A AUSÊNCIA DE MARCAS DE PLURAL NA FALA E NA ESCRITA DE ESTUDANTES DO ESINO MÉDIO

May 31, 2017 | Autor: Sandro Santos | Categoria: Sociolinguística (Sociolinguistics)
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A AUSÊNCIA DE MARCAS DE PLURAL NA FALA E NA ESCRITA DE ESTUDANTES DO ESINO MÉDIO Sandro Moura Santos Introdução Essa atividade foi desenvolvida como trabalho de conclusão da disciplina de Sociolingüística, no ano de 2007, sob a orientação da Profª. Drª. Rosangela Villa da Silva. O objetivo proposto para a realização do trabalho foi a investigação de fenômenos relacionados à oralidade de falantes oriundos dos vários estratos da sociedade corumbaense. Assim, dentre as várias possibilidades quanto à eleição do objeto de estudo, optamos por analisar a ausência de marcas de plural na fala de alunos da rede pública de ensino, assim como a projeção desse traço da oralidade na produção escrita desses indivíduos. Essa opção pela análise dos fenômenos da linguagem oral, proposta pela Sociolingüística, associada à investigação da sua interferência na produção escrita, foi motivada por três razões fundamentais: o conhecimento prévio adquirido em relação à habilidade de escrita de educandos da rede pública de ensino; os objetivos propostos para o ensino de Língua Portuguesa, no texto dos PCNs; e também a nossa preocupação, naquele momento como futuros professores Língua Portuguesa, com a consecução dos objetivos educacionais. Inicialmente a configuração dada à pesquisa teve sua origem a partir das observações quanto às dificuldades de uma parcela considerável de alunos quanto ao domínio das habilidades lingüísticas associadas à escrita. Isso foi verificado durante a realização das práticas do estágio supervisionado em Língua Portuguesa I, realizadas em escolas da rede pública de ensino, durante o ano de 2006. Após desenvolver várias atividades de produção de texto com as turmas do 6º e 7º anos do ensino fundamental, verificamos que muitos elementos da linguagem oral eram reproduzidos nas redações desses alunos. Um desses elementos era a ausência das marcas de plural em partes das construções que envolviam a mudança de número. A escolha que fizemos também se justifica sob a ótica dos objetivos de ensino de Língua Portuguesa, propostos nos PCNs, que incluem a expectativa de que o aluno amplie seu domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita. Para isso, segundo o texto dos PCNs, as práticas de ensino de língua materna devem, a partir do uso possível da linguagem aos alunos, permitir-lhes a conquista de novas habilidades lingüísticas, particularmente daquelas associadas aos padrões da escrita, isto é, a partir da variante lingüística do aluno, permitir-lhe o domínio da variante padrão. Essa opção da escola pelo ensino da modalidade de prestígio se faz necessária, uma vez que é através da modalidade culta da língua que o aluno terá acesso, por meio da leitura, aos conhecimentos científicos e literários, além de ela também lhe servir, na forma de discurso, como um instrumento de defesa de seus direitos e de intervenção nas questões de interesse público. Do mesmo modo, é principalmente através do domínio da leitura e da escrita que lhe será oportunizada a possibilidade de progredir em seu processo de formação. Finalmente, a nossa preocupação, de professores de Língua Portuguesa, com a consecução dos objetivos educacionais nos motivou a apurar até que ponto essa aquisição das habilidades lingüísticas, necessárias à interação social, estaria sendo efetivamente alcançada pela atividade de ensino.

Para isso nos propusemos a coletar dados junto a alunos de dois níveis de escolaridade bem distintos e, depois, cruzar as informações obtidas. Os informantes foram divididos em dois grupos: sexto ano do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio. Para a coleta de dados foram aplicados testes, cujas respostas implicavam o uso do plural, para o que foram utilizadas cartelas com a representação de objetos, como também propostas de produção de texto. Na seqüência, analisaremos os dados obtidos, através do uso da projeção. Diapositivo 1 Identificação do projeto: Ausência das marcas de plural na fala e na escrita de alunos dos ensinos fundamental e médio

Diapositivo 2 As figuras foram utilizadas de modo a cobrir todos os campos de realização do plural de substantivos (s, es, éis, óis, is, ãos, etc.). Trouxemos algumas delas a título de exemplo

2.1. O informante deveria dizer a quantidade e o nome do objeto ilustrado na cartela; 2.2. resposta oral e resposta escrita.

Diapositivo 3 Foram formuladas questões de sobre temas atuais (política, educação, segurança, economia, lazer, etc.) para produção de texto. 3.1. o objetivo deste teste foi a verificação da ausência da marca de plural em situações de concordância verbal, além da nominal (maior abrangência) – resposta escrita; 3.2. dois informantes do ensino médio deram resposta oral (comprovação da ausência da marca de plural na oralidade);

Diapositivo 4

Informante: nº 1 Idade: doze anos Grau de escolaridade: 6º ano do ensino fundamental Transcrição das respostas do teste nº 1 (substantivos).

4.1. O objetivo desse teste foi a verificação da realização do plural dos substantivos concretos.

Diapositivo 5 {Informante: nº 1 Idade: doze anos Grau de escolaridade: 6º ano do ensino fundamental Transcrição das respostas do teste nº 1 (substantivos) Fala treis flor doch cuelhu quatru violãu quatru apontador treis anéu dois aviãu

Escrita 3-Flor 2-coelho ø 4-apontador 3-anel 2-avião

Fala treis bicicleta (ø) doch cachorru treis leãu dois hotéu

Escrita 3-bicicleta 3-caneta 2-cachorro 3-leão 2-hotel

(ø) não foi pronunciado, não foi escrito. Obs.: 5.1. Ausência de marca de plural na fala e na escrita; 5.2. esse informante reproduziu na escrita a construção do plural oral; 5.3. já era esperado a ocorrência da projeção da oralidade na escrita nesse nível de escolaridade, visto que esses alunos apenas concluíram seu processo de alfabetização. Diapositivo 6 Informante: nº 2

Idade: dezoito anos (masculino) Grau de escolaridade: 3º ano do ensino médio T

Diapositivo 7 Informante: nº 2 Idade: dezoito anos (masculino) Grau de escolaridade: 3º ano do ensino médio Transcrição das respostas do teste nº 1 Fala dois sóu dois cachorrus doich funiu doich cuelhu treis... treich rosas quatro violões

Escrita 2 sol 2 cachorros 2 funis 2 coelhos 3 flores 4 violões

duas alianças dois hotéu... hotéis

2 alianças 3 Hoteis

treis tambores

3 Tambores

Fala treis anzóis treis bicicretas treich leõis dois aviões dois hospitais dois varóis, varóis de roupa dois apontadoris oito pedaçu de papéis

Escrita 3 anzois 3 bicicletas 3 leões 3 aviões dois hospitais 2 varois dois apontadores 8 pedaço de folha de papel

7.1. Aqui foi verificada uma menor incidência da projeção do plural coloquial na escrita; 7.2. o informante realizou o plural da modalidade culta também na fala; Diapositivo 8 Teste 1 – supressão das marcas do plural (% / total de informantes) Ensino fundamental

Ensino médio

Fala

Escrita

Fala

Escrita

64,3 %

42,5 %

23,5 %

8,8 %

8.1. Aqui se representa a porcentagem da ocorrência da supressão da marca do plural em relação ao total de informantes do teste com as cartelas; 8.2. nota-se que a porcentagem de ocorrência do plural coloquial é muito maior nos informantes do ensino fundamental, 64,3% na fala e 42,5% na escrita; 8.3. uma das causas poderia ser o maior grau de maturidade do informante do ensino médio (capacidade de fazer distinção entre situações de formalidade e de informalidade).

Diapositivo 9 Teste nº 2: resposta escrita informante nº 6 – ensino fundamental Proposta de redação: A minha escola é boa?

9.1. “os professores são / bom / e ensina”; alguns são / brincalhão; outros são / mais sério” Diapositivo 10 Teste nº 2: resposta escrita informante nº 10 – ensino fundamental Proposta de redação: A minha escola é boa?

10.1. “eles / explica; eles / explica dinovo; eles / explica; as aulas de educação física / ajuda”;

Diapositivo 11 Teste nº 2: resposta escrita – ensino fundamental (% / nº de ocorrências)

Concordância nominal

Concordância verbal

62,5 %

37,5 %

11.1. neste quadro temos a porcentagem de incidência de problemas de concordância verbal e de concordância nominal em relação ao número total de ocorrências.

Diapositivo 12 Supressão das marcas de plural Teste nº 2: resposta escrita – ensino fundamental (% / nº de informantes) Nº de informantes 20

Nº de informantes com ocorrências 10

Média (%) 50 %

12.1. 50% de um total de vinte alunos tiveram problemas com a construção do plural no texto escrito. Diapositivo 13 Teste nº 2: resposta – oral informante nº 2 Produção de texto – ensino médio Transcrição A qualidade do ensino público hoje “Nãu! U ichtudu hoji im dia é bom, tantu a ichcola pública ichtaduau, us insinu sãu bom, mach só qui a única diferença qui tem ali é nuch recursu... nuch recursu. Pur... pur exemplu u professor vai dá uma aula di educaçãu física, uma recreaçãu, tem ichcola qui num tem... num tem uma bola, num tem... uma raqueti pra jogá... um bachqueti, num tem uma quadra, um campu ali, di futibóu comu a ichcola particular. Intãu, a maioria dach dificuudadi dach ichcolach i... di hoji im dia ta passanu é issu, né? Falta di apoiu, né? Recursus. Purquê uch professoris tãu capacitadu!... tãu capacitado mais falta aqueli apoio, assim... do governu, né?”} 13.1. As partes destacadas são as construções do plural.

Diapositivo 14 Teste nº 2: resposta oral – informante nº 2 A qualidade do ensino público hoje: Ausência de marca de plural na fala (seis ocorrências em sete situações) us insinu sãu bom (os ensino são bom) nuch recursu (nos recurso)(2 vezes)

dach dificuudadi (das dificuldade) tãu capacitadu(o) (estão capacitado) (2 vezes) 14.1 aqui verificamos a supressão da marca de plural no último termo de cada construção na oralidade: os / ensino; são / bom; nos / recurso; das / dificuldade; tão (estão) / capacitado.

Diapositivo 15 Teste nº 2: resposta escrita ensino médio

15.1. (fragmento 1) “as classes governantes / é preparada”. Aqui o sujeito está no plural, enquanto que verbo e predicativo estão no singular; 15.2. (fragmento 2) “os quais (os alunos) são / atendido”. Essa construção apresenta o predicativo no singular e o sujeito no plural; 15.3. (fragmento 3) “as autoridades / criminalista”. Substantivo no plural e adjunto adnominal no singular.

Diapositivo 16 Teste nº 2: resposta escrita - ensino médio

16.1. (fragmento 1) “pessoas ignorantes, passivas e / obediente”. O substantivo está no singular e o último de uma seqüência de adjuntos adnominais está no singular; 16.2. (fragmento 2) “as classes governantes / é preparada”. Novamente o sujeito está no plural, enquanto que verbo e predicativo aparecem no singular; 16.3. (fragmento 3) “suas / programação”. Outra vez, aqui, sujeito no plural e adjunto no singular; Diapositivo 17 Teste nº 2: resposta escrita 1º termo ou 1ª parte da construção as classes governantes nos quais (os alunos) são as autoridades pessoas ignorantes, passivas e as classes governantes suas

2º termo ou 2ª parte da construção é preparada atendido criminalista obediente é preparada programação

17.1. Assim como no texto oral, a escrita também apresenta o segundo termo ou segunda posição das construções sem a marca do plural; 17.2. nesse casso a mudança de número (plural) seria indicada pelas marcas presentes na parte inicial da construção (primeira posição).

Diapositivo 18 Supressão das marcas de plural Teste nº 2: resposta escrita – ensino médio (% / nº de ocorrências) Concordância nominal 77,8 %

Concordância verbal 22,2 %

18.1. Também no ensino médio a dificuldade maior foi com a concordância nominal;

Diapositivo 19 Supressão das marcas de plural Teste nº 2: resposta escrita – ensino médio (% / nº de informantes) Nº de informantes

Nº de informantes com ocorrências 6

12

Média (%) 50 %

19.1. 50% de um total de doze informantes do ensino médio tiveram problemas com a construção do plural no texto escrito. Diapositivo 20 Supressão das marcas de plural na escrita Comparativo entre ensino fundamental e ensino médio (% / nº de informantes) Nível de ensino

Nº de informantes

EF EM

20 12

Nº de informantes com ocorrências 10 6

Média (%) 50 % 50 %

20.1. A comparação entre os textos do ensino médio com os do ensino fundamental, mostra que não houve progresso em relação à superação da projeção dessa marca da oralidade (ausência da marca de plural) na escrita; 20.2. contudo é preciso que se faça algumas considerações quanto a estes resultados.

Diapositivo 21 Considerações sobre a ausência das marcas de plural 1. Às vezes o fenômeno ocorre na direção oposta “estarem muitos nervosos” flexão do advérbio (hipercorreção)

2. O enfoque deste trabalho foi na escrita (adequação à norma culta): a fala admite outras variantes lingüísticas (situações informais);

3. a presença das marcas de plural na escrita não significa que o aluno tenha adquirido o domínio da norma culta, há outros problemas. Dentre eles podem ser elencados: - ortografia (r / rr, s / ss / ç, c / s, etc.) - acentuação gráfica - uso dos sinais de pontuação

4. a necessidade de uma investigação mais ampla e abrangente, pois este trabalho restringiu-se: a) a investigação da projeção de apenas um traço da oralidade na escrita: a ausência da marca de plural. Outros tipos de ocorrência foram analisados pelos demais

grupos da turma, porém o trabalho deles não estava voltado para a área de educação, mas sim dos fenômenos da sociolingüística; b) a uma quantidade pequena de informantes; c) a alunos de bairros próximos ao centro da cidade; Quanto à abrangência, ela pode ser maior tanto em número de informantes, como na quantidade de fenômenos analisados, além de abarcar uma extensão territorial maior – os testes foram realizados com informantes de apenas duas escolas públicas de Corumbá, localizadas em uma mesma região da cidade. Devido a essas restrições, os resultados apenas apontam uma tendência em relação ao problema alvo da investigação. Um trabalho com mais envergadura seria necessário para confirmar os números apurados.

Referências bibliográficas CARDOSO, S. A. (Org.). Diversidade lingüística e Ensino. Salvador, EDUFBA, 1996. PRETI, D. Sociolingüística. 5 ed., São Paulo, Cia. Editora Nacional. SILVA, R. V. Aspectos da Pronúncia do em Corumbá – MS. Campo Grande, Editora UFMS, 2004.

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