A BASÍLICA DA PENHA, UM EXEMPLO DE SINCRETISMO CONSTRUTIVO

May 31, 2017 | Autor: J. Santa Cruz Souza | Categoria: Inovação tecnológica, Materiais De Construção, Técnicas Construtivas
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A BASÍLICA DA PENHA UM EXEMPLO DE SINCRETISMO CONSTRUTIVO Juliana Santa Cruz Souza1; Tomás de Albuquerque Lapa2 ¹Estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo – CAC – UFPE; E-mail: [email protected] ²Docente / pesquisador do Depto de Arquitetura e Urbanismo – CAC – UFPE. E-mail: [email protected]

Sumário: A ausência de estudos sobre as técnicas construtivas e materiais acarreta na perda de informações sobre os edifícios de importância histórica, e ocasiona intervenções desastrosas, pois agridem as propriedades dos materiais. A pesquisa pretende identificar os materiais e técnicas constritivas da Basílica de Nossa Senhora da Penha. Analisando-os sob a ótica cronológica da evolução das técnicas no período colonial e do século XIX. A metodologia adotada na constatação dos materiais e técnicas construtivas foi a investigação in loco; e os meios de averiguação foram a participação da estudante em cortes estratigráficos durante a restauração do templo. A Basílica possui técnicas construtivas arcaicas como o estuque e a escaiola, que foram largamente utilizadas em toda a edificação. Um grande avanço tecnológico executado foi o uso o gesso como adorno fixado através de fios de ferro, pois diminuía o tempo na confecção dos adornos, antes entalhados por longos períodos pelos artífices. Toda a estrutura da coberta do zimbório é inovadora segundo os parâmetros construtivos de Pernambuco para a segunda metade do século XIX, com o uso do concreto, tubos de cobre, chapas em cobre como revestimento. Conclui-se que a basílica tem um sincretismo de técnicas construtivas. Palavras–chave: inovações tecnológicas; materiais; técnicas construtivas INTRODUÇÃO O templo encontra-se na eminência da perda de informações importantes sobre os seus sistemas construtivos, causada pela degradação natural dos materiais e por intervenções desprovidas de fundamentos teóricos a respeito das tecnologias nele empregadas, que sobrepõem as tecnologias atuais ao bem cultural e edificado; isto acontece devido à ausência de posturas legislativas, fiscalização e incentivos a conservação da basílica como patrimônio edificado. É plausível uma investigação profunda sobre os materiais e as técnicas construtivas, com o intuito de que a pesquisa contribua para a identificação dos atributos construtivos e tecnológicos da Basílica da Penha. Trata-se de uma basílica suntuosa com planta inspirada no Renascimento Italiano e de influência eclética. O edifício, construído na segunda metade do século XIX, tem atributos intangíveis – pela representação religiosa e cultural – e tangíveis – os três magníficos afrescos da nave central executados pelo pintor veneziano Bottazzi, os ornamentos em estuque, as técnicas ameaçadas de extinção como o Marmorino e a Escaiola. Com uma fundação centenária, atualmente encontra-se degrada pela ação do tempo e pelas intervenções grosseiras. O estudo das técnicas construtivas foi um fator preponderante, para que se possa identificar quais são as inovações tecnológicas advindas do século XIX, executadas na Basílica de Nossa Senhora da Penha.

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MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente buscou-se a bibliografia sobre a contextualização da Basílica da Penha e de que maneira ela foi construída, estas informações deram respaldo ao desenvolvimento da pesquisa. Após a compreensão e assimilação dos objetivos estabelecidos, verificaram-se na bibliografia primária os materiais e técnicas construtivas utilizadas na basílica. Foram coletados dados teórico-científicos através de visitação a museus, bibliotecas e no CECI – Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada – para o levantamento das obras, trabalhos, cartografia, fotografias, plantas, cortes e fachadas. Este levantamento foi relevante para a detenção de embasamento histórico sobre a importância construtiva da basílica. Com o início da restauração da basílica em janeiro de 2008, a estudante passou a estagiar na obra durante o período de fevereiro a agosto de 2008, sob a coordenação do arquiteto, especialista na Conservação e Restauração de Monumentos e Conjunto, Jorge Eduardo Lucena Tinoco. Os procedimentos de investigação, in loco, dos materiais e técnicas construtivas puderam ser acompanhados pela estudante, estas etapas da restauração foram importantíssimas para que a instituição responsável pela reforma – CECI – tomasse as diretrizes a serem seguidas para o restauro e manutenção do templo. A compreensão das propriedades e características construtivas e de como as técnicas construtivas foram empregadas na Basílica da Penha, foi possível graças as constantes entrevistas realizadas pela estudante aos mais diversos especialistas no Restauro como os mestres de carpintaria Moisés Floriano da Arruda e José Floriano de Arruda Neto, e o mestre estucador, douragem em ouro, entalhe barroco e restauração de azulejos Gilmar Crisóstomo da Silva. Estes levantamentos foram à base de confecção do detalhamento de fichas localizando os materiais e sistemas construtivos. Tal levantamento possibilitou a análise de quais técnicas construtivas inovadoras foram empregadas na construção da Basílica da Penha. Para tanto foram feitas analises comparativas entre os sistemas construtivos empregados na construção do Teatro Santa Isabel, obra da primeira metade do século XIX e os executados na construção da Basílica de Nossa Senhora da Penha, já na segunda metade do século XIX. O teatro serviu como parâmetro para a constatação do nível de inovações tecnológicas e construtivas utilizados na construção da Basílica da Penha. RESULTADOS Os produtos da pesquisa a respeito dos materiais e técnicas construtivas da basílica foram: nas cobertas, toda a estrutura é de madeiras nobres como a Peroba Rosa e fixação entre as peças com sambladuras e ferragens confeccionadas em ferro batido. O sistema de vedação original era em chapas de zinco fixadas nos caibros e telhas de barro do tipo canal. As dispersões da águas pluviais são em calhas de telhas cerâmicas e suas águas capitadas por manilhas de barro chumbadas no interior da parede e despejadas em todas as paredes laterais do templo, com exceção da. Fachada principal. O zimbório e as arcadas dos transceptos são em alvenaria de tijolos e com argamassa a base de cal e areia. O sistema de estruturação da vedação do zimbório é composto por pontaletes em concreto que são chumbados na abóbada de tijolos, e neles com um anel é fixado o tubo de cobre que é revestido com chapas de cobre. Foram encontradas chapas de ferro que possivelmente fixavam peças de madeira a estrutura dos tubos. A fundação é constituída por arenito. As paredes, pilastras e colunas da capela-mor são em alvenaria de tijolos maciços com coloração amarelada e argamassa de fixação a base de cal. As colunas da nave são em mármore rosa vindos da Europa com diâmetro de 1 metro. As circulações verticais foram 2

executadas em cantaria. O revestimento do piso é em mármore branco e preto. Nos altares os mármores são de diversas tonalidades. O revestimento das paredes é a base de cal, constituído de embolso e reboco, este ultimo foi executado com argamassa “ducal” ou em escaiola. O revestimento das colunas de tijolos da capela-mor foi o Marmorino. A proteção das platibandas foi com embolso a base de cal e areia fina; e reboco a base de cal, areia média e pó de pedra. As cimalhas são em concreto armado e os seus ornatos são em tijolos e argamassa. Os ornatos das colunas internas e externas, pilastras, forros são em gesso fixados com fios de ferro. Os forros são todos em estuque, sejam elas superfícies planas ou abóbadas como no corpo da nave central e capela-mor. A pintura era a cal nas tonalidades de rosa, amarelo e branco. As instalações elétricas foram implantadas na segunda década do século XX. As primeiras instalações elétricas foram encontradas com fios envoltos por tecidos, eletrodutos de ferro e isolantes de cerâmica. O produto sobre os sistemas construtivos do Teatro Santa Isabel foi que a uma predominância do uso do ferro na estrutura da coberta, ornatos, colunas, estrutura do forro e gradil dos camarotes. DISCUSSÃO A investigação dos sistemas construtivos e materiais empregados contribuíram para a identificação dos atributos tangíveis da Basílica da Penha. O produto do levantamento de campo somado ao respaldo bibliográfico demonstrou que a construção da basílica contou com técnicas coloniais como o uso do tijolo e técnicas coloniais como o uso do tijolo e técnicas inovadoras na Província de Pernambuco como o uso do concreto armado. Ao fazer a análise comparativa entre o Teatro de Santa Isabel e a Basílica da Penha constata-se que a primeira edificação fez uso abundante do ferro em suas instalações; e de que a Basílica da Penha foi construída com um sincretismo de técnicas arcaicas e inovadoras do século XIX. As consistências das informações estão pautadas no auxílio dos especialistas, José Luiz da Mota Menezes e Jorge Eduardo Lucena Tinoco, que atestam que houve um uso dessas técnicas construtivas inovadoras para o período de 1870 a no do inicio da construção da Basílica de Nossa Senhora da Penha. CONCLUSÕES O uso predominante da madeira nas estruturas do forro e coberta, demonstra que técnicas milenares como o estuque, foram executadas na basílica, entretanto é importante ressaltar que paralelamente com o uso destas técnicas foram empregada tecnologia inovadoras segundo os parâmetros da época, com a utilização da diminuição do tempo na confecção dos ornatos que não foram executados em pedra, mas moldados em gesso e fixados com uma argamassa e ferro.A coberta da cúpula é com pontaletes de concreto fixando tubos de cobre que são revestidos com chapas de cobre, esse sistema construtivo era utilizado na Europa, mas sua utilização no continente Brasileiro no século XIX era uma novidade trazida pelos engenheiros estrangeiros. A argamassa armada e o concreto são inovações tecnológicas empregadas na basílica que necessitava de material e mão-de-obra especializados que soubessem dar as diretrizes da execução. A hipótese de que as inovações tecnológicas do século XIX foram utilizadas na Basílica de Nossa Senhora da Penha foram comprovadas, mas de maneira muito incipiente com o uso da mesclagem de técnicas construtivas arcaicas e inovadoras do século XIX.

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AGRADECIMENTOS Agradeço ao apoio recebido pelo CNPq, ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco, ao Laboratório da Imagem de Arquitetura e Urbanismo. REFERÊNCIAS BORGES, Geninha da Rosa. Teatro de Santa Isabel: Nascedouro & Permanência. 2ª ed. Recife: CEPE, 2000. 168p. CAPPUC, O. Fr. M.; FIDELI, Pe. Fr.; PRIMEVIO, M. de. Capuchinhos em Terras de Santa Cruz nos Séculos XVII, XVIII e XIX. São Paulo: Martins, 1940. p. 49 - 64. COSTA, Francisco A. Pereira. Anais Pernambucanos: 1635-1665. Recife: Arquivo Público Estadual, 1952. Vol.III. p. 417 - 421. ______. Anais Pernambucanos: 1701-1739. Recife: Arquivo Público Estadual, 1953. Vol. V. p.128 - 132. ______. Anais Pernambucanos: 1834-1850. Recife: FUNDARPE, 1985. Vol. X. p. 200 205. FREYRE, Gilberto. Um Engenheiro Francês no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940. Vol. II. 218p. MELLO, Joaquim Guennes da Silva. Notas Históricas da Igreja de Nossa Senhora da Penha e das Missões dos Capuchinhos da Prefeitura de Pernambuco. In: Ligeiros Traços sobre os Capuchinhos. Recife: Empreza d’A Província: 1905. p.3 - 20. RAINVILLE, César de. O Vinhola Brasileiro: novo manual prático do engenheiro, arquiteto, pedreiro, carpinteiro, marceneiro e serralheiro. Rio de Janeiro: E. H. Laemerte, 1880. SANTANA, Frei Marcelino de. Basílica da Penha. Recife: Material cedido pelo Prof. Dr. Carlos Alberto. SILVA, Geraldo Gomes da. Arquitetura Eclética em Pernambuco. In: FABRIS, Annateresa. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Editora Universitária USP, Nobel, 1987. 296p. ______. Arquitetura do Ferro no Brasil. São Paulo: Nobel, 1986. 248p. SOUSA, Alberto. O Classicismo Arquitetônico no Recife Imperial. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, Salvador: Fundação João Fernandes da Cunha, 2000. 224p. Monografia Acadêmica ARAÚJO, Roberto A. Dantas de. O Ofício da Construção na Cidade Colonial: organização, materiais e técnicas (o caso pernambucano). 2002. 371p. Vol. I. Tese (Doutorado em Arquitetura). Universidade de São Paulo, São Paulo. Periódico GUERRA, Flávio. Velhas Igrejas e Subúrbios Históricos. Imprensa Oficial. Recife, 1961. p. 45 - 53.

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