A benzedeira como sujeito histórico

July 26, 2017 | Autor: Milene Galvão | Categoria: Historia Social Y Cultural
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A benzedeira como sujeito histórico: relações entre memórias e história

Milene Aparecida Padilha
Oséias de Oliveira
Resumo:
O presente projeto tem a pretensão de analisar as relações existentes entre as concepções de sujeito histórico e benzedeiras, bem como de que forma estes dois conceitos unem-se um ao outro desencadeando uma série de outras relações e interdependências.De um lado, analisar o sujeito como ator principal da história requer um cuidado bastante grande e constitui -se numa tarefa bastante complexa, pois ao mesmo tempo em que este sujeito é objetivo, analisável e compreensível, pode tornar-se um mistério, prenhe de subjetividades e lacunas. A compreensão deste sujeito requer de nós cuidado e entendimento singular, a fim de que ao interpretá-lo não deixemos de lado toda a carga de subjetividade e sensibilidade que está intrinsecamente atrelado a ele. De outro lado, estamos diante de um trabalho com sujeitos duramente reprimidos até então, questionados pela veracidade dos atos que exercem, criticados por seu ofício secular, perseguidos por serem uma classe subalterna e aparentemente invisível: as benzedeiras. Estando diante deste sujeito, é preciso repensar toda a teia de relações construídas por elas e as maneiras como elas se fazem representar socialmente. É preciso entender de que maneira são vistas social e culturalmente e de que forma são valorizadas: pelo ofício que trazem consigo ou enquanto sujeitos de sua história? Este é o nosso foco central, perceber as maneiras de análise e valorização das benzedeiras nas comunidades em que vivem – mais especificamente nas cidades de Irati, Rebouças e São João do Triunfo e de que maneira elas lutam pela valorização de sua pessoa como sujeito histórico.
Palavras - chave: sujeito, benzedeiras, história, identidade.

Introdução:
É praticamente impossível falarmos da história sem que antes pensemos no sujeito ou nos sujeitos desta história, sujeitos estes que não apenas fazem parte de tal fato ou acontecimento, mas que estão intimamente ligados, atrelados a tal ou tais feitos. Os sujeitos históricos como costumamos chamar, estão sempre presentes nas narrativas da história, embora muitas vezes não apareçam em primeiro plano. Eles são os responsáveis pelos acontecimentos que a história valeu-se de narrar, pelos fatos e feitos que se tornaram importantes, lembrados e relembrados ainda hoje pelos historiadores.
Falar de um sujeito – e mais, de um sujeito histórico – remete-nos à lembrança de resistências, de tradição, de herança, de algo que permitiu que a história pudesse se construir de tal modo que fizesse sentido para alguém rememorar, recordar, interpretar e analisar. O sujeito, muito além daquilo que comumente se costuma pensar – do que está escondido, do que está em segundo plano – ocupa lugar decisivo na manifestação de um caráter histórico, de maneira que atrela toda a construção dos fatos e acontecimentos à soma das memórias acumuladas ao longo do tempo:
Recorremos a testemunhos para reforçar ou enfraquecer e também para completar o que sabemos de um evento sobre o qual já temos alguma informação, embora muitas circunstâncias a ele relativas permaneçam obscuras para nós. O primeiro testemunho a que podemos recorrer será sempre o nosso. Quando diz: "não acredito no que vejo", a pessoa sente que nela coexistem dois seres - um o ser sensível, é uma espécie de testemunha que vem depor sobre o que viu, e o eu que realmente não viu, mas que tenha visto outrora e talvez tenha formado uma opinião com base no testemunho de outros. (...). Se o que vemos hoje toma lugar no quadro de referências de nossas lembranças antigas, inversamente estas lembranças se adaptam ao conjunto de nossas percepções do presente. É como se estivéssemos diante de muitos testemunhos. Podemos reconstruir um conjunto de lembranças de maneira a reconhecê-los porque eles concordam no essencial, apesar de certas divergências. (HALBWACHS, 2006, p. 29).

Se entendermos o que Halbwachs se propõe a nos mostrar quando diz que os testemunhos, as lembranças servem para reforçar nosso conhecimento a respeito de determinado acontecimento ou fato, entenderemos de que maneira a memória se faz presente no contexto de emergência de uma comunidade tradicional. É possível entender a memória, como nos fala o autor, a partir da importância e do caráter identificador que ela assume no exato momento em que se constitui regra de existência de um grupo, ou seja, no momento em que ela passa a ser característica primordial de um grupo. Desta forma, a memória e o sujeito histórico são indissociáveis, de maneira que um tece a relação com o outro e vice - versa.
A história traz consigo, o marco da presença dos sujeitos que a permitiram existir e se fazer fato, traz, muito além das teorias, teses, dissertações, eventos, narrativas; a lembrança, as memórias daqueles que a vivenciaram, daqueles que estiveram presentes em eventos, acontecimentos que alguém narrou, mas por algum acaso, omitiu o sujeito, cultivando-o no esquecimento. Desta maneira, é necessário que façamos um parêntese para analisarmos o papel do sujeito dentro da história, ou melhor, para analisar as relações entre estes dois componentes principais, entrelaçados na construção e constante refazer histórico.
A história mostra-se como a ciência do conhecimento, aquela que estuda o passado, o presente, aquela que renova seus objetos, suas teorias e que está em constante construção. Alguns ainda diriam que a história é a ciência do homem no tempo, outros a ciência do refazer, do renovar, do rememorar. O fato é que a história foi é e sempre estará sendo definida pelos mais importantes críticos e historiadores e, o que nos resta entender é que ela tem recebido enorme credibilidade, importância e tem se transformado a cada dia numa ciência original – ainda que estando em diálogo com outras ciências.
Nesse campo renovado, uma ciência ocupa uma posição original: a história. Há uma história nova, e um de seus pioneiros, Henri Berr, já empregava o termo em 1930. A história deve esse lugar original a duas características essenciais: sua renovação integral e o arraigamento de sua mutação em tradições antigas e sólidas. Muitas ciências modernizaram-se num setor particular de seu domínio, sem que por isso todo o seu campo fosse modificado. (LE GOFF, 2005, p. 32).

Estabelecendo este vínculo, é possível entender também a partir de uma análise mais profunda do autor que, renovado o campo da história, abre-se um conjunto de possibilidades de pesquisa. A história vê com novos olhares, olhares modernos, que permitem interpretar novas fontes, que encontra novos objetos, antes apagados, inexistentes. A história também partilhará juntamente com outras ciências de seus conhecimentos próprios e criar-se-á então o que se convencionou chamar de interdisciplinaridade, que possibilitou ao campo histórico trabalhar com uma infinidade ainda maior de objetos.
Partindo deste pressuposto, é preciso analisar de que maneira a história tem trabalhado com os sujeitos que a constroem, com estes que a permitem progredir e remontar fatos, acontecimentos e eventos e de que maneira eles interferem nos modos de (re) construção desta história:
As formas como os historiadores estudam o passado são fundamentais para a compreensão de sua produção. O historiador deve ser colocado na berlinda da crítica, ser desconstruído e compreendido, também como um ser histórico. Fica evidente que o pesquisador interfere no objeto, fazendo escolhas e "produzindo" documentos. Esse processo pode ser compreendido, levando-se em consideração as regras de produção dos discursos. Transparece a necessidade de uma abordagem histórica do próprio historiador, e o reconhecimento, na pesquisa, da ambivalência: do presente e do passado. (SOCHODOLAK &CAMPIGOTO, 2008, p. 272).
Analisando o que nos propõem os autores acima, a respeito da forma como o passado é abordado, podemos entender que diante deste processo existe também uma relação entre a percepção histórica de sujeito histórico, a construção deste sujeito e a sua existência em si, como objeto de estudo e análise e mais, do sujeito como agente social, produtor contínuo desta história. o sujeito histórico ao ser analisado, traz um tipo de subjetividade diferente do sentimento do real, vivenciado por este sujeito. À medida em que este sujeito vai sendo analisado, as subjetividades aparecem de maneira cada vez mais enigmáticas, mais ambíguas e polivalentes, o que confere ao pesquisador uma grande dose de senso crítico a fim de distinguir entre o superficial e o primordial para sua pesquisa.
Desta análise, é possível entendermos que as discussões a respeito das concepções de sujeito histórico, subjetividade e interpretações a seu respeito estão além de um simples rascunho ou conversa informal. Entender o que o sujeito da história quer transmitir, aquilo pelo qual ele existe, as razões e motivações de sua existência vão além do que as entrelinhas de depoimentos e entrevistas estão dispostas a mostrar. Partindo deste processo, é pertinente lembrarmos que toda esta abordagem a respeito de sensibilidades e subjetividades remonta o surgimento de uma nova corrente de pensamento, uma nova vertente historiográfica, que permitiria à história, a concepção e abordagem de novos documentos, a interpretação de novos acontecimentos, um olhar sob novos prismas, e cabe a nós destacarmos aqui, a possibilidade de estudar e entender as comunidades tradicionais, por muito tempo marginalizadas da história.
Já data das discussões propostas a partir do nascimento da História Nova, trazida com as novas representações da Escola dos Annales, idéias a respeito das definições para o que se convencionou chamar de comunidade tradicional, suas raízes, seus objetivos, seus ideais. Por que lutam e quais são estas lutas, se formam um movimento social ou é apenas um grupo de pessoas partilhando características em comum, conforme podemos analisar:
A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia do fato de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em sua maneira de sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido reflexo de jogos de poder, ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos poderosos do momento. Fazer uma outra história, na expressão usada por Febvre, era portanto menos redescobrir o homem do que, enfim, descobri-lo na plenitude de suas virtualidades, que se inscreviam concretamente em suas realizações históricas. Abre-se, em conseqüência, o leque de possibilidades do fazer historiográfico, da mesma maneira que se impõe a esse fazer a necessidade de ir buscar junto a outras ciências do homem os conceitos e os instrumentos que permitiriam ao historiador ampliar sua visão do homem. Como em Michelet, não se desprezava o subjetivo, a individualidade, como em Marx ou em outros historiadores que assentavam suas análises no econômico e no social; não se esquecia de que as estruturas sempre têm algo a dizer a respeito do comportamento do homem; e como Burckhardt, afirmava-se que o homem não se confinava a um corpo a ser mantido, mas também um espírito que criava e sentia diferentemente, em situações diferençadas. Talvez resida nessa intenção de diversificar o fazer historiográfico a maior contribuição de Bloch e Febvre, quando, além de produzirem uma obra pessoal significativa, fundaram a revista Annales, com o explícito objetivo de fazer dela um instrumento de enriquecimento da história, por sua aproximação com as ciências vizinhas e pelo incentivo à inovação temática.(BURKE, 1991, 05).

É pertinente entender que surgia com a Fundação da Escola dos Annales a necessidade de recriar novos paradigmas para a história, novos modelos que a permitissem ser estudada, pensada e interpretada, que fossem além daquilo que se restringia à política, grandes feitos ou economia. Era preciso de fato uma História Nova, que abordasse novos conceitos e novos temas de pesquisa, visualizando as mais diversas realidades sociais existentes bem como a gama de objetos prenhes de subjetividade e aptos a serem descobertos e analisados. É dessa maneira, aparecem as indagações a respeito dos "excluídos da história", daqueles que por muito tempo estiveram marginalizados pela sociedade, á beira do descaso e da estigmatização.
As benzedeiras, tal como são pensadas, são objetos de análise da história desde tempos bastante remotos. É possível visualizar o aparecimento dos discursos a respeito de sua existência e de suas práticas desde os tempos da Antiguidade, quando já eram vistas como feiticeiras, e mais ainda na Idade Média, quando foram afirmadas na figura das bruxas, representando assim, um desrespeito à ordem moral e social e religiosa das sociedades medievais, mostrando-se como pragas e maldições nas comunidades, conforme podemos constatar:
Se voltarmos os olhos na história, veremos que numa época um pouco longínqua, situada entre os séculos XVI e XVIII, a Igreja entrava no campo da saúde curando pessoas, através de assistências de caridade e de rituais de exorcismo. No entanto, pessoas que se acreditavam com poderes sobrenaturais para fazer curas, adivinhações do passado, presente ou futuro, e por serem consideradas inferiores – do ponto de vista econômico e social - e ainda por romperem com as normas, a ordem e os valores que a Igreja defendia, faziam desafios a ela. Então, qualquer intriga, fuxico ou futrica ligado à sua vida, ao seu trabalho ou as relações sociais que as vinculavam, qualquer pequeno ato considerado um deslize moral, que não conseguiam explicar, por exemplo, era decifrado rapidamente como estando associado à posse de bruxaria, de feitiçaria e de magia, sem mesmo que elas pudessem se defender. (OLIVEIRA, 1985, p. 18).

Como sujeito social, as benzedeiras representavam o desrespeito ao poderio que a Igreja exercia enquanto instituição religiosa na sociedade, ou seja, na medida em que estas mulheres realizavam suas práticas, suas rezas, seus benzimentos detinham em suas mãos uma parcela do poder e da condição de sacralização da benção, isto é, detinham em si a representação e a simbologia do sagrado, instrumento de afirmação do benzimento. A igreja, enquanto instituição religiosa – também social, econômica e política – era considerada a única que deveria e poderia instrumentalizar o sagrado a partir das benção realizadas pelos padres sobre a população, a partir da realização das missas, das rezas, dos terços. Era apenas à Igreja e aos padres e pastores que se restringia a permissão de realizar rezas, benzimentos e curas, uma vez que eram ungidos e preparados para isso. Assim, é possível perceber que existia, desde então, um estigma, um estereótipo construído em torno do ato de benzer e por conseqüência em torno das mulheres benzedeiras, considerada hereges por manifestarem atitudes suspeitas e subversas às ordens da Igreja.
Desamparadas, sofrendo as pressões sociais dessa época, estas mulheres eram perseguidas, oprimidas, rejeitadas, torturadas, punidas e lançadas vivas em fogueiras até a sua morte. Essas acusações e execuções caracterizavam uma visão de mundo de uma época marcada por formas drásticas de violência e punição, que tudo legitimava em nome da preservação da alma das pessoas e da expulsão de seus demônios. (OLIVEIRA, 1985, p. 20).

As benzedeiras, que são conhecidas por muitas pessoas têm uma história marcada pelo preconceito, luta e resistência. Na inquisição, eram as famosas feiticeiras, bruxas, capazes de enfeitiçar homens com suas ervas perigosas, capazes de exterminar pessoas com suas poções e seus chás desconhecidos. Depois deste período, aparentemente a sociedade parece ter se esquecido do mal causado pelas benzedeiras e então, elas acabam por "desaparecer", fato que se dá a partir dos avanços apresentados pela medicina e pela tecnologia, a partir do século XVIII, com o iluminismo, com a razão em voga, com a separação do material e do sagrado, com a distinção entre o corpo e a alma:
Ao longo da história, contudo, surgem novas formas de tratar os males do corpo e da alma. (...). Isso inicia-se no século XVIII, por causa do nascimento da clínica médica, momento em que se dá a formulação do discurso médico sobre a doença, discurso técnico que se separava cada vez mais da visão de magia, demônios, feitiçaria, bruxaria. Dá-se, concomitantemente, o processo de uma verdadeira separação entre ciência e cultura. (OLIVEIRA, 1985, p. 21/22).

Como podemos notar, após todo o contexto de perseguição feito às benzedeiras, ocorre um momento d separação entre o sagrado e o científico, ou seja, entre as coisas sobrenaturais e as coisas cientificas. Dessa maneira, aparecem duas versões desta história; de um lado, as benzedeiras são reprimidas no medievo; de outro elas foram esquecidas com o surgimento da ciência médica e racional, que agora via no cientificismo a explicação e a cura dos males da humanidade.
As benzedeiras foram invisibilizadas pelo ocultamento de suas práticas tradicionais, e tal como são conhecidas hoje, foram duramente reprimidas não apenas pela sociedade, mas pelo próprio sentimento de medo e angústia que as perseguiu juntamente com as opressões às quais foram submetidas, conforme podemos notar na entrevista concedida por D. Heleninha:
A benzedera sofreu e sofre um bocado. Antes era as bruxa, as feiticeira. Eram queimadas em fogueiras, condenadas pela Igreja porque fazia um chá, ensinava uma erva. Depois, veio o médico e disse que a benzedera não tinha o direito de receitá o chá, que não conhecia os remédio, as erva. Por último veio o padre e disse que as benzedera não tinha o direito de fazer a reza pelos necessitados. Foi disso tudo que o nosso dom deixou de crescer. Este mal, esta perseguição que criou raiz, se espalhou pelo nosso meio e assim veio o medo, a dúvida e a represália. E durante muito tempo mesmo fiquemo na escuridão. Até que agora, resolvimo nos unir. E tá dando certo. É nosso modo de resistir sair das trevas. Mostrar que as benzederas e curaderas existem e devem ser respeitadas.(ENTREVISTA CONCEDIDA EM 26/09/2010).

Assim, é possível entender que existe, por detrás do discurso de estigmatização destas benzedeiras, uma representação que elas fazem se si mesmas, ou seja, elas se autodefinem como sujeitos sociais dentro da comunidade e do contexto onde estão inseridas e esta representação faz com que vejam-se diante de um ofício tradicional que deve ser repassado, que deve ser reconsiderado, valorizado, rememorado. As benzedeiras representam-se como tal, definem-se – nos dias de hoje – como portadoras deste ofício tradicional e carregam toda uma simbologia atrelada a isso. Porém é preciso admitir que diante desta representação e desta autoafirmação ainda existem certezas e inquietudes, que as fazem cambalear em meio à sua jornada de luta pela valorização e reconhecimento de seus dons, a visibilidade social. É necessário ainda aqui entender de que maneira as benzedeiras podem ser analisadas dentro dos novos paradigmas da história cultural, caracterizando-se como um novo grupo, como um novo objeto de estudo, com novas simbologias e constituição identitária, conforme o que nos diz Chartier:
Trabalhando sobre as lutas de representações, cujo objetivo é a ordenação da própria estrutura social, a história cultural afasta-se sem dúvida de uma dependência demasiado estrita em relação a uma história social fadada apenas ao estudo das lutas econômicas, mas também faz retorno útil sobre o social, já que dedica atenção às estratégias simbólicas que determinam posições e relações que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um "ser-percebido", constitutivo de sua identidade. (CHARTIER, 2002, p. 73)

Se entendermos que o autor quis nos falar do modo como a benzedeira tem se enxergado socialmente, entenderemos também as relações que são estabelecidas entre este entendimento, a representação que as benzedeiras possuem de si mesmas e as identidade com as quais se familiarizam e nas quais se entendem.
A benzedeira insere-se dentro de um novo contexto, de uma nova realidade social que se denomina comunidade tradicional. Por comunidade tradicional, podemos entender o conjunto de indivíduos que partilham de uma mesma cultura, herdada e repassada ao longo dos anos, tornando-se assim, tradição.
Estas comunidades tradicionais vêm se reafirmando diariamente através de políticas públicas, manifestações, criação de movimentos sociais, como é o caso das benzedeiras que tem lutado por políticas de afirmação e existência social, conforme relato oficial das benzedeiras na Carta do Primeiro Encontro Municipal de Benzedeiras, Bezedores, Curadeiras, Curadores, Capelões, Costureiras, Costureiros de Rendidura Machucadura e Parteiras, em Rebouças/PR:
Denunciamos em nosso Encontro, o desprezo aos nossos dons e as diversas violações aos nossos direitos de praticar nossos ofícios tradicionais de saúde popular, através dos conhecimentos,saberes e praticas tradicionais de cura. Onde vivemos, somos alvo de preconceitos, criticas e repressão dos órgãos públicos de saúde e algumas pessoas ligadas a igrejas, que nos combatem de forma a tentar criminalizar nossos ofícios e dons. Também denunciamos o avanço dos monocultivos de soja, pinus e eucaliptus causando destruição das florestas nativas e aguadas em nossas comunidades, locais sagrados que historicamente extraímos nossas ervas medicinais nativas e água, para os tratamentos da saúde das pessoas das comunidades e bairros; Nos preocupa também, intensamente, a privatização dos recursos naturais por parte de fazendeiros, empresas florestais, unidades de conservação que impedem a livre circulação dos detentores desses ofícios para coleta de ervas medicinais nativas para continuarmos cuidando da vida. Clamamos de forma organizada aos poderes constituídos pelo nosso direito ao reconhecimento formal de nossos ofícios e dons, o uso desses conhecimentos e praticas, ervas medicinais e fitoterapicos no sistema Único de Saúde-SUS e o livre acesso aos recursos naturais que necessitamos para realizarmos nossas práticas de curas.(CARTA DO PRIMEIRO ENCONTRO MUNICIPAL DE BENZEDEIRAS – REBOUÇAS/PR)
Analisando a Carta do Primeiro Encontro Municipal de Benzedeiras da cidade de Rebouças, podemos entender que existe, por parte destas mulheres, uma organização que as permite reivindicar seus direitos, a conquista de políticas públicas voltadas para a prática de seus ofícios tradicionais. Esta organização nos mostra que uma comunidade tradicional está muito além de conceitos simplórios que fazem alguns tipos de narrativas, que as percebem apenas como parte de um grupo social, integrado em uma específica realidade. As comunidades tradicionais, primeiramente, têm uma característica cultural, isto é lutam principalmente pela preservação, respeito e valorização de sua identidade e também de seu território. No Paraná possuímos inúmeras comunidades tradicionais, dentre as quais podemos destacar quilombolas, indígenas, cipozeiros, faxinalenses, pescadores artesanais e mais uma vez, podemos retomar a causa das benzedeiras, grupo que embora muitas vezes negligenciado pela sociedade e pela comunidade onde está inserido tem nos mostrado e nos dado uma nova visão a respeito de seus conhecimentos, saberes e vivências.
Durante muito tempo, esta comunidade esteve aprisionada, por inúmeros tipos de preconceito, tais como o social, que parte da comunidade de vivência das benzedeiras e inclui as instituições que representam os legítimos poderes que a benzedeira tem, mas de modo informal, caracterizados pela Igreja e pelos órgãos de saúde; cultural, que vem diretamente de outras comunidades tradicionais que tem a religião como característica principal e estigmatizam as benzedeiras; religioso, advindo das demais religiões que colocam as benzedeiras em posição e condição de pessoas indignas de realizar suas práticas, devido à sua falta de legitimidade religiosa, concedida por uma autoridade da religião e econômico, considerando a posição social de desfavorecimento que paira sobre a vida destas mulheres.
Outro fator que é pertinente de ser analisado ainda dentro deste contexto de interpretação das benzedeiras enquanto sujeito social e histórico é o fato de que existe um elo que a permite ser identificada como tal e manifestar sua cultura mesmo diante de todas as resistências e estigmas impostos pela sociedade. Este fator é a memória que estas mulheres carregam consigo e que as permite serem caracterizadas como pessoas socialmente importantes e influentes, devido a pratica que exercem diante da comunidade na qual estão inseridas.
Desta maneira, se faz necessário, em primeiro lugar, lembrar a importância que tem a memória na vida das pessoas que curam, benzem e rezam e zelam pela comunidade na qual vivem:
No primeiro plano da memória de um grupo se destacam as lembranças dos eventos e das experiências que dizem respeito à maioria de seus membros e que resultam de sua própria vida ou de suas relações com os grupos mais próximos, os que estiveram mais freqüentemente em contato com ele. (HALBWACHS, 2006, p. 51).
É possível entender que as memórias das benzedeiras estão diretamente vinculadas a esta idéia de Halbwachs, que pressupõe a coletividade, ou seja, as benzedeiras juntas se lembram de uma série de fatos e acontecimentos que as permitem desejar unir-se em defesa de suas ideologias, de seus direitos. É a memória coletiva, de tudo o que lhes ocorreu durante o longo tempo de marginalização de suas práticas, estigmatização de seu ofício, preconceitos e perseguições, que as permite reunirem-se num grupo, com os mesmos interesses e afinidades, apontando para um mesmo rumo: a legitimação de seus conhecimentos tradicionais, o direito de livre expressão religiosa, social e cultural.
As benzedeiras, ainda dentro deste contexto, considerando sua importância enquanto sujeito social e histórico prenhe de memórias, que permite às mesmas a sua identificação dentro de um mesmo grupo, com características peculiares, precisam ser entendidas também como elemento da cultura popular, assíduas e inerentes socialmente. Diante disso,
Entendemos a cultura popular como uma das maneiras possíveis de representação que pessoas, classes ou segmentos sociais utilizam para expressar suas experiências e vivências. Estas formas de expressão popular estão impregnadas não só por misticismos, mas também por formas de sobrevivências, de lutas; refletem situações concretas, são práticas de um mundo real, foram construídas, estão entremeadas no cotidiano, no fazer do dia a dia dos seres humanos.(MACHADO, 2007, p. 02)
Com base no que nos mostra Machado, podemos também estabelecer que a cultura popular, neste caso, a cultura das benzedeiras e benzedores, construiu-se de tal maneira, e aqui podemos também inserir as memórias, que estabelecem toda a ligação entre estas pessoas e suas práticas. A complexidade deste assunto não está apenas no âmbito da teoria, mas verifica-se na prática também. Diferentemente de muitas pessoas, que procuram ser o mais lógicas possíveis, racionais, desmistificadas de qualquer superstição, as benzedeiras são o paradoxo; pessoas comuns mas ao mesmo tempo prenhes de misticismos, superstições, histórias, causos e uma variedade de simbologias que faz com que sua identidade seja diferente das pessoas comuns, isto é, com que sejam identificadas como portadora de "dons", benzedeiras, curadeiras, parteiras, rezadeiras e afins.
É necessário entender, que muito mais do que invenções, as memórias que as benzedeiras possuem são um dos muitos critérios de resistência e valorização de sua cultura. Estas memórias são passadas de geração a geração e trazem junto consigo toda a questão do sagrado e do simbólico, que estão enraizados na vida e no discurso das benzedeiras.
Uma das melhores definições que encontramos para as benzedeiras é a seguinte:
O ofício das benzedeiras não pode ser entendido sem que haja o reconhecimento da religiosidade que circula no meio social. A maior parte das benzedeiras dos municípios visitados se auto-definem católicas, trabalham por conta própria em função da fé, não cobram pelos seus serviços, algumas vezes recebem benefícios (presentes, dinheiro), e uma parte delas também atuam como parteira da comunidade. Essas mulheres são conhecidas por todo município, são respeitadas enquanto tal, centro de referência para a população, normalmente elas participam da organização dos festejos populares. (CUNHA, p. 04)
Assim, podemos perceber que existe toda uma ligação entre a benzedeira e a comunidade em que ela habita; que ela deve ser reconhecida pelos demais, que não realizam de nenhum tipo de cobrança para exercerem seu ofício. Estabelecemos assim, alguns critérios a mais que definem e permitem identificar melhor uma benzedeira. Mas estes critérios ainda assim, vinculam-se aqueles citados anteriormente: a memória, o simbólico e o sagrado.
Entendendo estas concepções a respeito da cultura das benzedeiras, é necessário também analisar de que forma elas estão amparadas socialmente, como comunidade tradicional e que tipo de respaldo a lei garante a este grupo para que ele possa se afirmar enquanto portador desta identidade tradicional. É de extrema importância lembrar que três tipos de constituição garantem totais e plenos direitos das comunidades tradicionais: a Constituição Federal, que assegura o direito de manifestação cultural das benzedeiras, suas formas de expressão, como grupo tradicional, como comunidade que diariamente vem se mostrando ativa na luta pela defesa de políticas públicas a favor de sua causa. Ela garante e respalda o ofício destas mulheres, conforme podemos analisar o artigo II da Constituição, que torna patrimônio cultural os modos de criar, fazer e viver, e estão diretamente vinculados às práticas das benzedeiras e também o parágrafo 1º, referente à proteção das manifestações das culturas populares.
A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que respalda a prática das benzedeiras no que tange ao grupo tradicional do qual fazem parte, isto é, a comunidade tradicional da qual elas fazem parte. Ela assegura a legitimidade destes povos, comunidades, garantindo a eles total proteção segurança e defesa de seus direitos exatamente por serem unidade específica da sociedade, e por fim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que vem para garantir os direitos daquele a quem temos dedicado todo o nosso projeto: ao sujeito histórico, ou seja, em seu artigo XIX ela assegura liberdade de opinião e expressão às benzedeiras, determinando e legitimando suas práticas e seu ofício e entendendo-as como parte integrante da cultura da nação.
Desta forma, analisando os autores que se propõem a pensar a teia de relações estabelecidas entre as benzedeiras, o sujeito histórico ao qual elas fazem alusão, a tramitação deste processo vinculado às inquietações de suas memórias e o paradoxo, simbólico e sagrado, é possível entender que as benzedeiras, tal como temos nos colocado a interpretar, possuem um leque extenso de possibilidades de pesquisa, nos oferecem um hall de entrelinhas segundo as quais podemos caminhar e que nos mostram as evidências de sua inserção nos novos paradigmas sociais, culturais e religiosos – e por que não dizer também econômico – exigidos pela comunidade em que vivem.
As benzedeiras, da maneira como nos propomos a entender são passíveis de análise e entendimento, mas o mais importante: é necessário o fazer considerando todas estas relações e as vinculando ao sentido histórico que estas mulheres atribuem à sua existência, ou seja, é preciso entender de que modo elas enxergam-se socialmente, de que maneira entendem a sua importância e se permitem visualizar diante de uma sociedade cada vez mais exigente, renovada e consumista. De que maneira, enquanto sujeitos de sua história, estas mulheres pretendem continuar a sua inserção social e a sua luta contra a invisibilidade social e em favor do reconhecimento formal, direito este que já vem sendo reconhecido em algumas localidades do Paraná, ainda que de maneira isolada.
Objetivos:
Objetivo Geral:
Tecer as relações existentes entre elas, seu ofício, sua identidade e a maneira como são valorizadas: pelo ofício e não como sujeito histórico, ou seja, pelo ato que exercem e não pela sua simples existência;
Objetivos Específicos:
Conceber as maneiras como o sujeito histórico é pensado historicamente, quais representações ele demanda,
Relacionar o sujeito histórico à história de resistência das benzedeiras das cidades de Rebouças/PR e São João do Triunfo;
Analisar quais sentidos pretende emanar esta relação e quais as problemáticas de análise deste sujeito enquanto ser cultural e social.
Entender de que maneira as benzedeiras se permitem visualizar na comunidade em que estão inseridas e como isto ocorre;
Visualizar de que forma a historiografia entende o processo de interação do sujeito entre a sociedade e vice-versa, de modo que esta relação possa ser pensada pelos próprios sujeitos.
Analisar o histórico de luta e mobilização das benzedeiras enquanto movimento social emergente a partir do ano 2007, a fim de reivindicarem seus direitos e suas conquistas, saindo da invisibilidade social para o reconhecimento formal.

Metodologia:
Os sujeitos que pretendemos estudar são mulheres de comunidades rurais, com grande importância social e cultural para as comunidades nas quais moram, mais precisamente nos municípios de São João do Triunfo, Rebouças e Irati, denominadas benzedeiras.
Estas mulheres carregam consigo grande parte da simbologia religiosa presente nestas comunidades devido ao fato de representarem de certa maneira, uma instituição religiosa, isto é, representarem a religião, as crenças, a fé, o misticismo, marcados pelas suas rezas, orações, simpatias e benzimentos. Desta maneira, partiremos de algumas concepções iniciais que dizem respeito à definição de sujeito, sua simbologia e seu significado e depois, partiremos para a análise deste sujeito diante dos fatos históricos que o caracterizam e o definem. também é preciso entender a cultura destas mulheres como parte de um processo, que está repleto de características, que constitui-se um plural, conforme nos fala Certeau:
Por outro lado, a forma mais imediata de manifestação é de ordem cultural. A reivindicação bretã diz: "Temos outras tradições, nossa referência histórica é outra, temos outras formas de comunicação, etc." Porém, se nos prendermos a esse elemento cultural, mais dia menos dia seremos fatalmente recuperados, justamente porque a manifestação cultural é apenas a superfície de uma unidade social que ainda não encontrou sua própria consistência político-cultural. (CERTEAU, 1995, p. 146).

É preciso então entender as benzedeiras além do que supõe a sua cultura, ou seja, além do que os discursos simplórios fazem a respeito de sua cultura. Como nos mostra o autor, é preciso entendê-las dentro do processo de construção de sua identidade, claro, valorizando a sua questão cultural, mas sem deixar de lado os pormenores que a fazem resistir, que as permitem erguer-e diante da marginalização de suas práticas, isto é, sem esquecer de questões como a subjetividade, as memórias, o sagrado e o simbólico, que também estão atrelados à sua construção identitária.
Faremos a análise das concepções de sujeito histórico propostas pela historiografia e de que maneira ela propõe pensar este sujeito, como ele deve ser analisado, quais os modos de sentir estes sujeitos e entender toda a carga de subjetividade que está intrínseca em sua vivência e em sua história de resistência e desvalorização, e mais, entenderemos o processo de reconhecimento de si, ou seja, a imagem que as benzedeiras fazem delas mesmas, como sujeitos da história e da sociedade em que estão inseridas, como podemos entender em Lopes (2000, p. 293/294):
Segundo o intrigante pensador francês (1989), estamos diante das relações de si para consigo, relação essa que não é simplesmente "consciência de si", mas constituição de si enquanto "sujeito moral", na qual o indivíduo circunscreve a parte dele mesmo que constitui o objeto dessa prática moral, define sua posição em relação ao preceito que respeita, estabelece para si um certo modo de ser que valerá como realização moral dele mesmo; e para tal, age sobre si mesmo, procura conhecer-se, controla-se; põe-se à prova, aperfeiçoa-se, transforma-se.

Ao analisar o discurso de Foucault, o autor nos coloca a pensar na questão da representação subjetiva que as benzedeiras fazem de si, e partindo disso, é necessário entender de que maneira isso se dá, qual o processo que faz parte desta conjuntura e que tipo de relações estão envolvidas neste cenário.
Também analisaremos o vínculo que o sujeito histórico – neste caso as benzedeiras estabelecem entre a sua história, as memórias que carregam consigo e que de um modo bastante peculiar as definem e permitem sentir-se sujeitos desta história e teia de relações entre estes dois aspectos – o sujeito e a memória – o simbólico e o sagrado e as representações desta cultura:
O trabalho de rememorar, que se estabelece através do diálogo entre entrevistador e entrevistado, assemelha-se à maiêutica socrática, sobretudo pela empatia que deve existir (...). Entretanto, vale destacar que a relação que se estabelece entre o sujeito e o passado (da memória) está em constante mudança, diferentemente da "verdade" socrática. (MONTENEGRO, 2003, p.150)
Diante disso, será necessário pensar de que modo o sujeito, a memória e a história das benzedeiras estão interligados entre si, quais as relações que emanam desta complexa teia de afinidades e de que forma é possível entender este processo dentro da construção da identidade das benzedeiras.
Feita estas análises, partiremos para a visualização da história das benzedeiras a partir do momento em que elas se propõem a sair da invisibilidade e constituem-se um grupo com interesses em comum. Não somente o percurso deste grupo será levado em consideração, mas também as reivindicações do mesmo, as lutas e o contexto social do qual estão imergindo para uma nova realidade, observando sempre o uso da história oral como fonte, enfatizando os depoimentos e as entrevistas realizadas com as benzedeiras, conforme o relato de D. Helena:
Eu me lembro das histórias que a minha mãe contava de quando queimavam as benzedeiras na fogueira. E o pior: era Igreja quem fazia isto. Elas eram as bruxa, porque fazia chá, simpatia, oração. Porque ajudava as pessoa a se livrar do mal. E porque naqueles tempo distante não tinha médico, nem nada. Mais agora, eu quero ser reconhecida. Não só que tenha uma lei pra me defende, porque de nada adianta a lei se eu não for reconhecida por quem faiz a lei, se as pessoas, os grande não me respeitá. Eu só quero continua a minha tradição, o que a minha mãe aprendeu coma minha avó e a minha bisavó e me ensinou, que é pr'eu passa pros meu subrinho, pr'os jovem. (entrevista cedida por Helena de Jesus Rodrigues, em 09/07/2011).
Analisados estes dados, partiremos para a análise dos depoimentos e entrevistas feitas pelas benzedeiras a fim de entender de que maneira elas entendem-se enquanto sujeito social da comunidade em que estão inseridas. Também analisaremos como parte deste processo as leis e os documentos que respaldam a prática das benzedeiras, tais como a Constituição Federal, o artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ainda aqui, trabalharemos com todos os materiais gráficos, tais como cartilhas, cartas de encontros, mapas, leis municipais aprovadas recentemente e que dão apoio e fomentam as práticas sociais, culturais e religiosas das benzedeiras. Estes documentos, referem-se mais especificamente a dois municípios em que a atuação das benzedeiras foi evidenciada em maior pertinência, Rebouças/PR e São João do Triunfo/PR, fato constatado após o desenvolvimento de um projeto de iniciação científica, o que não descarta a possibilidade de trabalhar com uma perspectiva temática e não apenas cronológica no trabalho.
Finalmente, procuraremos entender como se deu todo o processo de construção da imagem da benzedeira enquanto sujeito da história, de que modo e a partir de que momento elas reconhecem-se desta maneira. Como estas relações se fazem presentes na luta diária que estas mulheres travam em prol da valorização de seu ofício e de que maneira fomentam esta luta.

Fontes:
As fontes que serão utilizadas ao longo do trabalho serão os depoimentos e entrevistas realizados com as benzedeiras e que mostram toda a complexidade de relações desenvolvidas entre sua prática, suas lutas, reivindicações e também a maneira como elas percebem-se enquanto sujeitos sociais. Estes depoimentos estão transcritos em caderno de campo e autorizados pelas próprias benzedeiras a serem publicados.
Também se constituem fontes deste projeto, as cartilhas, os boletins informativos sobre as atividades desenvolvidas pelo grupo das benzedeiras, as leis e os decretos recentemente aprovados, que mostram de que maneira esta comunidade está organizada, de que modo atuam socialmente e quais os respaldos legais que possuem para a efetivação de sua prática. Ambos encontrados em posse do Movimento Aprendizes da Sabedoria, movimento social vinculada ao Instituto Equipe de Educadores Populares - IEEP, organização não governamental, com sede própria nesta cidade, responsável pela defesa e fomento deste movimento.
Ainda aqui, encontram-se os mapas, que identificam as práticas, as lutas, os conflitos e as representações destas mulheres. Estes mapas serão analisados de maneira a compreender de que maneira se dá a relação entre o espaço real e o espaço simbólico pertencente às práticas das benzedeiras e de que maneira elas delimitam sua região de atuação, ou seja, este mapa nos mostrará, com a ajuda de interpretações da Geografia, a entender como é a relação entre o material e o simbólico na concepção das benzedeiras, entre a representação do real e o material, também bastante presentes em seu discurso, também em posse do Movimento Aprendizes da Sabedoria, vinculado ao IEEP, conforme citado anteriormente.
Cronograma:
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS DURANTE O PERÍODO – 2013/2014
MESES
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
12
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
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Releitura e análise dos referenciais teóricos
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Análise e interpretação das fontes a serem trabalhadas





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Revisão das entrevistas e coletas de mais exemplares de depoimentos a respeito do assunto com as benzedeiras – pesquisa de campo










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Análise dos mapas, decretos, leis, folhetos e boletins a respeito das atividades das benzedeiras – comparação com as entrevistas














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Comparativo ente fontes, teoria e prática presentes no ofício da benzedeira

















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Início da produção da dissertação




















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Revisão da Dissertação




















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Conclusão





















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