A ATUAÇÃO DE PROFESSORAS SUPERVISORAS DO PIBID: DE COADJUVANTES A PROTAGONISTAS

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A ATUAÇÃO DE PROFESSORAS SUPERVISORAS DO PIBID: DE COADJUVANTES A PROTAGONISTAS Arthur Paulino da Silva; Francisca Raquel Alves Moreira; José Enéas Filho; Joyce Brito dos Santos; Angélica Araújo de Melo Maia (Coordenadora) [email protected]; Maura Regina da Silva Dourado (Coordenadora)[email protected]

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-Letras/Inglês - UFPB

Introdução

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), enquanto programa extracurricular, vem se consolidando como política pública e orgânica na área de formação de professores, ao redesenhar papéis sociais para os bolsistas, que são inseridos de forma intensiva nas rotinas das escolas, para os professores supervisores, que assumem o papel de coformadores, bem como para os professores coordenadores, cujos papéis se hibridizam como orientador, gestor, colaborador no processo de transposição da teoria para a prática.No relatório de gestão da Capes,

[o] Pibid oferece bolsas para que alunos de licenciatura exerçam atividades pedagógicas em escolas públicas de educação básica, contribuindo para a integração entre teoria e prática, para a aproximação entre universidades e escolas e para a melhoria de qualidade da educação brasileira. Para assegurar os resultados educacionais, os bolsistas são orientados por coordenadores de área – docentes das licenciaturas - e por supervisores - docentes das escolas públicas onde exercem suas atividades. (BRASIL, 2013, p.67)

Considerando a importância das professoras supervisoras das escolas-campo no âmbito do projeto, conforme destacado no edital, e o fato de que o PIBID também deve se configurar como um espaço de formação para essas supervisoras, o objetivo geral desta pesquisa é observar e analisar o impacto das ações do subprojeto Letras-Inglês nas professoras supervisoras do subprojeto. Como objetivos específicos, estabelecemos: mapear os perfis das professoras supervisoras; traçar os papéis que as professoras supervisoras desempenham no conjunto das ações do subprojeto; identificar como as professoras supervisoras se percebem no subprojeto Tendo em vista que o Art. 42 do Portaria 096/2013 da CAPES atualiza as normas do PIBID, especificamente a primeira cláusula, que, por sua vez, estabelece que o supervisor do PIBID deve elaborar, desenvolver e também acompanhar atividades dos bolsistas nas escolas, dialogaremos com

outro estudo que problematiza como essas ações podem ser assumidas pelos supervisores nas escolas, forjando “modos de participação” específicos para esses atores no projeto. Esses modos de participação serão investigados a partir do perfil de cada professora, dos papeis assumidos dentro do subprojeto e de como são suas autopercepções sobre os impactos da participação no PIBID na atuação profissional. Na pesquisa conduzida por Chimentão e Fiori-Souza (2013), são identificados três papéis exercidos pelas supervisoras na realidade observada: o papel de assistente, quando esses supervisores assumem funções relacionadas à “logística, organização e gerenciamento da sala de aula” (p. 189), facilitando o desenvolvimento das ações do PIBID na escola; o papel de coformador, em que o supervisor procura dar conselhos, orientar as ações pedagógicas dos professores em formação; e o papel de aprendiz, em que os supervisores utilizam a experiência do PIBID para ampliar os seus próprios conhecimentos profissionais em uma variedade de aspectos, tais como: “atuação em sala de aula; inovações metodológicas; letramento digital e escrita acadêmica” (p.193). Utilizaremos as categorias acima como referência para entender as visões das supervisoras sobre sua atuação no subprojeto, sugerindo, a partir daí, uma categoria alternativa que surgiu a partir dos dados dessa pesquisa: a de professor parceiro. O intuito é perceber impactos que a inserção no subprojeto possa ter trazido à atuação profissional e à identidade docente das participantes. Metodologia

Esta pesquisa de natureza interpretativista envolve as três professoras supervisoras, que atuam no subprojeto Letras-Inglês. Considerando que o impacto das ações do subprojeto nas professoras supervisoras pode escapar a uma única pergunta objetiva, os autores buscam dar confiabilidade à interpretação dos dados coletados por meio da triangulação das informações obtidas pelos seguintes instrumentos de pesquisa: entrevista oral aberta, questionário escrito, trechos do relatório semestral, notas de campo, depoimentos espontâneos das professoras. Os resultados serão apresentados recorrendo-se a três categorias de análise: o perfil das professoras supervisoras; os papéis desempenhados pelas professoras supervisoras, e a autopercepção das supervisoras sobre sua atuação no subprojeto. Para analisar os papeis

desempenhados pelas professoras supervisoras recorreremos às seguintes categorias de análise: supervisor como aprendiz, parceiro dos alunos em formação e coformador.

Resultadose Discussão

1. Perfil das professoras supervisoras: quem são as nossas protago nistas? Formadas em Letras (Português-Inglês), as três supervisoras serão referidas como S1, S2 e S3 de acordo com a descrição a seguir. A primeira leciona na EEEFM Prof. Luiz Gonzaga Albuquerque Burity (S1), formada pela UFPB em (2010),atua há três (03) anos no ensino médio. A segunda leciona na EEEM Escritor José Lins do Rego (S2), formada pela (Fundação Francisco Mascarenhas, em Patos em 1985), atuando há 22 anos no ensino fundamental e médio. A terceira supervisora leciona na EMEF Chico Xavier (S3), formada pela UFPB em (1988) atua há 28 anos no ensino regular. Esta professora está no subprojeto desde o seu início em 2014, enquanto as restantes iniciaram sua participação no subprojeto neste ano letivo. As três escolas somam 2.704 alunos. 2. Papéis desempenhados pelas professoras supervisoras Nos diferentes instrumentos de pesquisa, pode-se observar que as professoras supervisoras assumem diferentes papéis. Ora se constroem como coformadoras, ora como parceiras dos alunos em formação, ora como aprendizes. Com maior familiaridade ao longo dos meses, percebe-se a assunção de papel cada vez mais ativo das supervisoras à medida que dão sugestões para os bolsistas ao término de suas ministrações, relatam as ações mensais do subprojeto nas reuniões mensais, trocam mensagens rápidas pelas redes sociais (Whatsapp, Facebook), conversam, presencialmente ou por telefone, semanalmente com as coordenadoras.

Porque todas as aulas que vocês planejam são importantes, trazem sempre novidades... (S2- entrevista/outubro-2015) Nessa nova metodologia não se utiliza apenas o livro didático, o que muitas vezes requer o uso maior das tecnologias ...E esse recursos muitas vezes são limitados ou não existem. Mesmo assim, os bolsistas vêm se empenhando em trazer esses recursos diferentes para as aulas." (S2-relatório-julho/2015) ... as atividades são preparadas [pelos bolsistas], levando em consideração as limitações técnicas e estruturais da escola. (S3-relatório/julho-2015)

Para as três supervisoras, a relação bolsista x supervisor constrói-se de maneira confortável e harmônica. Há uma relação de parceria, por meio da qual todos dão suas contribuições, gerando uma aprendizagem mútua. Esse aspecto que evidencia, inclusive, as professoras supervisoras como parceiras pode ser identificado nos trechos a seguir: Nossa relação tem sido bem legal. Eu procuro escutar eles, dou algumas orientações. Acredito que esteja sendo muito proveitoso pra todos. (S1-questionário -outubro/2015) A gente ajuda o bolsista e o bolsista nos ajuda no sentido de trazer novidades, de motivar mais as aulas, de elevar a autoestima dos alunos.” (S2 – entrevista/outubro-2015)

Com relação ao impacto do PIBID na forma de ensinar é possível observar que as supervisoras não apenas orientam, como ação prescrita no relatório de gestão da Capes, supracitado, mas, sobretudo, aprendem com a troca de experiências, o diálogo e a interação com os bolsistas. Essediálogo, interação e troca de experiências entre as supervisoras e os licenciandos sugere alteridade, percepção do EU (supervisora) para o OUTRO (licenciando). Nessa dialogicidade, nem o outro nem, tampouco, o eu se configura como passivo, visto que a interação pela lingua(gem) é o espaço em que os sujeitos se constituem como seres sociais (cf. MATSUOKA; SIGNORELLI, 2013) se desenhando e redesenhando. Nesse processo orgânico é inevitável que suas próprias regências sejam impactadas pelas aulas ministradas pelos bolsistas, o que implica que a assunção, por vezes, do papel de aprendizes.

..antes eu dava aquela aula tradicional, o livro. Tinha que seguir aquele conteúdo programático, o plano de curso, o plano anual, ... E com a chegada do PIBID, eu tive a oportunidade de evoluir mais nesse sentido. (S2-entrevista outubro/2015) As aulas ministradas pelos bolsistas possibilitam uma aquisição de novos conhecimentos acerca de práticas didático-pedagógicas ou de maneiras de ministrar conteúdos de forma inovadora, que muitas vezes não havia sido pensado por mim anteriormente. (S3questionário, setembro/2015)

Porém as supervisoras vêm se construindo nesse processo, sem prescrição, cartilha ou manual, cada vez mais como coformadoras. ...fico tranquila em avaliá-los quanto a certos aspectos, principalmente quanto aos pontos positivos observados durante as regências e a os pontos que precisam ser melhorados... Os professores supervisores têm a oportunidade de estabelecer uma rede de relações, conhecimentos e aprendizado com metodologias inovadoras,oportunizando trocas

recíprocas de experiências entre os mesmos e os futuros profissionais de licenciatura , no que tange às maneiras de atuar com os conteúdos.. Através dessas regências vamos aprendendo juntos quais práticas funcionaram e fazendo uma análise acerca das que precisam ser melhoradas." (S3 – questionário, setembro/2015)" Eu percebi que bolsista x não aceita bem quando recebe “críticas”. Só eu tenho essa impressão? Bolsista x tava muito nervoso, até meu aluno percebeu e perguntou. Na semana passada, ele me disse que n gosta de errar. Talvez seja esse o problema. Vou conversar com ele com calma separadamente das meninas (S1, WhatsApp, maio/2015) Vocês podem ir dizendo cada estrofe para eles não se perderem. “Não desanimem, mesmo que eles não prestem atenção o tempo todo, já valeu, é assim mesmo. Com a convivência vocês vão pegando o jeito. (nota de campo de bolsista– orientação de S2 para bolsistas ministrantes/outubro/2015) Na verdade, vou além dos muros da escola e penso em que tipo de pessoas a sociedade toda está formando.Eu, você e a maioria dos nossos amigos temos uma estrutura familiar boa. E isso ajuda tanto. Mas nem todos nossos alunos têm. E, às vezes, a escola acaba sendo o único lugar em que eles têm contato com regras e valores. To falando novidade? Acho que não. Acho que a escola (e eu) tem que assumir toda a responsabilidade? Nãaaaaaoooo! (Kkkk) Mas se a gente puder ir além do nosso conteúdo e dar ouvidos a eles, sairemos todos ganhando. Claro que os limites do respeito ao outro não devem ser ultrapassados. O desafio é grande, companheira (kkkk). Mas não dá pra desanimar. (S1-Post Facebook grupo, outubro/2015)

3. Autopercepção das professoras supervisoras Nos dados, encontram-se indícios específicos que sugerem como as professoras se sentem em participar do subprojeto. São indícios que revelam que as supervisoras se sentem tranquilas, à vontade, que têm expectativas, e que enxergam possibilidades e formas de exercer seus papeis prescritos no edital Capes de supervisoras. eu gosto muito de gente, de estar perto, de conversar, de trocar ideias, de ouvir o que vocês (bolsistas) têm pra dizer. Então, eu fiz um grupo no WhatsApp, pela facilidade e também converso muito com as meninas (bolsistas) pelo facebook. Então estou sempre em contato; com coordenadora M, também, as vezes eu a aperreio e ela me aperreia também (risos). É tranquilo. Eu gosto muito e é um aprendizado eterno (S2 – entrevista outubro/2015) eu costumava dizer que no ano passado eu tinha uma família, a família PIBID (nota de campo S3 julho/2015)

Conclusões

Essa pesquisa trouxe à tona alguns impactos importantes identificados pelas supervisoras na sua atuação profissional e resultantes da inserção dessas professoras no subprojeto PIBID LetrasInglês da UFPB. Alguns dos impactos identificados foram: •

Redimensionamento de papéis sociais: as supervisoras, se de início apenas se comportavam como aprendizes e parceiras dos bolsistas, parecem assumir o papel de coformadoras de maneira mais autônoma ao longo do tempo, passando de coadjuvantes a protagonistas;



Troca de experiências: mesmo na posição de coformadoras, as professoras supervisoras percebem que há um processo de troca de experiências, no qual se veem como partícipes;



Desenvolvimento profissional: as professoras supervisoras enxergam o seu desenvolvimento profissional no âmbito do subprojeto como um processo em construção, mas que já traz transformações significativas.

Nesse processo de formação, é essencial a troca de informações, o fortalecimento de relações positivas com os bolsistas e o auto-empoderamento das supervisoras para ocupar os espaços que lhes são oferecidos pelo subprojeto. Esperamos que os achados evidenciados pela pesquisa possam contribuir para futuras pesquisas sobre esse tema, e sirvam para demonstrar o quão importante é o PIBID como espaço de formação continuada de professores em exercício, que se desenvolvem profissionalmente, ao mesmo tempo em que desempenham um papel fundamental na formação de novos professores.

Referências BRASIL.Relatório de Gestão 2009-2013 da Diretoria de Formação de Professores da EducaçãoBásica.Disponível em: Acesso em 15/10/2015. BORGES, CarolineTeixeira.O professor supervisor do PIBID: o que pensa, faz e aprende sobre a profissão?. Dissertação (Mestrado em Educação) – Curso de Programa de Mestrado Acadêmico em Educação,Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015 CHIMENTAO, Lilian Kemmer;FIORI SOUZA, Adriana Grade. Uma reflexão sobre os papéis exercidos por professores-supervisores do PIBID. In: MATEUS, Elaine; EL KADRI, Michele Salles; SILVA, Kleber Aparecido da. (Orgs.). Experiências de formação de professores de línguas e o Pibid: contornos, cores e matizes. 1ed.Campinas: Pontes, 2013, v. 1, p. 177-200. MATSUOKA, Silvia; SIGNORELLI, Gláucia. Integração Universidade e Escola pelo PIBID: uma análise das ações formativas de supervisores aos licenciandos. Revista Veras, São Paulo, v. 3, p. 145-159, 2013.

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