1670-80

2197

20

0,9

413

11

3

234

-

1680-90

2411

33

1,3

453

20

4

309

3

1690-1700

6008

55

0,9

580

7

1

383

1

1700-10

2629

18

0,7

233

3

1

310

1

253

-

240

1

2196

25

2

1710-20 1720-30

1

1730-40

148

1740-50

92

1750-60

113

1760-70

45

1770-80

138

T0TAL

21652

250

1955

61

536

2

1 4

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

CUIDADOS DE SAÚDE NO HOSPITAL. ESCRAVOS DÉCADA

1596-99 1630-40 1640-50 1650-60 1660-70 1670-80 1680-90 1690-1700 1700-10 10-20 1720-30 1730-40 1740-50 1750-60 1760-70 1770-80 T0TAL

ENTRADAS TOTAL ESCRAVOS N.º % 1428 2664 2616 1699 2197 2411 6008 2629

21652

13 2 3 9 3 2 16 11

59

0,9 0,1 0,1 0,5 0,1 1,1 0,2 0,4

TOTAL

276 413 453 580 233

1955

UNTURAS ESCRAVOS N.º %

10 17 21 34 71 24

CURATIVOS INCURÁVEIS TOTAL ESCRAVOS TOTAL ESCRAVOS N.º % N.º %

6,1 5,1 7,5 12,2 10,3

177

148 92 113 45 138 536

55 34 37 15 43 184

27 18 223 199 234 309 383 310 253 240

2 1

7,4 5,5

1

0,5

2742

4

37 37 33 33 31

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

28

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 O HOSPITAL E A ASSISTÊNCIA NA MORTE AOS ESCRAVOS DÉCADA TOTAL 1596-99 1630-40 1640-50 1650-60 1660-70 1670-80 1680-90 1690-1700 1700-10 1710-20 1720-30 1730-40 1740-50 1750-60 1760-70 1770-80 T0TAL

78 757 1150 1142 643 1462 1189 1599 672 824 1034 450 458 -

11458

ESMOLAS ESCRAVOS N.º % 10 59 8 168 15 159 14 132 17 255 17 162 14 171 11 74 11 103 13 93 10 38 8 44 10 6

ÓBITOS TOTAL ESCRAVOS N.º %

89 625 833 647 887

1474

3 20 35 20 13

ENTERROS TOTAL ESCRAVOS N.º %

1142 643 501

158 132 64

2286

354

3 3 4 3 2

101

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

ASSISTÊNCIA NA MORTE AOS LIBERTOS DÉCADA

1596-99 1630-40 1640-50 1650-60 1660-70 1670-80 1680-90 1690-1700 1700-10 1710-20 1720-30 1730-40 1740-50 1750-60 1760-70 1770-80 T0TAL

ESMOLAS TOTAL ESCRAVOS N.º % 78 1 757 5 22 1150 11 27 1142 15 3 643 8 1,5 1462 19 1189 0,9 1599 0,2 672 0,3 824 4 1034 4 0,4 1450 4 458 5 1

10345

76

ÓBITOS TOTAL ESCRAVOS N.º %

89 625 833 647 887

3 8 14 11 4

3081

40

ENTERROS TOTAL ESCRAVOS N.º % 1 5 9 1142 15 643 8 501 7

3,3 1,2 1,7 1,7 0,1

2286

46

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

29

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 ESCRAVOS E LIBERTOS NOS CURATIVOS. 1694-1778 Total 1694-95 1695 1698 1723-24 1725-26 1726-27 1727-28 1728-29 1729-30 1730-31 1731-32 1732-33 1733-34 1734-35 1735-36 1737-38 1742-43 1743-44 1744-45 1745-46 1750-51 1751-52 1752-53 1755-56 1756-57 1759-60 1761-62 1762-63 1766-67 1770-71 1772-73 1774-75 1775-76 1776-77 1777-78

25 12 12 13 14 13 29 17 17 20 16 20 27 24 32 9 17 33 29 13 8 24 17 22 20 22 18 20 7 27 25 22 16 28 20

Escravos N.º % 2 2 8 11 14 5 12 6 6 6 30 7 44 10 50 7 26 8 33 13 41 4 44 5 29 11 33 11 38 7 54 4 50 9 38 5 29 6 27 5 25 8 36 5 28 8 40 2 29 12 44 7 28 6 27 9 56 7 25 2 10

Liber­tos N.º % 1

1

1 1

1

5

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

30

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 DESPESAS COM OS CURATIVOS DOS ESCRAVOS Total 1694-95 1695 1698 1723-24 1725-26 1726-27 1727-28 1728-29 1729-30 1730-31 1731-32 1732-33 1733-34 1734-35 1735-36 1737-38 1742-43 1743-44 1744-45 1745-46 1750-51 1751-52 1752-53 1755-56 1756-57 1759-60 1761-62 1762-63 1766-67 1770-71 1772-73 1774-75 1775-76 1776-77 1777-78

118 850 75 700 49 750 76 500 69 782 34 600 216 700 44 750 61 000 63 550 40 200 70 960 118 600 172 000 120 290 21 900 110 700 96 950 201 320 32 950 170 590 104 900 77 800 92 550 69 650 84 400 97 210 100 000 43 550 55 000 90 000 71 300 63 500 121 000 66 350

Escravos N.º 80 500 12 000 33 500 37 700 48 380 18 190 92 850 14 600 37 000 24 550 25 200 43 100 35 150 43 000 49 350 13 400 19 400 47 200 66 280 11 800 53 245 66 650 49 700 7 000 10 400 62 600 14 950 85 500 11 550 52 100 44 950 33 200 46 680 15 850 2 400

% 68 16 67 49 69 53 43 33 61 39 63 61 30 25 41 61 18 49 33 36 28 64 64 6 15 74 15 86 27 95 50 47 74 13 36

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

31

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 POMPAS FUNEBRES PELA MISERICÓRDIA Total 1598-99 1601 1623-24 1630-31 1635-36 1639-40 1640-41 1643-44 1646-47 1647-48 1648-49 1649-50 1650-51 1651-52 1653-54 1654-55 1655 1656-57 1657-58 1658-59 1659-60 1663-64 1664-65 1665-66 1666-67 1667-68 1668-69 1671-72 1672-73 1673-74

157 78 152 176 173 111 139 99 123 92 272 150 184 146 65 97 94 169 117 120 83 43 126 158 91 142 123 184 194

Escravos N.º % 9 6 9 12 17 11 25 14 9 5 23 21 22 33 24 20 20 16 13 26 28 58 21 20 13 21 11 19 13 21 32 16 16 11 12 15 9 13 11 22 18 6 7 20 47 23 18 48 30 18 20 17 12 16 13 13 7 35 18

Libertos N.º % 1 1 1 2 2 2 3 1 3 1 2 3 2 1 2 2 2 3 1 1 1 2 1 3 3

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

32

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 ESMOLAS PARA O ENTERRO PELA MISERICÓRDIA Total 1598-99 1601 1623-24 1630-31 1635-36 1639-40 1640-41 1643-44 1646-47 1647-48 1648-49 1649-50 1650-51 1651-52 1653-54 1654-55 1655 1656-57 1657-58 1658-59 1659-60 1663-64 1664-65 1665-66 1666-67 1667-68 1668-69 1671-72 1672-73 1673-74 Total

114 510 116 540 90 220 107 950 101 540 166 550 129 510 136 830 93 720 122 160 119 260 84 370 14 420 98 440 98 240 53 130 86 970 65 850 83 100 83 090 79 700 97 540 73 255

Escravos N.º % 8 100 2 300 6 660 10 300 3 060 8 460 7 6 480 5 930 5 5 480 6 5 240 5 2340 2 21 540 13 7 152 6 9 960 7 8 830 9 9 360 8 9 040 8 5 480 6 11 040 79 8 900 9 9 900 10 3 340 16 10 520 12 12 850 20 17 130 7 350 9 8 550 10 10 850 14 7 700 9 20 850 28

Libertos N.º % 200 2 000 200 620 2 150 1 300

2

1 100 40

1,2

720 640 400 760

0,4 0,5 0,4 0,8

500 480

0,4 0,6

1 600 1 400

1,4 1,4

2 200 300 1 600 250 600

0,4 2 0,3 0,6

FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

33

Anuário do CEHA 2015 • N.º 7 ÓBITOS NO FUNCHAL. REGISTOS PAROQUIAIS E HOSPITAL Total



Escravos N.º

%

1538-40

108

3

2,8

1541-50

402

10

2,5

1551-60

516

13

2,5

1561-70

338

9

2,7

1571-80

444

6

1,4

1581-90

328

5

1,5

1591-1600

397

-

1601-10

310

2

0,6

1611-20

315

3

0,9

1621-30

380

2

0,5

1631-40

631

2

1641-50

274

1651-60

Óbitos

Doentes

Escravos N.º

%

117 10

49

13

26,5

0,3

59

2656

65

2,4

1

0,4

168

2933

43

1,5

479

4

0,8

159

2730

54

2

1661-70

484

2

0,4

132

1672

64

3,8

1671-80

612

13

2,1

255

2403

55

2,3

1681-90

614

8

1,3

162

2758

92

3,3

1691-1700

975

109

11,2

171

6022

150

2,5

1700-10

812

57

7

74

2629

57

2,2

1711-20

638

23

3,6

103

625 (1)

1721-30

1089

51

4,7

93

1193 (1)

56

4,7

1731-40

2395

131

5,5

38

647 (1)

57

,8

1741-50

2679 (1)

236

8,2

44

852 (1)

34

4

1751-60

3034

211

7

6

2467 (1)

37

1,5

1761-70

2682

159

5,5

692 (1)

16

2,3

1771-80

3187

151

4,7

2227 (1)

43

1,9

1781-90

1968

100

5,1

1087 (1)

1791-1800

1825

25

1,4

1)Dados da freguesia de S. Pedro estão incompletos FONTE: Livros de Receita e Despesa da Misericórdia do Funchal (1598-1816).

34

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